Ponte de São João
A Ponte de São João é uma infraestrutura ferroviária que transporta a Linha do Norte sobre o Rio Douro, junto à cidade do Porto, em Portugal. Construída para substituir a já centenária Ponte D. Maria Pia, entrou ao serviço em 24 de Junho de 1991.[1]
Ponte de São João | |
---|---|
Arquitetura e construção | |
Estilo arquitetônico | Ponte ferroviária |
Design | Edgar Cardoso |
Mantida por | Infraestruturas de Portugal |
Término da construção | 1991 |
Data de abertura | 24 de Junho de 1991 |
Comprimento total | 1140 metros |
Geografia | |
Via | Linha do Norte |
Cruza | Rio Douro |
Localização | Porto, Portugal |
Coordenadas |
Descrição
editarAo contrário das outras pontes construídas até à data sobre o Rio Douro no Porto, a Ponte de São João não é em arco, mas em pórtico múltiplo contínuo, de pilares verticais, com três vãos, compostos por um central com 250 m, e dois laterais de 125 m, e suportados por dois pilares no leito do rio.[2] A estrutura principal é formada pela ponte em si, em conjunto com os viadutos de acesso, e tem um comprimento total de 1140 m.[2] É constituída por uma só peça contínua, de grandes dimensões, construída em betão armado e pré-esforçado, tendo os viadutos de acesso sido unidos de forma monolítica à ponte em si, formando assim uma continuidade natural.[2] Os viadutos terminam em encontros de betão armado de grandes dimensões, tendo o da margem esquerda 48 m de comprimento, enquanto que o oposto tem 62 m.[2]
A ponte principal apresenta uma superestrutura formada por uma viga-caixão de secção trapezoidal, bicelular, com uma altura que varia desde os 4 m nos viadutos, até aos 14 m nos tramos sobre os pilares do rio, com 7 m a meio do vão central.[2] Ambas as vias férreas assentam de forma directa na laje superior da viga-caixão, sendo a plataforma entre as linhas e as vigas nas bordas e no centro da ponte revestida de betão poroso, que serve como mecanismo de travagem em caso de descarrilamento.[2] As fundações dos pilares apresentam características distintas, variando de acordo com as cotas e os diferentes tipos de terrenos onde se encontram.[2] Do ponto de vista da engenharia, são igualmente de especial interesse as fundações dos dois pilares principais, que foram concebidas de forma a suportar grandes cargas, sendo cada uma das bases reforçada com 130 microestacas de betão armado, formadas por cinco varões de aço A 500 NR com 50 mm de diâmetro e com 12 m de extensão, que foram cravadas no fundo do rio, de natureza rochosa.[2]
Projectada pelo engenheiro Edgar Cardoso, a sua construção foi efetuada pelo consórcio FERDOURO-ACE, formado pelas empresas Sociedade de Construções Soares da Costa, Teixeira Duarte, e OPCA, Obras Públicas e Cimento Armado, S. A., e fiscalizada pela Bratex-Agrupamento para Consultaria e Gestão de Projectos, ACE; é propriedade da Rede Ferroviária Nacional.[2]
Transporta a Linha do Norte, em via dupla.[3]
História
editarAntecedentes e primeiros planos
editarEm 1934, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses já estava a planear construir uma segunda ponte sobre o Rio Douro junto ao Porto, como parte de um plano para construir um corredor ferroviário alternativo à Linha do Norte, facilitando as comunicações entre as regiões a Norte do Rio Douro e o centro do país.[4] Com efeito, a única ligação ferroviária sobre o Rio Douro no Porto até então era a Ponte D. Maria Pia, inaugurada em 1877,[3] e que estava a causar grandes estrangulamentos na circulação ferroviária por ser de via única, e ter grandes limitações de carga e de velocidade.[5][6]
Planeamento, construção e inauguração
editarEm 1966, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses idealizou a duplicação da via entre as estações de General Torres e Porto-Campanhã, sendo a travessia do Rio Douro realizada por uma ponte de via dupla, de traça semelhante à da Ponte da Arrábida.[5] Desta forma, a elaboração do anteprojecto da Ponte foi entregue ao engenheiro Edgar Cardoso, que tinha construído o viaduto da Arrábida.[7] Porém, devido aos elevados custos da obra, estimados em 120 milhões de Escudos, a companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses teve de optar por esperar que o III Plano de Fomento, que seria realizado entre 1968 e 1973, disponibilizasse os fundos necessários a este programa, ou esperar que algum empreiteiro aceitasse a obra, apenas recebendo o pagamento na altura do III Plano de Fomento.[5]
Os planos para a construção de uma nova travessia só foram retomados na década de 1980, com a criação do Gabinete da Ponte Ferroviária sobre o Rio Douro, através do Decreto-Lei n.º 307/81.[6] O Decreto-lei n.º 347, de 15 de Outubro de 1986, expandiu o Gabinete da Ponte Ferroviária sobre o Rio Douro, transformando-o no Gabinete do Nó Ferroviário do Porto, que passou a ter competências não só sobre a construção da nova travessia sobre o Douro, mas sobre toda a rede ferroviária metropolitana do Porto.[6] Assim, este empreendimento passou a estar inserido num programa maior para o desenvolvimento do Nó Ferroviário do Porto, composto pela rede de vias férreas que serviam a zona metropolitana da cidade.[6] Esta iniciativa originou-se na necessidade de melhorar a qualidade e capacidade dos comboios, especialmente nos serviços suburbanos, que estavam nessa altura a conhecer um importante aumento na procura.