Coleção Pajeú Pici
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Coordenador de
Criao e Fomento
Lenildo Monteiro Gomes
Coordenador de Patrimnio
Histrico e Cultural
Alnio Carlos N. Alencar
Assessora de Comunicao
Paula Neves
Coordenador
Administrativo-Financeiro
Max Diego de Carvalho Caldas
Assessor Jurdico
Vitor Melo Studart
Coordenadora de Ao Cultural
Germana Coelho Vitoriano
Secretria da Regional III
Maria de Ftima Vasconcelos Canuto
Pedro Salgueiro
Pici
Dos velhos stios periferia
Sumrio
Localizao geogrfica do bairro Pici 9
A origem do nome Pici 11
Base Area Americana do Pici 17
Campus do Pici da Universidade Federal do Cear 25
Fortaleza Esporte Clube: o Leo do Pici 35
Memrias de Rachel de Queiroz
sobre o Stio do Pici 45
Parque Ecolgico Rachel de Queiroz 62
Curiosidades sobre o bairo Pici:
Estrada do Pici 69
A Casa dos Benjamins 71
Rachel de Queiroz e os Blimps americanos 74
Tangerine-Girl 75
Os resqucios da velha base americana 80
Bairros que nasceram dentro do Pici 82
Referncias Bibliogrficas 85
avenidas de fcil acesso esto localizadas ao sul de Fortaleza. Alguns vislumbram tambm o Pici erroneamente ao sul.
Seguindo para o Pici pela Av. Bezerra de Menezes
(sentido Centro-Caucaia), quando esta se transforma em
Av. Mister Hull, bem no cruzamento com a Av. Humberto
Monte, esquerda teremos o incio (no histrico, porque o
Pici comeou a ser povoado no lado oposto, aos fundos do
Campus do Pici da UFC, ao redor da Base Area Americana
da II Guerra Mundial) do bairro. Circulando-o em sentido
horrio, teremos em sua lateral leste os bairros Amadeu
Furtado, Bela Vista, Pan-Americano e Demcrito Rocha;
ao sul, Jquei Clube e Henrique Jorge; a oeste, Dom
Lustosa e uma pontinha de Antnio Bezerra; j ao norte,
Padre Andrade, Presidente Kennedy e Parquelndia.
Olhando superficialmente o bairro, com sua pobreza aparente, suas ruas irregulares, sua violncia que estampa frequentemente as pginas policiais, no imaginamos o
que tem espalhado (e, muitas vezes, escondido) em seu
imenso territrio: o maior campus universitrio do Cear
(Campus do Pici da Universidade Federal do Cear), Subestao Pici II (da Chesf), Fundao Ncleo de Tecnologia Industrial do Cear (NUTEC), Centro Nacional de
Desenvolvimento Sustentado das Populaes Tradicionais
(CNPT), Subestao da Companhia de gua e Esgoto do
Cear (Cagece), Centro Social Urbano Csar Cals, EEFM
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xistem controvrsias que persistem at hoje com relao origem do nome Pici. Uma verso fantasiosa,
como nos diz o pesquisador e memorialista Miguel ngelo
de Azevedo, o Nirez, a de que a alcunha seria a abreviatura
da expresso Post Command PC, em relao base norte
-americana da II Guerra Mundial , sendo que as letras p
e c, em ingls, so pronunciadas, respectivamente, como
pi e ci. O pesquisador nega essa verso ao lembrar que
a expresso correta seria Command Post (CP, portanto),
mas Snzio de Azevedo, irmo de Nirez, nos esclarece que
existe tambm, em ingls, a expresso Post of Command.
O que, mesmo assim, no justifica a fantasia, pois, ressalta
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Nirez, o lugar j tinha esse nome desde o sculo XIX, quando um stio da famlia Braga, Stio Pecy (tudo indica que
foi o primeiro nomeado assim, e s depois apareceram outros stios, como os da famlia Queiroz e Weyne, com esse
mesmo nome), recebeu essa denominao em homenagem
aos personagens Pery e Cecy, do romance O Guarani, obra
do escritor cearense Jos de Alencar.
