Elogio à inutilidade
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Sobre este e-book
O autor nos lembra que a verdadeira riqueza da vida reside nas coisas simples e nas relações que cultivamos sem esperar nada em troca. Em um mundo que valoriza o consumo e a utilidade, "Elogio à Inutilidade" nos encoraja a abraçar a gratuidade como um caminho para a realização pessoal e coletiva. Padre Elizeu, com sua sabedoria pastoral, nos instiga a refletir sobre o que realmente importa e a encontrar beleza naquilo que muitas vezes é considerado "perda de tempo".
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Elogio à inutilidade - Elizeu da Conceição
Um sentimento de gratidão às pessoas que contavam histórias e estórias na minha infância. Um reconhecimento às pessoas que ainda conservam essa bela arte.
Assim também vocês:
quando tiverem cumprido tudo o que lhes mandarem fazer, digam:
"Somos servos inúteis;
fizemos o que devíamos fazer".
(Lc 17, 10)
PREFÁCIO
O ser humano é dotado de uma característica inata: a gratuidade. Desde o nascimento, não buscamos retribuição por nossos primeiros gestos de vida; somos acolhidos e cuidados sem a necessidade de uma troca monetária. Este valor intrínseco, que não pode ser medido em termos de dinheiro, é o que nos conecta à essência da existência. Com o tempo, no entanto, aprendemos a buscar recompensas por nossas ações, sufocando algo essencial em nós. Este livro, Elogio à Inutilidade
, de autoria do Padre Elizeu da Conceição, nos convida a redescobrir a beleza da gratuidade e a importância de resgatar o sentido da vida através das relações desinteressadas.
No decorrer da vida, somos constantemente confrontados com a pergunta: O que fiz de bom e significativo até agora?
Esta reflexão nos impulsiona a buscar experiências que transcendem a rotina e a compartilhar essas vivências com os outros. Como nos lembra Rubem Alves, o silêncio entre amigos não é insuportável
. A verdadeira amizade não se baseia na utilidade, mas na presença e na gratuidade. Elbert Hubbard também nos ensina que amigo é aquele que nos conhece a fundo e, ainda assim, nos quer bem
. Este livro nos desafia a valorizar as relações humanas pelo que são, não pelo que podem nos oferecer.
A obra de Padre Elizeu é um convite para revisitar a simplicidade da infância, onde a imaginação não tem limites e a felicidade não é medida por posses materiais. Através de histórias e reflexões, somos levados a questionar o modelo de vida utilitarista que prevalece na sociedade moderna. Como Aristóteles afirmou, a amizade é uma convivência íntima que torna a vida digna de ser vivida. Este livro nos guia na busca por uma vida mais autêntica, onde a gratuidade é o fio condutor.
O autor nos lembra que a verdadeira riqueza da vida reside nas coisas simples e nas relações que cultivamos sem esperar nada em troca. Em um mundo que valoriza o consumo e a utilidade, Elogio à Inutilidade
nos encoraja a abraçar a gratuidade como um caminho para a realização pessoal e coletiva. Padre Elizeu, com sua sabedoria pastoral, nos instiga a refletir sobre o que realmente importa e a encontrar beleza naquilo que muitas vezes é considerado perda de tempo
.
Convido você, leitor, a mergulhar nesta obra instigante e transformadora. Deixe-se guiar pelas histórias e reflexões que Padre Elizeu compartilha, e descubra como a gratuidade pode enriquecer sua vida. Este livro não é apenas uma leitura, é uma jornada de autodescoberta e um convite para viver de maneira mais plena e significativa. Ao final desta leitura, espero que você encontre novas maneiras de valorizar a simplicidade e a beleza das relações humanas, resgatando o verdadeiro sentido da vida.
Boa leitura,
Dom Eduardo Malaspina,
Bispo de Itapeva, SP
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
I A INUTILIDADE DA INFÂNCIA
CAPÍTULO 1: QUANTOS AMIGOS VOCÊ TEM?
