A Ponte Queimada é uma ponte situada entre os municípios de Pingo-d'Água e Marliéria, no estado de Minas Gerais, Brasil. Com aproximadamente 200 m de extensão, cruza o rio Doce em um dos limites do Parque Estadual do Rio Doce (PERD), configurando-se como uma das entradas para a área de preservação.[1]

Ponte Queimada
Ponte Queimada
Tabuleiro da Ponte Queimada
Material Ferro e madeira
Data de abertura Construída pela primeira vez no século XVIII ou XIX; reconstruída na década de 1930
Comprimento total 200 m
Geografia
Via Estrada do Parque
Cruza Rio Doce
Localização Entre Pingo-d'Água e Marliéria, Minas Gerais
País Brasil
Coordenadas 19° 44' 57" S 42° 28' 40" O

A data exata de sua construção original é incerta, porém sabe-se que ocorreu no século XVIII ou no século XIX, com a abertura de uma estrada pelo local.[2] Foi reconstruída na década de 1930, preservando desde então suas características de pilares de concreto, vigamento de ferro e corpo em madeira.[3]

O conjunto paisagístico formado pela ponte, pelo rio Doce e pela mata do Parque Estadual do Rio Doce constitui um dos potenciais atrativos turísticos da região.[4] Entretanto, o caminho passou a ser evitado devido às condições cada vez mais precárias. Em agosto de 2023, um incêndio criminoso atingiu 10 metros da ponte, o que levou à interdição total da travessia.[5]

História

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Rio Doce visto da Ponte Queimada
 
Vista parcial da ponte

A origem exata da ponte é incerta. Uma versão defende que seria com a abertura da estrada durante a exploração do Vale do Rio Doce no século XVIII. Como não foi encontrado ouro em abundância, o caminho passou a ser utilizado como ligação entre Ouro Preto e um presídio em Cuité (região de Conselheiro Pena) e por isso ficou conhecido como Estrada do Degredo. A ponte então teria sido incendiada por prisioneiros na tentativa de fugir da polícia em 1794, ou mesmo pelos próprios soldados para evitarem o caminho perigoso.[2][6]

Em outra narração, a ponte possivelmente foi construída por Guido Marlière e incendiada por indígenas na tentativa de se defenderem dos forasteiros no século XIX.[2] Os indígenas, por sua vez, colocavam a culpa nos soldados.[7] Mais tarde a estrutura foi reconstruída e a estrada aproveitada como ligação entre Santana do Alfié e Quartel do Sacramento.[8] Na década de 1930, houve uma nova reconstrução com o objetivo de escoar a produção de madeira destinada a abastecer as usinas do Vale do Aço. Uma nova ponte começou a ser construída pela Acesita nas proximidades de Revés de Belém, mas a obra foi embargada em 1973, devido aos possíveis impactos ambientais à região. Essa se tornou a Ponte Perdida,[2] posteriormente aproveitada como ponto de monitoramento ambiental do Parque Estadual do Rio Doce.[9]

A Ponte Queimada também foi afetada pelas enchentes de 1979, mas apesar dos danos permaneceu em uso.[2] Nas décadas seguintes o caminho continuou a ser uma das principais ligações entre a Região Metropolitana do Vale do Aço e os atuais municípios de Pingo-d'Água e Córrego Novo.[7][10] No entanto, o asfaltamento da LMG-759, concluído em 2012,[11] ligando essas cidades ao Vale do Aço através da BR-458, desafogou o tráfego na antiga estrada e na ponte.[7][10] Em 7 de novembro de 2015, a Ponte Queimada ficou conhecida como um dos principais pontos de observação da passagem da lama da barragem de rejeitos que se rompeu em Mariana dois dias antes, reunindo curiosos e jornalistas.[12]

Contexto

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Apesar do asfaltamento da LMG-759, evitando a área de preservação, o caminho antigo ainda é o acesso mais curto entre Pingo d'Água e Córrego Novo a Marliéria e Timóteo.[13] A aparente fragilidade da estrutura, desgastada com o tempo, é vista com preocupação pelos usuários. Ocasionalmente reparos são realizados pela administração do Parque Estadual do Rio Doce em parceria com empresas da região.[1] No entanto, uma reforma ampla e mesmo sua abertura ao público é repulsada por órgãos ambientais, que apontam a estrada como local de entrada de caçadores e pescadores ilegais para o interior do PERD, haja vista que não há fiscalização permanente na área.[7]

Por conta de sua importância histórica, a administração de Marliéria iniciou um projeto de tombamento da ponte pelo IPHAN em 2018.[4] A travessia também é inventariada como patrimônio cultural do município de Pingo-d'Água.[5]

Panorama da Ponte Queimada sobre o rio Doce vista da saída do Parque Estadual do Rio Doce em Marliéria (na direção de Pingo-d'Água)

Referências

  1. a b Jornal Diário do Aço (10 de julho de 2015). «Ponte Queimada deve ganhar reforma em breve». Consultado em 12 de fevereiro de 2019. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019 
  2. a b c d e Melo, Deyse Lílian de Moura (dezembro de 2001). «O Parque Estadual do Rio Doce/MG e a qualidade de vida da população de seu entorno» (PDF). Universidade Federal de Viçosa (UFV). Locus UFV: 29–31. Consultado em 12 de fevereiro de 2019. Cópia arquivada (PDF) em 12 de fevereiro de 2019 
  3. Descubra Minas. «Parque Estadual do Rio Doce - Apresentação». Consultado em 12 de fevereiro de 2019. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019 
  4. a b Paulo César Reis (11 de novembro de 2018). «Marliéria apresenta Ponte Queimada como Patrimônio Histórico». Jornal Bairros Net. Consultado em 12 de fevereiro de 2019. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019 
  5. a b Jornal Diário do Aço (23 de agosto de 2023). «Ponte Queimada está interditada por tempo indeterminado». Consultado em 27 de agosto de 2023. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2023 
  6. LF Engenharia. «Mapa comprova a existência da Estrada Real do Degredo». Consultado em 12 de fevereiro de 2019. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019 
  7. a b c d Fundação Relictos (15 de julho de 2018). «A Ponte Queimada deve ser reformada?». Consultado em 12 de fevereiro de 2019. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019 
  8. Espindola, Haruf; Campos, Renata Bernardes Faria; Bernardes, Renata; Lamounier, Karla Cristine Coelho (dezembro de 2016). «Desastre da Samarco no Brasil: desafios para a conservação da biodiversidade». UniEvangélica. Fronteiras: Journal of Social, Technological and Environmental Science. Uso e Conservação da Biodiversidade: 76. ISSN 2238-8869. doi:10.21664/2238-8869.2016v5i3. Consultado em 12 de fevereiro de 2019. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019 
  9. Jornal Diário do Aço (23 de setembro de 2016). «PERD reinaugura Centro de Pesquisa da Ponte Perdida». Consultado em 12 de fevereiro de 2019. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019 
  10. a b Jornal Diário do Aço (16 de agosto de 2008). «ProAcesso deve ser agilizado». Consultado em 12 de fevereiro de 2019. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019 
  11. Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG) (30 de março de 2012). «12ª Cia Ind MAT – Implementa ações na rodovia LMG 759». Consultado em 12 de fevereiro de 2019. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019 
  12. Jornal Diário do Aço (7 de novembro de 2015). «Água e lama da catástrofe passaram pelo Vale do Aço». Consultado em 12 de fevereiro de 2019. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019 
  13. Jornal Diário Popular (14 de maio de 2013). «População pede conservação da estrada da "Mata do Parque"». Consultado em 12 de fevereiro de 2019. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019 

Ligações externas

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