Promise boys: Todos os olhos em nós
De Nick Brooks
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Sobre este e-book
A renomada Urban Promise transforma meninos em homens! Todos os pais que sonham que o filho seja alguém, sonham com a Urban Promise. Uma escola de reputação impecável que faz todos os alunos alcaçarem a grandeza. Isso é, se eles seguirem a disciplina rígida imposta com pulso de ferro pelo diretor Keneth Moore, também fundador da instituição e membro respeitável da comunidade.
Caso não, bem... pode ser que tudo se torne um pesadelo. Se por fora tudo parece perfeito, por dentro, as coisas são bem diferentes. De alunos a professores, todos têm motivos para destestar o diretor. Prova disso é que Moore é encontrado morto nas instalações da escola. As evidências (e suspeitas) recaem em três alunos: J.B., Ramón e Trey. Dois alunos negros e um latino que tinham "problemas" recorrentes com o diretor e, ainda por cima, estavam na detenção na hora do crime.
Eles tinham oportunidade, meios e, principalmente, motivos para assassinar o diretor. Os três juram que são inocentes. E, sem ter a quem recorrer, decidem se juntar para seguir as pistas e provar que apesar de suas etnias e origens, e de suas existências estarem atreladas à cor de suas peles, eles não vão deixar que as circustâncias definam seus destinos. Mas será que eles poderão confiar uns nos outros?
Promise boys: todos os olhos em nós é um thriller juvenil com uma crítica social contundente. Uma mistura de O ódio que você semeiae Um de nós está mentindo.
"Emocionante, cativante e afiado como uma lâmina" — Karen M. McManus, autora best-seller de Um de nós está mentindo
"Percorrer o caminho da masculinidade nunca pareceu tão ameaçador quanto em Promise boys. Fiquei na ponta da cadeira tentando descobrir se estava lendo uma hitórias de meninos que se tornam homens ou de meninos que se tornam assassinos. E você também vai ficar. Um mistério brilhante e sem rodeios sobre corações profundamente partidos." — Adam Silvera, autor de Os dois morrem no final, best-seller número 1 do New York Times
"Não há nada que se compare a um livro que consegue sintetizar com perfeição críticas sociais em um enredo empolgante com personagens complexos. Promise boys faz isso diversas vezes, e mal posso esperar para ver esse mistério habilmente elaborado dominar o mundo... e ensinar uma coisa ou outra sobre ser um garoto racializado nos Estados Unidos do século 21." — Nic Stone, autora de Cartas para Martin, best-seller do New York Times
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Pré-visualização do livro
Promise boys - Nick Brooks
Tradução
Luara França
1ª edição
GaleraRIO DE JANEIRO
2023
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B888p
Brooks, Nic
Promise boys [recurso eletrônico]: todos os olhos em nós / Nic Brooks; tradução Luara França. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Galera Record, 2023.
recurso digital
Tradução de: Promise boys
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5981-329-2 (recurso eletrônico)
1. Ficção americana. 2. Livros eletrônicos. I. França, Luara. II. Título.
23-84389
CDD: 813
CDU: 82-3(73)
Gabriela Faray Ferreira Lopes – Bibliotecária – CRB-7/6643
Copyright © 2023 by Nick Brooks
Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios.
Os direitos morais doa autor foram assegurados.
Texto revisado segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990.
Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa somente para o Brasil adquiridos pela
EDITORA GALERA RECORD LTDA.
Rua Argentina, 120 – Rio de Janeiro, RJ – 20921–380 – Tel.: (21) 2585-2000, que se reserva a propriedade literária desta tradução.
Produzido no Brasil
ISBN 978-65-5981-329-2
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Para os garotos da Cidade Chocolate
"Nos últimos vinte e cinco anos de ensino, percebi um fenômeno fascinante: as escolas e a educação escolar são insignificantes para os resultados do planeta. Ninguém mais acredita que cientistas sejam treinados em aulas de ciências, que políticos sejam treinados nas aulas de ciências sociais ou poetas, nas aulas de idiomas. A verdade é que as escolas não nos ensinam nada a não ser seguir ordens. É um mistério para mim por que isso acontece, pois milhares de pessoas cuidadosas e carinhosas trabalham como professoras e diretoras, mas a lógica abstrata da instituição acaba sobrepujando suas qualidades individuais. Mesmo que professores se importem e trabalhem arduamente, a instituição é psicopática, não tem consciência.
Um sinal toca e o jovem que está escrevendo um poema precisa fechar o caderno e ir para uma cela diferente, onde ele precisa decorar que o homem e o macacão têm o mesmo ancestral.
