Poesia reunida: Terêza Tenório
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Poesia reunida - Tereza Tenório
Nota editorial
Este livro reúne toda a obra poética publicada em livros por Terêza Tenório, iniciando pelo de estreia, Parábola (1970) até o último, A casa que dorme (2003). Não foi incluído A musa roubada (2006, Cepe Editora), que reúne versões de manuscritos inéditos da poetisa, uma vez que esta não participou da seleção dos poemas. O volume Poemas de Terêza Tenório, (Cadernos de poesia n. 6, Fundarpe, 1996), por se tratar de uma seleta de poemas já publicados, tampouco é considerado nesta edição.
Os livros Parábola (1970), O círculo e a pirâmide (1976), Mandala (1980) e Noturno selvagem (1981) foram reeditados em Poemaceso (1985), com algumas modificações, inclusive a supressão de alguns poemas. Parábola, especificamente, já havia sido republicado em O círculo e a pirâmide, com a seleção reduzida que reapareceria em Poemaceso.
De Parábola, Terêza havia suprimido, já em O círculo e a pirâmide, os poemas Mensagem, Canção, Páscoa, Árvore, Mar, Praia, Espectro, Rural, Bonzo, Gato e Galopada. Essa seleção é a mesma presente em Poemaceso, em que, adicionalmente, o poema Soneto em metro dissoluto é rebatizado como Soneto, e Paisagem do Nilo vira Paisagem do Recife.
De Mandala, suprimiram-se os poemas Inconsciente coletivo e Mí(s)tico, substituídos em Poemaceso pelos poemas Claro nome de Deus e Árvore. Noturno selvagem é organizado em dois blocos, com sete e catorze cantos, respectivamente, com epígrafes específicas. Em Poemaceso, Terêza agrupa todas as epígrafes e dispõe os vinte cantos em um único bloco. Além disso, o canto terceiro foi suprimido.
Por fim, optamos por manter a ordem cronológica das publicações e a ordem dos poemas conforme a publicação original, preservando aqueles que a autora suprimira em O círculo e a pirâmide e em Poemaceso. Adicionalmente, nesta edição tratou-se de preservar a versão mais recente dos poemas, ou seja, a publicada em Poemaceso, sempre que não se identificou um provável erro de revisão deste último.
No livro O corpo da Terra (1994) a autora publicou o poema longo O narguilé do xamã de Cybelius Manzini, obra de caráter experimental, claramente destacada do resto livro. Apesar de publicadas num único volume, formam dois corpos
distintos. Nesta edição, consideramos as duas obras de forma independente.
Em A casa que dorme (2003), há divergências entre o livro e os originais com respeito à disposição dos versos e quanto ao uso de marcas tipográficas (negrito ou itálico) em alguns poemas. É o que ocorre com Aragem, A fala (nos originais com o título de O pai), Caravela, Caso, Dedalus, De profundis, Documento íntimo, Fausto, Mascarada, Vivendo o nunca mais, Rebelião, Sete vidas e Voo.
Com efeito, o uso da espacialidade da página, muito recorrente na poesia anterior de Terêza, está ausente em A casa que dorme. Diante da impossibilidade de atestar se isso decorreu de decisão da autora, mantivemos a disposição dos versos presente na publicação original, exceção feita a alguns poemas em que a quebra do verso claramente se deu por um erro de diagramação, como em Absinto e O jardim. Nestes casos, foi mantida a disposição dos originais.
Recife, novembro de 2018
p6.jpgO poeta, quando começa a criar,
não é mais senhor de sua razão.
Platão, Leis
Chego a mim por mim sem medo
e busco minha órbita cheia,
o meu selo incorruptível,
minha irredimível areia.
César Leal
Retém eterna a vida
EU SOU O Lustral face o(r)val(h)ada
CAMINHO, A e puro amor a(r)mada.
VERDADE Labareda ancestral
purificou-te o lábio
no hálito inicial.
E A VIDA Na longa pátria antiga
incendiada ao Sol,
entre oásis de palmas
e azulados montes,
te espera sem revolta
o cálice da morte.
