Língua Portuguesa - Folclore Brasileiro
Língua Portuguesa - Folclore Brasileiro
Língua Portuguesa - Folclore Brasileiro
ESTÂNCIA BALNEÁRIA
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO PEDAGÓGICO
ENSINO FUNDAMENTAL
EQUIPE INTERDISCIPLINAR
LÍNGUA PORTUGUESA
CICLO I
2003
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Folclore é o conjunto de manifestações de caráter popular de um povo, ou seja, é o
conjunto de elementos artísticos feitos do povo para o povo, sempre ressaltando o caráter
tradicional destas representações transmitidas de uma geração para outra por meio da prática.
O folclore varia bastante de um país para o outro e, até mesmo, dentro de um Estado. As
diferenças entre as regiões são muito grandes. No caso do Brasil, o folclore foi resultado da
união da Cultura a partir da miscigenação de três povos (Europeu, Africano, Ameríndio ). O
que resultou é que em muitas regiões brasileiras o folclore é muito diferente, pois devido às
influências de cada um destes povos formadores do Brasil, algumas regiões apresentam maior
tendência a uma determinada origem.
As manifestações folclóricas brasileiras, na sua grande maioria, são manifestações de
caráter de povos mestiços ,ou seja, sofrem influência de diversas raças, apresentando
características próprias, bem como manifestações em caráter artístico, possuindo elementos
do Teatro, Dança, Música e Artes Plásticas.
O termo Folk-Lore foi empregado pela primeira vez em 22 de agosto de 1846 ,
consagrando até nossos dias o mês de agosto como mês do folclore.
Com toda intenção dos órgãos encarregados da educação, os trabalhos escolares de
pesquisas sobre o folclore são cheios de equívocos, pois os fatos folclóricos não se dão apenas
em agosto e sim, durante todo ano letivo. Todos nós, somos portadores do fato folclórico,
independentemente de raça, cor , classe social e intelectual . Para um bom resultado
pedagógico, cabe ao professor, ao dar aos alunos a tarefa de pesquisa o fato folclórico,
orientá-los. O que vale dizer é que o importante para o aluno é conceituar corretamente o
termo FOLCLORE e o fato a ser pesquisado; delimitando o campo da pesquisa. Para se
pesquisar não é preciso ir longe, pois os fatos folclóricos estão perto de nós, em nossa casa,
em nosso bairro, em nossa cidade.
Folk quer dizer povo; lore, o saber, o conhecimento, o costume. Pode-se afirmar:
Folclore é o saber vulgar do povo. Não é somente transmitido nas escolas e nos livros e sim
também por imitação, ou por força de tanto ver e ouvir
Quatro são as características básicas para um fato folclórico: 1) ser transmitido
oralmente, de boca em boca, e não por meios eletromecânicos, como rádio, disco e livro; 2)
ser social, praticado por muitos e não por uma só pessoa; 3) ser espontâneo, livre. Quando o
professor dá um provérbio para ser analisado sintaticamente pelos alunos, aí não há o fato
folclórico; já quando dito pelo mesmo professor ou pelos anos, espontaneamente, para
explicar ou justificar um fato, nesse caso há o fato folclórico; 4) ser anônimo, pois não se
conhece o autor de uma trova popular, de um provérbio ou adivinhas.
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As parlendas são formas literárias tradicionais, rimadas com caráter infantil , de ritmo
fácil e de forma rápida. Não são cantadas e sim declamadas, em forma de texto,
estabelecendo-se como base a acentuação verbal. São escritas em versos de 5 ou 6 sílabas
para recitar. O objetivo de uma parlenda é apenas o ritmo como ela se desenvolve. O texto
verbal é uma série de imagens associadas , obedecendo apenas o senso lúdico, podendo ser
destinada à fixação de números ou idéias primárias, dias da semana , cores , entre outros
conceitos. Leia alguns exemplos:
Amanhã é domingo,
Pé de cachimbo
Galo monteiro
Pisou na areia. Pombinha branca
Areia é fina. Que estás fazendo?