CAPÍTULO 2: FILHOS PROJETADOS
CAPÍTULO 3: O OVO DE PÁSCOA
CAPÍTULO 4: O QUE MEU FILHO SERÁ QUANDO CRESCER?
CAPÍTULO 5: A AUTONOMIA — QUEBRANDO O ENCANTO
II A INUTILIDADE DAS RELAÇÕES
CAPÍTULO 6: CÃES RAIVOSOS: NOSSOS SENTIMENTOS
CAPÍTULO 7: O DIÁLOGO COM A FORMIGA
CAPÍTULO 8: ABRIR A PORTA COM EMPATIA
CAPÍTULO 9: A ESTÁTUA DESCONHECIDA
CAPÍTULO 10: NARCISO E O LAGO
III A INUTILIDADE DA VELHICE
CAPÍTULO 11: O PERDÃO DE JÔ SOARES
CAPÍTULO 12: O OURO E A PRATA SÃO PROVADOS PELO FOGO
CAPÍTULO 13: A FELICIDADE
CAPÍTULO 14: SINTO-ME INÚTIL
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
O ser humano tem uma característica natural: a gratuidade. Ninguém nasce cobrando retribuição. Uma pessoa nasce necessitada de ajuda, de cuidado, mas não troca seu tempo, seu abraço, sua companhia por dinheiro, já que, para o recém-nascido, o dinheiro não tem valor. O valor de sua existência não é medido monetariamente, mas é expandido e aprofundado no instinto de sobrevivência, a qual necessita da gratuidade.
Com o passar dos dias, uma pessoa vai aprendendo a reclamar recompensa ou reconhecimento por tudo o que faz, sufocando, assim, algo de essencial na sua vida. No entanto, sua característica natural se manifesta silenciosamente. E o pedido silencioso que o corpo da pessoa expressa é o retorno à gratuidade nas relações, pois é ela que dá sentido à vida.
Esse retorno pode se concretizar com o auxílio da educação. Hoje existem metodologias e instrumentos pedagógicos que ajudam a evidenciar o que naturalmente já é bom em nossa essência, que nos caracteriza e nos realiza, mas que precisa ser revelado e potencializado.
Quando vamos crescendo e entrando na vida adulta, percebemos que ela é atribulada por tantos afazeres, e, mesmo diante dos variados compromissos, permanecemos com uma pergunta inquietante: o que eu fiz de bom e significativo até agora? Essa questão nos leva à reflexão contínua e nos faz pensar que, para traçar um fio condutor entre o nosso passado, o presente e o futuro, exigem-se dois movimentos essenciais: a experiência
e o contar a experiência
. O primeiro movimento nos faz sair da rotina
para as experiências significativas. O segundo movimento é um passo fundamental, pois contar o que vivemos é retomar, refletir, reviver e compartilhar com os outros uma existência significativa. Somente assim é possível crescer na consciência da gratuidade. Não estamos falando de vanglória, de contar as próprias vivências para afagar o ego, mas para reconhecer a vida como interdependente.
Quando uma pessoa consegue contar suas experiências gratuitamente, percebe que, geralmente, necessitará fazer novas experiências. Por isso contar as histórias é motivar-se a novas aventuras da vida. O que nos realiza como pessoas é a partilha sem retribuição, é a abertura ao dom amoroso, é a amizade que não exige muito dos outros, é a simplicidade de vida. Essa gratuidade passa também pelo engajar-se nas causas beneficentes, no gastar tempo com familiares e amigos, no contemplar a natureza. Entretanto, tudo isso não é algo a se fazer uma vez apenas na vida, e sim uma tarefa permanente.
Em contraposição a isso, o atual estilo de vida é marcado por uma dinâmica mercadológica que investe tudo no consumo e no lucro. Temos consciência de que a economia é necessária para a sociedade, mas hoje se torna fundamental lutar por novas relações que sejam gratuitas, sem interesse econômico, pois até mesmo os relacionamentos sociais são mercantilizados. E esse estilo de vida não faz as pessoas felizes, por mais bens