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Era uma vez... na entrevista devolutiva
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E-book182 páginas2 horas

Era uma vez... na entrevista devolutiva

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Sobre este e-book

Este livro, em sua segunda edição, é fruto da dissertação de mestrado, na PUC Campinas, trazendo o trabalho realizado desde 1992, na função de supervisora de estágio em psicodiagnóstico, em faculdades de psicologia do Estado de São Paulo.
Embasado na teoria de Winnicott, traz a construção da história do paciente, utilizando tudo que foi tocado em cada sessão, que, de forma lúdica, será contada na entrevista devolutiva para a criança e seus pais, separadamente. O objetivo é que consigam se identificar com a história, através das situações, dos personagens ou de ambos, entendendo sua história de vida, seu sintoma e sua capacidade de resolução.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de set. de 2024
ISBN9786527031000
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    Era uma vez... na entrevista devolutiva - Silvana Sinatolli

    1. O pensamento de Winnicott

    Donald Woods Winnicott, nasceu em 1896, inglês, natural de Plymouth (Devon). O pai, um comerciante e prefeito da cidade. Winnicott era o caçula, tinha duas irmãs mais velhas que cuidavam da mãe deprimida. Seu convívio maior foi com a babá que o acompanhou por quinze anos. Cresceu em uma propriedade rural.

    Era muito ativo, corria, nadava, praticava ciclismo, rubgy, escotismo e à noite se reunia com seus colegas de dormitório para ler histórias.

    Na adolescência ao fraturar a clavícula, praticando esporte, deixou claro o desejo de ser médico.

    Cresceu em plena era vitoriana na Inglaterra, o que influenciou profundamente sua formação pessoal e profissional, enquanto médico e psicoterapeuta.

    Segundo Sérvulo Figueira (1990), ser um englishman significa que ele encarna em sua vida os valores básicos da cultura inglesa na área da organização da subjetividade: o cultivo da diferenciação individual e do lado positivo da idiossincrasia, o cultivo da independência do pensamento e de julgamento, o respeito pela opinião, pela liberdade e pela autonomia do outro, a valorização da experiência e da observação, em suma, o cultivo da individuação.

    Outro fator de grande influência, em sua formação pessoal e profissional, que foi apontado nos vários estudos biográficos disponíveis, mostra que seu ambiente familiar foi um facilitador de seu desenvolvimento.

    Em Outeiral (1995) encontramos que Clare Winnicott relatava era indiscutível que, desde os primórdios de sua existência, Winnicott. não teve dúvidas que era amado e experienciou uma segurança que podia tomar como evidente. Num lar como este, havia uma abundância de oportunidade para muitos tipos de relacionamentos. Winnicott era então livre para explorar todos os espaços disponíveis da casa e do jardim que o rodeavam encher estes espaços com seus próprios fragmentos e, dessa maneira, gradualmente tornar próprio o seu mundo.

    Segundo Dias (2003), na época de sua formação em medicina, em 1920, Winnicott já estava firmemente convencido da impossibilidade de se proceder a um diagnóstico dos distúrbios pertinentes à pediatria sem incluir na consideração os aspectos psicológicos. Ainda estudante, deparou-se com uma obra sobre Freud, escrita pelo pastor Oskar Pfister, e ficou encantado com a possibilidade aberta pela psicanálise de abordar não apenas a doença psíquica, mas os distúrbios somáticos, de um ponto de vista eminentemente psicológico. Decidido a incluir a psicanálise em sua formação, ele inicia no mesmo ano de 1923, uma análise com James Strachey, que iria durar dez anos. Gradualmente, o atendimento clínico hospitalar foi evoluindo da pediatria para uma psiquiatria infantil de orientação analítica.

    Winnicott pôde constatar que a maior parte dos problemas que levavam as mães com seus bebês e crianças ao consultório era devida a perturbações emocionais primitivas

    Durante a Primeira Guerra Mundial foi cirurgião-estagiário, num destróier, estava no início do curso de medicina. Quando a guerra terminou pode concluir sua formação de médico no St. Bartholomew’s Hospital em Londres. Neste período ficou três meses internado devido a problemas pulmonares (abscesso), em sua biografia encontramos:

    Estou convencido de que pelo menos uma vez na vida é necessário que o médico tenha estado no hospital como paciente.

    Winnicott casou-se em 1923, viveu cerca de 25 anos, com sua primeira esposa; esta era psicótica e morreu em um hospital psiquiátrico. Não teve filhos.

    Em 1923 assume como consultor em pediatria no Queen`s Hospital for Children e no Paddington Green Children Hospital, no qual trabalha de 1923 a 1963.

    Em 1935 Winnicott inicia supervisão com Melanie Klein, por seis anos; ela propôs que atendesse seu filho sob sua supervisão; Winnicott não aceitou, mas foi analista do filho de Klein no período de 1935 a 1939.

    Winnicott reluta em se alinhar aos kleinianos ou aos seguidores de Anna Freud, dois principais grupos de analistas infantis daquela época. Junta-se a Michael Balint, Ronald Fairbain, Sylvia Payne, Ella Sharpe e Marjorie Bierly, constituindo o Middle Group.

