Fortaleza de Santo Ângelo de Cananor
A Fortaleza de Santo Ângelo de Cananor, também referida como Castelo de Santo Ângelo ou Fortaleza de Cananor, localizava-se na cidade portuária de Cananor, no estado de Querala, na costa sudoeste da Índia.
A costa do Malabar constituía-se numa expressiva região produtora e exportadora de especiarias, nomeadamente a pimenta. Ao final do século XV caracterizava-se politicamente como um mosaico de pequenos reinos. Estes, embora maioritariamente hindus, abrigavam comunidades expressivas de mercadores islamizados. Entre eles incluía-se o reino de Kolathunad, cujos rajás pertenciam à família Kolathiri. Na passagem para o século XVI, o porto de Cananor era o mais destacado deste reino, atrás apenas, a nível regional, pelo principal entreposto de especiarias do Malabar, a cidade de Calicute.[1]
Tornou-se possessão portuguesa entre 1505 e 1663, quando foi conquistada por forças neerlandesas, passando depois para o domínio da Grã-Bretanha.
História
editarA cidade foi avistada pela armada de Vasco da Gama já em 1498, mas só foi visitada por uma armada portuguesa em janeiro de 1501, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, em resposta a um convite do soberano local. Ao final desse mesmo ano, a armada de João da Nova, assinalou a presença portuguesa em Cananor com o estabelecimento de uma feitoria, reorganizada no ano seguinte (1502) por Vasco da Gama, que ali deixou como feitor Gonçalo Gil Barbosa. Daqui eram exportados principalmente gengibre, cardamomo, e importados cavalos para os exércitos do Império de Vijayanagar.[1]
As rivalidades com os mercadores islamizados locais logo se fizeram sentir, de modo a que, em outubro de 1505, a armada do futuro Vice-rei, D. Francisco de Almeida demorou-se na cidade, em negociações com o soberano local para a construção de uma fortaleza capaz de defender a feitoria. Bem-sucedidas, a fortificação começou a ser erguida ainda no mesmo ano, em posição dominante sobre um extenso promontório que se projetava sobre o mar, dominando a baía, a alguma distância a leste da cidade de Cananor. Principiou-se por erguer uma muralha pelo lado de terra, antecedida por um fosso, atrás da qual se desenvolvia o corpo da feitoria-fortaleza, dominado pela torre de menagem, ao lado da qual se erguia a casa do capitão.[1]
Entre maio e agosto de 1507, a fortaleza sofreu um duro assédio, o chamado cerco de Cananor. O ataque deveu-se a uma questão de sucessão dinástica na família Kolathiri que conduziu ao trono um herdeiro favorável aos interesses do Samorim de Calicute e da comunidade de mercadores islamizados de Cananor, tradicionais inimigos dos portugueses.[1] O Vice-rei D. Francisco de Almeida foi avisado da preparação do mesmo pelo corsário hindu Timoji, que abasteceu a fortaleza durante o cerco. Este apenas foi levantado diante da chegada de uma armada de socorro (27 de agosto de 1507, sob o comando de Tristão da Cunha, que levou o soberano local a assumir uma posição conciliatória com os Portugueses. Francisco Serrão integrava esta armada.[2] O episódio é recordado em um verso de "Os Lusíadas": "Vereis a fortaleza sustentar-se / De Cananor, com pouca força e gente; (...)"[3]
Em agosto de 1509 Almeida, recusando-se a reconhecer Afonso de Albuquerque como novo governante a sucedê-lo, deteve-o nesta fortaleza após a Batalha Naval de Diu. Albuquerque foi libertado após três meses de confinamento, e assumiu o cargo com a chegada de uma frota maior, em outubro de 1509. Albuquerque fez reconstruir a fortaleza.
