Drafts by André Antônio Ribeiro
Sócrates como sofista Sabemos que, definitivamente, Platão não via os sofistas com bons olhos. A ... more Sócrates como sofista Sabemos que, definitivamente, Platão não via os sofistas com bons olhos. A imagem que fica após a leitura dos diálogos do filósofo ateniense é que os sofistas teriam sido um bando de professores charlatões que prometiam ensinar aos jovens atenienses, mediante um pagamento generoso, algo que era, na melhor das hipóteses, uma pseudosabedoria oca e, na pior, um incentivo à "inescrupulosa perseguição das suas ambições e cupidez" (Kerkferd, p. 5). No diálogo Górgias, por exemplo, os sofistas são considerados os culpados pelo declínio moral de Atenas. Pólo, um aluno do retórico Górgias, considera o homem mais feliz do mundo Arquelau, filho de um rei com uma escrava que, por isso, não teria direito ao trono, mas usurpou o poder embriagando e matando seu tio e um primo e, posteriormente, assassinando o seu próprio irmão, o herdeiro legítimo (471ab). Para Cálicles, outro defensor da retórica gorgiana, a lei institucionalizada pelas cidades é apenas uma convenção humana (nomos) feita "pelos fracos e pela grande massa para assustarem os mais fortes, aqueles que tem possibilidades de se superiorizarem e, para não se deixarem ultrapassar por eles, dizem que é injusto e vergonhoso o desejo de ser superior à maioria" (483ac). Ser justo significa seguir a lei natural (physis), a lei do mais forte: "em muitos domínios, não só entre os animais como entre as cidades e as raças dos homens, é evidente que, na ordem da justiça, o mais poderoso deve dominar o mais fraco e gozar as vantagens da sua superioridade" (483d). Para Cálicles, as únicas coisas vergonhosas (aischron) ou injustas seriam ou não exercer o direito (natural) de alcançar o poder mediante o emprego de qualquer meio ao seu dispor, ou perder este poder e ser dominado e punido pela massa (Górgias 493ss). Quando não estavam pervertendo as mentes jovens com estes princípios imorais, os sofistas buscavam o poder para si, persuadindo juízes, comovendo as assembleias e manipulando os desejos e as expectativas da multidão com a sua arte retórica, que Górgias assim define:
Resumo: O objetivo deste trabalho é mostrar que uma leitura cuidadosa do diálogo Parmênides, que ... more Resumo: O objetivo deste trabalho é mostrar que uma leitura cuidadosa do diálogo Parmênides, que leve em conta a sua estrutura global, a argumentação e as premissas em que cada uma cada uma das 8 Hipóteses se fundamenta e as relações recíprocas entre elas, é suficiente para provar que, ao contrário do que afirma a interpretação tradicional, este não é um diálogo aporético, mas apresenta resultados positivos. Especificamente, na Segunda e na Terceira Hipóteses, Platão apresenta a sua solução para o problema do Uno e do Múltiplo e, consequentemente, para o problema da participação. Abstract: The objective of this paper is to show that a careful reading of the Parmenides dialogue, which takes into account its global structure, the argumentation and the premises on which each of the 8 Hypotheses is based and the reciprocal relations between them, is sufficient to prove that, contrary to the traditional interpretation, this is not an aporetic dialogue, but it has positive results. Specifically, in the Second and Third Hypotheses, Plato presents his solution to the problem of the One and the Multiple and, consequently, to the problem of participation. Vinte e cinco séculos após ter sido escrito, o Parmênides permanece um mistério para os seus leitores e, para os especialistas cuja tarefa é entendê-lo, um escândalo (R. E. Allen). A interpretação aporética do diálogo Parmênides Como se sabe, no diálogo Parmênides a teoria das Formas é submetida a uma impressionante série de críticas. Essas críticas parecem ser tão demolidoras para a sustentação da teoria que um dos poucos casos em podemos encontrar um consenso entre os comentaristas de Platão é na opinião que, por causa destas críticas, Platão realizou, nos diálogos escritos após o Parmênides, alterações na teoria das Formas. Infelizmente, este consenso cessa rapidamente quando se trata de mostrar exatamente quais são estas alterações ou qual a sua extensão: alguns autores acham que as alterações foram pequenas, talvez apenas ao nível da linguagem que Platão usa para se referir às Formas; outros defendem que as alterações foram significativas e volumosas; enquanto que alguns poucos acreditam, inclusive, que Platão teria abandonado a teoria das Formas e se voltado para uma espécie de (neo)pitagorismo no Timeu. Mas o Parmênides não se limita a esta primeira parte crítica: após Sócrates mostrar-se incapaz de defender a teoria das Formas e refutar as objeções de Parmênides, na
