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PR

UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN

Ministrio da Educao
Universidade Tecnolgica Federal do Paran
Campus Curitiba, Sede Ecoville
Departamento Acadmico de Construo Civil - DACOC

APOSTILA DE HIDROLOGIA

Apostila destinada aos alunos do


curso

de

Engenharia

Civil

da

Universidade Tecnolgica Federal do


Paran

para

disciplina

de

Hidrologia.
Prof Celimar Azambuja Teixeira e
Giuliana Protzek

Curitiba
2010

INTRODUO

A interveno dos seres humanos no meio ambiente resultou em diversas


mudanas no clima e nas condies de vida em escala global. Por esta razo so
feitos os estudos hidrolgicos, pois estes so utilizados para avaliar o efeito dessas
aes antrpicas sobre os recursos hdricos, realizar previses sobre o que pode
ocorrer no futuro, e que medidas podem ser adotadas para evitar ou reduzir as
conseqncias negativas para o bem estar da humanidade.
A hidrologia a cincia que trata dos fenmenos relativos gua em
todos os seus estados, de sua distribuio e ocorrncia na atmosfera, na superfcie
terrestre e no solo, e da relao desses fenmenos com a vida e com as atividades
do homem. (GARCEZ, LUCAS NOGUEIRA,1988)
A US Federal Council for Sciences and Tecnology define hidrologia como
a cincia que trata da gua na Terra, sua ocorrncia, circulao e distribuio, suas
propriedades fsicas e qumicas e sua relao com o meio ambiente, incluindo sua
relao com a vida.

CONCEITOS INICIAIS

1.1. HISTRICO
Na histria recente da hidrologia pode-se observar grandes avanos a
partir de 1930, quando agncias governamentais de pases desenvolvidos
comearam a desenvolver seus prprios programas de pesquisas hidrolgicas.
Sherman (1932), o hidrograma unitrio; Horton (1933), a teoria da infiltrao;
Gumbel (1941) props a distribuio de valores extremos para anlise de freqncia
de dados hidrolgicos.
A introduo da computao digital na hidrologia, nas dcadas de 1960 e
1970, permitiu que problemas hidrolgicos complexos fossem simulados como
sistemas completos pela primeira vez. O primeiro modelo hidrolgico completo foi
desenvolvido pela Universidade de Stanford (1966). Este modelo pode simular os
processos mais importantes do ciclo hidrolgico: precipitao, evapotranspirao,
infiltrao, escoamento superficial, escoamento subterrneo e escoamento em
canais. Outros modelos foram desenvolvidos em seguida, por exemplo o HEC-1
(1973) do Corpo de Engenheiros do Exrcito Americano; ILLUDAS (1974), e outros.
No Brasil, os primeiros textos publicados em hidrologia so de Garcez
(1961) e Souza Pinto ET al. (1973). Por ocasio do Decnio Hidrolgico
Internacional, foi implantado no Rio Grande do Sul, com a participao da UNESCO,
o primeiro curso de ps-graduao em Hidrologia, junto ao Instituto de Pesquisas
Hidrulicas da Universidade Federal do Rio Grande do sul (IPH). O IPH tem sido
responsvel pelo desenvolvimento de modelos de simulao hidrolgica, tais como
os modelos IPH, determinsticos, tipo chuva-vazo, e os modelos MAG, para auxiliar
na gesto de bacias.

CINCIA HIDROLGICA
3

Dooge (1988) caracteriza que a Hidrologia Cientfica est dentro do


contexto do desenvolvimento clssico do conhecimento cientfico, enquanto que a
Hidrologia Aplicada estuda os diferentes fatores relevantes ao provimento de gua
para a sade e para a produo de comida no mundo.
Atravs do desenvolvimento de programas de observao e quantificao
sistemtica dos diferentes fatores relevantes que ocorrem no ciclo hidrolgico que a
Hidrologia conseguiu se tornar estvel. Com isso surgiram subreas que tratam da
anlise dos processos fsicos que ocorrem na bacia, so estes:

Hidrometeorologia

a parte da cincia que trata da gua na atmosfera;

Geomorfologia

Trata da anlise quantitativa das caractersticas do relevo e bacias


hidrogrficas e sua associao com o escoamento;

Escoamento Superficial

Trata do escoamento sobre a superfcie da bacia;

Intercepo Vegetal

a subrea do conhecimento que avalia a interceptao de precipitao


pela cobertura vegetal na bacia hidrogrfica;

Infiltrao e escoamento em meio no-saturado

Trata da observao e previso da infiltrao no solo e do escoamento no


solo no-saturado;

Escoamento em meio saturado

Envolve o estudo do comportamento do fluxo em aqferos, camada do


solo saturada;

Escoamento em rios e canais

Trata da anlise do escoamento em rios, canais e reservatrios;

Evaporao e evapotranspirao

Trata da avaliao da perda de gua por evaporao de superfcies livres


como reservatrios e lagos, evapotranspirao de culturas e da vegetao natural;

Fluxo dinmico em reservatrios, lagos e esturios


4

Trata do escoamento turbulento em meios multidimensionais;

Produo e transporte de sedimentos

Trata da qualificao da eroso de solo e do transporte de sedimento, na


superfcie da bacia e nos rios, devido s condies naturais e do uso do solo;

Qualidade da gua e meio ambiente

Trata da qualificao de parmetros fsicos, qumicos e biolgicos da


gua e sua interao com os seus usos na avaliao do meio ambiente aqutico.

HIDROLOGIA APLICADA

A Hidrologia Aplicada est voltada para os diferentes problemas que


envolvem a utilizao dos recursos hdricos, preservao do meio ambiente e
ocupao da bacia.
No primeiro caso esto envolvidos os aspectos de disponibilidade hdrica,
regularizao de vazo, planejamento, operao e gerenciamento dos recursos
hdricos.
Dentro dessa viso os principais projetos que normalmente so
desenvolvidos com a participao significativa do hidrlogo so: aproveitamentos
hidreltricos, abastecimento de gua, irrigao e regularizao para navegao.
Quanto preservao do meio ambiente, modificaes do uso do solo,
regularizao para controle de qualidade da gua, impacto das obras hidrulicas
sobre o meio ambiente aqutico e terrestre, so exemplos de problemas que
envolvem aspectos multidisciplinares em que a hidrologia tem uma parcela
importante.
A ocupao da bacia pela populao gera duas preocupaes distintas: o
impacto do meio sobre a populao atravs de enchentes e; o impacto do homem
sobre a bacia, mencionado na preservao do meio ambiente.
A ao do homem no planejamento e desenvolvimento da ocupao do
espao na Terra requer cada vez mais uma viso ampla sobre as necessidades da
populao, os recursos terrestres e aquticos disponveis e o conhecimento sobre o
comportamento dos processos naturais na bacia, para racionalmente compatibilizar
necessidades crescentes com recursos limitados.
5

No Brasil algumas das principais reas do conhecimento da Hidrologia


Aplicada encontram-se nos seguintes aspectos:

Planejamento e gerenciamento da bacia hidrogrfica

O desenvolvimento das principais bacias quanto ao planejamento e


controle de uso dos recursos naturais requer uma ao pblica e privada
coordenada;

Drenagem Urbana

Atualmente, grande parte da populao do Brasil ocupa espao urbano.


Enchentes, produo de sedimentos e qualidade da gua so problemas srios
encontrados em grande parte das cidades brasileiras;

Energia

A produo de energia hidreltrica representa 92% de toda a energia


produzida no pas. O potencial hidreltrico ainda existente significativo. Esta
energia dependa da disponibilidade de gua, da sua regularizao por obras
hidrulicas e o impacto das mesmas sobre o meio ambiente;

O uso do solo rural

A expanso das fronteiras agrcolas e o intenso uso agrcola tm gerado


impactos significativos na produo de sedimentos e nutrientes nas bacias rurais,
resultando em perda de solo frtil e assoreamento dos rios;

Qualidade da gua

O meio ambiente aqutico (oceanos, rios, lagos, reservatrios e


aqferos) sofre com a falta e tratamento dos despejos domsticos e industriais e de
carga de pesticidas de uso agrcolas;

Abastecimento da gua

A disponibilidade de gua, que apesar de farta em grande parte do pas,


apresenta limitaes nas regies ridas e semi-ridas do nordeste brasileiro. A
reduo da qualidade de gua dos rios e as grandes concentraes urbanas tm
apresentado limitaes quanto disponibilidade de gua para o abastecimento;

Irrigao

A produo agrcola nas regies ridas e semi-ridas depende


essencialmente da disponibilidade de gua. No sul, culturas como o arroz utilizam
grande quantidade significativa de gua. O aumento da produtividade passa pelo
aumento da irrigao em grande parte do pas;

Navegao

A navegao interior ainda pequena, mas com grande potencial de


transporte, principalmente nos rios Jacu, Tiet/Paran, So Francisco e na
Amaznia. A navegao pode ter um peso significativo no desenvolvimento
nacional. Os principais aspectos so: disponibilidade hdrica para calado, previso
de nveis e planejamento e operao de obras hidrulicas para navegao.

CICLO HIDROLGICO

1.1.

INTRODUO
O ciclo hidrolgico o fenmeno global de circulao fechada da gua

entre a superfcie terrestre e a atmosfera, impulsionado fundamentalmente pela


radiao solar associada gravidade e a rotao da terra.
O ciclo hidrolgico ocorre em dois sentidos: No sentido superfcieatmosfera, onde o fluxo de gua ocorre fundamentalmente na forma de vapor, como
decorrncia

dos

fenmenos

de

evapotranspirao

(de

evaporao

de

transpirao); No sentido atmosfera-superfcie, onde a transferncia de gua ocorre


em qualquer estado fsico, sendo mais significativas, em termos mundiais, as
precipitaes de chuva e neve, como pode-se observar pela figura 1.

Figura 1: Ciclo Hidrolgico (Fonte: Tucci, 1998)

O ciclo hidrolgico s fechado em nvel global. Os volumes evaporados


em um determinado local do planeta no precipitam necessariamente no mesmo
local, porque h movimentos contnuos, com dinmicas diferentes, na atmosfera, e
tambm na superfcie terrestre.

O CICLO HIDROLGICO

Pode-se comear a descrever o ciclo hidrolgico a partir do vapor de gua


presente na atmosfera que, sob determinadas condies meteorolgicas, condensase, formando microgotcolas de gua que se mantm suspensas no ar devido
turbulncia natural. O agrupamento das microgotcolas, que so invisveis, com o
vapor de gua mais eventuais partculas de gelo e poeira, formam um aerossol que
chamado de nuvem ou de nevoeiro, quando o aerossol junta-se ao solo.
A precipitao acontece quando complexos fenmenos de aglutinao e
crescimento das microgotcolas, em nuvens com presena significativa de umidade
e ncleos de condensao (poeira e gelo), formam uma grande quantidade de gotas
com tamanho e peso suficientes para que a fora da gravidade supere a turbulncia
normal ou os movimentos ascendentes do meio atmosfrico. Se na sua queda
atravessam zonas de temperatura abaixo de zero, pode haver a formao de
partculas de gelo, dando origem ao granizo. Caso a condensao ocorrer sob
temperaturas abaixo do ponto de congelamento, haver a formao de neve.
Caindo sobre um solo com cobertura vegetal, parte do volume precipitado
sofre interceptao em folhas e caules, de onde evapora. Excedendo a capacidade
de armazenar gua na superfcie dos vegetais, ou por ao dos ventos a gua
interceptada pode-se precipitar para o solo.
A gua que atinge o solo segue diversos caminhos. Como o solo um
meio poroso, h infiltrao de toda a precipitao que chega ao cho, enquanto a
superfcie do solo no satura. A partir do momento da saturao superficial,
medida que o solo vai sendo saturado a maiores profundidades, a infiltrao
decresce at uma taxa residual, com o excesso no infiltrado da precipitao
gerando o escoamento superficial. A umidade do solo realimentada pela infiltrao
aproveitada em parte pelos vegetais, que absorvem pelas razes e a devolvem,
quase toda, atmosfera por transpirao, na forma de vapor de gua.
O escoamento superficial manifesta-se inicialmente na forma de
pequenos filetes de gua que se moldam ao microrrelevo do solo. A eroso de
partculas de solo pelos filetes em seus trajetos, aliada topografia preexistente,

molda, por sua vez, uma microrrede de drenagem efmera que converge para a
rede de cursos de gua mais estvel, formada por arroios e rios.
Com raras excees, a gua escoada pela rede de drenagem mais
estvel destina-se ao oceano. Nos oceanos a circulao de gua regida por uma
complexa combinao de fenmenos fsicos e meteorolgicos, destacando-se a
rotao terrestre, os ventos de superfcie, variao espacial e temporal da energia
solar absorvida e as mars.
Em qualquer tempo e local por onde circula a gua na superfcie terrestre,
seja nos continentes ou nos oceanos, h evaporao para a atmosfera, fenmeno
que fecha o ciclo hidrolgico ora descrito.
O sistema da atmosfera extremamente dinmico e no-linear,
dificultando a sua previso quantitativa. Esse sistema cria condies de precipitao
pelo resfriamento do ar mido que formam as nuvens, gerando precipitao na
forma de chuva e neve (entre outros) sobre os mares e superfcie terrestre.
O fluxo sobre a superfcie terrestre positivo (precipitao menos
evaporao), resultando nas vazes dos rios em direo aos oceanos. O fluxo
vertical dos oceanos negativo, com maior evaporao que precipitao. O volume
evaporado adicional se desloca para os continentes atravs do sistema de
circulao da atmosfera e precipita, fechando o ciclo.
O equilbrio mdio anual, em volume, entre a precipitao e a
evapotranspirao, que so os dois fluxos principais entre a superfcie terrestre e a
atmosfera, em nvel global apresenta o seguinte valor:
P = E = 423 x 10 m/ano
A evaporao direta dos oceanos para a atmosfera equivale a 361x10
m, representando 85% do total evaporado e 62x10 m (15%), devidos a
evapotranspirao dos continentes.
Quanto precipitao, a atmosfera devolve aos oceanos 324x10 m,
equivalente a 77% do total precipitado, e aos continentes 23% (99x10 m). A
diferena entre o que precipitado anualmente nos continentes e o que
evapotranspirado pelos continentes corresponde ao escoamento para os oceanos
(37x10 m).

10

Cerca de 36% da energia solar que atua sobre o sistema terrestre,


utilizada para a evaporao da terra e do mar.
A quantidade de gua e a velocidade a que esta circula nas diferentes
etapas do ciclo hidrolgico, so influenciadas por diversos fatores como, por
exemplo, a cobertura vegetal, altitude, topografia, temperatura, tipo de solo e
geologia.
Dentre as quantificaes dos fluxos e reservas de gua do ciclo
hidrolgico global apresentada por diversos autores, cita-se a proposta por Peixoto e
Oort (1990), citada por Tucci, mostrados na tabela abaixo:
Tabela 1 Reservas de gua na Terra
Fonte

Volume (m)

15

Oceano

1350x10

97,5

Geleiras

25x1015

1,81

15

0,61

gua subterrnea

8,4x10

Rios e Lagos

0,2x1015

0,01
15

Biosfera

0,0006x10

15

Atmosfera

0,013x10

1383,61x1015

TOTAL

100

Conforme mostra a tabela acima, 97,5% da gua do planeta est nos


oceanos. Em certas regies da Terra, o ciclo hidrolgico manifesta-se de forma
bastante peculiar. Fatores como a desuniformidade com que a energia solar atinge
os diversos locais, o diferente comportamento trmico dos continentes em relao
aos oceanos, quantidade de vapor de gua, CO2 e oznio na atmosfera, a
variabilidade espacial de solos e coberturas vegetais e a influncia da rota o e
inclinao do eixo terrestre na circulao atmosfrica, contribuem para a grande
variabilidade nas manifestaes do ciclo hidrolgico nos diferentes pontos do globo
terrestre.
Nas calotas polares, por exemplo, ocorre pouca precipitao e a
evaporao direta das geleiras. Nos grandes desertos tambm so raras as
precipitaes,

havendo

gua

permanente

disponvel

somente

grande

profundidade, sem trocas significativas com a atmosfera, tendo sido estocada


provavelmente em tempos remotos. A energia calorfica do Sol, fundamental ao ciclo
hidrolgico, somente aproveitada devido ao efeito estufa natural causado pelo
11

vapor de gua e CO2, que impede a perda total do calor emitido pela Terra originado
pela radiao solar (ondas curtas) recebida. Assim a atmosfera mantm-se
aquecida, possibilitando a evaporao e transpirao naturais. Como cerca de
metade do CO2 natural absorvido no processo de fotossntese das algas nos
oceanos, verifica-se que bastante importante a interao entre os oceanos e
atmosfera para a estabilidade do clima e do ciclo hidrolgico.

12

BACIA HIDROGRFICA

1.1. INTRODUO
A bacia hidrogrfica uma rea de captao natural de gua da
precipitao que faz convergir os escoamentos para um nico ponto de sada, seu
exutrio. A bacia hidrogrfica compe-se basicamente de um conjunto de superfcies
vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos de gua que confluem at
resultar um leito nico no exutrio (TUCCI, 2009).
Segundo Viessman, Harbaugh e Knapp (1972), a bacia hidrogrfica
uma rea definida topograficamente, drenada por um curso de gua ou um sistema
conectado de cursos dgua, dispondo de uma simples sada para que toda a vazo
efluente seja descarregada.
Uma bacia hidrogrfica compreende, ento, toda a rea de captao
natural da gua da chuva que proporciona escoamento superficial para o canal
principal e seus tributrios.

PARMETOS FSICOS DE BACIAS HIDROGRFICAS

Consideram-se dados fisiogrficos de uma bacia todos aqueles dados


que podem ser extrados de mapas, fotografias areas e imagens de satlite.
Basicamente so os fatores que influem no escoamento superficial como reas,
comprimentos, declividades, etc.
Dentre esses fatores os mais importantes so: rea da bacia, forma da
bacia, altitude mdia, declividade media da bacia, densidade de drenagem,
sinuosidade da bacia, sistema de drenagem e relevo da bacia.

13

rea da Bacia

A determinao da rea de drenagem de uma bacia feita com o auxlio


de uma planta topogrfica, de altimetria adequada traando-se uma linha divisria
(figura 4) que passa pelos pontos de maior cota entre duas bacias vizinhas.

Figura 4: Bacia Hidrogrfica do Riacho Faustino.

Para que haja preciso na determinao da rea utiliza-se um planmetro,


com mtodos geomtricos de determinao de rea de figura irregular ou com
recursos intrnsecos aos aparelhos de Sistemas de Informao Geogrfica (SIG),
quando se trabalha com a planta digitalizada.

Forma

forma

da

bacia

influencia

no

escoamento

superficial

consequentemente o hidrograma resultante de uma determinada chuva.

14

As grandes bacias hidrogrficas em geral apresentam forma de leque ou


pra, j as pequenas bacias apresentam formas mais variadas possveis em funo
da estrutura geolgica dos terrenos.
Para expressar em forma numrica a forma de uma bacia hidrogrfica
Gravelius props dois ndices:

Coeficiente de Compatibilidade (

a relao entre os permetros (P) da bacia e de um crculo de rea (A)


igual a da bacia:

Um coeficiente mnimo igual a 1 corresponderia bacia circular. Com


isso, quanto maior o

menos propensa enchente a bacia.

Fator de forma (

a relao entre a largura mdia da bacia ( ) e o comprimento axial do


cursa da gua ( ). O comprimento medido seguindo-se o curso dgua mais
longo desde a cabeceira mais distante da bacia at a desembocadura. A largura
mdia obtida pela diviso da rea da bacia pelo comprimento da bacia.
Temos que

, mas

Logo:

Este ndice tambm indica a maior ou menor tolerncia para enchentes de


uma bacia. Uma bacia com

baixo, ou seja, com o

a enchentes que outra com a mesma rea, mas o

grande, ter menor propenso


maior.

Sistema de Drenagem

O sistema de drenagem de uma bacia formado pelo rio principal e seus


afluentes. As caractersticas de uma rede de drenagem podem ser descritos pela
15

ordem dos cursos de gua, densidade de drenagem, extenso mdia do


escoamento superficial e sinuosidade do curso de gua.

Ordem dos Cursos de gua

A ordem dos rios uma classificao que reflete o grau de ramificao ou


bifurcao dentro de uma bacia. Os cursos de gua maiores possuem seus
tributrios, que por sua vez possuem outros at que se chegue aos minsculos
cursos de gua da extremidade.
Todos os afluentes que no se ramificam (que desembocam no rio
principal ou em seus ramos) so chamados de primeira ordem (1), como pode-se
observar na figura 5. Os cursos de gua que apenas recebem afluentes e que no
se subdividem so chamados de segunda ordem (2). J os de terceira ordem so
formados pela unio de dois cursos dgua de segunda ordem e assim por diante.

Figura 5: Ordem dos cursos de gua na bacia do Rio Jaguaribe (Fonte: Carlos Dudene)

Densidade (ndices) de Drenagem


16

a relao entre o comprimento total de cursos de gua de uma bacia e


a rea total da mesma.

So chamadas reas de baixa densidade de drenagem quando


constitudas por relevo plano e suave, cuja condio de alta permeabilidade permite
rapidez de infiltrao de gua e conseqente formao de lenis aqferos. O
regime pluvial apresenta escoamento superficial pouco significativo, gerando
mecanismos de eroso hdrica ligados ao processo inicial da gota de chuva e
provocando a eroso laminar ou em lenol, decorrente do atrito do prprio
escoamento superficial que conduz material erodido dos pontos abaixo das encostas
para as calhas fluviais. Geralmente so reas abaixo de 5 km/km.
As reas de alta densidade de drenagem, maiores de 13 km/km,
apresentam terrenos com relevo de maior movimentao topogrfica. O escoamento
superficial mais rpido nas encostas provoca o aparecimento da ao erosiva em
sulco ou vooroca, que em pocas de chuvas abrem grandes fendas, por onde o
escoamento concentrado tende a alargar a escavao, progredindo e aumentando a
vooroca formada, at transform-la em ravina.

Extenso Mdia do Escoamento Superficial ( )

Este parmetro indica a distncia mdia que a chuva teria que escoar
sobre os terrenos da bacia (em linha reta) do ponto onde ocorreu sua queda at o
curso dgua mais prximo.
Para isso transforma-se a bacia em estudo em um retngulo de mesma
rea, onde o lado maior a soma dos comprimentos dos rios da bacia (

).

17

Figura 6: Extenso mdia de escoamento superficial (Fonte: Vilela, 1975)

De acordo com a figura 6 temos que:


, desse modo

Sinuosidade do Curso da gua (

a relao entre o comprimento do rio principal ( ) e o comprimento do


talvegue ( ) que a medida em linha reta entre o ponto inicial e o final do curso de
gua principal. Ver figura 7.

