O Segredo de Portograal
()
Sobre este e-book
Uma sucessão de mortes surgem ligadas a um dos segredos mais bem guardados do mundo, o Segredo Templário. Com a investigação por parte da polícia e do curioso historiador e escritor bestseller, Leonardo Valença, ocorrem revelações que agitam certezas envolvendo as mais altas personalidades do mundo, desde o papa ao Rei de Espanha, o primeiro-ministro português ao os Guardiães do Segredo Templário.
Descobertas que remontam à Fundação da Nacionalidade Portuguesa, desvendam a origem de Portucalle — porto do Graal, ameaçam o herdeiro da Coroa portuguesa, aguçam o antigo conflito de Olivença, potenciam o fanatismo religioso e abalam a esperança numa nova ordem mundial. A desconfiança é generalizada e as suspeitas recaem sobre um possível ladrão de objetos sagrados, pago a peso de ouro por gente sem escrúpulos.
O Segredo de Portograal surge como um romance inteiro, que envolve desde as raízes do cristianismo e da origem de Portugal aos desafios do século XXI, como erradicar a doença do século, o cancro.
Relacionado a O Segredo de Portograal
Ebooks relacionados
A Tumba do Maestro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA santíssima trinosofia: conde de Saint-Germain Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Homem Que Seduziu A Mona Lisa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO trono da rainha Jinga Nota: 3 de 5 estrelas3/5In Nomine Patris Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA noiva do enforcado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Biblia da Humanidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Coração do Imperador Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistórias de fantasmas por um antiquário Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMarília de Dirceu: A musa, a Inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século XVIII Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs princesas e o segredo da corte Nota: 3 de 5 estrelas3/5Tempo aberto: Oito décadas em oito contos de grandes autores brasileiros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPhantastes: o mistério das fadas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCorvus Corax E A Sociedade Da Qumera Nota: 0 de 5 estrelas0 notasKerigma: A Conclusão de Pantokrátor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Martelo Das Bruxas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDança com demônios - Tríade: Cristiano Halle Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDrácula: Coleção Clássicos da Literatura Universal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRepercussões de Outrora - Livro 1 (A Janela do Castelo) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDrácula Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs Farpas: Chronica Mensal da Politica, das Letras e dos Costumes (1873-03/04) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLENDAS DO BRASIL - 2ª edição: Espíritos da Natureza e outros seres míticos das tradições indígenas e populares Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCortés e seu duplo: pesquisa sobre uma mistificação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBosque Rubro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm barbaro no jardim Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Cão Negro de Clontarf Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs três mosqueteiros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Lendários Subterrâneos Do Rio De Janeiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO corcunda de Notre-Dame Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLe Chevalier e a Exposição Universal Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Ficção Histórica para você
A biblioteca de Paris Nota: 5 de 5 estrelas5/5Razão e Sensibilidade Nota: 5 de 5 estrelas5/5Heroínas negras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlison Em Edimburgo Nota: 5 de 5 estrelas5/57 melhores contos de Eça de Queirós Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA rede de Alice Nota: 5 de 5 estrelas5/5O último judeu: Uma história de terror na Inquisição Nota: 4 de 5 estrelas4/5Xamã: A história de um médico do século XIX Nota: 4 de 5 estrelas4/5O livro dos nomes perdidos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAprisionada Pelo Conde Nota: 5 de 5 estrelas5/5Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSanto guerreiro: Roma invicta (Vol. 1) Nota: 5 de 5 estrelas5/5Livre para recomeçar: Um romance Nota: 5 de 5 estrelas5/5O faraó das areias Nota: 3 de 5 estrelas3/5Uma casa na floresta Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Pequeno Fazendeiro Nota: 5 de 5 estrelas5/5Baudolino Nota: 4 de 5 estrelas4/5Uma casa na pradaria Nota: 5 de 5 estrelas5/5A pintora de henna Nota: 5 de 5 estrelas5/5O assassino cego Nota: 4 de 5 estrelas4/5O pintor debaixo do lava-loiças Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Lobo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA luz entre oceanos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA última Tudor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO capricho das estrelas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA CARTUXA DE PARMA Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO triunfo dos leões (A saga da família Florio vol. 2) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA sociedade literária e a torta de casca de batata Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Ateneu Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Categorias relacionadas
Avaliações de O Segredo de Portograal
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
O Segredo de Portograal - Flávio Capuleto
Nota
Tendo conhecimento de que o rei de França, Filipe, o Belo, tencionava prendê-lo, Jacques de Molay, grão-mestre dos Templários, encarregou Gerard de Villiers, preceptor do Templo, de salvar o colossal tesouro da Ordem. Gerard reuniu uma frota de dezoito naus e cinquenta e dois cavaleiros e abalou do porto templário de La Rochelle com destino a Portugal. O papa foi informado em tempo útil da extraordinária aventura. Corria o ano de 1307. O destino exato do carregamento era a cidade do Porto; contudo, devido a uma tempestade marítima, a frota seguiu outro rumo. Com o Castelo de Tomar na mira dos monges templários, o desembarque teve lugar no porto de Serra d’El-Rei, nas cercanias de Óbidos.
