TM Ciganos e Infancia
TM Ciganos e Infancia
TM Ciganos e Infancia
RESUMO
negro vs. cigano), em que o primeiro factor intra-sujeitos e o segundo factor intersujeitos. As variveis dependentes foram as preferncias por contactos com alvos e as
atribuies das causas do sucesso dos alvos. Tal como esperado, num quadro de
comparao complexo, que envolve um grupo maioritrio e outro grupo minoritrio,
quer as crianas ciganas, quer as crianas negras, manifestam preferncias por contactos
mais elevadas pelo endogrupo do que pelo exogrupo minoritrio. Este resultados
indicam, em primeiro lugar, que no existe uma hierarquia de preferncias consensual
entre estes dois grupos. Em segundo lugar, estes resultados sugerem que a comparao
entre minorias que se torna relevante para estabelecer uma distintividade positiva. No
que diz respeito aos resultados das atribuies causais ao sucesso numa tarefa, no
quadro comparativo entre minorias, apenas as crianas negras expressam hostilidade
horizontal. O padro de atribuies causais expresso pelas crianas da maioria, apesar
de estabelecer uma hierarquia tnica menos clara do que em relao s preferncias por
contactos, consensual e coloca a inteligncia como causa distintiva do sucesso entre
brancos e ciganos.
Estes resultados mostram a importncia de variveis cognitivas e emocionais para a
compreenso das estratgias de aculturao no quadro infantil e a importncia do
processo de comparao horizontal nas percepes intergrupais.
ABSTRACT
The present study highlights the importance of studying in the domain of social
psychology studies with children (1) the acculturation strategies (in different life
contexts) of gypsy children and the emotional and behavioural responses they expressed
toward majority white Portuguese children as a function of cognitive-emotional
variables and of social identity (single and double), and (2) the importance of studying
horizontal comparisons between minority groups in ethnic hierarchy preferences and in
causal attributions for a succeed task.
In agreement with these aims, we conducted 2 studies. One, a correlational study with
61 gypsy children, showed that children with single identity (ethnic) self-stereotype
more the in-group and perceive more negative meta-emotions than children with double
identity (ethnic and national). The results also show that identity has an important role
in the adoption of a separation acculturation strategy, specially in the contexts home
and school, thus in this contexts children with simple identity choose more a
separation strategy than children with double identity. Concerning assimilation, results
evidence a different situation. This strategy is mainly adopted by children with double
identity, specially in contexts street and home. Nevertheless, the adoption of this
strategy on the context home is moderated by their meta-stereotypes and in the
context home is moderated by their perception of discrimination.
Following our second aim, we conducted an experimental study with 60 children
(white, black and gypsy) with a factorial design 3 (ethnic category of the target: white
vs. negro vs. gypsy) X 3 (ethnic category of participants: white vs. negro vs. gypsy); the
first factor is within-subjects and the second is between subjects. The dependent
variables were preferences for contact with the target groups and causal attributions for
NDICE
INTRODUO GERAL
1. Reflexes sobre o percurso histrico dos ciganos e das relaes com gadj
4. Plano do trabalho
10
ESTUDO 1
12
12
12
13
14
15
15
20
21
26
26
26
29
32
34
36
36
3. Objectivos
40
4. Mtodo
40
5. Resultados
53
65
ESTUDO 2
70
70
70
73
77
77
78
80
3. Objectivos e Hipteses
81
4. Mtodo
82
5. Resultados
86
92
CONCLUSES GLOBAIS
94
REFERNCIAS
101
Anexos
123
NDICE DE FIGURAS
Figura 1. Efeitos da pertena grupal das crianas sobre a quantidade
de contactos com diferentes grupos-alvo
88
90
NDICE DE QUADROS
Quadro 1.1: Auto-identificao primria e secundria
44
45
46
47
50
51
52
54
56
59
60
61
64
88
90
INTRODUO GERAL
1. Reflexes sobre o percurso histrico dos ciganos e suas relaes com os gadj1
A histria do mundo tem sido escrita atravs das relaes estabelecidas entre a
pluralidade dos grupos sociais que o constituem.
Oriundos da ndia, os primeiros Ciganos comearam a atravessar o Bsforo a partir
do ano 1000, tendo descoberto a Europa entre os sculos XIV e XV, em sucessivos
xodos. Em Portugal a sua entrada deu-se na segunda metade do sculo XV (Benites,
1997). Durante este perodo, os Ciganos tornaram-se nmadas, viajantes. No tendo um
lugar seu, so a-tpicos (Auzias, 1995/2001) e o seu pas , como afirmam, todo o
mundo (SOS Racismo, 2001). A sua bandeira simboliza o seu estado de esprito
nomadismo e liberdade e as designaes de Rom e Manuch reflectem esse
esprito por serem sinnimos de homem livre. A sua organizao social nica, dada
a existncia de leis prprias e de um tribunal prprio (Benites, 1997) e possuem uma
lngua particular, essencialmente grafa o roman ou romani, com diferentes
dialectos, ecos dos diferentes movimentos migratrios.
Os sucessivos xodos deram lugar existncia de trs grandes grupos: os Rom,
oriundos da Europa oriental e mais tradicionalistas, os Sinti ou Manush, marcados pela
longa estadia em Frana e mais ocidentalizados (Nunes, 1981), e os Gitanos ou Cal,
residentes na Pennsula Ibrica e detentores de um dialecto prprio o cal ,
diferenciados dos outros por se terem sedentarizado.
Por todo o mundo existe uma diversidade de designaes para os Ciganos. A
etimologia destes nomes reflecte a existncia de diferentes critrios: um critrio que
No ciganos (brancos)
conta o peso da sua histria, a sua cultura e a estigmatizao a que foram sendo sujeitos
pelos grupos sociais dominantes, particularmente na Europa, durante os ltimos 600
anos (Ortega, 1994). Apesar da constante estigmatizao e das medidas persecutrias,
assiste-se actualmente, no quadro europeu, a um crescente interesse pelas
particularidades da cultura Rom e pela promoo de medidas de integrao dos ciganos
na sociedade dos gadj. Ao nvel das polticas educativas europeias, os Ministros
Europeus aprovaram, em 1989, uma resoluo para a escolarizao das crianas ciganas
ou viajantes (Ligeois, 1986/2001). Em Portugal, o Secretariado Coordenador dos
Programas de Educao Multicultural do Ministrio da Educao apontava, no ano
lectivo de 1997/1998, cerca de 5500 crianas ciganas distribudas pelas escolas do 1
ciclo do ensino bsico. As novas polticas educativas conduziram implementao de
projectos de educao inter-cultural voltados para esta populao alvo. Um pouco por
toda a Europa, comearam a ser desenvolvidos esforos no sentido de sedentarizar as
populaes nmadas de modo a viabilizar a sua ligao com a escola, nomeadamente
atravs da interveno de mediadores ciganos e da criao, nos pases da comunidade,
de currculos escolares especficos, desenvolvendo materiais pedaggicos multiculturais
e integrando a cultura Rom na educao escolar e extra-escolar, como forma de
diminuio do absentismo. Na Finlndia, por exemplo, as crianas ciganas que vo
escola tm mais duas horas por semana de histria cigana e de roman, existindo j
livros para a aprendizagem desta lngua, outrora unicamente grafa.
Outros programas tm surgido mais voltados para a luta contra o racismo e contra a
xenofobia, como o que foi elaborado pelo Centro de Investigao Cigana da
Universidade Ren Descartes, em Paris, em parceria com associaes ciganas de
diferentes pases, nomeadamente com o Secretariado Coordenador dos Programas de
Educao Multicultural Portugus (Entreculturas) (Scrates Compendium, 2000).
Apesar dos esforos dispendidos, essencialmente nos ltimos quinze anos, pela
Comisso Europeia dos Direitos Humanos para o Desenvolvimento e Promoo Activa
da Cultura Cigana e, no obstante o crescente interesse pelo desenvolvimento de
medidas jurdicas de proteco deste grupo particular, desenvolvidas pela Comisso de
Eliminao da Discriminao Racial (CERD) e, mais particularmente, pelo Altocomissrio para a Imigrao e Minorias tnicas (ACIME) ou pelo REAPN (rede
europeia anti-pobreza) em Portugal, os grupos nacionais europeus continuam, no
entanto, a desenvolver maioritariamente polticas de converso dos Ciganos para o
sistema de valores sociais dominantes. O estabelecimento de legislao europeia, no
sentido de persuadir os Ciganos a abandonar algumas das suas tradies e o seu estilo
de vida nmada (ONions, 1995), um exemplo da manuteno destas polticas de
assimilao.
Alguns dados sugerem tambm que, apesar da recente implementao de programas
e medidas de combate discriminao racial, no quadro europeu permanece ainda um
continuado enraizamento de esteretipos e de avaliaes particularmente negativas
sobre os ciganos, com incidncia significativa no contexto portugus (SOS Racismo,
2001). Resultados recentes apontam, ainda, para a existncia de racismo flagrante em
relao aos ciganos (Correia, Brito & Vala, 2001), contrariamente ao racismo subtil
(e.g., Meertens & Pettigrew, 1999) a que se tem vindo a assistir nos ltimos anos,
relativamente aos negros e aos asiticos, um pouco por todo o mundo de dominncia
branca.
Os repetidos insucessos das tentativas de converso dos ciganos para o sistema de
valores das sociedades europeias, ao longo dos ltimos 600 anos, bem como o
enraizamento de esteretipos negativos no seio dos grupos dominantes europeus,
conduziram ontologisao deste grupo social (Chulvi & Prez, no prelo), construo
de uma representao do Cigano como um grupo a-social, uma raa animal que no
sabe viver em sociedade (Chulvi & Prez, 2003), numa verdadeira tentativa de
aniquilao da sua condio humana.