Figura 7: Comprimento principal (L) e comprimento talvegue (Lt)

18

DECLIVIDADE MDIA DA BACIA

A declividade de uma bacia hidrogrfica tem relao importante com


vrios processos hidrolgicos, tais como a infiltrao, o escoamento superficial, a
umidade do solo e a contribuio de gua subterrnea ao escoamento do curso da
gua. Sendo, desse modo, um dos fatores mais importantes que controla o tempo
do escoamento superficial e da concentrao da chuva, tendo uma importncia
direta em relao magnitude da enchente. Quanto maior a declividade maior a
variao das vazes instantneas.
A declividade dos terrenos de uma bacia controla em boa parte a
velocidade com que se d o escoamento superficial (VILELA,1975). Quanto mais
ngreme for o terreno, mais rpido ser o escoamento superficial, o tempo de
concentrao ser menor e os picos de enchentes maiores.
A diferena entre a elevao mxima e a elevao mnima define a
chamada amplitude altimtrica da bacia. Dividindo-se a amplitude altimtrica pelo
comprimento da bacia obtm-se uma medida do gradiente ou declividade geral da
bacia:

Onde:
S a declividade mdia (%)
D a distncia entre as curvas de nvel (m)
L o comprimento total das curvas de nvel (m)
A a rea da bacia hidrogrfica (m)

Outra forma de se determinar a declividade da bacia atravs do Mtodo


das Quadrculas. Este mtodo consiste em lanar sobre o mapa topogrfico da
bacia, um papel transparente sobre o qual ser tranada uma malha quadriculada,
com os pontos de interseco assinalados. A cada um desses pontos associa-se um
vetor perpendicular curva de nvel mais prxima (orientado no sentido do
escoamento). As declividades em cada vrtice so obtidas, medindo-se na planta,
as menores distncias entre curvas de nveis subseqentes; a declividade o
19

quociente entre a diferena de cota e a distncia medida em planta entre as curvas


de nvel.

Figura 8: Mtodo das quadrculas (Fonte: Tucci, 1998)

Aps a determinao da declividade dos vetores, constri-se uma tabela


de distribuio de freqncias, tomando-se uma amplitude para as classes. A
declividade mdia ser:

Onde:
S a declividade mdia (%)
a freqncia de ocorrncia
PM o ponto mdio da classe

Quando a declividade menor que 5% o declive plano e suave com


escoamento lento ou mdio. No impedem o uso de mquinas agrcolas. A eroso
hdrica no problema e exige prticas simples de conservao do solo (plantio em
nvel, cobertura morta, rotao de culturas).
Quando da declividade est entre 5% e 10% obtm-se superfcies
inclinadas, geralmente em relevo ondulado nos quais o escoamento superficial
mdio. O declive no prejudica o uso de mquinas agrcolas e a eroso hdrica j
20

causa problemas em alguns casos, exigindo prticas simples complexas de


conservao.
J a declividade esta entre 10% e 15% compreende reas muito
inclinadas ou declivosas, com escoamento superficial rpido. Dificulta o uso de
mquinas agrcolas. Os solos so facilmente erodveis. Normalmente so reas que
s

podem

ser

utilizadas

para

alguns

cultivos

perenes,

pastagens

ou

reflorestamentos.
As declividades entre 15% e 20%, por sua vez, so fortemente inclinadas,
cujo escoamento superficial rpido. No so apropriadas para culturas perenes
sendo prprias para pastagens ou reflorestamentos. Apresenta problemas de eroso
e impedimento ao uso de mquinas agrcolas.

HIDROGRAMA DE SADA

A bacia hidrogrfica pode ser considerada um sistema fsico onde a


entrada o volume de gua precipitado e a sada o volume de gua escoado pelo
exutrio, considerando-se como perdas intermedirias os volumes evaporados e
transpirados e tambm os infiltrados profundamente (TUCCI,2009).
O limite superior de uma bacia hidrogrfica o divisor de gua (divisor
topogrfico), e a delimitao inferior a sada da bacia (confluncia).
Em um evento isolado pode-se considerar estas perdas e analisar estas
perdas e analisar a transformao de chuva em vazo, atravs do hidrograma
(sada) e do hietograma (entrada).
O papel hidrolgico da bacia hidrogrfica consiste em transformar uma
entrada de volume concentrada no tempo (precipitao) em uma sada de gua
(escoamento), de forma mais atribuda no tempo. A grfico 1, a seguir, mostra a
resposta hidrolgica de uma bacia hidrolgica.

21

Grfico 1: Resposta hidrolgica da bacia hidrogrfica (Fonte: Tucci, 1998).

Na figura feito uma diferena entre um escoamento mais lento e outro


mais rpido, identificvel pela forte elevao das vazes em um curto espao de
tempo que, aps atingir um pico, decresce rapidamente, porm em tempo maior que
o da elevao. Ao escoamento rpido atribui-se com escoamento superficial e, ao
escoamento lento, escoamento subterrneo. Esta diferenciao permite quantificar e
analisar separadamente o escoamento superficial, geralmente de maior magnitude
em uma cheia, explicado pela relao de causa e efeito com a precipitao.
Uma maneira consistente de explicar a disperso do hidrograma no
tempo considerar o efeito translao. Analisando-se uma lmina L precipitada
sobre uma bacia de rea A em um pequeno intervalo de tempo, razovel supor
que a precipitao ocorrida perto do exutrio gerar um escoamento que chegar
mais cedo a este ponto, enquanto que o escoamento gerado em locais mais
distantes passar mais tarde pelo mesmo exutrio. Desta maneira, h um
escalonamento de chegada dos volumes seo de sada, que reproduz, em parte,
o efeito de espalhamento das vazes no tempo (TUCCI,2009).
Outro fenmeno que contribui para a conformao do hidrograma de
sada da bacia o fenmeno hidrulico do armazenamento. Nas condies naturais,
com atrito, quanto maior o volume a escoar na bacia tanto maior a carga hidrulica
necessria para haver o escoamento e, portanto, tanto maior o volume
armazenado temporariamente na bacia.
Tanto a translao como o armazenamento dependem profundamente da
topologia da bacia hidrogrfica, isto , de como esto dispostos no espao as
22

vertentes e a rede de drenagem. Entretanto, os mtodos clssicos da hidrologia para


clculo do hidrograma de sada no explicitam os papis das vertentes e da rede de
drenagem, preferindo tratar a bacia como um sistema que funciona base da
translao e/ou armazenamento.
Outra abordagem sobre a contribuio das vertentes na gerao do
hidrograma de sada da bacia dada por Beven e Kikby (1979) apud Tucci (2009),
onde a partir da constatao de que diferentes partes da bacia tm normalmente
diferentes capacidades de infiltrao e teores de umidade, fazendo com que as
vertentes gerem escoamentos de diferentes magnitudes, os referidos pesquisadores
relacionaram este fato com um ndice topogrfico de declividade. Este ndice
topogrfico correlacionado com a umidade subsuperficial do solo e, quando
obtido para diversas partes da bacia, conduz a um diagrama que identifica a
porcentagem da rea da bacia que est efetivamente gerando esc oamento
superficial.

23

BALANO HDRICO

1.1. DEFINIO E CLCULOS


O Balano Hdrico a contabilidade das entradas e sadas de gua de um
sistema. Vrias escalas espaciais podem ser consideradas para se contabilizar o
balano hdrico, como a macro, a intermediria e a local.
Na escala macro, o banco hdrico o prprio ciclo hidrolgico. Desse
modo, o resultado fornecer a gua disponvel em um sistema. Em uma escala
intermediria, representada por uma micro-bacia hidrogrfica, o balano hdrico
resulta na vazo (Q) de gua nesse sistema. Em uma escala local, no caso de uma
cultura,

balano hdrico

estabelece

variao

de

armazenamento

e,

conseqentemente, a disponibilidade de gua no solo.


Com isso podemos aplicar a lei da Continuidade que afirma que num
certo perodo de tempo, o volume de gua de entrada menos o volume de gua de
sada deve igualar a variao dos estoques de gua na rea.
Desse modo definimos as variveis de entrada e sada de gua conforme
mostra descrito a seguir:

Entrada de gua

Sada de gua

P = Chuva

ET = Evapotranspirao

O = Orvalho

Ro = Escorrimento Superficial

Ri = Escorrimento Superficial

Dlo = Escorriemnto Sub-superficial

DLi = Escorrimento Sub-superficial

DP = Drenagem Profunda

AC = Ascenso Capilar

Equacionando as entradas (+) e as sadas de gua (-) de gua do


sistema, temos que a variao de armazenamento (

) de gua no solo :

A chuva representa a principal entrada de gua em um sistema, ao passo


que a contribuio do orvalho s assume papel importante em regies muito ridas,
24

sendo assim desprezvel. As entradas de gua pela ascenso capilar tambm so


muito pequenas e somente ocorrem em locais com lenol fretico superficial e em
perodos muito secos. Mesmo assim, a contribuio dessa varivel pequena,
sendo tambm desprezvel. J os fluxos horizontais de gua (Ri, Ro, Dli, e DLo)
para

reas

homogneas,

se

compensam,

portanto,

anulam-se.

ET

(evapotranspirao) a principal sada de gua do sistema, especialmente nos


perodos secos, ao passo que DP (drenagem profunda) constitui-se em outra via de
sada de gua do volume de controle de solos nos perodos excessivamente
chuvosos.
Com isso, podemos considerar que

, O e AC so

desprezveis, resultando na seguinte equao:

Quando o perodo de tempo muito grande (um ano ou mais) admite-se


que

, assim:

25

PRECIPITAO

1.1. DEFINIO
Precipitao a gua proveniente do meio atmosfrico que atinge a
superfcie terrestre. Existem vrias formas de precipitao, como neblina, chuva,
granizo, saraiva, orvalho, geada e neve. Dentre estas a mais importante a chuva
uma vez que possui capacidade de produzir escoamento.
A precipitao caracterizada por meio de trs grandezas: altura,
durao e intensidade. A altura pluviomtrica o volume da chuva precipitado
medido em milmetros (mm), mais o perodo de tempo. A intensidade a grandeza
que visa caracterizar a variabilidade temporal. Medida, geralmente, em mm/h ou
mm/min.

FORMAO

A origem das precipitaes est ligada ao crescimento das gotculas das


nuvens, o que ocorre quando forem reunidas certas condies. Para as gotas de
gua precipitarem necessrio que tenham um volume tal que seu peso seja
superior s foras que as mantm em suspenso, adquirindo, ento, uma velocidade
de queda superior s componentes verticais ascendentes dos movimentos
atmosfricos.

CLASSIFICAO

As precipitaes so classificadas como chuvas frontais, chuvas


orogrficas e convectivas, definidas de acordo com o fator responsvel pela
ascenso do ar mido.

26

Chuvas Frontais ou Ciclnica

So chuvas de durao mdia e longa, provenientes de choques de


massa de ar quente e frio (ver figura 10). O ar frio, mais denso, empurra a massa de
ar quente para cima, que se resfria e condensa o vapor dgua, produzindo chuvas.
Essas precipitaes podem vir acompanhadas de ventos fortes com circulao
ciclnica.

Chuvas Convectivas

As chuvas convectivas so tambm chamadas de chuvas de vero.


Quando o ar mido for aquecido na vizinhana do solo, podem criar camadas de ar
quente que se mantm em equilbrio instvel. Essa camada sobe, sendo resfriado
rapidamente, condensando o vapor atmosfrico, formando nuvens e, em muitas
vezes, precipitaes. So caractersticas de regies equatoriais, onde os ventos so
fracos e os movimentos de ar so essencialmente verticais (ver figura 11).

Chuvas Orogrficas

As chuvas orogrficas ocorrem devido influncia do relevo (ver figura


12).

Quando

ventos

midos

proveniente do

oceano

encontram

barreiras

montanhosas no continente, elevando-se e resfriando-se, formando nuvens e


ocorrncia de chuvas. So chuvas de pequenas intensidades e grande durao, que
cobrem pequenas reas.

CARACTERSTICAS PRINCIPAIS DAS PRECIPITAES

So

necessrios

alguns

parmetros

bsicos

para

definir

uma

precipitao: altura pluviomtrica (r), durao (t) e freqncia de ocorrncia ou


probabilidade (p) so as principais.

27

A primeira corresponde espessura mdia da lmina da gua que se


formaria no solo como resultado de uma chuva, caso no houvesse escoamento,
infiltrao ou evaporao de gua precipitada. As medidas realizadas nos
pluvimetros so expressas em mm de chuva.
A durao, por sua vez, o perodo de tempo contado desde o incio at
o fim da chuva, expresso geralmente em horas ou minutos.
A freqncia de ocorrncia a quantidade de ocorrncias de eventos
iguais ou superiores ao evento de chuva considerado.
Alm desses parmetros podemos citar a intensidade de precipitao que
a relao entre a altura pluviomtrica e a durao da chuva. Expressa-se em
(mm/h) ou (mm/min).

INSTRUMENTOS DE MEDIO

Existem trs tipos bsicos de se medir a precipitao em forma de chuva:


Pluvimetros, pluvigrafos e radares meteorolgicos. No Brasil a maioria das
estaes de medio utiliza os pluvimetros.

Pluvimetro

O Pluvimetro possui uma superfcie de capacitao horizontal delimitada


por um anel metlico e de um reservatrio que acumula a gua recolhida (ver figura
13). Esse aparelho possui uma rea de captao de 400 cm, de modo que um
volume de 40 ml corresponde a 1mm de precipitao. A gua acumulada no
aparelho tirada por meio de uma torneira, em horrios prefixados. Calcula-se a
precipitao da seguinte forma:

Onde: P a precipitao em mm;


V o volume recolhido em cm ou ml;
A a rea da captao do anel em cm.

28

Figura 13: Pluvimetro. (Fonte: UFCG)

O local escolhido para a instalao do pluvimetro deve ser, de


preferncia, em um terreno plano e livre de obstculos igual ao dobro de sua altura.
As normas da ANEEL (Agncia Nacional de Energia Eltrica) recomendam que o
aro que delimita o pluvimetro esteja a uma altura de 1,50m do solo.

Pluvigrafos

Os pluvigrafos (figura 14) so aparelhos que faz o registro contnuo das


variaes das alturas pluviais ao longo do tempo (ver figura 16).

29

Figura 14: Pluvigrafos.

Figura 15: Pluvigrafos: Esquema de funcionamento. (Fonte: UFCG)

Existem vrios tipos que armazenam a informao de forma anloga ou


digital. Os aparelhos anlogos registram graficamente a chuva acumulada (nas
ordenadas) contra o tempo (abscissas).

30

Radares Meteorolgicos

A medio de chuva por radar est baseada na emisso de pulsos de


radiao eletromagnticos que so refletidos pelas partculas de chuva na
atmosfera, e na medio da intensidade do sinal refletido (figura 17). A relao entre
a intensidade

do sinal

enviado

e recebido,

denominado

refletividade,

correlacionada intensidade de chuva que est caindo em uma regio. Pode-se


estabelecer a distribuio espacial da chuva em cada instante e dentro de um raio
de at 200 km.
No Brasil so poucos os radares para uso meteorolgico. No estado de
So Paulo que existem alguns em operao. Em pases desenvolvidos como
Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha a cobertura por radar, para estimar a chuva,
completa.

PRECIPITAO MDIA SOBRE UMA REGIO

Para calcular a precipitao mdia numa superfcie qualquer necessrio


utilizar das observaes dentro dessa superfcie e nas suas vizinhanas. Aceita-se a
precipitao mdia como sendo a lmina de gua de altura uniforme sobre toda a
rea considerada, associada a um perodo de tempo dado.
Existem vrios mtodos para se determinar a precipitao mdia em uma
rea. Os mais usuais so o Mtodo da Mdia Aritmtica; Mtodo de Thiessen e o
Mtodo das Isoietas, que sero vistos a seguir.

Mtodo da Mdia Aritmtica

A precipitao mdia calculada como a mdia aritmtica dos valores


mdios de precipitao. importante observar que o mtodo ignora variaes
geogrficas da precipitao e, portanto, aplicvel apenas em regies planas com
variao gradual e suave gradiente pluviomtrico e com cobertura de postos de
medio bastante densa.
31

Como exemplo, calcula-se a precipitao mdia da bacia mostrada na


figura 18:

Figura 18: bacia hidrogrfica para clculo de precipitao mdia por mtodo da mdia aritmtica.
(Fonte: Tucci, 2009)

Mtodo dos Polgonos de Thiessen

O mtodo do polgono de Thiessen, conhecido tambm como mtodo do


vizinho mais prximo, um dos mais utilizados. Nesse mtodo define-se a rea de
influncia de cada posto pluviomtrico dentro da bacia hidrogrfica.
Tendo uma bacia hidrogrfica com valores mdios de precipitao (figura
19), contendo uma rea total de 100km.

32

Figura 19: bacia hidrogrfica para clculo de precipitao mdia por mtodo de Thiessen. (Fonte:
Tucci, 2009).

Para isso traa-se, primeiramente, linhas

que unem

os

postos

pluviomtricos mais prximos (figura 20).

Figura 20: Trao de linhas unindo postos pluviomtricos de uma bacia hidrogrfica. (Fonte: Tucci,
2009).

Em seguida determina-se o ponto mdio em cada uma destas linhas, e a


partir desse ponto traa-se uma linha perpendicular.

33

Figura 21: Determinao do ponto mdio e traando linha perpendicular (Fonte: Tucci, 2009).

A intercepo das linhas mdias entre si e com os limites da bacia vo


definir a rea de influncia de cada um dos postos. Com isso mede-se a rea de
cada posto.

Figura 22: Definio da regio de influncia de cada posto (Fonte: Tucci, 2009).

Portanto, tem-se que:


A rea sobre a influncia do posto com 120mm de 15 km;
A rea sobre a influncia do posto com 70mm de 40 km;
A rea sobre a influncia do posto com 50mm de 30 km;
A rea sobre a influncia do posto com 75mm de 5 km;
A rea sobre a influncia do posto com 82mm de 10 km;

34

Logo, a precipitao mdia da bacia ser dada por:

Onde

a rea de influncia do posto i;

a precipitao registrada no posto i


a rea total da bacia

Desse modo:

Se o mtodo da mdia aritmtica fosse utilizado teramos apenas dois


postos no interior da bacia, logo a mdia seria 60 mm.

Mtodo das Isoietas

O mtodo constitui de linhas que unem pontos de igual precipitao.


Depois de escrever os valores de chuva em cada posto se unem estes com linhas
retas nas quais se interpolam linearmente os valores para os quais se pretende
traar as isolinhas. Considerando a bacia da figura X, com rea total de 100km.
Primeiro traa-se linhas que unem os postos pluviomtricos mais
prximos entre si (figura 23).

35

Figura 23: Trao de linhas unindo postos pluviomtricos de uma bacia hidrogrfica (Fonte: Tucci,
2009).

Em seguida se divide as linhas escrevendo os valores da precipitao


interpolados linearmente, como mostra a figura 24.

Figura 24: Dividir as linhas escrevendo os valores da precipitao interpolados (Fonte: Tucci, 2009).

O prximo passo ser em traar as isolinhas (figura 25).

36

Figura 25: Traado das isolinhas (Fonte: Tucci, 2009).

Aps a determinao das isolinhas determina-se a precipitao mdia na


bacia hidrogrfica. Calcula-se a rea Ai (figura 26), delimitada por duas isoietas e
essa rea utilizada como ponderador, segundo a seguinte equao:

Figura 26: Determinao da precipitao mdia utilizando o mtodo das isoietas (Fonte: Tucci,
2009).

37

ANLISE DOS DADOS

O objetivo de um posto de medio de chuvas o de se obter uma srie


ininterrupta de precipitaes ao longo dos anos ou o estudo da variao das
intensidades de chuva ao longo das tormentas. Em qualquer caso pode ocorrer
existncia de perodos sem informaes ou com falhas nas observaes, devido a
problemas com aparelhos de registro e/ou com o operador do posto. Essas falhas
devem ser preenchidas por mtodos estatsticos. Dentre eles, os mtodos mais
comuns de preenchimento de falhas so o Mtodo de Ponderao Regional e o
Mtodo de Regresso Linear.

Mtodo de Ponderao Regional

um mtodo simplificado normalmente utilizado para o preenchimento de


sries mensais ou anuais de precipitaes, visando a homogeneizao do perodo
de informaes e anlise estatstica das precipitaes.

Onde:

a precipitao do posto

a ser estimada;

so as precipitaes correspondentes ao ms (ano) que se


deseja preencher, observadas em trs estaes vizinhas;
a precipitao mdia do posto ;
so as precipitaes mdias nas trs estaes
circuvizinhas.
A escolha dos postos a serem utilizados no mtodo de ponderao
regional deve levar em considerao um intervalo mnimo de srie (usualmente 30
anos), e estar em uma regio climatolgica semelhante.

Mtodo de Regresso Linear

Um mtodo mais aprimorado de preenchimento de falhas consiste em


utilizar as regresses lineares simples ou mltiplas. Na regresso linear simples, as
38

precipitaes de um posto com falhas ( ) e de um posto vizinho ( ) so


correlacionadas. As estimativas dos dois parmetros de equao podem ser obtidas
graficamente ou atravs do critrio de mnimos quadrados.
Correlaciona-se o posto de falhas ( ) com outro vizinho ( ). A correlao
produz uma equao analtica, cujos parmetros podem ser estimados por mtodos
como o de mnimos quadrados, ou graficamente atravs da plotagem cartesianas
dos pares de valores ( ,
pelos pontos mdios de

), traando-se uma reta de maior eficincia que passa


e

. Uma vez definida a equao do tipo

as

falhas podem ser preenchidas


Na regresso linear mltipla as informaes pluviomtricas do posto Y
so correlacionadas com as correspondentes observaes de vrios postos vizinhos
(

) atravs de equaes como

, onde

, so os coeficientes a serem estimados a partir dos dados.

Mtodo de Ponderao Regional com base em Regresses Lineares

um mtodo de combinao dos dois mtodos anteriores e consiste em


estabelecer regresses lineares entre o posto com dados a serem preenchidos ( ) e
em cada um dos postos vizinhos (

). De cada uma das regresses lineares

efetuadas obtm-se o coeficiente de correlao r, e so estabelecidos fatores de


peso, um para cada posto. A expresso fica

Onde

o fator de peso entre os postos

o coeficiente de correlao entre os postos citados


o nmero total de postos vizinhos considerados
A soma de todos os fatores de peso deve ser a unidade. Finalmente, o
valor a preencher no posto

obtido por:

Na tabela X so apresentadas as precipitaes totais correspondentes ao


ms de julho (perodo 1957-75) observadas nos seguintes postos localizados no
39

estado do Paran (DNAEE, 1984): Salto Osrio, Balsa do Santana, Ponte da Vitria
e guas do Ver. Admitindo-se desconhecido o registro correspondente ao ano
1968 no posto guas do Ver, preencha o mesmo com base nos trs mtodos
apresentados anteriormente.

