A origem do Chamamé: Uma história para ser contada
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A origem do Chamamé - Alejandro Brittes
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Rossi, Magali de
As origens do Chamamé : uma história para ser contada / Magali de Rossi, Daniel Alejandro Brittes ; (part. Marco Antonío Marzolla). -- 1. ed. -- Porto Alegre, RS : Magali De Rossi, 2021.
Bibliografia
ISBN 978-65-00-27109-6
1. Chamamé (Dança) 2. Chamamé (Música) 3. Música - História I. Brittes, Daniel Alejandro. II. Marzolla), (part. Marco Antonío. III. Título.
Índices para catálogo sistemático:
1. Música : História 780.9
Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129
Edição digital: agosto 2021
Arquivo ePub produzido pela Simplíssimo Livros
Ao Paí Júlian Zini, por ter encontrado o valor simbólico do Chamamé, revelando através de sua poesia e pesquisa o sentido da nossa expressão musical chamamecera. Saibas, que independentemente de onde estejas, cada palavra deste livro, está dedicada à tua memória.
Agradecimentos
Queremos agradecer a toda comunidade chamamecera, as mulheres e os homens que amam esse gênero musical e o tornaram parte de sua vida.
Gratidão aos músicos, cantores, bailarinos e poetas que dedicaram toda a sua vida a difundir o ritmo, e os atuais, que incansavelmente nos presenteiam com suas obras, levando o Chamamé para outras fronteiras territoriais e imaginárias.
Agradecemos a Fundação Marcopolo e a SEDAC (Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul) que através do Edital Diversidade das Culturas, por meio de recursos públicos da Lei de emergência cultural, Aldir Blanc, nº 14.017, nos possibilitaram a compartilhar essa pesquisa.
Aos amigos, Ana Alice Machado, Marco Marzolla, José Osório Machado, Márcia Castro e Soster e Rejane por serem tão preciosos em nossas vidas.
A nossos pais, Márcia Ifran e Hipólito Brittes¹, por terem feito tanto para o Chamamé em períodos onde o gênero sofria de preconceito. A nossa mãe Odila Norci Lodi², por acreditar que o conhecimento é a única forma de mudar as coisas e ao pai Fidêncio de Rossi³, por me apresentar o chamamé quando criança.
E a todos os Guaranis que abriram as portas de suas Tekoas e compartilharam momentos de convívio e de trocas.
"…La música está en el alma
de los hijos de este suelo;
se les subió por la sangre
de los talones al pecho,
y les retoza en el alma
y les florece en los dedos…
Mirenlo. Vale la pena
verlo, de pie en su silencio,
destrenzando melodías
y como arrugando el viento…
Las cosas que nos dirías
si hablaras chamamecero,
pero tu música dice
lo que esconde tu silencio…"
Chamamecero
de Paí Júlian Zini
APRESENTAÇÃO
Nosso propósito é levantar um debate em torno do imaginário, do simbólico e da memória coletiva, passando por aspectos da historiografia, vivências e registros orais em torno do Chamamé.
Propomos ao leitor a se desafiar, ampliar sua lupa, pensar nas fronteiras como tão-somente traçados geopolíticos, espaços mutáveis no âmbito da cultura. Tente perceber a música como um resultado de um longo processo e que a mesma cumpre uma função no imaginário social e na memória coletiva, só assim poderemos entender um pouco o Chamamé e a sua ritualidade.
A música, a dança, os rituais, a mitologia se nutrem, dialogam e respondem lacunas, mesmo que de maneira imperceptível aos nossos olhos, todas essas expressões culturais e comportamentos humanos, dão ao povo a sua identidade, cumprem uma função metafísica e fazem-nos ir além do que nos é apresentado como ciência.
Talvez por isso que o Chamamé seja um dos poucos ritmos musicais que traz consigo o estranho fervor do questionamento:
De onde tudo isso surgiu?
Por que somos assim?
Que histórias esse ritmo tem a nos contar?
A história é fantástica, a memória é atraente e sagaz, e sem elas, não existe a possibilidade de encontrar as peças escondidas
do quebra-cabeças do nosso Chamamé. Ainda existem lacunas a serem respondidas sobre nossa história musical e nela descansa uma poeira intocada; essa poeira precisa ser soprada! Para que possamos descobrir um imaculado tesouro antropológico vivo, imaterial, irregular, circular e cotidiano que temos e que nos identifica e interliga com as gerações passadas e nos conecta com as futuras através de nosso DNA musical
e a nossa memória coletiva.
