Psicanálise: De Bion ao prazer autêntico
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Sobre este e-book
A leitura do livro de Cecil Rezze testemunha a verdade desse pensamento. Encontramos nele questões e relações importantes entre conceitos fundantes, invariantes, que permitem reconhecer que estamos em área psicanalítica, ao mesmo tempo em que rompem a mesmice do já consagrado, provocando insaturação num campo sempre em perigo de sofrer calcificações. Surgem daí propostas como a das frestas necessárias ao trabalho em áreas de não pensamento, o valor de teorias fracas na clínica, os fantasmas como recurso para aproximação ao não conhecido... São ideias valiosas na medida em que, provindo da clínica, evocam nosso trabalho cotidiano.
A partir da teoria do prazer autêntico, que dá título ao livro, o autor subverte o paradigma da dor, referência onipresente nas teorias psicanalíticas, indo além do ponto que Bion, o autor privilegiado em todos os textos, alcançou.
Julio Frochtengarten
Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
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Psicanálise: Bion: Transformações e desdobramentos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPsicanálise: Bion: Clínica ↔ Teoria Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBion: a décima face: Novos desdobramentos Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
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Psicanálise - Cecil José Rezze
Psicanálise: de Bion ao prazer autêntico
Série Escrita Psicanalítica
© 2021 Cecil José Rezze
Editora Edgard Blücher Ltda.
Publisher Edgard Blücher
Editor Eduardo Blücher
Coordenação editorial Jonatas Eliakim
Produção editorial Bárbara Waida
Preparação de texto Ana Maria Fiorini
Diagramação Negrito Produção Editorial
Revisão de texto MPMB
Capa Leandro Cunha
Aquarela da capa Helena Lacreta
Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4o andar
04531-934 – São Paulo – SP – Brasil
Tel.: 55 11 3078-5366
contato@blucher.com.br
www.blucher.com.br
Segundo o Novo Acordo Ortográfico, conforme 5. ed. do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Academia Brasileira de Letras, março de 2009.
É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios sem autorização escrita da
editora.
Todos os direitos reservados pela Editora Edgard Blücher Ltda.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Rezze, Cecil José
Psicanálise : de Bion ao prazer autêntico / Cecil José Rezze. – 1. ed. – São Paulo : Blucher, 2021. (Série Escrita Psicanalítica / coordenação de Marina Massi)
376 p. il.
Bibliografia
ISBN 978-65-5506-066-9 (impresso)
ISBN 978-65-5506-067-6 (eletrônico)
1. Psicanálise. I. Título. II. Massi, Marina. III. Série.
CDD 150.195
Índices para catálogo sistemático:
1. Psicanálise
Table of Contents
Sobre a Série Escrita Psicanalítica
Agradecimentos
Prefácio
Confidenciando com o leitor
Reflexões psicanalíticas
Introdução
1. Transferência: rastreamento do conceito e relação com transformações em alucinose
2. Aprender com a experiência emocional. E depois? Turbulência!
3. Experiência emocional: um olhar diferente
4. O dia a dia de um psicanalista: teorias fracas, teorias fortes
5. Domando emoções selvagens
Clínica psicanalítica
Introdução
6. Estudo de uma sessão analítica: identificação e rastreamento na clínica dos conceitos de inconsciente, sexualidade, recalcamento, transferência e transformações
7. Preservação e alteração do setting na análise
8. Fantasmas e psicanálise: digressão em torno de transformações em O
9. Minha experiência clínica na apreensão do objeto psicanalítico
Teoria do prazer autêntico
Introdução
10. As teorias que sustentam nossa clínica
11. Objetivos da análise: prazer possível? Realidade possível?
12. Prazer autêntico: mudança de paradigma?
13. Prazer autêntico – o belo – estesia
14. Prazer autêntico: retornando à clínica
15. Teria Bion vislumbrado o prazer autêntico?
Landmarks
Cover
Table of Contents
Title Page
Foreword
Acknowledgments
Preface
Preamble
Introduction
Chapter
Chapter
Chapter
Copyright Page
Contributors
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Sobre a Série Escrita Psicanalítica
O projeto de uma série com livros de autores da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) é fruto da pesquisa de doutorado Trinta anos de história da Revista Brasileira de Psicanálise: um recorte paulista. Nessa tese, abordei os artigos publicados na revista, de 1967 a 1996, por psicanalistas da SBPSP.