A fortaleza foi reforçada em 1526 por iniciativa do então governador D. Lopo Vaz de Sampaio. A Cananor portuguesa desenvolvia-se então a leste do corpo central da fortaleza: entre esta e a muralha exterior situava-se a parte habitacional onde, no século XVII residiam cerca de quarenta famílias de "casados" portugueses e trinta de "casados da terra" (cristãos nativos). A oeste, na extremidade do promontório, localizavam-se o cais e as edificações do hospital, dos armazéns (mantimentos e munições), e uma ermida. Para além das muralhas da cidade portuguesa, desenvolvia-se uma área mista, habitada por população luso-indiana ou cristianizada, além de uma pequena aldeia piscatória hindu. A cidade nativa de Cananor, designada como "bazar dos mouros" pelas fontes portuguesas, situava-se no centro da baía a alguma distância da fortaleza portuguesa.[1]
Sob o governo do Vice-rei D. Antão de Noronha, durante o cerco de 1565, D. António de Noronha foi o responsável pela sua defesa, uma vez que o seu capitão à época, D. Paio de Noronha a desejava abandonar.[4]
Em 1663 Cananor foi conquistada por forças neerlandesas, ano da queda da cidade de Cochim, pondo fim à influência comercial português na costa do Malabar. Os neerlandeses modernizaram a antiga fortificação portuguesa, sendo erguidos novos baluartes, com os nomes de "Hollandia", "Zeelandia" e "Frieslandia", que são as principais estruturas que chegaram aos nossos dias. A primitiva estrutura portuguesa foi posteriormente demolida. Os neerlandeses venderam a fortificação ao sultão Ali Raja de Arakkal em 1772.
Poucos anos mais tarde, em 1790 foi conquistada por forças britânicas, quando se converteu no quartel-general das forças militares britânicas na costa do Malabar até 1887.
A fortificação encontra-se bem preservada como monumento protegido sob a autoridade do "Archaeological Survey of India".
Uma pintura deste forte, vendo-se barco com pescadores na baía de Mappila encontra-se exposta no Rijksmuseum em Amesterdão.
A cabeça de Kunjali Marakkar foi exibida nos muros da fortaleza após o seu assassinato.
Da fortificação manuelina, com grandes alterações introduzidas no século XIX pelos britânicos, restam apenas vestígios da primitiva torre e do muro sobre as rochas da praia.
Características
editarA fortificação portuguesa, na extremidade de uma ponta rochosa, era dominada por uma torre de três pavimentos, em torno da qual se encontravam as casas do capitão e a feitoria, conjunto essencialmente inalterado até ao século XVII. A cidade portuguesa encontrava-se envolvida por um muro abaluartado numa extensão de 550 metros, defendido por um fosso.
Estado atual
editarO Porto da Baía de Moppila e a Mesquita de Arakkal estão perto do forte. O forte está agora bem mantido sob a supervisão do Serviço Arqueológico da Índia. Os turistas têm permissão para entrar no forte todos os dias da semana, das 8h às 18h.
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Fortaleza de Santo Ângelo de Cananor
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O portão do forte
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Fortaleza de Santo Ângelo de Cananor, vista do interior.
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A sepultura da esposa de um dos comandantes holandeses e de duas crianças com inscrições holandesas.
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A torre de vigia.
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A capela dentro do forte após a restauração.
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A escada leva ao topo do muro do forte. Note que todo o forte é feito com material laterita.
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Restos da lâmpada de óleo adiantada farol dentro do forte.
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Vista interna das casernas do exército.
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Outra vista do topo dos estábulos.
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A entrada velha do forte
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Entrada do forte
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Fortaleza de Cananor e o Mar Arábico.
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Canhão do Forte de Cananor.
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Entrada principal.
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Visão do topo.
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Fortaleza de Santo Ângelo de Cananor, Cananor
Referências
Bibliografia
editar- CARRASCO, Carlos. "Cananor". Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses (v. I). p. 185.
- DANVERS, Frederick Charles. The Portuguese in India: being a history of the rise and decline of their eastern empire (Vol. 2). London: Elibron Classics, 2007.
- EDAKKAD, Sathyan. Vasco da Gama and the Unknown Facts of History.
- EDAKKAD, Sathyan. Kannur Kaanaan Ariyaan.
Ver também
editarLigações externas
editar- Portuguese outpost, Cananor, 1500s in Science Photo Library