LIVRO:
A Iniciação de Voltaire na Loja das Nove Irmãs;
AUTOR:
A. Germain;
EDIÇÃO:
BMBM | R’.’ L.’. “8 de Maio”, Janeiro de 2025, 52 p.
Trata-se da interessantíssima edição, agora em tradução portuguesa,
do conhecido livreto (1874) de A. Germain, Initiation de Voltaire dans la
Loge des Neuf-Soeurs. A curiosa iniciação de Voltaire, aliás François-Marie
Arouet, em 1778, presidida por Jérôme Lalande (invulgar astrónomo e um dos
enciclopedistas de renome) e assistida por Benjamin Franklin foi um acontecimento
triunfante da história da franco-maçonaria francesa. A Loja das Nove Irmãs (1776),
de que fizeram parte numerosos homens de letras, foi herdeira da “Loge des Sciences”, fundada pelo
filósofo Claude Adrien de Helvétius (1715-1771) e pelo próprio Lalande
(1732-1807).
Esta edição magnifica, de elevado merecimento literário e de que
somente se imprimiram 100 exemplares numerados, está ornada na sua capa com uma
formosa ilustração, contém uma Introdução dos editores e apresenta um estimado prefácio
pelo curador adjunto no Instituto e Museu Voltaire, em Genebra, Flávio Borda D’Água.
► Um pensador,
um filósofo que se tornou escritor – dramaturgo, ensaísta, historiador, poeta e
romancista – como forma de se comprometer consigo e compreender os outros.
Nascido no ocaso do século dezassete, ele é a personificação do
homem-razão iluminista, o tolerante, o insubmisso panfletário cultor do direito
e da justiça, intransigente da liberdade e anticlerical convicto. Dir-se-ia que
François-Marie Arouet nasceu para ser maçon, pois sobreviveu apenas um mês à
sua irradiante iniciação na querida Loja das Nove Irmãs, em Paris, sob o
malhete sagrado de Lalande, em 7 de Abril de 1778.
É por isso que, 330 anos após o
nascimento de Voltaire em Paris, a BMBM – Biblioteca Maçónica do Baixo Mondego
– decide estrear a sua bibliogenia com uma obra que, nas palavras de Hubert,
pertence à Maçonaria mais do que a qualquer Loja ou maçon preferido. Mais,
associa-se à R⸫L⸫ “8 de Maio”, a Or⸫ de Coimbra, nas celebrações
do seu 25º aniversário.
A INICIAÇÃO DE VOLTAIRE, hoje amável e
fraternalmente prefaciada pelo conservador-adjunto do Instituto e Museu
Voltaire de Genève, a quem muito agradecemos, é um duplo privilégio que
queremos partilhar.
Ao
Vale do Mondego, no 330º aniversário de Voltaire, Novembro de 6024.
[Os
Editores]
► Voltaire e a Maçonaria: uma exploração dos laços entre o
pensamento do Iluminismo e o compromisso da fraternidade
Voltaire tornou-se, ao longo dos séculos,
um símbolo e um farol da luz intelectual, do pensamento crítico e da afirmação
das liberdades. A sua influência ultrapassa fronteiras e transcende épocas,
marcando profundamente o panorama da literatura e da filosofia, o desenrolar da
história e das sociedades. Por trás dessa figura emblemática do Século das
Luzes esconde-se, um tanto negligenciado ainda, um legado singular da sua
herança: a sua afiliação tardia à maçonaria.
A brochura que nos é oferecida hoje
permite-nos aventurar nos labirintos da história para explorar os laços que
Voltaire mantém com a Maçonaria: duas forças imponentes que moldaram o tecido
da sociedade europeia do século XVIII e além. As páginas que se seguem servirão
como uma exploração aprofundada que desmistifica essa relação, muitas vezes
incompreendida e mal transmitida, e esclarecerão as áreas de sombra ao fazer o
leitor descobrir, ao longo do tempo, influências mútuas entre o homem e o
movimento do pensamento.
Voltaire, conhecido pela sua pena afiada
e o seu espírito livre, não pode ser limitado ao papel de escritor. Homem de
ideias, homem de convicções, pensador engajado nos debates da sua época, e
fundamentalmente contemporâneo, ele encontra na maçonaria um quadro para nutrir
e desenvolver as suas ideias. No seio da companhia fraterna, ele encontra um
refúgio para o livre-pensamento, um espaço onde as fronteiras da sociedade
podem ser empurradas e onde a igualdade, a fraternidade e a tolerância não são
meras palavras, mas ideias a serem vividas, promovidas e desenvolvidas.
A partir daí, ao retomar os arquivos e os
escritos de Voltaire, bem como os arquivos maçónicos da sua época, o investigador
detecta fios invisíveis que tecem, juntos, uma história comum. As descobertas
mostram como a entrada de Voltaire na maçonaria influenciou, mesmo que
tardiamente, o seu pensamento, as suas acções e, por vezes, o seu estilo
literário. Ele deixa, assim, uma marca indelével e misteriosa na maçonaria do
seu tempo.
Ao longo desta brochura, a palavra é
deixada aos textos que documentam directamente a iniciação de Voltaire e que
abrem para o futuro através do fascinante aspecto da história intelectual e
social. Espera-se que essa exploração suscite a curiosidade e o desejo de ir
mais longe, estimulando a reflexão, incitando talvez as reconsiderações, a uma
(re)descoberta de Voltaire como homem, como pensador e como irmão maçom.
Que estes documentos possam ilustrar a
última evidência: que a verdadeira luz reside na busca incessante do
conhecimento e da verdade, à imagem do historiador frente ao passado dos homens
e da grande sociedade humana.
[PREFACIANDO - Flávio Borda D’Água, p. 9 e ss - sublinhados nossos]
► A. Germain (1801-1882) foi um voltairiano entusiasta, fiel e ilustrado.
Em tributo de admiração e reconhecimento ao Mestre, deixou escrito uma
interessante notícia sobre a iniciação de Voltaire - que agora apresentamos - nesse
memorável dia de 7 de Abril de 1778 e que iluminou a “serena luz maçónica” dos
trabalhos da loja Des Neuf Soeurs.
A[thanase] Germain
licenciou-se em direito (1821) em Paris, foi advogado da corte, diretor de
assuntos argelinos do Ministério da Guerra, mestre de solicitações ao Conselho
de Estado, diretor do jornal Le Progrés de l’Eure e membro da loja maçónica, La
Sincerité de l’Eure, em Evreux. Foi preso por delito de imprensa em 24 de Fevereiro
de 1871. Entre as suas obras impressas, está a curiosa Martyrologe de la presse
(1789-1861) e a vigorosa e polémica Réponse à une lettre de M. L. Morin, curé
de La Couture-Boussey (1866).
A. Germain integrou o quadro
fundador da loja de Evreux (22 de Julho de 1872), La Sincerité de l’Eure, tendo
sido seu Venerável entre os anos de 1873 a 1876. A loja, a segunda instalada em
Evreux, no final do século entra em “dormência” e só seria de novo erguida em
1925, curiosamente com o título distintivo: Tolérance et Sincerité. A 8 de
Julho de 1875, teve Germain ocasião de pedir a palavra na cerimónia solene de
iniciação de Émile Littré, na loja La Clémente Amitié, fazendo-lhe oferta do
seu livro Initiation de Voltaire dans la Loge des Neuf-Soeurs.
[Da contracapa]
J.M.M.