No texto Histria e andanas, do livro iconogrfico Viva Fortaleza, o organizador (juntamente com Patrcia Veloso) Gylmar Chaves nos fala sobre essa polmica:
Segundo o pesquisador e memorialista Miguel ngelo
de Azevedo (Nirez), a denominao de Pici no se deve
pronncia em ingls das letras p e c em referncia ao
Posto de Comando de uma base area militar instalada na
cidade pelos americanos durante a II Guerra Mundial (...)
Nirez nos aponta ainda que naquelas terras se localizava
um centenrio stio pertencente ao agrimensor Antnio
Braga. Por ter se apaixonado pelo romance O Guarani de
Jos de Alencar, aglutinou o nome de seus principais personagens, Pery e Cecy, batizando-o de Stio Pecy.
Fui casa do pesquisador Nirez confirmar suas palavras, e logo na entrada do seu museu/arquivo ele apontou
uma placa que d nome ao salo principal: Sala Descartes Selvas Braga, que recebe a homenagem por ter sido
(alm de seu amigo) o primeiro colecionador de discos do
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esmo estando bem claro, atravs dos muitos depoimentos falados e escritos, que a origem do bairro
Pici est ligada ao antigo Stio Pecy antes escrito Pecy
devido grafia arcaica de Pery e Cecy, s depois modificada para Peri e Ceci, personagens do romance de Jos de
Alencar, O Guarani, de cuja juno o pesquisador Nirez
acredita ter vindo o nome do stio da famlia Braga, que
deu origem regio e, depois, ao bairro , correu, depois
da II Guerra Mundial, a verso de que o nome do bairro
tinha origem na sigla PC (pronunciada em ingls Pi-ci),
referente ao Post of Command da Base Area Americana,
instalada no bairro em 1942 (a obra se iniciou em 1941).
Esse errneo boato ainda hoje corre entre leigos e at entre
pesquisadores desavisados. O amigo escritor e pesquisador
de literatura Snzio de Azevedo (irmo de Nirez) conta que
leu no livro Estrias da Caserna, do tenente-coronel da
infantaria Murilo Luz, a mesma verso equivocada sobre
a origem americana do nome do bairro Pici, de quebra,
o oficial reformado tambm erra feio em relao origem
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O que nunca pude perdoar guerra e aos americanos foi ter sido a base area causa do comeo da decadncia do Pici. Com eles l, asfaltada a velha estrada de terra,
instalada energia eltrica, as terras vizinhas foram ocupadas, e nelas bairros novos e desorganizados comearam a
surgir. O baixo comrcio de bodegas e botequins prosperou e o Pici acabou por ficar encravado no meio daquela
populao oportunista e voraz. Pessoas estranhas entravam
sem pedir licena e, nos fundos das terras, as cercas eram
violadas, o arame cortado e roubado. Tiravam madeira da
mata, entravam de noite para pescar no aude, pegavam
frutas no pomar. Os mais atrevidos chegavam de foice no
ombro, dizendo que precisavam de folhas de coqueiro para
cobrir as casas que construam em terrenos desocupados.
As queixas dos moradores no paravam, muitos deles aliados aos recm-chegados, servindo de guias, talvez na ideia
de tambm construir a prpria casa, ficando assim livres
da servido do morador.
Acabada a guerra, a base virou aeroporto internacional, todo o movimento bem prximo da gente, a bem
dizer nossa porta; e ento no deu mais para segurar.
Tivemos que vender o Pici.(p. 141 a 144)
Da venda do stio dos Queiroz at os dias de hoje,
o bairro s tem crescido, desordenado e sem infraestrutura, como em seu incio, to bem relatado por Maria Luiza
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de Queiroz; at se tornar esse imenso subrbio que acompanhamos hoje, infelizmente, mais nas pginas policiais
do que nas sociais. E dentro do Pici nasceram, como vimos
no captulo referente aos limites, vrios outros bairros;
diminuindo (encolhendo seria a expresso mais correta),
portanto, aquele imenso territrio de stio ermos e terras
devolutas s quais prefiro me referir (para no perder os
verdadeiros limites histricos) como o Grande Pici,
que englobaria os bairros Henrique Jorge, Jquei Clube,
Pan-Americano, Autran Nunes, Dom Lustosa e outros.
