08 - Tecnologia de Aplicação de Herbicidas
08 - Tecnologia de Aplicação de Herbicidas
08 - Tecnologia de Aplicação de Herbicidas
Captulo 8
TECNOLOGIA DE APLICAO DE HERBICIDAS
Lino Roberto Ferreira, Francisco Affonso Ferreira e
Aroldo Ferreira Lopes Machado
1. INTRODUO
A utilizao incorreta de defensivos agrcolas seja pela super ou subdosagem, poca
inadequada, condies adversas associada ao desconhecimento dos recursos do equipamento
aplicador e suas limitaes so fatores que contribuem para reduo da eficincia dos produtos,
alm de aumentar a intoxicao humana e contaminao ambiental.
Um produto qumico, para ter ao eficiente, necessita ser distribudo da maneira mais
uniforme possvel sobre o alvo a ser atingido, com menor perda possvel. Essa distribuio ser
tanto melhor quanto mais adequado forem o equipamento e a tcnica empregada. Nesse sentido,
a tecnologia de aplicao de defensivos agrcolas consiste no emprego de todos os
conhecimentos cientficos (Figura 1) que proporcionem a colocao correta do produto
biologicamente ativo no alvo, em quantidade necessria, de forma econmica, com o mnimo de
contaminao ambiental (MATUO et al., 2001).
283
ambientais. Esse o ndice normalmente utilizado como potencial de risco de deriva (que
envolve tambm as perdas por evaporao), isto , a porcentagem do volume pulverizado que
est contido em gotas com dimetros menores que 100 m. O conhecimento dessas informaes
pode auxiliar o tcnico na escolha adequada da ponta de pulverizao.
O alvo um local eleito para ser atingido, direta ou indiretamente, pelo processo de
aplicao. Diretamente, quando se coloca o produto em contato com o alvo no momento da
aplicao, e indiretamente, pelo processo de redistribuio. Essa redistribuio poder se dar por
meio da translocao sistmica ou pelo deslocamento superficial do depsito inicial do produto.
Eficincia de aplicao a relao entre a dose teoricamente requerida para o controle e
aquela efetivamente empregada, sendo geralmente expressa em porcentagem.
E = (dt/dr)100
em que E = eficincia de aplicao (%); dt = dose terica requerida; e dr = dose realmente
empregada.
Quando o alvo de grande dimenso e quando a coleta do produto qumico for favorvel,
essa eficincia pode ser relativamente alta. Por exemplo, essa eficincia depende se o herbicida
aplicado em pr ou ps-emergncia, variando com o tipo de solo, o tamanho das plantas
daninhas, a arquitetura da morfologia foliar (ALBERT et al., 2002) e cerosidade das folhas
(MONQUEIRO et al., 2004, 2005; FERREIRA et al., 2005), as condies climticas, a forma de
distribuio das plantas daninhas no campo, alm de outros fatores. Na aplicao do herbicida
em pr-emergncia a eficincia muito menor, porque, antes de ser absorvido pelas plantas
daninhas, ele pode ser adsorvido pelos colides do solo, lixiviado, volatilizado ou degradado ou,
at mesmo, absorvido pelas culturas. Essa eficincia pode chegar a valores ainda muito mais
baixos, no caso de no se conhecer bem as espcies daninhas presentes e, tambm, a sua
distribuio na rea.
A melhoria nessa eficincia poder ser alcanada por meio da evoluo no processo, nos
seus mais variados aspectos. O melhor treinamento do homem que opera o equipamento de
aplicao , sem dvida, um dos pontos mais importantes.
gua como diluente, o mtodo mais utilizado. Nela, aplicao feita na forma de gotas
(pulverizao), podendo em alguns casos tambm ser na forma de filetes lquidos (rega ou
injeo) ou na forma de gotas muito diminutas, formando neblina (nebulizao).
3.1. Aplicao via lquida
A gua o principal diluente ou veculo de aplicao para a via lquida, por ser de fcil
obteno, de baixo custo e por contar com ampla opo de formulaes compatveis. Entretanto,
a gua apresenta duas limitaes: alta tenso superficial e alta presso de vapor (MATUO et al.,
2001), fazendo com que haja diminuio do volume da gota produzida.
A alta tenso superficial faz com que uma gota depositada numa superfcie permanea na
forma esfrica, fazendo com que tenha pouca superfcie de contato. Para corrigir esse problema,
basta adicionar nela algum agente tensoativo (surfatante), que lhe diminua a tenso superficial.