Entre os vários aspectos que pude observar, destacou-se a necessidade de organizar a produção psicanalítica dessa instituição, de seus primórdios aos dias atuais, divulgada em revistas especializadas, atividades científicas ou aulas ministradas nos institutos de formação, com influência sobre diversas gerações de profissionais ligados à International Psychoanalytical Association (IPA).
A Série Escrita Psicanalítica tem justamente a ambiciosa proposta de reunir, organizar, registrar, publicar, divulgar e consolidar a produção dos pioneiros e das gerações posteriores da SBPSP. Busca também retratar, para a própria instituição, o que nela foi construído de importante desde a sua fundação. Conta, assim, a história da SBPSP pelo veio da produção e da criação psicanalítica.
Esta série lança um olhar para o passado, pois organiza o que de melhor já foi feito, e um olhar para o futuro, pois transmite a fortuna da SBPSP não só como memória, mas como um importante material de estudo para os diferentes institutos de formação psicanalítica e cursos de pós-graduação no Brasil, além de para o público interessado.
Ao promover uma leitura da história das ideias psicanalíticas – uma leitura crítica, comparada – e, ao mesmo tempo, permitir que os psicanalistas aqui apresentados sejam considerados enquanto autores, produtores de ideias e teorias, a série possibilita sair do campo transferencial institucional e passar ao campo das ideias, da reflexão, do debate, para além da pessoa do psicanalista.
A ciência e a arte necessitam de organização (ou curadoria) da contribuição que o ser humano foi e é capaz de oferecer. Espero que esta série cumpra o objetivo de ser a história das ideias de muitos colegas brasileiros no âmbito da IPA, alguns infelizmente não mais entre nós, outros ainda em plena produção.
Marina Massi
Coordenadora da Série Escrita Psicanalítica
A Sônia Maria
e a meus pais, Yolanda e José Rezze
Agradecimentos
Tenho vivido uma vida longa. Então, ao rememorar as contribuições que recebi, estas parece que vão se estendendo ao infinito, desde memórias esgarçadas, como a da professora de português do cursinho – cujo nome não me lembro, mas que me ajudou a dar um salto em minha percepção da língua e do mundo –, ao agradecimento aos clientes que me permitiram dar um sentido profundo à existência, com alegria e satisfação.
Aos meus pais, Yolanda e José Rezze, minhas irmãs, Jadete, Elisabete e Arlete, junto com meu avô Elias, devo o sentido original de família, que se completa com Sônia e meus filhos, Daniela, José Alexandre, Gisele e Mirela, que permitem germinar novos ramos nos galhos frondosos da família, agora com os netos.
Como professor assistente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) tive a colaboração de Eros Abrantes Erhart, estimulando e apoiando a defesa de doutorado em Sistema Nervoso Central.
Como introdução à psicanálise, fiz psicoterapia de grupo durante cinco anos, com os mesmos companheiros, com Noemi da Silveira Rudolfer, fruto desenvolvido em análise didática com Judith Andreucci e posteriormente amadurecido com Frank Julian Philips.
Muito devo ao Instituto de Psicanálise e à Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), aos supervisores Virginia Leone Bicudo e Laertes de Moura Ferrão, aos colegas de diversos grupos de estudos, e particularmente aos desse último de terça-feira, de cerca de vinte anos – Célia, Darcy, Eva, Evelise, Fernando, Julio e Roberto –, que permitiram uma discussão ativa e um caminhar por plagas desconhecidas, às vezes assustadoras.
Darcy de Mendonça Uchoa me acolheu no Departamento de Psicologia, Medicina Psicossomática e Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina, incentivando que eu iniciasse análise. Tive por companheiros Cleo, Colarile e Sílvio Barbosa, dotados de ampla generosidade com os colegas mais jovens, eu e Orestes Forlenza Neto.
Como epílogo, agradeço à Blucher pela edição deste livro, mas especialmente à Marina Massi, organizadora dele, que permitiu que o meu sonho saísse da imaginação, na qual era gestado há muitos anos, e finalmente viesse à luz.