Face a uma simultnea invisibilidade social dos ciganos, que se encontra subjacente
sua excluso social e excessiva visibilidade negativa dos mesmos, assiste-se, por outro
lado, a um crescente esforo da sua parte, no sentido da adopo de medidas de insero
e de promoo social do seu povo. Existe hoje uma elite intelectual cigana europeia que
organiza e promove congressos e encontros, onde se debatem questes sobre a educao
e o futuro dos jovens ciganos, onde se esbatem sentimentos de medo e desconfiana
sobre a escolarizao das mulheres ciganas, e onde se equaciona a prpria relao com
os gadj.
Como acontece com a maioria dos grupos minoritrios, no campo da investigao em
Psicologia Social, os Ciganos tm sido considerados sujeitos passivos, devido
tendncia para incriminar e imputar s minorias a responsabilidade da discriminao a
que so sujeitas (Moscovici & Prez, 1999), fenmeno reflectido nas polticas europeias
que
implicam,
predominantemente,
uma
adaptao
unilateral
dos
grupos
O presente trabalho visa, assim, contribuir para a investigao que tem sido feita com
membros de minorias dominadas, e nomeadamente em contexto infantil, tentando
colmatar o que julgamos serem algumas lacunas deste campo de pesquisa. Deste modo,
um dos nossos objectivos consiste em compreender a dinmica psicolgica e relacional
da minoria cigana, numa situao de comparao com crianas da maioria branca e
numa situao de comparao no s com os membros da maioria, mas tambm com
membros de um grupo de igual estatuto minoritrio o grupo de crianas negras.
4. Plano do trabalho
A leitura do presente trabalho poder ser feita em trs partes. Numa primeira parte
comearemos por apresentar um breve enquadramento terico ao primeiro estudo que
realizmos, cujo objectivo consiste em testar o papel moderador de variveis cognitivoemocionais na relao entre a identidade e as estratgias de aculturao que as crianas
ciganas pretendem adoptar para diferentes esferas da sua vida, e entre a identidade e as
emoes e comportamentos que as crianas ciganas expressam em relao s crianas
da maioria. Nesta primeira parte sero revistos alguns dos conceitos e perspectivas de
anlise do quadro terico da Psicologia Social e da Psicologia Social do
Desenvolvimento, que assumem um papel fundamental no contexto da nossa pesquisa,
sublinhando-se, particularmente, a perspectiva terica da identidade social (Tajfel &
Turner, 1979) e da auto-categorizao (Turner et al., 1987). Sero, tambm, abordadas
algumas das perspectivas tericas que se debruam sobre os conceitos de autoesteretipos, meta-esteretipos, meta-emoes, e percepo de discriminao, e sobre as
estratgias de aculturao. De seguida, ser descrito o primeiro estudo, correlacional,
conduzido com crianas ciganas sendo, depois, descritos e discutidos os seus principais
resultados.
Na segunda parte deste trabalho faremos uma breve reviso de literatura sobre duas
temticas fundamentais: (1) o processo de comparao social, estudado inicialmente por
Festinger (1954) e, mais tarde enquadrado nas pesquisas de Allport (1954) e de Tajfel e
Turner (1979), bem como os novos desenvolvimentos tericos deste campo de pesquisa,
que tm salientado o processo de comparao entre grupos minoritrios (Pettigrew,
1979; White & Langer, 1999). Decorrente desta problemtica, analisa-se o papel do
processo de comparao nas avaliaes inter e intragrupais. Outra temtica, revista
nesta segunda parte, remete para os modelos tericos sobre as atribuies causais e
sobre os enviesamentos atribucionais intergrupais. De seguida apresentado o segundo
estudo, quase-experimental, conduzido com crianas ciganas, negras e brancas, cujos
objectivos consistem em, por um lado, verificar a importncia das comparaes
horizontais entre grupos minoritrios na hierarquizao das preferncias tnicas e, por
outro, verificar o efeito da pertena tnica grupal e da pertena tnica do alvo nas
atribuies causais para uma tarefa bem sucedida, quando esto disponveis
comparaes horizontais entre grupos minoritrios. O final da segunda parte reservado
apresentao e discusso dos resultados do estudo.
Terminamos este trabalho com a apresentao das concluses gerais, apontando
crticas e limitaes, e sugerimos algumas direces que a investigao futura neste
domnio poder tomar.
ESTUDO 1
A Teoria da Identidade Social (TIS), associada aos nomes de Tajfel e Turner (1986),
uma teoria de fenmenos e processos intergrupais. Apesar de, inicialmente, a TIS no
ter sido formulada para ter em conta os processos grupais em crianas, existem algumas
investigaes que, desde cedo, do conta da importncia da sua aplicao a este grupo
particular (e.g., Deschamps & Doise, 1978; Lemaine, 1974; Milner, 1983; Tajfel,
Flament, Billig & Bundy, 1971; Vaughan, 1978).
Desenvolvido a partir dos anos 70 (Tajfel, 1974, 1978a), o conceito de identidade
social assume, no quadro da TIS, uma posio explicativa privilegiada da diferenciao
e discriminao sociais (Brown, 2000; Deschamps, 1991; Hinkle & Brown, 1990;
Tajfel, 1981/1982;).
De acordo com Tajfel (1981/1982), a identidade social, por oposio identidade
pessoal, deriva do conhecimento que o indivduo detm sobre as categorias sociais s
quais pertence, bem como do valor e significado emocional que atribui a essa pertena.
Esta conceptualizao tridimensional da identidade social, postulada inicialmente por
Tajfel e evidenciada empiricamente no decorrer das ltimas dcadas (para uma reviso
ver Jackson, 2002; Jackson & Smith, 1999), enfatiza, assim, uma componente cognitiva,
relativa ao conhecimento da pertena ao grupo, uma componente avaliativa, respeitante
ao valor da pertena, e uma componente afectiva, que corresponde ao significado
emocional dessa pertena.
membros do exogrupo (Postmes, Branscombe, Spears & Young, 1999; Operario &
Fiske, 2001).
Quando dois grupos interagem entre si, surge o que Redfield, Linton e Herskovits
(1936) designaram por aculturao. De acordo com estes autores, este processo
compreende os fenmenos que surgem quando grupos de indivduos de diferentes
culturas se encontram em contacto, conduzindo a subsequentes mudanas nos padres
da cultura de origem de ambos os grupos (...) (p. 153, citado por Berry et al., 1986).
Desta definio decorrem duas consideraes. A primeira que, apesar desta definio
conceptual, na prtica, o processo de aculturao tende a induzir mais mudanas num
grupo do que noutro (Berry, 1997). A segunda considerao consiste em constatar que,
no obstante o conceito de aculturao ser largamente usado na literatura, o mesmo no
deixa de ser criticado por ter perdido o seu significado inicial, sendo cada vez mais
confundido com o conceito de assimilao (Berry, 1997).
Nesta linha, a literatura tem descrito diversos modelos que permitem analisar as
relaes entre os grupos de imigrantes e as sociedades de acolhimento (para uma
reviso ver Liebkind, 1999; Nguyen & Eye, 2002). Alguns autores (e.g., ver Franco,
1983) propem um modelo bipolar, no qual o processo de aculturao considerado
como um processo assimilativo: as minorias adquirem ou no comportamentos e valores
da sociedade de acolhimento, o que conduz existncia de indivduos com elevada
aculturao e indivduos com baixa aculturao, respectivamente. A manuteno da
cultura do endogrupo e os contactos com a maioria dominante so considerados
fenmenos bipolares, de um mesmo continuum.
Contrariamente aos modelos bipolares, outros autores propem um modelo bidimensional de aculturao. A este propsito, Ryder, Alden e Paulhus (2000),
comparando os modelos bipolar e bi-dimensional, em trs estudos distintos, concluram
que estes ltimos possuem maior validade e mostram ser mais teis na
operacionalizao do conceito de aculturao.
No mbito dos modelos tericos bidimensionais, o modelo clssico de Berry (1980)
um dos modelos que tem recebido mais suporte emprico. De acordo com este
modelo, existem diferentes estratgias de aculturao que so formadas a partir da
resposta dada a duas questes distintas: importante manter a identidade e as
independentes (e.g., Lopes, no prelo; Khan & Vala, 1999). Estes resultados no so,
todavia, surpreendentes, j que o prprio Berry (1980) tinha sugerido uma anlise
cuidada do seu modelo de aculturao, uma vez que este deveria ser visto como um
modelo ideal.
O modelo clssico de Berry pressupe, ainda, que os grupos dominados,
nomeadamente os grupos de imigrantes, escolhem livremente a estratgia que
pretendem adoptar, o que habitualmente no acontece. As estratgias de relao dos
imigrantes com a sociedade dominante no sero independentes das estratgias que esta
pretende e impe aos mesmos. Nesta linha, um considervel leque de pesquisa tem-se
centrado, no apenas na anlise e compreenso das estratgias de aculturao das
minorias, mas tambm das maiorias dominantes (Berry, 2001). Particularmente,
Bourhis, Moise, Perreault e Sncal (1997) sugerem um outro modelo que enfatiza as
orientaes de aculturao da sociedade de acolhimento e o modo como esta poder
influenciar as orientaes adoptadas pelo grupo de imigrantes. semelhana do modelo
de Berry e colaboradores (1989), esta anlise feita a partir de duas questes: Aceitase que o grupo minoritrio adopte a cultura da sociedade de acolhimento? e Pretendese que o grupo minoritrio conserve a sua identidade?. A resposta a estas questes d
origem a quatro estratgias da sociedade de acolhimento em relao s minorias: uma
estratgia
integracionista,
uma
estratgia
assimilacionista,
uma
estratgia
uma estratgia de separao. Tambm Verkuyten (2002) constatou que, quanto maior
for a identificao com o endogrupo, maior a probabilidade dos membros pretenderem
preservar a sua cultura de origem.
