Cervantes de Goiás
Cervantes de Goiás
Cervantes de Goiás
jenaif,arneco
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4zlotlo
O Cervantes
de Gois
L'ri r:Lelcl;^r=ntij aLl-cra, eil ii'e,;isiadro
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dc Fcrnrosocoin aS
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lia,-cncluici-iec:ei-i infc'r'nranie
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grandet^nentiicsc,
que a
i-nas
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ii^naginac
iai-nbemiaz pai'reda historia
No aito:
Miguel de Cervanres
c riou um a h i s t r i aq u e
'
influenciaria,
mais
cie300 anosCepois,
leitoresdo oulro lacio
do Atlntico
Perspectivade Vila
Boade Coias,1801:
O rnteriordo Brasil
coloniaioi palcooara
a recriaociaviciade
Dom Quixote de la
Manchapor um
sertanero
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fia; criara trechos iongos, aparentementesem reiaco com o movimenio socia, ou com quaquer
eventohistrico.
No havia ouia conclusopossivel:Fernandes
inventara seu depoimentol A Revolta do Formoso
foi uma coisa; outra, as memrias que Fernandes
construiu a respeito da revolta. vlas histria e memria mantm tantas relaesentre
si, que at dificil pens-lasseparadamente:"recordar viver", como ensina o antigo samba.lvlemrias reelahpram .a histria, relacionando-a a
outros elementos e emprestando-he
significados to novos que, das lem-,
branas,brota uma outra histria.
O c o n i u n to d e me m ri a s d e
fernandes, a includas as recordaes do Formoso,-oi plqlfundamente influenciado pela sociedadee poca em que Ylveu: sao memonas soria, semereasprximas. Entretanto,o coniunto das memetepentos, relaese si- se_us
fias de Fernande_q
rrificados - foi diferente das demais, assim como o
Literaturapopular:
"'i
venttffi,as
as aventurasde
D. Quixore e seu fiel
escudeiro,Sancho
Pana,inspirarama
imaginaode aduicos
e cnanas,que vrrm a
realidadearravsda
fco.Aqrri, uma
edio porruguesa
dedicada
exclusivamente
aos
pequenosleitores
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5
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31
Doiscavaleirospassoa passo
A comparao
sistemtica
entreasaventuras
de Ze Porfrioe asde Dom Quixore,protagonisras
do depoimenroorat
de Fernandes
e do livro A Engenhoso
Fidalgo
DomQuixote
dela Mancha,de Miguelde Cervanres
Saavedra,
respectivamente,apontaparanumerosas
semelhanas.
Almdo recursoa um "felescudeiro"
e a um cavalocom o mesmonome - Rocinante(emboraZ Porfirio,ao queconsta,jamaispossura
cavalo)- , ambasasnarrarivas
urilizam-se
com
freqnciado humore dosrecursos
da arsa,assimcomode subttuloslongos,pan inroduzir assubdivises
oa
ao.o casodo CaptuloXV,do livrode Cervantes,
'Em queserelataa desgraada
queenfrenrouclom
avencura
iangeses
de
Yanguas,
na
regio
de
Quixoceao toparcom unsdesalmados
Castilha]",
e o nechodo relatode
[narurais
"Voucontarprbcsasmuitasavenrurasdo7 Porfirioe seucompanheiroZ Ribeiro,nasmaas do So
Fernandes,
Patrcio,quandoelesdeu(src)de caracom um inimigodesconhecido
e malvado".
No relatooralh passagens
diretamenteretiradasdo livrode Cervantes,
adaptadasa Coise Revoltado
Formoso,
comoo "Epirafio"de Dulcinia.
Osversosdo livro ("Descansa
aquiDulcineia,/Que,
sendogordae rosada,/
Emcinzae p foi mudada/Pelamorte,honendae feia')reapareciam
no relatode Fernandes
comode autoriados
membrosda Associao
dos Lawadores
do Formosoe Trombas,fundadaem 1954:"Descansa
aquia polcia/Que
sendogordae rosada,/Emcinzae p foi mudada/Pelamorte,horrendae feia."
