O Glúten e o Intestino

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O glten e o intestino

Rosana Maria Cardoso


Graduada em Nutrio pela Universidade Federal de Gois UFG Goinia - GO Especialista em Nutrio em Sade Pblica pela UNIFESP-EPM Especialista em Nutrio Clnica pela ASBRAN Especialista em Nutrio Clnica Funcional VP Consultoria Nutricional

Voc o que voc: COME, ABSORVE, UTILIZA e EXCRETA


Nutriente: Matria Prima 100.000.000.000 cls. org. 50.000.000 trocadas/dia

Formao Celular,

estrutural e funcional:
Neurotransmissores, hormnios, clulas de defesa, enzimas (digestivas e antioxidantes) ENERGIA

Cabelos Pele/ Unhas Msculos Utilizao adequada de gordura Qualidade do sono Equilbrio mental e emocional Relacionamento Social

Trato gastrointestinal/ digestrio:


Boca Faringe e Esfago Estmago Intestino delgado Duodeno Jejuno leo

Intestino Grosso Ceco Clon ascendente Clon Transnverso Clon Descendente Reto

Os sistemas nervoso, endcrino e imune recebem e mandam estmulos deste sistema, havendo uma complexa interao entre eles e como ns podemos perceber que embora o TGI humano tenha sido projetado para funcionar eficientemente, existem muitas oportunidades de tropeos e disfunes entre estes sistemas

Trato digestrio

Ingesto do alimento

Processo digestivo

Processo absortivo

Molculas grandes

Molculas menores

Utilizao

AS 7 FUNES DO TGI
ALIMENTOS
Nutrientes Minerais Vitaminas Fibras SECREES INTESTINAIS Eletrlitos Enzimas Protenas gua Lipdos Hormnios Neurotrnsmissor

Digestria Absortiva Excretria Detoxificao Imunolgica Endcrina Neurolgica

Bioflavides

CLON
MICROBIOTA

bactrias, vrus, fungos, parasitas

www.gsdl.com

Clinical Nutrition: A Functional Approach. IFM, 2009

Ns sabemos que h um crebro no intestino, por mais que este conceito parea inapropriado. O intestino feio mais intelectual que o corao e talvez tenha uma grande capacidade de sentimento.
Dr. Michael Gershon

Sistema nervoso entrico

O intestino o nico rgo capaz de funcionar totalmente independente do SNC

As paredes do trato gastrintestinal so recobertas por uma rede de


neurnios diretamente responsveis pela coordenao de todas as

funes digestivas

capaz de aprender, memorizar e produzir sensaes baseadas


em emoes, assim, como o estresse, as emoes podem desencadear reaes neuroimunes e neuroendcrinas atravs do eixo crebro-intestino

BOCA

DENTES E GENGIVA

MASTIGAO
Estmulo produo de enzimas pelo sistema digestivo Reduo do tamanho do alimento para melhor atuao enzimtica Preparam o alimento para a deglutio

SECREES SALIVARES : complexo mix de lubrificantes, enzimas e antimicrobianos

ESFAGO
Transporta o alimento da cavidade oral para o estmago - esfincteres
Clinical Nutrition: A Functional Approach. IFM, 2005

ESTMAGO
Cmara de estocagem de alimentos Mistura o bolo alimentar com as enzimas gstricas digestivas e HCL Prepara o bolo alimentar para ser liberado no intestino Secreo de fator intrnseco

SO CAUSADORES DA

M DIGESTO GSTRICA:
Stress fsico emocional mental ambiental Consumo de alimentos processados (sulfitos, etc...) Deficincia nutricional e aumento da carga txica

Mastigao insuficiente/ Ingesto de lquidos com a refeio


Menor eficincia enzimtica Consumo alimentar excessivo

Hipocloridria/ Dispepsia

CRESCIMENTO pH BACTERIANO INDESEJADO NO ESTMAGO E INTESTINO DELGADO

DIGESTO E ABSORO PREJUDICADAS

RUSSELL M. Micronutrient absorption and hypochlorhydria. J Am Coll Nutr. 1994;13(5):530. Zinc: absorption and role in gastrointestinal metabolism and disorders. Digestive Diseases. 2001;9:49-60.

Hipocloridria e Consequncias Nutricionais


a hipocloridria pode reduzir a
absoro de B6, cido flico, clcio, ferro, Zn, Mg, Mn e ainda predispor infeces
intestinais

A liberao da cobalamina da sua ligao s protenas do alimento exige um baixo pH

uma vez que a produo de HCl depende do Zn, baixos nveis de Zn podem indicar deficincia de HCl. No entanto no possvel absorver o Zn num estado de hipocloridria (O Zn est presente em todos os rgos, tecidos, fluidos e secrees do organismo...) RUSSELL M. Micronutrient absorption and hypochlorhydria. J Am Coll Nutr. 1994;13(5):530.
CARMEL R. Cobalamin, the stomach and aging. Am J Clin Nutr 1997;66:750-9. CHO C. Zinc: absorption and role in gastrointestinal metabolism and disorders. Digestive Diseases. 1991;9:49-60.