Tabela 2 Precipitaes de julho, mm (DNAEE,1984)


Ano

Salto
Osrio (1)

Balsa do
Santana (2)

Ponte do
Vitorino (3)

guas do
Ver (4)

1957

(*) 329,4

304,50

326,50

355,70

1958

152,60

190,90

196,90

243,20

1959

(*) 57,3

45,30

43,30

39,70

1960

31,60

80,00

84,10

78,00

1961

23,90

59,70

26,70

31,40

1962

75,80

81,00

104,30

70,60

1963

51,80

37,90

32,40

29,50

1964

114,60

116,50

106,40

135,10

1965

84,60

232,00

289,60

216,60

1966

92,00

139,00

122,70

107,50

1967

85,80

96,60

100,20

87,80

1968

89,80

80,00

81,70

111,10

1969

129,20

124,50

108,70

68,80

1970

88,60

149,80

174,60

150,00

1971

153,20

137,30

163,40

120,40

1972

184,20

157,50

137,50

174,40

1973

98,20

86,40

95,80

79,70

1974

81,80

87,60

77,90

80,90

1975

59,00

50,10

83,70

(*) 54,9

Mdia

105,20

120,92

126,37

118,01

Desvio

70,18

69,14

80,14

84,71

(*) Valores estimados pelo DNAEE

Soluo:
Mtodo de ponderao regional

Clculo das ponderaes entre os postos:

S. Osrio guas do Ver:


40

B. Santana guas do Ver:

P. Vitorino guas do Ver:

Clculo do

Mtodo da Regresso Simples

S. Osrio guas do Ver

B. Santana guas do Ver

0,962

P. Vitorino guas do Ver

Mtodo da ponderao Regional de regresses

S. Osrio

41

B. Santana

P. Vitorino

Conforme os clculos indicados observa-se que todos os mtodos


produziram

valores

inferiores

quele

registrado.

vazo

bsica

deste

comportamento que o valor realmente observado no ano de 1968 foi


sensivelmente maior que os registrados nos postos vizinhos.

ANLISE DE CONSISTNCIA DE SRIES PLUVIOMTRICAS

Aps o preenchimento da srie necessrio analisar sua consistncia


dentro de uma viso regional, isto , comprovar o grau de homogeneidade dos
dados disponveis num posto com relao s observaes registradas em postos
vizinhos.

Mtodo da Dupla Massa

Um dos mtodos mais conhecidos para a anlise de consistncia dos


dados de precipitao o Mtodo da Dupla Massa, desenvolvido pelo USGS United
State Geological Survey. A principal finalidade do mtodo identificar se ocorreram
mudanas no comportamento da precipitao ao longo do tempo, ou mesmo no
local de observao.
Esse mtodo baseado no princpio que o grfico de uma quantidade
acumulada, plotada contra outra quantidade acumulada, durante o mesmo perodo,
deve ser uma linha reta, sempre que as quantidades sejam proporcionais. A
declividade da reta ajustada nesse processo representa, ento, a constante de
declividade.
42

Especificamente, devem ser selecionados os postos de uma regio,


acumular para cada um deles os valores mensais (se for o caso), e plotar num
grfico cartesiano os valores acumulados correspondentes ao posto a consistir (nas
ordenadas) e de outro posto confivel adotado como base de comparao (nas
abscissas). Pode-se tambm modificar o mtodo, considerando valores mdios das
precipitaes mensais acumuladas em vrios postos da regio, e plotar esses
valores no eixo das abscissas.
O grfico 2 exemplifica a anlise de Dupla Massa para os postos 3252006
e 3252008, para um perodo de 37 anos de dados de precipitao mensal, onde
pode-se observar que no ocorreram inconsistncias. A declividade da reta
determina o fator de proporcionalidade entre as sries. A possibilidade de no
alinhamento dos postos segundo uma nica reta existe e pode apresentar as
seguintes situaes:

Grfico 2: Anlise de Dupla Massa, sem inconsistncias

Mudana de Declividade

43

A inconsistncia pode ser causada por: alteraes de condies


climticas ou condies fsicas do local, mudana de observador, ou ainda devido a
erros sistemticos.
A seguir nos grficos 3, 5 e 6 mostram inconsistncias com mudana de
tendncia, diferentes regimes e erros de transcrio, respectivamente.

Grfico 3: Anlise de Dupla Massa, com inconsistncias, mudana de tendncia

Para se considerar a existncia mudana na declividade, pratica comum


exigir a ocorrncia de pelo menos cinco pontos sucessivos alinhados segundo a
nova tendncia. Para corrigir esses valores correspondentes ao posto sob anlise,
existem duas possibilidades: corrigir os valores mais antigos para a situao atual ou
corrigir os valores mais recentes para a condio antiga. A escolha da alternativa
depende das causas que provocam a mudana na declividade. Por exemplo, se
foram detectados erros no perodo mais recente, a correo dever ser realizada no
sentido de preservar a tendncia antiga. Os valores devero ser acumulados a partir
do perodo para o qual se deseja manter a tendncia da reta, e os valores
inconsistentes podem ser corrigidos de acordo com a seguinte equao:

Onde:

a precipitao acumulada aps o ajuste a tendncia

desejada;
44

o valor da ordenada correspondente interseo das


duas tendncias;
o coeficiente angular da tendncia desejada;
o coeficiente angular da tendncia a corrigir;
a resposta da diferena
acumulado a ser corrigido, e

, onde

o valor

o valor acumulado da tendncia desejada.

Por exemplo, considerando os dados dos postos apresentados na tabela


3, fazer a consistncia dos dados do posto de Indaial. Na tabela 4 mostrado o
procedimento para o traado da Dupla Massa.
Tabela 3 Anlise de Dupla Massa
Postos Confiveis

Posto a ser
consistido

Apiuna Blumenau Ibirama

Indaial

1945

1208,1

1352,4

1111,4

1319,5

1946

1770,8

1829

1645

2002,3

1947

1502,3

1516,7

1461,4

1976,1

1948

1409,9

1493,8

1471,8

1510,2

1949

1258,8

1301,2

1145,4

1432,9

1950

1358

1403,9

1443,9

1548

1951

1044,7

1230,2

1197,7

1295,4

1952

1159,1

1322,1

1243,8

1330,9

1953

1255,6

1289,4

1249

1356,8

1954

1851,3

1652,3

1673,3

1692,2

1955

1240

1289,2

1474,3

1274,4

1956

1237

1266,5

1402,8

1246,6

1957

1854,7

1941,1

1928,6

2036,6

1958

1758

1844,6

1404,5

1893,5

1959

1204

1564,6

1025,1

1287,5

1960

1318,9

1882,5

1224,9

1583,7

1961

1751,9

1808,3

1410,6

1712,1

1962

1219,5

1274,5

1178,2

1144,1

1963

1530,9

1630

1392,4

1649

Ano

Para

anlise

de

consistncia

considerou-se

manuteno

do

comportamento da srie para o perodo antigo, portanto, os dados acumulados a


partir de 1945. Os valores ressaltados na coluna 5 da tabela 4, foram obtido a partir
da

aplicao

da

seguinte

equao:
45

. Os valores de precipitao apresentados na ltima coluna


so obtidos a partir da desagregao dos dados da coluna 5.
Tabela 4 Correo dos valores de precipitao do posto Indaial a partir da Anlise de Dupla
Massa

1945

1224

Precipitao
Acumulada
Mdia da
Regio (mm)
1224

1946

1748,3

2972,2

3321,8

3321,8

2002,3

1947

1493,5

4465,7

5297,9

5297,9

1976,1

1948

1458,5

5924,2

6808,1

6808,1

1510,2

1949

1235,1

7159,3

8241

8241

1432,9

1950

1401,9

8561,3

9789

9789

1548

1951

1157,5

9718,8

11084,4

11084,4

1295,4

1952

1241,7

10960,5

12415,3

12415,3

1330,9

1953

1264,7

12225,1

13772,1

13772,1

1356,8

1954

1725,6

13950,8

15464,3

15508,9

1736,8

1955

1334,7

15285,5

16738,7

16905,9

1396,9

1956

1302,1

16587,6

17985,3

18272,3

1366,5

1957

1908,1

18495,7

20021,9

20504,8

2232,4

1958

1669

20164,7

21915,4

22580,3

2075,6

1959

1264,6

21429,3

23202,9

23991,6

1411,3

1960

1475,4

22904,7

24786,6

25727,6

1736

1961

1656,9

24561,7

26498,7

27604,3

1876,7

1962

1224,1

25785,7

27642,8

28858,5

1254,1

1963

1517,8

27303,5

29291,8

30666

1807,6

Ano

Precipitao
Mdia da
Regio (mm)

Precipitao
acumulado
corrigida Indaial
(mm)
1319,4

Precipitao
Acumulada
Corrigida
Indaial (mm)
1319,5

Precipitao
Indaial Corrigida
(mm)
1319,5

Os dados das tabelas 3 e 4 podem ser melhores interpretados atravs do


grfico mostrado no grfico 4 (representao em forma grfica da terceira e quarta
coluna da tabela 4), ressaltando a mudana de tendncia, bem como os coeficientes
angulares.

46

Grfico 4: Anlise de Dupla Massa

Alinhamento dos Pontos em Retas Paralelas

Esse tipo de inconsistncia ocorre quando existem erros na transcrio de


um ou mais dados de precipitao, ou ainda pela ocorrncia de eventos extremos de
chuva dentro de um ano (grfico 5). A ocorrncia de alinhamentos, segundo duas ou
mais retas aproximadamente horizontais (ou verticais), pode ser a evidncia da
comparao de postos com diferentes regimes pluviomtricos.

47

Grfico 5: Anlise de Dupla Massa, com inconsistncias, erros de transcrio

Distribuio Errtica dos Pontos

Esse tipo de inconsistncia ocorre normalmente quando so comparados


postos com diferentes regimes pluviomtricos, sendo incorreta tida associao que
se deseje fazer entre os dados dos postos plotados (grfico 6).

48

Grfico 6: Anlise de Dupla Massa, com inconsistncias, diferentes regimes

ANLISE DE FREQUNCIA MENSAIS E ANUAIS

A precipitao um processo aleatrio, condicionando sua previso a


poucos dias de antecedncia. Dada essa dificuldade, a previso da precipitao
normalmente realizada em funo dos registros antigos de eventos, associando a
freqncia de ocorrncia de uma precipitao com dada magnitude a uma
probabilidade terica de ocorrncia da mesma.
Em hidrologia freqentemente so utilizadas sries de precipitao
mensal e/ou anuais. Uma srie de precipitao total mensal obtida acumulando-se
o volume de chuva dirio ocorrido no ms correspondente (adio de precipitao
diria de cada ms). Uma srie de precipitao anual obtida pela adio dos totais
mensais, ou ainda atravs da soma das precipitaes dirias de cada ano. Na tabela
7 apresentada uma srie de precipitao total mensal e o total anual do posto
Granja Santa Marta em Rio Grande, para o perodo compreendido entre 1960 e
1970.
Tabela 7 Precipitaes totais mensais e anuais
Precipitao Total Mensal (mm)
Maio
Jun.
Jul.
Ago.

Out.

Nov.

Dez.

Total Anual
(mm)

164

89

81

51

1427

266

113

73

54

1304

80

148

98

36

37

954

134

174

215

125

176,2

119,4

1546,6

51,5

63,5

104,9

50,6

147

25,6

26,4

807,6

52

33

217

234

79

58

66

1118,1

14,1

78

200

45,4

61

63

23,2

83

889,6

165,7

207,9

142

147,7

60,2

129

50,4

26,6

1099,4

27,3

28,4

59,5

26,6

102,9

68,7

101,1

110,7

865,9

223,7

134,4

52,7

69,2

96,7

29,2

62,3

17,3

826,2

122,8

86,6

86,3

28,3

41,5

46,2

150

Jan.

Fev.

Mar.

Abr.

1960

99

29

238

103

146

272

149

1961

111

87

110

39

19

215

110

107

1962

65

83

181

65

29

32

100

1963

137

85

159

65

78

79

1964

70

87,2

86,9

23,4

70,6

1965

8,1

35,1

181,9

114

40

1966

84,9

27,7

143,5

65,8

1967

40,6

65,2

39,5

24,6

1968

65,5

106,9

116,4

51,9

1969

43,1

48,4

30,5

18,7

1970

130,6

59,2

42

43,3

124,4

Ano

Set.

Mdia Anual

961,2
1072,7

Quando usado o termo precipitao mdia anual, significa que foi obtida uma mdia
a partir dos totais anuais. Por exemplo, para a srie apresentada na tabela 7, a
precipitao mdia anual 1072,7 mm.

PRECIPITAES MXIMAS

49

A precipitao mxima entendida como a ocorrncia extrema, com


durao, distribuio temporal e espacial crtica para uma rea ou uma bacia
hidrogrfica.
O estudo das precipitaes mximas um dos caminhos para conhecerse a vazo de enchente de uma bacia. As precipitaes mximas so retratadas
pontualmente (abrangncia mxima aceitvel de 25 km) pelas curvas de
intensidade, durao e freqncia (i-d-f) e atravs da Precipitao Mxima Provvel
(PMP), mtodo mais utilizado para grandes obras, onde o risco de rompimento deve
ser mnimo. As caractersticas da distribuio temporal (hietograma) e espacial so
importantes para a caracterizao da vazo na bacia.
Primeiramente, define-se o tempo de retorno ou recorrncia de uma
determinada precipitao para que posteriormente possam ser determinadas as
curvas i-d-f.

Tempo de Retorno

Tempo de retorno ( ) trata-se do tempo mdio em que dado evento, ou


para este caso, dada precipitao, probabilisticamente, acontecer novamente. Para
melhor entendimento segue um roteiro de como se calcular o tempo de retorno:

1) Ordenar de forma decrescente a srie (para anlise de cheias). Obs,:


Para o caso de analisar estiagens, analisar a probabilidade
complementar.
2) Calcular a probabilidade ( ) de ocorrncia com base na ordem ( ) e no
total de dados da srie ( ).
3)
4) Obter o tempo de retorno ( ), dado pelo inverso da probabilidade ( ).

5) Plotar o grfico Precipitao x Tempo de Retorno.

50

DETERMINAO DAS CURVAS INTENSIDADEDURAO-FREQNCIA (I-DF)

A necessidade de se conhecer as trs grandezas que caracterizam as


precipitaes mximas (intensidade, durao e freqncia) encontrada para
projetos de obras hidrulicas, tais como vertedores de barragens, sistemas de
drenagem, galerias pluviais dimensionamento de bueiros, entre outros, tendo em
vista a correlao existente entre chuva e vazo.
A relao entre intensidade, durao e freqncia varia entre largos
limites, de local para local e s pode ser determinada empiricamente atravs de uma
longa srie de observaes pluviogrficas locais, no havendo possibilidade de
estender os resultados obtidos em uma regio para diversas regies. Os resultados
dessas anlises estatsticas podem ser apresentados graficamente, atravs de uma
famlia de curvas (uma para cada perodo de recorrncia) que ligam as intensidades
mdias, mximas s duraes. A intensidade pode ser substituda pela precipitao
total na durao, denominando-se curvas p-d-f.
Correlacionando intensidade e durao verifica-se que quanto mais
intensa for precipitao, menor ser a sua durao. A relao das maiores
intensidades para cada durao pode ser obtida de uma srie de registros
pluviogrficos de tormentas intensas do local em estudo ou estimada com base nos
dados dos pontos vizinhos.

Determinao das curvas i-d-f em locais com dados

A determinao da relao entre estas trs variveis (curvas i-d-f) deve


ser deduzida das observaes das chuvas intensas durante um perodo de tempo
suficientemente longo e representativo dos eventos extremos do local.
Para anlise estatstica pode-se seguir dois tipos de sries: anual ou
parciais. A escolha depende do tamanho da srie e do objetivo em estudo. A
metodologia de sries parciais utilizada quando o nmero de anos de dados
pequeno (<12 anos) e os tempos de retorno que sero utilizados so inferiores a 5
anos.
51

A metodologia de sries anuais, por sua vez, baseia-se na seleo das


maiores precipitaes anuais de uma durao escolhida. A escolha destas duraes
depende da discretizao dos dados e da representatividade que se deseja
alcanar. Em geral so escolhidas as seguintes duraes: 5, 10, 15, 30 e 60
minutos; 1, 2, 4, 6, 12, 18 e 24 horas.
A metodologia segue a seguinte seqncia:
a)

Para cada durao so obtidas as precipitaes mximas anuais


com base nos dados do pluviogrfico;

b)

Para cada durao mencionada ajustada uma distribuio


estatstica;

c)

Dividindo a precipitao pela sua durao obtm-se a intensidade;

As curvas resultantes so a relao i-d-f definida pela DMAE (1972) para


um posto em Porto Alegre, mostrado no grfico 9.

Grfico 9: Curvas i-d-f (Fonte: Tucci, 1998).

Para facilitar os clculos, procura-se ajustar as curvas a equaes


matemticas genricas, embora haja a possibilidade de encontrar erros, da seguinte
forma:

52

Onde:

a intensidade em mm,/h;
o tempo de retorno em anos;
a durao da chuva, em minutos;
,

so parmetros que devem ser determinados para

cada local.
O ajuste pode ser realizado linearizando a equao 5.21, atravs do uso
de logaritmos e utilizando a regresso mltipla para a determinao dos parmetros.
Curvas i-d-f foram estabelecidas por PFASTETTER (1957), segundo
Tucci (2009), foram estabelecidas curvas para 98 postos localizados em diferentes
regies do Brasil. Fazendo uso da plotagem das curvas p-d-f em escala
bilogartmica, o autor ajustou para cada posto a seguinte equao emprica:

Onde

a precipitao mxima em mm;


a durao da precipitao em horas;
,

constantes para cada posto ;

um fator de probabilidade que definido como:

Sendo que

o tempo de retorno em anos ;


e

so valores que dependem da durao da

precipitao;
uma constante (
O fator

, para todos os postos).

fornece uma precipitao em mm para um

tempo de recorrncia de 1 ano; o fator

permite calcular a estimativa para outros

tempos de retorno. Na tabela 8 so apresentados os valores de

para as duraes

de 5 minutos e 6 dias. Na tabela 9, por sua vez, apresentam-se valores de


da durao) e de ,

(funo

correspondente a cada um dos 98 postos.


Tabela 8 Valores de

53

Durao

5 min

0,108

15 min

0,122

30 min

0,138

1h

0,156

2h

0,166

4h

0,174

8h

0,176

14h

0,174

24h

0,170

48h

0,166

3d

0,160

4d

0,156

6d

0,152

Tabela 9 Valores de , a, b e c para algumas cidades brasileiras

54

Postos

Valores de
5 min 15 min 30 min 1h-6d

Aracaju - SE

0,00

0,04

0,08

0,20

0,6 24 20

Belem- PA

-0,04

0,00

0,00

0,04

0,4 31 20

B. Horizonte - MG

0,12

0,12

0,12

0,04

0,6 26 20

C. do Sul - RS

0,00

0,08

0,08

0,08

0,5 23 20

Cuiab - MT

0,08

0,08

0,08

0,04

0,1 30 20

Curitiba - PR

0,16

0,16

0,16

0,08

0,2 25 20

Florianpolis - SC

-0,04

0,12

0,20

0,20

0,3 33 10

Fortaleza - CE

0,04

0,04

0,08

0,08

0,2 36 20

Goiana - GO

0,08

0,08

0,08

0,12

0,2 30 20

R. Janeiro - RJ

-0,04

0,12

0,12

0,20

0,0 35 10

Joo Pessoa - PA

0,00

0,00

0,04

0,08

0,6 33 10

Macei - AL

0,00

0,04

0,08

0,20

0,5 29 10

Manaus - AM

0,04

0,00

0,00

0,04

0,1 33 20

Natal - RN

-0,08

0,00

0,08

0,12

0,7 23 20

Niteri - RJ

0,08

0,12

0,12

0,12

0,2 27 20

Porto Alegre - RS

0,00

0,08

0,08

0,08

0,4 22 20

Porto Velho - RO

0,00

0,00

0,00

0,04

0,3 35 20

Rio Branco - AC

-0,08

0,00

0,04

0,08

0,3 31 20

Salvador - BA

-0,04

0,08

0,08

0,12

0,6 33 10

So Luiz - Ma

-0,08

0,00

0,00

0,08

0,4 42 10

So Carlos - SP

-0,04

0,08

0,08

0,12

0,4 29 20

Uruguaiana - RS

-0,04

0,08

0,08

0,12

0,2 38 10

A tabela 10 mostra os coeficientes da equao de i-d-f para algumas


cidades brasileiras.
Tabela 10 Coeficientes da equao das curvas i-d-f para algumas cidades brasileiras (Fonte:
Adaptado de Tucci, 1998)

55

DISTRIBUIO TEMPORAL

Estudos realizados mostram que existe uma grande viabilidade na


distribuio temporal das chuvas durante as tempestades. Para esta variao, no
existe um padro definido e o processo totalmente aleatrio diferente do registro
de um pluvimetro onde se l total precipitado em um determinado perodo,
conforme a grfico 12.

Grfico 12 Distribuio real (a) e medida de um pluvimetro (b) (Fonte: Tucci, 2009).

Por este motivo que alguns padres foram desenvolvidos para as


condies mais desfavorveis ou que produzem maiores hidrogramas, com a
finalidade de representar a distribuio temporal das chuvas. Hershfield (1962) apud
Tucci (1998) obteve estatisticamente uma curva expressa em porcentagem do total
56

precipitado versus porcentagem da durao da tempestade para todas as duraes,


enquanto que Soil Conservation Service (1976) desenvolveu uma curva semelhante,
vlida para a durao de 6 horas. As curvas so apresentadas pelo grfico 13.

Grfico 13 Distribuio temporal, Hershfied e SCS (Fonte: Tucci, 2009).

Huff (1970) classificou as tempestades inicialmente em quatro grupos.


Cada precipitao intensa teve sua durao total dividida em quatro partes (quartis)
e as mesmas foram classificadas de acordo com a parte em que a precipitao
mxima caiu. As curvas para a probabilidade de 50 % dos quatro quartis so
apresentadas pelo grfico 14.

57

Grfico 14 Curvas de 50% de probabilidade de ocorrncia para os quatro quartis (Huff)


(Fonte: Tucci, 2009).

Hietograma de projeto baseados nas curvas i-d-f (Mtodo de Chicago)

Grfico 15 Hietograma de projeto (Fonte: Tucci, 2009)..

58

O hietograma de projeto (grfico 15) uma seqncia de precipitaes


capaz de achar a maior enchente para a qual a obra deve ser projetada. Esse
mtodo se baseia nos parmetros da equao i-d-f do local para estabelecer a
distribuio de uma precipitao de projeto no tempo.
Esse mtodo utilizado para pequenas reas de drenagem. No caso de
regies urbanas a rea de estudo considerada contida numa rea maior. Assim, o
hietograma padro representa uma chuva intensa de curta durao, como parte de
uma chuva de longa durao.
Existem trs fatores importantes para caracterizar a distribuio temporal:
volume de precipitao que cai durante o perodo de chuva mxima, precipitao
antecedente e localizao do pico de intensidade mxima, como mostra o grfico 14.
As equaes das curvas do hietograma, que mostram a variao da
intensidade em funo do tempo de durao de chuva, podem ser escritas como:

Onde

- antes do pico

depois do pico

a intensidade mdia mxima, em mm/h;


e

so constantes para o local de medio de acordo com a

tabela 12;
e

representa o tempo anterior e posterior, respectivamente;

tempo de recorrncia (

), no pico;

uma medida do adiantamento do padro de chuva (permite o


posicionamento do pico da distribuio de intensidade, conforme a tabela 13 ),
;
a durao da chuva em min;

A rea sob o hietograma define a lmina precipitada , em mm, dado por:

59

Logo, para o clculo da precipitao antecedente (regio hachurada do


grfico 14), pode-se utilizar a seguinte equao:

Onde
Com isso, o clculo do volume precipitado no perodo de mxima , em
mm:

Tabela 12 Coeficientes da equao das curvas i-d-f para algumas cidades brasileiras
Cidade

a
1265*Tr

Porto Alegre (Redeno)


Porto Alegre (IPH)
Porto Alegre (Aeroporto)
Porto Alegre (8 D. Met.)

b
0,052

509,859*Tr0,196 10
748,342*Tr0,191 10
0,192

0,465

5950*Tr0,217

26

1,15

29,13*Tr0,0181

15

0,89
0,0144

0,112

0,86/Tr

27,96*Tr

0,15

So Paulo - SP

0,803
1,021

Lages - SC

So Paulo - SP

0,72

16

2491,78*Tr

Curitiba - PR

42,23*Tr

15

0,15

42,23*Tr

0,15

Rio de Janeiro - RJ

Obs.

