Do que o fogo não queima
()
Leia mais títulos de Jaime De Magalhães Lima
Rogações de Eremita Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSalmos do prisioneiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Democracia Estudo sobre o governo representativo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Guerra: Depoimentos de Herejes Nota: 3 de 5 estrelas3/5O Vegetarismo e a Moralidade das raças Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEucalyptos e Acacias Vinte annos de experiencias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlexandre Herculano Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJosé Estevão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO credito agricola em Portugal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTransviado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCidades e Paisagens Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Do que o fogo não queima
Ebooks relacionados
Considerações Sobre O Uso De Brinquedos Sexuais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasReencontro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Abc Da Mulher De Deus Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Essência Do Genuíno Amor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEm Busca da Sabedoria: A ética regula as ações humanas e contribui para a busca da felicidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Que Respondi... (volume 13) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMostre O Seu Poder Nota: 0 de 5 estrelas0 notasProfetas do passado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO segredo dos anjos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComo ser Homem Nota: 0 de 5 estrelas0 notasInstabilidade: O Mal Da Humanidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMulher Virtuosa, Quem Achará? Você! Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuem É Você? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Inteligência Transformada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVantagens e Desvantagens da Literatura de Autoajuda Nota: 5 de 5 estrelas5/5Esperança & cura: Inspiração bíblica para momentos de crise Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO que sou sem Jesus? Nada, nada, nada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO cordeiro que venceu: Prepare-se para a batalha Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAprendendo a Amar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConversando com o Mestre Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Mulher Virtuosa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuem E Deus Nota: 0 de 5 estrelas0 notasKnigge de etiqueta à mesa de jantar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJesus: O Mais Lindo Da Divindade, Sua Humanidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstá doendo muito: Respostas da Bíblia para o seu sofrimento Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGratidão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO que é o Direito?: Uma explicação curta para jovens leitores com pouca paciência para longas explicações Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Homem Do Teto Nota: 0 de 5 estrelas0 notas100 Sermões Para Uma Vida Cristã Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos e Lendas Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Avaliações de Do que o fogo não queima
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Do que o fogo não queima - Jaime de Magalhães Lima
Project Gutenberg's Do que o fogo não queima, by Jaime de Magalhães Lima
This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.net
Title: Do que o fogo não queima
Author: Jaime de Magalhães Lima
Release Date: October 14, 2008 [EBook #26914]
Language: Portuguese
*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK DO QUE O FOGO NÃO QUEIMA ***
Produced by Pedro Saborano. A partir da digitalização
disponibilizada pela bibRIA.
Jaime de Magalhães Lima
Do que o fogo não queima
Composição e Impressão
Emprêsa Gráfica A UNIVERSAL
111, Rua Duque de Loulé, 131
PORTO
DO QUE O FOGO NÃO QUEIMA
JAIME DE MAGALHÃES LIMA
Do que o fogo
não queima
PORTO
Empresa Gráfica A UNIVERSAL
111, Rua Duque de Loulé, 131
1918
PROLOGO
A guerra prossegue na sua impenitencia sinistra, junta os seus dias em mêses e os seus mêses em anos, e as heresias que a aborrecem e lhe negam a legitimidade e os beneficios, não se rendem e nem sequer esmorecem, não obstante a insistencia do flagelo que lhe dá visos de necessidade e condição natural. E eu, que dessas heresias fiz colheita e esperança¹ no primeiro momento, suspeito a conveniencia, senão a obrigação, de as repetir e corroborar quando o tempo e a perseverança entre vicissitudes contrarias as fortificaram e disseminaram.
Daí este opusculo.
«Heresias» não será talvez o termo proprio; melhor diria se lhes chamasse «crenças». «Heresia é uma palavra que as tiranias do fanatismo fizeram aviltante e criminosa para justificar as atrocidades de um dominio insaciavel e da intolerancia, sem aliás alcançarem discriminar, e muito menos provar, onde residia a piedade e a injuria, se em quem usava os poderes da terra para oprimir a consciencia, se em quem se prevalecia da robustez de consciencia para afrontar os poderes do mundo. No fim, ambos encontrarão porventura que fizeram acto de fé a seu modo—indubitavelmente muito mais glorioso no que por acusação de heresia sofreu o martirio. Este será, na realidade, o crente, quem mais de perto tocou a divindade e mais inteira e fielmente lhe obedeceu.