Que dá no sino. Lavando roupa
O sino é de ouro. Pro casamento
Que dá no besouro. Vou me lavar
O besouro é de prata. Vou me secar
Que dá na barata. Vou na janela
A barata é valente. Pra namorar
Que dá no tenente. Passou um homem
O tenente é mofino. De terno branco
Que dá no menino. Chapéu do lado
O menino é danado. Meu namorado
Que dá no Soldado. Mandei entrar
O Soldado é Valente. Mandei sentar
Que dá na gente... Cuspiu no chão
─ Limpa aí seu porcalhão
Tenha mais educação.
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Lá em cima do piano
Eu vi uma barata
Tem um copo de veneno
Na careca do vovô
Quem bebeu , morreu
Assim que ela me viu
O culpado não fui eu.
Bateu asas e voou
Lá na rua vinte e quatro
Seu Joaquim , quim quim
A mulher matou um gato
Da perna torta, ta ra ta
Com a sola do sapato
Dançando conga, ra ga
O sapato estremeceu
Com a Maricota, ra ta.
A mulher morreu
O culpado não fui eu.
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Hoje é sábado
Pé de quiabo
Amanhã é domingo
Pé de cachimbo
O cachimbo é de ouro
Bate no touro Cadê o toucinho
O touro é valente Que estava aqui?
Chifra a gente O gato comeu.
A gente é fraco Cadê o gato?
Cai no buraco Fugiu pro mato.
O buraco é fundo Cadê o mato?
Acabou-se o mundo. O fogo queimou.
Cadê o fogo?
A água apagou.
Cadê a água?
O boi bebeu.
Cadê o boi?
Foi amassar o trigo.
Cadê o trigo?
Foi fazer o pão.
Cadê o pão?
O padre pegou.
Cadê o padre?
Foi rezar a missa.
Cadê a missa?
Já se acabou.
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Para Antônio Henrique WeitzeL, trava - língua é uma modalidade de parlenda ,em
prosa ou em verso , caracterizada pela rápida sucessão de palavras de forma ordenada, pela
repetição dos mesmos fonemas ou de fonemas vizinhos - ora em seqüência , ora entremeados
- que se torna extremamente difícil e,às vezes, quase impossível pronunciá-lo sem tropeços .
Exs.: A aranha arranha o jarro; o jarro a aranha arranha. O peito do pé do pai do padre Pedro é
preto. Paca, tatu; cutia, não.
É uma ''parlenda maldosa '', como o chamou Campos ( Folclore de Nordeste, 1960 ) ,
acrescentando que os cantadores de viola , mestres em desafio , não aceitam o trava - língua ,
que só poderá ser recitado corretamente com um treino antecipado . Esta, porém, não é a
opinião do cantador cearense Jacó Alves Passarinho, o qual, segundo refere Mota
(Cantadores, 1961), falava com entusiasmo das frases de pronunciação embaraçosa e dizia
que ''nelas é que se conhece quem tem sustança '' . De fato, exige do cantador uma atenção
exagerada , para não ficar atrapalhado na pronúncia das palavras do verso e, assim, perder a
contenda.
Cascudo (Literatura Oral no Brasil , 1984 ) incluiu o trava - língua nos contos
acumulativos , seguindo a classificação de Antti Aarne / Stith Thompson , com o que não
concorda Almeida
( Manual de coleta folclórica , 1965 ) , dizendo que os trava-línguas muitas vezes não são
histórias , mas jogos de palavras difíceis de serem pronunciadas. São antes brincadeiras .
Para Teixeira (Estudos de folclore , 1949 ) , este tipo de parlenda , cuja finalidade
consiste em expor ao ridículo a pessoa que tente dizê-lo rapidamente , é universal , parecendo
ser mais fácil ''destravá-lo '''em português do que em alemão , inglês e outras línguas do grupo
saxônico.