John Taylor Gatto
Why Schools Don’t Educate
[Por que escolas não educam]
SUMÁRIO
PARTE UM | J.B.
Ninguém
Keyana Glenn
Enfermeira Robin
Becca Buckingham
Unk
Wilson Hicks
Bando
Sr. Reggie
Sra. Williamson
Interrogatório de J.B.
UM DIA ANTES DO ASSASSINATO | J.B.
CAPÍTULO UM | Briga
CAPÍTULO DOIS | Namorado
DIA DO ASSASSINATO | J.B.
CAPÍTULO TRÊS | Achado
PARTE DOIS | Trey
Solomon Bekele
Stanley Ennis
Brandon Jenkins
Tio T
Treinador Robinson
Antoine Betts
Sra. Hall
Interrogatório de Trey
UM DIA ANTES DO ASSASSINATO | Trey
CAPÍTULO QUATRO | Atraso
CAPÍTULO CINCO | Parado
DIA DO ASSASSINATO | Trey
CAPÍTULO SEIS | Problema!
PARTE TRÊS | Ramón
Rachel Barnes
Anthony Tony
Barnes
César
Doña Gloria
Magdalena Peña
Ninguém
Interrogatório de Ramón
UM DIA ANTES DO ASSASSINATO | Ramón
CAPÍTULO SETE | Culpado
CAPÍTULO OITO | Polícia
DIA DO ASSASSINATO | Ramón
CAPÍTULO NOVE | Alguma revanche
PARTE QUATRO | Mentiras
CAPÍTULO DEZ | De castigo
CAPÍTULO ONZE | Suspeitos
Ninguém
CAPÍTULO DOZE | O esquema
Doña Gloria
CAPÍTULO TREZE | Traição
Keyana Glenn
CAPÍTULO CATORZE | Omar
CAPÍTULO QUINZE | Anjos
CAPÍTULO DEZESSEIS | Entrega
Mudança de planos
BOA NOITE, PRIMO
CAPÍTULO DEZESSETE | Confiança
CAPÍTULO DEZOITO | Conspiradores
PARTE CINCO | A verdade
CAPÍTULO DEZENOVE | Entrar
CAPÍTULO VINTE | A conversa
CAPÍTULO VINTE E UM | Nico
CAPÍTULO VINTE E DOIS | Confusão
Magdalena Peña
Ninguém
Keyana Glenn
CAPÍTULO VINTE E TRÊS | Confronto
Brandon Jenkins
Ninguém
CAPÍTULO VINTE E QUATRO | Revelações
CAPÍTULO VINTE E CINCO | O esquema
CAPÍTULO VINTE E SEIS | Quase hora do show
CAPÍTULO VINTE E SETE | Gran Finale
Keyana Glenn
Agradecimentos
ÚLTIMAS NOTÍCIAS:
DIRETOR QUERIDO PELA COMUNIDADE É ASSASSINADO AOS 43 ANOS
A polícia de Washington, capital, está investigando um homicídio na região noroeste. Sr. Kenneth Moore, fundador e diretor da Escola Preparatória Urban Promise foi atingido por um tiro na sexta-feira, dia 10 de outubro, na escola. Ele era um admirável membro da comunidade.
O corpo do diretor foi encontrado no começo da noite de sexta por um colega de trabalho, que ligou para a emergência.
Quando a polícia chegou, constatou que Moore levou um único tiro na têmpora.
Investigadores têm trabalhado para encontrar um suspeito ou lista de suspeitos, além de motivo plausível, e foi revelado que três alunos estão sendo interrogados.
Qualquer pessoa que tenha alguma informação deve ligar para a seção de Homicídios do departamento de polícia de Colúmbia, no número 202-555-4925.
Uma recompensa de 65 mil dólares está sendo oferecida a quem tiver informações que levem à captura do culpado.
PARTE UM
J.B.
Dias atuais
Ninguém
Aluno da Escola Preparatória Urban Promise
Fiquei sabendo que um aluno trouxe uma arma para a escola no dia do assassinato. Não diga que soube por mim.
Keyana Glenn
Aluna do colégio Anacostia
A gente não consegue acreditar no que vê, só no que sente. Achei que podia confiar em J.B. porque conseguia sentir o tanto que ele gostava de mim. Ou pelo menos eu achei que conseguia, até ele me dar bolo. Um dia depois de ficarmos. Quando ele disse que me encontraria depois da aula para irmos juntos ao jogo. Que ficaríamos juntos. Oficialmente.