Com isso, a gota se espalha facilmente na superfcie, molhando maior rea. Alguns adjuvantes
integrantes da formulao como os molhantes, emulsionantes, etc. so agentes tensoativos;
portanto, a simples presena deles na formulao pode ser suficiente para diminuir a tenso
superficial da gua at os nveis desejados. Outras vezes, no momento da aplicao de alguns
herbicidas, necessrio adicionar surfatante ou leo mineral, para melhorar a cobertura foliar. A
molhabilidade da folha das plantas daninhas tambm depende da sua cerosidade, que varia
conforme a espcie e tambm com as condies ambientais (TUFFI SANTOS et al., 2004).
A intensidade de evaporao depende de vrios fatores, dos quais os mais importantes
so: a evaporao de lquidos no-volteis ou proporo de partculas slidas existente na
mistura; temperatura, umidade do ar e velocidade do vento; tamanho da gota; e tempo que esta
permanece no ar. medida que a gua vai evaporando, as gotas diminuem de tamanho e peso,
reduzindo assim a possibilidade de impactar o alvo. Gotas de mesmo tamanho podem ter
comportamentos distintos, em diferentes condies ambientais. Portanto, a observao das
condies ambientais muito importante para uma aplicao correta.
O tempo de vida de uma gota depende do seu tamanho e das condies ambientais
(Quadro 1), conforme pode ser observado na frmula:
T = d2/80 T
em que t = tempo de vida da gota (seg); d = dimetro da gota (m); e T = diferena
de temperatura (oC) entre os termmetros de bulbo seco e bulbo mido de psicrmetro
(MATUO et al., 2001).
285
Segundo Johstone e Johstone (1977), as condies limites para aplicaes com aeronaves
so: a) Aplicaes com volumes de calda de 20 a 50 L ha-1, usando gotas de 200 a 500 m,
devem ser interrompidas quando a diferena de temperatura entre os termmetro de bulbo seco e
de bulbo mido exceder 8 oC ou quando a temperatura exceder 36 oC.
b) Aplicaes com volumes de calda de 10 a 15 L ha-1, usando gotas de 150 a 170 m,
devem ser interrompidas quando a diferena de temperatura entre os termmetros de bulbo seco
e de bulbo mido exceder 4,5 oC ou quando a temperatura exceder 32 oC.
Quadro 1 - Tempo de vida e distncia percorrida pela gota de gua na queda, em duas condies de
temperatura e umidade relativa
Condio
Condio 1
Condio 2
Temperatura (oC)
20
30
T(oC)
2,2
7,7
80
50
Tempo at extino
Distncia da queda
(seg)
(m)
(seg)
(m)
50
14
0,127
0,032
100
57
6,7
16
1,8
200
227
81,7
65
21
Essa alta capacidade de evaporao da gua limita a utilizao de gotas muito pequenas,
principalmente nos climas tropicais. Para boa cobertura do alvo e emprego de pequenos volumes
de aplicao (abaixo de 50 L ha-), necessrio controlar a evaporao da gua ou, ento, utilizar
outro diluente que no seja voltil, como, por exemplo, o leo mineral agrcola.
Nas condies noturnas, a umidade relativa elevada e a evaporao drasticamente
reduzida, o que permite a utilizao de gotas menores. Vrios herbicidas podem ser aplicados
noite, porm outros no apresentam a mesma eficcia que nas aplicaes diurnas.
Segundo Matthews (1979), existem cinco categorias de volume de aplicao para culturas
de campo: alto volume (maior que 600 L ha-, pulverizao acima da capacidade mxima de
286
reteno das folhas, ocorre escorrimento); volume mdio (200 600 L ha-); volume baixo (50
200 L ha-); volume muito baixo (5 50 L ha-); e volume ultrabaixo (< 5 L ha-). No caso da
aplicao com alto volume, a dose dada por concentrao do produto na calda (g 100 L-). Nos
demais casos, a dose recomendada em L ou kg ha-.
A tendncia atual a utilizao de menor volume de calda, devido ao alto custo do
transporte de gua ao campo e perda de tempo representada pelas constantes paradas para
reabastecimento do pulverizador, visando diminuir o custo e aumentar a rapidez do tratamento.
Tambm o menor volume de calda importante quando a qualidade da gua no boa em razo
da presena de sais minerais, especialmente Ca++ e Mg++ (SILVA et al., 2005). Isso tem sido
possvel devido evoluo na qualidade das pontas de pulverizao. Para um mesmo volume de
calda aplicado, existem pontas que produzem diferentes tamanhos de gotas, o que permite
escolher o tipo de ponta em funo da cobertura do alvo desejada e das condies ambientais no
momento da aplicao.
