Um rei colocou um homem da classe média em uma gaiola para ser observado por um psicólogo. Inicialmente o homem protestou ferozmente contra o cativeiro, mas aos poucos parou de reclamar e passou a aceitar a situação. Ele acabou enlouquecendo e perdendo a noção de identidade, apenas repetindo frases vazias. O psicólogo ficou profundamente perturbado com os efeitos devastadores da experiência na mente humana.
Um rei colocou um homem da classe média em uma gaiola para ser observado por um psicólogo. Inicialmente o homem protestou ferozmente contra o cativeiro, mas aos poucos parou de reclamar e passou a aceitar a situação. Ele acabou enlouquecendo e perdendo a noção de identidade, apenas repetindo frases vazias. O psicólogo ficou profundamente perturbado com os efeitos devastadores da experiência na mente humana.
Um rei colocou um homem da classe média em uma gaiola para ser observado por um psicólogo. Inicialmente o homem protestou ferozmente contra o cativeiro, mas aos poucos parou de reclamar e passou a aceitar a situação. Ele acabou enlouquecendo e perdendo a noção de identidade, apenas repetindo frases vazias. O psicólogo ficou profundamente perturbado com os efeitos devastadores da experiência na mente humana.
Um rei colocou um homem da classe média em uma gaiola para ser observado por um psicólogo. Inicialmente o homem protestou ferozmente contra o cativeiro, mas aos poucos parou de reclamar e passou a aceitar a situação. Ele acabou enlouquecendo e perdendo a noção de identidade, apenas repetindo frases vazias. O psicólogo ficou profundamente perturbado com os efeitos devastadores da experiência na mente humana.
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O homem que foi colocado numa gaiola
Certa noite, o soberano de um pas distante estava de p janela, ouvindo vagamente
a msica que vinha da sala de recepo, do outro lado do palcio. Estava cansado da recepo diplomtica a que acabara de comparecer e olhava pela janela, cogitando sobre o mundo em geral e nada de particular. Seu olhar pousou num homem que se encontrava na praa, l embaixo aparentemente um elemento da classe mdia, encaminhando-se para a esquina, a fim de tomar um bonde para casa, percurso que fazia cinco noites por semana, h muitos anos. O rei acompanhou o homem em imaginao fantasiou-o chegando a casa, beijando distraidamente a mulher, fazendo sua refeio, indagando se tudo estava bem com as crianas, lendo o jornal, indo para a cama, dormindo, e levantando-se para sair novamente para o trabalho no dia seguinte. E uma sbita curiosidade assaltou o rei, que por um momento esqueceu o cansao. Que aconteceria se conservassem uma pessoa numa gaiola, como os animais do zoolgico? No dia seguinte, o rei chamou um psiclogo, falou-lhe de sua ideia e convidou-o a observar a experincia. Em seguida, mandou trazer uma gaiola do zoolgico e o homem de classe mdia foi nela colocado. A princpio ficou apenas confuso, repetindo para o psiclogo que o observava do lado de fora: Preciso pegar o trem, preciso ir para o trabalho, veja que horas so, chegarei atrasado! tarde comeou a perceber o que estava acontecendo e protestou, veemente: O rei no pode fazer isso comigo! injusto, contra a lei! Falava com voz forte e olhos faiscantes de raiva. Durante a semana continuou a reclamar com veemncia. Quando o rei passava pela gaiola, o que acontecia diariamente, protestava direto ao monarca. Mas este respondia: Voc est bem alimentado, tem uma boa cama, no precisa trabalhar. Estamos cuidando de voc. Por que reclama? Aps alguns dias, as objees do homem comearam a diminuir e acabaram por cessar totalmente. Ficava sorumbtico na gaiola, recusando-se em geral a falar, mas o psiclogo via que seus olhos brilhavam de dio. Aps vrias semanas, o psiclogo notou que havia uma pausa cada vez mais prolongada depois que o rei lhe lembrava diariamente que estavam cuidando bem dele durante um segundo o dio era afastado, para depois voltar como se o homem perguntasse a si mesmo se seria verdade o que o rei havia dito. Mais algumas semanas passaram-se e o prisioneiro comeou a discutir com o psiclogo se seria til dar a algum alimento e abrigo, a afirmar que o homem tinha que viver seu destino de qualquer maneira e que era sensato aceit-lo. Assim, quando um grupo de professores e alunos veio um dia observ-lo na gaiola, tratou-os cordialmente, explicando que escolhera aquela maneira de viver; que havia grandes vantagens em estar protegido; que eles veriam com certeza o quanto era sensata a sua maneira de agir etc. Que coisa estranha e pattica, pensou o psiclogo. Por que insiste tanto em que aprovem sua maneira de viver? Nos dias seguintes, quando o rei passava pelo ptio, o homem inclinava-se por detrs das barras da gaiola, agradecendo-lhe o alimento e o abrigo. Mas quando o monarca no estava presente o homem no percebia estar sendo observado pelo psiclogo, sua expresso era inteiramente diversa impertinente e mal-humorada. Quando lhe entregavam o alimento pelas grades, s vezes deixava cair os pratos, ou derramava a gua, e depois ficava embaraado por ter sido desajeitado. Sua conversao passou a ter um nico sentido: em vez de complicadas teorias filosficas sobre as vantagens de ser bem tratado, limitava-se a frases simples como: o destino, que repetia infinitamente. Ou ento murmurava apenas. . Difcil dizer quando se estabeleceu a ltima frase, mas o psiclogo percebeu um dia que o rosto do homem no tinha expresso alguma: o sorriso deixara de ser subserviente, tornara-se vazio, sem sentido, como a careta de um beb aflito com gases. O homem comia, trocava algumas frases com o psiclogo, de vez em quando. Tinha o olhar vago e distante e, embora fitasse o psiclogo, parecia no v-lo de verdade. Em suas raras conversas deixou de usar a palavra eu. Aceitara a gaiola. No sentia ira, zanga, no racionalizava. Estava louco. Naquela noite, o psiclogo instalou-se em seu gabinete, procurando escrever o relatrio final, mas achando dificuldades em encontrar os termos corretos, pois sentia um grande vazio interior. Procurava tranquilizar-se com as palavras: Dizem que nada se perde, que a matria simplesmente se transforma em energia e assim recuperada. Contudo, no podia afastar a ideia de que algo se perdera, algo fora roubado ao universo naquela experincia. E o que restava era o vazio. (MAY, Rollo. O homem procura de si mesmo, 9 edio, Petrpolis. Vozes, 1982, p. 121-3 Coleo Psicanlise VIII)