Ele jurou que não era como os outros garotos. Que era diferente. Melhor. E mesmo contrariando meus instintos, ele me convenceu a confiar nele. E talvez eu ainda confie? Mas minha cabeça está muito confusa e não sei de mais nada.
Argh, me sinto uma idiota. Ele me usou, ou me enganou. Agora estou me sentindo mal, e isso não é justo. Só de pensar, já fico irritada.
Toda vez que fecho os olhos, revivo aquela noite. Eu indo sozinha para o jogo, pronta para jogar tudo na cara dele. Mas quando cheguei, notei que ele estava coberto de sangue.
Fiquei paralisada ali mesmo, na porta da escola.
Nós dois ficamos.
Tudo que eu queria gritar para ele ficou preso na garganta.
O sangue.
Minha cabeça zunia. Ele havia se machucado? Era por isso que ele não havia aparecido para me pegar como combinado? Era por isso que ele não havia ligado nem respondido as mensagens?
— Não foi minha culpa... — sussurrou ele enquanto tentava respirar. E daí ele foi embora. Ele obviamente não estava machucado, não correndo daquele jeito.
Ele sumiu na escuridão da noite.
Claro, naquele momento eu ainda não sabia nada sobre o diretor Moore. Todo mundo está falando que o J.B. matou aquele cara, mas ainda assim, parte de mim não consegue acreditar.
Por outro lado, sei o que vi, J.B. com a camiseta coberta de sangue e aquelas palavras indo e voltando na minha mente. Não foi minha culpa.
Toda vez que começo a acreditar em alguma coisa, lembro que todo mundo por aqui é falso. Acho que nunca dá para conhecer mesmo uma pessoa.
Espero que eu esteja errada. Espero que J.B. seja inocente.
Enfermeira Robin
Funcionária da Escola Preparatória Urban Promise
Não me entenda mal, eu me importo com o trabalho. É esse lugar que eu não suporto.
Quando disse para meus amigos que ia trabalhar na Escola Preparatória Urban Promise, todos me avisaram que era uma escola exclusivamente masculina, mas eu achei que poderia lidar com isso. Tenho que lidar com homens nojentos vinte e quatro horas por dia. Toda escola em que trabalhei, todo ônibus que eu pego, toda vez que ando na rua, toda vez que vou ao mercado, homens dão em cima de mim. Por que essa escola seria diferente? Não é mesmo?
Eu estava errada.
Nessa escola, eu fiquei bem desconfortável, nervosa mesmo; você sabe como é. O diretor Moore criou uma panela de pressão de masculinidade tóxica e frágil. Você acha que estou falando dos alunos, mas não. Essas crianças, elas não conhecem outra vida. São os adultos. Os professores, os seguranças, a diretoria.
Eles encorajam esse comportamento. Ano passado, um garoto ficou passando um vídeo muito inapropriado que ele tinha feito com uma garotinha, então os seguranças revistaram as coisas dele e confiscaram o telefone. Foi a coisa certa a fazer. Mas ele nunca levou suspensão ou advertência. Nem uma puniçãozinha! E pior, vi os seguranças na sala de funcionários olhando o telefone, assistindo ao vídeo antes de deletar. Vendo pornografia infantil escondidos, fazendo piada da menina do vídeo. Eles nem pensaram. Não existia senso algum de... moral quando se falava de mulheres na Urban Promise.
Mas Moore não se importava com aquilo. Contanto que os garotos fossem mantidos na linha, esses homens podiam fazer o que quisessem. Sabe, Moore tem uma persona pública imaculada, mas ele não era super assim também. Ele fazia umas coisinhas, tipo me abraçar por tempo demais, passar a mão nas minhas costas quando falava comigo no corredor.
Além disso, pode me chamar de ridícula, mas eu juro que ele tinha problemas com álcool. Já cuidei de muitos pacientes que bebiam e Moore tinha todas as características. O humor dele mudava de uma hora para outra. Às vezes ele era amável, um charme só, atencioso e cuidadoso. Outras vezes, ele surtava com as crianças, com os professores, com o supervisor Hicks. E ultimamente havia piorado muito.
Enfim. Pode-se dizer que eu não acho que tenha sido uma perda tão grande assim como as outras pessoas.
Agora, quanto aos garotos que estão sendo interrogados por conta do assassinato, não conhecia nenhum deles muito bem, mas eu vi o J.B. no dia do crime. Ele veio para cá para colocar um curativo na mão. Ele se cortou feio depois de bater em alguma coisa.