Te convidamos a juntar essas peças
e montarmos o jogo da vida, a nossa paisagem imaginária, a fotografia de nossos antepassados, e projetar uma nova tela histórica, onde os povos originários nos dão a chave que abrirá a porta do conhecimento e reconhecimento da nossa maneira de ser, a nossa identidade.
O mundo Chamamecero
Dr. Tau Golin
Quando vivo o Chamamé
Eu sou inteiro, bem assim:
A aldeia do Tekoá Guarani,
Barroco das reduções, sim;
E o êxtase do grito Sapucaí,
Que guardo dentro de mim.
A história e o impacto contemporâneo do Chamamé são demonstrados nesta louvável pesquisa e sensibilidade cultural de Magali de Rossi e Alejandro Brittes.
O Chamamé, como música, canto e dança, surgiu do encontro entre os rituais das aldeias Guarani e o barroco jesuítico no amplo território das Missões. Com a destruição do mundo missioneiro pelo colonialismo ibérico e os estados nacionais, a ambiência chamamecera foi sustentada e recriada nos espaços rurais e populares, até converter-se no gênero representativo de comunidades, mas também para a composição de incontáveis músicos e poetas.
De arte de pertencimento e resistência também se converteu no amálgama de fronteiridades mundo afora. Suportou às normas controladoras do mundo colonial, do nacionalismo Criollo eurocêntrico, até se transformar em arte identitária do povo das bacias hidrográficas do Paraná e Uruguai. Sua sonoridade tem o magnetismo humano de Corrientes, Entre Rios e Misiones, na Argentina. Sua matriz indígena e Guarani transpôs o rio Uruguai como também pertencente a banda oriental.
No Rio Grande do Sul, porém, sofreu a pecha de castelhanista, inserido na geopolítica colonial e nacional, do patriotismo excludente. Desse modo, o chamamé demonstra a sua gênese e natureza de entre-lugar, reconhecimentos que subvertem limites políticos dos Estados. É reinvenção e sobrevivência americana, de raízes muito mais profundas do que os patriotismos isolacionistas, de baixa alteridade, herdados da geopolítica colonialista ibérica e do nacionalismo de negação dos espaços humanos e culturais comuns aos estados-nações.
Enquanto na Argentina foi elevado a patrimônio imaterial da humanidade, no Sul do Brasil tenta-se expropria-lo da população vinculada, de algum modo, ao grande espaço jesuítico-indígena, onde se juntou o barroco e a música-dança Guarani para criar o ambiente cultural e ritual fértil para nascer e se desenvolver o Chamamé, banhado nas águas das bacias do Paraná e Uruguai.
Os autores sustentam a tese de que o Chamamé surgiu, se desenvolveu e se recria constantemente a partir do encontro, no século XVI, do Barroco europeu e da música Guarani. A música e dança milenar indígena se relacionou sacra e profanamente com a arte introduzida pelos jesuítas nas reduções. Magali de Rossi e Alejandro Brittes retiram o Chamamé da visão localista e o colocam, com sua particularidade e grandeza, na dimensão universal. Trata-se de um estudo onde ser músico é um pré-requisito indispensável, com diálogos de transversalidades com outras áreas do conhecimento, como História, Antropologia, Física etc. Tal erudição insere o Chamamé nas percepções dos sons, entendimentos das frequências, nas questões simbólicas, de memória, etnomusicologia e pertencimento-identidade.
Os autores fazem uma tertúlia de conhecimentos, em que o Chamamé convive com as especificidades, igualdades e semelhanças com as músicas da civilização em todos os tempos históricos, em espaços dos gregos, romanos, celtas, nórdicos, europeus. Demonstram as características do Barroco e seu desenvolvimento nas doutrinas da Companhia de Jesus, dos ritos e cosmovisão guarani expressos na música, canto e dança.
O resultado desse esforço intelectual responde a diversas perguntas motivadas pela força e encanto do Chamamé.
Sua coreografia de dança de movimento anti-horário, sapateados míticos e gritos de sapucaís como vivência de êxtase. A postura indígena na dança, de joelhos semiflexionados e a leveza relaxada do corpo. Tal entrega corporal retirou o Chamamé dos salões moralistas da sociedade oficial argentina, a exemplo da proibição do Bugio de origem Jê meridional (Kaingang e Xokleng) no Sul do Brasil. Entretanto, a força popular, principalmente correntina, depois de uma resistência extraordinária e criações artísticas, expressou-se através do Chamamé, por ser vivência e identidade. As forças de controle e censura social foram derrotadas pela sua musicalidade e ambiência de pertencimento.