3.2. Cobertura do alvo
A cobertura do alvo pode ser calculada pela frmula proposta por Courshee (1967):
C = 15(VRK2)/AD
em que C = cobertura (% da rea); V = volume aplicado (L ha-); R = taxa de recuperao (% do
volume aplicado captado pelo alvo); K = fator de espalhamento de gotas; A = superfcie vegetal
existente no hectare; e D = dimetro de gotas.
Em aplicaes com alto volume se consegue elevada cobertura mesmo com gotas
grandes, porm aumenta a probabilidade de 0perdas por escorrimento.
O aumento da taxa de recuperao (R) obtido utilizando tamanho de gotas mais
eficientemente coletadas pelo alvo. Gotas carregadas eletricamente induzem na superfcie foliar
carga eltrica de sinal contrrio e so atradas eletrostaticamente, aumentando bastante a taxa de
recuperao pelas folhas.
O aumento do fator de espalhamento de gotas (K) pode ser conseguido com adio de
agentes tensoativos, que diminuem a tenso superficial, permitindo melhor espalhamento da
gota.
287
O aumento da rea foliar implica reduo da cobertura, se os demais fatores permanecerem constantes. Em reas foliares grandes, recomenda-se aumentar o volume pulverizado para
se obter boa cobertura, no caso da aplicao de herbicidas de contato.
O tamanho da gota tambm fator importantssimo; gotas menores proporcionam maior
cobertura (Figura 2), porm tambm apresentam tempo de vida menor e maior capacidade de
deriva. Assim, o tamanho ideal das gotas depende das condies ambientais (vento, umidade
relativa e temperatura) e da cobertura desejada e ser definido como aquele que seja pequeno o
suficiente para produzir boa cobertura e grande o necessrio para provocar menor perda por
deriva e evaporao. Por outro lado, a cobertura desejada depende do tipo de herbicida a ser
aplicado: sistmico ou de contato.
DMV= 200 m
DMV= 300 m
Volume 2X
258 gotas/cm2
Volume 2X
76 gotas/cm2
DMV= 400 m
Volume 2X
32 gotas/cm2
288
Metade do Nmero
289
Categoria
Cor
DMV (m)
Risco de Deriva /
Aproximado
evaporao
< 100
Muito alto
No recomendado
Aplicaes Agrcolas
Muito Fina
Vermelho
Fina
Laranja
100 175
Muito alto
Fungicida de contato
Mdia
Amarelo
175 250
Alto
Grossa
Azul
250 375
Mdio
Muito Grossa
Verde
375 450
Baixo
Extrem. Grossa
Branco
>450
Baixo
290
291
292
DMN, densidade de gotas cm-2, amplitude relativa, coeficiente de variao, taxa de aplicao
(L ha-), potencial de deriva e grficos de deposio de gotas).
Outra tcnica bastante interessante utilizao de corantes fluorescentes adicionados
calda. Esses corantes podem ser tintas cintilantes, normalmente vendidas em casa de material
para artesanato. Parte das folhas pulverizadas levada a uma cmara escura provida de luz negra
(ultravioleta); nesse caso, o pigmento brilhar intensamente e mostrar os locais onde as gotas se
depositaram.
A determinao do tamanho das gotas fundamental para se enquadrar a pulverizao
dentro das classes: muito fina, fina, mdia, grossa e muito grossa (Quadro 3), proposta pela FAO
(1997, citado por MATUO et al., 2001). Considerando que pode haver diferenas no tamanho de
gotas, dependendo do mtodo utilizado (difrao dos raios laser, anlise de imagem etc.), por se
basearem em princpios diferentes, a FAO, numa reunio de especialistas em 1997, decidiu
adotar o sistema britnico para determinao de tamanho de gotas.
Pulverizao mdia
Pulverizao fina
293
Quadro 4 -
Ponta
TT
TT
TT
TT
TT
TT
TT
TT
11001
110015
11002
11003
11004
11005
11006
11008
Presso lb
14,22 21,33 28,44 35,55 42,66 49,77
0,22 0,27 0,31 0,35 0,39 0,42
0,34 0,42 0,48 0,54 0,59 0,64
0,46 0,56 0,64 0,72 0,79 0,85
0,68 0,84 0,97 1,08 1,18 1,28
0,91 1,12 1,29 1,44 1,58 1,71
1,14 1,40 1,61 1,80 1,97 2,13
1,37 1,67 1,93 2,16 2,37 2,56
1,82 2,23 2,58 2,88 3,16 3,41
pol-2
56,88 63,99
0,44 0,47
0,68 0,73
0,91 0,97
1,37 1,45
1,82 1,93
2,28 2,42
2,73 2,90
3,65 3,87
71,1
0,50
0,76
1,02
1,53
2,04
2,55
3,06
4,08
78,28 85,32
0,52 0,54
0,80 0,84
1,07 1,12
1,60 1,67
2,14 2,23
2,67 2,79
3,21 3,35
4,28 4,47
294
c) Velocidade de operao velocidade mais alta contribui para que as gotas sejam
arrastadas para trs e levadas pela corrente de vento ascendente, formando um turbilho sobre o
pulverizador, arrastando as gotas pequenas e aumentando a deriva.