12 0,88/Tr0,05

1239*Tr

20

Tr=5 anos
t20 min
em mm/min
t60min

0,82

t>60 min

0,82

t>60 min

0,74

t>60 min

Tabela 13 Valores de
Local ou autor

Chicago (83 postos)

0,37

Winnipeg (60 postos)

0,31

Montreal (22 enchentes)

0,50

Hershfield (50 postos)

0,53

SCS

0,37

Los Angeles

0,56

Cleveland

0,50

Sidney

0,50

So Paulo (1 posto)

0,36

Porto Alegre (1 posto)

0,44

60

DISTRIBUIO ESPACIAL

A variabilidade espacial de chuvas aleatria, ou seja, sem padres


definidos assim como na distribuio temporal. Estas informaes so raras dentro
da realidade brasileira. Esta variabilidade levou a dois procedimentos bsicos: a
padronizao de isoietas que produzem as condies mais favorveis, e a
determinao da curva altura pluviomtrica-rea-durao que permite transferir o
resultado pontual para o espacial (Tucci, 2009).
Adota-se cerca de 10 milhas ou cerca de 25 km onde os valores
pontuais de intensidade mdia mximas no se reduzem. A medida que a
intensidade aumenta esses valores podem ser reduzidos.

QUESTES

1.Determine a precipitao mxima com tempo de retorno


de 10 anos e durao de 1 hora para Curitiba. Para que tipo de bacia
esta precipitao ser crtica.
2.Como voc determina a precipitao de inundao de
uma pequena bacia urbana a partir dos dados de pluvigrafo?
3.Qual a diferena entre o pluvigrafo e o pluvimetro?
Quando so necessrios cada tipo de aparelho?

61

ESCOAMENTO SUPERFICIAL

1.1. DEFINIO
O escoamento superficial a fase que trata da ocorrncia e transporte da
gua na superfcie terrestre. Isso se deve precipitao, pois ao chegar ao solo,
parte fica retida quer seja em depresses quer seja como pelcula em torno de
partculas slidas. Quando a precipitao j preencheu as pequenas depresses do
solo, a capacidade de reteno da vegetao foi ultrapassada e foi excedida a taxa
de infiltrao, comea a ocorrer o escoamento superficial. Inicialmente, formam-se
pequenos filetes que escoam sobre a superfcie do solo at se juntarem em
corredeiras, canais e rios. O escoamento ocorre sempre de um ponto mais alto para
outro mais baixo, ou seja, sempre das regies mais altas para as regies mais
baixas at o mar.

COMPONENTES DO ESCOAMENTO

A gua, uma vez precipitada sobre o solo, pode seguir trs caminhos para
atingir o curso dgua: escoamento superficial que representa o fluxo sobre a
superfcie do solo e pelos seus mltiplos canais; escoamento sub-superficial
(hipodrmico) que representa o fluxo que se d junto s razes da cobertura vegetal;
e o escoamento subterrneo, que fluxo devido contribuio do aqfero. Sendo
que as duas ltimas modalidades sob velocidades mais baixas.
Observa-se que o deflvio direto (grfico 16) abrange o escoamento
superficial e grande parte do sub-superficial, visto que este ltimo atinge o curso da
gua to rapidamente que, comumente, difcil destingi-lo do verdadeiro
escoamento superficial.
O escoamento de base, constitudo basicamente do escoamento
subterrneo, o responsvel pela alimentao do curso de gua durante o perodo
de estiagem.

62

Grfico 16 Representao do hidrograma e seus principais componentes (Fonte: Porto,


2000)

FATORES QUE INFLUENCIAM NO ESCOAMENTO SUPERFICIAL

Os fatores podem ser:


a)
Fsicas como rea, relevo, rugosidade, taxa
de impermeabilizao, capacidade de infiltrao, densidade de
drenagem, entre outros.
b)
Hidrolgicas como distribuio, durao e
intensidade de precipitao.
c)
Vegetativas devido parte da chuva que fica
interceptada pela vegetao e pela prpria dificuldade de
transporte da gua no solo vegetado.
d)
Condies iniciais de umidade do solo,
principalmente nos escoamentos gerados por precipitaes de
pequeno volume e de mdia a alta intensidade.
GRANDEZAS QUE CARACTERIZAM O ESCOAMENTO SUPERFICIAL
63

Vazo (Q)

A vazo ou volume escoado por unidade de tempo a principal grandeza


que caracteriza um escoamento. Normalmente expressa em metros cbicos por
segundo (

) ou em litros por segundo (

).

Esta vazo pode ser uma vazo mdia diria ou uma vazo especfica. A
primeira a mdia aritmtica das vazes ocorridas durante o dia, sendo mais
comum a mdia das vazes das 7h00 as 17h00. A segunda a vazo por unidade
de rea da bacia hidrogrfica. uma forma bem potente de expressar a capacidade
de uma bacia em produzir escoamento superficial e serve como elemento
comparativo entre bacias.

Coeficiente de Escoamento Superficial (C)

Coeficiente de escoamento superficial ou coeficiente de runoff ou


coeficiente de deflvio definido como a razo entre o volume de gua escoado
superficialmente e o volume de gua precipitado. Este coeficiente pode ser relativo a
uma chuva ou relativo a um intervalo de tempo onde vrias chuvas ocorrem.

Conhecendo-se o coeficiente de deflvio para uma determinada chuva


intensa de uma certa durao, pode-se determinar o escoamento superficial de
outras precipitaes de intensidade diferentes, desde que a durao seja a mesma.
A tabela 14 apresenta valores do coeficiente de escoamento (C), em
funo do solo, declividade e cobertura vegetal.
Tabela 14 Coeficiente de Escoamento

64

Declividade (%)

Solo Arenoso

Solo Franco

Solo Argiloso

Florestas
0a5

0,10

0,30

0,40

5 a 10

0,25

0,35

0,50

10 a 30

0,30

0,50

0,60

0a5

0,10

0,30

0,40

5 a 10

0,15

0,35

0,55

10 a 30

0,20

0,40

0,60

Pastagens

Terras Cultivadas
0a5

0,30

0,50

0,60

5 a 10

0,40

0,60

0,70

10 a 30

0,50

0,70

0,80

Tempo de concentrao ( )

mede o tempo gasto para que toda a bacia contribua para o

escoamento superficial na seo considerada.


O

pode ser estimado por vrios mtodos, os quais resultam em valores

bem diferentes. Dentre eles destaca-se a equao de Kirpich e o motivo se


evidencia pelo fato de que normalmente ela fornece valores menores para

, o que

resulta numa intensidade de chuva maior, por conseqncia, uma maior vazo de
cheia.

Onde

Equao de Kirpich

tempo de concentrao, em h;
comprimento de talvegue principal, em quilmetro;
desnvel entre a parte mais elevada e a seo de controle, em

metros.

Tempo de recorrncia

o perodo do tempo mdio em que um determinado evento (neste caso


a vazo) igualado ou superado pelo menos uma vez. A recomendao do nmero
65

de anos a ser considerado bastante variada: h a recomendao de alguns


autores para que se considere um perodo de retorno de 10 anos para projetos de
conservao de solos. Outros recomendam esse mesmo perodo somente para o
dimensionamento de projetos de saneamento agrcola, em que as enchentes no
trazem prejuzos muitos expressivos. Para projetos em reas urbanas ou de maior
importncia econmica, recomenda-se utilizar o perodo de retorno de 50 ou 100
anos.

Nvel de gua (h)

Refere-se altura atingida pelo nvel dgua em relao a um nvel de


referncia, expressa em metros.
Normalmente as palavras cheias e inundao esto relacionadas ao nvel
de gua atingido. Ser denominada cheia uma elevao normal do curso de gua
dentro de seu leito e inundao elevao no usual do nvel, provocando
transbordamento e possibilidade de prejuzos.

SEPARAO DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL

Como foi visto no item 7.2 o escoamento definido em superficial, subsuperficial e subterrneo. Para analisarmos cada escoamento necessrio separar
no hidrograma que corresponde cada tipo de fluxo.
A parcela de escoamento superficial pode ser definida indicada
diretamente do hidrograma observado por mtodos grficos que se baseiam na
anlise qualitativa. A precipitao efetiva que gera o escoamento superficial obtida
quando no se dispe dos dados observados do hidrograma ou deseja-se
determinar os parmetros de um modelo em combinao com o hidrograma
superficial. O grfico 17 mostra trs mtodos grficos para o clculo que sero vistos
nos itens a seguir.

66

Grfico 17 Mtodos de separao grfica

Mtodo 1

Neste caso, faz-se um prolongamento da depleo a partir do ponto C,


encontrando-se a reta vertical que passa pela vazo mxima, determinando-se o
ponto D, como mostra o grfico 18. Ligando-se D a A, fecha-se a rea
correspondente ao escoamento superficial direto. (UFBA)

Grfico 18 Mtodo 1 Mtodo 2

67

Tucci apresenta esse mtodo como o mais fcil dentre os trs. O que
precisa ser feito ligar os pontos A e C por uma reta, como mostra o grfico 19.

Grfico 19 Mtodo 2

Mello descreve como proceder ao clculo deste mtodo, afirmando que


esta metodologia consiste em considerar o escoamento base com aumento (ou
reduo) de vazo, por meio de uma reta, com alteraes proporcionais inclinao
da reta AC. O procedimento consiste em, primeiramente, separar o escoamento
base e por subtrao do escoamento total, o escoamento superficial direto. A
inclinao da reta AC dada por:

Deve-se alertar para o fato de que o valor a ser adicionado ou subtrado


(no caso do grfico 19, adicionado) deve ser corrigido para o intervalo de tempo da
hidrgrafa (

) e no por unidade de tempo na frmula

acima. Assim tem-se:

68

Assim, se os valores de vazo estiverem sendo medido a cada 2 horas, o


valor de

deve ser multiplicado por 2, para posterior aplicao ao clculo. As

vazes subterrneas so dadas por:

Se o clculo pela equao acima estiver correto, a soma


igual a

ser

. As vazes do escoamento superficial so dadas pela diferena entre a

vazo total e vazo subterrnea:

Nota-se que nos pontos A e C, as vazes superficiais so iguais a zero,


no havendo presena de escoamento superficial direto.
O escoamento superficial direto obtido pelo clculo da rea acima da
reta AC, e para isto, emprega-se o princpio de integrao numrica conhecido como
regra dos trapzios. Assim, tem-se:
Entre A e QS1, forma-se um tringulo, assim como entre C e QS9. Nos
pontos intermedirios, so formados trapzios aproximados. Com isso tem-se que:

Colocando em evidncia

Onde N o nmero de vazes que formam a hidrgrafa.

69

Mtodo 3

Grfico 20 Mtodo 3

Aqui, prolonga-se a depleo a partir do ponto A at encontrar com a reta


vertical que passa pela vazo de pico. A reta DC ento determinada.

Exemplo: Separar o escoamento superficial direto do escoamento de


base (subterrneo) na hidrgrafa a seguir.
Tabela 15 Tabela Exemplo (Fonte UFLA)

70

Escoamento
Superficial (ms 1
)
0,0

T(30 min)

Q(ms )

Escoamento
subterrneo
(ms -1)
5,0

5,0

0,0

4,5

4,5

0,0

5 (A)

5,0

0,0

10

6,25 (=5+1,25)

3,75 (=10-6,25)

15

7,5 (=6+1,25)

7,5 (=15-7,50)

18

8,75

9,25

25

10,0

15,00

27

11,3

15,75

10

24

12,5

11,50

11

20

13,75

6,25

12

15 (C)

0,75

15,0 (=13,75+1,25)

0,0

13

13

0,87

13,0

0,0

14

11

0,85

11,0

0,0

15

10

0,91

10,0

0,0

16

0,9

9,0

0,0

17

0,89

8,0

0,0

18

0,88

7,0

0,0

-1

Soluo:
Clculo da taxa de variao da vazo (inclinao da reta de escoamento)
como mostra o grfico 21.

71

Grfico 21 Linigrama

Clculo do deflvio pela regra do trapzio:

72

Supondo que a bacia de rea 10 km, o deflvio, em lmina ser:

Tucci apresenta um mtodo alternativo para achar a parcela do


escoamento superficial: Conforme o grfico 22, prolongar a tendncia do hidrograma
antes do ponto A at a interseco com a vertical sob o pico (ponto B). A partir do
ponto C, pela tendncia, determinar o ponto D e desenhar uma curva unindo os
pontos C e D.

Grfico 22 Hidrograma Tipo

O ponto A, em todos os casos de fcil determinao, visto a forte


inflexo que ocorre durante o perodo de ascenso do hidrograma. No entanto, o
ponto C, que caracteriza o trmino do escoamento superficial e o incio da recesso,
de determinao mais complexa. Vrios critrios podem ser utilizados para a sua
determinao. Tucci apresenta trs mtodos os quais sero vistos a seguir.
Linsley et al. (1975) indicam a equao:

73

Onde:

N representa o intervalo de tempo entre o pico do hidrograma;


Ponto C, em dias;
A a rea da bacia, em Km.

- Considerando que o tempo de concentrao define o intervalo entre o final da


precipitao e o trmino do escoamento superficial, pode-se utiliz-lo para
determinar o ponto C; para tanto basta calcular o tempo de concentrao por alguma
das frmulas existentes.
- Atravs da inspeo visual, pode-se determinar o ponto de incio da recesso,
atravs da plotagem das vazes observadas em papel mono-log, estando o ponto C
associado ao momento em que ocorre mudana na declividade da reta.

A separao dos

escoamentos pode ser obtida, tambm, para

hidrogramas observados, utilizando-se o procedimento proposto pelo Institute of


Hydrology (1980): calcular a mdia mvel de cinco dias consecutivos das vazes
observadas e unir os pontos de mudana de tendncia da curva resultante. A poro
acima desta linha representa o escoamento superficial e a abaixo, o subterrneo. A
mdia mvel serve para filtrar as maiores vazes e as pequenas variaes de
vazes. Este procedimento aplica-se bem a sries longas de vazes.

Exemplo: Na tabela 16 apresentado o hidrograma de um evento


ocorrido na bacia do rio Meninos. A rea da bacia 106,7 km e apresenta alto grau
de urbanizao. Determine o volume de escoamento superficial.
Tabela 16 Tabela Exemplo (Fonte Tucci)

74

0,9

10

Escoamento
superficial
(m/s)
0

0,9

10

1,6

10

1,9

10

2,2

22

11,1

2,2

40

28,3

3,8

68

55,4

108

94,6

5,7

136

121,7

10

52,5

138

122,9

11

1,9

124

108,0

12

1,3

100

83,1

13

1,6

78

60

14

58

39,4

15

44

24,6

16

34

13,7

17

26

4,9

18

22

19

18

20

16

21

15

Totais

32,5

1088

768

Tempo Precipitao Vazo


(30min)
(mm)
(m/s)

Soluo:
Na figura 42 apresentado o hidrograma e a identificao dos pontos A e
C. o escoamento superficial estimado pela parte superior da reta ligando A e C.
estes valores podem ser obtidos graficamente ou por clculo. Na tabela 16 so
apresentados os valores obtidos.
A vazo total superficial 768m/s. Para converter este valor de m/s para
mm, divide-se pelo fator

Convertendo o total de precipitao em escoamento superficial, fica:

O coeficiente de escoamento fica:

75

DETERMINAO DA PRECIPITAO EFETIVA

Tucci define precipitao efetiva como a parcela do total precipitado que


gera escoamento superficial. Assim, para se obter a precipitao efetiva, deve-se
subtrair do total as parcelas relativas aos volumes evaporados, retidos ou infiltrados.
A determinao da precipitao efetiva pode ser obtida atravs das equaes de
infiltrao, de ndices ou de relaes funcionais. Estes procedimentos so descritos
a seguir (Tucci, 2009).

Infiltrao

A precipitao efetiva da seguinte forma:


a. Utiliza-se a equao de Horton (ou Green Ampt) e estime os
parmetros;

Onde

a capacidade de infiltrao no tempo t (


a capacidade de infiltrao inicial para
a capacidade de infiltrao final (
uma constante para cada curva (

);
;

);
);

o tempo ( )
b. Determinar as perdas iniciais, descontando-as dos primeiros intervalos
da precipitao;
c. determinar a precipitao efetiva para os intervalos seguintes atravs
da equao:

Sendo

a infiltrao calculada pelo mtodo escolhido.

Quando existem dados de vazes observadas pode-se determinar o


escoamento superficial, que igual precipitao efetiva sobre a bacia, obtendo-se
ento os valores das perdas iniciais e da infiltrao. No entanto, quando no existem
dados de vazes, h problemas para estimar-se os parmetros das perdas iniciais e
da infiltrao.
76

ndices

Consiste em adotar um valor constante para o desconto da precipitao


total, com o objetivo de determinar a precipitao efetiva. Dentre os mtodos
existentes, Tucci descreve trs (ndice

, ndice

e ndice

), que pressupem a

determinao do escoamento superficial com base em outros eventos na bacia ou


em bacias prximas com caractersticas semelhantes.

a. ndice

Corresponde ao coeficiente de escoamento, definido pela relao entre o


total escoado e o total precipitado na bacia, resultando na precipitao efetiva.
Segundo Sokolov et al. (1976) o valor deste fator varia entre 0,8 e 0,9.

b. ndice

Corresponde a uma infiltrao constante, devendo ser subtrado de cada


precipitao para obter-se a precipitao efetiva e a soma destas deve ser igual ao
escoamento superficial total. Quando o valor de for maior que P, deve distribuir a
diferena entre os demais intervalos.

c. ndice

Representa a infiltrao mdia durante o tempo em que a precipitao


superior taxa de infiltrao. Calcula-se utilizando a seguinte formulao:

Sendo que

a precipitao no perodo t;
o escoamento superficial no perodo t;
o volume armazenado;
o tempo em que a precipitao maior que a taxa de

infiltrao.
77

O valor de

normalmente desconhecido e agregado como perdas

iniciais e conhecidos

e , calcula-se

para onde

Relaes Funcionais

Consistem em funes que estabelecem relaes entre precipitao total


e precipitao efetiva. A seguir, apresentam-se as relaes funcionais de Kohler &
Richards e do Soil Conservation Service.

a.Kohler & Richards

Kohler & Richards (1962) verificam que geralmente a relao entre


precipitao total e precipitao efetiva, durante uma cheia, aproxima-se da seguinte
equao:

Onde

Q a precipitao efetiva;
P a precipitao total;
e

emprica:

coeficiente emprico ajustado pela seguinte equao


onde ( em polegadas).

b. Soil Conservation Service (SCS)

SCS (1957) utiliza uma formulao semelhante, que significa que a


relao entre o volume infiltrado e a capacidade mxima de armazenamento igual
relao entre a precipitao efetiva e a total:

Substituindo

Vlido para

por

e introduzindo as perdas iniciais (

, pois para

tem-se

), tem-se:

78

O valor de perdas iniciais (

) achado segundo a seguinte equao:

Verificou-se que as perdas iniciais (

) representavam em mdia 20% da

capacidade mxima de armazenamento ( ). Substituindo esta relao na equao


anterior resulta:

Sendo que esta equao vlida para a situao


tem-se

. Para

. A capacidade mxima de armazenamento na camada superior do

solo ( ) pode ser determinada com base no fator

(curva nmero) pela seguinte

expresso:

retrata as condies do solo e de sua cobertura, em termos de

permeabilidade, sendo seus valores estabelecidos conforme as Tabelas 17 e 18 a


seguir.
Tabela 17 Valores do parmetro CN para bacias rurais (Fonte: Porto, 2000)

79

Uso do solo

Com sulcos retilneos

77

86

91

94

Em fileiras retas

70

80

87

90

Em curvas de nvel

67

77

83

87

Terraceado em nvel

64

76

84

88

Em fileiras retas

64

76

84

88

62

74

82

85

60

71

79

82

62

75

83

87

60

72

81

84

Plantaes de Terraceado em nvel


Legumes ou Pobres
Cultivados
Normais

57

70

78

89

68

79

86

89

49

69

79

94

Boas

39

61

74

80

Pobres, em curvas de nvel

47

67

81

88

Normais, em curvas de nvel

25

59

75

83

35

70

79

30

58

71

78

45

66

77

83

36

60

73

79

Densas, de alta transpirao

25

55

70

77

Normais

56

75

86

91

Ms

72

82

87

89

De superfcie dura

74

84

90

92

Muitos esparsas, baixa transpirao

56

75

86

91

Esparsas

46

68

78

84

Densas, alta transpirao

26

52

62

69

Normais

36

60

70

76

Solo Lavrado

Plantaes
Regulares

Superfcie

Em curvas de nvel
Plantaes de
Terraceado em nvel
Cereais
Em fileiras retas
Em curvas de nvel

Pastagens

Boas, em curvas de nvel


Normais
Campos
Esparsas, de baixa transpirao
Permanentes Normais

Chcaras
Estradas de
terra

Florestas

Tabela 18 Valores de CN para bacias urbanas e suburbanas (Fonte: Porto, 2000).

80

Utilizao ou cobertura do solo

Zonas cultivadas:

Sem conservao do solo

72

81

88

91

Com conservao do solo

62

71

78

81

Pastagens ou terrenos em ms condies

68

79

86

89

Baldios

39

61

74

80

30

58

71

78

45

66

77

83

25

55

70

77

com relva em amis de 75% da rea

39

61

74

80

Com relva de 50 a 75% da rea

49

69

79

84

Zonas comerciais e de escritrios

89

92

94

95

Zonas industriais

81

88

91

93

Boas condies

Prado em boas condies


Bosques ou zonas
Florestais:

cobertura ruim
Cobertura boa

Espaos abertos, relvados, parques, campos


de golf, cemitrios, boas condies

Zonas residnciais
Lotes de (m)

% mdia impermevel

<500

65

77

85

90

92

1000

38

61

75

83

87

1300

30

57

72

81

86

2000

25

54

70

80

85

4000

20

51

68

79

84

98

98

98

98

asfaltadas e com drenagem de guas pluviais

98

98

98

98

paraleleppedos

76

85

89

91

terra

72

82

87

89

Parques de estacionamentos, telhados, viadutos, etc.


