Comendo a grande maçã: Uma viagem gastronômica por Nova York
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Comendo a grande maçã - Daniel Buarque
Para Claudia, companheira amada de sempre,
e para Lúcia Helena, que me iniciou na gula de viajante curioso.
somewhere, somehow, we’ll eat again.
Frank Bruni – Born Round
Copyright © Daniel Buarque
Copyright © desta edição Memória Visual
Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19.2.1998.
É proibida a reprodução total e parcial, por quaisquer meios sem a expressa anuência da editora.
Produção editorial
Memória Visual
Editora assistente
Mariana Arcuri
Revisão
Nova Leitura
Capa, projeto gráfico e diagramação
Adriana Cataldo e Priscila Andrade
Zellig l www.zellig.com.br
Produção de ebook
S2 Books
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B931c
Buarque, Daniel
Comendo a grande maçã : uma viagem gastronômica por Nova York / Daniel Buarque. - Rio de Janeiro : Memória Visual, 2011.
il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-89617-86-4
1. Nova Iorque (Estados Unidos : Estado) - Descrições e viagens - Guias. 2. Culinária americana - Estados Unidos - Nova Iorque. I. Título.
11-7689.
CDD: 917.471
CDU: 913(734.7)
16.11.11 21.11.11
031363
Rua São Clemente 300 – Botafogo – 22260-000
Rio de Janeiro – RJ – Tel.: 21-2537-8786
editora@memoriavisual.com.br l www.memoriavisual.com.br
www.twitter.com/memoriavisual l www.facebook.com/memoriavisual
Capa
Folha de rosto
Dedicatória
Créditos
Prefácio
Apresentação - Comer para contar
Introdução - Comida no centro do planeta
1. Os costumes
2. Os clássicos nova-iorquinos
3. Clássicos americanos
4. A volta ao mundo sem sair da ilha
5. Bizarrices
6. Casual diners
7. Alta gastronomia
8. Fast-food
9. Feiras e mercados
10. Turismo
11. Doces
12. Bebidas
13. Os guias
14. Os dez mais
15. Dicas
Endereços, telefones e sites
Agradecimentos
Bibliografia
Creditos das imagens
Sem dúvida, alguns dos aspectos mais atraentes de Nova York são a variedade, a quantidade e a qualidade dos restaurantes, food trucks, cafés e diners disponíveis. Não é fácil escolher o que experimentar nem por onde começar.
Uma das dicas mais preciosas que recebi para aproveitar a oferta gastronômica da cidade durante o ano em que lá morei veio de Daniel, o Monstro
: simplesmente caminhe pelas ruas e escolha algo novo. Sem a preocupação de ir a locais obrigatórios
, Nova York fica mais fácil de digerir.
Raramente esse conselho dá errado.
Mas a dúvida sempre acaba surgindo: será que não passei reto por lugares que realmente têm a minha cara – e se encaixam no meu orçamento? O que estou deixando de provar?
É aí que entra este guia. Não se trata de colocar o leitor diante da obrigação de conhecer determinados locais, de culpá-lo por não ter investido um bom dinheiro no Per Se ou por não ter experimentado as ostras da Grand Central Station. Pelo contrário.
Sem truques nem afetação, o Monstro compartilha suas aventuras calóricas durante seis meses muito bem aproveitados em Nova York. Seis meses, US$ 7 mil e incontáveis pratos diferentes.
Pois pegue uma caneta e acompanhe o Monstro em sua viagem gastronômica por diferentes países, culturas, faixas de preço e tipos de cozinha, tudo em um só lugar.
É impossível ler este livro sem parar de tempos em tempos para anotar os nomes dos restaurantes que mais se adequam à sua personalidade, ao seu bolso e às suas vontades.
Daniel Buarque, por meio de seu alter ego, o Monstro
, mastiga para o leitor muitas das opções sem fim que a cidade oferece.
Fica bem mais fácil chegar a Nova York já sabendo que não vale a pena perder tempo com o mau humor dos garçons do Oyster Bar e que os amantes de arroz doce não podem ir embora sem passar pelo Rice to Riches.
Ou que, se for ao célebre e lotado Katz’s, o ideal é pedir o egg cream (bebida que nada tem de ovo) e o pastrami on rye – e, só porque leu este livro, você saberá o que está fazendo.
É muito mais saboroso comer na Grande Maçã sabendo quem são Keith McNally e Danny Meyer versus Daniel Boulud e David Chang. E que, caso se canse de todos esses nomes, um carrinho de rua sempre estará à disposição para uma refeição gostosa, barata e rápida.
Isso tudo porque o Monstro, no lugar de verbetes burocráticos e superficiais que tantos guias oferecem, procura transportar o leitor ao ambiente nova-iorquino, à história de cada pedaço desse imenso caldeirão onde se pode, sim, andar sem rumo e encontrar pérolas – mas onde também é muito útil absorver a experiência alheia para melhor aproveitar o tempo e o dinheiro disponíveis.
Foi o que procurei fazer durante o período em que morei em Nova York.