Ao longo de vários séculos, o tesouro templário, alegadamente escondido no interior das muralhas do castelo, tem sido alvo da cobiça dos caçadores de tesouros, portugueses e estrangeiros. No entanto, os vigilantes do histórico monumento sempre se opuseram às pesquisas no local, não só à superfície, mas também nas galerias subterrâneas. O Ministério da Cultura proibiu as escavações; no entanto, há uma pergunta que fica no ar: terão as autoridades oficiais descoberto o tão famigerado tesouro?
A Igreja de Santa Maria Madalena de Olivença foi mandada construir pelo rei de Portugal D. Manuel I, para, segundo os historiadores, servir como templo do local de residência dos bispos de Ceuta. É estranho que o monarca, para satisfazer a pretensão de meia dúzia de bispos, tenha despendido tantas energias na edificação de um templo que, depois dos Jerónimos e da Torre de Belém, é considerado a joia do património manuelino.
Afonso Sanches descobre que os seus ascendentes diretos são membros de uma sociedade secreta, Os Guardiães do Segredo, que a dita sociedade foi criada com a chegada a Tomar do tesouro templário e que o mesmo é composto, além de uma enorme quantidade de moedas de ouro, de quatro preciosíssimos objetos, a saber: o Cálice Sagrado, descoberto pelos Templários nas ruínas do Templo de Herodes; a Espada de David, presumivelmente uma cópia da espada pertencente ao rei David, e que D. Afonso Henriques terá usado heroicamente na Batalha de Ourique; o Anel do Poder, anel e sinete com a cruz de Cristo incrustada, usado pelo Grão-Mestre da Ordem do Templo, D. Gualdim Pais e o Manuscrito, encontrado igualmente nos escombros do Templo de Jerusalém e contendo alusões discretas à linhagem sagrada de Jesus.
O Consórcio é uma organização criminosa ligada à máfia. O escritório principal situa-se no centro de uma importante cidade europeia. Por razões óbvias de sigilo, alteramos o nome dos seus colaboradores, bem como dos lugares.
Prólogo
Berengário entrou no gabinete do todo-poderoso chefe do Consórcio, um tipo alto, musculado e com cicatrizes por todo o corpo, «troféus» de guerra, de que se orgulhava.
— Mandou-me chamar, Comandante?
— Mandei — disse secamente o interpelado, também tratado por Chefão. — Tenho um trabalho para si.
Berengário aguardou em silêncio a ordem.
O Chefão era um homem frio e de poucas falas, que recebia encomendas que chocavam com a moral e a lei dos estados. Encomendas, em geral, de assassínios contratados a peso de ouro.
— O serviço está descrito neste papel. Tem cinco minutos para o meter na cabeça — disse o gigante com músculos de aço, entregando uma folha de papel rabiscada ao testa de ferro da organização. — No final do tempo, o papel será incinerado.
— Okay — assentiu Berengário, começando a ler e a estudar a operação. — Obviamente! — As palavras eram frias como icebergues.
— Não pode deixar vestígios de espécie alguma!
— Claro!
Ao cabo de três minutos, o assassino já não tinha dúvidas do serviço que ia executar.
— Queira incinerar o papel, Comandante.
— Nenhuma hesitação, nenhuma… dúvida?
A sombria figura respondeu:
— Nenhuma! A missão será cumprida com uma precisão milimétrica…
— Ótimo! Muitas coisas vão mudar no planeta.
— Calculo que esteja a falar da ordem mundial… no capítulo da religião…
O Chefão não parecia disposto a alongar a conversa.
— Concentre-se no trabalho que tem pela frente!
— Vou passar a noite em claro a estudar todos os pormenores da delicada operação.
O veterano de guerra avisou:
— Esta será a primeira de uma série de missões arriscadas.
