Vá e vença: Decifrando a tropa de elite
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Sobre este e-book
Hoje, Storani conduz palestras para empresas com o escopo de criar perseverança com raízes e de deixar gestores e colaboradores sempre prontos para mudanças. Mais do que mostrar a excelência de uma equipe de Operações Especiais no que se refere à gestão de pessoas, Storani nos faz ver com clareza ao longo destas páginas por que uma equipe, sob as mesmas regras e condições, pode ter desempenho melhor do que outra. E situa este raciocínio no contexto do Brasil de hoje, um país que se define pelo "deu pra passar", pela mentalidade do "grau suficiente para aprovação".
Vá e vença faz jus ao título, ao bordão que foi pintado na saída do portão do Batalhão de Operações Policiais Especiais, no Rio. Vá, faça, aconteça e vença — mas sempre aprenda, renove, mude conceitos, crie novas visões.
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Vá e vença - Paulo Storani
1ª edição
Rio de Janeiro | 2018
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Storani, Paulo
S887v
Vá e vença [recurso eletrônico] : decifrando a tropa de elite / Paulo Storani. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Best Seller, 2018.
recurso digital
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-85-465-0151-9 (recurso eletrônico)
1. Tropa de elite (filme). 2. Motivação (Psicologia). 3. Motivação no trabalho. 4. Livros eletrônicos. I. Título.
18-53079
CDD: 658.314
CDU: 005.32:331.1013
Vanessa Mafra Xavier Salgado - Bibliotecária - CRB-7/6644
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Vá e vença: Decifrando a Tropa de Elite
Copyright © 2018 by Paulo Storani
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, sem autorização prévia por escrito da editora, sejam quais forem os meios empregados.
Todos os recursos recebidos, em razão da autoria desta obra, serão destinados ao auxílio dos policiais do Bope feridos em confrontos e a ações sociais preventivas voltadas para a educação de crianças e adolescentes de comunidades carentes.
Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa para o mundo adquiridos pela
Editora Best Seller Ltda.
Rua Argentina, 171, parte, São Cristóvão
Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 que se reserva a propriedade literária desta publicação
Produzido no Brasil
ISBN 978-85-465-0151-9
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AGRADECIMENTOS
Ao Pai Eterno e ao Divino Modelo, Jesus, que em prece rogo para que eu consiga me amparar em Sua sabedoria, me inspirar em Sua coragem, demonstrar Sua força perante as dificuldades da vida, e ser merecedor de Sua proteção.
À minha mulher Márcia, pelo amor, pela força e compreensão que nos une nesta jornada.
Ao meu filho Pedro, que me precedeu no plano espiritual, pela essencial existência em sua curta e inesquecível jornada que muito me ensinou, entre tantas outras coisas, a ser pai.
À minha filha Camila, motivo de minha vontade e inspiração, por sua coragem e determinação.
Aos meus pais, pelo modelo de trabalhadores que se tornaram para minha vida.
Aos homens e mulheres que arriscam suas vidas para nos proteger.
Às Operações Especiais.
SUMÁRIO
Prefácio
Precursão
1. Construindo a tropa de elite
Etnodramaturgia
Cumprindo a missão
Seguindo o plano
O surgimento do capitão Nascimento
Reflexão
2. Tropa de elite e alto desempenho
Entendendo o fenômeno: fala o antropólogo
A educação familiar e escolar
Reflexão
3. Missão
Valores e missão
Missão atrai missionário
Reflexão
4. A cultura das tropas de elite
Voluntarismo, rusticidade e operacionalidade
Ritos e rituais
Símbolos e mitos
Reflexão
5. Vítimas, figurantes e protagonistas
O perfil
Estratégias comportamentais
Desafio
Operacionalizando o mito
Reflexão
6. Seleção rígida e treinamento duro: combate fácil
O princípio do desconforto
Simplificação, padronização e automatização
Espírito de corpo
Controle rígido de desempenho
Reflexão
7. Liderança
A história como referência
Questões éticas
Outros aspectos da liderança
As teorias na prática
Reflexão
Desfecho
Educação
Meritocracia: A cada um, segundo suas obras
Alta performance
Missão
Bibliografia sugerida
Ninguém é forte o bastante que nunca tenha chorado a perda de alguém querido.
