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Dança Circular Sagrada: Cultura, Arte, Educação
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Dança Circular Sagrada: Cultura, Arte, Educação
E-book331 páginas4 horas

Dança Circular Sagrada: Cultura, Arte, Educação

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Sobre este e-book

DANÇA CIRCULAR SAGRADA – Cultura, Arte, Educação focaliza a relação entre a dança, o sagrado e a educação investigando os aprendizados e saberes que emergem da transmissão cultural, da ludicidade e da criatividade presentes na dança. As Danças Circulares Sagradas têm ocupado lugar relevante em pesquisas acadêmicas de diversas áreas que investigam suas potencialidades ao desenvolvimento humano holístico e à qualidade de vida, seus aspectos socioculturais latentes, assim como seu papel de meio educativo poderoso para repensarmos paradigmas educacionais e o lugar da sensibilidade na educação. Neste livro, a autora percorre caminhos pelas áreas da Dança e da Educação Física, pelos estudos de Cultura Corporal e Motricidade Humana, atravessa teorias antropológicas e filosóficas para investigar as Danças Circulares Sagradas em sua potencialidade educativa. Sugere ainda que a educação atente para — e incorpore — as manifestações culturais advindas da tradição, das lendas e dos mitos como forma de conectar o ser humano a valores indicativos de uma relação mais sensível e não dominadora com o mundo. Essa é a defesa do retorno de algo essencial para a humanidade, da preservação de experiências fundamentais coletivas, uma proposta de resistência a perdas culturais. Entrar em contato com a arte torna-se vital para o (re)conhecimento do mistério humano, razão por que é fundamental o ato de jogar, rodar, dançar, para que sejamos capazes de educar para o despertar da grandeza de cada um, vislumbrado pelo espaço potencial e pelo vir a ser na educação e na vida.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de out. de 2024
ISBN9786525034607
Dança Circular Sagrada: Cultura, Arte, Educação

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    Pré-visualização do livro

    Dança Circular Sagrada - Yara Aparecida Couto

    14119_Yara-Aparecida-Couto_16x23-01.jpg

    Sumário

    1

    DANÇA

    1.1 Primeiras Impressões sobre Dança

    1.2 Dos Primórdios Lúdicos aos Processos de Civilização e Cultura

    1.3 Gestos, Pessoa e Cultura

    1.4 Dança e a Corporeidade de Quem Dança

    1.5 Dança Circular Sagrada

    2

    O MITO, O CORPO E O SAGRADO

    2.1 O Sagrado na Dança e o Momento da Dança no Tempo Sagrado

    2.2 Mito e o Eterno Retorno

    2.3 Simbolismo no Corpo, um Espaço Sagrado

    3

    ARTE, TRADIÇÃO E EDUCAÇÃO

    3.1 A Educação pela Arte

    3.2 Arte e Jogo: Elementos de Beleza

    3.3 Tradição e Contemporaneidade das Danças

    3.4 Arte na Educação e Transformações das Relações Humanas

    4

    PEGADAS DO CAMINHO: uma Experiência Educativa

    4.1 Dança Circular Sagrada, Corporeidade e Educação: Formando o Círculo

    4.2 Situando o Caminho: Centrando o Círculo

    5

    ROTAS E PERSPECTIVAS: o Horizonte

    5.1 A Experiência: um Círculo

    5.2 Sentidos e Significados da Dança: o Círculo Girando

    6

    TRILHAS, RUMOS, DEVIRES E VEREDAS

    6.1 A Dança e seu Potencial Educativo

    REFERÊNCIAS

    DANÇA CIRCULAR SAGRADA

    Cultura, Arte, Educação

    Editora Appris Ltda.

    1.ª Edição - Copyright© 2022 da autora

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.Catalogação na Fonte

    Elaborado por: Josefina A. S. Guedes

    Bibliotecária CRB 9/870

    Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT

    Editora e Livraria Appris Ltda.

    Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês

    Curitiba/PR – CEP: 80810-002

    Tel. (41) 3156 - 4731

    www.editoraappris.com.br

    Printed in Brazil

    Impresso no Brasil

    Yara Aparecida Couto

    DANÇA CIRCULAR SAGRADA

    Cultura, Arte, Educação

    À minha mãe, Domingas, e ao meu pai, Walter,

    pela bela história da vida.

    À nossa memória, em cada momento e movimento.

    E a toda alegria manifesta às minhas escolhas

    e aos meus caminhos.

    Que todo amor seja sempre presença.