— Servir o Consórcio é a maior das honras — disse com frieza o assassino.
— A resposta agrada-me. Terá a recompensa que merece.
Capítulo 1
O sacristão Dinis Sanches era ao mesmo tempo cicerone na Igreja de Santa Maria Madalena de Olivença, a segunda igreja manuelina mais sumptuosa do mundo.
Naquela fatídica tarde, o templo estava encerrado aos turistas e o cicerone, que nunca abandonava a igreja, estava ajoelhado ao cimo, entre os dois retábulos de azulejo: o do lado direito em honra de Marta, o do lado esquerdo em honra da mulher do vaso de alabastro, Maria Madalena, que perfumava os pés de Jesus.
O servo de Deus apercebeu-se de um vulto a aproximar-se e olhou para trás.
— A igreja encontra-se encerrada ao público. Não leu o aviso que está na porta de entrada?
— Não sou turista e não estou aqui para admirar este colosso artístico!
— Veio então para rezar?
O atacante limitou-se a abanar negativamente a cabeça.
Dinis Sanches arrepiou-se com a frieza do estranho.
— Então o que deseja?
— O cálice — rugiu a voz ameaçadora. — Onde está?
— Não sei do que fala…
O estranho exibiu uma arma branca, avançou dois passos e encostou-a ao pescoço da vítima.
— Ai! — gritou o cicerone num gesto de aflição. — Por amor de Deus, não faça isso!
O intruso moveu o punhal até abrir um sulco na garganta. Um fio de sangue começou a escorrer, salpicando a indumentária.
— Vai matar-me?
— Não, se me desvendar o segredo…
— Qual?
— Está a fazer de mim ingénuo. Já o receava!
Dinis Sanches fixou os olhos do assassino. Tinham o brilho sinistro do olhar de uma fera.
— Tem trinta segundos para decidir!
A dor era intensa e o sacristão já não tinha sequer lucidez para contar o tempo.
Nas mãos de Deus entrego a minha vida!
O cicerone desistira de lutar. Sabia que era inútil contrariar os propósitos do atacante, mas morria com uma certeza que o consolava: o intruso partiria de mãos vazias. O que viera ali buscar continuaria no segredo dos deuses…
Trinta segundos à espera do golpe de misericórdia duram uma eternidade. Quando o tempo se esgotou, o atacante moveu de novo o punhal. De modo frio, inexorável, cirúrgico!
— Ai! Tenha compaixão de mim — implorou a vítima pela derradeira vez.
A súplica era extemporânea. Já não havia tempo para o assassino emendar a mão!
Capítulo 2
Leonardo estava na Fundação Calouste Gulbenkian a lançar o seu bestseller A Linhagem Sagrada de D. Afonso Henriques . O Grande Auditório, onde cabiam 1228 pessoas sentadas, estava literalmente cheio. As cadeiras da primeira fila eram ocupadas por artistas do meio literário português, mas figuravam também escritores estrangeiros de renome internacional, em particular, autores ligados à «teoria da conspiração».
O público demonstrava grande expetativa pelo facto de Leonardo, versado em História Sagrada e erudito em simbologia, ser um estudioso compulsivo da demanda do Graal e um visionário convencido da genealogia sagrada do primeiro rei de Portugal.
Na apresentação da obra, Leonardo dissertou sobre a dinastia Os Filhos de Meroveu, a qual governou os Francos na região da antiga Gália. Foram vários os reis desta dinastia, dezasseis ao todo, de Meroveu a Cilderico, passando por Clóvis, Dagoberto e Teodorico. Governaram da metade do século v à metade do século viii. É neste período que se dá um enlace sagrado entre um príncipe meroveu e uma descendente de Santa Sara, originando as Casas de Lorena e Borgonha, a que pertenciam Dona Mafalda e D. Afonso Henriques. Os apaixonados do Graal, que haviam delirado com romances anteriores ligados à personificação do Sagrado Feminino, renovaram, de forma entusiástica, as suas expetativas em relação ao livro.
Interrogado sobre a incultura dos Francos, que, a exemplo dos Godos e dos Visigodos, tinham crenças ancestrais, o professor Leonardo lembrou que os laços de matrimónio entre uma princesa católica e um rei Franco mudaram a mentalidade dos Meroveus. O historiador fez questão de salientar:
— Por via do casamento entre um rei Franco e uma princesa católica de Borgonha, a estirpe dos reis Meroveus passou a descender de Jesus e, pela sua linhagem, a descender do rei David.