Tecnicamente, o indígena deu ao Chamamé os sentidos das afinações dos instrumentos. O Sol
para a alegria, os ritos, cantos de trabalho, as festas. O Fá
para a concentração, como nos rituais dentro da casa de rezas (Opy), conexão com os deuses e rituais como a Terra sem Males, revelação do nome divino, cura de enfermos
, destacam os autores. A essas questões técnicas associam-se os compassos rítmicos como quaternário (4/4), ternário (3/4) e o binário composto (6/8) típico do Chamamé. A polifonia mostrada pelo barroco jesuítico foi reconhecida pelo indígena devido ao seu sentido encontrado na dualidade
Guarani.
A rejeição ao Chamamé pela sociedade dominante, fora do ambiente popular, imperou por longo tempo. Primeiro condenaram-no à manifestação reduzida ao seu espaço. Depois negaram-lhe o nome. Somente na década de 1930, a indústria discográfica aceitou que um músico popular, como exceção, identificasse corretamente o gênero Chamamé. No século XIX chamaram-no de Compuesto, Compuesto Guarani ou Compuesto Correntino
. Em 1821, um artigo o restringiu apenas a uma dança. Sucederam os nomes de Aires Correntinos (1820/30); Aires de La Tierra (1850); Ramadita, Enramada, Ramada, Ramada Guîpe, Ramada Vî ou Ramada Guî (1860/9056); Canción Típica Correntina (1923/6); Tonada Correntina 1920/30; Canción Guarani (1930); Motivo Popular Correntino, Motivo Campiriño Polka, Motivo Popular, Tema Popular Correntino, Motivo Popular 1930/40; Purajhey Correntino, Purajhey Campiriño, Purajhey Cangui ou Purajhey (1920/40) Motivo Campiriño, Canción Campiriña, Canción Correntina, Canción, Canción Campera, Canción Típica Correntina (1940); Polka Canción, Polka, Polka Patriotica Correntina, Polka Correntina, Polka Cuartelera (1940); Polka Candombe, Polka Candombe Correntina, Campera, Campiriña, Campera Correntina, Pregon Correntino, Plegaria Correntina, Balada Correntina, Leyenda Correntina, Serenata Correntina, Leyenda Popular Correntina, Polka Candombe, Polka Candombe Correntina (1940/50); Canción Litoraleña (1960); Canción del Litoral, Litoraleña (1960/70).
Na discografia, o nome Chamamé foi registrado em 1931 pela posição irredutível do músico paraguaio Samuel Aguayo. A partir de então, o gênero Chamamé, surgido na territorialidade jesuítica-indígena, segundo os autores, deixava de ser uma presença desidentificada de sua condição ameríndia. Assim como a erva-mate do Caamini dos povos originários, rebatizado de chimarrão e vinculado à gauchidade, a exemplo do churrasco na brasa, espetada ou grelhada de carne.
Nesta obra também se encontra importante e justificada relação dos instrumentos das reduções com os consagrados no Chamamé. O violão, a sua função de mantra e o estilo do rasqueado; o acordeão e a sonoridade do órgão missional, inventado nas Missões. Tal herança barroca se encontra no Chamamé. Sua composição tonal, em tom maior e menor. A sonoridade dos foles que, a partir da introdução do acordeão na América, deu aos gaiteiros
lugar privilegiado entre os chamameceros.
Parte elevada deste estudo é a investigação do tempo rítmico 6/8 (binário composto), identificado como o tempo do chamamé
, como mais uma herança da ritualidade dos guaranis
, pelo seu simbolismo, valores místicos, elementos formais e estruturais do ritmo, com seus sentidos e valores artísticos e sociais. Indo além, Magali e Alejandro também destacam o compasso 6/8 em rituais de outros povos, constatável igualmente no candomblé afrodescendente. O que leva os autores a concluir que a eleição do compasso binário composto para ser a divisão rítmica do chamamé
deve-se a existência de uma memória de longa duração, preservada na música, com atribuição simbólica importante e preservada na cognitividade das populações que vivem o Chamamé.
Sempre há um transe no Chamamé.
É como se estivéssemos, como os guaranis, em um ritual de
salvamento cósmico e civilizatório.
Ler este livro é participar dele.