Campus do Pici
da Universidade Federal do Cear
oi prazeroso reencontrar o Campus do Pici da Universidade Federal do Cear, onde h mais de trs dcadas
cursei os cinco primeiros semestres de Agronomia (o qual,
infelizmente, tive que abandonar para assumir um concurso em Recife). Difcil mesmo foi encontrar alguma pista da
histria do campus, relapsas que so as nossas instituies.
Tempo perdido procurar na prefeitura e no memorial
da UFC, pois ningum sabia de nada. Por sorte resolvi ir,
orientado pela professora Fernanda Coutinho, ao Conselho
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desse trabalho sobre a ideia de se examinar a possibilidade de desapropriao de um tringulo, tendo como base a
Rua Francisco Pinto, com lados na Rua Marechal Deodoro
e Avenida Carapinima, e vrtice na Faculdade de Direito,
esta para o Reitor, a quilha de um grande navio.
A ideia era maravilhosa, mas dificilmente realizvel. Como me explicar? Na ocasio, haviam sido divulgados os resultados do censo de 1960, sendo fcil levantar
o nmero de habitantes e de edificaes encontrados no
tringulo traado por Martins Filho. Qual no foi o seu espanto quando o informei de que na rea moravam mais de
11.500 pessoas e havia em torno de 2.500 prdios, quase
todos residenciais e pertencentes aos prprios moradores!
Objetivamente, que significam esses nmeros? perguntou o Reitor, ao que respondi demolir uma cidade como
o Iguatu, onde o senhor morou e onde nasceu seu irmo,
Fran.... Martins Filho tomou-se de desnimo. A fim de no
desalent-lo, acenei-lhe com a hiptese de um direcionamento em contrrio, levando-se as instalaes da universidade para o sul, at o riacho Tauape, j que a lagoa homnima se alastrava nos invernos por uma rea imensa, por
tal razo, desabitada. Em contrapartida, a gleba deveria ser
drenada e saneada, com obras caras canais, elevatrias de
esgotos, aterros etc. Desafortunadamente, nem a Universidade nem a Prefeitura estavam em condies de realizar
esses trabalhos de base, de sorte que a ideia no foi frente.
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Aproxima-se o dia 21, quando o Fortaleza inaugurar o gramado do seu estdio, no Pici. Ser uma festa
para toda a famlia tricolor e para os habitantes dos bairros
vizinhos de Casa Popular, Pan-Americano, Jquei Clube
e Parangaba, que tero no Estdio Alcides Santos o seu
ponto de entretenimento.
PROGRAMA
Hoje noite a diretoria do Fortaleza estar reunida
para homologar o programa inaugural, que ser o seguinte:
8h Missa campal, oficiada no prprio estdio
pelo padre Jos Nilson de Oliveira, capelo do clube.
9h Lanamento da pedra fundamental dos
Alojamentos Otoni Diniz.
12h Churrasco na sede do Fortaleza, oferecido
s autoridades.
12h50min Abertura dos portes do Estdio Alcides Santos.
13h Desfile das equipes disputantes.
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inaugurao publicado no dia anterior, com a mesma programao, mas agora com os horrios atrasados em 1h. No
final, temos ainda a chamada: Os ingressos j esto venda
com diretores do clube e no Abrigo Central. Cadeiras numeradas Cr$ 300,00 e populares Cr$ 50,00. (O Povo nos
Esportes, Fortaleza, tera-feira, 19/06/62).
No dia da inaugurao no encontramos notcia,
mas no dia seguinte, 22 de junho de 1962, no canto inferior
direito da capa principal do jornal, avistamos grande
foto da missa de inaugurao do Estdio Alcides Santos,
onde vemos padres, autoridades, torcedores e inmeras
crianas embaixo de uma frondosa mangueira, em cujos
galhos tremulam bandeiras do Brasil e do Fortaleza
Esporte Clube. Abaixo da histrica foto o texto afirma:
FORTALEZA COM UM GRANDE ESTDIO Missa
oficiada pelo padre Amarlio abriu as solenidades com que
o Fortaleza inaugurou, ontem, no Pici, o gramado e outros
melhoramentos do Estdio Alcides Santos.