INTESTINO DELGADO Digerir e absorver nutrientes contidos na refeio Presena de alimento no duodeno retarda o
esvaziamento adicional do estmago

Digesto e absoro no intestino delgado so


auxiliadas pelos sucos digestivos do pncreas e bile

INTESTINO GROSSO Absoro de gua, sais e vitaminas fabricadas neste


rgo pela fermentao bacteriana- AGCC /gases

Armazenamento das fezes

O TGI faz a interface entre o hospedeiro humano e mundo externo, que est

em contato constante
com potenciais nutrientes, assim como

uma vasta quantidade de


micrbios, medicamentos, toxinas e

corpos estranhos.
Clinical Nutrition: A Functional Approach. IFM, 2005

Importncia da integridade fisiolgica e funcional do trato GI


rea do Corpo Humano de maior exposio ao meio ambiente

200 150 100 50 0


Pele Pulmes Gastrintestinal

Segundo a OMS 60% das doenas tm como base causas nutricionais

rea em m2

IMPORTANCIA DO INTESTINO NA IMUNIDADE MICROBIOTA INTESTINAL

BARREIRA MUCOSA

SISTEMA IMUNE ENTERICO

O intestino humano possui mais bactrias


e 100 vezes mais material gentico do que o total de clulas do organismo, sendo o habitat de 100 trilhes de microorganismos

Essa biomassa consiste em mais de 400 espcies bacterianas de importncia vital para nossa sade, com intensa atividade metablica

Pasteur L. Joubert JF, 1877. Charbon et septicmie. C R Soc Biol Paris. 1877;85:101-15.

Os microorganismos so necessrios para a vida humana normal

Metchnikof, Elie. 1908. tudes sur la flore intestinale. Ann. Inst. Pasteur Paris, 22:929-955 Metchnikof, E. 1910. tudes sur la flore intestinaleDeuxime mmoire. Ann. Inst. Pasteur Paris, 24:755-770
(ganhador do Premio Nobel de Medicina em 1908)

A composio da microbiota intestinal essencial para a sade e bem-estar do ser humano A interao entre o hospedeiro e estas bactrias muito importante

Escherich, Theodor. 1885. (Austraco) The intestinal bacteria of the neonate and breast-fed infants. Forschritte der Medizin, vol. 3. Includo no Rev. Infect. Dis. 10:1120-1225, 1988.

O conhecimento preciso da microbiota


essencial no apenas para entendermos a fisiologia da digesto, mas tambm para entendermos a patologia e o tratamento das doenas microbianas intestinais

O intestino possui o maior pool de clulas de clulas imunocompetentes do organismo, sendo seu desenvolvimento diretamente dependente de microorganismos intestinais

Efeitos da Microbiota Probitica


Nutricional Sntese de vitaminas (B1, B2, B3, B5, B6, cido flico, B12,
biotina, vitamina K. vitamina D)

Digestivo

Fabricao de enzimas digestivas Regulam os mov. intestinais e a absoro dos nutrientes

Metablica Auxiliam na destoxificao do organismo

Imuno.

Essenciais para maturao do sistema imune do intestino e sistmico Produo de substncias antimicrobianas Manuteno da barreira mucosa intestinal
Textbook of functional Medicine, IFM, 2005

Barreira Mucosa

Galland, L. Gastrintestinal Dysregulation. IFM 2008

NO INTESTINO... Quem garante esta imunidade?


GALT Tec. Linfide Associado ao Intestino Maior e mais complexa parte do sistema imune corpreo Produz 60% imunoglobulinas ~70% dos sinais
que ativam o Sist. Imunolgico 20% das Celulas Intestinais so Linfcitos !!! vem do intestino !!!!

MALT Tecidos Linfides Associados s Mucosas

Disbiose

Desequilbrio gastrintestinal Idade Microorganismos Dietas Medicamentos Estresse

DECLNIO DA FUNO DIGESTIVA

DESEQUILBRIOS IMUNES HORMONAIS INFLAMATRIOS

ALTERAO Ph PROPORCIONA CRESCIMENTO DE FUNGOS E PATGENOS

DISBIOSE INTESTINAL SISTEMA IMUNE ESTRESSADO

PRODUO DE TOXINAS REAES IMUNES E IMUNOCOMPLEXOS

PERMEABILIDADE INTESTINAL

Hipermeabilidade intestinal
Peptdeos dietticos

Cordain L, Toohey L, Smith MJ, Hickey MS. Modulation of immune function by dietary lectins in rheumatoid arthritis. Br J Nutr. 2000 Mar;83(3):207-17. Review