Sumário
1 | O som e a frequência
2 | O Símbólico, o Imaginário, a Memória, a Antropologia e a Etnomusicologia
3 | História da música ocidental até o Movimento Barroco
4 | A música na pré-história e período antigo
5 | A música na antiguidade - Grécia e Roma
6 | A música Celta
7 | A música na Idade Média
8 | A música no período renascentista
9 | A música no período Barroco
10 | Conclusão sobre a história da música
11 | A ritualidade dos Guaranis e a sua cosmovisão na música e dança
12 | A música no Centro do Universo - Reduções Jesuíticas
13 | A música Pós-Reduções Jesuíticas
14 | Chamamé - Resultado do processo histórico e da construção do imaginário social
15 | O violão no Chamamé - Função de mantra
16 | Binário composto a matriz ancestral
17 | A música Barroca no Chamamé
18 | O acordeón e o sapucay no Chamamé
19 | A dança Chamamecera e a sua função simbólica
Conclusão
Anexos
Método Kirlian - Resultados preliminares
O Mito da criação do Chamamé
Referências
1
O som e a Frequência
A partir do momento de nossa concepção somos munidos por sons. Ainda na placenta materna, escutamos constantemente o barulho do coração e dos órgãos de nossa mãe, além destes ruídos fisiológicos, podemos também, receber as manifestações sonoras externas, como vozes, estrondos e música.
Os sons são inerentes à condição humana e por vezes o cotidiano nos condiciona a não dar a devida importância a seu significado simbólico, científico ou filosófico.
Segundo a definição da ciência física, o som é criado quando algum tipo de mecanismo ou frequência altera a pressão no ar no nosso entorno, fazendo com que ocorra um deslocamento de vibrações em formato de ondas que se propagam de maneira longitudinal em todos os sentidos e com formato circuncêntrico ou seja circular, sendo deslocado através de diversos materiais, que podem ser gasosos, líquidos ou sólidos.
Desafiamos essa leitura propondo uma percepção filosófica sobre o tema sonoro, e de como ele, o som, é capaz de atingir dimensões metafísicas podendo se propagar infinitamente no espaço.
Conforme um dos livros mais conhecidos, o antigo testamento, no livro do Gênesis, capítulo da Criação, Deus diz: Faça-se a luz! E a luz foi feita.
Ao observar o fragmento bíblico da criação do Universo, o texto faz referência à luz como o ator principal para a criação do Cosmos, tornando-a elemento principal na vida, condicionando a humanidade, do ponto de vista simbólico, sendo a Luz a origem da vida e não o som. O som fica em segundo plano, sendo considerado ruído e barulho, já a luz, beleza, bondade e perfeição.
Entretanto, ao analisarmos de outra perspectiva a frase, podemos concluir, que antes do surgimento da luz criadora, veio o verbo, a palavra, portanto o som e não a luz.
A ciência, a partir da teoria Big Bang a grande explosão cósmica, sendo o termo explosão referindo-se a uma grande liberação de energia, criando o espaço-tempo, somente pode ser confirmada em 1960 pelos laboratórios Bell, Nova Jersey, EUA. Quando em 1930, ao criarem radiotelefones, e ao testarem os equipamentos, havia um sinal que estava interferindo nas transmissões pelo Atlântico. Ao buscarem entender esse sinal, solicitaram ajuda a Karl Jansky, físico e engenheiro de rádio, para investigar
Jansky, criou um receptor de rádio capaz de captar ondas vindas de todas as direções. Ele, Karl, identificou que as ondas que estavam interferindo nos radiotelefones vinham do espaço, da constelação de Sagitário, onde fica o centro da Via Láctea. Essas ondas sonoras vinham de fora do sistema solar.
Segundo Tantir, em entrevista ao jornal BBC de Portugal diz que os pesquisadores se depararam com um ruído desconhecido e persistente, um sinal fraco
, mas facilmente detectável, que não vinha de nada na Terra nem no Sistema Solar, nem mesmo da nossa galáxia, esse sinal vinha de todas as direções. (BBC,2018, p.1)
Em concomitância com as evidências Karl Jansky e com o fragmento do Antigo Testamento, que indicam que som é o criador do espaço, em 2003 o cientista estadunidense John Cramer publica na revista inglesa New Scientist
uma nova teoria sobre o surgimento do Universo, que diz, que o mesmo, não começou com uma explosão, mas com um zumbido. Segundo ele, em dissertação na revista descreve: que o som se parece mais com o de um grande jato voando a 100 pés (30 metros) sobre sua casa, no meio da noite
. (PRESS,2003, p.1).
O Big Bang liberou gigantescas ondas de energia e matéria incandescente, parte da energia se concentrou na porção de