    AGRADECIMENTOS

    Reconhecer, honrar e agradecer às pessoas queridas que contribuíram, participaram e partilharam experiências e conhecimentos na elaboração desta obra é, sem dúvida, um momento muito especial, alegre e tocante!

    Aos mestres e precursores das artes, das danças; aos povos e tradições reverenciados e comungados na roda da dança e na roda da vida. À ancestralidade, por abrir os caminhos e pelas histórias tecidas de muitos aprendizados. À família, por todo apoio desde sempre.

    Minha gratidão aos percursos vividos nesta trajetória de desafios e surpresas, que foi sendo traçada com a presença de muitas pessoas que me deram as mãos nesta grande roda; e ainda me mostraram que podia ir mais longe. Quero honrar professores, amigos e coreógrafos de cursos e festivais de danças no Brasil e do exterior, em experiências vividas em cursos, encontros, festivais, visitas a escolas e comunidades.

    Mas isso tudo não teria acontecido sem a presença cativante de alunos e alunas do Projeto de Extensão Dança Circular Sagrada Programa Qualidade de Vida, criado e iniciado em 2002, assim como de vários cursos ministrados em diversos momentos na universidade, seja relacionada à extensão, seja ao ensino e à pesquisa. Desta caminhada, quero agradecer especialmente aos alunos e alunas da disciplina Dança Circular Sagrada, Educação e Corporeidade. Sem vocês este projeto não teria sentido.

    Também agradeço aos participantes do projeto de extensão em Danças: ao longo destes anos vivemos muitos momentos especiais e de muito aprendizado na criação de uma comunidade dançante. Gratidão aos parceiros de dança de São Carlos; com muito carinho e amizade, agradeço especialmente a Nara, Melina, Cecília, Angélica, Denise, Adriana, Claudine, Valéria, Luiz, Alessandra, Silvana — na dança nossos corpos expressam a beleza do encontro.

    Aos amigos e amigas das rodas de Danças Circulares Sagradas no Brasil e no mundo, aos grupos de formação em Danças Sagradas. Em especial, sou grata a Gwyn, Ana Maria, Edna, Carminha, companheiras de muitas andanças e lutas. À querida Luciana, presença nas rodas da dança e participação marcante e transformadora na educação acadêmica.

    Aos orientandos e orientandas, integrantes do Grupo de Pesquisa Corpo, Dança, Complexidade e Criatividade, pela riqueza da interlocução e pelo afeto compartilhado. Em especial, agradeço à presença de Daniela, Bia, Talita, Marina, Glória, Maria Angélica, Aline, Mariana, Vitória, Rafaela, Samara, Caio, Emerson e Rafael.

    Ao Prof. Dr. Francisco Cock Fontanella, pelas reflexões no processo de orientação e pesquisa de doutorado e pela disposição, generosidade e presença amiga em todo o percurso. Minha gratidão por revelar sua humanidade e seu modo de ser, mostrando sua valiosa jornada na educação e na vida. Agradeço com reverência ao mestre orientador Prof. Dr. Hugo Assmann (in memoriam), por me cativar a trilhar com toda energia os primeiros passos da jornada.

    Em especial, agradeço aos integrantes da banca examinadora de minha tese de doutorado, Prof.ª Dr.ª Cátia Mary Volp (in memoriam), Prof.ª Dr.ª Maria Cecília Goes, Prof.ª Maria Luísa Bissoto e Prof. Dr. Luiz Alberto Lorenzetto, pelas valiosas contribuições, pelo diálogo e pelas novas possibilidades de pensar. Foram parte de um momento decisivo e inesquecível para a continuidade de todo meu processo como educadora e pesquisadora. Ao rito de passagem da defesa da Tese, com muita alegria foi presenciado com amigos e amigas: Luiz, Denise, Selva, Nelson Prudêncio (in memoriam), Maria do Céu, Illen, Juliana Serzedello, e Marcelo.

    Aos que me incentivaram a levar adiante esta publicação. Especialmente, meu querido tio Henrique Pita, pela valiosa contribuição na correção do texto e sempre me provocando a publicá-lo.

    Aos preciosos e amados filhos, Ian e Vinicius: com eles e por meio deles este percurso ganha outro brilho. Agradeço pelas risadas descontraídas que me impulsionaram a realizar este projeto com mais leveza, pelas sugestões e olhar atento aos detalhes do texto e na configuração das imagens.

    Ao Marcelo, pelas importantes contribuições e interlocuções com os campos da Antropologia e Biologia Evolutiva. Grata por todo amor e por compartilhar a vida!

