Um Mendigo Show De Bola
De Águeda Faon
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Um Mendigo Show De Bola - Águeda Faon
UM MENDIGO
SHOW DE BOLA
Águeda Faon
Copyright © 2015 by Agueda Faon
Silva, Fabiana Ester, 1984 – Um Mendigo Show de Bola / Agueda Faon;
ISBN: 978-85-916008-1-6
1. Contos brasileiros. I. Título.
CDD B869.31
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
O mendigo ............................................................................ 8
Agência de viagens Vesely ............................................ 18
Pensão Liberdade ............................................................. 28
Suspeitos ............................................................................ 35
Bianca .................................................................................. 45
Siena Preto ......................................................................... 56
Desaparecida ..................................................................... 67
Marco Zero.......................................................................... 77
Sequestro ............................................................................ 87
Detalhes .............................................................................. 97
Um pedido ........................................................................ 109
Uma ideia ........................................................................... 121
[Um mendigo show de bola], por [Águeda Faon]
[ 6 ]
[Um mendigo show de bola], por [Águeda Faon]
Você já ajudou um mendigo hoje?
[ 7 ]
[Um mendigo show de bola], por [Águeda Faon]
O mendigo
A conhecida selva de pedra ganhara mais um dia para que seus
habitantes alimentassem o sempre faminto capitalismo.
Ainda não eram nem sete horas da manhã da quarta segunda-
feira de dezembro de dois mil e quatorze, e os jornais já
anunciavam um acidente entre um carro e uma moto na faixa
esquerda da pista expressa da Marginal Pinheiros.
Logo, logo se formariam os primeiros pontos de lentidão no
trânsito da cidade de São Paulo.
Mas para Samuel isso era de todo irrelevante. Haveria de estar
deveras ocupado com a manutenção da própria vida para sequer
cogitar os problemas de uma grande metrópole. Já que não ter
um lar, um emprego e uma família bastavam como adversidades
para ele.
Samuel era um dos muitos moradores de rua da maior cidade
brasileira. Vivia seus vinte e quatro anos de idade. As raríssimas
oportunidades de se alimentar adequadamente o impediam de
atingir a massa corpórea para não ser considerado muito magro.
Tinha a estatura média. Seus grandes olhos castanho-escuros
se perdiam em seu rosto branco ossudo, emoldurado por cabelos
desgrenhados, também castanho-escuros, e com a barba por
fazer há contínuos dias. Usava sempre um sobretudo velho e
sapatos quase sem sola.
Levante-se, larápio! Quantas vezes mais vou ter que te falar
que aqui você não pode ficar?! – disse com rispidez um
funcionário de um luxuoso prédio comercial da Avenida
Paulista que chegava para trabalhar.
Enquanto se levantava de onde estava sentado, embaixo de
um pinheiro com enfeites de natal pertencente ao prédio de luxo,
Samuel falou:
- Você me expulsa todas as manhãs. Poderia ao menos me
expulsar pelo meu nome!
[ 8 ]
[Um mendigo show de bola], por [Águeda Faon]
Antes de seguir o seu percurso, o funcionário de terno elegante
e sapatos de grife, objetou:
- Escute bem, seu preguiçoso! Se você estiver aqui amanhã, a
própria polícia vai te expulsar pelo nome!
Fica na paz, grã-fino! – disse Samuel puxando para perto de si
uma mala velha com algumas de suas poucas coisas. – Já estou
de partida!
Você tem menos de um minuto para sumir daqui! – advertiu o
funcionário, dirigindo-se finalmente para o prédio.
Segurando sua mala na frente do corpo, Samuel virou-se e
parou por um instante. Observava atencioso o prédio da agência
de viagens Vesely, localizada em frente, no outro lado da rua.
Parecia esperar que algo acontecesse.
O minuto que lhe fora concedido se esgotou, e Samuel
permanecia inerte, só observando.
Outros funcionários começavam a chegar. Embora insatisfeitos
com o que viam não faziam nada para tentar expulsar o mendigo
malcheiroso.
Já tinha alguns dias que Samuel repetia o mesmo ritual.
Chegava por volta das seis e meia da manhã. Sentava-se debaixo
do pinheiro e esperava. Gostava de ficar ali, pois detalhes do
natal remetiam a ele boas lembranças. Isso o confortava por um
tempo.
Quando um Peugeot branco manobrou para dentro do
estacionamento da agência, o olhar do mendigo se iluminou.
A razão para tanto tinha cabelos ruivos lisos e compridos.
Olhos verdes. Estatura mediana. Corpo delicado e um rosto que
parecia ter sido elaborado por um talentoso desenhista.
Chamava-se Bianca.
Desceu de seu carro trajando um terninho preto feminino e um
scarpin vermelho. Após pegar sua bolsa e acionar o alarme,
encaminhou-se para a entrada da agência.
[ 9 ]
[Um mendigo show de bola], por [Águeda Faon]
As mãos de Samuel suavam frias simplesmente por contemplar
a imagem da fascinante mulher de trinta e um anos de idade.
As mãos dele também tremiam, pois desde que vislumbrara
Bianca pela primeira vez na saída de uma pequena cafeteria na
Avenida Paulista, muitas de suas atitudes mudaram. A duras
penas vinha tentando largar o vício do álcool, o que fazia seu
organismo reagir severamente.
Talvez fosse a aparência excepcional dela. Mas ver Bianca
funcionava como uma poderosa carga de motivação em Samuel.
Após segui-la descobriu onde trabalhava; Porém, para se
aproximar de sua musa inspiradora, decidiu que algumas coisas
precisariam de mudança.
