Papers by Gabriela S . F . de Azevedo

Leitura: circulação, diálogos e linguagens – Comunicações, 2024
Nos estudos literários, busca-se analisar uma obra de ficção levando em conta aspectos como o enr... more Nos estudos literários, busca-se analisar uma obra de ficção levando em conta aspectos como o enredo, os personagens, a autoria e, principalmente, a estrutura narrativa. Nessa perspectiva, quando se trata de pesquisas direcionadas à última, o estudioso francês Gérard Genette (1930-2018) afirma que não se pode reduzir esse aspecto "nunca à sua situação de escrita" (1979, p. 213, grifo do autor), visto que a narrativa precisa ser considerada um elemento autônomo cuja especificidade reside no ponto de vista de quem realiza uma narração (GENETTE, 1979, p. 212). Para ilustrar essas conceituações, o autor utiliza, no ensaio Discurso da Narrativa (1972), os Cantos IX-XII da Odisseia de Homero, "consagrados à narrativa feita por Ulisses perante a assembleia dos Feácios" (GENETTE, 1979, p. 231). Logo, esses episódios se encaixam nas três designações de narração, como, respectivamente: o discurso oral de Ulisses aos Feácios; "as aventuras vividas por Ulisses desde a queda de Tróia até sua chegada junto de Calipso" (GENETTE, 1979, p. 24); o ato de o herói narrar sua história.

Tinta Journal, 2023
Este artigo investiga a literatura não-canonizada (Even-Zohar, 2013, p. 7) e sua capacidade de al... more Este artigo investiga a literatura não-canonizada (Even-Zohar, 2013, p. 7) e sua capacidade de alterar a composição de personagens consagrados no imaginário social pela literatura canonizada. Segundo Itamar Even-Zohar (2013, p.7), a literatura canonizada é considerada "legítima" pelos grupos dominantes de uma cultura, enquanto a nãocanonizada não é digna de ser mantida na memória social. Todavia, esta é a mais consumida pelos leitores não-profissionais-categorizados pelo pesquisador André Lefevere como leitores que não estudam profissionalmente a literatura (Lefevere, 1992, p. 1)-por isso, merece um olhar mais atento para verificar se exerce impacto na literatura canonizada. Para isso, faremos um estudo de caso com o mito da feiticeira homérica Circe-"primeira figura da literatura ocidental (...) talentosa na manipulação dos phármaka" (Madureira, 2020, p. 294)-presente no romance contemporâneo homônimo, da estadunidense Madeline Miller (1978-atual), que (des)constrói a personagem e a coloca além de seu arquétipo-transformar homens em porcos a seu bel-prazer (Madureira, 2020, p. 298). Ao fazer isso, (re)apresenta-se Circe como uma mulher que encontra sua identidade por meio da magia (Miller, 2019, p. 159), sem atrelar a sua imagem à perversão. Para nossa análise, utilizamos, como fundamentação teórica, a Teoria dos Polissistemas, Even-Zohar (1939-atual), e os Estudos Descritivos da Tradução, de Gideon Toury (1942-2016) e de Lefevere (1945-1996). Em seguida, verificamos o impacto dessa literatura contemporânea e não-canonizada na concepção da personagem homérica e, consequentemente, de uma literatura canonizada, por meio da análise de uma resenha produzida por uma leitora não-profissional sobre o livro de Miller.

Este artigo estabelece uma leitura comparativa entre os escritos da autora italiana medieval Chri... more Este artigo estabelece uma leitura comparativa entre os escritos da autora italiana medieval Christine de Pizan (1364-1430), n’A Cidade das Damas (1405), e a autora estadunidense contemporânea Madeline Miller (1978-atual), em Circe (2018). Pizan e Miller, embora estejam situadas em épocas e ambientes tão distintos, convergem ao questionar a realidade a que pertencem e propõem, em seus escritos, uma mudança nesse paradigma. Nesse sentido, este estudo objetiva analisar a convergência das escritoras medieval e contemporânea na composição da feiticeira homérica Circe, em suas obras, como uma mulher independente da figura masculina e desatrelada da perversão a qual foi submetida após o seu primeiro registro na Odisseia, de Homero. Também é estudada a forma como as ideias e as demandas dessas escritoras apresentam coerência com o contexto em que se encontram: Idade Média e contemporaneidade. Como fundamentação teórica deste artigo, utilizar-se-ão os postulados da escritora feminista Virginia Woolf (1882-1941), a fim de entender a necessidade de uma autoria feminina para propor novas representações de mulheres na literatura; e as ideias das tradutoras e pesquisadoras de Christine de Pizan: Luciana Calado Deplagne e Rosalind Brown-Grant – responsáveis, respectivamente, pelas versões em português e em inglês d’A Cidade das Damas – para compreender o contexto no qual Pizan se inseria.
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