Prefácio
O convite de Cecil José Rezze para prefaciar Psicanálise: de Bion ao prazer autêntico acabou por se transformar, para mim, em uma oportunidade para dizer, publicamente, a importância que seu pensamento psicanalítico teve e tem para mim. Ocorreu que, ao retomar os trabalhos reunidos neste livro, surgiram-me lembranças de como eles foram importantes no desenvolvimento de meu próprio pensamento psicanalítico, bem como memórias de décadas de convivência. Conforme escrevia o Prefácio, fui percebendo que estava organizando não apenas as ideias que tinha do autor, mas também suas contribuições pessoais à minha maneira de ser analista – algo de que, possivelmente, ele mesmo não tenha muito conhecimento. Das primeiras (as ideias do autor), vou tratar explicitamente; já as últimas (minhas lembranças pessoais) são difíceis de especificar por serem experiências adquiridas fora de enquadres próprios a relações de trabalho, que existem em mim como profundos sentimentos de admiração, respeito e gratidão.
Pelo que sei, esta é uma questão presente também para vários colegas que foram privilegiados pela oportunidade de um convívio direto com Cecil. Nesse sentido, a publicação deste livro com trabalhos seus selecionados surge como uma oportunidade para comemorarmos juntos os benefícios que ele já nos trouxe – e que continua trazendo –, seja no campo das ideias, seja no das vivências pessoais.
Este introito mostra que se me impôs começar por destacar a presença do autor na obra. As contribuições psicanalíticas, que Cecil aqui nos reapresenta, são tão significativas quanto as experiências com sua pessoa ao trazê-las a nós. Creio que este será o tom deste Prefácio.
Na releitura dos textos, de início saltou-me aos olhos o tom intimista, coloquial. Sua escrita fala diretamente ao leitor. Possivelmente, isso sempre foi familiar para mim, embora não o tivesse percebido com a clareza de agora. Um pouco de atenção a este ponto me trouxe elementos para identificar que essa característica envolve o que nomeei há pouco como fala diretamente ao leitor
. Estabelece o contraste com falar para o público
, explicar, mostrar conhecimento. Essa forma de Cecil manifestar seu pensamento emerge das finas descrições da própria experiência vivida, do se colocar intensamente, tanto cognitiva quanto emocionalmente, na relação com o interlocutor. Essa qualidade vai estar presente em todo o livro, embora a encontremos mais explicitamente nos Agradecimentos
(nos quais está acrescida de uma afetividade marcante e delicada), bem como no que manifesta em Confidenciando com o leitor
, ou na Introdução
da Parte I, Reflexões psicanalíticas
. É a afabilidade que o caracteriza na convivência na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) e que cria o clima emocional de um contato ao mesmo tempo intimista e de fronteiras individuais bem definidas. Podemos acompanhar esta condição privilegiada seja nas aproximações pessoais, seja na forma de expressar os pensamentos, tanto aqueles que ele formou por si mesmo quanto aqueles que conquistou e que tornou próprios. Em suma, quero dizer que há uma grande harmonia entre a pessoa de Cecil, seu pensamento psicanalítico e sua forma de expressar-se.
Cada parte do livro, bem como o seu todo, nos dá essa aproximação. Ler seus escritos é muito próximo a ouvi-lo falar, tal a sintonia com que Cecil se coloca, seja no verbal, seja na escrita. Nesta perspectiva, podemos aproveitar aqui sua proposta de identificar a existência de uma forma primária de prazer: creio ser adequado falarmos que Cecil transmite um invejável prazer autêntico no que escreve e no que vive em suas aproximações com a psicanálise e com aqueles nela genuinamente interessados. Se me utilizo do conjunto dos conceitos de Bion, como uma ferramenta indicativa das dimensões de desenvolvimento pessoal, penso que Cecil alcançou, com muito êxito, a proposta do tornar-se a realidade e de seu corolário, o tornar-se si mesmo.
Olhando por este ângulo, estamos, possivelmente, tendo acesso à fonte de uma das raízes do desenvolvimento psicanalítico de Cecil, reconhecida por ele mesmo e revelada no subtítulo escolhido por ele para o livro: De Bion ao prazer autêntico. Aponta-nos estarmos frente à apresentação de sua versão da trajetória de seu desenvolvimento pessoal, de suas origens na maneira de Bion pensar a mente até sua integração na singularidade de sua personalidade.
Após iniciar com a dimensão pessoal do autor (ser) na obra, paradoxal e inevitavelmente, precisamos nos deslocar para a dimensão do conhecer para darmos continuidade a nossas observações sobre o livro em si mesmo e sobre o pensamento psicanalítico que nele encontramos. Não me deterei especificamente no exame dos artigos. O próprio Cecil, na Introdução
de cada uma das três partes do livro, nos oferece ricos elementos sobre eles. O vértice que minhas observações tomaram foi o de privilegiar os pensamentos expostos e a forma com que Cecil o faz.