Arruametnos e estradas

Os tipos de solos identificados nas referidas tabelas so os seguintes:

Solo Tipo A

Solos que produzem baixo escoamento superficial e alta infiltrao. Solos


arenosos profundos com pouco silte e argila.
81

Solo Tipo B

Solos menos permeveis do que o anterior, solos arenosos menos


profundo do que o tipo A e com permeabilidade superior mdia.

Solo Tipo C

Solos que geram escoamento superficial acima da mida e com


capacidade de infiltrao abaixo da mdia, contendo percentagem considervel de
argila e pouco profundo.

Solo Tipo D

Solos contendo argilas expansivas e poucos profundos com muita baixa


capacidade de infiltrao, gerando a maior proporo de escoamento superficial.

Exemplo: Qual a lmina escoada superficialmente durante um evento


de chuva de precipitao total P=70 mm numa bacia com solos tipo B e com
cobertura de floresta?
Dados:
Valores de CN para os prximos exerccios
Tabela 19 Valores de CN
Condio

Florestas

41

63

74

80

Campos

65

75

83

85

Plantaes

62

74

82

87

Zonas comerciais

89

92

94

95

Zonas industriais

81

88

91

93

Zonas residenciais

77

85

90

92

Soluo:

82

A bacia tem solos do tipo B e est coberta por florestas. Conforme a


tabela Y o valor do parmetro CN 63 para esta combinao. A partir deste valor de
CN obtm-se o valor de S:

A partir do valor do S obtm-se o valor de

Como

, o escoamento superficial dado por:

Exemplo: Qual a lmina escoada superficialmente durante o evento de


chuva dado na tabela abaixo numa bacia com solos com mdia capacidade de
infiltrao e cobertura de pastagens?
Tabela 20 Exemplo

Tempo Precipitao
(min)
(mm)
10
20
30
40

5
6
14
11

Soluo:
A bacia tem solos de mdia capacidade de infiltrao, o que corresponde
ao tipo B. A cobertura vegetal de pastagens. Conforme a tabela dada pelo
exemplo 1 o valor parmetro CN de 75 para esta combinao. A partir deste valor
de CN obtm-se o valor de S:
83

A partir do valor de S obtm-se o valor de Ia

A chuva de cada intervalo de tempo somada chuva total at o final do


intervalo de tempo anterior, resultando na chuva acumulada, como mostra a tabela a
seguir:
Tabela 21 Exemplo
tempo
(min)

Precipitao
(mm)

10

Precipitao
Acumulada
(mm)
5

20

11

30

14

25

40

11

36

Para cada intervalo de tempo pode se usar o mtodo do SCS para


acumular o escoamento total acumulada at o final do intervalo de tempo. Enquanto
a precipitao acumulada inferior a Ia, o escoamento acumulado igual a zero. A
partir do intervalo de tempo em que a precipitao acumulada supera o valor de Ia, o
escoamento acumulado calculado por:

Como mostra a tabela a seguir:


Tabela 22 Resoluo exerccio
tempo
(min)
10

Precipitao Escoamento
Precipitao
Acumulada acumulado
(mm)
(mm)
(mm)
5
5
0,0

20

11

0,0

30

14

25

0,7

40

11

36

3,5

84

Observa-se que o momento de mximo escoamento superficial ocorre


entre os 30 e 40 minutos da durao da chuva. Nesses 10 minutos o escoamento
de 3,5 mm. interessante observar que este no o momento de mxima
intensidade de precipitao.

Exemplo: Qual o valor do coeficiente CN de uma bacia em que 30% da


rea urbanizada e em que 70% da rea rural? Considere que os solos so
extremamente argiloso e rasos.
Soluo:
Solos rasos e muito argilosos normalmente tem capacidade de infiltrao
baixa ou muito baixa, por isso pode-se considerar que os solos so do tipo D, de
acordo com a classificao do SCS.
Na rea rural no esta especificado se so plantaes (CN=87), campos
(CN=85) ou florestas (CN=80). Considerando que a rea rural coberta por campos,
adota-se o CN=85.
Na rea urbana no esta especificado se so reas industriais, comerciais
ou residenciais, mas os valores de CN so sempre relativamente prximos a 93, por
isso adotamos esse valor.
O CN mdio da bacia pode ser obtido por:

85

MTODO RACIONAL

A vazo mxima pode ser estimada com base na precipitao, por


mtodos que representam os principais processos da transformao da precipitao
em vazo e pelo mtodo racional, que engloba todos os processos em apenas um
coeficiente ( ).
O mtodo racional largamente utilizado na determinao da vazo
mxima para bacias pequenas ( 2 km). Os princpios bsicos desta metodologia
so:
a) considera a durao da precipitao intensa de projeto igual ao tempo
de concentrao. Ao considerar esta igualdade admite-se que a bacia
suficientemente pequena para que esta precipitao ocorra, pois a durao
inversamente proporcional intensidade. Em bacias pequenas, as condies mais
crticas ocorrem devido a precipitaes convectivas que possuem pequena durao
e grande intensidade;
b) adota um coeficiente nico de perdas, denominado C, estimado com
base nas caractersticas da bacia;
c) no avalia o volume da cheia e a distribuio espacial de vazes.
A equao do mtodo racional a seguinte:

Onde:

a vazo mxima (m/s);


o coeficiente de escoamento;
a intensidade da precipitao;
a rea da bacia (km).

O coeficiente de escoamento utilizado no mtodo racional depende das


seguintes caractersticas: solos, cobertura, tipo de ocupao, tempo de retorno,
intensidade da precipitao.
Os coeficientes de escoamento recomendado para as superfcies urbanas
esto apresentados na tabela 23.
Tabela 23coeficiente de escoamento

86

Descrio da rea

Valores de C

rea comercial/ Edificao muito densa


Partes cenntrais, densamente construdas, em cidades com ruas e caladas
pavimentadas
rea comercial/Edificao no muito densa
Partes adjacentes ao centro, de menor densidade de habitaes, mas com ruas
e caladas pavimentadas
rea residencial

0,70 a 0,95

0,60 a 0,70

Residncias isoladas, com muita superfcie livre

0,30 a 0,50

unidades mltiplas (separadas); partes residenciais com ruas

0,50 a 0,60

macadamizas ou pavimentadas
unidades mltiplas(conjugadas)

0,60 a 0,75

lotes com > 2.000 m

0,30 a 0,45

reas com apartamentos

0,50 a 0,70

rea industrial
indstrias leves

0,50 a 0,80

indstrias pesadas

0,60 a 0,90

Outros
Matas, parques e campos de esporte, partes rurais, reas verdes, superfcies
arborizadas e parques ajardinados
parques, cemitrios; subrbio com pequena densidade de construo

0,50 a 0,20

playgounds

0,20 a 0,35

ptios ferrovirios

0,20 a 0,40

reas sem melhoramentos

0,10 a 0,30

0,10 a 0,25

Pavimento
Asfalto

0,70 a 0,95

Concreto

0,80 a 0,95

Caladas

0,75 a 0,85

Telhado

0,75 a 0,95

Cobertura: grama/areia
plano (declividade 2%)

0,05 a 0,10

mdio (declividade de 2 a 7%)

0,10 a 0,15

alta (declividade 7%)

0,15 a 0,20

Grama, solo pesado


plano (declividade 2%)

0,13 a 0,17

mdio (declividade de 2 a 7%)

0,18 a 0,22

alta (declividade 7%)

0,25 a 0,35

Pode-se calcular o valor de C para uma chuva de caractersticas conhecidas, desde


que se conhea a variao de vazo correspondente.

Exemplo: Dada a tabela 24, com dados de vazo e sabendo-se os valores da rea
de drenagem (A=

m) e altura de chuva (h=

mm), procede-se da

seguinte forma para calcular o coeficiente de deflvio:

87

Tabela 24Exemplo
Dia

Vazo
(m/s)
12,1

18,2

12

30

18

52

58

Hora

63,5

12

55

18

46,3

43,3

32,8

12

27,7

18

29,8

30,2

21,5

12

19,2

18

18,2

17,3

15,5

12

14

18

10,5

Soluo:
Com os dados de vazo acima traa-se a hidrgrafa (grfico 32), e a
partir desse grfico traa-se a reta que separa o escoamento superficial direto do
escoamento bsico (mtodo 2 referido no item 7.5.4). Esta reta tem o seu ponto
inicial numa mudana brusca na inclinao da curva de vazo (incio do escoamento
superficial) e o seu ponto final no ponto de mxima curvatura e, sempre, relativo a
um perodo igual a um nmero inteiro de dias ou pelo menos um ponto
imediatamente superior que satisfaa esta segunda condio. Obtm-se, agora, o
escoamento de base a partir de leitura direta do grfico, conforme representado na
tabela 25. Assim obtemos o escoamento superficial e, a partir do clculo da rea
compreendida entre a reta e o hidrograma, o volume escoado.

88

Grfico 32 Hidrograma referente aos dados da tabela 24


Tabela 25Soluo Exemplo
Dia

Vazo
(m/s)
12,1

Hora

Qb
Qe
(m/s) (m/s)
12,1
0

18,2

12

30

12,82

13,54 16,46

18

52

14,26 37,74

58

14,98 43,02

63,5

15,7

5,38

47,8

12

55

16,42 38,58

18

46,3

17,14 29,16

43,3

17,86 25,44

32,8

18,58 14,22

12

27,7

19,3

8,4

18

29,8

20,02

9,78

30,2

20,74

9,46

21,5

21,46

0,04

12

19,2

19,2

18

18,2

18,2

17,3

17,3

15,5

15,5

12

14

14

18

10,5

10,5

Para este exemplo obtemos o seguinte valor:


89

O clculo do volume precipitado feito atravs da seguinte relao:

Tendo os valores do volume escoado e o volume precipitado temos:

HIDROGRAMA UNITRIO

Hidrograma Unitrio o hidrograma resultante de um escoamento


superficial unitrio (1 mm, 1cm, 1 polegada) gerado por uma chuva uniforme
distribuda sobre a bacia hidrogrfica, com intensidade constante de certa durao.
Para uma dada durao de chuva, o hidrograma constitui uma
caracterstica prpria da bacia; ele reflete as condies de deflvio para o
desenvolvimento da onda de cheia.

Princpios bsicos

Considerando chuva de distribuio e de intensidade constantes sobre


toda a bacia temos trs princpios bsicos a serem considerados: Princpio da
constncia do tempo de base, das proporcionalidades das descargas e da
aditividade.

Princpio da Constncia do tempo de base

Para chuvas de iguais duraes, as duraes dos escoamentos


superficiais correspondentes so iguais.

90

Grfico 33 Registro de descargas dirias do rio Tiet (Fonte: UFLA).

Proporcionalidade de descargas

Duas chuvas de mesma durao, mas com volumes escoados diferentes


resultam em hidrgrafas cujas ordenadas

so

proporcionais

aos

correspondentes volumes escoados. Ou seja:

Onde

o volume da chuva efetiva;


a vazo do escoamento superficial.

91

Grfico 34 Proporcionalidade das descargas (Fonte: UFLA).

Princpio da Aditividade

Precipitaes anteriores no influenciam a distribuio no tempo do


escoamento superficial de uma dada chuva.

Grfico 35 Independncia dos deflvios simultneos (Fonte: UFLA).

92

No princpio de proporcionalidade comentar sobre o fato da


convoluo dos hidrogramas

A aplicao dos princpios de proporcionalidade e superposio levam


definio da chamada equao da convoluo discreta:
para t<k
para t>k
Onde:

a vazo do escoamento superficial no intervalo de tempo


a vazo por unidade de chuva efetiva do HU;
a precipitao efetiva do bloco ;
o nmero de coordenadas do hidrograma unitrio,que pode

ser obtido por

, onde

o nmero de pulsos de precipitao e

nmero de valores de vazes do hidrograma.

Grfico 36 Convoluo dos hidrogramas (Fonte: UFLA).

Anteriormente foi visto que a equao acima representa a convoluo


discreta do HU. Assim, uma vez conhecida a precipitao efetiva (

) e o

93

hidrograma ( ) de escoamento superficial da bacia hidrogrfica, podem ser


deduzidas as ordenadas ( ) do HU mediante o processo chamado de deconvoluo.
Se existirem

pulsos de precipitao efetiva e

superficial, podem ser escritas

equaes para

pulsos de escoamento
=1,2,... , em funo de

valores desconhecidos do HU.


Por exemplo, se o hietograma de precipitao efetiva formado por 3
blocos e o hidrograma de escoamento superficial formado por 11 valores, significa
dizer que

=3 e

=11. Resultando em

ordenadas ( ) do HU. As

equaes de convoluo resultantes seriam, onde neste caso as variveis


desconhecidas so os valores de .

Pode-se

observar

que

esse

sistema

de

equaes

est

sobredimensionado, j que temos mais equaes que incgnitas. Essas equaes


podem ser resolvidas por eliminao gaussiana, isolando cada uma das variveis
desconhecidas e resolvendo sucessivamente. Neste caso a resoluo poderia
comear de baixo para cima, ou de cima para baixo.

Determinao do hidrograma unitrio

Para determinar o hidrograma unitrio (HU) de uma bacia hidrogrfica,


necessrio dispor de registros de vazo e precipitao simultneos. Recomenda-se
procurar no histrico, eventos causados por chuvas que tenham uma durao entre
do tempo de concentrao. A seguir apresenta-se um roteiro de clculo.
94

1)
Calcular o volume de gua precipitado sobre uma
bacia hidrogrfica, que dado por:

Onde

o volume total precipitado sobre a bacia;


a precipitao total;
a rea de drenagem da bacia.

2)
Fazer a separao do escoamento superficial, onde
para cada instante , a vazo que escoa superficialmente a diferena
entre a vazo observada e a vazo de base:

Onde

a vazo que escoa superficialmente


a vazo observada no posto fluviomtrico;
a vazo de base, extrada do grfico.

3)
Determinar o volume escoado superficialmente,
calculando a rea do hidrograma superficial, que pode ser obtida
conforme a frmula abaixo:

Onde

o volume escoado superficialmente;


a vazo que escoa superficialmente;
o intervalo de tempo dos dados.

4)
Determina-se o coeficiente de escoamento
(definido na seo 7.4.2).

Onde

o volume escoado superficialmente;


o volume total precipitado sobre a bacia hidrogrfica.

5)
Determinar a chuva efetiva, multiplicando-se a
chuva total pelo coeficiente de escoamento:

Onde

a chuva efetiva;
o coeficiente de escoamento;
a precipitao total.
95

6)

Onde

Determinar as ordenadas do HU

ordenada do hidrograma unitrio;


a chuva unitria (10 mm, 1mm);
a precipitao efetiva;
ordenada do hidrograma do hidrograma de escoamento

superficial.

Determinao do hidrograma unitrio para uma chuva de dada durao (t) a


partir de outra durao maior (t)

O mtodo da chuva S presta-se para a obteno de um hidrograma


unitrio a partir de outro da mesma bacia, porm originado de chuva de
concentrao mais longa.
A curva S o hidrograma que se obteria no caso de chuva hipottica
infinita.
H uma nica curva S para uma dada bacia hidrogrfica e a partir de
chuva de cada durao.

Grfico 37 Curva S (Fonte: UFLA).

96

Podemos observar no grfico 37 apresentado o grfico de curva S


para uma durao especfica. A ordenada

corresponde a vazo de equilbrio,

atingida no momento em que toda a bacia passa a contribuir para a vazo do ponto
de controle. A sua constncia a partir do tempo de concentrao

decorre da

hiptese da chuva ter durao infinita.

Onde

a rea (Km);
a durao (h);
a vazo (m/s)

O fator 2,77 decorre de uma converso de unidades.


De posse desta curva, obtm-se facilmente o hidrograma unitrio
referente a uma chuva mais curta que aquela que lhe deu origem. Para isso basta
defasar a curva S de

(durao pretendida). A diferena entre as ordenadas das

duas curvas uma sem e a outra com defasagem seria o hidrograma


correspondente a uma chuva capaz de produzir uma lmina dgua uniforme na
bacia de

mm, no se tratando, portanto, de hidrograma unitrio. Para convert-lo

suficiente multiplicar todas as ordenadas pelo fator

Determinao do hidrograma unitrio para uma chuva de dada durao a partir


de outra durao menor

Tendo em vista o terceiro princpio dos hidrogramas, ou seja, o princpio


da aditividade, possvel traar-se um hidrograma de chuva de maior durao a
partir do de uma menor, bastando para isso encadear sucessivamente chuvas das
quais se conhecem o desenvolvimento da onda de cheia, defasados de sua durao
(sem intervalo de tempo entre elas).
A soma das ordenadas de hidrgrafas unitria de durao ,
encadeadas, da origem ao hidrograma que resultaria de uma chuva de durao total

e de altura de chuva . O hidrograma unitrio para aquela mesma bacia

produzido por uma chuva de durao facilmente obtido dividindo-se cada

97

ordenada por

). Isto se justifica pelo fato de que, embora as chuvas

parciais no se superponham no tempo, assim o fazem no espao.


O procedimento acima descrito diretamente aplicvel aos casos em que
multiplicado por , situao essa ilustrada no grfico 38.

Grfico 38 Hidrogramas (Fonte: UFLA).

Casos ocorrem em que a durao

no mltiplo de

. Nessas

circunstncias o mesmo princpio se mantm vlido; no entanto, para a sua


utilizao necessrio converter a chuva da hidrgrafa conhecida

em submltiplo

de . Segue uns passos para proceder nesta situao.


a)

Traar a curva S a partir do hidrograma da chuva de durao

b)

Determinar um nmero divisor comum de

. Recomenda-se a

adoo do mximo divisor comum (MDC) para a reduo posterior


da carga de trabalho.
98

c)

Determinar a partir da chuva S obtida no primeiro passo, o


hidrograma unitrio relativo a uma curva de durao .

A converso est completa. Procede-se a partir deste posto conforme


orientao do grfico 38, cumprindo observar, no entanto, que a converso no caso
presente ser feita dividindo-se as ordenadas por

Exemplo:
Dado o hidrograma abaixo. Colunas (0) e (1) correspondente a uma
precipitao efetiva de durao
durao

, obter o hidrograma para uma outra chuva de

.
Tabela 26Exemplo

Tempo (h)
(0)
0
1
2
3
4
5
6
7
8

Vazo (m/s)
(1)
(2)
0
5,6
0
18,2
5,6
15,7
18,3
10,1
15,7
7,9
10,1
4,6
7,9
0
4,6
0

Soluo:
Para termos uma precipitao a cada 2h soma-se as colunas (1) e (2),
como foi feito na tabela 27. A coluna (4) fornece as ordenadas do hidrograma
relativo a uma precipitao excedente de duas horas.
Tabela 27Soluo Exemplo

Tempo (h)
(0)
0
1
2
3
4
5
6
7
8

(1)
0
5,6
18,2
15,7
10,1
7,9
4,6
0
-

Vazo (m/s)
(2)
(3)=(1)+(2) (4)=(3):(2)
0
0
0
5,6
2,8
5,6
23,9
11,9
18,3
34
17
15,7
25,8
12,9
10,1
18
9
7,9
12,5
6,3
4,6
4,6
2,3
0
0
0

99

Hidrograma Unitrio Instantneo

O conceito de hidrograma unitrio instantneo se origina da teoria do


Hidrograma Unitrio. Isso se deve ao fato de que numa situao de precipitao
efetiva de durao infinitamente pequena, o hidrograma unitrio resultante seria a
prpria Hidrgrafa unitria Instantnea.
O Hidrograma Unitrio Instantneo independe da durao da chuva
efetiva, e assim s existe um HUI para dada bacia hidrogrfica; de modo que
qualquer hidrograma pode ser gerado a partir dele.
Uma vez obtida o HUI, para traarmos o hidrograma unitrio de uma
chuva de durao t podemos seguir a seguinte metodologia:
a) Dividir o HUI em intervalos de t;
b) Marcar os pontos no HUI;
c) Calcular a ordenada mdia para cada par consecutivo;
d) Plotar a mdia (vazo) obtida, associando-a ao tempo (limite superior
de intervalo);
e) Ligar os pontos, procurando ajustar, a sentimento, a curva pretendida
(o hidrograma unitrio de t horas).
Hidrograma Unitrio Sinttico

Na prtica a situao mais encontrada o da inexistncia de dados


histricos. Por este motivo usa-se os hidrogramas unitrios sintticos (HUS). Esses
hidrogramas so obtidos a partir de caractersticas fsicas das bacias.
Os HUS mais conhecidos so os de Snyder, o de Commons e o do Soil
Conservation Service que sero vistos nos prximos itens.

Mtodo de Snyder

O hidrograma sinttico de Snyder (1973) foi desenvolvido para bacia com


rea entre 10 e 10.000 mi. Para a obteno do hidrograma empregamos os
seguintes passos:
100

a) Clculo do tempo de retardamento, tempo de pico ou timelag ( )

Onde

o comprimento da bacia em km, medido ao longo do rio

principal;
a distncia do centro de gravidade da bacia em km, medido
ao longo do rio principal at a projeo do C.G. sobre o rio;
o coeficiente

que depende das caractersticas da bacia

hidrogrfica e que varia de 1,8 a 2,2.

b) Clculo do tempo de durao da chuva unitria ( )

Sendo

medidos em horas.

c) Verificar se a chuva da chuva excedente ( ) supera a durao da


chuva unitria ( ).

d) Clculo do tempo de base ( )

Sendo que em dias e

em horas

e) Clculo da vazo de pico (

Onde

a rea (Km);
o coeficiente que varia entre 0,56 e 0,69 e que depende das

caractersticas da bacia.
101

f) Traar o grfico

Soil Conservation Service

O Soil Conservation Service (SCS,1957) apresentou um mtodo para


determinao do hidrograma unitrio em que o mesmo considerado um tringulo,
grfico 39. Para o seu clculo necessita apenas da determinao da vazo de pico e
do tempo em que ela ocorre.

Grfico 39 Soil Conservation Service (Fonte: Porto, 2000).

Para melhor entendimento segue um roteiro:

a) Calculo do tempo de pico

Onde,

(horas)

o tempo de durao da chuva (horas);


o tempo de concentrao da bacia (horas).

Obs.: recomenda-se a adoo de

compreendido entre

de

102

Em que,

o tempo de concentrao (min);


a extenso do rio principal (Km);
o mximo desnvel ao longo de L (m).

b) Determinar o tempo de base do hidrograma

c) Determinar a vazo mxima (

Onde,

(horas)

a precipitao efetiva (=

a rea da bacia (km)

103

INFILTRAO

1.1. DEFINIO
A infiltrao a passagem de gua da superfcie para o interior do solo.
Infiltrao tambm definida como o fenmeno de penetrao da gua nas
camadas de solo prximas superfcie do terreno, movendo-se para baixo atravs
da ao da gravidade, at atingir uma camada impermevel, formando um lenol
dgua. um fenmeno que depende da gua disponvel para infiltrar, da natureza
do solo, do estado da superfcie, da vegetao e das quantidades de gua e ar,
inicialmente presentes no seu interior.
A medida que a gua infiltra pela superfcie, as camadas superiores do
solo vo se umedecendo de cima para baixo, alterando gradativamente o perfil de
umidade. A camada superior atinge um alto teor de umidade, enquanto que as
camadas inferiores apresentam-se ainda baixos teores de umidade. H ento uma
tendncia de um movimento descendente de gua provocando o molhamento das
camadas inferiores, dando origem ao fenmeno que recebe o nome de
redistribuio.
Percebe-se que existem quatro zonas conforme a profundidade do solo.
Estas zonas esto descritas abaixo.