No clich, um aspecto da cerimnia religiosa, que foi
ajudada pelo padre Jos Nilson, capelo do clube, e Sr. Ananias Frota Vasconcelos, pai de dois diretores do Fortaleza.
No primeiro plano, o altar, armado sob frondosa
mangueira, ao fundo, o campo de futebol de melhor gramado da capital cearense. Fechando a matria: Outras notcias
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Agora estava tudo diferente. E quando foi uma noite chamaram d. Jlia, a parteira o dr. Leone Menescal
ficou de prontido na sala e ento nasceu Clotildinha. (...)
Da invaso feita pela polcia l em casa, procura
dos papis comprometedores de Rachel, no perodo do
comunismo, posso at reconstituir a cena: os homens
mexendo nos escaninhos da secretria que foi de nosso
bisav, os rolos de papel encontrados nas gavetas de
segredo, os livros confiscados (p. 59 e 60).
J no terrvel captulo 13, Tonga-seeds, Rachel
fala de suas duas maiores perdas pessoais, sua filhinha
Clotilde e seu irmo Flvio: E eis que uma febre alta,
seguida de meningite, em vinte e quatro dias roubou minha
filhinha, em fevereiro de 1935. Trs meses depois morreu
meu irmo Flvio, de quem o nosso Flvio atual herdou o
nome. Flvio morreu de uma septicemia causada por uma
espinha no rosto. Mame, arrasada, eu, profundamente
desolada, conseguimos de Z Auto a transferncia para
o Cear e fomos morar no Pici. Ficamos uns tempos l,
depois alugamos casa em Fortaleza (p. 68).
Em Sobrado, captulo 14, Maria Luza relembra
um fato curioso da irm: Falei que Rachel era novidadeira.
, sempre foi. Toda a vida fez coisas diferentes do que se
esperava, diferentes do que os outros fazem, sem aceitar
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quando todos se recolhiam, eu me deitava de bruos no soalho da sala, junto ao farol de querosene que dormia aceso
(ainda no chegara l a eletricidade), e assim, em cadernos
de colegial, a lpis, escrevi o livrinho todo.
Nas grandes mangueiras do pomar eu armava a
minha rede e passava as tardes lendo. De noite, formvamos uma pequena orquestra com o nosso professor de violo, seu Litr, puxando no banjo. Nas noites de lua, altas
horas, vinham uns moos de Porangaba e faziam serenata,
cantando Mi noche triste. Porque nesse tempo, o chique
era o tango.
Mas depois fomos nos dispersando. Os rapazes se
formaram, morreu Flvio aos dezoito anos, e desceu uma
sombra escura sobre o Pici. Veio a guerra, j ento eu andava por longe. Os americanos estabeleceram uma base l
perto e os blimps, os pequenos dirigveis prateados, pousavam quase em cima da nossa casa. Enquanto isso, a cidade
crescia, ia cercando o stio com seus exrcitos de casinhas
populares. Meu pai morreu. Morreu outro irmo, Luciano.
Minha me ainda tentou ficar no Pici, mas o cerco
urbano continuava, o terreno invadido pela vizinhana, de
certa forma at ameaando a segurana da casa. Antnia
resolveu ento, toda boca da noite, mandar um caboclo dar
vrios tiros para o alto, querendo assustar os ladres.
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Atribuiu-se tudo (a doena) sua exagerada paixo por futebol, ao lance que fora realmente de perder o flego e quela
sensao meio exotrica de estar tudo aquilo acontecendo l,
na distante Europa, e a gente escutando no Pici atravs do
primeiro rdio que tivemos e s instalado havia poucos dias
(p. 168 e 169); ou quando esta mesma Maria Luza conta de
uma Viagem, captulo 36, saindo do Pici ao serto: Samos do Pici de madrugada e as primeiras horas da viagem
decorreram sem maiores tropeos (...) Tudo isso, mundo que
foi do tio de meu pai, mundo de meu pai e agora naquele
tempo tambm meu. O corao da menina se espraiava,
entrava de terras e guas adentro; que depois do longo confinamento no Pici era respirao e o ar recurados (p. 179 e
182); ou o contrrio, uma ida do serto ao Pici, no captulo
39, Arizona: Por esses dias tivemos que ir ao Pici, onde
havia umas questes para mame resolver. Ou tambm para
tomar um flego, respirar os ares frescos e as bonanas do
stio, depois de todos aqueles sufocos (p. 198).