Em uma primeira aproximação com o livro, em uma visão macro, começo com o reconhecimento de que o conjunto dos textos aqui reunidos constitui apenas uma parte da extensa produção do autor. Penso podermos identificá-los como textos do período de sua maturidade psicanalítica, escritos nos últimos 25 anos. Vão de trabalhos teórico-clínicos, que nos tornam mais acessível o pensamento de Bion, a trabalhos que descortinam uma visão original do autor sobre questões da teoria e da prática psicanalítica. Os primeiros, vamos reconhecê-los como contribuições que atenderam a um público ávido por ser auxiliado na difícil aproximação com as ideias de Bion. Por meio deles, muitos de minha geração psicanalítica alcançaram um contato mais favorável com conceitos como os de experiência emocional, transformações, alucinose, do tornar-se a realidade, dos pensamentos selvagens. Fazem parte de um período em que se iniciou a grande expansão do interesse pelo pensamento de Bion. Lembremos que, nas décadas anteriores, a SBPSP era um dos poucos centros psicanalíticos em que se estudava a obra desse autor; que a literatura disponível era parca; e que Cecil era um dos poucos analistas que criavam pontes entre a profundidade do pensamento de Bion e a pouca condição dos neófitos para absorvê-lo.
Em uma segunda aproximação com o livro, encontramos as três divisões em que foram reunidos os trabalhos que aqui representam o autor. Foram organizadas, pareceu-me, para atender não só ao propósito de reunir contribuições que tenham pontos em comum; sugeriram-me chamar atenção para o percurso psicanalítico do autor: de reflexões sobre pontos específicos do pensamento psicanalítico (particularmente de Bion), para o alcançar a condição de perceber, organizar e comunicar pensamentos ainda não pensados. Assim, os trabalhos da primeira parte, Reflexões psicanalíticas
, nos levam a posicionamentos pessoais do autor, que mostram a integração de elaborações de conhecimentos conceituais com experiências clínicas próprias. Em quatro dos cinco artigos, acompanhamos o trabalho de aproximação teoria/clínica acontecendo de uma maneira consistente, tanto destacando o pensamento original dos autores privilegiados (Bion, em especial) como expondo elaborações e reflexões sobre os conceitos em exame. No entanto, o texto O dia a dia de um psicanalista: teorias fracas, teorias fortes
(2009) já nos mostra a desregulação
na díade elaboração/reflexão em direção a uma tríade, com a presença de um espaço maior para criações pessoais originais.
Na segunda parte do livro, Clínica psicanalítica
, vamos encontrar o pensamento clínico de Cecil em um movimento evolutivo, elaborando, a partir de suas próprias experiências, questões psicanalíticas essenciais. Podemos pensar que a diferença dessa última parte com as elaborações anteriores está no fato de que, nas primeiras, as teorias ancoravam as elaborações pessoais de Cecil e eram ilustradas pela experiência clínica; já nessa segunda parte o movimento é inverso, e Cecil parte decididamente da clínica para alcançar as teorias que vão se mostrar úteis para expandir o pensamento que se apresenta. Não é de pouca monta esta inversão, pois nela está em jogo a distribuição do uso de duas formas de pensamento: na primeira, o movimento é do conhecimento teórico para seu reconhecimento na experiência clínica; e, na segunda, da experiência própria para o encontro de referências que vão servir de modelos para a expressão dos pensamentos que evolveram na prática clínica. Em sua essência, a leitura dos textos vai nos dar indicações se o que está sendo expresso carrega a necessidade de elaboração pelo pensador ou, diferentemente, se o pensamento que primariamente emerge, de forma súbita e plena, vai ser alcançado diretamente. É provável que eu esteja acentuando este ponto pela importância pessoal que dou a ele. Em minha compreensão, ele assinala o desenvolvimento ocorrendo na mente de um analista ao aceitar deixar mais decididamente a primazia da dimensão do conhecer para privilegiar a dimensão do estar uno com a realidade.
Olhando assim o conjunto da obra de Cecil, ocorre-me ter ele, neste movimento, harmonizado seu pensamento psicanalítico com o tomar posse mais plena de suas capacidades. Ilustro a percepção deste momento de passagem, em um olhar retrospectivo, com a surpresa que vivi ao acompanhar sua apresentação de A fresta em um seminário com Donald Meltzer, na SBPSP, em 9 de agosto de 1998.¹ A turbulência que experimentei na ocasião, que também esteve clara no grupo, expressou a polarização entre os pensamentos de dois analistas com mente própria, Cecil e Meltzer, ao mesmo tempo elaborando dois momentos diferentes do pensamento de Bion: o da valorização da teoria do conhecimento e o da teoria das transformações.