Durante a fase de diálogo com os leitores, um curioso interpelou Leonardo sobre a divisão que havia na Igreja à altura do Concílio de Niceia:
— Os duzentos e cinquenta bispos que se encontravam no Concílio estavam divididos. Uns acreditavam que Cristo era Deus; outros, que era um profeta, aliás, o maior profeta de todos os tempos. «Só há um Deus», justificavam os que descriam da divindade de Jesus. Constantino entendeu que uma Igreja dividida não podia crescer e decretou que Cristo era divino. Assim sendo, Cristo não podia ter casado.
A resposta de Leonardo:
— Eu sou um cristão convicto e um homem de fé. Acredito que todos os homens possuem uma centelha de divino. No entanto, Jesus, que é a maior das criaturas humanas, tem uma enorme centelha do Divino. É um farol de Deus a iluminar tudo e todos, tão poderoso que irá continuar a iluminar o mundo até ao fim dos tempos. Contudo, se um dia se provar que Jesus casou e teve filhos, isso não abalará minimamente as minhas convicções religiosas.
A sessão de autógrafos prolongou-se pela noite dentro. A fila era interminável e Leonardo Valença esteve mais de cinco horas consecutivas a assinar livros. Alguns jornalistas, de forma sub-reptícia, cercaram o professor com o propósito de o entrevistar, mas falar às televisões, às rádios e aos jornais numa noite daquelas era uma missão totalmente impossível.
A sessão de lançamento terminou muito para além da meia-noite. Embora se sentisse fatigado, o professor não deixou de ler as mensagens enviadas para o seu telemóvel durante o evento. Havia várias, principalmente, de amigos a pedirem desculpa pelo facto de não poderem comparecer na Fundação Gulbenkian. As razões eram sérias e Leonardo sentiu com indelével emoção a alegria de ser amado e admirado por grandes e devotados amigos.
A certa altura, o professor deparou com um vídeo enviado por um inspetor da Polícia Judiciária. O vídeo mostrava a nave da Igreja de Santa Maria Madalena de Olivença e, fotografado de vários ângulos, um homem estendido numa passadeira vermelha, com marcas de grande violência física. Tinha um golpe profundo no pescoço e jazia numa poça de sangue.
Meu Deus! Este homem foi barbaramente assassinado!
Angustiado, Leonardo desviou a sua atenção do vídeo para ler a informação policial:
Sei que está na Fundação Gulbenkian a lançar um livro de sua autoria. No decurso do evento, aconteceu um crime horrendo, documentado no vídeo que tive o cuidado de lhe enviar. Provavelmente, o professor dirá, mas que tenho eu a ver com isto? É obvio que não tem, e não o teria incomodado não fora o que foi encontrado no bolso do casaco da vítima, o sacristão da Igreja de Santa Maria Madalena de Olivença: um papel onde estão desenhados vários símbolos secretos, a saber: um anel-sinete com a cruz templária, uma espada, um cálice antigo e um manuscrito rodeado de sinais ocultos. Sei que o professor, entendido em História Sagrada, é um expert em simbologia. Por isso, para deslindar este enigma, preciso da sua colaboração. A Guardia Civil Espanhola ainda não foi informada do crime e, por se tratar de um português assassinado, quero investigar o homicídio antes que outros o façam. Nesse sentido, envio o meu número de telemóvel. Quando ler esta mensagem, por favor entre em contacto comigo. O assunto é urgente.
Diogo Bragança, inspetor da PJ
A mensagem deixou o professor estupefacto. Na hora em que lançava um livro sobre a linhagem sagrada do primeiro rei de Portugal, o sacristão da igreja manuelina de Olivença era assassinado no templo de forma estranha. Mais estranhos eram os símbolos que o acompanhavam e que pareciam relacionados com o livro que acabara de apresentar.
Ainda dizem que não há coincidências, pensou.
A fadiga não o deixava refletir tranquilamente, mas uma súbita vaga de adrenalina emprestou-lhe uma extraordinária força. E se os símbolos provassem que a teoria da linhagem sagrada da dinastia Afonsina era robusta e digna de crédito? Nessa altura, o seu livro podia transformar-se no maior thriller de todos os tempos!
Revigorado, desbloqueou o telemóvel e digitou os números gravados no visor. O sinal de chamada não se prolongou por muito tempo.
— Sim.
— Inspetor Bragança?