— O que aconteceu? — perguntei. As mãos dele estavam fechadas em punhos, como se ele quisesse enfiar as unhas na própria pele. O marrom-escuro manchado de sangue.
— Nada — murmurou ele.
— Não pode ser nada se você está assim. — Tentei sorrir para ele, fazer com que ele se sentisse confortável já que estava tão machucado.
Fiz o melhor que pude para limpar a ferida, mas ele não abriu a mão. Nenhuma vez lá no consultório. Ele só olhou para longe, dentes cerrados, como se mal pudesse esperar para fazer uma coisa pior com o que quer que tenha acabado com a mão dele.
Fui para trás da mesa antes de avisar que ele podia ir embora. Um instinto estranho me disse para fazer isso. Não queria dar as costas para ele. Não tendo visto a raiva emanar dele daquele jeito. Como se ele fosse perder a cabeça a qualquer momento, as mãos sedentas por um saco de pancadas, qualquer coisa, alguma coisa que pudesse aliviar a raiva. É o tipo de pessoa que está acostumada com a violência. E jovem desse jeito? Me deixa arrepiada.
Então, sim. Estou procurando outra escola para trabalhar.
Becca Buckingham
Aluna da Academia Mercy para Garotas
Tadinhos deles. Tão cheios de raiva. Mas é por conta da situação deles, sabe? Quer dizer, imagina viver naquela pobreza, ser estigmatizado por causa da etnia e ser vítima de injustiça sistêmica. Você também teria raiva. É por isso que eu quis ser monitora na Promise. Para fazer a diferença. Com o privilégio branco que eu tenho, vejo isso como uma responsabilidade.
Mas mesmo assim, não consigo entender por que mataram o diretor Moore. Ainda mais depois de tudo que ele fez por eles. É uma tragédia.
Eles disseram que têm três suspeitos. Todo mundo está fofocando e essa cidade é menor do que você imagina. As notícias correm. Fui monitora de um deles.
Ramón Zambrano.
Ramón é um ótimo garoto. Tem uma coisa... meio angelical nele. Eu amo como ele é, sabe, fiel à própria cultura. Ele faz... acho que são chamados pahpooses? Aqueles biscoitinhos. Me falaram que ele faz com a avó. Olha que fofo!
Eu quase me matei para o tornar fluente em inglês porque isso ajudaria no futuro dele. Sem dizer que era minha obrigação. E Ramón se saiu bem. Na verdade, há algumas semanas, eu diria que não tinha chance nenhuma de ele ter feito isso. E parte de mim ainda acredita nisso, no fundo do coração. Mas eu vi... hum, vamos dizer que eu ouvi que ele pode ser esquentadinho.
Mas ele não é um caso perdido. Provavelmente foi um dos outros meninos que estão nessa.
Tipo... Trey Jackson.
Nunca cheguei a falar com ele. Mas ouvi dizer que é um garoto esquisito. Muitas meninas na Mercy o acham bonitão, e ele ainda joga basquete, então já viu. Ele pode ir bem e acabar na NBA... quem não ia querer namorar um cara desses?
Eu.
Atletas são idiotas e tenho certeza de que Trey não é exceção. Pensando agora, as pessoas dizem que ele faz bullying. Fica fazendo piada com as crianças, se sentindo o maioral enquanto faz os outros se sentirem mal.
Mas as pessoas também dizem que ele tem, tipo, um tio que é militar e nada do bem. Às vezes garotos com figuras paternas ruins acabam se tornando ruins também, sabe? Mas pelo menos ele tem uma figura paterna! Não sei com certeza, mas aposto que não é algo muito comum naquela escola.
E tem também o J.B. Williamson.
É outro que não conheço muito bem, como o Trey, mas ouvi dizer que o J.B. é muito inteligente. Já o vi nos corredores em meus dias de monitoria, e eu lembro dele porque ele é enorme. Tipo 1,90m! E, caras altos são sempre lindos para mim. Mas ele nunca sorria. Não importava quantas vezes eu sorrisse para ele ou desse oi, ele só me ignorava. Isso me dava uma impressão estranha, sabe?
Todo mundo fica me perguntando daquele dia na Promise. Eu fiquei a tarde toda dando monitoria na sala de inglês. Saí para pegar água e lá estavam eles: J.B. e o diretor Moore numa briga.
Fique paralisada como todo mundo. J.B. cresceu para cima do diretor Moore, e tinha um amassado enorme no armário. A mão do J.B. sangrava e o sangue pingava no chão. Mesmo do outro lado do corredor, consegui sentir a tensão.