    APRESENTAÇÃO

    PONTO DE PARTIDA E PERCURSOS

    Eu tinha vontade de fazer como os dois homens que vi sentados na terra escovando osso. No começo achei que aqueles homens não batiam bem. Porque ficavam sentados na terra o dia inteiro escovando osso. Depois aprendi que aqueles homens eram arqueólogos. E que eles faziam o serviço de escovar osso por amor. E que eles queriam encontrar nos ossos vestígios de antigas civilizações que estariam enterrados por séculos naquele chão. Logo pensei de escovar palavras. Porque eu havia lido em algum lugar que as palavras eram conchas de clamores antigos. Eu queria ir atrás dos clamores antigos que estariam guardados dentro das palavras. Eu já sabia também que as palavras possuem no corpo muitas oralidades remontadas e muitas significâncias remontadas. Eu queria então escovar as palavras para escutar o primeiro esgar de cada uma. Para escutar os primeiros sons, mesmo que ainda bígrafos.

    (Manuel de Barros, Escova, do livro Memórias Inventadas: a infância, 2003)

    Imagem 1 – Brincando com o mundo

    Fonte: CAMERON (1993)

    Este livro tem como propósito colocar em foco a Dança no sentido mais genuíno, que é sua riqueza gestual, rítmica, mitológica e cultural, e seus processos rito-educacionais envolvidos, sua relação com o sagrado e a educação, enquanto temas geradores do potencial educativo.

    Mas primeiramente destaco que o texto aqui apresentado partiu da minha tese de doutorado, intitulada Dança circular sagrada e seu potencial educativo, e que foi apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba em 2008. Após esse largo tempo, muitos processos foram vitalizados por essa pesquisa, que buscou acessar a forma essencial da Dança Circular Sagrada, em que a motricidade é o foco desencadeante da identidade corporal na contínua formação humana, bem como do papel da arte e cultura influenciando todo o processo.

    Revisitar esse texto foi um desafio gigante pois trata-se de um momento especial vivido, em que a Dança, em seus ritmos, cantos e melodias, foi motivadora para esse caminho que foi sendo transformado para outros alcances em diferentes campos, como do ensino, da pesquisa e da extensão mutuamente. As Danças levaram-me a conhecer várias e interessantes partes do mapa-múndi, oportunizaram-me reconhecer tempos e espaços diferenciados de convívio. Muitas pessoas fazem parte dessa trajetória e rede de conhecimentos e acontecimentos e que veio gerando encontros, parcerias, cursos, orientações, bancas examinadoras, produções textuais; muitas pessoas envolvidas, educandos e educadores, parcerias, rodas e círculos de dança em diferentes espaços, viagens culturais diversas. Muitos ritmos e processos culturais vivenciados, novas amizades, oportunidades e outras sensibilidades vieram atravessando e vitalizando essa contínua valorização e busca do que ainda é desconhecido, ou aquilo que é preciso ser reconhecido, para se aproximar daquilo que é essencial, o que dá sentido à vida e a tudo que comungamos, como dos processos de aprender ensinando e ensinar aprendendo.

    No momento de composição do livro, busquei reorganizar os temas para uma leitura que pudesse despertar o interesse de leitores incentivados a conhecer esse universo tão vasto e apaixonante das Danças Circulares Sagradas, com todas as suas ressonâncias e seus espaços de interação, junto aos temas e autores que estão aqui fundamentados. Os estudos e pesquisas sobre a linguagem do movimento corporal, cultura corporal e motricidade humana — corporeidade, consciência corporal, criatividade do movimento humano, expressões cênicas, rítmicas, lúdicas e criativas — configuram a tônica desse universo, como dos sentidos e significados nos ritmos, nos corpos, nos mitos que a humanidade vem percorrendo e com os quais vem compondo sua trajetória.

    A dança, um dos componentes originários da cultura corporal de movimento do ser humano, tem um papel fundamental na produção de cultura, pois sempre foi, e ainda é, uma maneira de expressão humana, a qual vem se modificando diante da evolução cultural. Trata-se de uma proposta de educação pelas danças circulares sagradas, com a intenção de encontrar nas raízes, na diversidade cultural da dança, uma vivência lúdica e criativa, da beleza, dos símbolos, dos corpos, dos ritmos, dos gestos e olhares, que evocam a essência humana. É um espaço reservado à expressão do potencial humano, em que a dança permite uma vivência de apropriação, recriação, ressignificação da vida, dos modos de organização cultural em diferentes culturas, enquanto criação coletiva.