— Eu mesmo, professor Leonardo. Está satisfeito com o lançamento do seu romance? Já soube que o Grande Auditório da Gulbenkian estava apinhado. Parabéns!
— Obrigado — agradeceu Leonardo. — Estive até agora a autografar livros!
— Nesse caso, podemos falar de uma noite memorável, de um retumbante sucesso. — Pigarreou. — Deve sentir-se fatigado.
— Um pouco. Sei que precisa com urgência da minha ajuda, mas tenho de descansar…
— Com certeza, professor — assentiu Bragança. — Repouse umas horas e, se não se importar, passarei pelo hotel a buscá-lo. Suponho que está hospedado num hotel da capital…
— Sim, no Altis. Vou para lá neste preciso momento.
— Okay. Passarei pela Castilho às cinco da manhã. Preciso de chegar a Olivença antes de romper o dia.
— Pode procurar-me na receção à hora que marcou. Sou disciplinado e durmo pouco, inspetor.
— Bravo!
— Estou habituado a levantar-me cedo. Gosto de escrever antes de despontar o Sol, enquanto a cidade ainda dorme…
— As ideias fluem melhor…
— Precisamente!
Bragança marcou uma pausa, e disse:
— Se tudo correr bem, estaremos em Badajoz antes da Guardia Civil chegar…
Capítulo 3
Berengário e o cérebro do Consórcio encontraram-se de novo, desta vez num local isolado, a uma distância considerável da sede da organização
— Correu bem o serviço?
— De forma exímia, Comandante.
— Não deixou vestígios comprometedores?
— Não — respondeu secamente o interpelado. — O sacristão não se descoseu e teve o castigo que merecia.
— É o segundo membro de uma presumível irmandade secreta a comer pela medida grande!
— Claro, Comandante. — Tossiu. — Ao que julgo, a tarefa está para durar!
O gigante com nervos de aço afagou o queixo:
— Durará enquanto os elementos da hipotética irmandade não abrirem a boca.
Berengário soprou de enfado:
— São teimosos como mulas e parecem dispostos a manter o secretismo… com sacrifício da própria vida!
— Sinal de que a motivação é grande — disse o homem que chefiava o Consórcio, enfatizando a palavra motivação. — O esconderijo do tesouro templário, e parece que há mais do que um, é tão importante que representa a razão da sua própria vida!
— Se há mais do que um esconderijo — retorquiu com estranheza o testa de ferro da criminosa organização — não vai ser fácil chegar ao segredo. Por que motivo não está o tesouro num só cofre?
— Porque assim é mais seguro. Há suspeitas de que esteja enterrado em pelo menos quatro sítios.
Berengário entortou o nariz.
— Na Igreja de Santa Maria Madalena de Olivença não descobri nada. O sacristão preferiu a morte a fazer qualquer revelação. Na casa onde viveu o grão-mestre D. Gualdim Pais, tirei a tosse ao dono da propriedade, igualmente por não querer abrir a boca. Nunca vi segredo assim…
— O segredo mais bem guardado — disse o Chefão, fazendo um sinal com a cabeça. — No entanto, não podemos cruzar os braços. A recompensa é milionária. — Abriu uma mala a abarrotar de maços de notas de banco, novas em folha. — O pagamento do último serviço.
— Okay, Comandante!
— Conte a massaroca, ouviu? O dinheiro deve ser contado no ato de entrega.
— Era o que faltava!
— Como assim?
— A organização nunca me enganou. De resto, teria de ficar aqui a vida inteira a contar o pilim. Ufa, Comandante! Ou as notas são falsas?
O Chefão franziu a testa.
— Dinheiro de Igreja é dinheiro santo. De resto, eu não disse nada. Certo?
Berengário passou os dedos pelos lábios, como se corresse um fecho éclair.
— Daqui para fora não sairá nada!
— Agora, preciso de lhe fazer uma pergunta. É sobre o destino do dinheiro…
— Sobre? O que quer dizer com isso? A organização sempre confiou em mim…
— A segurança do Consórcio tem de ser acautelada. Será que entende onde quero chegar?
Um sorriso velhaco, característico dos grandes assassinos, esculpiu os lábios de Berengário.
— Oh, Comandante! Eu não ando aqui por ver andar os outros… Claro que o dinheiro tem de ser enterrado. Descanse, porque o offshore onde escondo o cacau é seguríssimo. Nem sequer o meu nome consta dos ficheiros do banco. É o maior paraíso fiscal do mundo!
O dono da organização sorriu de satisfação, fazendo um aceno com a cabeça.