Mesmo quando lemos suas vrias coletneas de crnicas so frequentes as referncias ao Stio do Pici e quele importante perodo de vida da escritora, que iniciava sua
vida ao mesmo tempo em que o stio seguia para se tornar
um dos mais populosos bairros de nossa capital. Recentemente li a crnica publicada, em 06 de setembro de 1944,
no jornal O Povo, intitulada de Pelo telefone, em que ela
escrevia, do Rio de Janeiro: At hoje, a nica entidade do
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Um segundo ponto refere-se s parcerias que so necessrias consolidao da ideia: com a prpria populao
usuria, com os proprietrios de algumas glebas e com instituies existentes na proximidade, compondo um corpo
de guardies do Parque.
Depois de reler o texto, do qual selecionamos os
trechos acima, procurei o professor Jose Sales Costa, que
gentilmente me recebeu em seu escritrio de arquitetura e
me passou cpia do Inventrio Ambiental de Fortaleza,
e ento pude constatar a solidez do projeto, pormenorizado, em ricos detalhes, justificando sua abrangncia e importncia: ...composto de 15 trechos ao longo dos bairros
Monte Castelo, Alagadio, Presidente Kennedy, Pici, Bela
Vista, Henrique Jorge, Dom Lustosa, Autran Nunes, Geniba e Antnio Bezerra, em Fortaleza, Cear.
E de projeto to amplo, o bairro Pici seria contemplado em duas importantes reas, ambas dentro do Campus
da UFC, alm, claro, da recuperao do Riacho Cachoeirinha (antigo Riacho Pici), hoje localizado oficialmente
no Henrique Jorge, tambm da cabeceira do Aude Santo
Anastcio, na Faculdade de Agronomia da UFC, como da
ligao deste com a Lagoa de Porangabussu.
Esperamos que o importante projeto do Parque
Ecolgico Rachel de Queiroz um dia saia do papel, que
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inda hoje existe a antiga estrada que ligava os primeiros stios do Pici a Parangaba, que era a via pela
qual os moradores da regio se deslocavam para assistir
missa na igreja do Asilo da Parangaba ou pegar o transporte para Fortaleza.
a atual Rua Estrada do Pici, onde, quase por milagre (o pesquisador Nirez atribui esse quase milagre de sua
sobrevivncia abertura de novas avenidas, bem mais largas, como a Av. Carneiro de Mendona, depois as avenidas
Senador Fernandes Tvora e Lineu Machado), ainda existem resqucios da velha rodagem de terra batida que ligava
os stios do Pici freguesia do, ento, distrito de Porangaba.
Ela vai serpenteando por vrios bairros, como se
fosse um riacho teimoso em meio mata ainda virgem de
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Tangerine-Girl
(...) O seu primeiro contato com a tripulao do dirigvel comeou de maneira puramente ocasional. Acabara
o caf da manh; a menina tirara a mesa e fora porta que
d para o laranjal, sacudir da toalha as migalhas de po. L
de cima um tripulante avistou aquele pano branco tremulado entre as rvores espalhadas e a areia, e o seu corao
solitrio comoveu-se.
(...) A menina que sacudia a toalha erguera realmente
os olhos ao ouvir o motor do blimp. Viu os braos do rapaz
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ando-se um passeio pelo bairro Pici, pedindo informaes aqui e ali, tendo anotados algumas pistas e endereos fornecidos por pesquisadores, livros e notcias de jornais,
conseguimos encontrar diversos resqucios da passagem
dos americanos por Fortaleza durante a II Guerra Mundial.