Ninguém é tão corajoso que não tenha medo de se expor a quem se ama, sem a certeza de nada.
Mas vale a pena deixar de viver só porque tudo é incerto?
São essas memórias passadas que dão razão ao nosso futuro.
E é por isso que mais vale chorar pelo que se fez do que se perguntar, eternamente, como teria sido.
Vontade, assim como a saudade, não é só emocional, ela também se constrói com experiências, com amor e também dificuldades, que nos tornam maduros o suficiente para entender que é necessário sofrer, para se manter vivo.
(Pedro Storani — "Detalhes")
PREFÁCIO
Não é exagero dizer que o personagem capitão Nascimento tem um pouco do DNA de Paulo Storani. Seria exagero apenas dizer que Storani é cem por cento capitão Nascimento — é evidente que a parte do personagem em que ele se envolve com torturas e execuções nada tem a ver com esse oficial que conheci em 2005, quando começávamos a caminhada para a produção do filme.
A carreira de Storani na Polícia Militar é marcada pela ética e pelo respeito aos direitos humanos. Em seu tempo na corporação foi um combatente sério e digno, que inspirou gerações. É por isso que podemos dizer que, se ele aparece no primeiro Tropa de Elite como personagem, o mais próximo é o Nascimento, que se notabiliza como o coordenador do famigerado Curso de Operações Especiais, o COEsp. E, como tal, Storani também fez o seu COEsp
particular, mas no nosso set de filmagens.
Seu trabalho com a diretora de elenco Fátima Toledo foi fundamental na construção de cada um dos personagens militares e na forma com que cada ator encarou o desafio. Tornou-se domínio público, e fato — antes que se tornasse lenda —, o momento em que Storani é esmurrado por um dos atores e tem o próprio nariz quebrado. O objetivo do Storani naquele momento foi cumprido: fazer o ator explodir
, ir um passo à frente na interpretação de um personagem igualmente explosivo, intenso. Mesmo sangrando, Storani sorriu satisfeito: a missão foi cumprida.
E esse era um grande desafio, uma espécie de rito de passagem
entre dois mundos. Como dar realismo a atores que nunca haviam tido contato com o ethos militar e a escala de valores das Operações Especiais? Havia um oceano a atravessar, e Storani era o barqueiro; não um Caronte a conduzir todos até o inferno dantesco, mas um anfitrião a apresentar a cada um a tempestade e como sobreviver a ela. Fátima Toledo, que praticamente deu vida a esse novo capitão Storani, o do filme, estava no porto de saída e no porto de chegada nessa viagem pessoal do capitão.
Storani sempre teve o olhar aguçado para isto: processos de transformação, de mudança. Hoje, conduz palestras para empresas com o escopo de criar perseverança com raízes e de deixar gestores e colaboradores sempre prontos para desafios — quase todos os desafios da vida são, em algum ponto de vista, mudanças. O sucesso e o fracasso efetuam mudanças em nós, e para essas devemos estar preparados. Vá e Vença faz jus ao título, ao bordão que foi pintado na saída do portão do Batalhão de Operações Policiais Especiais, no Rio. Vá, faça, aconteça e vença — mas sempre aprenda, renove, mude conceitos, crie novas visões.
Neste livro tão fundamental, Storani nos fala da importância de conhecer a estrutura pessoal de valores das pessoas que irão compor nossas equipes, uma vez que é por meio dessa estrutura que os indivíduos se relacionarão com o mundo e com a sua missão. A educação se firma como um diferencial, mas associada à compreensão dos imperativos que nos movem e à visão global de motivações e desempenhos.