Apesar da escassez de pesquisa centrada sobre as estratgias de aculturao e da
relao destas com a identidade dos indivduos, no contexto portugus, recentemente,
Neto (2000) averiguou as estratgias de aculturao em adolescentes timorenses que
vivem em Portugal e verificou uma relao entre a identidade e as estratgias de
aculturao. Mostrou, nomeadamente, que quanto mais os indivduos escolhem uma
estratgia de separao, maior o grau de identificao com o grupo timorense.
verificando-se
que
totalidade
das
crianas
inglesas
se
auto-categorizava
No que diz respeito s crianas ciganas, o papel da cultura e da Lei cigana parece
ser habitualmente enfatizado e lembrado, o que poder tornar a sua identidade tnica
mais saliente. De facto, de acordo com o Grupo de Trabalho para a Igualdade e Insero
dos Ciganos (1998), na generalidade, os ciganos portugueses continuam a reconhecerse numa identidade cultural assente num cdigo de honra especfico, numa lngua, o
cal, na procura de manuteno de uma identidade prpria face aos no ciganos (p.
17).
Dada a inexistncia de uma caracterizao inicial da(s) identidade(s) das crianas
ciganas, no contexto portugus, este aspecto constitui-se como um primeiro objectivo
que nos propomos no presente trabalho. Como foi sublinhado, a possibilidade que pode
ser dada aos indivduos no sentido de se auto-categorizarem em mais de uma categoria
social, deve ser um aspecto a ter em conta quando se pretende medir a sua identidade.
Neste sentido e semelhana de outros autores (Liebkind, 1999; Maurcio & Monteiro,
2002; Phinney, 1990; Ros et al., 2000), no presente trabalho procurmos possibilitar um
processo de categorizao alargado a mais do que uma categoria social, com o intuito de
averiguar a que categoria ou categorias sociais as crianas ciganas recorrem para se
auto-categorizar.
A caracterizao psicossocial das dimenses tnica e nacional da identidade social
das crianas ciganas, , simultaneamente, ponto de partida para uma anlise da relao
existente entre essas identidades e as estratgias de aculturao que as crianas ciganas
pretendem adoptar na sua relao com a sociedade maioritria, fenmeno que no foi
ainda analisado no contexto portugus, nem com membros desta minoria e nem dentro
de um quadro infantil. E dado o carcter contextual das estratgias de aculturao,
intergrupais
(Gaertner
&
Dovidio,
2000;
Hewstone,
2000).
No seguimento dos trabalhos iniciais sobre categorizao cruzada (e.g., Brown &
Turner, 1979; Deschamps & Doise, 1978), outros modelos tericos reflectem as
tentativas que a investigao tem feito no sentido de activar, intencionalmente,
identificaes com grupos de pertena diferentes, com base na manipulao de duas
dimenses categoriais (activao simultnea de uma identidade grupal nacional, e de
uma identidade subgrupal regional ou tnica, por exemplo), e analisar os efeitos dessa
manipulao sobre o aumento ou reduo do favoritismo endogrupal. Nestes modelos
postulada a possibilidade de escolha de diferentes identidades, ou de identidades em
diferentes graus de inclusividade. Os modelos das identidades duais hierarquizadas
(ver Brewer & Gaertner, 2001) ou da identidade dual (e.g., Gaertner & Dovidio,
2000) so um exemplo daqueles. Estes modelos sublinham a possibilidade de,
simultaneamente, os indivduos se perceberem como membros de grupos diferentes (o
que conduz a uma maior percepo de diferenciao) e como membros de uma entidade
supra-ordenada (o que conduz a uma maior percepo de inclusividade e de
semelhana).
Recentemente, Ros, Huici e Gmez (2000), nas suas pesquisas sobre a identidade
comparativa, verificaram que a identificao alta em ambas as categorias (regio e
nacionalidade), torna cada uma delas menos saliente, o que conduz reduo de
enviesamentos pr-endogrupo.
O facto do conceito de auto-categorizao estar teoricamente associado ao estudo das
cognies, atitudes e comportamentos intra e intergrupais (Tajfel & Turner, 1986),
torna-o um importante ponto de partida para compreender os enviesamentos
intergrupais. nesta linha que devemos sublinhar que os modelos referidos
anteriormente enfatizam que a reduo da salincia das categorias de pertena diminui
os julgamentos baseados nas representaes do endogrupo e do exogrupo o que,
Tal como acontece no mbito dos esteretipos, a literatura tem-se centrado nas
emoes, geralmente negativas, que as maiorias expressam em relao s minorias (e.g.,
Leyens et al., 2000), no valor preditivo dessas emoes sobre a avaliao de exogrupos
minoritrios (Esses, Haddock e Zanna, 1993), e sobre as atitudes em relao a diferentes
grupos minoritrios (Stangor, Sullivan & Ford, 1991). Nesta linha, Vala, Brito e Lopes
(1999) verificaram que, comparativamente aos esteretipos, as emoes so um melhor
preditor das atitudes em relao aos imigrantes negros em Portugal. Estudos recentes
tm sublinhado tambm o efeito mediador das emoes em contextos intergrupais.
Mackie, Devos e Smith (2000) verificaram que o efeito da percepo do endogrupo
como um grupo forte, sobre a inteno de agir contra um dado exogrupo, mediado
pela raiva sentida contra este ltimo.
Como foi j sobejamente sublinhado, a situao de interaco activa um conjunto de
meta-esteretipos. Nesta linha, poderemos tambm equacionar a possibilidade de
activao do que poderemos designar por meta-emoes integrupais, e que podero
corresponder a crenas que os membros de um determinado grupo apresentam acerca
das emoes que outros grupos detm sobre eles.
No que diz respeito discriminao que a maioria expressa sobre a minoria cigana,
em geral, e no quadro europeu, no ser difcil encontrar casos exemplificativos. Como
j tivemos oportunidade de sublinhar, o carcter discriminatrio e racista das medidas
persecutrias adoptadas para com os ciganos foi uma constante durante os ltimos cinco
sculos. Em 1985 subsistia ainda, no nosso ordenamento jurdico, um preceito que
determinava que a GRN exercesse uma especial vigilncia sobre os nmadas, isto ,
sobre os ciganos (Costa, 1995)2. Tambm em Espanha, o caso Valdemingomz perto
de Madrid, que envolveu a deportao de famlias ciganas para uma lixeira de produtos
qumicos, ou na Hungria, o facto de algumas crianas ciganas terem sido proibidas de
frequentar o bar das escolas, so exemplos dos continuados comportamentos
discriminatrios para com este grupo social particular.
Tendo em conta, uma vez mais, o peso da histria entre ciganos e gadj, no
podemos deixar de nos questionar acerca das prprias percepes de discriminao dos
ciganos. Por outro lado, pese o facto da pesquisa se ter debruado fundamentalmente
sobre a discriminao que a maioria expressa sobre a minoria cigana, parece-nos
importante averiguar tambm o papel da percepo de discriminao, dos metaestretipos e das meta-emoes que os ciganos percepcionam por parte da maioria, no
apenas sobre os comportamentos que os ciganos expressam em relao maioria, mas
tambm sobre emoes que so despertadas aquando dessa interaco.
Em Maio de 1993 a Cmara Municipal de Ponte de Lima ordenou aos indivduos de etnia cigana que
abandonassem o concelho no prazo de oito dias e que de futuro apenas permanecessem 48 horas; no
entanto, esta ordem foi impedida por reaco do Procurador da Repblica e do Provedor da Justia.
Existe alguma evidncia emprica que aponta tambm para o valor preditivo da
percepo de discriminao e de hostilidade em relao ao endogrupo sobre uma fraca
adaptao a longo prazo (ver Berry, 1997), bem como a uma maior relutncia quanto
adopo de uma estratgia de assimilao (Berry, Kim, Power, Young & Bujaki, 1989).
Recentemente, Lopes e Vala (no prelo) verificaram que, quer a percepo de
etnicizao, quer a percepo de racializao por parte dos jovens negros residentes em
Portugal, podero facilitar a adopo de uma estratgia de separao.
Uma vez que a pesquisa sobre os auto e meta-esteretipos se tem mostrado relevante
pelas suas implicaes no mbito das relaes integrupais e dada a possibilidade, que
colocamos, de activao, em situao de interaco, de meta-emoes integrupais,
poderemos questionar-nos tambm acerca do papel, no s da percepo de
discriminao, mas tambm destas duas variveis sobre as estratgias de aculturao.
De que modo que estas variveis tm sido estudadas no quadro infantil? a esta
questo que pretendemos responder de seguida.
alguns estudos apontam para uma imagem anti-social e agressiva dos ciganos, associada
a uma crescente falta de tolerncia para com as crianas ciganas (Alcalde, 1997). Estas
representaes negativas dos ciganos so tambm difundidas nos livros, o que faz com
que se reforce a aquisio de esteretipos pelas crianas, desde o incio da escolaridade
(Ligeois, 1986/2001).
Algumas variveis parecem contribuir para a construo de esteretipos em crianas,
nomeadamente o processo de auto-categorizao, a pertena grupal das crianas (Aboud
& Amato, 2000), o desenvolvimento de processos scio-cognitivos, que so adquiridos
em diferentes fases do desenvolvimento infantil (Aboud, 1988), e a aprendizagem de
um conjunto de crenas acerca dos grupos sociais (Mackie, Hamilton, Susskind &
Rosselli, 1996).
semelhana do que acontece com os adultos, o processo de auto-categorizao nas
crianas parece ser suficiente para gerar a percepo de diferenas entre grupos e
semelhanas (ou homogeneidade) intragrupais (e.g., Doise, Deschamps & Meyer,
1978), o que, por sua vez, conduz a enviesamentos endogrupais, que se traduzem num
maior favoritismo endogrupal e em comportamentos de discriminao em relao aos
exogrupos. Um dos estudos iniciais que incidiu sobre esta problemtica foi realizado
por Tajfel, Flament, Billig e Bundy (1971), mas estudos recentes tm continuado a
mostrar resultados semelhantes. Bigler, Jones e Lobliner (1997) mostraram que a mera
salincia de diferenas perceptivas entre grupos despoleta atitudes estereotpicas e
enviesamentos intergrupais em crianas.