d) Velocidade do vento o fator de maior impacto entre os fatores meteorolgicos. A
deriva aumenta linearmente com a velocidade do vento. No entanto, no de interesse a ausncia
de vento no momento da aplicao.
e) Temperatura e umidade do ar temperaturas ambientes acima de 25 oC e baixa
umidade relativa tornam as gotas pequenas propensas deriva e volatilizao. Por isso, em
condies de temperatura muito alta deve-se aumentar o tamanho da gota ou suspender a
aplicao, para evitar grandes perdas por deriva e, ou volatilizao. Por exemplo, (Quadro 1),
sob condies normais de umidade e temperatura (20 oC e 80%, respectivamente), uma gota de
100 m evapora completamente em 50 segundos. Em condies mais quente e seca (30 oC e
50%, respectivamente), a mesma gota evaporada em 16 segundos. Uma gota de 50 m sob
condies de baixa umidade e alta temperatura (30 oC e 50%, respectivamente) percorreria
apenas 15 cm antes de ser evaporada.
f) Volume de aplicao quando se usa volume de aplicao muito pequeno, geralmente
utilizam-se gotas pequenas. Nessas condies, deve-se ter ateno especial com a deriva.
h) Formulao utilizada se esta apresentar alta presso de vapor, devem-se adotar todas
as medidas possveis para minimizar a volatilizao (ex: aplicar em condies de menor
temperatura e maior umidade relativa do ar).
Em alguns pases europeus, foi definido um padro mnimo de gota produzida, em termos
de DV0,1. Segundo esse critrio, os bicos de pulverizao devem atingir um DV0,1 maior do
que o valor de um bico XR11002 presso de 35,55 lb pol-2, que de 115 m.
3.5. Equipamentos e tcnicas para aplicao via lquida
Os equipamentos para aplicao de lquidos podem ser divididos em injetores,
pulverizadores e nebulizadores. Os injetores aplicam um filete lquido (sem fragmentao em
gotas); os pulverizadores, gotas; e os nebulizadores, neblina. A aplicao de herbicidas, na sua
grande maioria, feita atravs da pulverizao.
295
296
Entre as principais partes dos pulverizadores tratorizados podem ser citadas: depsito,
agitadores de tanque, registros, filtros, bomba, cmara de compresso, regulador de presso,
manmetro, registro ou vlvulas direcionais, barra, bicos ou pontas de pulverizao.
No objetivo deste estudo descrever com detalhes todas as partes de um pulverizador,
porm ser feito algum comentrio sobre algumas dessas partes.
E
Figura 5 -
297
298
malha do filtro. As pontas de menor vazo exigem filtros mais finos (malha 100) e nas de maior
vazo as malhas podem ser mais grossas (malha 50). importante seguir as recomendaes dos
catlogos.
3.5.1.5. Bomba
A funo da bomba pressionar a calda, colocando no sistema energia que ser usada
para fazer a pulverizao. Existem vrios tipos de bombas: de pisto, de diafragma, de roletes, de
engrenagens e centrfuga. A grande maioria de bombas comercializadas no Brasil ainda de
pisto, embora a bomba centrfuga esteja sendo muito utilizada nos autopropelidos. As bombas
de pisto tm sua capacidade de deslocamento diretamente ligada sua rotao e esto
projetadas para trabalhar entre 450 e 540 rpm. No Brasil, a capacidade nominal de uma bomba
pisto medida a 540 rpm; assim, uma bomba especificada para 40 L min-1 se estiver a 450 rpm
desloca apenas 33,3 L min-1. Esse clculo feito por regra de trs simples.
Dessa forma, ao regular um pulverizador para aplicao de herbicida, deve-se somar a
vazo individual dos bicos e observar se a bomba capaz de deslocar volume suficiente para
atender a demanda dos bicos. Tecnicamente, no recomendado usar mais de 60% do volume
real deslocado; o restante, muitas vezes, tem de ser usado para agitao da calda no tanque.
3.5.1.6. Cmara de compensao
Tem a funo de eliminar as pulsaes de presso nas bombas de pisto. instalada no
circuito aps a bomba. Bombas centrfugas ou bombas com mais de trs pistes no necessitam
da cmara de compresso.
