Dia de Agosto

Agosto foi um dia cinzento de setecentas e quarenta e quatro horas. De uma noite que aconteceu apenas na lentidão dos ponteiros, talvez em pronúncio, agosto não nasceu bonito. Chegou assombrado e varreu a claridade possível do dia. Em momentos de vida, a ausência de luz escurece-me também e transforma tudo em nevoeiro cerrado. Leva-me para um lugar pequeno. Deserto de muito, onde o pouco tem dificuldade em resistir. Um sítio onde sou outra coisa, bicho que arranca a sobrevivência da própria pele. Onde até o silêncio ganha dentes e morde. Agosto foi escuridão, unhas e pedras. Mas foi também pontas soltas de luz. Duas pequeninas âncoras, em beleza subliminar. Uma para cada mão. Faróis de esperança para que nenhuma desista ou se perca da outra e eu consiga ver acima da linha do olhar. Saio deste dia como quem sai de uma estrada empoeirada, a sacudir o pó até à próxima curva e na incerteza do que estará para lá dela. Foram setecentas e quarenta e quatro longas horas e estou...