    Na Segunda Guerra Mundial, Winnicott trabalhava como consultor do plano de evacuação de crianças londrinas para o interior. Nesse projeto trabalhou com a assistente social Clare Bretton, que mais tarde se tornaria sua segunda esposa. Após a morte de seu pai, em 1948, Winnicott pediu o divórcio, e, em 1951 casou-se novamente. Neste período, produz o trabalho pelo qual obteve maior notoriedade Transitional Objects and Transitional Phenomena (Objetos e fenômenos transicionais).

    Fez uma série de programas de rádio, na BBC de Londres, sobre desenvolvimento infantil, com grande sucesso.

    Foi presidente da Sociedade de Psicanálise Britânica, por dois mandatos, a mesma sociedade que, como ele próprio escreveu, deixou-o de lado, por muitos anos, do ensino oficial de seu instituto" (Outeiral, 1995).

    Winnicott gostava das poesias de Elliot (Os quatro quartetos), de música clássica e dos Beatles.

    Trabalhou com a questão da consulta terapêutica para lidar com as filas de espera da instituição.

    Clare Winnicott escreveu: Ele se esforçava para tornar a consulta significativa para a criança, dando-lhe alguma coisa para levar e que pudesse ser utilizada e/ou destruída. Donald se armava de papel e, na maioria das vezes, fazia um avião ou um leque com o qual brincava um pouco, após dava o brinquedo para criança, despedindo-se dela. Jamais soube de uma criança que tivesse rechaçado seu gesto.

    Em 10.03.1969, diz para J.D.Colliman, um correspondente na Tanzânia: Não podemos nem mesmo ensiná-la a andar, mas sua tendência inata para andar em certa idade precisa de nós como apoio.

    Através de sua obra percebemos seu estilo paradoxal, sofisticado e simples, concomitantemente, extremamente pessoal, não queria ser líder ou fazer uma teoria e atrair seguidores, apenas queria ajudar as pessoas sendo ele mesmo.

    Masud Khan (1958), na introdução para o livro do próprio Winnicott, Collect papers: trough pediatrics to psychoanalysis, Não conheci nenhum outro analista mais inevitavelmente ele mesmo.

    Figueira (1990), descreve que Winnicott tinha um estilo especial, era uma figura marcante entre os colegas e conseguia gerar uma atmosfera de confiança que facilitava a comunicação com os pacientes.

    Foi muito procurado para dar palestras e escreveu tanto para o público psicanalítico quanto para o leigo.

    Acrescentamos que existe uma dificuldade na sistematização metodológica em sua obra, devido a criatividade de suas contribuições, fazendo com que diversos autores tentassem, de certa forma, organizar os aspectos importantes de sua obra. André Green (In Outeiral, J. & Graña, R., 1991) comenta que o pensamento de Winnicott forma uma rede, um tecido de fios entrecruzados.

    Outeiral (1995) comenta que, para ler os trabalhos de Winnicott, o leitor tem que ter uma disposição para brincar, para play (um brincar espontâneo, criativo e prazeroso) e não game (uma atividade regrada), no sentido Winnicottiano. Seria necessário fazer como ele sugere para o jogo dos rabiscos, com o leitor e o autor criando juntos uma leitura pessoal, um espaço transicional no qual o leitor descobrirá como um achado pessoal, o que ele escreveu. Na verdade, segundo o pensamento de Winnicott, seria isto mesmo que deveria acontecer: sua idéia de área de ilusão compreende o bebê descobrindo onipotentemente, como se fora sua criação o seio que é colocado pela mãe para ele.

    Mas, é Júlio de Mello Filho (1989), que, em nossa opinião, resume de forma objetiva o conjunto de contribuições de Winnicott, estabelecendo alguns itens que englobariam, praticamente os aspectos importantes, espalhados em sua teoria.

    1. Teoria do desenvolvimento, com um estudo pormenorizado da relação mãe-filho e das influências da família e do ambiente, postulando a interação de processos inatos de maturação com a presença de um ambiente facilitador, desde uma fase de dependência absoluta até a aquisição da independência humana.

    2. Teoria dos Impulsos, na qual reestuda os papéis da sexualidade (elemento masculino, elemento feminino) e da agressividade, relacionando-as em seus primórdios ao desenvolvimento motor e questionando a existência de um instinto de morte. Aqui também é importante a noção de agressividade sem cólera, através da qual o bebê se desliga da mãe num abandono de catéxis, sem uma intencionalidade em si destrutiva.

    3. Teoria do objeto, na qual postula a existência de um objeto subjetivo (inicial) e de um objeto objetivo (posterior), como também de um objeto transicional, formulando o conceito de fenômenos transicionais em Psicanálise.

    4. Teoria do espaço, na qual formula a existência de um espaço potencial, de uma zona intermediária entre a realidade interna e a realidade externa, onde se realizam o jogo e o brincar, origem de todas as atividades sócio criativas e culturais.

    5. Teoria do self, da polarização entre um verdadeiro self, espontâneo e criativo, fonte de alegria e da saúde mental, em oposição ao falso self, artificialmente construído por submissão e excessiva adaptação ao meio.

    6. Teoria da comunicação, na qual estuda as formas de comunicação e os seus contrários, e o problema de incomunicabilidade humana e da esquizoidia, e na qual afirma que o núcleo do verdadeiro self é um santuário inviolável que nunca se comunica com o

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