O Monstro chegou lá poucas semanas antes de mim, e um dos meus passatempos preferidos durante a preparação para a mudança de São Paulo aos EUA era entrar no blog que ele fazia (o monstronacozinha), que se transformou neste livro, e sonhar com os lugares por onde eu ainda iria passar.
Dito e feito: o blog me levou ao Rice to Riches (e, por tabela, introduziu a sobremesa calórica no cardápio de todos os que me visitaram); aos deliciosos restaurantes de David Chang (no Momofuku Ssäm, o Monstro conseguiu até me convencer a provar orelha de porco; voltei lá ao menos cinco vezes); ao cachorro-quente nascido em Coney Island (o Nathan’s); aos bares perto da areia, no Pier 17; à rua de pedras (Stone St.); ao delicioso Boathouse, no Central Park; e até a conhecer feiras de rua (como a Hester Street Fair, minha preferida) e mercados que ficavam longe de casa.
Após quase um ano na cidade, sempre acompanhando as aventuras do Monstro na Cozinha
, não consegui provar tudo o que queria.
Manterei este apetitoso guia em mãos, certa de que irei consultá-lo sempre que voltar a Nova York. Livros como este, independentes e espontâneos, são coisa rara no mercado.
Como o próprio Monstro diz, trata-se de uma pessoa real
, escrevendo sem amarras sobre uma de suas maiores paixões.
Ao leitor só resta aproveitar as dicas e o conhecimento do autor para aprender a ser um cliente acomodado e mimado
, como os nova-iorquinos. Bom apetite!
Cristina Fibe, jornalista, foi correspondente do jornal Folha de S. Paulo em Nova York enquanto o Monstro rodava por lá experimentando os sabores da cidade.
O jantar havia durado quase três horas, passado por mais de uma dezena de pequenos pratos deliciosos, exclusivos e surpreendentes. O lugar era formado apenas por um balcão para 12 pessoas, de frente para a mesma cozinha em que os chefs trabalhavam naquela refeição especial, tudo com uma precisão fora do normal. Depois desse longo banquete, enquanto caminhava pelo sul da ilha de Manhattan para ajudar na digestão, a vontade era de ligar para todos os conhecidos, contar da experiência vivida ali no Momofuku Ko, pedir para que todos experimentassem também, dividindo a alegria.
Esse tipo de sensação foi comum em várias refeições encontradas em Nova York, indo além do que se encontra em guias genéricos e superficiais e experimentando sabores incríveis, daqueles que só quem mora na cidade pode conhecer. E dessa vontade de dividir esses sabores descobertos veio este guia guloso dos sabores da Grande Maçã.
Escrever um livro nunca foi tão prazeroso. Durante os seis primeiros meses de 2010, vivi em Nova York e experimentei alguns dos pratos mais gostosos do planeta, conheci mais de uma centena de restaurantes e bares, comi bem do café da manhã ao jantar, intercalando com lanches, sempre que possível. Tudo para conhecer e poder apresentar com testemunho pessoal o que há de melhor e mais diferente para se comer ali, explicando a cultura e contando a história da cidade mais cosmopolita do mundo e principal destino turístico de brasileiros nos EUA, uma garfada de cada vez.
Não faltam guias de turismo de Nova York. Pode-se entrar em qualquer livraria e buscar na seção desse tipo de obra. Há dezenas deles, e todos falam para o turista ir ao Empire State e à Estátua da Liberdade, trazem listas de museus, dão dicas da melhor época para viajar, as melhores regiões para fazer compras e, claro, listam restaurantes famosos que o viajante deve visitar. Na minha impressão, falta nesses guias um toque especial: sabor.
Enquanto me preparava para encarar a temporada de seis meses que vivi em Nova York, fui percebendo que era difícil encontrar nesses guias o espírito verdadeiro da cidade, algo que ajudasse a conhecê-la realmente, e não apenas a ver seu contorno fugaz. Faltava entender melhor a história dessa cidade, a cabeça do povo de mil nacionalidades que vive nela e, como guloso e apaixonado por comida que sou, senti que faltava algo que falasse sobre a cultura gastronômica dela, que dissesse o que Nova York come.
Entender o que uma cidade come é mais que saber quais são os restaurantes mais famosos, quais os melhores lugares para fazer uma refeição.
Para entender o que Nova York come é preciso mergulhar no estilo de vida dessas pessoas que fazem a maior parte das suas refeições na rua, e que apresentam gostos diversos, mas que começam a dar valor a produtos naturais e orgânicos. É necessário entender o que pensam essas pessoas que tomam café da manhã em uma padaria francesa, almoçam em um carrinho de comida árabe e jantam autêntica culinária ucraniana, tudo pertinho de casa, sem precisar se deslocar ao longo da ilha de Manhattan ou sair do seu bairro no Brooklyn, no Queens, no Bronx ou em Staten Island.
Pensando que a alimentação, para os turistas, é uma atração secundária ou mero abastecimento entre um e outro passeio, os guias costumam economizar papel e espaço quando tratam de comida. Eles apresentam tudo de forma simplificada, sem graça e resumido em deveres
, lugares que o visitante precisa conhecer, mesmo que isso acabe atrapalhando uma viagem mais prazerosa. Em nenhum dos guias de turismo de Nova York a que tive acesso havia relatos verdadeiros sobre a comida que poderia ser encontrada na cidade. A maior parte deles se esconde por trás do anonimato dos autores para imprimir relatos secos e sem experiências reais – trazem informações perdidas sobre a qualidade, os preços, as premiações e a fama dos restaurantes.