J.B. foi para cima do diretor, esperando que ele desviasse ou saísse correndo. Mas o diretor riu e ficou parado. Meu coração disparou e os batimentos eram tão altos que quase não ouvi a discussão.
O diretor Moore levantou a mão, falando para o J.B. ir embora, e J.B. passou por mim todo irritado e agressivo, ouvi ele murmurando, Vou pegar você
.
Já tinha ouvido os garotos da Promise dizerem isso. Parecia o último resquício das brigas. Quando os seguranças da escola separavam os brigões, eles sempre falavam isso um para o outro. Era um aviso. E sem dúvida, a fofoca logo chegava à Mercy, sobre as brigas na vizinhança da Promise.
Mas agora, aquelas três palavras ficam ecoando na minha cabeça sem parar. Algumas horas depois de J.B. dizer isso, acharam o corpo do diretor Moore.
Unk
Cara da vizinhança
Não estou nem aí para a porra do diretor.
Ele não ligava para mim.
Hã?
Aquele cara nunca olhou na minha cara, era como se eu não existisse.
A única vez que ele falou comigo foi para gritar que eu tinha que ficar longe da escola.
Eu sou daqui. Eu estava aqui primeiro! Nemvemcomessa!
Esses pretos metidos vêm pegar tudo, igual aos brancos.
BEM-VINDO AO GUETO, MEU BEM. HAHAHAHAHAA!
Tá ligado?
VIDA LONGA À CIDADE CHOCOLATE!!!!
Wilson Hicks
Supervisor Discente da Escola Preparatória Urban Promise
Meu Deus.
Eu achei o corpo.
Meu Deus, por que logo eu?
Nunca tinha visto sangue daquele jeito. Um rio vermelho vazando na mesa.
Os olhos vidrados me encarando.
Cheguei perto e gritei Kenneth! Kenneth!
.
Olhei o corpo dele. Não sabia de onde estava saindo o sangue. Tapei o nariz porque o fedor de fezes era insuportável. Kenneth tinha se cagado. Sempre tinha ouvido falar que as pessoas se cagavam quando morriam, mas achei que era mito.
Fui andando para trás. Senti meu rosto queimando. Suava em bicas. A primeira coisa que veio na minha cabeça: como foram os segundos finais? Ele estava com muito medo quando puxaram o gatilho? Ele sentiu dor? Ele estava com medo de morrer?
Mas nunca vou saber.
Mesmo agora, continuo revivendo aquela noite, tudo volta para minha cabeça. Eu podia ter feito alguma coisa diferente? Podia ter evitado aquilo?
Éramos melhores amigos? Não. Tecnicamente, ele era meu chefe. Mas quando Kenneth criou a escola, fui o primeiro contratado por ele, e nós dois construímos algo incrível juntos. Podem falar o que quiserem dos métodos dele, ou até dos meus, mas a gente conseguiu conquistar coisas. Claro, amávamos as crianças de um jeito bruto, mas nunca passamos dos limites. A gente se preocupava demais com os meninos, e só queríamos o melhor para eles. Queríamos que eles fossem reis. A gente até começou o fundo de bolsas Promise, para mandar os garotos para faculdade caso eles não conseguissem dinheiro. Mas as pessoas não entendiam que a gente estava formando homens, não mimando garotinhos.
Infelizmente, alguns alunos se recusam a crescer.
J.B. Williamson, Ramón Zambrano e Trey Jackson, garotos que se recusavam a crescer.
Um deles fez isso, talvez os três juntos. Sabemos que os três brigaram com Kenneth aquele dia.
Se eu tivesse que apostar, seria no J.B. São sempre os quietinhos que fazem bobagem. Os que ficam engolindo seus instintos violentos. Além disso, J.B. é do Benning Terrace. Eu já vi muitos da laia dele. A gente sabe muito bem que tipo de gente sai de lá.
Bando
Vigarista da vizinhança
Saca só! Acabei de ver meu parça! Agora estão falando que ele pode ir preso por assassinato? J.B. nunca foi de fazer essas paradas. Quer dizer, ele ficava na rua, mas não estava de sacanagem nem nada. Ele sempre me pareceu um garoto maneiro. Mas eu sei que o cara tinha culhões. Se fosse pressionado, podia brigar e mandar você para o hospital se acertasse um soco.
{inspira}
Lembro uma vez, na parada que a gente estava fazendo, e o J.B. ficou no canto da quadra, quieto. Ele é enorme, então todo mundo achou que ele ia ser uma fera no basquete, mas, no fim das contas, ele nem joga. Enfim,