Teus passos de silêncio
deixaram fortes marcas
na superfície líquida
sem vela, leme ou barco
de uma a outra vida.
Da alumiosa Mão
traspassada e cindida,
vinho e pão sem fermento,
consubstanciados
na Mística Trindade
dentre o vão do Sacrário.
FOI O primeiro holocausto
CRUCIFICADO foi isento de sangue.
MORTO E Depois, o corpo exangue
SEPULTADO aéreo e mutilado.
Depois, símbolos vivos,
dormidas trevas, gelo
e o medo de perdê-Lo:
— Meu Deus! Meu Deus! Quem é
que clama no deserto?
E RESSURGIU Coágulos no peito
DOS MORTOS teu pobre peito aberto,
úmido peito: água
na carne nua e amarga.
Imóvel luz votiva
de insensato amor Te
retém eterna a Vida.
Eterno
A César Leal
Símbolo vivo
vence demônios
tira do sono
temidos sonhos.
Acende lâmpadas
com sal e água,
sem fogo, vela,
pavio e nada.
Reabre túmulos
alvos, floridos,
devolve à vida
mortos queridos.
Cavalga pássaros
em temporais
subindo ao vento
— Mais alto! Mais!
Sonha com a lua,
sorri. Desperto,
chora e o pranto
rega o deserto.
Entre piratas
em alto mar
de espada em punho
fá-los recuar.
Aos abissais
no chão do mar
vence-os sorrindo
sempre a nadar.
Em Creta antiga
ama Ariadne
e ao Minotauro
transforma em pajem.
Nu, nas montanhas
bebe água pura,
come silvestres
pinhas maduras.
Exige ao vento
novas roupagens
e parte em busca
de outras paragens.
Sobrevoa os Alpes,
sobe o Everest,
abençoa o Lama
sobre o Tibet.
Vai até o Cosmo
só, e a aeronave
desfaz-se em cinzas
meio à viagem.
Pousa no Sol
planta uma árvore
que produz grãos
de trigo e vagens.
Mata o Centauro
tornado em símbolo,
toma-lhe o arco,
cabelos, signo.
De Escorpião
tira o veneno.
Cavalga Touro
e dá-lhe feno.
A Aquário, vinho.
A Áries, que o irrita
tosa-lhe a lã
com lazulita.
A Caranguejo
amarra as patas
e à linda Virgem
que acha graça
casa-a com Gêmeos.
Como presente
dá-lhes Leão
por todo o sempre.
Pesa em Balança
Peixes, em postas
feitos no ácido
sumo de rosas.
A Capricórnio
que é signo anfíbio
funde-o no Sol
após um atrito.
Voa a Saturno
furta os anéis
devolve-os depois
faltando dez.
Abre as comportas
do Universo
treme de medo
foge do verso,
indo até Marte
para os canais
e cai nas mãos
de canibais,
que o matam. Sangue
sulca o planeta
tingindo-o todo
com a cor vermelha.
O corpo inerte
transmuda em rio;
a voz invade
o dia vazio.
As trevas velam
o corpo líquido;
soluçam monstros
nos precipícios.
Os pesadelos
riem felizes;
na Terra as árvores
matam raízes
com tantas lágrimas
tão derramadas.
As aves partem
em revoada
em busca dele
que habita em Marte
perene, vivo,
na outra margem.
Alfa-centauro
A paisagem acrílica
de Alfa-Centauro
evolui metálica
ante nossos olhos.
Antiformas bélicas
de astronaves mudas
(a mudez da pedra
gritante de um Buda).
Antiformas líricas
de astronaves puras
(a pureza fria
de alvas estruturas).
Antiformas térmicas
de astronaves límpidas
(contra um céu de chumbo
destacam-se nítidas).
Na planície densa
de gases acesos
de completo caos
surge um ser coeso.
É um ser sem alma
de face mecânica
(produto arrancado
à energia atômica).
Manoplas de aço
inoxidável.
A cabeça e o tórax
eletronizados.
Mil computadores
de urânio e cobalto
testam a resistência
do ser automático
e monstros em série
(pois tal ser mecânico
é, em verdade, um monstro)
brotam do outono.