— Eu sei que você é um expert na matéria! Por isso, recorremos habitualmente aos seus serviços. Contudo, rebater este ponto não peca por excesso…
— É óbvio que não, Comandante — assentiu Berengário. — As diretivas da União Europeia são cada vez mais apertadas, no âmbito do combate à evasão fiscal e ao crime organizado. Só que eu viajo muito e sei o que esqueceu ao Diabo…
O Chefão gostou do que ouviu.
— Pronto! Assunto encerrado! Trate da sua vida e prepare-se para novas tarefas, porque elas estarão aí não tarda. O Segredo está pelo menos em mais dois lugares.
— À guarda de gente fanática…
— Obviamente. Pode parecer um paradoxo, mas se não houvesse testemunhas nunca alcançaríamos o rasto do mistério. São esses famigerados Guardiães do Segredo que nos conduzirão um dia à chave do enigma!
— Não é tão linear assim, Comandante — fez questão de lembrar Berengário.
— Está a insinuar que eles preferem a morte a revelar o mistério?
— É isso que tem acontecido.
O Chefão redarguiu:
— Pode ser que os indivíduos que ainda não surpreendemos não estejam tão bem preparados como os primeiros…
— O Comandante referiu há pouco que o tesouro não está guardado num só esconderijo. Como chegou o Consórcio a tal conhecimento?
O interpelado não gostou da pergunta.
— Isso é matéria exclusiva da organização, e temos ao nosso serviço os profissionais mais competentes e bem pagos do mundo, entendeu?
Berengário fechou a mala do dinheiro, e disse:
— Espero que os outros esconderijos não se encontrem em lugares difíceis de escalar, como fortificações, castelos e outros edifícios amuralhados…
O Chefão retorquiu:
— Também a Igreja de Santa Maria Madalena de Olivença e o solar onde viveu D. Gualdim Pais são fortificações poderosas. No entanto, escalaste os baluartes com incrível facilidade!
— Não foi bem assim…
— Como não foi bem assim?
Berengário esboçou um gesto de grande sacrifício.
— No reduto do grão-mestre D. Gualdim, habitado por outro Guardião do Segredo, havia cães ferozes, nomeadamente, um husky siberiano e um pitbull. Espumando de raiva, as feras atacaram-me no interior das muralhas, e, por milagre, não fui esventrado. Tive de usar uma arma silenciosa para as retirar de combate; no entanto, depois de baleados, os lobos ainda arreganhavam os dentes, lançando pela boca golfadas de ódio. — Cerrou os punhos, como se estivesse a reviver a luta. — O dono da fortaleza esperou-me no átrio com uma barra de ferro e, apesar da idade, não deixou os seus créditos por mãos alheias. Impôs-me um duelo cerrado, de vida ou morte. Quando chegou a hora de vomitar a senha, pediu que o sentenciasse com o golpe de misericórdia, porque jamais revelaria um segredo com vários séculos de existência.
O Chefão sorriu.
— Prestaste um grande serviço a gente que não quer ver os seus privilégios beliscados. São fanáticos religiosos que invocam a toda a hora o nome de Deus, mas a hipocrisia distingue-os dos verdadeiros homens de fé.
Berengário, que não passava de um simples mercenário a quem apenas o dinheiro contava, ia começando a perceber os contornos do Segredo e dos crimes repugnantes em que estava envolvido…
Capítulo 4
Bragança era um profissional dedicado como a Polícia Judiciária jamais conhecera. Casado, passava noites a fio sem desfrutar do gozo do leito conjugal. «Matas-te a trabalhar e nunca verás a recompensa, nem da corporação, nem do Estado», dizia-lhe frequentemente a mulher. Não a ouvia, embora sentisse o peso dos remorsos por fazer da companheira uma monja.
Naquela madrugada, Bragança podia ter mandado o motorista a Lisboa buscar Leonardo, mas preferiu acompanhá-lo.
O professor é um elemento necessário às investigações, tão útil que não posso descurar a sua companhia, um minuto que seja, pensou.
A noite estava estrelada e o trajeto decorreu sem incidentes. Às cinco da manhã em ponto, depois de viajarem tranquilamente pela avenida da Liberdade, Parque Eduardo VII e Marquês de Pombal, os agentes alcançavam o número onze da rua Castilho. Diogo Bragança dirigiu-se à receção do hotel, onde o historiador acabava de chegar.
— Bom dia, professor! Desculpe tirá-lo da cama a estas horas!