Meu primeiro interesse acadêmico foi a Física. Depois de ter visto a Via Láctea em todo o seu esp... more Meu primeiro interesse acadêmico foi a Física. Depois de ter visto a Via Láctea em todo o seu esplendor durante um acampamento quando era adolescente, decidi que queria investigar os mistérios do universo e ser astrônomo. Como para ser astrônomo é necessário ter formação em física (a astronomia era, na época, uma especialização), comecei a fazer a faculdade de física na UFRGS em 1986. Durante os estudos, comecei a ficar intrigado com teorias como a física quântica e a teoria da relatividade geral que postulam a existência de fenômenos que são contra-intuitivos em relação a nossa experiência vivida. Infelizmente, tive que interromper a faculdade devido ao falecimento do meu pai. Quando surgiu a oportunidade de voltar a estudar, decidi não terminar a física mas fazer a graduação em filosofia, justamente para abordar mais diretamente as perguntas e questões que me intrigavam na época do curso de física: qual a relação entre teoria e realidade? Qual o status ontológico dos fenômenos inobserváveis propostos pelas teorias científicas? Qual o motivo do sucesso da ciência em prever o comportamento dos fenômenos? Fiz minha graduação em filosofia de 1996 a 1998 na PUCRS. No entanto, devo confessar que fiquei um pouco decepcionado com a corrente principal da filosofia da ciência tal como ensinada na faculdade. Como alguém que fez faculdade de física e migrou para a filosofia interessado em questões filosóficas sobre física quântica, teoria da relatividade e cosmologia, penso que a linha dominante da filosofia da ciência, que consiste na crítica ao positivismo lógico, Popper, Kuhn, Feyerabend, os pós-kuhnianos e a sociologia forte, não tem algo relevante a dizer para quem trabalha na área (é o que pensam físicos prêmio Nobel como, por exemplo, Stephen Hawking e Steven Weinberg). Essa linha limita-se a criticar a metodologia científica (crítica ao método indutivo, condicionamento da observação pela teoria, subdeterminação da teoria pelos dados, etc.) baseada no pressuposto-não analisado-que, se o método científico não cumpre o padrão lógico-dedutivo de inferência, então não passa de um discurso como os outros sobre a realidade. Buscando me afastar dessa tradição, escrevi meu TCC com o tema " Acaso e determinismo na ciência contemporânea " (orientador Dr. Sérgio Sardi), no qual pesquisei sobre as consequências da noção de "caos" (tecnicamente: criticalidade auto-organizada) da física contemporânea para o conceito de determinismo, usando como referencial teórico a ideia de complexidade de Edgar Morin. Sendo a complexidade entendida como uma combinação construtiva de ordem e desordem, também procurei aproximar esse conceito da dialética hegeliana-a complexidade seria uma síntese ou um estado emergente em relação aos estados de caos e ordem que a formam (nesse aspecto foi influenciado pelos professores Dr. Eduardo Luft e Dr. Carlos Cirne-Lima). Insatisfeito com a filosofia da ciência, fiz pós-graduação em Platão: a dissertação de mestrado (PUCRS, 2000-2002, bolsista CNPq) sob orientação do Dr. Jayme Paviani, versava sobre " O problema da opinião falsa no diálogo Teeteto de Platão ". O problema da
Controvérsia, 2018
O objetivo desse trabalho é analisar o texto A Doutrina de Platão sobre a Verdade onde Heidegger ... more O objetivo desse trabalho é analisar o texto A Doutrina de Platão sobre a Verdade onde Heidegger procura demonstrar mediante sua famosa exegese da Alegoria da Caverna a mudança na determinação da essência do conceito de verdade como desvelamento para a noção de verdade como correção ou correspondência do pensamento com a coisa que dá origem à forma de pensar que leva ao esquecimento do ser. A concepção de verdade como desvelamento, que Heidegger desenvolveu durante seus estudos do diálogo Sofista de Platão (1925) sofreu uma dura crítica de Tugendhat, à qual Heidegger responde não com um recuo, como poderia parecer à primeira vista, mas com uma radicalização da concepção de verdade: é necessário agora pensar a dimensão prévia que possibilita o desocultamento dos entes - a alethéia enquanto clareira.
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