Em geral, as crianas com 3-4 anos parecem exibir j atitudes intergrupais negativas.
No entanto, o desenvolvimento destas atitudes difere consoante a sua pertena
categorial. As crianas da maioria parecem expressar um crescente favoritismo
endogrupal e preconceitos em relao s minorias, atingindo um nvel elevado por volta
dos 5-6 anos (e.g., Yee & Brown, 1992). Um considervel nmero de estudos tem
mostrado, no entanto, que por volta dos 7 anos cerca de metade das crianas da maioria
comea a expressar uma tendncia inversa (ver Aboud & Doyle, 1995), e que esta
diminuio parece prevalecer at por volta dos 12 anos ou mais (ver Aboud, 1988; ver
Brown, 1995). Por sua vez, os estudos conduzidos com crianas de diferentes minorias
tm mostrado que a expresso de atitudes ou avaliaes tnicas por parte destas crianas
parece sofrer uma grande variabilidade, particularmente at aos 7 anos de idade (Aboud,
1988).
Contrariando a viso tradicional, a pesquisa actual tem mostrado, assim, que as
crianas no se tornam gradualmente mais preconceituosas, e assiste-se a uma relao
em U invertido entre a idade e o preconceito (ver Aboud & Amato, 2001). O
desenvolvimento de determinados processos scio-cognitivos durante o estdio
operatrio, parece contribuir tambm para a reduo do preconceito em idades
superiores a 7 anos. Nomeadamente por volta dos 8-10 anos, as crianas comeam a dar
maior ateno aos indivduos e no aos grupos (como acontece numa fase anterior), o
que reflecte a aquisio de processos cognitivos mais flexveis, que permitem minimizar
as diferenas intergrupais, apreciar as diferenas individuais e usar categorias cruzadas.
Nesta linha, recordamos o estudo inicial de Deschamps e Doise (1978) sobre a
categorizao cruzada com 12 crianas de 9 e 10 anos, que mostra a importncia deste
tipo de categorizao na reduo da discriminao intergrupal.
Os estudos com crianas em Portugal vieram, no entanto, pr em causa, quer a viso
tradicional, quer a recente proposta de Aboud e Amato (2001), ao introduzirem nessa
investigao medidas indirectas de discriminao intergrupal. Esses estudos mostraram
que no h qualquer recesso nessa discriminao a partir dos 8 anos (Frana &
Monteiro, 2002), e que ela pode mesmo mostrar-se bastante intensa num quadro de
acentuao categorial e de interaco competitiva (Rebelo, Matias & Monteiro, 2002).
3. Objectivos
4. Mtodo
Participantes
Dois motivos concorrem para a frequncia de crianas ciganas mais velhas nos primeiros quatro anos do
1 ciclo do ensino bsico: o absentismo escolar e a entrada tardia para a escola que ocorre, muitas vezes,
entre os 7 e 8 anos de idade.
Algumas consideraes adicionais decorrem deste estudo inicial: verificmos que existem vrias
designaes para as crianas do grupo dominante: senhores/senhoras, pailhos/ pailhas,
lacorrilhos/lacorrilhas. Verificmos tambm que as crianas ciganas manifestaram dificuldade
relativamente compreenso da estratgia de marginalizao proposta por Berry.
Procedimento
Instrumento
Para uma melhor compreenso dos mesmos, as escalas de pontos sobre as quais as crianas
responderam, foram construdas em cartolina, sendo as mesmas colocadas em cima de uma mesa,
permitindo, desta forma, que a crianas se posicionasse na mesma.
Todas as crianas que fazem parte da amostra escolheram uma categoria de autoidentificao primria, sendo que em 93.4% dos casos a categoria de auto-identificao
primria mais escolhida foi cigano, seguindo-se as categorias portugus (3.3%) e
outra (3.3%). Do total da amostra, apenas 41% das crianas escolheram uma categoria
57
2
2
0
61
93.4
3.3
3.3
0
100
Auto-identificao secundria
Frequncia
Percentagem
4
21
0
0
25
6.6
34.4
0
0
41
Frequncia
Percentagem
32
21
8
61
52.5
34.4
13.1
100
b) Auto-esteretipos e meta-esteretipos
Auto-esteretipos Foram seleccionados os dez atributos mais frequentes do estudo
prvio como medida dos auto-esteretipos, tendo sido apresentados em forma positiva
(5 atributos) e em forma negativa (5 atributos): so simpticos, batem nos outros
meninos, so inteligentes, tm roupas feias, cantam e bailam bem, vm sujos
para a escola, aprendem bem, so pobres, vo escola e so feios. As crianas
respondiam pergunta, como que so as crianas ciganas? sobre uma escala de 4
pontos: 4 - muitssimo assim, 3 - muito assim, 2 - pouco assim, 1- nada assim.
Para avaliar a organizao interna dos 10 atributos, realizmos uma anlise factorial
em componentes principais com rotao ortogonal dos eixos (rotao varimax). Os
resultados encontrados mostram que os indicadores se organizam em 2 factores que
explicam 45% da varincia total (Quadro 1.3). Designmos o factor 1 por
competncia e o factor 2 por aparncia. Na anlise estatstica, utilizaram-se as
mdias dos atributos que integram cada factor. Os atributos batem nos outros meninos
e cantam e bailam bem no foram retidos por saturarem em ambos os factores.
Factor 1
Competncia
.787
.738
.669
.474
.136
.004
-.217
.002
23.8%
.60
2.45
.54
Factor 2
Aparncia
.006
-.004
.233
-.208
.704
.685
.582
.581
21.8%
.53
1.82
.46
Factor 1
Competncias
.791
.772
.670
.656
.648
.002
-.009
-.189
32.06%
.75
2.45
.53
Factor 2
Aparncia
.002
-.007
-.152
-.297
-.297
.831
.782
.781
25.34%
.72
1.97
.59
c) Emoes e meta-emoes
Emoes das crianas ciganas relativamente s crianas da maioria Para a medio
das percepes sobre as emoes das crianas ciganas estas respondiam questo
como se sentem os (as) meninos(as) ciganos(as) quando esto a brincar com um(a)
senhor(a)?. A resposta foi dada numa escala bipolar de 5 pontos nas seguintes
dimenses: muito tristes(5)- muito contentes(1); com muito medo(5)-sem medo(1);
muito irritados(5)-muito calmos(1). Foi construdo um ndice com apenas duas das 3
dimenses emocionais muito tristes-muito contentes e muito irritados-muito calmos ,
uma vez que o alfa de Cronbach para as 3 dimenses no era aceitvel (inferior a .60).
Assim, o ndice que designmos por emoes dos ciganos em relao s crianas da
maioria apresenta uma consistncia interna de .62 (M=1.83; DP=.98).
Meta-emoes Para medio das meta-emoes foi includa a questo como que
tu pensas que os (as) senhores(as) da tua escola se sentem quando esto a brincar com
meninos(as) ciganos(as)?. A resposta foi dada numa escala bipolar de 5 pontos nas
seguintes dimenses: muito tristes(5)-muito contentes (1), com muito medo(5)-sem
medo(1), muito irritados (5)-muito calmos (1). Foi construdo um ndice que resulta da
mdia aritmtica de duas das trs dimenses emocionais: muito contentes-muito tristes e
com muito medo-sem medo. Este ndice, que designmos por meta-emoes,
apresenta uma consistncia interna de .63 (M=2.75, DP=1.2).
itens para medir a estratgia de integrao (Para mim importante viver pelos
costumes ciganos, mas tambm importante seguir os costumes dos senhores;
importante para mim ter tanto amigas senhoras como amigas ciganas); trs itens para
medir a estratgia de assimilao (Como vivemos em Portugal, para mim importante
seguir os costumes dos senhores e esquecer os costumes ciganos; como vivemos em
Portugal, importante eu falar mais portugus do que roman; Para mim mais
importante brincar com meninos senhores do que com meninos ciganos); e trs itens
para medir a estratgia de separao (e.g., preferia andar numa escola que fosse s
para meninos ciganos; Para mim importante mostrar que sou cigano, seguindo s
os costumes e a lei cigana; Para mim mais importante s ter amigos ciganos). Para
cada item as crianas respondiam numa escala de 5 pontos: 1 - no concordo nada, 2
- concordo pouco, 3 - concordo, 4 - concordo muito, 5 - concordo muitssimo).
Os nove itens que permitem medir as estratgias de aculturao foram aplicados a
trs contextos, ou esferas de vida: escola, rua e casa. Para cada um dos contextos,
antes de ser lido cada um dos itens, dizia-se s crianas: Pensa quando ests na escola,
.; Pensa quando ests na rua,.; Pensa quando ests em casa, .
Na escola Para avaliar a organizao interna dos itens das estratgias de
aculturao a adoptar na escola, realizmos uma anlise factorial com rotao ortogonal
dos eixos (rotao varimax). Os resultados encontrados mostram que os indicadores se
organizam em 3 factores que explicam 69.9 % da varincia total (Quadro 1.5). O
primeiro factor rene dois indicadores de integrao e um de assimilao e designmolo por integrao-assimilao na cultura dominante; o segundo factor, que
designmos por separao cultural, integra um item de separao e um de assimilao
(pela negativa) exprimindo uma tenso entre separao cultural e negao da
assimilao da lngua dominante; o terceiro factor, separao relacional, exprime uma
Factor 2
Separao
cultural
Factor 3
Separao
relacional
-.007
-.008
.845
.004
.009
.618
-.344
.001
-.004
.843
.130
.162
-.777
.003
.009
.009
.891
.084
.357
-.782
26.89%
.69
3.24
.87
22.49%
.58
3.07
.94
20.55%
.45
3.30
.93
Indicadores
Varincia explicada
Consistncia interna
Mdia
Desvio padro
Em casa Para avaliar a organizao interna dos itens das estratgias de aculturao
que as crianas ciganas pretendem adoptar em casa, realizmos uma anlise factorial
com rotao ortogonal dos eixos (rotao varimax). Os resultados encontrados mostram
que os seis indicadores retidos se organizam em 3 factores que explicam 63.0% da
varincia total (Quadro 1.6). O primeiro factor, que designmos por assimilao,
integra dois indicadores de assimilao; o segundo factor, separao, integra dois
Factor 1
Assimilao
.763
Factor 2
Separao
-.121
Factor 3
Integrao
-.118
.719
-.265
.184
.595
.191
-.03
-.158
.881
-.006
.005
.794
.006
.231
-.132
.809
.363
-.178
-.678
23.78%
.52
1.98
.86
22.53%
.48
3.87
.87
16.70%
.25
2.5
.73
Na rua Para avaliar a organizao interna dos itens das estratgias de aculturao a
adoptar na rua, realizmos uma anlise factorial em componentes principais com
rotao varimax. Os resultados encontrados mostram que os sete indicadores retidos se
organizam em 2 factores que explicam 56 % da varincia total (Quadro 1.7). O primeiro
factor, assimilao, integra dois indicadores de assimilao e dois de separao que se
correlacionam inversamente entre si e exprime uma tenso entre assimilao e
separao; o segundo factor, integrao, inclui dois indicadores de integrao.