Zona de saturao

Corresponde a uma camada com cerca de 1,5cm, isto , prxima da


superfcie, e uma zona em que o solo est saturado, ou seja, com um teor de
umidade igual ao teor de umidade de saturao.

Zona de transmisso

uma zona com espessura em torno de 5cm, cujo teor de umidade


decresce rapidamente com a profundidade.

Zona de umidade ou zona de umedecimento


104

a regio caracterizada por uma grande reduo no teor de umidade


com aumento da profundidade.

Frente mida ou frente de umedecimento

Compreende uma pequena regio na qual existe um grande gradiente


hidrulico, havendo uma variao bastante abrupta da umidade. A frente de
umedecimento representa o limite visvel da movimentao da gua no solo. Ou
seja, a mudana do contedo de umidade com a profundidade to grande que tem
a aparncia de uma descontinuidade aguda entre o solo molhado acima e o solo
seco abaixo.

GRANDEZAS CARACTERSTICAS

Capacidade de infiltrao

a quantidade mxima de gua que pode infiltrar no solo, em um dado


intervalo de tempo, sendo expresso geralmente em

. A capacidade de

infiltrao s ser atingida durante uma chuva se houver excesso de precipitao.


Caso contrrio, a taxa de infiltrao de gua do solo no mxima, no se
igualando capacidade de infiltrao.
A capacidade de infiltrao apresenta magnitude alta no incio do
processo e com o transcorrer do mesmo, esta atinge um valor aproximadamente
constante aps um longo perodo de tempo.

Taxa / Velocidade de infiltrao

a velocidade mdia com que a gua atravessa o solo, ou seja, a


vazo dividida pela seco reta de escoamento. A rea inclui projeo dos poros por
onde escoa a gua e a projeo da rea dos rgos. a velocidade de Darcy.

105

A taxa de infiltrao depende diretamente da textura e estrutura do solo e,


para um mesmo solo, depende do teor de umidade na poca da chuva ou irrigao,
a sua porosidade e da existncia de camada menos permevel (camada
compactada) ao longo do perfil.
O grfico 40 mostra o desenvolvimento tpico das curvas representativas
da evoluo temporal da infiltrao real e da capacidade de infiltrao com a
ocorrncia de uma precipitao. A partir do tempo t=A o solo comea a aumentar
seu teor de umidade, conseqentemente capacidade de infiltrao, que continua
decrescendo. No tempo t=C a chuva termina e o solo comea a perder umidade por
evapotranspirao. A partir deste momento a capacidade de infiltrao comea a
aumentar at que uma outra precipitao ocorra, e o processo se repete.

Grfico 40 Curvas de capacidade e velocidade de infiltrao (Fonte: Tucci, 1998).

FATORES QUE INTERVM NA CAPACIDADE DE INFILTRAO

A infiltrao um fenmeno que depende de vrios fatores. Os mais


importantes so listados a seguir.

106

Condio da superfcie

reas urbanas apresentam menores velocidades de infiltrao que reas


agrcolas, principalmente porque elas possuem cobertura vegetal.

Tipo de solo

A capacidade de infiltrao varia diretamente com a porosidade e com o


tamanho das partculas do solo. As caractersticas presentes em pequena camada
superficial, com espessura da ordem de 1 cm, tem grande influncia sob a
capacidade de infiltrao (PINTO et al., 1976).

Condio do solo

O preparo do solo, geralmente, tende a aumentar a capacidade de


infiltrao do solo. Se as condies de preparo do solo e manejo do mesmo forem
inadequadas, a capacidade de infiltrao tende a tornar-se inferior de um solo sem
preparo, principalmente se a cobertura vegetal presente sobre o solo for removida.

Umidade inicial do solo

A infiltrao ser maior quanto mais seco o solo estiver incialmente.

Carga hidrulica

Quanto maior for a espessura da lmina de gua sobre a superfcie do


solo, maior ser a taxa de infiltrao.

107

Temperatura

A velocidade de infiltrao aumenta com a temperatura. Isso ocorre


devido diminuio da viscosidade da gua.

Presena de fendas, rachaduras e canais biolgicos originados por razes


decompostas ou pela fauna do solo

Essas formaes atuam como caminhos preferenciais por onde a gua se


movimenta com pouca resistncia e, portanto, aumenta a capacidade de infiltrao.

Compactao do solo por mquinas e/ou por animais

O trfego intensivo de mquinas sobre a superfcie do solo produz uma


camada compactada que reduz a capacidade de infiltrao. O mesmo acontece em
pastos, pois o solo sofre compactao pelos cascos dos animais.

Compactao do solo pela ao da chuva

As gotas da chuva ou da irrigao atingem a superfcie e podem provocar


compactao do solo reduzindo a capacidade de infiltrao.

Cobertura vegetal

Uma cobertura vegetal densa como grama ou floresta possuem uma


capacidade de infiltrao maior. Isso se deve ao sistema radicular que proporciona a
formao de pequenos tneis para a passagem da gua.

CAPACIDADE DE INFILTRAO

108

Os mtodos usados para a determinao da capacidade de infiltrao da


gua no solo so: infiltrmetro de anel, simulador de chuvas e mtodo do ndice .

Infiltrmetro de anel

Consiste basicamente de dois cilindros concntricos e um dispositivo de


medir volumes de gua que fica no cilindro interno. Os cilindros, apresentam 25 e 50
cm de dimetro,

ambos

com

30 cm

de altura. Devem

ser

instalados

concentricamente e enterrados a 15 cm no solo.

Coloca-se gua ao mesmo tempo nos dois anis e com uma rgua
graduada faz-se a leitura da lmina de gua no cilindro interno ou anota-se o volume
de gua colocado no anel, com intervalo de tempos pr-determinados. A diferena
de leitura entre dois intervalos de tempo representa a infiltrao vertical neste
perodo.
Quando no tiver o cilindro externo pode-se fazer uma bacia ao redor do
cilindro menor e mant-la cheia de gua enquanto realizado o teste. A funo do
cilindro externo ou da bacia evitar que a gua do anel interno infiltre lateralmente.
A altura da coluna de gua nos dois anis deve ser de 15 cm, variando no mximo 2
cm. Esse valor no incio do teste pode influenciar nos resultados, mas no decorrer do
tempo no ir ter muito efeito.
O teste termina quando a taxa de infiltrao permanecer constante. Na
prtica, isso ocorre quando num intervalo de 1 hora a taxa variar menos de 10%.
Nesse momento considera que o solo atinge a chamada taxa de infiltrao estvel.

Simuladores de chuvas

So equipamentos nos quais a gua aplicada por asperso, com


intensidade de precipitao superior a capacidade de infiltrao do solo. O objetivo
desse teste coletar a lmina de escoamento superficial originada pela aplicao de
uma chuva com intensidade superior concentrao de infiltrao do solo.
109

Delimitam-se reas de aplicao de gua, com forma retangular ou quadrada, de


0,10 a 40 m de superfcie.
A taxa de infiltrao obtida pela diferena entre a intensidade de
precipitao e a taxa de escoamento resultante.

Mtodo do ndice

Conhecendo a precipitao e o escoamento superficial, em uma bacia


pode-se calcular por diferena, a capacidade de infiltrao da mesma (VILLELA,
1975).
O mtodo apresentado em um roteiro, a seguir.
a) Computar, para cada intervalo de tempo a precipitao ocorrida.
b) Deduzir da precipitao total ( ) a quantidade de gua escoada.
c) Dividir o valor obtido pelo tempo de durao total da chuva. Obtendo o
hipottico.
d) Comparar o
com as precipitaes observadas em cada intervalo de
tempo. Caso em algum intervalo a precipitao seja inferior ao
deve-se exclu-lo do clculo e repetir o processo.

Exemplo:
Durante a cheia, em uma bacia produzida por uma chuva cuja altura de
o escoamento superficial foi equivalente a

. A distribuio do

tempo da chuva dado abaixo:


Tabela 28 Exemplo
Horas

Total

Chuvas (mm)

18

25

12

10

76

Soluo:
a) Recarga da bacia (

b) Supondo que o excesso de chuva de 6 horas:


110

c) Comparando com cada hora, temos que esse valor menor que a
sexta hora, por este motivo retiramos esse valor.

d) Supondo que o excesso de chuva foi de 5 horas:

EQUAES REPRESENTATIVAS DA INFILTRAO

Equao Potencial (Kostiakov - 1932)

Utilizada para infiltrao para perodos curtos, comum para precipitao


de lminas dgua mdias e pequenas.

Onde

a infiltrao acumulada (cm);


a constante dependente do solo;
o tempo de infiltrao (min);
a constante dependente do solo, variando de 0 a 1.

A velocidade de infiltrao instantnea (

) a derivada da infiltrao

acumulada em relao ao tempo.

A velocidade mdia (

de infiltrao a diviso de

A determinao dos coeficientes

pelo :

feita atravs do mtodo grfico

ou mtodo analtico.

Mtodo grfico
111

Plota-se os dados de

em um papel log-log e traa-se uma linha reta

de melhor ajuste dos pontos. O ponto de intercesso do prolongamento da linha reta


com o eixo das ordenadas ser o valor de , e a declividade da reta ser o valor de
, como mostra o grfico 41.

Grfico 41 Mtodo grfico.

Mtodo analtico

Para resolver nossa equao transformaremos a equao exponencial


em linear multiplicando por log toda a equao.

Comparando essa equao com uma linear (

) temos:

Aplicando o mtodo da regresso linear temos que os valores de

so determinados pelas seguintes equaes:

Em que

o nmero mpar de dados

e .
112

Com isso temos que


,

, ento

, ento
Com isso resolvemos a equao.

Exemplo:
Em um teste de infiltrao foram levados os seguintes dados:
Tabela 29 - exemplo
Tac (min) I(cm) X=logTac Y=log I

0
4
9
14
19
24
29
34
39
44
54
64
74
84
94
104
114
124
134
144
154
164
174
184
194
204
214
Total

0
1,5
2,7
3,7
4,8
5,6
6,6
7,6
8,6
9,4
11
12,9
14,4
16,2
17,8
19,4
20,9
22,5
24
25,5
26,8
28,4
30
31,6
33,2
34,8
36,4

0,6021
0,9542
1,1461
1,2788
1,3802
1,4624
1,5315
1,5911
1,6435
1,7324
1,8062
1,8692
1,9243
1,9731
2,017
2,0569
2,0934
2,1271
2,1584
2,1875
2,2148
2,2405
2,2646
2,2878
2,3096
2,3304
47,1834

0,1761
0,4314
0,5682
0,6812
0,7482
0,8195
0,8808
0,9345
0,9731
1,0414
1,1106
1,1584
1,2095
1,2504
1,2878
1,3201
1,3522
1,3802
1,4065
1,4281
1,4533
1,4771
1,4997
1,5211
1,5416
1,5611

XY

0,0000
0,3625
0,9106
1,3136
1,6352
1,9050
2,1386
2,3454
2,5315
2,7009
3,0012
3,2623
3,4940
3,7029
3,8932
4,0684
4,2309
4,3824
4,5246
4,6585
4,7852
4,9055
5,0201
5,1294
5,2340
5,3344
5,4308

0,0000
0,1060
0,4116
0,6512
0,8711
1,0327
1,1985
1,3489
1,4868
1,5993
1,8041
2,0059
2,1652
2,3274
2,4672
2,5975
2,7154
2,8307
2,9359
3,0358
3,1241
3,2189
3,3096
3,3965
3,4801
3,5605
3,6380

29,2123 90,9012 57,3191

Soluo:
Nmero pares de valores TxI (m): 26
Calculando os valores de A e B:
113

Como

, ento

, ento
A forma final da equao de infiltrao ser:

A equao da velocidade de infiltrao instantnea ser:

A equao da velocidade mdia :

Equao de Philip

Philip em 1957 resolveu numericamente a equao de Richards suponde


que

poderiam variar com o contedo de umidade no solo .

Onde

a absoro, que uma funo potencial de suco do solo;


a condutividade hidrulica.

Diferenciando a equao acima em relao ao tempo, temos:


medida que t tende ao , f(t) tende a K. O primeiro termo da equao
representa a altura de suco e o segundo a altura de gravidade. Para uma coluna
de solo, a equao de Phillip se reduz a

Mtodo do SCS

Soil Conservation Service props uma formulao para determinar o


volume mximo de precipitao que pode ser infiltrado. Para se aplicar o mtodo,
114

consideramos que existe uma capacidade mxima de armazenamento de gua no


solo, denomida

(mm). O valor de

depende do parmetro

como foi mostrado nas tabelas 17 e 18. Como foi visto o valor de

do mtodo SCS,
calculado pela

seguinte frmula:

Assim, para calcular a parcela de gua infiltrada que no infiltrada,


utiliza-se a seguinte equao:

Onde

a precipitao acumulada em mm;


a precipitao efetiva.

QUESTES

115

EVAPORAO E EVAPOTRANSPIRAO

1.1. INTRODUO
O conhecimento da perda de gua de uma superfcie natural de suma
importncia nos diferentes campos do conhecimento cientfico, especialmente nas
aplicaes da meteorologia e da hidrologia s diversas atividades humanas.
A evaporao o processo pelo qual a gua se transforma do estado
lquido para o de vapor. Alm da evaporao, o retorno da gua para a atmosfera
pode ocorrer atravs do processo de transpirao, no qual a gua absorvida pelos
vegetais evaporada a partir de suas folhas. Evapotranspirao o total de gua
perdida para a atmosfera em reas onde significativas perdas de gua ocorrem
atravs da transpirao das superfcies das plantas e evaporao do solo.
Cerca de 70% da quantidade de gua precipitada sobre a superfcie
terrestre retorna atmosfera pelos efeitos da evaporao e transpirao. Devido a
isso, a mensurao desses dois processos fundamental para o hidrologista na
elaborao de projetos, visto que afetam diretamente o rendimento de bacias
hidrogrficas, a determinao da capacidade do reservatrio, projetos de irrigao e
disponibilidade para o abastecimento de cidades, dentre outros.

DEFINIO

Evaporao

o processo natural pelo qual a gua, de uma superfcie lquida como


rios, lagos, reservatrios, poas e gotas de orvalho, passa para a atmosfera na
forma de vapor, a uma temperatura inferior a de ebulio.

116

Transpirao

a transferncia da gua presente no solo para a atmosfera atravs do


processo de transpirao vegetal. A transpirao envolve a retirada da gua do solo
pelas razes das plantas que retm uma pequena frao e devolvem o restante
atravs das superfcies folhosas, sob forma de vapor dgua, pelo processo de
transpirao.

Evapotranspirao

Em solos com cobertura vegetal praticamente impossvel separar o


vapor dgua proveniente da evaporao do solo daquele originado da transpirao.
Neste caso, a anlise do aumento da umidade atmosfrica feita de forma conjunta,
interligando

os

dois

processos

num

processo

nico,

denominado

de

evapotranspirao.

Evapotranspirao Potencial

a quantidade de gua transferida para a atmosfera por evaporao e


transpirao, na unidade de tempo, de uma superfcie extensa completamente
coberta de vegetao de porte baixo e bem suprida de gua. Serve apenas como
uma referncia para a evaporao mxima possvel sob certas condies climticas.

Evapotranspirao de Referncia

a perda de gua de uma extensa superfcie cultivada com grama, com


altura de 0,08 a 0,15 m, em crescimento ativo, cobrindo totalmente o solo e sem
deficincia de gua.

117

Evapotranspirao Real ou Anual

a quantidade de gua transferida para a atmosfera por evaporao e


transpirao, nas condies reais (existentes) de fatores atmosfricos e umidade do
solo. A evapotranspirao real igual ou menor que a evapotranspirao potencial.

Evapotranspirao de gua interceptada

a evaporao da gua interceptada por folhas, galhos e tronco das


rvores.

Evaporao do Solo

a vaporizao da gua diretamente a partir da superfcie mineral do


solo.

FATORES QUE INFLUENCIAM NA EVAPORAO E TRANSPIRAO

Vento

O vento uma varivel importante no processo de evaporao porque


remove o ar mido diretamente do contato da superfcie que est evaporando ou
transpirando. O processo de fluxo de vapor na atmosfera prxima superfcie ocorre
por difuso, isto , de uma regio de alta concentrao (umidade relativa) prxima
superfcie para uma regio de baixa concentrao afastada da superfcie. Este
processo pode ocorrer pela prpria ascenso do ar quente como pela turbulncia
causada pelo vento.

118

Umidade

Quanto menor a umidade do ar, mais fcil o fluxo de vapor da superfcie


que est evaporando. Se o ar da atmosfera prxima superfcie estiver com
umidade relativa prxima a 100% a evaporao diminui porque o ar j est
praticamente saturado de vapor.
Quando solo est mido as plantas transpiram livremente. Quando o solo
comea a secar o fluxo de transpirao comea a diminuir.

Temperatura

O aumento da temperatura torna maior a quantidade de vapor de gua


que pode estar presente no mesmo volume de ar. Ar mais quente pode conter mais
vapor, portanto o ar mais quente favorece a evaporao e transpirao.

Radiao Solar

A quantidade de energia solar que atinge a Terra no topo da atmosfera


est na faixa das ondas curtas. Na atmosfera e na superfcie terrestre a radiao
solar refletida e sofre transformaes, de acordo com a Figura 54.
Parte da energia incidente refletida pelo ar e pelas nuvens e parte
absorvida pela poeira, pelo ar e pelas nuvens. Parte da energia que chega a
superfcie refletida de volta para o espao ainda sob a forma de ondas curtas.
A energia absorvida pela terra e pelos oceanos contribui para o
aquecimento destas superfcies que emitem radiao de ondas longas. Alm disso,
o aquecimento das superfcies contribuem para o aquecimento do ar que est em
contato, gerando o fluxo de calor sensvel (ar quente), e o fluxo de calor latente
(evaporao). Finalmente, a energia absorvida pelo ar, pelas nuvens e a energia dos
fluxos de calor latente e sensvel retorna ao espao na forma de radiao de onda
longa, fechando o balano de energia.
O processo de fluxo de calor sensvel onde ocorre a evaporao. A
intensidade desta evaporao depende da disponibilidade de energia. Os valores
119

apresentados na Figura 31 referem-se s mdias globais, o que significa que a


energia utilizada para evaporao pode ser maior ou menor, dependendo
principalmente da latitude e da poca do ano. Regies mais prximas ao Equador
recebem maior radiao solar, e apresentam maiores taxas de evapotranspirao.

Figura 31 Mdia global de fluxos de energia na atmosfera da Terra. (Fonte: Tucci, 1998).

EVAPORAO

A evaporao ocorre quando o estado lquido da gua transformado de


lquido para gasoso. As molculas de gua esto em constante movimento, tanto no
estado lquido como gasoso. Algumas molculas da gua lquida conseguem
energia suficiente, atravs da radiao solar, para romper a barreira da superfcie,
entrando na atmosfera, enquanto algumas molculas de gua na forma de vapor do
ar retornam ao lquido, fazendo o caminho inverso. Quando a quantidade de
molculas que deixam a superfcie maior do que a que retorna est ocorrendo a
evaporao.
120

Medio da Evaporao

A medio pode ser feita por quatro formas: tanques de evaporao,


atmmetros, mtodo da transferncia de massa e balano hdrico.

Tanques de Evaporao

So tanques que contm gua exposta evaporao. No Brasil, o mais


comum o tanque Classe A.
Consiste num tanque circular de ao inoxidvel ou galvanizado, chapa 22,
com 121 cm de dimetro interno e 25,5 cm de profundidade. Deve ser instalado
sobre uma plataforma de madeira, de 15 cm de altura. Deve permanecer com gua
variando entre 5,0 e 7,5 cm da borda superior. A evaporao medida com uma
rgua ou, de preferncia, com o micrmetro de gancho assentado sobre o poo
tranqilizador. A Evaporao classe A a espessura da lmina dgua do tanque
que foi evaporada em um determinado intervalo e tempo. A leitura do tanque feita
uma nica vez ao dia, geralmente pela manh.
Ao instalar um tanque de evaporao, deve-se dar especial ateno
finalidade a que se destina a informao evitando, esta maneira, ampliar os erros
cometidos correntemente. O fato do tanque ser instalado sobre o solo faz com que
as paredes do mesmo sofram influncia da radiao e da transferncia de calor
sensvel, traduzindo-se num aumento da evaporao medida. Os tanques so mais
suscetveis ao do vento do que, por exemplo, uma comunidade vegetal. Alguns
estudos atribuem incrementos na temperatura de 2 a 5C e reduo na umidade
relativa de 20 a 30%, ao nvel do tanque, quando instalados sobre pisos
inadequados. Quando circundados por cultivos de elevada estatura, subestimam a
evaporao. Os valores da evaporao medida em tanques superam os obtidos em
lagos e/ou reservatrios, devido s diferenas de volume, superfcie, localizao e
tambm pelo fato do lago e/ou reservatrio depender da variao do transporte de
massa e balano de energia, que influenciam os dias subseqentes, enquanto que
no tanque, isto no ocorre. O fator que relaciona a evaporao de um reservatrio e
do tanque classe A oscila entre 0,6 e 0,8, sendo 0,7 o valor mais utilizado.
121

Evapormetros

O evapormetro de Piche (Figura 33) constitudo por um tubo cilndrico


de vidro, de aproximadamente 30 cm de comprimento e um centmetro de dimetro
interno, graduado em dcimo de milmetro e fechado em uma das extremidades. Na
extremidade aberta do tubo, prende-se um disco de papel de feltro, de 3 cm de
dimetro. Enche-se o tubo com gua destilada e pendura-se na vertical o aparelho.
A evaporao se d atravs do disco de papel, e a quantidade dgua evaporada
determinada pela variao do nvel dgua no tubo.

Mtodo de Transferncia de Massa

So mtodos baseados na primeira lei de Dalton:

Onde:

a evaporao;
a presso de vapor do ar;
o coeficiente caracterstico de localidade;
a presso de vapor de saturao na temperatura da

superfcie.
O efeito do vento introduzido atravs do parmetro

, de acordo com a

equao a seguir:

Onde:

oparmetro relativo densidade e a presso do ar;


a funo da velocidade do vento;
o parmetro de rugosidade.

Balano Hdrico

122

O Balano hdrico possibilita a determinao da evaporao com base na


equao da continuidade do lago ou reservatrio. A referida equao pode ser
escrita da seguinte forma

Onde

o volume de gua contido no reservatrio;


o tempo;
a vazo total de entrada no reservatrio;
a vazo de sada do reservatrio;
a evaporao;
a precipitao;
a rea do reservatrio.