Mais do que mostrar a excelência de uma equipe de Operações Especiais no que se refere à gestão de pessoas, Storani nos faz ver com clareza ao longo destas páginas por que uma equipe, sob as mesmas regras e condições, pode ter desempenho melhor do que outra. E situa esse raciocínio no contexto do Brasil de hoje, um país que se define pelo deu pra passar
, pela mentalidade do grau suficiente para aprovação
. O caveira Storani se insurge contra essa filosofia da mediocridade que se espalhou pelas nossas gerações e instituições e crê que nela germinou a semente do mecanismo da corrupção, do quem indica
, do sabe com quem está falando?
já denunciado antes por Roberto DaMatta.
Vá e Vença, portanto, é um excelente ponto de partida — que pode ser ponto de inflexão. Um livro no qual Storani se apresenta tanto quanto oficial do Bope, coordenador de curso para Caveiras, quanto como acadêmico, antropólogo atento às contradições de nossos sistemas e códigos culturais. Pode ser um livro para corrigir rumos, retomar estratégias, dar força a uma nova geração que talvez recoloque o Brasil nos trilhos. Não há promessas de dias fáceis na obra de Storani — mas há promessas de missões cumpridas e de busca por resultados perfeitos. Quando recorda aquele que foi o mais terrível fracasso do Bope — o sequestro do ônibus 174, que retratei em documentário — Storani lembra que noventa por cento dos reféns haviam sido salvos. Ressalta, porém, que nada justificaria a vida perdida no episódio e reforça com a reafirmação de que a filosofia do Alto Desempenho, adotada pelas Operações Especiais, só admite o cem por cento.
É essa obstinação, essa tenacidade em busca da excelência, que compõem a alma mater de Vá e Vença. O leitor certamente sairá desta experiência modificado, pronto para uma profunda reflexão sobre sua vida profissional e pessoal, seu destino e seu propósito. Podemos experimentar certa apreensão diante do futuro, já que Storani não promete um mundo cor-de-rosa. Mas ficamos com a mensagem acolhedora de seu filho, Pedro, quando escreveu para a eternidade: Mas vale a pena deixar de viver só porque tudo é incerto?
Vá e Vença nos mostra que vale a pena seguir sempre em frente. Enquanto o coração bater, tem luta
— é uma das grandes lições dadas por este livro. Quem se deixar absorver por estas páginas entenderá isso plenamente.
José Padilha
PRECURSÃO
Tropa de Elite, dirigido por José Padilha, realizou algo extraordinário: foi o filme mais assistido na história do cinema brasileiro¹. Um filme policial que promoveu uma discussão profunda sobre segurança pública, violência urbana, corrupção, convivência conveniente entre organizações e traficantes nas comunidades e o modo como os políticos elaboram medidas de segurança e obtêm vantagens com elas. O que mais chamou a atenção do público, porém, foram os conceitos estabelecidos no próprio título — Tropa de Elite — e em seu subtítulo — missão dada é missão cumprida. A partir das primeiras exibições, começando pelas cópias piratas, desencadeou-se um movimento de debate e reflexão sobre os fundamentos mostrados no filme, mas também sobre a formação e o trabalho de equipe e sua relação com seus objetivos, suas metas e tarefas.
Por todo o Brasil e em outros países de língua portuguesa, as frases e comportamentos dos personagens passaram a fazer parte das manifestações de pessoas e grupos de trabalho. Nas empresas, universidades, escolas, equipes desportivas e recreativas, em família e em qualquer ambiente de convivência, as pessoas adotaram as formas representadas pelos atores do filme, principalmente pelo protagonista: o capitão Nascimento. Os espectadores, naturalmente, projetavam as diversas situações que envolviam o protagonista em seu próprio ambiente de atuação, e a equipe do Bope passou a ser sua equipe de trabalho; o cenário das favelas, seu ambiente de negócio; e os traficantes, políticos e corruptos, a concorrência. A partir dessa perspectiva, liderança, planejamento, estratégias, táticas, treinamento, superação de limites e disciplina operacional passaram a ter um novo sentido.