Essas considerações servem-me para exprimir a visão de ser Cecil um dos analistas que com mais êxito identifico transitarem por esta dimensão das contribuições de Bion, que conceitualmente reificamos na expressão transformações em ser ou tornar-se a realidade.
A terceira parte do livro, Teoria do prazer autêntico
, pode ser vista como a culminância de todo o processo de desenvolvimento criativo de Cecil. O autor, aquele que tem a autoridade que é obtida pela autoria, aparece de forma plena, ao desenvolver um pensamento que abre uma face da vida mental ainda não explorada psicanaliticamente, em uma apresentação suficientemente consistente para se contrapor a pensamentos já anteriormente organizados em teorizações psicanalíticas amplamente aceitas. Nesses artigos, escritos entre 2010 e 2018, podemos perceber tratar-se de pensamento que Cecil prefere que seja visto como ainda em elaboração. A dificuldade em sustentar esta posição é, de fato, imensa. Passou a me ficar um pouco menos limitante, mais recentemente, com a ajuda do próprio Cecil: tendo tido o privilégio de questionar, indagar, mostrar minhas perplexidades e dúvidas sobre prazer autêntico, rendi-me após algumas tentativas (frustradas) de enquadrar
prazer autêntico na dimensão do tornar-se a realidade. Demorei para alcançar seu posicionamento de manter esta concepção não engessada por uma conceituação precoce. Cecil abriu meus olhos para os inconvenientes de encarcerá-la em um horizonte restrito. Tomei este aprendizado em sentido mais amplo e tenho tentado estar mais alerta a questões desta ordem.
Na Introdução
dessa terceira parte do livro, Cecil nos oferece uma visão clara do desenvolvimento do pensamento do prazer autêntico. Tendo tido a oportunidade de acompanhá-lo desde sua primeira apresentação pública, sinto-me muito à vontade para dizer da minha dificuldade de integrá-lo. Mas o fato é que hoje o percebo assimilado à minha maneira de pensar experiências clínicas e pessoais.
Um ponto que penso ser aqui fundamental é o destino deste pensamento. Penso que deve ocorrer com prazer autêntico o mesmo que ocorreu com pensamentos de nossos autores germinais, ao exporem hipóteses sobre a existência de realidades não sensoriais, advindas de intuições pessoais, não necessariamente vividas na sala de análise. Exemplos mais contundentes deste destino podem ser Freud com o mito de Édipo, Klein com o sadismo dos bebês e Bion com o papel central do pensar na vida mental. São intuições que vão encontrar apoio e desenvolvimento nas experiências emocionais vividas na sala de análise, mas que surgem de experiências na vida pessoal. Não vejo como pensar em prazer autêntico a não ser como uma elaboração de registros de experiências pessoais, que criam a base para serem reconhecidas quando intuídas em relações psicanalíticas. O princípio aqui é o expresso por Money-Kyrle² em Desenvolvimento cognitivo: só se reconhece aquilo que se conhece.
Esse raciocínio tem a ver com o estatuto da concepção de prazer autêntico. Tratando-se de algo com possível universalidade para o ser humano, é possível pensá-lo como um elemento da psicanálise,³ quem sabe como o par complementar de dor mental.
Vencida a visão geral do livro, faço uma derradeira aproximação ao seu conteúdo, voltando a destacar um olhar afetivo aos trabalhos de Cecil aqui reunidos: reencontrei-os com emoção. Foi um reencontro com velhos conhecidos, textos que já li, reli, estudei e voltei a procurar sempre que necessitado de melhor esclarecer uma opinião sobre qualquer um desses temas. São trabalhos que fazem parte da história de meu desenvolvimento e de meu acervo psicanalítico, pela elaboração das ideias psicanalíticas neles expostas, pela forma coloquial com que Cecil consegue tratar ideias complexas sem simplificá-las, mas tornando-as mais acessíveis pelo envolvimento com sua experiência pessoal. Para mim, são textos que funcionaram como estímulos para mobilizar um potencial que me ajudou a me apropriar de pensamentos de autores germinais.