Aquilo que desse drama hoje vemos, e é objecto da vida politica e do estado, não desmente o que de ontem sabemos e foi arrebatamento do dogmatismo eclesiastico absolutista. Duas especies de patriotismo se encontram em conflicto, e, nenhum conseguindo vencer ou convencer o adversario, ambos e mutuamente se reputam herejes:—o patriotismo de servir e o patriotismo de combater: o de espada e carabina, que tem por acto bom afastar e eliminar o proximo, e o de martelo e charrua, que tem por missão e dignidade fecundar a terra e agasalhar aquele mesmo proximo que o outro abomina; o que ama o peregrino e o que detesta o estranho; o que é um impulso de exclusão e aversão, uma avareza, e o que é uma confissão de bem querer e um anseio de proteger, uma caridade. Ha duas especies de patriotismo, como ha dois modos e duas aspirações de cultura do homem, conduzindo a atitudes politicas divergentes, de que as concepções do patriotismo correlativas são apenas uma das suas multiplices manifestações:—ha uma cultura que consiste em nos aprestar para calcar e escravisar os outros, e ha uma cultura que se esforça por nos fortalecer para calcarmos as nossas proprias paixões e as ordenarmos e disciplinarmos sob uma regra sobrehumana; ha a cultura que olha para o chão e a que olha para os céus, a que é uma tarefa de sordidez, em que se degrada, e a que se eleva no desprendimento, em que exulta. O que nestes tempos de guerra se tem passado com os que por imposição da consciencia se recusaram a combater, particularmente o procedimento dos poderes constituidos da Inglaterra com as centenas dos seus conscientious objectors, o patriotismo inquisitorial, cujas torturas e penas vão desde o fusilamento puro e simples, tanto da feição peremptoria do rigor continental, até á prisão, trabalhos forçados e perda dos direitos politicos, que são as soluções predilectas, menos severas mas por igual mortais, da tradicional liberdade insular,—isto nos manifesta, dolorosamente, não só quanto são profundos os antagonismos essenciais e latentes de que as sociedades modernas se compõem, mas tambem quanto é morosa a jornada no caminho e na ambição daquela liberdade e respeito mutuo, quando amor não seja, para os quais não ha heresias.
Embora! Essa escabrosa jornada não cessa. Ali mesmo onde sofre terriveis assaltos inimigos, aí assinala triunfos e progressos. Um momento de «brutalidade hunica e de baixeza desenrolando as suas ondas sobre as nações que participaram na guerra, rebarbarisando toda a civilização por alguns anos», na expressão violentamente exacta de Carlos Liebknecht, que paga com desoito mêses de prisão a audacia insubmissa das suas heresias, isso não bastou para aterrar ou desalentar as consciencias certas dos seus direitos e imperio, e inabalaveis na segurança de um eterno renascimento e vitoria final.
Os sintomas são claros.
Não conseguiu a Camara dos Comuns, por uma minguada maioria, um voto favoravel á perda dos direitos politicos do conscientious objector, sem que não tivesse de lutar com uma oposição veemente, na qual se juntaram homens de todos os partidos politicos, não excluindo os mais acentuadamente conservadores. Foi então que, sem embargo do seu declarado e esclarecido conservantismo, Lord Hugo Cecil, em uma oração magistral, combateu «a idolatria do estado», que, tornando-o superior á lei moral, perdeu a Alemanha na confiança das nações civilizadas; foi então que, em palavras memoraveis, se ouviu a reivindicação da preeminencia do dever perante a consciencia sobre a obrigação perante o estado. «É na crença naquela região de obediencia superior que nos impõe qualquer cousa mais do que aquilo que o estado nos póde pedir, e que nos dá qualquer cousa mais do que o estado jámais nos poderá dar, que nós temos de sustentar a grande causa em que nos empenhámos. Ás vezes dizemos que combatemos pela civilização.» Mas aquele em quem o dever da consciencia sobreleva á obrigação com o estado «dirá antes que combatemos para que a civilização se mantenha uma civilização cristã, e, por certo, em uma civilização cristã é mal violentar a consciencia dos sinceros, é mal impôr-lhes uma obrigação que eles julgam corruptora e contagiosa.»
Emquanto isto se proclama em voz alta, apaixonadamente e apaixonando as legiões de crentes a que se comunica, uma outra ordem de factos se apressa a dar-lhe uma confirmação eloquente. A falencia retumbante das artes politicas dos estados que desencadearam a mais mortifera e ruinosa das guerras, para ao fim confessarem que pela guerra não teem solução os problemas que ela era chamada a resolver; a derrota do intelectualismo politico, que, em boa logica com todo o intelectualismo e suas naturais insuficiencias, se embriagou na vaidade das suas limitadas forças e, desconhecendo as do caracter moral, considerou os homens meras quantidades e energias mecanicas alheias a toda a influencia das forças intimas espirituais; esta estreiteza que tinha de rematar na incapacidade demonstrada das diplomacias profissionais ortodoxas para assegurar, não direi já a felicidade dos homens mas a paz das nações, induz a procurar em outros poderes a fortuna que estes muito contingentes e mesquinhos não souberam dar-nos.
É nesta angustia que mais uma vez se nos revela em seu intacto resplendor aquela lei pela qual a consciencia