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Outra curiosidade relacionada passagem norte-americana por Fortaleza foi a de que a base area do Pici
comeou a ser construda em julho de 1941, pela empresa cearense Campelo & Gentil, mas teve que ser inaugurada prematuramente em fevereiro de 1942, com 75% de
sua extenso concluda, para, emergencialmente, receber o
pouso de um avio norte-americano B-17, que se encontrava perdido de sua rota principal. Dizem que o sobrevoo da
aeronave causou grande aflio na populao, que j vinha
assustada com as notcias da guerra. A concluso definitiva
da Base Area do Pici aconteceu em maro de 1942, porm,
especialistas norte-americanos e brasileiros concluram que
houve erro no posicionamento da pista, dificultando (e at
colocando em risco) pouso e decolagem de aeronaves maiores, sendo necessrio que procurassem outro local propcio
para construir uma nova pista, o que aconteceu no Cocorote
(onde hoje o Aeroporto Pinto Martins), mas antes os gringos tentaram, acreditem, construir a base area em plena
Aldeota, beirando a Praia de Iracema.
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lm das terras em torno da antiga Base Area Americana da II Guerra Mundial (que foram depois divididas entre a UFC e o DNOCS, como nos conta o arquiteto Jos Liberal de Castro no captulo sobre o Campus
Universitrio do Pici), dos muitos stios que foram sendo
vendidos (ou invadidos) desde meados da dcada de 1940,
uma boa parte da extensa rea do bairro Pici (que em suas
origens era bem maior do que a dos atuais limites oficiais)
pertencia Santa Casa de Misericrdia de Fortaleza e
Legio Manica da Capital.
Quando a UFC incorporou a Faculdade de Agronomia, situada ento no Stio Santo Anastcio, bem distante da Antiga Base Americana e dos velhos stios, o bairro
cresceu bastante para o norte, no que o arquiteto Liberal de
Castro discorda da denominao Pici ligada ao Campus
da UFC: A denominao Campus do Pici logo se imps,
conquanto topograficamente incorreta. Teria sido melhor
diz-la Campus de Santo Anastcio, pois, na verdade, Pici
era nome de um stio distante, localizado a oeste da Lagoa
da Parangaba, em cujas proximidades foi locado o porto
de acesso base.
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Franz Wierzbicki ele viera para o Brasil durante a I Guerra Mundial e era funcionrio da RVC (Rede de Viao
Cearense, que depois virou Rffsa) que deu propriedade o nome de Glck-auf (feliz regresso, em alemo).
Por ser alemo, sofreu forte presso dos militares durante
a II Guerra Mundial. Por isso teve que vender parte do
stio, onde, em 1947, foi instalado o Jquei Clube Cearense. Com sua morte, os herdeiros lotearam o que restou,
tambm venderam grande terreno para o Fortaleza Esporte
Clube (onde foi construdo o Estdio Alcides Santos).
O casaro, um dos ltimos redutos do stio que originou o
bairro, continua de p, abrigando o zoolgico Ecopoint.
Nascendo, portanto, desse loteamento dentro do Pici,
um novo bairro de Fortaleza.
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Referncias Bibliogrficas
ACIOLI, Socorro. A Casa dos Benjamins. So Paulo: Editora Caramelo,
2005. (Ilustraes de Daniel Diaz).
______. Rachel de Queiroz. Fortaleza: Edies Demcrito Rocha,
2003. (Coleo Terra Brbara).
______. Das palavras sob as telhas da velha casa. In: Uma Escrita
no Tempo (ensaios sobre Rachel de Queiroz, organizao de Fernanda
Coutinho). Fortaleza: Edies Demcrito Rocha, 2010.
ALENCAR, lvaro Gurgel de. Diccionario Geographico, Histrico e
Discriptivo do Estado do Cear. Fortaleza: 1903.
ALENCAR, Jos de. Como e por que sou romancista. Campinas, SP:
Ed. Pontes, 1990.
______.O Nosso Cancioneiro. Campinas, SP: Pontes, 1993, p. 33.
CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA (Vol. 4). Instituto
Moreira Salles. So Paulo, 1997.
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de Corpo e Alma. (Coletnea de artigos, organizada por Paulo Elpdio de
Menezes Neto). Fortaleza: Imprensa Universitria da UFC, 2004.
CHAVES, Gylmar. Histrias e andanas. In: Viva Fortaleza
(organizado por Gylmar Chaves e Patrcia Veloso). Fortaleza: Terra da
Luz Editorial, 2011.
FALCO, Mrlio Fbio Pelcio. Fortaleza em Branco e Preto.
Fortaleza: Fundao IPLANCE, 1996.
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