3.5.1.7. Regulador de presso
Basicamente, um divisor de volume no qual uma parte da calda vai para os bicos e a
outra retorna ao tanque. Essa pea contm uma entrada que recebe a calda (lquido) que vem do
tanque e duas sadas: uma que comunica com os bicos e outra que leva o excesso de calda ao
tanque. Para variar a proporo do lquido que vai para os bicos e a que retorna ao tanque, basta
girar um parafuso, o qual comprime uma mola que comanda a passagem para o retorno. Quanto
mais se comprime essa mola, mais difcil ser o retorno e mais lquido ser enviado aos bicos.
Como a sada dos bicos pequena, a presso nessa parte do circuito se elevar at que os bicos
permitam a vazo desejada, por isso chamado de regulador de presso. Os pulverizadores de
maior capacidade, como autopropelidos, j so equipados com sistemas eletrnicos
299
computadorizados, onde o regulador de presso tem um sistema que ajusta a presso de acordo
com o volume pr-programado e a velocidade de operao, com uma vlvula de esfera
funcionando como estrangulamento ou retorno. Tambm nesses pulverizadores j esto sendo
instalados controladores de pulverizao que tm gerado ganhos em uniformidade de
pulverizao, em economia de produtos e aumento da capacidade operacional.
3.5.1.8. Manmetro
2
Tem a funo de medir a energia do sistema para pulverizar (lb pol- ou kg cm-2). Os
manmetros com banho de glicerina tm durabilidade maior, porm no suportam as rduas
condies de trabalho no campo. Os manmetros devem ser usados apenas no momento da
calibrao, devendo posteriormente ser desligados ou retirados dos circuitos. Uma boa
alternativa para prolongar a vida til deste equipamento seria o kit manmetro, que instalado
no bico no momento da calibrao e depois retirado; alm de ele aumentar a durabilidade do
manmetro, determina a presso real de sada da calda. Normalmente o manmetro colocado no
circuito, longe dos bicos, pode indicar presso maior que a real encontrada no bico, pois existem
perdas de presso por mangueiras, conectores, filtros, cotovelos etc.
3.5.1.9. Registros ou vlvulas direcionais
Depois do regulador de presso e manmetro so necessrios registros, para que o
operador possa comandar (abrir ou fechar) a passagem da calda para os bicos. O nmero de
registros varia de acordo com o nmero de sees da barra. Ao fechar uma das sees da barra,
nos comandos mais simples a presso do sistema aumenta, aumentando a vazo dos bicos em
funcionamento. Esse aumento varivel de 5 a 15%, dependendo do nmero de sees, dos tipos
de comando da presso de trabalho etc. Esse tipo de problema pode ser evitado usando o sistema
tipo Masterflow da Jacto, em que para cada seo existe uma vlvula reguladora de retorno da
seo. Nesse caso, depois de regulado o pulverizador, deve-se fechar cada uma das sees
individualmente e regular o retorno de cada uma delas, para no alterar a presso total das sees
que continuam abertas. Esses sistemas podem ser dotados de vlvulas mecnicas ou eltricas; o
uso desta ltima tem aumentado nos ltimos anos em tratores com cabines, pois da cabine, por
meio de um painel eltrico, o operador realiza todos os comandos, sem o risco de exposio do
corpo ao produto pulverizado. Os pulverizados acoplados com GPS so essenciais para a
agricultura de preciso. Eles utilizam o sistema de navegao baseado em informaes via
satlite. A barra de luzes direciona com preciso o trabalho do operador, evitando falhas ou que a
300
mquina passe mais de uma vez no mesmo local. Permite o retorno preciso ao local onde a
operao for interrompida. excelente ferramenta para a aplicao noturna. Alguns modelos de
pulverizadores possuem o sistema de injeo direta do herbicida, permitindo a aplicao de mais
um produto sem mistur-los no tanque do pulverizador. Os herbicidas so injetados diretamente
na bomba de defensivos, podendo ser dosados ou interrompidos eletronicamente a qualquer
momento. Essa tecnologia permite aplicar o herbicida de acordo com a infestao e distribuio
das plantas daninhas no campo. A maioria dos pulverizadores de grande porte (autopropelidos)
est sendo equipada com GPS e com comandos eletrnicos de pulverizao.
3.5.1.10. Barra
O comprimento da barra varia conforme o modelo do pulverizador. Quanto mais comprida, maior a capacidade operacional, embora tambm aumente a oscilao e a heterogeneidade
da aplicao. Tanto as oscilaes verticais quanto as horizontais influenciam a uniformidade de
deposio da calda pulverizada. O sistema de barra auto-estvel tem a barra independente da
estrutura do trator, com molas e amortecedores para absorver os impactos provenientes das
irregularidades do terreno, e possibilita a construo de barras bastante longas (27 m), sem
grandes problemas de oscilaes, com sistema de nivelamento individualizado para cada barra,
mantendo a altura (0,50 a 1,80 m).
