Pedagogia Diretiva
Pedagogia Diretiva
Pedagogia Diretiva
TENDÊNCIA TRADICIONAL
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
A grande discussão que agita os meios pedagógicos atualmente é a de se saber como o poder
do professor pode deixar de ser meramente um agente repressor para passar a ser também um
agente criador de atitudes e capacidades intelectivas que contribuirão para fazer do aluno um ser
criativo, responsável e atuante.
Em todo o lugar onde houver convivência, interações entre sujeitos, estarão sendo
produzidos saberes.
Por isto, a Pedagogia é uma forma de compreender a educação para além das paredes do
prédio escolar e o aprender é um processo que acontece sob a forma de relações em espaços
diferentes, nos quais o sujeito estabelece conexões entre sua subjetividade e o ambiente,
produzindo, assim, saberes. Portanto, tem-se a Pedagogia não apenas como uma possibilidade de
reflexão acerca do processo educativo nas suas dimensões sociais, históricas, filosóficas e
instrumentais.
Observando a história da educação no Brasil e com base nestas duas possibilidades surge a
classificação das correntes pedagógicas proposta a seguir:
c) Pedagogias críticas: surgidas nas duas últimas décadas e fruto de muitos estudos e teses,
constituem em estudos sobre o currículo enquanto recorte da sociedade levado para a escola. Visam
à proposta de uma escola que reflita sobre as composições societárias visando à emancipação dos
sujeitos a partir de suas aprendizagens. Nesta corrente, filia-se a pedagogia histórico-crítica.
Já se sabe que um espaço pedagógico eminentemente diretivo acaba por impedir a circulação
da liderança e a constituição da autonomia. Quando só o professor tem direito de fala e o exerce de
forma coercitiva não permite a mais ninguém a livre manifestação de ideias, interesses, o revelar da
historicidade. Em uma época como a nossa, de liberdades inúmeras, manter esta postura é ser, no
mínimo, incoerente e compactuar com a mediocrização dos sujeitos. O conhecimento produz-se em
situações de transferência e, para tanto, faz-se necessária a liberdade de expressão, de ação, o
diálogo.
A não-diretividade, por sua vez, precisa também estar embasada em alguns suportes, como o
respeito, o espaço para sistematização, a produção coletiva. Quando, em uma sala de aula,
4
confunde-se não-diretividade com ausência de regras ou o adulto infantiliza-se, o resultado é a não-
produção de conhecimentos, pois para esta acontecer é preciso, projeção no outro daquilo que eu
desejo.
Partindo da ideia de que existe um modelo ideal de ser humano caracterizado por
determinadas virtudes intelectuais, físicas e morais, para a pedagogia tradicional, o objetivo da
educação é incutir nos alunos conhecimentos, hábitos e valores compatíveis com esse “modelo de
homem ideal”.
Essa forma de relacionamento hierárquico e autoritário entre professor e alunos gera aquilo
que Paulo Freire (2003, p. 38) denominou de concepção bancária da educação: “O educando recebe
passivamente os conhecimentos que se deposita. Mas o curioso é que o arquivado é o próprio
homem, que perde assim seu poder de criar, se faz menos homem, é uma peça. O destino do homem
deve ser criar e transformar o mundo, sendo o sujeito de sua ação.”
Para exemplificar e, assim, configurarmos este modelo pedagógico é só entrar numa sala de
aula: é pouco provável que a gente se engane. O que encontramos? Um professor que observa seus
alunos entrarem na sala, aguardando que sentem, que fiquem quietos e silenciosos. As carteiras
estão devidamente enfileiradas e suficientemente afastadas uma da outra para evitar que os alunos
troquem conversas. Se o silêncio e a quietude não se fizerem logo, o professor gritará para um
aluno, xingará outra aluna, até que a palavra seja monopólio seu. Quando isto acontecer ele
começará a dar a aula.
Como é esta aula? O professor fala e o aluno escuta. O professor dita e o aluno copia. O
professor decide o que fazer e o aluno executa. O professor ensina e o aluno aprende. Se alguém
observasse uma sala de aula na década de 60 ou de 50, ou, quem sabe, de dois séculos atrás, diria,
provavelmente, a mesma coisa: falaria como Paulo Freire (citado por COTRIM, 1987, p. 294-295):
O aluno é tratado como mero depósito dos conhecimentos lançados pelo professor; educa-
se para se arquivar o que se deposita. [...] Nesta visão bancária da educação, os homens
sejam vistos como seres da adaptação, do ajustamento. Quanto mais se exercitem os
educandos no arquivamento dos depósitos que lhes são feitos, tanto menos desenvolverão
em si a consciência crítica de que resultaria a sua inserção no mundo, como
transformadores dele. Como sujeitos.
Por que o professor age assim? Muitos dirão, porque ele aprendeu que é assim que se ensina.
Parece-me lógico, mas não é suficiente. Então, por que mais? Talvez o Professor acredite que o
conhecimento pode ser transmitido para o aluno. Ele acredita no mito da transmissão do
conhecimento - do conhecimento enquanto forma ou estrutura; não só enquanto conteúdo.