— Não tem importância; aliás, estou ansioso por ver os símbolos encontrados no bolso do casaco da vítima. Na mensagem que me enviou, o inspetor usa a frase geometria sagrada. O que quer dizer concretamente?
Diogo Bragança esquivou-se habilmente à pergunta:
— Não sou perito, mas apenas um iniciado nos mistérios do oculto. A minha sede de conhecimento deve-se à leitura dos romances baseados na heresia do Graal. — Mudou de pose e de tom. — Podemos iniciar a viagem e… falar durante o trajeto, não será melhor?
— Sem dúvida. Também estou ansioso por chegar a Olivença!
— O importante é não chegarmos tarde demais!
Sebastião Gouveia, o motorista, cumprimentou o professor mal deixou o pórtico do hotel, convidando-o a entrar na viatura policial. Leonardo agradeceu a gentileza e entrou para o banco traseiro, logo seguido pelo inspetor.
Só depois de deixarem a cidade das Sete Colinas, procurada por turistas de todo o mundo devido aos seus encantos, Leonardo e Bragança reataram a conversa.
— A Igreja de Santa Maria Madalena de Olivença sempre me intrigou — disse o perito em simbologia. — D. Manuel I, que a mandou construir, era reconhecidamente um monarca católico, mas devia estar iluminado pela luz do Conhecimento.
— O professor refere-se aos mistérios que estão por trás da dinastia Afonsina?
— Obviamente. A intenção do rei era que o Mosteiro dos Jerónimos se chamasse Igreja de Santa Maria Madalena de Belém. Contudo, na altura, a Inquisição tinha mais poder do que a própria realeza, e D. Manuel receou que os bispos do Santo Ofício suspeitassem das suas ligações à demanda do Graal.
Bragança disse:
— Estou a ouvi-lo com atenção, professor!
— Vinte anos depois de o Mosteiro dos Jerónimos começar a ser construído, era lançada a primeira pedra nas fundações da igreja manuelina de Olivença. O rei queria prestar homenagem à discípula e companheira de Jesus perseguida pela Igreja, mais tarde glorificada com a auréola de Santa, e conseguiu-o.
— Longe dos olhares dos inquisidores…
— Sim. O lugar da edificação era longe de Lisboa e os carrascos do Santo Ofício não desconfiaram das intenções ocultas do monarca. Em 1501, quando a construção dos Jerónimos foi iniciada, D. Manuel já conhecia Nicolau de Chanterene. E quando encomendou ao genial artista a Porta do Mosteiro e um retábulo em mármore destinado ao Palácio da Pena, já tinha em mente o que lhe iria encomendar para o templo de Olivença.
O inspetor interrompeu:
— A Igreja de Santa Maria Madalena é um exemplo do esplendor manuelino. A nave surpreende pelas colunas retorcidas em forma de cordame de um navio…
Leonardo foi mais longe:
— Os retábulos barrocos em azulejo constituem, ao que julgo, a peça-chave do puzzle das intenções encobertas de D. Manuel. Marta, uma das companheiras de Cristo nas jornadas de evangelização, está num dos retábulos; no outro, onde reside o código secreto do rei, está Maria Madalena, a mulher que Jesus amou e que fugiu para a antiga Gália depois da condenação de Cristo e da perseguição aos cristãos. D. Manuel acreditava não só na união sagrada, mas ainda no fruto da mesma, Santa Sara.
— Isso é extraordinário — exclamou Bragança, um leitor compulsivo dos romances de conspiração. — Ouvi falar de um príncipe da dinastia dos Meroveus…
— Casou com uma descendente de Santa Sara, originando as estirpes de Lorena e Borgonha…
Quando atravessavam a ponte sobre o Guadiana, o rio que é fronteira entre Portugal e Espanha, o inspetor lamentou:
— Foi um desastre para nós, Portugueses, ficarmos sem Olivença. É inadmissível que nos tenha usurpado, sem um motivo sério, uma parte do nosso sagrado território!
— Sem dúvida — concordou o professor. — Tudo começou com uma maquinação entre França e Espanha, que planearam invadir o território português e reparti-lo entre si. Firmado o acordo, tropas espanholas, apoiadas por hostes francesas, tomaram de assalto uma parte do Alentejo, forçando a capitulação, sem qualquer tipo de resistência, do governador da Praça de Olivença. Corria o ano de 1801.