Usando as unidades padro de cada varivel, e considerando que o


volume e a rea podem ser relacionar por uma funo do tipo
e

( em hm

em km), a equao acima resulta em:

Onde

a rea da superfcie do reservatrio no ms (km);


(mm/ms);
e

so as vazes mdias do ms (m/s).

O uso da equao do balano hdrico para estimar a evaporao


teoricamente correto, pois est alicerado no princpio de conservao de massa. O
maior problema encontrado em campo fazer a medio das variveis.

TRANSPIRAO

a transferncia da gua presente no solo para a atmosfera atravs do


processo de transpirao vegetal. A transpirao envolve a retirada da gua do solo
pelas razes das plantas, o transporte da gua atravs da planta at as folhas e a
passagem da gua para a atmosfera atravs dos estmatos da folha.

123

Medio da transpirao pelo fitmetro fechado

O fitmetro fechado que um recipiente estanque contendo terra para


alimentar a cultura. A tampa do fitmetro evita a entrada da precipitao evita a
entrada de precipitao e a evaporao da gua do solo. So adicionadas
quantidades conhecidas de gua.

Transpirao=(peso inicial+peso de gua adicionada)- peso final

Obs.: Esse mtodo s serve para os casos de plantas de pequeno porte.

EVAPOTRANSPIRAO

Podemos determinar a evapotranspirao por mtodos diretos: lismetros;


ou por mtodos indiretos: evapormetros, mtodo de Blaney-Criddle, Aerodinmico,
balano de energia, mtodos combinados, mtodo de Penman, correlao de
turbilhes, mtodo de Thornthwaite e mtodo de Hargreaves.

Lismetros

considerado o mtodo mais correto para a determinao da


evapotranspirao. So tanques enterrados no solo (volume mnimo de 1 m),
providos de um sistema de drenagem e instrumentos de operao (medidores,
vlvulas, etc.).
O solo recebe a precipitao e drenado para o fundo do aparelho onde
a gua coletada e medida. O depsito pesado diariamente, assim como a chuva
e os volumes escoados de forma superficial e que saem por orifcios no fundo do
lismetro. A evapotranspirao obtida por meio do balano hdrico neste sistema
de controle:

Onde:

a evapotranspirao;
a precipitao;
124

o escoamento superficial;
o escoamento subterrneo;
a variao de volume de gua medido atravs do peso.

Evapormetros

So equipamentos usados para medir a evaporao (E) da gua. Temos


2 tipos bsicos de evapormetros: um que a superfcie da gua fica livremente
exposta (tanques de evaporao) e o outro em que a evaporao ocorre atravs de
uma superfcie porosa (atmmetros). De um modo geral, os tanques evaporimtricos
so bastante precisos e mais sensveis em perodos curtos, alm de serem de fcil
manuseio.
Para converter a evaporao em evapotranspirao, necessria se
considerar as condies meteorolgicas da regio e o local em que o tanque est
instalado em relao ao meio circundante. Sendo assim, a evapotranspirao de
referncia, pode ser calculada com a seguinte expresso:

Onde :

a evapotranspirao

o coeficiente do tanque
a evaporao no tanque (mm.d -1)

Fitmetro

Em razo da dificuldade de se proceder em campo medidas de


transpirao, tm-se adotados mtodos laboratoriais dentre os quais aqueles em
que se emprega o fitmetro fechado, o qual consiste num recipiente no interior do
qual colocada a planta, bem como solo para sua alimentao. A gua necessria
para manter vivo o sistema adicionada em quantidades conhecidas. Nenhuma
outra troca permitida seno quela advinda da transpirao do vegetal, a qual
determinada subtraindo o peso inicial do sistema (incluindo a gua adicionada) e o
peso final.
125

Balano Hdrico

Para estimar a evapotranspirao real por balano hdrico de uma bacia


necessrio considerar valores mdios de escoamento e precipitao de um perodo
relativamente longo, igualmente superior a um ano. A variao de armazenamento
na bacia pode ser desprezada, e a equao do balano hdrico fica:

Mtodo de Blaney-Criddle

Esse mtodo utiliza a temperatura mdia mensal e um fator ligado ao


comprimento do dia. Os dados so obtidos em base pela frmula:

Onde:

o uso consultivo mensal (pol);


a temperatura mdia mensal em F;
a porcentagem de horas diurnas do ms, sobre o total de

horas diurnas do ano;


um coeficiente emprico mensal, que depende da cultura, do
ms e da regio.
Adaptando a frmula acima para o uso das unidades do sistema mtrico
decimal e a escala Celsius, obtemos:

Onde

E a evapotranspirao potencial mensal (mm);


T a temperatura mdia mensal (C)
P a porcentagem de horas diurnas do ms, sobre o total de

horas diurnas do ano;


O valor de k foi considerado igual unidade, como mostra a
tabela 30:
Tabela 30 Coeficientes de evapotranspirao k para plantas cultivadas, segundo Blaney e
Criddle

126

Perodo de
Coeficiente de evapotranspirao "k"
crescimento
(meses )
Litoral
Zona rida
7
0,60
0,65
3-4
1,00
1,20
3
0,65
0,75

Culturas
Algodo
Arroz
Batata
Cereais
menores
Feijo
Milho
Pastos
Citrus
Cenoura
Tomate
Hortalias

0,75

0,85

3
4
3
4

0,60
0,75
0,75
0,50
0,60
0,70
0,60

0,70
0,85
0,85
0,65
-

Mtodo Aerodinmico

Esse mtodo baseia-se na difuso do vapor. Em forma simplificada, a


evaporao obtida como funo mdia do vento e da diferena de presso de
vapor entre os nveis em que ele processa.

Onde

a velocidade mdia do vento


a diferena entre as presses de saturao de vapor

superfcie e no ar.

Mtodo de Penman

um mtodo que combina o balao de energia radiante com princpios


aerodinmicos. bastante preciso, mas exige a determinao de grandes nmeros
de dados meteorolgicos, os quais, na maioria das estaes, no so disponveis.
Com o passar do tempo a equao de Penman, apesar de sua boa preciso, foi
sofrendo modificaes at que, na dcada de 60, Monteith props uma modificao
a fim de considerar fatores de resistncia do dossel da cultura. Dessa forma, a
equao original passou a ser denominada Penman-Monteith e considerada como
padro pelo FAO.
127

a evapotranspirao da cultura de referncia (mm.d -1)

Onde:

a declividade da curva de presso de saturao (kPaC -1)


a constante psicromtrica modificada (kPaC -1)
o saldo de saturao na superfcie da cultura (MJm2d-1)
o fluxo de calor no solo (MJm 2d-1)
a temperatura (C)
a velocidade do vento a 2 metros de altura (ms -1)
o dficit de presso de vapor (KPaC -1)
o calor latente de evaporao (MJKg-1)

Mtodo de Thornthwaite

O mtodo correlaciona com a varivel temperatura e possibilita a


estimativa da evapotranspirao potencial. Por tratar-se de um mtodo baseado
apenas na temperatura, este mtodo, tende a levar a resultados errneos, pois a
temperatura

no

um

bom

indicador

da

energia

disponvel

para

evapotranspirao.
A

pode ser estimada de acordo com a equao abaixo:

Onde

Onde

a evapotranspirao potencial para meses de 30 dias e

dias com 12 horas dirias de insolao (mm/ms);


a temperatura mdia do ar (C);
o fator de correlao em funo da latitude e ms do ano
(tabela 33);
a temperatura do ms analisado (C).

128

O valor de a dado de acordo com uma funo cbica do ndice de calor


anual:

Os valores obtidos pela frmula de Thornthwaite so vlidos, como j foi


dito, para meses de 30 dias e dias de 12 horas de luz por dia. Como o nmero de
horas luz por dia muda de acordo com a latitude e tambm porque h meses com 28
e 31 dias, torna-se necessrio proceder correlaes. O fator de correlao,

obtido pela seguinte frmula:

Onde:

o nmero de horas de luz na latitude considerada;


o nmero de dias do ms em estudo.

Tabela 31 Fator de correlao


Latitude
10 N
5N
0N
5S
10 S
15 S
20 S
25 S
30 S
35 S
40 S

Jan
0,98
1,00
1,02
1,04
1,08
1,12
1,14
1,17
1,20
1,23
1,27

Fev
0,91
0,93
0,94
0,95
0,97
0,98
1,00
1,01
1,03
1,04
1,06

Mar
1,03
1,03
1,04
1,04
1,05
1,05
1,05
1,05
1,06
1,06
1,07

Abr
1,03
1,02
1,01
1,00
0,99
0,98
0,97
0,96
0,95
0,94
0,93

do mtodo de Thornthwaite (UNESCO, 1982)


Mai
1,08
1,06
1,01
1,02
1,01
0,98
0,96
0,94
0,92
0,89
0,86

Jun
1,06
1,03
1,01
0,99
0,96
0,94
0,91
0,88
0,85
0,82
0,78

Jul
1,08
1,06
1,04
1,02
1,00
0,97
0,95
0,93
0,90
0,87
0,84

Ago
1,07
1,05
1,04
1,03
1,01
1,00
0,99
0,98
0,96
0,94
0,92

Set
1,02
1,01
1,01
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00
1,00

Out
1,02
1,03
1,04
1,05
1,06
1,07
1,08
1,10
1,12
1,13
1,15

Nov
0,98
0,99
1,01
1,03
1,05
1,07
1,09
1,11
1,14
1,17
1,20

Mtodo de Hargreaves

A equao proposta por Hargreaves e Christasen (1973) de fcil uso e


requer dados de temperatura, umidade e latitude. Ela se aproxima muito da
evapotranspirao da grama, podendo ser usada com dados climticos do Brasil.
A evapotranspirao dada por:

Onde :

fator mensal dependente da latitude (mm/ms);


temperatura mdia em F;
fator de correlao da umidade relativa mdia mensal.
129

Dez
0,99
1,02
1,04
1,06
1,10
1,12
1,15
1,18
1,21
1,25
1,29

Mas:

, com valor mximo de 1,0.


Resumindo:

Onde

obtido pela tabela 34;


a umidade relativa mdia mensal (%);

a temperatura mdia mensal (C);

Tabela 32 Fator de evaporao potencial (F), para a ETP em mm/ms (HARGREAVES,1974)

130

LAT
SUL
0
-1
-2
-3
-4
-5
-6
-7
-8
-9
-10
-11
-12
-13
-14
-15
-16
-17
-18
-19
-20
-21
-22
-23
-24
-25
-26
-27
-28
-29
-30
-31
-32
-33
-34
-35
-36
-37

MS
JAN
2.255
2.288
2.371
2.353
2.385
2.416
2.447
2.479
2.509
2.538
2.567
2.596
2.575
2.657
2.680
2.707
2.714
2.760
2.785
2.811
2.835
2.860
2.883
2.907
2.930
2.952
2.975
2.996
3.018
3.039
3.059
3.079
3.099
3.119
3.138
3.157
3.149
3.120

FEV
2.008
2.117
2.136
2.154
2.172
2.189
2.205
2.221
2.237
2.251
2.266
2.279
2.292
2.305
2.317
2.328
2.339
2.349
2.359
2.368
2.377
2.395
2.392
2.399
2.405
2.411
2.416
2.420
2.424
2.427
2.430
2.432
2.434
2.435
2.436
2.436
2.415
2.378

MAR
2.350
2.354
2.357
2.360
2.362
2.363
2.363
2.363
2.362
2.360
2.357
2.354
2.350
2.345
2.340
2.334
2.327
2.319
2.311
2.302
2.293
2.282
2.272
2.260
2.248
2.234
2.221
2.206
2.191
2.178
2.159
2.142
2.125
2.106
2.087
2.068
2.030
1.980

ABR
2.211
2.197
2.182
2.167
2.151
2.134
2.117
2.099
2.081
2.062
2.043
2.023
2.002
1.987
1.959
1.937
1.914
1.891
1.867
1.843
1.818
1.792
1.767
1.740
1.713
1.686
1.659
1.630
1.502
1.573
1.544
1.514
1.484
1.453
1.422
1.391
1.348
1.297

MAI
2.165
2.137
2.108
2.079
2.050
2.020
1.989
1.959
1.927
1.896
1.864
1.832
1.799
1.767
1.733
1.700
1.666
1.632
1.598
1.564
1.529
1.494
1.459
1.423
1.388
1.352
1.316
1.280
1.244
1.208
1.172
1.135
1.099
1.067
1.026
0.999
0.945
0.895

JUN
2.023
1.990
1.936
1.902
1.908
1.854
1.800
1.785
1.700
1.715
1.673
1.644
1.608
1.572
1.536
1.500
1.404
1.427
1.391
1.354
1.319
1.281
1.244
1.208
1.171
1.104
1.097
1.001
1.024
0.988
0.952
0.916
0.830
0.844
0.808
0.773
0.731
0.606

JUL
2.123
2.091
2.059
2.076
1.993
1.960
1.926
1.893
1.858
1.824
1.789
1.754
1.719
1.684
1.648
1.612
1.576
1.540
1.504
1.467
1.471
1.394
1.357
1.320
1.283
1.246
1.209
1.172
1.134
1.097
1.060
1.023
0.996
0.949
0.912
0.876
0.832
0.784

AGO
2.237
2.216
2.194
2.172
2.150
2.126
2.103
2.078
2.054
2.028
2.003
1.976
1.950
1.922
1.895
1.867
1.838
1.809
1.780
1.750
1.719
1.689
1.658
1.626
1.595
1.583
1.530
1.497
1.464
1.431
1.397
1.364
1.329
1.295
1.261
1.226
1.180
1.129

SET
2.200
2.256
2.251
2.246
2.240
2.234
2.226
2.218
2.210
2.201
2.191
2.180
2.169
2.157
2.144
2.131
2.117
2.103
2.089
2.072
2.056
2.039
2.021
2.003
1.984
1.965
1.946
1.924
1.903
1.881
1.859
1.836
1.812
1.788
1.764
1.739
1.698
1.647

OUT
2.343
2.358
2.372
2.386
2.398
2.411
2.422
2.433
2.443
2.453
2.462
2.470
2.477
2.484
2.490
2.496
2.500
2.504
2.508
2.510
2.512
2.514
2.514
2.514
2.513
2.512
2.510
2.507
2.503
2.499
2.494
2.493
2.493
2.476
2.469
2.460
2.430
2.385

NOV
2.205
2.234
2.263
2.290
2.318
2.345
2.371
2.397
2.423
2.448
2.473
2.407
2.520
2.543
2.566
2.588
2.610
2.631
2.651
2.671
2.691
2.710
2.728
2.747
2.754
2.781
2.798
2.814
2.830
2.845
2.859
2.874
2.883
2.901
2.914
2.927
2.914
2.982

DEZ
2.229
2.265
2.301
2.337
2.372
2.407
2.442
2.476
2.520
2.544
2.577
2.010
2.043
2.075
obs
obs
2.769
2.799
2.930
2.859
2.899
2.918
2.947
2.975
3.003
3.031
3.058
3.085
3.112
3.139
3.185
3.191
3.217
3.242
3.268
3.293
3.289
3.265

131

INTRODUO GUAS SUBTERRNEAS

1.1. INTRODUO
A gua subterrnea ocorre no interior dos vazios dos solos e rochas.
Estes vazios incluem poros, vesculas, fraturas e cavernas e podem ter diversos
formatos e dimenses alguns so invisveis a olho nu, como no caso dos poros de
rochas cristalinas, enquanto outros chegam a ter dimenses da ordem de vrios
metros, como cavernas em rochas carbonticas. As guas subterrneas cumprem
uma fase do ciclo hidrolgico, uma vez que constituem uma parcela da gua
precipitada.
Aps a precipitao, parte das guas que atinge o solo se infiltra e
percola no interior do subsolo, durante perodos de tempo extremamente variveis,
decorrentes de muitos fatores, como:

Porosidade do subsolo

A presena de argila no solo diminui sua permeabilidade, no permitindo


uma grande infiltrao;

Cobertura vegetal

Um solo coberto por vegetao mais permevel do que um solo


desmatado;

Inclinao do terreno

Em declividades acentuadas a gua corre mais rapidamente, diminuindo


a possibilidade de infiltrao;

Tipo de chuva:
132

Chuvas intensas saturam rapidamente o solo, ao passo que chuvas finas


e demoradas tm mais tempo para se infiltrarem.
Durante a precipitao, uma parcela de gua sob a ao da fora de
adeso ou de capilaridade fica retida nas regies mais prximas da superfcie do
solo, constituindo a zona no saturada. Outra parcela, sob a ao da gravidade,
atinge as zonas mais profundas do subsolo, constituindo a zona saturada.

DISTRIBUIO DA GUA NO SOLO

Zona no saturada

Tambm chamada de zona de aerao ou vadosa, a parte do solo que


est parcialmente preenchida por gua. Nesta zona, pequenas quantidades de gua
distribuem-se uniformemente, sendo que as suas molculas se aderem s
superfcies dos gros do solo. Nesta zona ocorre o fenmeno da transpirao pelas
razes das plantas, de filtrao e de autodepurao da gua.

Zona de umidade do solo

a parte mais superficial, onde a perda de gua de adeso para a


atmosfera intensa. Em alguns casos muito grande a quantidade de sais que se
precipitam na superfcie do solo aps a evaporao dessa gua, dando origem a
solos salinizados ou a crostas ferruginosas (laterticas). Esta zona serve de suporte
fundamental da biomassa vegetal natural ou cultivada da Terra e da interface
atmosfera / litosfera.

Zona intermediria

Regio compreendida entre a zona de umidade do solo e da franja


capilar, com umidade menor do que nesta ltima e maior do que a da zona
133

superficial do solo. Em reas onde o nvel fretico est prximo da superfcie, a zona
intermediria pode no existir, pois a franja capilar atinge a superfcie do solo. So
brejos e alagadios, onde h uma intensa evaporao da gua subterrnea.

Franja de capilaridade

a regio mais prxima ao nvel d'gua do lenol fretico, onde a


umidade maior devido presena da zona saturada logo abaixo.

Zona saturada

a regio abaixo da zona no saturada onde os poros ou fraturas da


rocha esto totalmente preenchidos por gua. As guas atingem esta zona por
gravidade, atravs dos poros ou fraturas at alcanar uma profundidade limite, onde
as rochas esto to saturadas que a gua no pode penetrar mais. Para que haja
infiltrao at a zona saturada, necessrio primeiro satisfazer as necessidades da
fora de adeso na zona no saturada. Nesta zona, a gua corresponde ao
excedente de gua da zona no saturada que se move em velocidades muito lentas
(em/dia), formando o manancial subterrneo propriamente dito. Uma parcela dessa
gua ir desaguar na superfcie dos terrenos, formando as fontes, olhos de gua. A
outra parcela desse fluxo subterrneo forma o caudal basal que desgua nos rios.

Nvel fretico

A superfcie que separa a zona saturada da zona de aerao chamada


de nvel fretico, ou seja, este nvel corresponde ao topo da zona saturada (IGM,
2001). Dependendo das caractersticas climatolgicas da regio ou do volume de
precipitao e escoamento da gua, esse nvel pode permanecer permanentemente
a grandes profundidades, ou se aproximar da superfcie horizontal do terreno,
originando as zonas encharcadas ou pantanosas, ou convertendo-se em mananciais
(nascentes) quando se aproxima da superfcie atravs de um corte no terreno.
134

NDICES FSICOS

Os solos e rochas so constitudos basicamente por trs fases: solida,


onde h presena de gros minerais; lquida, ou seja presena de gua entre os
vazios; e gasosa, ou seja presena de ar entre os vazios. A figura 37 exemplifica a
explicao.

Figura 37 Fases do solo. (a) trs fases presente no solo natural e (b) fases separadas. (fonte:
BOSCARDIN BORGUETTI, 2004)

Os ndices fsicos so: Porosidade ( ), ndices de vazios ( ), grau de


saturao ( ), teor de umidade em peso ( ), teor de umidade volumtrico ( ), peso
especfico total ( ) e massa especfica total ( ), peso especfico seco (
especfica seca (

) e massa

), peso especfico de slidos ( ) e massa especfica dos slidos

( ), peso especfico da gua ( ) e massa especfica da gua (

), densidade de

gros ( ).

Porosidade ( )

135

Onde

o volume de vazios
o volume total

A porosidade mostra a quantidade de vazios que uma amostra de solo ou


rocha possui.
Nos solos controla-se pela quantidade granulomtrica, a forma e o arranjo
dos gros. Em solos uniformes a porosidade maior, enquanto que em solos com
maior variao de dimenses de partculas h menor porosidade uma vez que os
gros menores tendem a preencher os espaos entre os maiores, resultando em um
menor volume de vazios. Solos com arranjos geomtricos mais densos tm menor
porosidade que solos com arranjos mais soltos. A tabela X mostra valores tpicos de
porosidade para vrios tipos de solos e rochas.
Os poros podem estar ou no interconectados, o que influi diretamente na
ocorrncia e no movimento da gua subterrnea. Com isso podemos definir:

Porosidade efetiva:

Razo entre o volume de vazios interconectados e o volume total, o que


o equivalente a considerar os poros interconectados ou no como parte da fase
slida.

Porosidade total:

Razo entre o volume de vazios interconectados ou no e o volume total


do solo ou rocha.

ndices de vazios ( )

Onde

o volume de vazios
o volume de slidos

O ndice de vazios outra medida da proporo de vazios no solo e se


relaciona com a porosidade pelas seguintes expresses:
e

136

Grau de saturao ( )

Onde

o volume de ar
o volume de vazios

O grau de saturao uma medida da poro dos vazios que est


preenchida com gua. Pode ser representada em valores decimais ou por
porcentagem. O valor de S=1 ou S=100% corresponde a condio em que os vazios
esto totalmente preenchidos por gua (material saturado). Com S = 0, o material
est seco. Se S estiver entre 0 e 1, o material dito no saturado ou, menos
corretamente, parcialmente saturado.

Teor de umidade em peso ( )

Onde

o peso da gua
o peso de slidos

O teor de umidade uma medida da quantidade de gua contida no solo


ou rocha e expressa em termos de peso.

Teor de umidade volumtrico ( )

Onde

o volume de ar
o volume de slidos

137

Peso especfico total ( ) e massa especfica total ( )

Onde

o peso total
o volume total
a massa total

O peso especfico e a massa especfica podem ser chamados tambm de


peso unitrio e massa unitria. O peso especfico relacionado com a massa
especfica pela expresso:

Sendo que

a acelerao da gravidade.

Peso especfico seco (

Onde

) e massa especfica seca (

o peso de slidos
o volume total
a massa total

Peso especfico de slidos ( ) e massa especfica dos slidos ( )

Onde

o peso de slidos
o volume de slidos
138

a massa total

Peso especfico da gua ( ) e massa especfica da gua (

Onde

o peso de gua
o volume de gua
a massa de gua

Os valores de massa especfica da gua so tabelados em funo da


temperatura.

a 4C.

Densidade de gros ( )

Sendo que

so valores para a temperatura de 4C.

CLASSIFICAO DAS UNIDADES GEOLGICAS

Podemos classificar as formaes geolgicas de acordo com a sua


capacidade de armazenar e transmitir a gua. So elas os aqferos, aquitargo,
arquicludo e, aquifugo.