Acreditando, portanto, numa determinada epistemologia. Isto é, numa “explicação” - ou, melhor,
crença - da gênese e do desenvolvimento do conhecimento, “explicação” da qual ele não tomou
consciência e que, nem por isso, é menos eficaz.
Diz um professor (BECKER, 1993, p. 19): O conhecimento "se dá à medida que as coisas
vão aparecendo e sendo introduzidas por nós nas crianças...”. Outro professor diz: O conhecimento
“é transmitido, sim, através do meio ambiente, família, percepções, tudo”. Outro, ainda: o
conhecimento se dá “na medida em que a pessoa é estimulada, ela é perguntada, ela é incitada, ela é
questionada, ela é, até, obrigada a dar uma resposta...”
Voltemos ao professor na sala de aula. O Professor considera que seu aluno é tabula rasa,
somente, quando ele nasceu, como ser humano, mas frente a cada novo conteúdo estocado na sua
grade curricular, ou nas gavetas de sua disciplina. A atitude, nós a conhecemos. O alfabetizador
considera que seu aluno nada sabe em termos de leitura e escrita e que ele tem que ensinar tudo.
Mais adiante, frente à aritmética, o professor, novamente, vê seu aluno como alguém que nada sabe
sobre somas e subtrações. No ensino médio, numa aula de física, o professor vai tratar seu aluno
como alguém sem nenhum saber sobre espaço, tempo, relação causal. Já na universidade, o
professor de matemática olha para seus alunos, no primeiro dia de aula, e “pensa”: “60% já está
reprovado!” Isto porque ele os concebe, não apenas como folha em branco na matemática que ele
vai ensinar, mas, por causa de sua concepção epistemológica, como estruturalmente incapazes, de
assimilar esse saber.
Como se vê, a ação desse professor não é gratuita. Ela é legitimada, ou fundada
teoricamente, por uma epistemologia. Segundo esta, o sujeito é totalmente determinado pelo mundo
do objeto ou meio físico e social. Quem representa este mundo, na sala de aula, é, por excelência, o
professor. No seu imaginário, ele, e somente ele, pode produzir algum novo conhecimento no aluno.
O aluno aprende se, e somente se, o professor ensina. O professor acredita no mito da transferência
do conhecimento: o que ele sabe, não importa o nível de abstração ou de formalização, pode ser
transferido ou transmitido para o aluno. Tudo o que o aluno tem a fazer é submeter-se à fala do
professor: ficar em silêncio, prestar atenção, ficar quieto e repetir tantas e quantas vezes forem
necessárias, escrevendo, lendo, etc., até aderir em sua mente, o que o professor deu.
Como se vê, esta pedagogia, legitimada pela epistemologia empirista, configura o próprio
quadro da reprodução de ideologia: reprodução de autoritarismo, da coação, da heteronomia, da sub
servência, do silêncio, da morte da crítica, da criatividade, da curiosidade. Nessa sala de aula, nada
8
de novo acontece: velhas perguntas são respondidas com velhas respostas. A certeza do futuro está
na reprodução pura e simples do passado. A disciplina escolar que tantas vítimas já produziu é
exercida com todo rigor, sem nenhum sentimento de culpa, pois há uma epistemologia, uma
psicologia e uma pedagogia que a legitimam. O aluno, egresso dessa escola, será bem recebido no
mercado de trabalho, pois aprendeu a silenciar, mesmo discordando, perante a autoridade do
professor, a não reivindicar coisa alguma, a submeter-se e a fazer um mundo de coisas sem sentido,
sem reclamar. O produto pedagógico acabado dessa escola é alguém que renunciou ao direito de
pensar e que, portanto, desistiu de sua cidadania e do direito ao exercício da política no seu mais
pleno significado; qualquer projeto que vise a alguma transformação social escapa a seu horizonte,
pois ele deixou de acreditar que sua ação seja capaz de qualquer mudança. O cinismo é seu jargão.
4 CONCLUSÃO
Ao educar, o educador já está produzindo uma prática geradora de uma teoria pedagógica,
posto que esta constitua aquela, de forma a não se saber onde começa uma e onde acaba a outra.
Para tanto, é necessário que o professor defina suas ferramentas teóricas, estabeleça pontos de
referências com os quais poderá exercer sua dimensão hermenêutica: atribuir sentidos, produzir
interpretações do que vive nas ações pedagógicas desenvolvidas, inserindo-as em uma vertente
teórica e tendo condições de propor a continuidade de uma reflexão-ação sobre seu projeto
educativo, cabendo-lhe analisar informações e teorias, construir um todo de conhecimentos sólidos
para fundamentar suas práticas pedagógicas.
Neste estudo, verificou-se que, a formação docente precisa incluir, cada vez mais, a crítica
epistemológica. Conclui-se que, não se desmonta um modelo pedagógico arcaico somente pela
crítica sociológica, mas sim, pela forma que vivenciamos e repensamos nossa prática pedagógica
para a formação de um indivíduo crítico, reflexivo que obtenha significados para suas ações e ainda
tenha consciência de impacto de suas ações na coletividade onde está inserido.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 27. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.