Outro aspecto importante que deve ser levado em considerao na aplicao de
herbicidas com relao altura da barra. Na altura ideal (Figura 6A), o herbicida distribudo
uniformemente ao longo da faixa de aplicao. Quando a barra estiver abaixo da altura
recomendada (Figura 6B) a pulverizao no ser uniforme, podendo ser observadas falhas no
controle de plantas daninhas, alternando com toxidez nas culturas.
Figura 6 - Faixa de deposio do volume pulverizado oriunda de barra na altura correta (A) e abaixo da
altura recomendada (B).
TPICOS EM MANEJO INTEGRADO DE PLANTAS DANINHAS CAPTULO 8 - Tecnologia de Aplicao de Herbicidas
301
3.5.1.11. Bicos
todo o conjunto e suas estruturas de fixao na barra (corpo, capa, ponta, filtro ou
peneira Figura 7).
11002 a 40 lb pol-2
302
Tipo de ponta
Nome da marca
VisiFlo
Material
ngulo de
abertura do leque
A capacidade nominal da
ponta de 0.4 gales por
minuto a 40 lb pol-2
303
Quadro 6 - Fatores de converso de vazo para lquidos com densidade diferente da gua
Densidade kg L-1
0,84
0,96
1,00
1,08
1,20
1,28
1,32
1,44
1,68
Fator de converso
0,92
0,98
1,00
1,04
1,10
1,13
1,15
1,20
1,30
304
Nos bicos da srie D o filtro de ranhuras e no de malhas como nos demais bicos. O
ncleo conhecido com outros nomes, como difusor, caracol, espiral e core e serve para
proporcionar o movimento helicoidal ao jato lquido que por ele passa. Aps tomar esse
movimento, o lquido passa atravs do orifcio circular, formando um cone. A combinao de
difusores e chapa orifcio que determina se o cone cheio ou vazio. No cone cheio, o difusor
tem apenas um furo no centro e, no vazio, o difusor s tem furos nas laterais.
Nos bicos da Spraying Systems, o ncleo pode receber as numeraes 13, 23, 25, 45 etc.
O primeiro algarismo indica o nmero de abertura existente no ncleo ou difusor, e o segundo, o
tamanho da abertura. O disco recebe a numerao como D2, D4, D5 etc.; o nmero aps a letra
D indica o dimetro do orifcio (ex.: 2/64, 5/64). Da combinao ncleo-disco resulta a
identificao do bico (ex: D2-13, D4-45).
Nos bicos da marca Jacto, o ncleo identificado pelo nmero de furos: o nmero
1 possui um furo e o nmero 2, dois furos. O disco pode ser 10 ou 14; esses nmeros tambm
indicam o dimetro do orifcio (1,0 e 1,4 mm respectivamente). Assim, o bico JD14-1 tem disco
14 e ncleo de um furo; e o bico JD10-2, disco 10 e ncleo com dois furos.
Figura 11 - Pontas de jato leque de impacto: turbo Floodjet - TF (A) e turbo Teejet - TT (B).
305
306
307
4. EXEMPLOS DE CLCULOS
1) O herbicida H possui 15% do ingrediente ativo imazaquin. Determinar a quantidade
desse herbicida a ser colocada no tanque de 200 litros, sabendo-se que o volume de calda de
400L ha- e a recomendao de 150 g ha-1 de imazaquin.
imazaquin - 100% ----------------------- 150 g
herbicida H - 15% ---------------------------- X g = 1000 g ha-1
400 L de gua ----------------------------1.000 g herbicida H
200 L de gua---------------------------- X g
X g = 500 g do herbicida H a quantidade a ser colocada no tanque de 200 L para que seja
aplicada a dose de 150 g ha-1 de imazaquim, nas condies de pulverizao anteriormente
definidas.
2) Os problemas normalmente encontrados no campo podem ser resumidos nas seguintes
questes:
2.a) Qual a ponta ideal para determinada aplicao?
2.b) Qual a vazo necessria de cada ponta?
2.c) Qual a presso de trabalho de uma determinada ponta?
2.d) A capacidade da bomba suficiente?
2.e) Que tamanho de bomba necessrio?
2.f) Qual a velocidade ideal para ajustar uma aplicao?
2.g) Qual o volume de calda para ajustar uma aplicao?
2.h) Quantos hectares so tratados por tanque?