Factor 1
Assimilao
.786
Factor 2
Integrao
.212
-.769
.199
-.741
-.005
.636
.259
.554
.212
.008
.823
.199
.732
35.84%
.75
2.49
.74
20.17%
.31
3.11
.85
Varincia explicada
Consistncia interna
Mdia
Desvio padro
Para os factores que tm apenas dois indicadores no foi medido o alfa de Cronbach mas a correlao
existente entre eles (r de Pearson).
5. Resultados
Para testar o efeito da identidade sobre cada uma das variveis apresentadas, foram
conduzidas quatro anlises de varincia unifactoriais, colocando como factor a
8
Para testar os efeitos de moderao, devido s diferenas de escala, normalizmos todas as variveis
(varivel independente, variveis moderadoras e variveis dependentes).
DP
Identidade simples
1.9
.45
32
Identidade dupla
1.6
.43
21
competncias=2.5,
DP=.61; Mmeta-est
competncias=2.4,
aparncia=1.9,
DP=.39; Mmeta-est
aparncia=2.0,
DP=.67). Estes
resultados indicam que, quer as crianas com identidade simples, quer as crianas com
identidade dupla percepcionam que as crianas da maioria as percebem com algumas
caractersticas estereotpicas positivas, ligadas s suas competncias, e com poucas
caractersticas estereotpicas, negativas, ligadas aparncia das crianas do endogrupo.
DP
Identidade tnica
3.1
1.0
32
Identidade tnica/nacional
2.3
1.1
21
Devido natureza da varivel identidade social, para averiguar as correlaes entre esta varivel e as
variveis respostas emocional e resposta comportamental, foi executada uma correlao de Spearman;
para todas as outras variveis foram executadas correlaes de Pearson
Qual o efeito da identidade social e de cada uma destas variveis cognitivoemocionais10 sobre as emoes e comportamentos que as crianas ciganas expressam
em relao s crianas da maioria?
Para efectuar as anlises de varincia unifactoriais, nas quais se tomou como factores as variveis autoesteretipos, meta-esteretipos, percpeo de discriminao e meta-emoes, foi necessrio dicotomizar
cada uma destas variveis pela mdia terica das escalas consideradas. Deste modo, cada uma das
variveis ficou com 2 nveis:
Auto-esteretipos competncias: auto-esteretipos associados a mais caractersticas estereotpicas de
competncias (N=22), auto-esteretipos associados a menos caractersticas estereotpicas de
competncias (N=31); auto-esteretipos aparncia: auto-esteretipos associados a mais caractersticas
estereotpicas de aparncia (N=5), auto-esteretipos associados a menos caractersticas estereotpicas de
aparncia (N=48). Meta-esteretipos competncias: meta-esteretipos associados a mais caractersticas
estereotpicas de competncias (N=25), meta-esteretipos associados a menos caractersticas
estereotpicas de competncias (N=28); meta-esteretipos aparncia: meta-esteretipos associados a
mais caractersticas estereotpicas de aparncia (N=17), meta-esteretipos associados a menos
caractersticas estereotpicas de aparncia (N=36). Meta-emoes mais positivas (N=25) e meta-emoes
mais negativas (N=28). Maior percepo de discriminao (N=34), menor percepo de discriminao
(N=19).
(M
mais
caract.
ester
caract.
ester=1.7;
=2.2, DP=1.15; M
DP=.97)
compet=2.3;
DP=.95; Mmenos
p=.28]. Estes resultados indicam que, quer as crianas que acham que a maioria as v
com mais caractersticas estereotpicas, quer as crianas que acham que a maioria as v
DP
2.5
.92
1.8
.85
(4- quase nunca; 1-quase sempre; valores mais elevados indicam maior discriminao)
relao s crianas da maioria [M menor perc. disc.=1.8, DP=.93; Mmaior perc. disc.=1.9, DP=1.0;
F(1,52)=.13, p=.71] e mostram um efeito tendencialmente significativo da percepo de
discriminao sobre as respostas comportamentais emitidas pelas crianas ciganas
[F(1,52)=3.4, p=.07], sugerindo que as crianas que percebem mais discriminao so
tambm aquelas que, tendencialmente, mais discriminam as crianas da maioria
(Quadro 1.11).
DP
1.87
.73
2.38
1.01
(4- quase nunca; 1-quase sempre; valores mais elevados indicam maior discriminao)
Comemos por analisar o efeito da identidade sobre as variveis cognitivoemocionais (auto-esteretipos, meta-esteretipos, meta-emoes e percepo de
discriminao) e verificmos que a identidade parece ter apenas efeitos sobre as metaemoes e sobre os auto-esteretipos ligados aparncia. Quando, por outro lado,
analismos os efeitos da identidade social das crianas e dessas variveis cognitivoemocionais sobre as suas respostas emocionais e comportamentais, verificmos que
apenas as meta-emoes e, tendencialmente, a percepo de discriminao parecem ser
variveis explicativas para as respostas comportamentais que as crianas ciganas
apresentam em relao s crianas da maioria.
Para averiguar quanto que a percepo de discriminao e as meta-emoes
explicam os comportamentos que as crianas ciganas expressam em relao s crianas
Meta-emoes
.39
.003
Percepo de discriminao
.28
.03
Um segundo objectivo geral deste estudo consiste em testar o efeito moderador das
variveis cognitivo-emocionais (auto-esteretipos, meta-esteretipos, percepo de
discriminao e meta-emoes) na relao entre a identidade social e as estratgias de
aculturao em diferentes esferas de vida11. Recordamos que considermos apenas
como variveis dependentes os factores integrao-assimilao na escola, separao
cultural na escola, assimilao em casa, separao em casa, e assimilao na rua.
Das anlises de moderao efectuadas, os resultados mostram um efeito de
moderao, tendencialmente significativo, da percepo de discriminao na relao
11
DP=.56;
Mident.simples=2.0,
12
Uma vez que a varivel identidade no uma varivel de intervalo, usmos como medida alternativa da
correlao o r de Spearman ().
Uma vez que a varivel identidade no uma varivel de intervalo, usmos como medida alternativa da
correlao o r de Spearman ().
Separao
DP
DP
Identidade dupla
2.8
.21
3.59
.19
Identidade simples
3.4
.19
4.11
.18
Alguns autores (Hutnik, 1991; Liebkind, 1999; Phinney, 1990; Ros et al., 2000) tm
mostrado a importncia, nomeadamente em estudos sobre populao migrante, de dar
oportunidade aos sujeitos de se identificarem com mais do que uma categoria social.
Apesar de ter sido dada esta possibilidade, neste estudo verificmos que a quase
totalidade das crianas (93.4%) efectua uma auto-categorizao primria que coincide
com a categoria tnica (ser cigano) e que apenas 41% dessas crianas fazem uma
segunda escolha categorial, que em 34.4% dos indivduos recai na categoria supraordenada ou nacional (ser portugus). Resultados semelhantes foram encontrados com
crianas turcas que vivem na Holanda (Kinket & Verkuyten, 1997) e, mais
recentemente, em estudos conduzidos com jovens negros portugueses (e.g., Khan &
Vala, 1999; Lima, no prelo). Estes resultados parecem indicar uma maior salincia da
identidade tnica e uma maior invisiblidade da categoria nacional (Lima, no prelo).
Os resultados agora encontrados so de extrema importncia, uma vez que esta a
primeira vez que, no contexto portugus, se encontra uma identidade dupla
(tnica/nacional) em crianas, o que torna simultaneamente relevante o seu estudo e a
sua articulao com dimenses cognitivo-emocionais. Pese o facto da identidade social
assumir um papel privilegiado no mbito da anlise das relaes intergrupais (ver
Capozza & Brown, 2000), este conceito serviu de ponto de partida para uma anlise
sobre as relaes que mantm com outros fenmenos de carcter cognitivo-emocional:
os auto-esteretipos e os meta-esteretipos, a percepo de discriminao e as metaemoes.
percepo
de
discriminao,
ela
parece
ser
elevada
sublinhmos, quer as crianas com identidade simples, quer as crianas com identidade
dupla valorizam a sua pertena tnica. Num dado contexto, quando se torna saliente a
identidade, nomeadamente a pertena a uma minoria, ela molda as cognies dos
indivduos, conduzindo a uma maior sensibilidade discriminao por parte dos outros,
(Postmes, Branscombe, Spears & Young, 1999). Por outro lado, tal como Fiske (1993)
sublinha, importante no descurarmos o peso histrico e ideolgico dos estigmas que
se encontram associados a certos grupos minoritrios e, neste sentido, esta percepo de
discriminao global por parte das crianas, quer com identidade simples, quer com
identidade dupla, poder ser lida tendo em conta o peso da histria das relaes entre
ciganos e gadj. Nesta linha, no podemos esquecer que a comunidade cigana continua
a ser fortemente discriminada, em toda a Europa, assistindo-se expresso de racismo
flagrante das maiorias sobre esta minoria, o que j no acontece com outros grupos
minoritrios (Correia, Brito & Vala, 2001). Por outro lado, os sinais que so
transmitidos na escola so tambm, muitas vezes, determinantes para que as crianas
das minorias (dominadas) continuem a perceber que so discriminadas (Monteiro,
2001). No decorrer da recolha dos dados pudemos constatar que em algumas escolas as
crianas ciganas so colocadas numa mesma turma e algumas crianas relataram-nos
algumas tentativas que foram feitas no sentido de as colocar em recreios separados das
outras crianas da escola.