Outono sem árvores
ou folhas caídas
ao sopro do vento
pelas avenidas.
Outono sem chuvas,
sem sol, sem ocaso,
sem fruta madura
com sabor de acaso.
Outono só fim
túmulo do verde
das cores da vida
em todo planeta.
E das astronaves
os seres sintéticos
alçam voo clássico
com destino bélico
indo, céu a dentro,
para a Terra — lívida,
descarnada, trêmula,
semiapocalíptica.
Nave
Buscando o fim do Universo
partiu a nau supersônica
forte nave de metal
movida a energia atômica.
Grande nave inconformada
da época espacial
em mil detalhes testada
partiu, e nenhum sinal
deixou nos confins do mundo
da procura entre as estrelas,
na Via Láctea, planetas,
civilizações inteiras.
Nebulosas e asteroides
com estranhas formas de vida,
imensos desertos áridos,
aves de asas partidas.
Frágeis seres vegetais
cor da verde clorofila
em perene fotossíntese
silenciosos, tranquilos.
Nos planetas submersos
eternamente na água
brotada além do arco-íris
sem uma única vaga,
fluídos seres submarinos
homens-peixes e sereias
com a maldição da máquina
e insuperável tristeza.
Mil mundos de fogo líquido
e rubra lava fervente
altíssimas atmosferas
planetas incandescentes.
A mais longínqua galáxia
de anos-luz de distância
que jamais serão contados
não interrompeu a andança
da forte nau supersônica
de corpo esbelto e maciço
solidamente firmada
em seu rumo ao infinito.
Horóscopo
Animais-signos
encadeados
pelos demônios
ao Sol atados.
Doze, ligados
entre si, místicos,
percorrem rápido
todo o zodíaco.
Como os planetas
de massa cósmica
os animais
perfazem órbita
de forma elítica
no infinito
e marcam o tempo:
são os doze signos.
Capricórnio*
A grande cabra marinha
das zodiacais regiões
alimenta-se de estrelas
desfaz as constelações.
Em suas andanças noturnas
percorre o Cosmo sem-fim,
e sob o frio Saturno
torna-se em gelo-marfim.
E sob o calor de Apolo
que fez do Sol sua morada
a cabra do mar degela
e despe a pele prateada.
Suspensa sobre o Oceano
com o lúcido corpo anfíbio
a grande cabra mergulha
no Universo marítimo.
Mas a terra firme vela
pelo animal de Saturno:
retira-o do meio do mar
e guarda-o no seio escuro.
Com a cabeça caprina
e corpo de aquonauta
o animal se liberta
galga as montanhas mais altas.
Depois, regressa ao zodíaco
sob a seta do luar
formando várias conjunções
no infinito solar.
E sua influência anfíbia
se faz sentir poderosa
sobre os que nascem na hora
das conjunções misteriosas.
* Em Parábola o poema é dedicado a Ariano Suassuna (N. do. E.)
Mensagem
Através das escotilhas
abertas na noite acesa
a inesquecível beleza
da estranha maravilha:
Flores-de-lótus azuis,
um longo terço de sóis,
ave-marias ao sul,
e ao norte, formando a cruz
As letras iniciais
do nome não pronunciado
com reflexos tomados
à chama dos temporais,
que ampliam o infinito
qual misteriosa mensagem
de incentivo à viagem
do espaçonauta místico.
Parábola**
Incandescentes nuvens
de ferro em brasa acesas
no céu sempre poente
sem noite e sem manhã
protegem os caminhos
da longa terra origem
suspensa em frio sono
de mística estação.
As flores, todas mortas,
sem cor e sem perfume
soluçam inutilmente
no limbo vegetal.
Caminham enfileirados
nas brancas avenidas
tristonhos cajueiros
de ouro desnudados.
Os rios silenciosos
e as fontes sem murmúrio
debruçam-se nas pedras
e fluem ao vazio.
O vento, de inconsútil
roupagem cinza envolto
arrasta-se vencido
no corredor do espaço.
E o céu, sempre poente
sem noite e sem manhã
não sabe mais o brilho
nascente do luar.
** Em Parábola