— Na altura, parece que estávamos numa situação periclitante de fraqueza diplomática…
— O que nos levou a assinar o Tratado de Badajoz, não no exercício da nossa liberdade plena, mas compelidos pela força das armas — esclareceu Leonardo, acrescentando: Na Conferência de Viena de 1815, Espanha reconheceu a soberania portuguesa e comprometeu-se à restituição do território. Contudo, até à presente data, nunca honrou os seus compromissos.
A noite já não tinha muito para durar. As estrelas haviam desaparecido no céu e, a nascente, o manto negro que escondia o horizonte ia dando lugar a uma mancha azulada, sinal de que o sol anunciava timidamente, do outro lado da Terra, a sua aparição.
— Chegámos! Diante de nós, com toda a sua imponência, a Igreja de Santa Maria Madalena de Olivença!
Leonardo sentiu o familiar arrepio de enlevo transmitido pelo poder do lugar, ao mesmo tempo que o seu olhar procurava abranger toda a grandeza do edifício, sobretudo o magnífico portal de Chanterene rodeado de gárgulas, as quais, segundo os ocultistas, eram uma alusão aos Templários e aos seus códigos secretos.
Sem que o professor desviasse a sua atenção da fachada do templo, iluminada por potentes holofotes, Diogo Bragança disse:
— Recentemente, a Igreja de Santa Maria Madalena venceu a competição que escolhe os mais belos recantos de Espanha, reacendendo uma guerra com mais de dois séculos de existência.
Leonardo confirmou:
— Li há dias num jornal digital que a igreja portuguesa ficou no top dos locais a visitar!
— Destronou a Lagoa da Cigana de Castela-La Mancha, que ficou em segundo lugar, e a cachoeira de Aigualluts (Aragão), que obteve a terceira votação.
— Uma vergonha — desabafou o professor. — Há muita gente a questionar os organizadores do evento, perguntando a razão pela qual elegeram uma igreja tipicamente portuguesa para representar Espanha…
Bragança afinou pelo mesmo diapasão:
— Esta escolha é uma tentativa escandalosa de legitimar a ocupação de Olivença junto da população portuguesa e do seu Governo, que nada tem feito para obrigar as autoridades espanholas a reporem a legalidade.
Estava na hora de iniciar o trabalho. Enquanto o inspetor perscrutava os arredores, receando a chegada súbita de viaturas policiais, Leonardo começou a subir os degraus do portal da igreja.
— Preciso de me concentrar na espinhosa tarefa que tenho pela frente. — Sondou pelo canto do olho o rosto do interlocutor, e retorquiu: — O vídeo que me mandou via telemóvel repugnou-me visceralmente…
— Meu caro professor — tornou Bragança de resposta. — Quando vi o sacristão com um golpe profundo na garganta, o corpo mergulhado numa poça de sangue, perdi a fala. Com um currículo povoado de experiências cruéis, nunca assistira a um espetáculo daqueles!
— Imagino!
O inspetor tinha guardado a chave da porta da igreja, que encontrara aberta e fechara depois de presenciar o crime. Sacando-a do bolso das calças, introduziu-a no orifício da fechadura. As dobradiças rangeram.
— Entre, professor!
O templo não estava completamente às escuras. Nos altares, havia lâmpadas de azeite que arrancavam das trevas não apenas a imagem dos santos, mas também a estrutura da nave, o suficiente para que nela se guiassem pessoas. Tentando visualizar o quadro que o esperava ao cimo, perto do altar-mor, Leonardo foi avançando na coxia, ávido por decifrar os símbolos que o Guardião do Segredo conservava misteriosamente no bolso do casaco, na hora de deixar este mundo…
Capítulo 5
Apesar da luz ténue das lâmpadas de azeite, Leonardo reparou que o painel de azulejo dedicado a Maria Madalena havia sido vandalizado. Voltando-se para Bragança, apontou o retábulo e perguntou:
— Quando presenciou o crime, não se apercebeu do dano provocado no retábulo?
O inspetor estranhou:
— Não, não me apercebi de nada. — Franziu a testa. — Será que o assassino voltou à igreja horas depois da ignóbil proeza?
— Provavelmente!
— Mas fechei a porta quando saí!
— Isso não quer dizer nada.
— Como assim?
— Ora, o assassino devia estar prevenido com uma réplica da chave. O plano deve ter sido estudado ao pormenor…
Bragança arrancou do bolso uma lanterna elétrica e projetou um feixe de luz sobre o painel. O vândalo usara uma tinta