[6] Também se procurava melhorar o acesso aos comboios de mercadorias, numa perspectiva de valorização do Porto de Leixões.[6] O Gabinete do Nó Ferroviário do Porto dividiu as suas prioridades em dois grandes programas, tendo sido incluído no primeiro a requalificação do lanço entre Vila Nova de Gaia e Campanhã, incluindo a construção da nova ponte.[6] Assim, o Projecto 1 deste programa debruçou-se inteiramente sobre a construção da nova travessia sobre o Douro, em via dupla, e dos seus acessos até Gaia e Campanhã.[6] Na margem Sul, era composto pela remodelação da estação de Gaia, com novos cais, a construção do Viaduto das Devesas, da nova Estação de General Torres, de um novo túnel na Serra do Pilar, os aterros, escavações e uma passagem inferior no acesso à ponte, e o viaduto junto à ponte, com 360 m de extensão.[6] A ponte em si deveria ser formada por um vão central de 250 m entre os eixos dos pilares, mais dois vãos laterais, cada um com 125 m.[6] Na margem Norte, foi construído o viaduto de acesso, com 170 m, a estrutura no Morro da China, e a estacada de suporte para o tabuleiro da via, na direcção da gare de Campanhã, um viaduto sobre a Rua do Freixo, um laboratório estrutural, e várias outras obras complementares relativas à reorganização dos acessos e à integração urbanística das zonas onde foi realizado o projecto.[6]
Fazendo jus ao seu nome, a ponte foi inaugurada no dia de São João, em 24 de Junho de 1991.[7][8] A nova ponte foi construída junto à Ponte D. Maria Pia, que encerrou em meados desse ano.[3] No entanto, este empreendimento só foi oficialmente concluído nos princípios de 1994, quando terminou a empreitada para a construção da nova estação de General Torres.[6] O custo total deste projecto foi de 30.000.000 contos, dos quais 12.000.000 foram apenas para a construção da ponte, enquanto que o valor restante foi empregue nas obras de acesso e na instalação do novo terminal de General Torres.[6] Esta estrutura foi considerada, pelas suas dimensões e pelas suas formas, como a mais importante no âmbito da nova geração de pontes ferroviárias no território nacional, construídas em betão armado e pré-esforçado.[3]
Século XXI
editarA ponte sofreu obras de manutenção em 2020, que incluiram a substituição de betão delaminado, e que foram efetuadas sem afetar a circulação, orçadas num total de 0,843 milhões de euros.[9]
Projeta-se que os serviços de alta velocidade circulem por esta ponte, nas deslocações de e para a a Estação Ferroviária de Porto-Campanhã, terminal da ligação ferroviária de alta velocidade; para permitir a passagem das composições deste tipo, serão necessárias modificações nas vias.[10]
Ver também
editarReferências
- ↑ MARTINS et al, 1996:283
- ↑ a b c d e f g h i TAVARES e ESTEVES, 2000:110-111
- ↑ a b c d MARTINS et al, 1996:124
- ↑ «Os Caminhos de Ferro na Organização Nacional dos Transportes e do Turismo: Conferência pelo sr. Eng.º Vicente Ferreira» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 47 (1107). 1 de Fevereiro de 1934. p. 73-76. Consultado em 20 de Março de 2017 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ a b c «A Nova Ponte Sobre o Rio Douro» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 79 (1883). 1 de Junho de 1966. p. 125-126. Consultado em 20 de Março de 2017 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ a b c d e f g h i j k l m MARTINS et al, 1996:222-223
- ↑ a b «As Pontes que ligam Porto e Vila Nova de Gaia». Conhecer o Porto. 2008. Consultado em 28 de Fevereiro de 2010. Arquivado do original em 21 de junho de 2010
- ↑ REIS et al, 2006:189
- ↑ https://www.infraestruturasdeportugal.pt/pt-pt/centro-de-imprensa/beneficiacao-da-ponte-de-sao-joao-na-linha-do-norte
- ↑ «Governo com poucas novidades no projecto do TGV português». Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas. Consultado em 28 de Fevereiro de 2010[ligação inativa]
Bibliografia
editar- MARTINS, João; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel; et al. (1996). O Caminho de Ferro Revisitado: O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas
- REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X
- TAVARES, João; ESTEVES, Joaquim (2000). 100 Obras de Arquitectura Civil no Século XX: Portugal 2.ª ed. Lisboa: Ordem dos Engenheiros. 286 páginas. ISBN 972-97231-7-6
Leitura recomendada
editar- ANTUNES, J. A. Aranha; et al. (2010). 1910-2010: o caminho de ferro em Portugal. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e REFER - Rede Ferroviária Nacional. 233 páginas. ISBN 978-989-97035-0-6
- SOARES, Luís Lousada; et al. (2013). Edgar Cardoso: engenheiro civil / civil engineer. Col: Monografias. 6. Porto: Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. 424 páginas. ISBN 978-972-752-154-8
- VASCONCELOS, António; SANTO, Jorge Zúniga; et al. (2008). Pontes dos Rios Douro e Tejo. Lisboa: Ingenium. 129 páginas. ISBN 978-989-8149-02-2
Ligações externas
editar- «Página com fotografias das Pontes D. Maria Pia e de São João, no sítio eletrónico Railfaneurope» (em inglês)
- «Página sobre a Ponte de Sâo João, no sítio electrónico Wikimapia»
- «Documentário sobre a Ponte de São João, no sítio electrónico RTP Arquivos»