    Este livro surge dessa necessidade de reflexão e aprofundamento sobre a Dança como um campo de conhecimento integrado às artes, às manifestações milenares, permitindo aflorar crenças, mitos, símbolos coletivos nos seus gestos interpretativos, criativos e expressivos. É um caminho em que procuro traçar reflexões sobre a dança e sua relação com o sagrado e com a educação, sobre um renascer do humano para formas diferenciadas de compreensão do mundo. Minha prática como professora, formando professores, conduziu-me a enveredar pelo espaço da dança e de suas diferentes culturas, consagrando-o assim como um espaço potencialmente educativo na experiência humana e vivência cultural.

    Convido-os para enveredarem nessa maravilhosa aventura.

    Yara Couto

    São Carlos, março de 2022

    PREFÁCIO

    Assim que fui convidado a prefaciar o livro da Prof.ª Dr.ª Yara Couto, muitas ideias foram aparecendo e clarificando uma experiência tão rica como esta aqui apresentada.

    Passado um pouco mais de uma década após a apresentação da sua tese de doutorado, banca da qual fiz parte e que gerou esta obra, retomei sua leitura em livro e novamente me encantei com suas imagens e mensagens.

    Um livro é um manuscrito fundamentado nos conhecimentos do autor e em muitos outros autores, pessoas, experiências, trajetórias de vida, encontros iluminados de forte amizade, aprendizados, relações com outros pesquisadores, quase que o reconhecimento de uma vida inteira resumida em fatos e fotos, desenhos e diagramas, tabelas e porcentagens.

    Como professor universitário, sempre acreditei que os trabalhos universitários, mesmo seguindo os trâmites acadêmicos, deveriam ter uma finalidade utilitária, além de cumprir com todos os requisitos científicos e filosóficos.

    Para minha satisfação, encontrei no item Sentidos e significados da dança: o círculo girando, do capítulo intitulado Perspectivas: o horizonte, as seguintes declarações:

    [...] os participantes puderam seguir outras propostas educativas e rítmicas, a continuidade a descobertas e novas motivações. Alguns deles participam no projeto de extensão Danças Circulares Sagradas, outros se integraram ao grupo de pesquisa Danças Brasileiras, ou ainda ao grupo de Dança Contemporânea da UFSCar, oportunizando o estudo e aprendizado da nossa cultura [...]. Além disso, há alguns desses estudantes-educadores seguem seus caminhos, nos quais vêm realizando tentativas positivas no encaminhamento de alguns desses elementos pedagógicos com a dança, arte e educação nos próprios processos educacionais que atualmente assumem na atuação profissional. As danças vêm sendo desenvolvidas por eles/elas nas escolas, bem como em projetos sociais, clubes, encontros de estudantes, entre outros.

    As imagens de crianças brincando e dançando, as pequenas e grandes rodas, as pinturas modernas e rupestres de seres dançantes, os quadros que mostram danças simbólicas, as danças religiosas, as danças de fertilidade, as brincadeiras de roda, as danças dos ladrões, a dança das grávidas, a dança dos dervixes, as esculturas de danças circulares, as cerâmicas com desenhos coreográficos, as danças folclóricas, tudo isso impregna nossos olhos e nossa sensibilidade, despertando o desejo de estar presente de corpo e alma junto àquelas figuras e àqueles símbolos que tão bem representam a vitalidade, a espontaneidade, a humanidade e a capacidade unificadora das danças circulares.

    Tudo isso foi o início de uma grande história que a animou a continuar buscando e acreditando que é possível dançar na roda da vida com disposição e vontade de aprender com o outro, mesmo com desconhecidos, dar-lhes as mãos, e transbordar a emoção numa expressão vida que pode ser dançada e compartilhada, despertando um momento único de acolhimento e cooperação coletivas.

    Se eu apenas reproduzisse as palavras contidas neste livro e dissesse valeu Yara, é um belo trabalho!, daria ao prefácio o seu verdadeiro sentido, pois a autora foi felicíssima nos caminhos buscados, encontrados e transmitidos nesta obra de longo alcance.

    Li, reli, repassei várias vezes o texto, não encontrando uma só foto, figura, palavra, vírgula ou ponto fora do contexto.

    Tudo caiu como uma luva, como nos passos de uma dança bem-feita, executada no ritmo certo, na deixa certa, dando aos dançarinos (leitores) uma sensação de plenitude, euforia e conforto. Alegria estar presente desde quando a vi dançar pela primeira vez interpretando um clown ao som da música Palhaço de Egberto Gismonti. Figura inesquecível!

    Dançamos juntos no teatro da UFSCar, no Festival Sons & Movimentos, compartilhamos vários cursos, fui seu aluno em vários momentos da minha formação expressiva, e, em todas as oportunidades, a autora revelou-se uma dançarina emérita, como mestra ou aluna.