No que diz respeito s meta-emoes, elas parecem variar em funo da identidade
social das crianas, o que se tem vindo a verificar em estudos conduzidos com maiorias
(Verkuyten, Drabbles & Van Den Nieuwenhuijzen, 1999); as crianas com identidade
tnica percebem meta-emoes mais negativas do que as crianas com identidade dupla.
Estes resultados sugerem que a opo identitria pelo grupo de origem tem, para as
crianas, custos emocionais adicionais, ao mesmo tempo que enfatizam a importncia
que se tem vindo a atribuir s emoes intergrupais (e.g., Smith, 1993; Stephan &
Stephan, 1985) como expresso do preconceito, e ao desenvolvimento de estudos
posteriores sobre esta varivel em crianas.
Contrariamente aos resultados encontrados por Vorauer e colaboradores (1998), ou
por Lopes (no prelo), os meta-esteretipos no parecem estar associados s respostas
emocionais que as crianas ciganas expressam em relao s crianas da maioria
branca.
No que diz respeito prevalncia das estratgias de aculturao nos diferentes
contextos, verificmos que no contexto escolar as crianas escolhem, igualmente, uma
estratgia de integrao/assimilao e uma estratgia de separao cultural, enquanto
que no contexto casa as crianas parecem manifestar uma clara preferncia por uma
estratgia de separao. Estes resultados parecem ser indicadores do carcter relacional
e contextual das estratgias de aculturao (e.g., Horenczyk, 1997; Verkuyten, 2002), ao
mesmo tempo que enfatizam a importncia de se averiguarem as estratgias de
aculturao em diferentes esferas de vida.
semelhana dos resultados encontrados em estudos com adultos (Ros, Huici &
Gmez, 2000; Verkuyten, 2002), tambm as crianas de identidade tnica manifestam
uma maior preocupao pela preservao da sua cultura de origem, escolhendo mais
uma estratgia de separao no contexto casa e no contexto escolar, do que as
crianas com identidade dupla.
A identidade social das crianas parece assumir, assim, um papel importante no
processo de escolha das estratgias de aculturao, sobretudo em estratgias que
impliquem a manuteno de uma lei prpria, e de um cdigo de honra especfico
(Grupo de Trabalho para a Igualdade e Insero dos Ciganos, 1998, p.17), o que, ao
mesmo tempo, poder ajudar tambm a manter a identidade tnica mais saliente.
ESTUDO 2
(1993), num estudo com crianas canadianas e ndias, verificaram que as crianas da
maioria avaliam positivamente o seu grupo e preferem membros do endogrupo para
brincar no recreio e para estabelecer contactos de maior intimidade (amizade). Por seu
lado, as crianas da minoria parecem preferir manter um maior contacto social com as
crianas da maioria do que com membros do endogrupo. Recentemente, Cabecinhas
(2002) conduziu um estudo sobre as avaliaes de estatuto feitas por crianas brancas
relativamente a crianas de diferentes grupos sociais (brancas, negras e ciganas) e
constatou que as crianas brancas apresentam uma hierarquia de estatutos, colocando
em primeiro lugar as crianas do endogrupo, seguindo-se as crianas negras e, na
posio mais baixa da hierarquia, as crianas ciganas.
A pesquisa realizada sobre as atitudes das crianas em relao ao endogrupo tem
salientado, por um lado, que as crianas brancas manifestam uma preferncia
sistemtica pelas crianas do endogrupo (Aboud, 1987; Katz, 1982) e, por outro, que as
crianas dos grupos minoritrios, sensivelmente entre os 5 e os 8 anos de idade
manifestam preferncia pelas crianas do grupo dominante (Aboud & Doyle, 1995;
Asher & Allen, 1969; Frana & Monteiro, 2002; Greenwald & Oppenheim, 1968;
Milner, 1973; Yee & Brown, 1992), apesar dessa preferncia decrescer com a idade
(e.g., Asher & Allen, 1969). Tyson (1985), numa reviso de literatura, constatou que
este fenmeno ocorre em diferentes pases.
A percepo de estatuto dos grupos (e.g., Milner, 1983) ou a conscincia que as
crianas apresentam sobre as assimetrias de poder e/ou estatuto entre os grupos, a
salincia dos mesmos, o contacto entre grupos e aspectos de natureza ideolgica
(Aboud, 1987; Bennett, Lyons, Sani & Barrett, 1998; Monteiro, 2002), so algumas das
variveis apontadas para as diferenas encontradas nas preferncias das crianas por
diferentes categorias tnicas.
em
julgamentos
distorcidos
designados
genericamente
por
auto-benefcio14 (e.g., Miller & Ross, 1975) que consiste na tendncia para o indivduo
atribuir os seus sucessos a causas internas e os fracassos a causas externas. Ao nvel
intergrupal, este enviesamento toma o nome de erro ltimo da atribuio (Pettigrew,
1979) e consiste na tendncia dos membros de um grupo para fazerem atribuies mais
internas para actos positivos e mais externas para actos negativos, quando os actores
desses actos pertencem ao endogrupo. Pelo contrrio, quando os actores so membros
de um exogrupo, os indivduos tendem a fazer mais atribuies externas para actos
positivos e mais atribuies internas para actos negativos. Este enviesamento permite,
assim, manter o esteretipo negativo em relao ao exogrupo.
O primeiro estudo emprico sobre atribuies intergrupais data dos anos 70 e foi
realizado por Taylor e Jaggi (1974) com Hindus; tal como o previsto, para actos
desejveis os Hindus fizeram atribuies internas para indivduos do endogrupo e
atribuies externas para indivduos do exogrupo (Muulmanos). Apesar da tendncia
para fazer este tipo de atribuies etnocntricas, ela depende, contudo, do estatuto
relativo dos grupos, tal como foi demonstrado por Hewstone e Ward (1985), num
estudo conduzido com Malaios (maioria) e Chineses (minoria).
14
Self-serving bias
atribuies. Essa estrutura composta por trs dimenses: locus de causalidade (causas
internas ou causas externas), dimenso de estabilidade (causas estveis ou instveis), e
dimenso de controlabilidade (causas controlveis pelo indivduos, ou no
controlveis).
Um
considervel
nmero
de
pesquisas
tem
verificado
Alguns resultados sugerem que as crianas mais velhas usam mais atribuies
disposicionais do que as crianas mais novas (Snodgrass, 1976). No entanto, numa
reviso de literatura, Miller e Aloise (1989) constataram que este efeito da idade nas
crianas no surge em todas as culturas, dependendo do modo como as questes so
colocadas e do contexto em questo (ver Guerin, 1999).
De uma maneira geral, a literatura sobre o processo atribucional num quadro infantil
simultaneamente escassa e no conclusiva. Por outro lado, os estudos sobre o estilo
atribucional em crianas visam, habitualmente, comparar as atribuies expressas por
crianas da maioria com as atribuies de crianas de uma dada minoria. Porque o
comportamento atribucional est tambm dependente do processo de comparao, no
presente estudo pretendemos averiguar, empiricamente, o comportamento atribucional
das crianas quando esto tambm disponveis comparaes horizontais entre diferentes
grupos minoritrios, aspecto que ainda no foi estudado, nem com adultos nem com
crianas e no contexto portugus.
3. Objectivos e Hipteses
4. Mtodo
Participantes
Procedimento e Material
Num estudo com crianas turcas e holandesas, residentes na Holanda, com idades compreendidas entre
os 10 e os 13 anos, Kinket e Verkuyten tinham como questo: em termos de grupo tnico, eu considerome.
carteira, ter um amigo, vir um dia a casar, respondendo as crianas a estas perguntas
em relao aos trs alvos (branco, negro, cigano), sobre uma escala dicotmica sim/no.
As crianas podiam escolher tantos contactos com cada um dos alvos quantos os que as
suas reaces imediatas lhes ditassem16. Decorrente destas escolhas, foram construdos
trs ndices de preferncias por contactos, resultantes do nmero de contactos que as
crianas aceitaram ter com crianas brancas, negras e ciganas, respectivamente, e que
varia de 0 (nenhum contacto) a 5 (mximo de contacto).
Numa segunda parte foi introduzido um cenrio, no qual era descrito o sucesso de
uma criana numa tarefa escolar. Variou-se a pertena tnica da criana-alvo deste
comportamento: primeiro foi dito s crianas que a tarefa tinha sido realizada por uma
criana-alvo membro do endogrupo, e de seguida, controlando o efeito de ordem, por
uma criana-alvo negra (ou cigana):
H algum tempo estive numa escola como a tua e no dia em que eu fui a essa escola havia um concurso
de desenhos para os meninos das 3 turmas de 4 ano. Depois de cada um dos meninos ter feito o seu
desenho, uma das professoras recolheu-os. Depois da hora de almoo a professora deu o resultado: na
turma 1 o desenho mais bonito foi feito por um menino que tem 10 anos e X (membro do endogrupo do
participante) () Isso foi na turma 1; na turma 2 quem ganhou o concurso foi tambm um menino, que
tambm tem 10 anos, mas (membro do exogrupo 1) (); como havia trs turmas de 4 ano, falta
ainda dizer quem ganhou na turma 3: na turma 3 quem ganhou o concurso foi tambm um menino, que
tambm tem 10 anos, mas um menino (membro do exogrupo 2).