Este último ponto, tratando-se da obra de Bion, adquire uma dimensão muito significativa. A consigna desse autor aponta a impossibilidade de um analista se aproximar de sua (Bion) obra, de forma verdadeira, sem que seja por meio do desenvolvimento de suas próprias potencialidades. Alerta-nos que seu uso como conhecimento a ser replicado na prática clínica ao mesmo tempo amputa a personalidade do analista e destrói a originalidade do pensamento do autor inicial. Seria transformar as propostas de investigação do infinito desconhecido, que é a vida mental individual, em uma teoria limitada ao que já se conhece.
Encerro este Prefácio com esta observação, que penso sintetizar muito do que Cecil tem buscado nos transmitir a partir de sua experiência. Ajuda-nos a irmos além do campo do conhecimento e a nos arriscarmos a perceber a psicanálise em outra dimensão, como uma experiência em direção a viver a vida possível que aguarda para ser vivida.
João Carlos Braga
Membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) e do Grupo Psicanalítico de Curitiba (GPC)
A Biblioteca da SBPSP dispõe de gravação desse encontro, que penso ter sido uma experiência marcante para muitos que o acompanharam.
Roger Money-Kyrle (1996). Desenvolvimento cognitivo. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Ouvi esta ideia, que me faz sentido, pela primeira vez da colega Danielle Chuman, em 2016. Para o apoio a este ponto, ver sua conceituação em W. R. Bion (1966), Elementos de psicanálise (pp. 19, 74 e 109 [item b]). Rio de Janeiro: Imago.
Confidenciando com o leitor
Havia um sonho de publicar um livro e comecei a examinar os meus trabalhos e a selecioná-los sob o título LIVRO. O projeto ficou em espera, talvez por sentir que eu quisesse compartilhar algo que tivesse um cunho de criação pessoal, que pudesse colocar da forma como realmente trabalho. Empreitada difícil, se não impossível. A forma como trabalho envolve a relação pessoal com cada cliente especificamente, sendo que o meu interesse e alcance está nas vivências que se passam entre mim e o meu companheiro ou, com muita frequência, companheira de jornada. Assim, os artigos escolhidos respeitam a importância da vida pessoal dos clientes e me abstenho de tecer consideração sobre a vida de cada um, mantendo a disciplina de me ater aos acontecimentos e vivências de consultório, dentro de um limite que muitas vezes frustra e aborrece minha companheira ou meu companheiro de viagem. Nos textos são narrados episódios descritos pelos clientes, porque faz parte do trabalho acolher as vivências que vão ocorrendo, e tornam-se parte importante informações e emoções inesperadas, portanto imprevisíveis, das vivências da dupla. Com essas visões de trabalho, junto com meu temperamento, fica difícil escrever sobre psicanálise em termos gerais, considerando outras áreas mais conceituais, filosóficas, ou mesmo artísticas, embora eu me aventure em trabalhos considerando ricos semioticistas, como quando desenvolvo o prazer autêntico. Mantenho o anonimato do cliente, procurando discrição quanto a sua vida pessoal, porém torna-se inevitável que muito dos afetos e da intimidade da relação seja revelado, expondo também as vivências do analista, que aqui se desnuda, mostrando que é um homem que exerce essa função. Exponho, portanto, fragilidades e limites, dentro de situações nas quais, intencionalmente, resguardo grande parte de minha intimidade, e não intencionalmente, ela também é resguardada, naturalmente, por não me ser acessível, mesmo porque navegamos tendo em frente o desconhecido. Talvez o leitor tenha notado o uso do termo cliente e não paciente, pois procuro deixar claro o distanciamento de uma postura médica em favor daquela considerada por mim como pertinente à psicanálise.
Parte I
Reflexões psicanalíticas
Introdução
A produção de meus trabalhos não teve uma linha que os orientasse; o acaso foi elemento importante no desencadeamento deles. No entanto, podemos organizá-los segundo temas que permearam a sua feitura ao longo do tempo. Não ao longo do tempo histórico, mas sobretudo pela importância que tiveram em meu desenvolvimento em tempos diversos.
Sinto-me afetivamente surpreso e impactado quando revejo os trabalhos escritos durante algumas décadas, pois parece que eu já tinha embrionariamente as antecipações de tudo o que se desenvolveria. Paradoxalmente, cheguei a possibilidades de novas ideias nunca imaginadas anteriormente.
No ano de 1994, o Departamento Científico da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), tendo como diretora Maria Olympia A. F. França, iniciou uma série de fóruns cuja temática era Identificação e rastreamento dos conceitos de inconsciente, sexualidade, recalcamento e transferência, dos quais me