Aqfero

Unidade saturada, permevel, com capacidade de transmitir quantidades


de gua economicamente viveis para explorao por poo ou em fontes na
superfcie.
139

Aquitargo

Unidade que pode armazenar gua e transmitir lentamente de um para


outro aqfero, mas no capaz de transmitir quantidades economicamente viveis
para fontes e poos de explorao.

Aquicludo

Unidade que pode armazenar, mas incapaz de transmitir gua; forma


limites superior e/ou inferior de um sistema de fluxo de gua subterrnea.

Aquifugo

Unidade impermevel, incapaz de armazenar ou de transmitir gua.

MOVIMENTO DA GUA SUBTERRNEA

A gua subterrnea contida nos vazios dos solos e rochas se movimenta


atravs dos poros e fraturas interconectados. Dependendo da granulometria dos
gros, alguns solos so mais fceis de ver esses vazios. Um exemplo disso so os
solos grosseiros como cascalho e areia, pois os gros so muitos pequenos. Em
rochas percebemos mais fceis esses vazios.

Fluxo de meio poroso

O fluxo em um meio poroso comeou a ser estudado por Darcy em 1850.


Darcy realizou um experimento com uma amostra de solo utilizando um sistema
esquemtico como mostra a figura 39. Variou-se o comprimento
transversal ( ) da amostra e as alturas das colunas de gua
vazo

e a rea
e medindo a

, verificou-se que a vazo era diretamente proporcional diferena de

140

altura da coluna de gua ligadas ao topo e base da amostra (

) e rea

inversamente proporcional ao comprimento.

Figura 39 Experimento de Darcy (fonte: BOSCARDIN BORGUETTI, 2004.

Onde:

vazo de gua atravs da amostra (cm/s);


a altura da coluna de gua ligada ao topo ou base da

amostra (cm);
a altura da coluna de gua ligada base ou o topo da
amostra (cm);
o comprimento da amostra (cm);
a rea da seo transversal da amostra (cm).
A razo entre a diferena da altura da coluna de gua pelo comprimento
(

) chamada de gradiente hidrulico, uma grandeza adimensional. A

constante de proporcionalidade

chamada de coeficiente de permeabilidade ou

condutividade hidrulica, e tem unidade de velocidade.

A equao acima conhecida como a Lei de Darcy. Esta lei sujeita a


numerosos exames e algumas experimentaes, estes testes tm mostrado que a
Lei de Darcy vlida para a maioria dos tipos de fluxo de fluido atravs do solo.
141

Para fluxos lquidos a velocidades altas e para fluxos de gs a velocidades baixas ou


muito altas, esta lei comea a se tornar invlida.
A lei de Darcy pode ser escrita, tambm, em termos da velocidade da
gua, considerando que a velocidade igual a razo entre o fluxo com a rea
transversal:

Mas

, logo

Onde

a velocidade do fluxo (cm/s).

Como a velocidade est sendo calculada dividindo-se a vazo pela rea


total, esta velocidade da gua entre dois pontos situados acima ou abaixo da
amostra, por exemplo, entre os pontos 1 e 2, como mostra a figura 39.
Esta velocidade numericamente igual a ki. No entanto, k pode ser
interpretado como uma velocidade superficial ou velocidade de aproximao para
um gradiente unitrio (i=1):

Mas

Da posio 3 para a 4 da figura 39, o escoamento da gua atravs do


meio poros, mais rpido do que da posio 1 para 2, isso porque a rea mdia do
canal disponvel para o fluxo menor que a rea total (que igual a rea dos vazios
de uma seo) e a trajetria das partculas no retilnea, mas tortuos a, como j foi
dito anteriormente. A rea reduzida do canal de escoamento mostrada na figura
40.

142

Figura 40 Canal de fluxo (fonte: BOSCARDIN BORGUETTI, 2004).

Usando o princpio da continuidade, ou seja, a vazo que entra igual a


vazo que passa por qualquer seo ao longo da amostra. Pode-se relacionar a
velocidade superficial ( ) com a velocidade efetiva mdia de um fluxo atravs do
solo ( ) da seguinte maneira:

Mas

Onde

. Utilizando o princpio da continuidade:

a rea mdia de vazios da seo transversal da amostra (cm)

Multiplicando as duas parcelas pelo comprimento

Mas

Temos que
(cm),

, onde

da amostra temos:

o volume de vazios da amostra em cm:

, onde

a porosidade,

o volume total da amostra

o volume de vazios da amostra (cm):


143

Mas

, assim:

Como a porosidade sempre menor que 1, temos que a velocidade de


percolao maior que a velocidade superficial.

Cargas

De acordo com a lei de Darcy, temos:

Mas

Onde

, onde

o fluxo de Darcy.

a perda de carga por unidade de comprimento, ou seja,

gradiente hidrulico (como visto na seo anterior).


Consideramos que a altura h a altura de carga total e considerando a
direo z:

Logo a Lei de Darcy pode ser expressa como:

Esta Lei se aplica a uma seo transversal de meio poroso sempre


quando esta seo seja grande, comparada com a seo deixada pelos poros e
gros individuais no meio. As foras atuantes que intervm no fluxo saturado no
confinado so de frico e da gravidade. Em um fluxo no saturado intervm essas
duas foras, mais a fora de suco. A fora de suco a fora que une a gua
com as partculas do solo atravs da tenso superficial.
O efeito da fora de suco pode ser avaliado colocando uma coluna de
solo seco em forma vertical sobre uma lmina de gua. A gua se elevar dentro da
144

coluna de solo at que a fora da gravidade se iguale a fora de suco. A parte da


altura de carga devido a fora de suco se chama de altura de suco (

) e pode

ser desde uns poucos milmetros (areias grossas) at vrios metros (argilas).
Tanto a fora de suco quanto a condutividade hidrulica variam com o
contedo de umidade do solo. Em um meio poroso no saturado, a altura de carga
total, , pode ser considerada igual fora de suco mais a altura de gravidade, .

Substituindo na equao de Darcy:

Mas

, onde

a difusividade da gua. Aplicando na equao

acima, temos:

CURVA DE PERMANNCIA

1.1. DEFINIO
A curva de permanncia utilizada na maioria dos problemas de recursos
hdricos. Expressa a relao entre a vazo e a freqncia com que esta vazo
superada ou igualada. definida, geralmente, com base em vazes dirias ou
mensais para o perodo da srie histrica.

ELABORAO

Para a elaborao de uma curva de permanncia deve-se seguir os


seguintes passos:
145

a)
Para a srie de vazes Q(t) determine o maior e o
menor valor da srie;
b)
Determine intervalos de classe na escala logartma
entre o maior e menor valor;
c) Conte quantas vazes se distribuem em cada intervalo;
d) Obtm-se a distribuio de freqncia;
e) Acumulando os valores do intervalo maior para o menor;
f) Plotando com o valor do limite inferior do intervalo
obtida a curva de permanncia.
Para melhor entendimento, o grfico 42 apresenta o hidrograma de
vazes dirias do rio Taquari, em Muum (RS), e a curva de permanncia que
corresponde aos mesmos dados apresentados no hidrograma. Observa-se que a
vazo de 1000 m.s -1 igualada ou superada em menos de 10% do tempo. Apesar
de apresentar picos de cheias com 7000 m.s -1 ou mais, na maior parte do tempo as
vazes do rio Taquari neste local so bastante inferiores a 500 m.s -1.
Para destacar mais a faixa de vazes mais baixas a curva de
permanncia apresentada com eixo vertical logartmico, como mostra o grfico 43.

Grfico 42 Hidrograma e curva de permanncia.

146

Grfico 43 Curva de permanncia.

ANLISE

A curva de permanncia auxilia na anlise dos dados de vazo com


relao a perguntas como: O rio tem uma vazo aproximadamente constante ou
extremamente varivel entre os extremos mximo e mnimo?. Ou ainda: Qual a
porcentagem do tempo em que o rio apresenta vazes em determinada faixa?. Ou:
Qual a porcentagem do tempo em que um rio tem vazo suficiente para atender
determinada demanda?.
Para melhor entendimento, temos como exemplo o grfico 44.

147

Grfico 44 Anlise da curva de permanncia.

A vazo de 75% da curva de permanncia significa que 75% do tempo as


vazes so maiores ou iguais Q75.
O perodo das grandes estiagens geralmente ocorre para probabilidade
superiores a 95%, como mostra a figura.

Alguns pontos da curva de permanncia recebem ateno especial:

A vazo que superada em 50% do tempo (mediana das vazes)


a chamada Q50.

A vazo que superada em 90% do tempo chamada de Q90 e


utilizada como referncia para legislao na rea de Meio
Ambiente e de Recursos Hdricos em muitos Estados do Brasil.

A vazo que superada em 95% do tempo chamada de Q95 e


utilizada para definir a Energia Assegurada de uma usina
hidreltrica.

CARACTERIZAO DAS BACIAS

Grfico 45 Caracterizao das bacias.

Como podemos ver pelo grfico 45, percebemos que para bacias grandes
com maior regularizao natural, temos uma curva mais suave. Para bacias
pequenas com pequenas regularizao natural a inclinao da curva mais
acentuada.

148

O grfico 46 apresenta as curvas de permanncia de vazo afluente


(entrada) e efluente (sada) do reservatrio de Trs Marias, no rio So Francisco
(MG). Este reservatrio tem um grande volume e uma grande capacidade de
regularizao, permitindo reter grande parte das vazes altas que ocorrem durante o
perodo do vero, aumentando a disponibilidade de gua no perodo de estiagem.
Como resultado observa-se que a vazo Q90 alterada de 148 m.s -1 para 379
m.s-1 pelo efeito de regularizao do reservatrio, enquanto a vazo Q95 alterada
de 120 m.s-1 para 335 m.s-1.

Grfico 46 Curva de permanncia de vazo afluente e efluente.

Percebemos que o efeito da regularizao da vazo sobre a curva de


permanncia torn-la mais horizontal, com valores mais prximos da mediana
durante a maior parte do tempo.

REGULARIZAO DE VAZES

1.1. INTRODUO
149

Sempre que um projeto de aproveitamento hdrico de um rio prev uma


vazo de retirada maior que a mnima, existir, em conseqncia, perodos em que
a vazo natural maior que a necessria e perodos em que menor. Como mostra
o grfico 47.

Grfico 47 Hidrgrafa.

Para que no haja esse tipo de problema, escassez de gua,


necessrio a construo de um reservatrio para que possa reter o excesso de gua
dos perodos de grandes vazes para ser utilizado nas pocas de seca.
A principal funo de um reservatrio fornecer uma vazo constante, ou
no muito varivel, tendo recebido do rio vazes muito variveis no tempo.
Resumindo, sua funo a de regularizao da vazo do curso d'gua.

DEFINIES

A figura 41 representa um esquema de um reservatrio, para melhor


entendimento

150

Figura 41 Esquema de um reservatrio (Fonte: Tucci, 1998)

Descarregadores de fundo

Descarregadores de fundo podem ser utilizados como estruturas de sada


de gua de reservatrios, especialmente para atender usos da gua existentes a
jusante.

Cota rea - Volume

A relao entre nvel da gua, rea da superfcie inundada e volume


armazenado de um reservatrio importante para o seu dimensionamento e para a
sua operao. O volume armazenado em diferentes nveis define a capacidade de
regularizao do reservatrio, enquanto a rea da superfcie est relacionada
diretamente perda de gua por evaporao.

Volume morto e Nvel Mnimo Operacional

O Volume Morto a parcela de volume do reservatrio que no est


disponvel para uso. Corresponde ao volume de gua no reservatrio quando o nvel
igual ao mnimo operacional. Abaixo deste nvel as tomadas de gua para as
turbinas de uma usina hidreltrica no funcionam, seja porque comeam a engolir ar

151

alm de gua, o que provoca cavitao nas turbinas (diminuindo sua vida til), ou
porque o controle de vazo e presso sobre a turbina comea a ficar muito instvel.

Volume Mximo e Nvel Mximo Operacional

O nvel mximo operacional corresponde cota mxima permitida para


operaes normais no reservatrio. Nveis superiores ao nvel mximo operacional
podem ocorrer em situaes extraordinrias, mas comprometem a segurana da
barragem.
O nvel mximo operacional define o volume mximo do reservatrio.

Volume til

A diferena entre o volume mximo de um reservatrio e o volume morto


o volume til, ou seja, a parcela do volume que pode ser efetivamente utilizada
para regularizao de vazo.

Nvel Mximo Maximorum

Durante eventos de cheia excepcionais admite-se que o nvel da gua no


reservatrio supere o nvel mximo operacional por um curto perodo de tempo. A
barragem e suas estruturas de sada (vertedor) so dimensionados para uma cheia
com tempo de retorno alto, normalmente 10 mil anos no caso de barragens mdias e
grandes, e na hiptese de ocorrer uma cheia igual utilizada no dimensionamento
das estruturas de sada o nvel mximo atingido o nvel mximo maximorum.

Nvel Meta

Na operao normal de um reservatrio costumam ser utilizadas


referncias de nvel de gua que devem ser seguidas para atingir certos objetivos de
gerao energia e de segurana da barragem. O nvel meta tal que se o nvel da
152

gua superior ao nvel meta, deve ser aumentada o vertimento de vazo, para
reduzir o nvel da gua no reservatrio, que dever retornar ao nvel meta.

Curva Guia

A curva guia semelhante ao nvel meta, porm indica um nvel da gua


no reservatrio varivel ao longo do ano, que serve de base para a tomada de
deciso na operao. Uma curva guia pode indicar, por exemplo, o limite entre o uso
normal da gua, quando o nvel da gua est acima do nvel indicado pela curva
guia, e o racionamento, quando o nvel da gua est abaixo da curva guia.

Volume de Espera

O volume de espera, ou volume para controle de cheias, corresponde


parcela do volume til destinada ao amortecimento das cheias. O volume de espera
varivel ao longo do ano e definido pelo volume do reservatrio entre o nvel da
gua mximo operacional e o nvel meta.
Se um reservatrio tem o uso exclusivo para controle de cheias, ento o
volume de espera maximizado, podendo ser igual ao volume total, ou igual ao
volume til. Se um reservatrio tem mltiplos usos, h um conflito entre a utilizao
para controle de cheias e os outros usos.

Cota da crista do barramento

A cota da crista do barramento definida a partir do nvel da gua


mximo maximorum somado a uma sobrelevao denominada borda livre (free
board) cujo objetivo impedir que ondas formadas pelo vento ultrapassem a crista
da barragem.

CAPACIDADE DE UM RESERVATRIO

153

A capacidade de armazenamento de um reservatrio representa o volume


total acumulado no reservatrio quando o nvel da gua encontra-se na cota da
soleira do sangradouro.
Calcula-se a capacidade de um reservatrio construdo em terrenos
naturais a partir do levantamento topogrfico. Deve-se traar a curva "cota x rea"
planimetrando-se as reas delimitadas pelas curvas de nvel. A integrao dessa
curva d a curva cota x volume do reservatrio.

LEI DE REGULARIZAO (OU NVEL DE REGULARIZAO)

Onde:

a vazo regularizada em funo do tempo;


a vazo mdia ponderada no perodo considerado.

DIMENCIONAMENTO DE RESERVATRIOS

Existem 3 mtodos para se calcular o dimensionamento de reservatrios:


1. Emprico
Relaciona os perodos crticos da srie histrica atravs, por exemplo, do
diagrama de Rippl.
2. Analtico
So aqueles que seguem a Teoria dos Range, Teoria das Filas, ou
Teoria das Matrizes de Transao (Teoria de Moran).
3. Experimental
Mtodo Monte Carlo, que consiste na gerao de sries sintticas de
deflvio e posterior operao simulada do reservatrio.

154

Dimensionamento de um reservatrio pelo mtodo emprico Diagrama de Rippl

Perodo Crtico o perodo no qual o reservatrio vai d condio "cheio"


para a condio "vazio". O incio do perodo crtico se d com o reservatrio cheio; o
fim do perodo critico quando o reservatrio esvazia pela primeira vez dentro do
perodo. Assim, uma nica falha pode ocorrer durante o perodo critico.
O diagrama de Rippl parece ter sido o primeiro mtodo racional para a
estimativa da quantidade de armazenamento necessria para suprir uma dada
retirada.

Segue um algoritimo para a utilizao desse diagrama:


a) Para o reservatrio em questo, traar o diagrama de massas das
vazes histricas;
b) Sobrepor ao diagrama a linha correspondente a vazo retirada;
c) Traar linhas paralelas retirada tangentes aos maiores picos (no
grfico 48, os pontos A e B)
d) Medir os maiores afastamentos entre as tangentes e a curva de massa
(na figura acima, pontos C1 e C 2);
e) Na figura acima o maior afastamento C 2, logo esta ser a
capacidade do reservatrio, e o periodo crtico considerado ser o EF.
Dimensionamento de um reservatrio atravs de Mtodo Analtico Baseado na
Teoria De Moran

Descrio do Mtodo

O modelo em questo busca soluo para a equao:

Onde:

a probabilidade do reservatrio esvaziar em um dada ano;


a capacidade do reservatrio;
o coeficiente de variao dos deflvios anuais;
o valor mdio dos deflvios anuais;
a probabilidade de um ano ser totalmente seco;
155

a lmina evaporada do reservatrio durante a estao


seca;
o fator de forma da bacia hidrulica obtido supondo que a
relao cota volume do tipo (

);

a retirada anual do reservatrio para fins utilitrios.


Devido ao grande nmero de variveis envolvidas, o autor reuniu os
parmetros nos adimensionais:
o fator adimensional de capacidade
o fator adimensional de retirada
o fator adimensional de evaporao
Usando os fatores adimensionais na equao

podemos simplific-la para:

Atravs de programa computacional o autor resolveu a equao (2) para


os casos mais usuais e colocou os resultados em forma grfica.
O procedimento engloba 64 grficos. Cada grfico apresenta o valor de
PE nos eixo das ordenadas e o de fM no das abcissas: cada grfico contm 6 curvas
correspondentes a diferentes fk.
Campo de definio dos parmetros de entrada:

Exemplo: Dimensionamento do Aude Vrzea Alegre.

Obteno dos dados (Fonte: AGUASOLOS)

a) Deflvio mdio anual

()
156

A lmina mdia de escoamento do Riacho do Machado foi calculado por


correlao com a bacia do rio Caris, na estao Stio da Conceio seguindo
metodologia do GEVJ, atravs da aplicao de dois coeficientes de correo,
relativos a diferena nas reas das duas bacias e nas precipitaes mdias sobre
elas.

b) Coeficiente de variao dos deflvios anuais (

Tomando igual ao do rio Caris em Stio Conceio - Cv = 0,92

c) Evaporao

Os valores da evaporao do espelho d'gua foram estimados a partir do


Tanque Classe A, multiplicados por 0,70. Foram utilizados os dados do posto de
Iguat o qual se dispe de uma srie de 23 anos de observao.
Tabela 35 valores mdios mensais da evaporao do espelho de gua calculada a partir da
correlao com a evaporao com o tanque classe A medida em Iguat (mm). (UFC)
JAN FEV MAR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ ANO
162 133

132 137 151 172 198

206 215

204 203 2059

(somatrio da evaporao mdia durante a estao


seca: Junho a Janeiro).

d) Fator de forma da bacia ( )

obtido atravs de regresso entre o volume ( ) e a altura de gua ( ),


da curva cota x volume, pela equao

157

e) Fator evaporao ( )

Como:

, substituindo na

frmula acima, temos que:

Calculo da relao volume regularizado versus capacidade de reserva


com os parmetros
e

Traa-se

uma

(aqui interpolou-se os valores de

linha

horizontal

partindo

da

ordenada

PE=20%

(probabilidade de esvaziamento do reservatrio). Essa reta corta as curvas


correspondentes a

tira-se ento o eixo das abcissas os

valores correspondentes a
Como

.
, sabe-se que o volume anual regularizado ( ) para

cada capacidade de reservatrio ( ).


Tabela 36 Relao entre a capacidade do Aude Vrzea Alegre, o volume anual regularizado
com 80% de garantia e a vazo regularizao. (UFC)
K (hm3)

M 80% (hm3)

1,00

7,10

2,70

85,60

1,50

10,65

3,34

101,90

2,00

14,20

3,83

121,50

2,50

17,75

4,05

128,40

3,00

21,30

4,12

130,60

3,50

24,85

4,12

130,60

fk

Qr (l/s)

158

Dimensionamento de um reservatrio atravs de Mtodo Experimental

O uso de mtodo experimental no dimensionamento de reservatrio


consiste na gerao de sries sintticas e posterior operao simulada do
reservatrio atravs de um modelo.
A necessidade de modelagem

aparece principalmente devido

inadequao dos dados hidrolgicos. Os valores observados so obviamente de


imenso valor, mais a srie raramente longa o bastante para a anlise
probabilstica.
O mtodo descrito a seguir foi elaborado por Campos (1990) e se destina
tambm ao dimensionamento de reservatrios situados em regies de intermitentes
sujeitos a altas taxas de evaporao, que o caso do Nordeste Brasileiro.

Descrio do Mtodo

a) Gerao sinttica de Deflvios

Grande parte dos rios do Nordeste apresenta regime de escoamento


concentrado durante a estao chuvosa e uma longa estao seca; sendo assim os
deflvios anuais podem ser considerados serialmente independentes. Desta
maneira, estas sries podem ser obtidas atravs da gerao de nmeros aleatrios
seguindo uma dada funo densidade de probabilidade. A distribuio Gama de dois
parmetros foi a escolhido pelo autor para representar os deflvios anuais (os
parmetros estatsticos da srie histrica foram conservados).

b) Operao simulada do Reservatrio

A simulao do comportamento do reservatrio para cada retirada M foi


feita atravs da soluo da equao do balano hdrico do reservatrio atravs de
processo de integrao numrica.
Equao do balano hdrico:
159

se
se
se
A sangria calculada por:

Onde:

o Volume afluente no reservatrio durante o perodo t;


o Volume da reserva no incio do tempo t;
a rea do lago do reservatrio no incio do perodo t;
a Lmina evaporada do lago durante o perodo t;
o Volume retirado do reservatrio durante o perodo t
a Capacidade do reservatrio;
o Volume perdido por sangria durante o perodo t.

A partir dos resultados obtidos, o autor construiu diagramas triangulares


onde o volume afluente foi dividido em trs partes: percentual sangrado, evaporado
e utilizado, com uma garantia de 90%.

c) Utilizao do Diagrama Triangular de regularizao para


Dimensionamento de um reservatrio

O uso do diagrama triangular restrito aos casos em que se pretende


uma garantia de 90% de fornecimento de gua.
Etapas:
a) Calcular da srie histrica de vazes os parmetros estatsticos:
mdia, desvio padro e coeficiente de variao.
b) Calcular o fator de forma ( ) com os dados da tabela cota-volume
atravs da reta dos mnimos quadrados (
)
c) Determinar
d) Selecionar o diagrama correspondente ao CV pretendido e a parte do
ponto de encontro das isolinhas de
e , determinar os percentuais
sangria, evaporao e utilizao.
160

Para determinar estes percentuais, as retas devem seguir as direes


mostradas no grfico 50.

Grfico 51 Diagrama de Regularizao.

161

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