2.i) Qual a quantidade de herbicida a ser colocada na tanque?
Para exemplificar cada uma das situaes mencionadas, imagine o seguinte exemplo:
Em assistncia tcnica a um produtor, voc solicitado a realizar a regulagem e
calibrao de um pulverizador para as condies propostas. Na propriedade dispe-se de um
pulverizador de barras contendo 36 bicos espaados de 0,5 m, equipado com bomba de pisto de
120 L min-1 e tanque com capacidade de 2.000 litros, com as seguintes condies de trabalho:
velocidade medida na rea de aplicao = 6 km h-1 (ou 30 seg. para percorrer 50 m); rotao do
308
trator = 1.400 rpm (sabe-se que para este trator necessrio ter 1.600 rpm no motor para obter
540 rpm na tomada de fora); volume de calda desejado = 200 L ha-; dose do herbicida =
2
1 L ha-; ponta de pulverizao a ser utilizada TF-VS2 (vazo de 0,91 L min-1 a 15 lb pol- ,
2
2
1,12 L min-1 a 22,5 lb pol- e 1,29 L min-1 a 30 lb pol- ).
- Soluo e comentrios
2.a) Qual a ponta ideal para determinada aplicao?
A seleo de modelo de ponta est baseada primeiramente no tamanho de gota que ela
produz e no tipo de distribuio que ela proporciona.
Tamanho de gotas (veja os extremos):
Na escolha da ponta, deve-se considerar a praga, o alvo em que ela se encontra, o produto
e seu modo de ao e absoro. Assim, para herbicidas aplicados em pr-emergncia ou
herbicidas sistmicos aplicados em ps-emergncia, usar pontas que produzem gotas grandes. Se
o herbicida for de contato e aplicado em ps-emergncia, usar gotas menores (mdias), pois
necessrio maior cobertura da folha.
- Tipo de distribuio
Apenas cone ou leque no define se para aplicar herbicida ou fungicida ou inseticida.
Na distribuio mais importante observar se a ponta de jato que propicia a sua distribuio
por toda a barra uniformemente (leque comum) ou se uma distribuio em faixas (leque
uniforme). Os bicos do tipo leque so utilizados para aplicaes em superfcies planas, como
solo, cultura de milho, soja etc.
No caso do exemplo, o bico TFVS-2 produz gotas grandes e padro de distribuio
desuniforme.
309
capacidade de vazo est entre 0,91 L min-1 (15 lb pol- ) e 1,29 L min-1 (30 lb pol- ).
Resposta: Observando a tabela, v-se que a presso necessria est um pouco acima de
2
15 lb pol- e um pouco abaixo de 22,5 lb pol- , mas dentro da faixa de uso. Esse o fator mais
importante: dentro da faixa de uso.
2.d) - A capacidade da bomba suficiente?
Resposta: sim, a capacidade da bomba suficiente.
O valor da capacidade de vazo da bomba s verdadeiro se a rotao no eixo for de
540 rpm. Para isso, o trator dever estar na rotao determinada pelo fabricante. Nesse caso, a
rotao necessria do trator para se obter 540 rpm na PTO de 1.680 rpm. Assim, se se trabalhar
a uma rotao de 1.400 rpm, como proposto no problema, por regra de trs tem-se:
rpm no trator
1.680
540
1.400
120 L min-1
x = 100 L min-1
311
1.800 m
10.000 m
gasta
27,36 L
gasta
Y = 152 L ha-
312
6. EXERCCIOS PROPOSTOS
1) Na cultura do milho para aplicao em faixa de 0,5 m na linha, recomendaram-se os
seguintes herbicidas: Gesaprim 500 (50% do ingrediente ativo (i.a.) atrazine) e Sanson 40 SC
(4% do i.a. nicosulfuron) nas doses de 2,0 kg ha-1 de atrazine e 40 g ha-1 de nicosulfuron.
Considerando o espaamento entre fileira de 1 m; barra com seis bicos tipo leque 110 03E,
espaados entre si de 1,0 m; velocidade de aplicao de 0,833 m seg-1; e vazo por bico de
0,8 L min-1, calcular:
a) Quantidade do produto comercial a ser colocada no depsito do pulverizador, de
400 L. (Resposta: 5 L de Gesaprim e 1,25 L de Sanson).
313
b) Quantidade de cada herbicida a ser comprada para uma rea de 50 alqueires (1 alqueire
= 2,4 ha), considerando a aplicao em faixa de 0,5 m na linha de plantio. (Resposta: 240 L de
Gesaprim e 60 L de Sanson).