Os fundamentos do Bope, traduzidos em comportamentos dos personagens do filme, aguçaram a curiosidade do público. Por se tratar de uma produção brasileira e por abordar nossa realidade, pessoas e empresas começaram a querer entender como indivíduos e equipes podem fazer a diferença em um ambiente de alto risco. Foi por essa razão que fui convidado, em novembro de 2007, para realizar uma palestra destinada a um grupo que trabalhava com seguros e previdência, em uma instituição financeira sediada em São Paulo, que enfrentava dificuldade para atingir as metas daquele ano. O objetivo do executivo, que havia me convidado, era gerar uma nova forma de estímulo para seus líderes regionais, até o fim daquele último trimestre.
Eu me preparei para uma palestra didática, fundamentada nos dados da pesquisa que realizei durante o mestrado em antropologia social, no qual estudei a cultura do Bope-RJ. Embora não tivesse trabalhado no mundo corporativo, duas especializações na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro tinham me capacitado para entender as expectativas do público. No dia e hora marcados em São Paulo, ao iniciar a palestra para 76 líderes, o sistema de mídia disponível parou de funcionar. Percebendo os olhares ansiosos da audiência, que aguardava uma decisão diante da inusitada adversidade, disparei:
— Enquanto o coração bater, haverá luta!
A plateia explodiu em aplausos. Mudei rapidamente a estratégia que havia traçado e falei durante quase três horas, terminando a apresentação ouvindo da audiência brados efusivos de Caveira!
. O resultado foi surpreendente, para eles e para mim, pois recuperaram as perdas e atingiram a meta de forma extraordinária no fim do ano. Esse fato gerou um novo convite: mais dez palestras para todas as equipes em vários estados, no ano seguinte.
A partir de 2008 comecei a ser chamado para apresentar os conceitos do Bope ao mundo corporativo. Passei então a realizar palestras, treinamentos e consultorias para diversos segmentos de negócios em um total de 2.476 eventos, nos últimos dez anos. O público variou de doze a 6.500 pessoas, no Brasil e no exterior. Empresas da cadeia produtiva de alimentos ou do segmento farmacêutico, de telefonia, montadoras, fabricantes de eletrodomésticos e eletrônicos, companhias de tecnologia da informação, prestadoras de serviço, de varejo, publicidade, imobiliárias, associações comerciais e industriais, cooperativas, instituições financeiras, agronegócio e universidades. Participei de eventos nos três níveis dessas instituições: estratégico, tático e operacional.
O mundo corporativo deixou de ser um cenário desconhecido, pois muitas questões entre os diversos segmentos se assemelham e todos convergem para as pessoas e os processos. Cheguei a essa conclusão quando buscava entender os segmentos de negócios ou empresas em que iria palestrar ou treinar, conhecendo sua história, o perfil das equipes, as estratégias daquele momento e as expectativas sobre meu discurso. Aprendi ouvindo executivos, líderes e destaques operacionais das diversas empresas, nacionais e multinacionais, na forma de briefings, bem como nos debriefings para avaliar o resultado do meu trabalho. Essa forma de aprendizagem fez com que outros temas de palestras surgissem, para atender às perspectivas das pessoas e organizações, bem como me estimulou a aprofundar o estudo de assuntos pertinentes às questões socioculturais.
Neste livro, apresentarei algumas propostas e análises pessoais, resultantes da visão de antropólogo, ex-capitão do Bope e consultor dos filmes Tropa de Elite. Considerei, para isso, temas relevantes para compreender as pessoas através de suas formas de pensar, sentir e agir diante dos cenários de normalidade e, principalmente, de crise que constantemente experimentamos. Algumas hipóteses, sobre as quais falarei, foram confirmadas por estudos de outros autores e por enquetes que realizei em diversas oportunidades com os públicos com os quais interagi, e outras dependem de validação por meio de pesquisa mais aprofundada. Sem a presunção de defender qualquer tese, o que iria requerer o rigor da metodologia científica, proponho promover reflexões sobre os temas abordados, o que poderá causar, devo advertir, desconforto, discordância e eventuais críticas.
Antecipo que não tenho a menor pretensão de produzir verdades absolutas e de me apropriar delas, contrariando tendências ideológicas e práticas de algumas categorias intelectuais. Também