Claro que na virada da primeira década do século XXI a internet substituiu os guias de turismo tradicionais em boa parte da sua função, sendo possível hoje encontrar dezenas de blogs com relatos de viajantes gulosos e perspicazes. Essas sugestões de blogs são boas, é verdade, mas sofrem por falta de tempo e aprofundamento dos temas selecionados.
É bem verdade que também estão na rede as principais publicações locais sobre cultura gastronômica e restaurantes de Nova York. Deve-se levar em consideração, entretanto, que quem busca as informações na rede deve dominar bem a leitura em inglês e ter tempo e paciência para pesquisar em publicações voltadas a nova-iorquinos, nas quais não é necessário explicar a dinâmica da cidade.
Mesmo assim, sentia que continuava faltando uma fonte de informações organizadas de forma simples, porém mais aprofundada, a respeito da cultura alimentar de Nova York. Um guia com relatos reais de quem experimentou as comidas, pagou seu preço, tentou fugir do deslumbramento, pesquisou a história e a cultura da cidade e, acima de tudo, comeu de quase tudo um pouco para poder contar. É isso que este livro busca fazer. Comer a Grande Maçã, apelido comum de Nova York, resulta da busca de quem quis experimentar tudo para poder organizar essas informações e contar para futuros viajantes.
Este livro traz as aventuras gulosas do Monstro
, alterego glutão usado no blog Monstro na cozinha, que mantenho desde 2007. É a personalidade de quem sempre quer pedir um pouco de tudo o que há no cardápio e que não quer parar de comer enquanto o estômago não briga com o pulmão por espaço na barriga.
O projeto é ambicioso e envolveu investimento de tempo para pesquisa, de dinheiro para pagar as contas e de estrutura física no corpo, já que tanta comida uma hora acaba aumentando a circunferência da cintura – depois de seis meses, engordei 6 quilos e gastei cerca de US$ 7.500 somente com comidas e bebidas –, mas tudo era devidamente planejado, permitido e até esperado.
Além de uma curta história da alimentação na cidade, este guia traz um capítulo sobre a cultura gastronômica, o funcionamento de restaurantes e os hábitos nova-iorquinos. Há um outro capítulo sobre os pratos clássicos da cidade, como as ostras, os cachorros-quentes, os pretzels. Há uma apresentação dos pratos clássicos da culinária americana, já que, por mais cosmopolita que seja, NYC é parte dos Estados Unidos. Aliás, há ali uma pequena representação da culinária de cada região deste país. Trago uma descrição dos restaurantes que simbolizam essa nação, os fast-foods e as redes de casual diner. Em contraposição, o guia traz uma abordagem da nova cultura de comida natural e saudável. Há uma abordagem dos restaurantes que tanto aparecem em guias de turismo e da comida que se pode encontrar nas principais atrações turísticas da cidade, bem como capítulos inteiros sobre os pães, os doces, as bebidas encontradas ali.
O Monstro se debruça ainda sobre a variedade cultural, as quase cem nacionalidades que têm representadas a sua culinária em restaurantes ali situados, que formam um caldeirão
e que permitem dar a volta ao mundo sem sair da mesma cidade. E ainda há uma seção destinada a apresentar as comidas mais estranhas encontradas em Nova York, como um chocolate empanado e frito, uma fatia de bacon coberta com chocolate para a sobremesa e caixinhas industrializadas em que ovos já vêm em formato líquido.
Este guia quer ajudar os 350 mil brasileiros que viajam até a cidade todos os anos a entenderem a Grande Maçã e aproveitarem ao máximo as delícias que ela oferece. Claro que é impossível conhecer e falar de tudo, mas a meta é descobrir a variedade, dessacralizar os mitos criados pelos guias sem sabor e apresentar um pouco da história dessa cultura ao mesmo tempo tão americana e tão internacional. Molly O’Neill, editora de uma antologia de escritos americanos sobre comida, diz que é na alimentação que se encontram muitas das chaves para entender a cultura de um povo.
E, se viajar é encontrar novas culturas, é preciso experimentar os sabores locais para descobrir esse mundo diferente. O Monstro procurou fazer isso, e conta tudo, tentando transmitir gostos e sensações para descobrir e explicar o que nos faz humanos, o que aproxima e o que diferencia nossas culturas. Como diz O’Neill, cada refeição, afinal, é um novo começo
.
Para um viajante guloso, andar por Nova York é sentir um dilema existencialista. O excesso de informação, a variedade de opções, a possibilidade de encontrar as comidas mais diferentes ou as mais familiares, mais simples ou mais trabalhadas, mais baratas ou quase proibitivas de tão caras; isso tudo quase assusta, e a escolha de um prato significa abrir mão de centenas de outras opções atraentes. A liberdade se torna um fardo.
Segundo