2) Para a cultura do algodo recomendou-se aplicao em pr-emergncia de 2,0 kg ha-1
de diuron. O pulverizador estava equipado com uma barra de 20 bicos, tipo leque 110 03,
cobrindo uma faixa de 10 m, com vazo de 0,8 L min-1 bico-1. Calcular a velocidade do trator
para que sejam colocados 2,5 kg ha-1 de diuron no tanque de 400 litros. (Resposta: 50 m min-1 ou
3 km h-1).
3) Um produtor de tomate tem uma lavoura no espaamento de 1,0 m entre linhas. Para
realizar o manejo das plantas daninhas foi recomendado 0,48 kg ha-1 de metribuzin. O produtor
possui um pulverizador costal de 20 litros, munido com uma barra de dois bicos 80 03 vs
espaados de 0,5m. A sua velocidade de caminhamento no momento da aplicao ser de 1,0 m
seg-1. Calcular a vazo individual dos bicos, para que possam ser colocados 38,4 g metribuzin
por tanque de 20 litros do pulverizador. (Resposta: 0,75 L min-1).
4) Em uma lavoura de caf com 80.000 plantas, no espaamento de 2 x 4 m, deseja-se
realizar aplicao em ps-emergncia de Roundup (360 g L-1 de glyphosate) na dose de 720 g
equivalente cido (e.a.) ha-1. Sabendo-se que o dimetro mdio das plantas de 1,6 m e que o
consumo de gua na calibrao foi de 10 litros na rea-teste (fora do cafezal) de 400 m2,
calcular:
a) Quantidade do produto comercial a ser colocada no depsito de 20 litros do
pulverizador costal. (Resposta: 160 mL de Roundup/20 L).
b) Tempo gasto na aplicao total, sabendo-se que cada carga e aplicao (20 L) leva
30 minutos. (Resposta: 300 horas).
c) A quantidade de Roundup a ser comprada. (Resposta: 96 L).
5) Na cultura do milho com espaamento de 1 m, deseja-se realizar uma aplicao em
faixa de 0,4 m na linha com o herbicida Primleo (atrazina + leo) na dose de 6,0 L do produto
comercial (p.c.) ha-1. Sabendo-se que o depsito do pulverizador de 480 L e est equipado com
2
uma barra de 5 bicos (1 para cada linha) 80.03E, trabalhando na presso de 40 lb pol- e que o
trator gasta 1 min. para percorrer 50 m, (considerar 1 galo =3,785 L), calcule:
314
Calcular:
a) Quantidade (produto comercial) a ser colocada no depsito de 600 L do pulverizador.
(Resposta: 6,36 L de Sinerge).
7) Na cultura do caf com espaamento de 4 x 2 m, e com dimetro mdio da copa de
1,6 m, deseja-se aplicar o herbicida Goal (240 g L-1 de oxyfluorfen) em ps-emergncia na entre
linha. Considerar: dose do herbicida = 480 oxyfluorfen ha-1; e consumo de gua = 10 L na rea
teste de 400 m2 (dentro do cafezal).
Calcular:
a) Quantidade do produto comercial a ser colocada no depsito de 20 L do pulverizador
costal. (Resposta: 120 mL de Goal).
b) Quantidade de Goal necessria para o cafezal de 10.000 plantas, sabendo-se que o
dimetro mdio da saia do cafeeiro de 1,6 m. (Resposta: 12 L).
c) Tempo necessrio para pulverizar o cafezal sabendo-se que se gasta 30 min para
abastecer e pulverizar um tanque. (Resposta: 50 horas).
8) Na cultura do algodo recomenda-se aplicar 1,2 L ha-1 de trifluralin. Considerando que
ser aplicado um produto comercial contendo 50% do ingrediente ativo trifluralin nas seguintes
condies: barra com 20 bicos cobrindo uma faixa de 10 m; velocidade de operao = 6 km h-1;
2
bicos 80.02; e presso de trabalho = 40 lb pol- , calcular a quantidade de produto comercial a ser
315
H, sabendo-se que a
-1
316
b) Quantos litros do herbicida H sero necessrios para pulverizar 5 hectares de caf, nas
condies mencionadas no item anterior. (Resposta: 2,5 L)
13) Deseja-se aplicar um herbicida na cultura do feijo, cuja dose recomendada de
1,5 L ha-. O pulverizador tem um tanque de 400 litros, com uma barra de 18 bicos 110 03,
espaados de 50 cm. A velocidade de caminhamento do trator ser de 1 m s-1, e a vazo mdia
dos bicos, de 0,5 L min-1.
Calcular:
a) Qual dever ser a quantidade do herbicida a ser colocada por tanque de 400 litros.
(Resposta: 3,6 L por tanque).
REFERNCIAS
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