Depois de alimentar seus olhos mais uma vez, o mendigo pôs-
se a caminhar com sorrisos bobos na direção do Parque Tenente
Siqueira Campos, também conhecido como Parque Trianon,
criando em sua mente um futuro fantasioso, onde Bianca e ele
saíam juntos para comprar enfeites de natal novos para o lindo
pinheiro de uma casa confortável que acabaram de comprar.
Quando chegou ao seu destino, para fugir do policiamento da
entrada, encaminhou-se para a lateral. Com custo pulou o portão
e se embrenhou no parque até se aproximar de um dos postes
finos de luz existentes ali. Tinha de ser rápido, pois deixara suas
poucas coisas do lado de fora para facilitar a missão.
Não sabia o porquê, mas às vezes tinha a sensação de estar
sendo seguido. Possivelmente fosse o medo de descobrirem
onde estava colocando suas economias dos últimos seis meses
que o fizesse ter essa sensação. Ou não.
Após olhar para todos os lados, agachou-se perto do poste e
começou a cavar com as pontas de seus dedos tiritantes a terra
úmida, tornando-os ainda mais imundos. Após um tempo de
escavação surgiu uma tampa de um pote de margarina de
duzentos e cinquenta gramas, com o layout bastante gasto. Mais
um pouco de trabalho e ele conseguiu extrair o pote inteiro.
[ 10 ]
[Um mendigo show de bola], por [Águeda Faon]
Dentro havia a quantia de mil e oitocentos reais. Fruto de suas
manhãs varrendo a frente de alguns estabelecimentos comerciais
e de suas tardes mendigando no trânsito. Poderia ter guardado
mais, se nos primeiros quatro meses não estivesse lutando
piamente contra o seu vício perturbador.
Para prosseguir com seu plano acurado, precisaria dar um jeito
de tomar um banho. Precisava também de roupas e sapatos
novos.
Voltou a fechar o pequeno buraco escavado e encaminhou-se
para fora do parque, pulando outra vez o portão. Suas coisas
ainda se encontravam lá.
O futuro fantasioso voltou a surgir em sua mente. Desta vez
ele imaginava uma mesa farta, a casa cheia de amigos, e Bianca
abraçada a ele enquanto todos conversavam felizes numa sala
aconchegante. Novos sorrisos bobos se instalaram em sua face
enquanto caminhava novamente na Avenida Paulista.
Assim que chegou numa loja de roupas, deixou sua mala na
porta e entrou segurando o pequeno pote de margarina. Não era
nada acostumado com ambientes iluminados. Precisou adaptar
seus olhos para aquele mundo distinto. Isso não o deixou ver o
quanto as pessoas olhavam indignadas para aquele sujeito
ignóbil invadindo um cenário tão cândido.
E mesmo depois elas continuaram imperceptíveis para ele. O
foco no seu sonho não o permitia enxergar mais nada que não
estivesse dentro dos seus planos para realizá-lo. Por isso
perambulou feliz pela loja.
Todavia, algumas pessoas sentiram muito mais do que
indignação...
Agora Samuel vivia um misto de realidade e fantasia.
Imaginava Bianca ao lado dele, ajudando-o a escolher a camisa
que iria comprar. Mentalmente chegava a lhe perguntar qual cor
ela preferia.
[ 11 ]
[Um mendigo show de bola], por [Águeda Faon]
Você tem razão, meu amor! O azul destaca meus traços. –
falou o mendigo com sua ilusão.
No momento em que ele segurou o cabide com a camisa
escolhida, ouviu:
- Levanta as mãos, malandro!
Forçado a emergir de seu paraíso pela voz imponente, Samuel
olhou para trás. Seus olhos se depararam com um policial de
expressões nada amigáveis apontando um revólver para ele.
Calma aí, polícia! – retorquiu Samuel. – Não estou fazendo
nada de errado não!
É bom você colaborar, malandro! – disse o policial ainda mais
impetuoso. – Larga a mercadoria e levanta suas mãos imundas!
Mas eu não estou fazendo nada de errado, polícia! – insistiu
Samuel.
Vou contar até três para você levantar as mãos! – vociferou o
policial.
Acostumado com a violência nas ruas, Samuel sabia que era
cauto atender ao pedido do polícia, como ele chamava. Tomado
pelo dissabor da situação, ele elevou os braços, deixando a
mostra tanto a camisa quanto o pequeno pote de margarina.
É bom não tentar nenhuma façanha! – ordenou o policial ao se
aproximar e revistar o mendigo.
Eu não estou fazendo nada de errado! Só estou comprando! –
insistiu novamente o dono do coração apaixonado.
Muitas pessoas pararam suas compras para assistir o infortúnio
do homem sem teto. Para alguns chegava a ser um deleite
constatar que estavam em níveis sociais tão acima do infausto
fétido.
O que tem dentro desse pote? – indagou o policial enquanto
apontava a arma na direção da cabeça de Samuel após a revista.
Aqui tem dinheiro, seu polícia! É com ele que eu vou pagar
tudo o que eu comprar.
[ 12 ]
[Um mendigo show de bola], por [Águeda Faon]
Apontando a arma primeiramente para a mão do mendigo com
a camisa, e depois para a mão com o pote de margarina, o
policial ordenou:
- Põe essa mercadoria no lugar! E abra o pote!
Conservando-se em sua obediência, Samuel atendeu ao pedido
do polícia.
Ao constatar o que havia dentro, o policial questionou austero,
ainda com a arma em punho:
- Onde você roubou tudo isso, malandro?
Eu não roubei! Eu tenho trabalhado e guardado dinheiro,
autoridade! Eu