De cada vez que era comunicada qual a criana-alvo que ganhou o concurso, eram
apresentadas as variveis dependentes na sequncia da pergunta: Porque que foi este
menino que ganhou?17.
16
No se trata de uma escala cumulativa, uma vez que as crianas no perceberam cada contacto como
indicando maior ou menor grau de proximidade com cada criana alvo. Ou seja, uma criana pode ter
manifestado que no gostava de viver com crianas ciganas no mesmo bairro, mas, ao mesmo tempo,
gostar de ter um amigo cigano.
17
Medidas dependentes
Desenho do estudo
5. Resultados
Para testar as duas hipteses que foram colocadas, executmos cinco anlises de
varincia multivariada com medidas repetidas para todas as medidas dependentes:
preferncias por contactos, atribuies de inteligncia, de sorte, de esforo e atribuies
ligadas ao tipo de tarefa, tomando como factor a pertena categorial das crianas. A
identificao de diferenas entre as mdias foi efectuada a partir de comparaes
mltiplas utilizando-se, para tal, o teste de Scheff.
18
19
(teste Scheff, p<.05), apesar de se distanciarem, igualmente, dos dois alvos minoritrios
((testes Scheff, p>.05; Malvo branco=4.5, DP=.8; Malvo negro=2.1, DP=1.6;
Malvo cigano=.95, DP=1.3 ), o mesmo no acontece com as crianas negras e ciganas: as
primeiras manifestam igual preferncia por contactos com alvos da maioria e com alvos
do endogrupo (teste Scheff, p=.99), mas menor preferncia por contactos com o alvo
cigano (teste Scheff, p<.01; Malvo branco=3.6, DP=1.4; Malvo negro=3.3, DP=1.4;
Malvo cigano=.85, DP=1.1 ). As segundas manifestam igual preferncia por contactos com
o alvo endogrupal e com o alvo da maioria (teste Scheff, p=.99), mas escolhem ter
poucos contactos com o alvo negro (teste Scheff, p<.01) (Malvo
branco=3.4,
DP=1.3;
Malvo negro=.9, DP=1.1; Malvo cigano=3.8, DP=1.3 ) (Quadro 2.1). Estes resultados apoiam
a nossa primeira hiptese, uma vez que os membros dos grupos tnicos minoritrios
manifestam preferncias endogrupais elevadas e preferncias pelo exogrupo, tambm
minoritrio, baixas, sendo a sua hierarquizao de preferncias independente da
hierarquizao estabelecida pela maioria. Estes resultados mostram que a hierarquia de
preferncias no consensual, uma vez que no h um padro semelhante entre as duas
minorias.
Quantidade de contactos
5
4
Branco
Negro
Cigano
3
2
1
0
Brancas
Negras
Ciganas
Pertena categorial
4.5
(.8)
3.6
(1.4)
3.4
(1.4)
3.8
(1.3)
20
2.1
(1.6)
3.3
(1.4)
.90
(1.1)
2.1
(1.7)
20
.95
(1.3)
.85
(1.1)
3.8
(1.3)
1.9
(1.9)
20
20
20
60
20
20
60
20
20
60
Inteligncia
branco=3.1,
DP=.85; Malvocigano=2.7,
DP=.76).
A anlise de varincia efectuada mostra tambm um efeito de interaco entre a
pertena grupal e o grupo-alvo [F(4, 106)=2.82 p<.005] (Figura 2). Os testes de
comparaes mltiplas mostram que so as crianas negras que mantm a hierarquia
atribucional que o efeito principal do alvo estabelece, ao atribuem igual inteligncia aos
negros e aos brancos (teste Sheff, p=.99) e menos inteligncia aos ciganos (teste Sheff,
p<.05) (Quadro 2.2)
20
20
21
Atribuio de inteligncia
atribuio de inteligncia
4
3,5
3
Branco
Negro
Cigano
2,5
2
1,5
1
Brancas
Negras
Ciganas
Pertena categorial
Sorte
existem diferenas nas atribuies interna e instvel (esforo) e externa estvel (tipo de
tarefa) feitas pelas crianas em relao aos diferentes grupos-alvo22.
Quadro 2.2: Mdias e desvios-padro das atribuies ao sucesso dos alvos
em funo da pertena tnica das crianas
Grupos-alvos
Branco
Negro
2.8
(.83)
3.3
(.49)
3.0
(.82)
3.1
(.85)
2.7
(.86)
3.2
(.52)
2.5
(.76)
2.8
(.77)
2.4
(.99)
2.5
(.76)
2.7
(.72)
2.7
(.76)
3.2
(.77)
3.1
(.85)
2.7
(.66)
3.0
(.78)
2.8
(.87)
3.3
(.66)
2.8
(.61)
2.9
(.75)
2.7
(.97)
3.0
(.65)
3.0
(.60)
2.9
(.76)
2.4
(.99)
2.7
(.80)
2.5
(.76)
2.5
(.85)
2.7
(.97)
2.8
(.87)
3.0
(.79)
2.9
(.87)
2.7
(.86)
2.9
(.55)
2.7
(.79)
2.7
(.73)
2.5
2.4
(.94)
(.94)
2.5
2.4
Negro
(1.1)
(.99)
2.2
2.2
Cigano
(.89)
(.85)
2.4
2.4
Total
(.95)
(.92)
(Os valores dos desvios-padro encontram-se entre parnteses)
22
Cigano
2.4
(.89)
2.3
(.92)
2.0
(.99)
2.3
(.94)
Efeito da pertena grupal das crianas na atribuio de esforo no significativo [F(2,56)=1.4, p=.25],
efeito do grupo-alvo na atribuio de esforo no significativo [F(2,112)=.37, p=.69], efeito de interaco
entre a pertena grupal e o grupo-alvo no significativo [F(4, 112)=2.3, p=.075]; Efeito da pertena
grupal das crianas na atribuio de facilidade da tarefa no significativo [F(2,55)=.87, p=.42], efeito do
grupo-alvo na atribuio de facilidade da tarefa no significativo [F(2,110)=.85, p=.43], efeito de
interaco entre a pertena grupal e o grupo-alvo no significativo [F(4, 112)=.16, p=.96].
De uma maneira geral, os nossos resultados parecem indicar que, desde cedo, as
crianas percepcionam o estatuto e o valor relativo dos grupos na sociedade (e.g., Clark
& Cook, 1988; Yee & Brown, 1992; Hagendoorn, 1995). No que diz respeito s
preferncias sociais expressas pelas crianas ciganas e negras, os resultados apoiam a
nossa primeira previso. semelhana dos resultados encontrados em adultos (e.g.,
Hagendoorn, 1995), num quadro de comparao complexo, que envolve um grupo
maioritrio e outro grupo minoritrio, as crianas das minorias manifestam maior
preferncia endogrupal e menor preferncia pelo outro grupo minoritrio. Os resultados
corroboram, assim, os resultados encontrados em adultos, nomeadamente por Brown
(1978), dado que todos os grupos procuram diferenciar-se positivamente, beneficiando
o endogrupo: o grupo de estatuto mais elevado diferencia-se em relao aos restantes,
enquanto que os negros e os ciganos se diferenciam positivamente entre si, aumentando
a diferena entre o seu grupo e o outro grupo de baixo estatuto e anulando essa
diferena em relao ao grupo de estatuto elevado.
Estes resultados mostram, semelhana de outros estudos (Frana & Monteiro,
2002), que os membros da categoria dominante estabelecem uma hierarquizao tnica
de carcter etnocntrico que, no contexto portugus, secundariza as crianas negras e
remete para uma distncia social mxima as crianas ciganas. Esta hierarquizao no ,
no entanto, no quadro comparativo em presena, consensual. Sugerimos que, quando
uma minoria dispe de outra minoria para se comparar, para alm da comparao com a
maioria, a comparao entre minorias que se torna relevante para estabelecer uma
diferenciao e uma distintividade positivas. A comparao social com a maioria, neste
quadro, permitiria uma maior diferenciao positiva: de facto, os dois grupos
minoritrios manifestam-se to prximos do endogrupo como dessa maioria.
No que diz respeito aos resultados encontrados sobre as atribuies causais ao
sucesso numa tarefa, estes apenas apoiam parcialmente as nossas hipteses. Em
primeiro lugar, o padro de atribuies causais expresso pelas crianas da maioria
estabelece uma hierarquia tnica menos clara do que em relao s preferncias: esse
padro consensual e coloca a inteligncia como causa distintiva do sucesso,
particularmente, entre brancos e ciganos. Em segundo lugar, no quadro comparativo
entre minorias, apenas as crianas negras usam a atribuio de inteligncia para se
diferenciarem positivamente das crianas ciganas, verificando-se, assim, que as crianas
negras fazem uma atribuio etnocntrica, expressando hostilidade horizontal (White
& Langer, 1999) ao atribuir menos inteligncia criana cigana do que criana negra
ou criana do grupo da maioria. Curiosamente, quer as crianas da maioria, quer as
crianas ciganas atribuem a inteligncia como idntica causa a todos os alvos.
CONCLUSES
O carcter plural das sociedades tem suscitado um continuado interesse pelo estudo
das relaes intergrupais, todavia, a pesquisa continua a centrar-se, maioritariamente,
nas percepes dos grupos dominantes (Lorenzi-Cioldi, 2003; Shelton, 2000).
Decorrente do que julgamos ser uma lacuna na investigao da Psicologia Social, e
particularmente no contexto portugus, o presente trabalho procura inverter a tendncia
da pesquisa ao centrar-se nas percepes de um grupo minoritrio particular o grupo
das crianas ciganas. Apesar da comunidade cigana representar apenas 2% da populao
portuguesa, foi nosso objectivo dar a conhecer a dinmica psicolgica e relacional desta
minoria, no s por se tratar de um grupo com uma histria de relaes com os gadj
muito particular, mas tambm pelo facto de, contrariamente aos negros e aos asiticos, a
pesquisa verificar que os ciganos continuam a ser alvo de racismo flagrante (e.g.,
Correia, Brito & Lopes, 2001).
