Abraham Shipman (m. Angediva, 6 de Abril de 1664) foi nomeado governador e general de Bombaim aquando da cedência por Portugal daquela cidade aos ingleses como dote de casamento da princesa Catarina de Bragança com o rei Carlos II da Inglaterra, nos termos do Tratado de 23 de Julho de 1661. Nomeado em 1662, não chegou a tomar posse da cidade, face à recusa do Vice-rei da Índiavice-rei português da Índia]] em aceitar as credenciais apresentadas. Recolheu-se à ilha de Angediva, onde morreu em 1664, sendo ali enterrado.

Abraham Shipman
Conhecido(a) por 1.º governador britânico da Índia
Morte 6 de abril de 1664
Angediva
Nacionalidade inglês
Ocupação militar
Título Governador de Bombaim , recebido em 19 de Março de 1662

Biografia

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Em 1640 Abraham Shipman era capitão no regimento de infantaria de Nicholas Byron, onde o seu irmão John era alferes. Terá sido elevado a cavaleiro, com direito ao título de Sir, por Carlos I de Inglaterra. Aquando da Restauração, pediu a Carlos II o lugar de armeiro na Torre de Londres, alegando os serviços prestados. A 26 de Janeiro de 1661 recebeu como mercê direitos sobre um farol em Dungeness, Kent. Fez testamento a 24 de Março de 1661, alegando que partiria para uma viagem às Índias Orientais, nomeando como beneficiário o seu filho William Shipman, com a obrigação de pagar 500 libras à sua filha Elisabeth Shipman.

A nomeação de Abraham Shipman como governador de Bombaim teve efeitos a 19 de Março de 1662, no porto de Lisboa, após a ratificação do tratado, o qual o qual previa a entrega daquela praça aos britânicos com todos os seus direitos, proveitos, territórios e quaisquer pertenças, garantindo os portugueses o auxílio daqueles perante a forte presença das neerlandeses nos territórios ultramarinos e da monarquia hispânica no território português, num quadro de grande necessidade da Coroa portuguesa perante a ameaça daqueles dois grandes poderes europeus.[1]

A esquadra de cinco navios partiu para a Índia no dia imediato, a 20 de Março, comandada por James Ley, 3.º conde de Marlborough, que nela seguia como almirante. Levava a bordo, para além do governador, uma força de 500 homens, organizada em quatro companhias, que deveria desembarcar em Bombaim e formar a primeira guarnição britânica daquela praça.[2] Nela seguia também António de Melo e Castro, nomeado novo vice-rei português da Índia, com o encargo de fazer a entrega da praça.[3]

Durante a longa viagem foram grandes os desentendimentos entre o vice-rei português e os britânicos, o que pôs em causa o sucesso da missão. Ainda assim, a viagem foi rápida para os padrões da época, e os primeiros navios chegaram a Bombaim a 18 de Setembro e os restantes em Outubro daquele ano de 1662.[2]

À chegada Marlborough apresentou a sua carta-patente, solicitando a entrega de Bombaim e de toda a ilha de Salsete, o que o governador recusou, alegando que o tratado previa apenas a entrega de Bombaim. Ainda assim, alegando irregularidade na patente apresentada, também recusou entregar a cidade.[4]

 
Fortaleza de Angediva

Marlborough e Shipman recorreram então ao vice-rei António de Melo e Castro, mas este declinou intervir, o que equivaleu a uma recusa da entrega de Bombaim. Entretanto, a chegada da monção obrigou as naus britânicas que transportavam as tropas a procurarem abrigo na ilha de Angediva, onde Sir Abraham Shipman desembarcou e instalou o seu quartel-general, enquanto aguardava ordens de Londres, para onde Marlborough e a maioria dos navios regressaram. Como as ordens tardavam em chegar, e o impasse se mantivesse, o general e muitos oficiais e soldados acabaram por morrer devido à dureza do clima e às más condições de alojamento. Shipman faleceu na ilha a 6 de Abril de 1664, sendo ali enterrado.[2]

O atraso na entrega, da responsabilidade de António de Melo e Castro, que desde a chegada a Bombaim levantara vários obstáculos com o intuito de preservar a ilha na posse portuguesa. Para além de alegar incorrecções formais na carta-patente e na procuração de Abraham Shipman, a acção de Melo e Castro assentava na percepção com que tinha ficado durante a viagem de Lisboa até à Índia que o fazia acreditar na falta de boa-fé do lado britânico, acreditando que não iriam fornecer o prometido auxílio aos portugueses, o que seria patente na fraca presença militar na armada enviada.[2]

Outra preocupação prendia-se com a sua percepção da importância estratégica da ilha de Salsete para os interesses portugueses, com um porto com condições quase melhores que Lisboa e uma localização importante em caso de ataque a Goa, acrescendo que com a entrega incondicional ficava ameaçada a presença portuguesa na região. Durante o impasse gerado pela hesitação do vice-rei chegou a notícia da perda de Cochim e de Cananor para os neerlandeses e foi conhecida a resposta do monarca português, que, reconhecendo o valor estratégico da ilha, reafirmava que este não justificava o rompimento com os britânicos, factos que forçaram a já inevitável cedência da ilha.

Os ingleses apenas saíram da ilha de Angediva em 1665, quando finalmente o vice-rei português aceitou a ordem real para proceder à entrega da cidade. Nessa altura, da força inicial restavam 191 homens, ficando na ilha 391 sepulturas de britânicos.[5] Só em Fevereiro de 1665 foi celebrado o auto de entrega acordado entre o sucessor do falecido governador britânico, Humphrey Cooke, e o vice-rei português, António de Melo e Castro.[6]

Apesar de Sir Abraham Shipman ser frequentemente apontado como tendo sido o primeiro governador do Raj Britânico, na realidade o seu governo esteve restrito à pequena ilha de Angediva.

Referências

  1. «Bombaim.» [ligação inativa] 
  2. a b c d Dalton, Charles (4 de julho de 1908), «The Bombay Regiment, 1662–5» (PDF), Oxford University Press, Notes and Queries (em inglês), s10-X (2): 1–2, consultado em 26 de abril de 2015 
  3. Pepys, Samuel (1663), «James Ley (3rd Earl of Marlborough)», www.pepysdiary.com, The Diary of Samuel Pepys. (em inglês), consultado em 26 de abril de 2015 
  4. Thana District Gazetteer, Gazetteers of the Bombay Presidency (em inglês), XIII, (republicado em 1986), Gazetteer Department (Government of Maharashtra), 1882, cópia arquivada em 8 de janeiro de 2009 
  5. The forgotten glory of Anjediva island. [ligação inativa]
  6. «Frederick Charles Danvers, The Portuguese in India: being a history of the rise and decline of their Eastern Empire, pp. 330-350.» (em inglês) 

Bibliografia

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  • Glenn, J. Ames, Renascent Empire?: the house of Braganza and the quest for stability in portuguese monsoon Asia, c. 1640-1683, Amesterdão, University Press, 2000.
  • José Gerson da Cunha (1993), Origin of Bombay, ISBN 81-206-0815-1 (em inglês), Asian Educational Services 
  • Luís Frederico Dias Antunes, "Província do Norte" in O Império Oriental, vol. VI, tomo 2, Maria de Jesus dos Mártires Lopes (coord.) - Nova História da Expansão Portuguesa, Joel Serrão, A.H. de Oliveira Marques (dirs.), Editorial Estampa, Lisboa, 2006, pp. 209 e 228.
  • Shafaat Ahmad Khan, Anglo Portuguese Negotiations Relating to Bombay (1660-1667), Londres, Humphrey Milford, 1940.