Gentilmente cedido por Pedro Bastos

Video hipermeabilidade

VOJDANI A., 2009

Cereais
Entre os mais conhecidos podemos citar o arroz, o trigo, o centeio, a cevada, a aveia, o milho, o sorgo e a quinoa Constituem alimentos concentrados So de fcil conservao

70% de carboidratos e tm cerca de 1 a 13% de protena

Cordain L..Cereal grains: humanitys double-edged sword. World Review of Nutrition and Dietetics 1999:84;19-73

Cereais
As protenas dos cereais podem ser classificadas, de acordo com a solubilidade:
Albuminas: solveis em gua Globulinas: solveis em solues salinas Gluteninas: solveis em solues cidas ou alcalinas Prolaminas: solveis em solues alcolicas

Cereais
Prolaminas Gliadina trigo Hordena cevada Secalina centeio Avenina aveia

TRIGO

gliadina glutenina juntas forma o GLTEN

Glten
Rede protica presente no trigo, centeio, cevada e aveia obtida da lavagem de farinha desses cereais, aps a remoo de amido

composto por duas fraes proticas, uma prolamina e a glutenina, que, quando combinadas, possuem a propriedade de formar , com a gua e energia mecnica, uma rede tridimensional viscoelstica, insolvel em gua. A gliadina aumenta permeabilidade intestinal

Fatores antinutricionais
As lectinas so glicoprotenas amplamente distribudas na natureza e de origem no imune que se ligam, especfica e reversivelmente, a acares.

Contribuem para a disbiose e aumento da permeabilidade intestinal

Cordain L. Cereal grains: humanitys double edged sword. World Rev Nutr Diet 1999; 84:19-73. Cordain L, Toohey L, Smith MJ, Hickey MS. Modulation of immune function by dietary lectins in rheumatoid arthritis. Br J Nutr. 2000 Mar;83(3):207-17.

Lectinas
Presentes em diversos alimentos Maioria benignas para o ser humano com exceo: Cereais
Trigo Centeio Cevada Aveia Milho

Leguminosas Outros alimentos


Cordain L. Cereal grains: humanitys double edged sword. World Rev Nutr Diet 1999; 84:19-73. Cordain L, Toohey L, Smith MJ, Hickey MS. Modulation of immune function by dietary lectins in rheumatoid arthritis. Br J Nutr. 2000 Mar;83(3):207-17.

Lectinas
Glicoprotenas presentes em vrios alimentos So resistentes coco e s enzimas proteolticas Podem interagir com diversas clulas do corpo e so reconhecidas como o maior antinutriente dos alimentos

Cordain L. Cereal grains: humanitys double edged sword. World Rev Nutr Diet 1999; 84:19-73. Cordain L, Toohey L, Smith MJ, Hickey MS. Modulation of immune function by dietary lectins in rheumatoid arthritis. Br J Nutr. 2000 Mar;83(3):207-17. Suzuki N, Khoo KH, Chen HC, et al. Isolation and characterization of major glycoproteins of pigeon egg white: ubiquitous presence of unique N-glycans containing Galalpha1-4Gal. J Biol Chem. 2001 Jun 29;276(26):23221-9.

MODELO DE ICEBERG CELACO

Componentes no desenvolvimento da doena celaca


Glten
Susceptibilidade gentica: HLA-DQ

Clulas T
Enzima tecidual transglutaminase

Predisposio genticas associadas com mudanas na flora e permeabilidade intestinal


Todas as clulas do nosso organismo produzem protenas HLA, cuja funo ligar-se a peptdeos (fragmentos proticos) e coloc-los na superfcie das mesmas (clulas)
As molculas HLA agarram os peptdeos derivados das protenas da bactria ou vrus e apresentam-nas aos Linfcitos T

Doena celaca: 95% HLA DQ8 e HLA-DQ2


Populao geral: 30-40% HLA DQ8 e HLA-DQ2

Funo Absortiva do Intestino Doena Celaca

Reaes adversas ao glten


Flatulncia Dor abdominal

Diarria
Fadiga Dor nas articulaes Perda de peso Deficincia de vitaminas: D, K, Ca, Mg, AF Doenas associadas

Doenas auto imunes e o consumo de cereais


Glten implicado em diversas DA
Dermatite Herpetiforme Sndrome de Sjogren Artrite Reumatide Nefropatia IgA Esclerose Mltipla Psorase

A complexa interao entre genes, molculas e o ambiente promove a sade ou cria a doena. Entender a interseo da dieta e da doena e o papel da nutrio na criao e na melhora da doena pratico e instrutivo. instrutivo porque a comida junto com o oxignio, so os substratos para vida e influenciam todo processo biolgico e cada ncleo que est clinicamente desregulado.

A dualidade da influencia da nutrio na sade impactante. Por uma lado nossa dieta habitual o principal agente de doenas crnicas degenerativas do nosso tempo e por outro lado, quando a cincia da nutrio clinica aplicada adequadamente, ela tem o poder de prevenir, reverter e at curar muitas doenas crnicas.

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