    Embora a autora tenha percorrido um longo caminho bibliográfico, etnográfico, simbólico e arqueológico das danças circulares, próprio dos trabalhos acadêmicos, sua escrita não perdeu sua inteireza e graciosidade.

    Suas palavras levam-me a interpretar Maria-Gabriele Wosien: a dança projeta-se no céu para que os seres humanos brilhem na Terra.

    Yara, leitores, este livro não deve apenas ser lido, TEM DE SER DANÇADO!

    Prof. Dr. Luiz Alberto Lorenzetto

    Departamento de Educação Física da Unesp, Rio Claro

    1

    DANÇA

    Dançar é situar-se desde o início no plano dos acontecimentos do espaço, esses micro-devires – jorrar de espaços impossíveis, fraturas-lisas, torções de antes do gesto, fragmentações intensas, pequenos caos em turbilhão – que produzem o esplendor do sentido.

    (José Gil, em Movimento Total: o corpo e a dança, 2013)

    Imagem 2 – Dança Circular Sagrada, Teatro Florestan Fernandes, UFSCar

    Fonte: arquivo Imagens do IX Festival Sons & Movimentos (2014)

    1.1 Primeiras Impressões sobre Dança

    Dançar é uma atividade que, por intermédio do corpo em movimento, inspira e motiva os seres humanos, desde tempos imemoriais, a expressar seus sentimentos mais nobres e mais profundos, a organizarem-se como membros de uma sociedade e a compreenderem as transformações do mundo, da realidade e de seu próprio ser. Contudo, ao longo da história a dança foi se aperfeiçoando como fonte artística, como necessidade de expressão e linguagem gestual, à medida que o ser humano se civilizava. Conforme adverte o folclorista e escritor Câmara Cascudo (2002), para conhecer a natureza de um povo, é necessário atentar à sua origem, à sua índole, ao clima do ambiente, ao meio social, a seu território pertencente, pois são estes os elementos essenciais que delimitam a sua personalidade, sua índole ou seu caráter, sua presença e suas ações, sua originalidade.

    Nessa longa trajetória percorrida desde nossas origens, a dança deixa marcas de sua passagem na história. Os mais antigos registros arqueológicos revelam a dança como primeira manifestação lúdica e expressiva da arte humana. Esses registros do comportamento humano emergem vivos há mais de 300 séculos (CASCUDO, 2004). Na África foram encontrados registros de inscrições muito antigas, bem como em diferentes regiões e períodos puderam ser descobertas mais representações com informações sobre nossa origem arqueológica. Segundo Cascudo (2004), na caverna francesa de Tuc d´Audoubert, Ariège, está inscrito o primeiro bailado mágico conhecido: diante do desenho de um bisonte, estão as pegadas de, supõe-se, rapazes de 13 a 14 anos de idade, aparecendo apenas o desenho dos calcanhares em giros paralelos. A presença desse bailado denuncia uma organização religiosa, que sugere uma festa de iniciação de longa preparação; uma coreografia de sedução atrativa da caça.

    Visualiza-se a composição de outro registro arqueológico interpretado como expressão do que hoje chamaríamos dança:

    Na gruta de Trois Frères (Ariège) estão os dois feiticeiros dançando. Um deles sopra uma flauta vertical, seguindo dois cervos. Está disfarçado na espécie cervídea, com cauda, chifres, focinho. Um dos animais volta-se atraído pelo som da flauta. O feiticeiro executa um miúdo passo de dança, flexionando a perna esquerda, avançando, imitando a marcha animal. O segundo feiticeiro ficou famoso pelas divulgações ilustradas. Vestido com a pele de cervo, armadura espessa, cauda visível, rosto oculto na máscara afocinhada, dorso curvado, mãos juntas, um pé atrás do outro, inicia o bailado imitativo de efeito fatal para o ente imitado. Na gruta de Niaux, Tarascon-sur-Ariège, na parede onde há o desenho de um bisonte de pé e vários bumerangues, os círculos em pontos, de sinais vermelhos, sugerem-me a reprodução esquemática de bailados; alas paralelas, rodas simples e grande roda com o dançarino orientador no centro. (CASCUDO, 2004, p. 584-585).

    Câmara Cascudo evidencia essa representação pré-histórica, quando reconhece a dança como primeira expressão artística. Diante dessas passagens, questiona sobre como se deu essa origem, sobre o princípio das manifestações rítmicas humanas, perguntando: qual a origem da dança? O gesto original da mímica

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