Ouro exemploenvolveSanchoPanae o "escudeiro"
de Porfirio,Ze Ribeiro.No liwo,"sanchosacoude seuardel
po
um nacode
e um pedaode queijo,e dando-osao moo lhedisse - oma, irmoAndre a ruadesgraa
rocanosa todosj'No relarode Fernandes,
"Ze Ribeirosacoude seurnel um nacode poe um pedaode queijo,e dando-osao moo [o jovemCosmelino,
posseirorecm-chegado
ao Formoso],lhedisse- Toma,irmoCosme,a rua
desgraa
toca-nosa rodosl'Ecervances
por avo,p;rssoa passocom Rocinante.
e Femandes
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O Cavr.jeirctja r::re
Fi E rr :,n nr:nc i c
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iion e .iacO:O cavalO
dc lcierda Revolrado
Formoso,emboraeste
nunca tenha possudo
um cavalo
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.lervantes,ircf nrte
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L i t t r{ i _
crn ament ac a3 0 r
RicardoBalace
a
A esquerda,
fronrispcioda edio
madrrlensede 1798.
de que
H referncias
a vida do engenhoso
l
fidalgo en apreciaCa
em Cosno sculo
o
o
o
I
,{Vlll,quando foi
encenadauma pera
sobreo tema
a crr{o
:
tudo, particularmente signifi cativo -, relacionando
as passagenss prprias histrias de vida'
No apenas Fernandes e os uruauensesde sua
geraoconhciam a histria do Quixote. O liwo e a
histria circulavam pelos povoados mais antigos de
Goirs havia mais de duzentos anos, desde o sculo
XVIII, quando a regio receberaos primeiros contingentesbrancos, em decorrncia da
descobertade ouro. Correspondncia
do governador da Capitania, datada
de 1774, referiu-se encenao de
uma pera no povoado de Pilar, baseada na histria do... Dom Quixote
de la Mancha! Refernciashistricas
esParsas'porm confi.veis,atestaram
a permanncia em Gois da narrativa
do Quixote e, provavelmente, tambm do liwo, ao longo do sculo XIX.
A tradio medieval ibrica (que
Cervantesincorporara e retrabalhara
em seu texto), introduzida durante o perodo colonial em territrio goiano, deve ter-se fortalecido
com o isolamento da regio, a partir do terceiro
quartel do sculoXVIII, em conseqnciada derrocadada minerao.Ainda hoje, elemntosdessatradio, reinventados e atualizados pela populao'
esto presentesem Gois; o caso das festasanuais
do Divino Esprito Santo, que incluem as Cava-
lhadas, uma luta ritual entre cristos e mouros' cuja origem provvel remonta s investidas de Carlos
Magno contra os rabes, ao norte da Pennsula
Ibrica, no ano 800.
gltglg-gl"dita (D om Quixote) -culuraiglglel
(tradies goianas) associaram-se'assim, influen-.
ciando-se mutuamente e promoy!:ndo uma circula-
-]
JJ
de antieastradices,assimiladaslocalmente.
No relato de Fernandes, a "memria herdada"
a"i
A histriafalada...e gravada
Nosanos50do secuioXX apsa invenodo
gravadora fita,iniciou-se
nosEsadosUnidos,Europa
quesebaseia
de pesquisa
e Mxicoumametodologia
nagravao
de tesemunhos
sobreacontecimentos,
instituies,
modosde vidae ouros
conjunruras,
da histriacontempornea:
a hiscria
onl.
aspectos
difundidanasduasdkadasseguintes,
Bastante
a
oanir de 1980elaconsolidouum Dermanente
entreosquea praricam:noso
intercmbio
historiadores
e anroplogos,comocientistas
polticos,pedagogos,
tericosda Iiteratura,psiclogos.
No Brasil,
a metodologiafoi insroduzidanosanos
7Ocom a criaodo Programa
de HistriaOnl do
difundindo-se
CPDOC,da Fundao
Gelio Vargas,
a panir dosanos90,quandofoi criada
especialmente
Brasileira
de HistriaOral,em 1994,com
a Associao
membrosde todo o pasqueserenem
periodicamente
regionais
e nacionais,
emencontros
editamumarevistae contamcom um porl:
www.cpdocfuv/abho.
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g:-
ilEcritos no@
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o
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;
o
ABREU,
Sebastio.
A guenilha do Z Pcrfrio.
3rasilia:
Coeihe,1985.
AMDO, Janana.
" Euquero ser uma
pessoa:
revolracamponesae poltcano
e .t1 <tl "
Do<Ar
^o
<
1993,p. 17-69.
CARNEIROMaria
A revolra
Esperana.
campanesade Formoso
e Trombas.Coinia:
te o "homem de onte
das tradies ibricas para as tradies goianas - e
g_o*tatfofaeniq49?4
Parasabermais
Cegra1981.
Paisagem
do cerrado
goiano,para onde
Fernandesransportou
as andanasde Dom
Quixote de la Mancha,
projetando as
peripciasdeste na
vida do lder da
Revoltado Formoso,
JosPorfrio
t17
-i l -: i5,
--
l.