A nossa pesquisa pretende, ainda, colmatar o que julgamos serem algumas lacunas
da investigao psicossocial no contexto infantil, ao procurar averiguar o papel de
variveis cognitivo-emocionais que ainda no foram estudadas neste contexto, como o
caso dos auto-esteretipos, dos meta-estretipos e das meta-emoes, ao procurar
averiguar tambm as estratgias de aculturao que as crianas ciganas pretendem
adoptar, e ao enfatizar a possibilidade das minorias se compararem com um outro grupo
de igual estatuto minoritrio, enquanto estratgia de salincia de uma identidade social
positiva e garantia de distintividade.
No estudo 1 foi nosso objectivo testar o papel moderador dessas variveis cognitivoemocionais sobre a relao entre identidade social e as emoes e comportamentos que
as crianas ciganas expressam em relao s crianas da maioria, e sobre a relao entre
negros. Com efeito, dos grupos imigrados em Portugal23, aos ciganos que a
esmagadora maioria dos portugueses atribui menor prestgio social, o que parece
reflectir-se j num quadro infantil (Silva, 2000).
Relativamente s atribuies para o sucesso, verificmos que so apenas as crianas
negras que expressam hostilidade horizontal (White & Langer, 1999) ao atribuir menos
inteligncia aos indivduos da minoria cigana e ao fazerem uma atribuio etnocntrica
para o endogrupo. Estes resultados mostram, assim, no s a existncia de factores
cognitivos e motivacionais que influenciam o processamento de informao das
crianas, mas enfatizam tambm a importncia da conduo de novos estudos que
permitam uma maior compreenso dos resultados encontrados para as crianas ciganas,
uma vez que o padro de atribuies expresso por estas estabelece uma hierarquia
menos clara do que em relao s preferncias.
No que diz respeito s crianas da maioria, importa salientar que a hierarquia tnica
resultante do padro de atribuies causais menos clara do que a hierarquia tnica das
preferncias. Nomeadamente, as mesmas fazem atribuies de inteligncia iguais para
todos os grupos-alvo, o que poder ser explicado, como tem sido feito em outros
estudos (e.g., Katz, Sohn & Zalk, 1975), em termos de desejabilidade social, pelo facto
de perceberem que o preconceito socialmente inaceitvel.
No que diz respeito ao alvo da maioria, no deixa de ser interessante notar que, em
geral, todas as crianas, independentemente da sua pertena, fazem mais atribuies
internas (inteligncia) e menos atribuies externas (sorte) para o sucesso deste alvo, o
que vem corroborar os resultados encontrados na literatura (e.g., Corenblum, Annis &
Young, 1996). Estes resultados podero sugerir que as crianas fazem atribuies com
base nas expectativas subjacentes categoria maioria branca. Com efeito, de acordo
23
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Vala, J., Brito, R., & Lopes, D. (1999). Expresses dos racismos em Portugal:
Perspectivas psicossociolgicas. Lisboa: Instituto de Cincias Sociais.
Van Oudenhoven, J. P., Prins, K. S., & Buunk, B. P. (1998). Attitudes of
minority and majority towards adaptation of immigrants. European Journal of Social
Psychology, 28, 995-1013.
Vanbeselaere, N. (1987). The effects of dichotomous and crossed social
categorization upon intergroup discrimination. European Journal of Social Psychology,
17, 143-156.
Vanbeselaere, N. (1991). The different effects of simple and crossed
categorizations: A result of category differentiation process or a differential category
salience? In S. Stroebe, & M. Hewstone (Eds.), European Review of Social Psychology,
(vol. 2). Chichester: Wiley.
Vaughan, G. M. (1964). The development of ethnic attitudes in New Zealand
school children. Genetic Psychology Monographs, 70, 119-175.
ANEXO 2
Data:
Nome:.Sexo:Idade:..
Ano de escolaridade:.
I. Vais encontrar uma lista de palavras que servem para ajudar os(as) meninos(as) a dizer
quem que eles(as) so (a que grupos que pertencem). Vamos ler estas palavras?
Se eu te perguntar tu quem s (se fazes parte de algum/alguns destes grupos) o que que
me respondes?
Eu sou
Valor
Eu sou
Valor
(1)
(1,2,3)
(2)
(1,2,3)
Cigano(a)
Portugus(a)
Senhor(a)
Negro(a)
Mulato(a)
Branco(a)
Angolano(a)
Cabo verdiano(a)
Agora que me disseste quem que tu s, vamos fazer outro jogo? (1) Vais dizer se para
ti ser .... .. e (para a segunda escolha categorial) para ti ser....
(1) No tem importncia para mim
(2) importante para mim
(3) muitssimo importante para mim
Muito
Pouco
No so
nada
Simpticos(as)
Batem nos(as)
outros(as)
Inteligentes
Aprendem bem
Cantam e bailam
bem
Tm roupas feias
Feios(as)
Vm sujos(as) para
a escola
So pobres
Vm escola
Muitssimo
Muito
Pouco
No so
nada
Simpticos(as)
Batem nos(as)
outros(as)
Inteligentes
Aprendem bem
Cantam e bailam
bem
Tm roupas feias
Feios(as)
Vm sujos(as) para
a escola
So pobres
Vm escola
Como que tu achas que os(as) senhores(as) da tua escola se sentem quando esto a
brincar com um(a) menino(a) que cigano(a)?
Tristes
Sem medo
Como que se sentem os(as) meninos(as) ciganos(as) quando esto a brincar com um(a)
senhor(a)?
Tristes
Sem medo
Muitas vezes
Poucas vezes
Quase nunca
Muitas vezes
Poucas vezes
Quase nunca
Concordo muito
Concordo
Concordo pouco
muitssimo
No concordo
nada
1. (A/B/C) importante para mim guiar-me pelos costumes ciganos, mas tambm
importante seguir as costumes dos senhores:
A. Na escola
B. Na rua
C. Em casa
2. (A/B) importante para mim ter tanto amigos(as) senhores(as) como amigos(as)
ciganos(as):
A. Na escola
B. Na rua
3. Para mim importante levar senhores(as) e meninos(as) ciganos(as) a minha casa para
brincar:
Concordo
Concordo muito
Concordo
Concordo pouco
muitssimo
5
No concordo
nada
4. Como vivemos em Portugal, (A/B/C) para mim importante seguir mais os costumes
portugueses (dos senhores) do que os costumes ciganos:
A. Na escola
B. Na rua
C. Em casa
B. Na rua
C. Em casa
6. (A/B/C)para mim mais importante brincar com meninos(as) senhores do que com
meninos(as) ciganos(as):
A. Na escola
B. Na rua
C. Em casa
B. Na rua
C. Em casa
B. Na rua
C. Em casa
9. Preferia andar numa escola que fosse s para meninos e meninas ciganos:
Concordo
Concordo muito
Concordo
Concordo pouco
muitssimo
5
No concordo
nada
Data:
Nome:.Sexo:Idade:..
Ano de escolaridade:.
Nesta escola h muitos meninos diferentes entre si (se a criana no refere as categorias tnicas referir) h meninos brancos,
h meninos negros, h meninos ciganosTu quem s?
brincar no
ser colega de
ter um amigo
vir um dia a
no mesmo
recreio da
carteira
como ele
bairro
escola
pessoa como
ele
Ciganos
Senhores
Negros
H algum tempo estive numa escola como a tua e no dia em que eu fui a essa escola havia
um concurso de desenhos para os meninos das 3 turmas de 4 ano. Depois de cada um dos
meninos ter feito o seu desenho, uma das professoras recolheu-os. Depois da hora de
almoo a professora deu o resultado: na turma 1 o desenho mais bonito foi feito por um
menino que tem 10 anos e X (membro do endogrupo do participante) () Isso foi na
turma 1; na turma 2 quem ganhou o concurso foi tambm um menino, que tambm tem 10
anos, mas (membro do exogrupo 1) (); como havia trs turmas de 4 ano, falta ainda
dizer quem ganhou na turma 3: na turma 3 quem ganhou o concurso foi tambm um
menino, que tambm tem 10 anos, mas um menino (membro do exogrupo 2).
Ajuda-me agora a pensar um bocadinho.Se calhar o menino (1) fez o desenho mais bonito
da sua turma porque....
1. inteligente? Quanto que tu achas que o menino inteligente.
Muitssimo
Muito Inteligente
Pouco inteligente
inteligente
No nada
inteligente
Esforou-se muito
Esforou-se pouco
muitssimo
No se esforou
nada
Muita sorte
Pouca sorte
4. Se calhar achou que era uma tarefa fcil/difcil. O que que tu achas, achas que ele
achou que fazer o desenho foi:
Muito fcil
Fcil
Difcil
Muito difcil
Ajuda-me agora a pensar.Se calhar o menino (2) fez o desenho mais bonito da sua turma
porque....
1. inteligente? Quanto que tu achas que o menino inteligente.
Muitssimo
Muito Inteligente
Pouco inteligente
inteligente
No nada
inteligente
Esforou-se muito
Esforou-se pouco
muitssimo
No se esforou
nada
Muita sorte
Pouca sorte
4. Se calhar achou que era uma tarefa fcil/difcil. O que que tu achas, achas que ele
achou que fazer o desenho foi:
Muito fcil
Fcil
Difcil
Muito difcil
Vamos pensar um poucoSe calhar o menino (3) fez o desenho mais bonito da sua turma
porque....
1. inteligente? Quanto que tu achas que o menino inteligente.
Muitssimo
Muito Inteligente
Pouco inteligente
inteligente
No nada
inteligente
Esforou-se muito
Esforou-se pouco
muitssimo
No se esforou
nada
Muita sorte
Pouca sorte
4. Se calhar achou que era uma tarefa fcil/difcil. O que que tu achas, achas que ele
achou que fazer o desenho foi:
Muito fcil
Fcil
Difcil
Muito difcil