Porzig (El mundo maravilloso del lenguaje , 1964 ) explicou a extrema dificuldade ,
ou mesmo impossibilidade sem sólido treinamento , da pronúncia dessas frases , pelo fato de
se estorvarem mutuamente , diante de sua rápida sucessão ,os movimentos articulatórios dos
órgãos da fala . E justifica, afirmando ser a imagem sonora produzida pela cooperação de
inúmeras músculos , que são excitados por nervos motores , os quais recebem essa excitação
do cérebro e a transmitem . Depois de uma excitação ,entretanto , nervos e músculos precisam
de certo tempo para retornarem ao estado de equilíbrio , o que não acontecerá , se sobrevier
nova excitação , a qual irá perturbar as articulações .
Esta curiosa forma verbal lúdica tem dupla função : a) desenvolve habilidades vocais –
de onde vem o seu caráter educativo ; b) diverte, pondo em ridículo quantos queiram
pronunciá-lo depressa - daí o seu caráter lúdico. Braga ( O Povo Português nos seus
Costumes, Crenças e Tradições, 1986 ) já registrara esta função educativa, ao considerar o
trava-língua um fenômeno doméstico de desvencilhar a língua. Araújo (folclore Nacional,
1964 ) frisa este seu valor educativo , por exercitar a boa pronúncia da criança ,
desenvolvendo- lhe a perfeita enunciação das palavras. E chega a aconselhar os educadores,
os professores a se valerem dos trava-línguas, para a promoção da eulalia dos educandos.
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Exemplos:
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Frases populares, ou expressões populares, são palavras e frases que na sua grande
maioria têm a função comparativa com diversos assuntos, como animais, modo de agir,modo
de pensar etc. O que difere o ditado, da frase popular é que este serve de alerta ao futuro e
não apenas expressa um julgamento na ocasião do acontecimento .
Vejamos algumas frases e seus respectivos significados:
Memória de Elefante: O elefante lembra de tudo o que aprende, motivo pelo qual é uma das
principais atrações do circo. Por isso, dizem que as pessoas que lembram de tudo (até mesmo
as magrinhas!) tem a memória de elefante.
Dormir com as galinhas: A expressão significa deitar-se cedo, logo ao anoitecer, como
fazem as galinhas.
Acordar com as galinhas: A expressão significa acordar cedo, como fazem as galinhas.
Estômago de avestruz: É dito à pessoa que come qualquer coisa. O estômago do avestruz é
dotado de um poderoso suco gástrico que é capaz de dissolver até metais.
Lágrimas de crocodilo: É uma expressão bastante usada para se referir ao choro fingido. O
crocodilo, quando ingere um alimento, faz forte pressão contra o céu da boca, comprimindo as
glândulas lacrimais. Assim, ele "chora" enquanto devora uma vítima.
Olhos de lince: Os filhotes só abrem os olhos, com dez dias de vida. Em compensação,
quando crescem, os linces têm uma visão apurada. Os povos mais antigos acreditam que esses
animais conseguiam enxergar através das paredes. Ter olhos de lince significa enxergar longe.
Remar contra a maré ou remar contra a correnteza: Tentar fazer uma coisa e tudo der
errado.
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Dar com os burros n'água: Fazer muito esforço para conseguir algo e acabar perdendo tudo
de forma banal.
Colocar a carroça na frente dos bois: Atropelar a ordem das coisas , não ter paciência de
esperar.
Mandar lamber sabão: Pedir para não perturbar , não aborrecer , não encher .
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Fui pro mar colher laranja,
Eu te vi e tu me viste,
Fruta que no mar não tem;
tu me amaste e eu te amei,
Vim de lá todo molhado
qual de nós amou primeiro
Das ondas que vão e vêm.
Fui pro mar colher laranja, nem tu sabes, nem eu sei.
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Por todo o país são inúmeras as brincadeiras apreciadas pelas crianças. Elas
demonstram as características sociáveis , a procura de outras crianças para se divertirem .
Resta salientar, que na maioria das brincadeiras, há regras estabelecidas pelas próprias
crianças . As características da expressividade e senso lúdico são bastante trabalhadas nestas
brincadeiras. O que mais é valorizado é a participação da criança que quer brincar e a
perpetuação dessas brincadeiras tão esquecidas em nossos dias de hoje.
Dentre as diversas brincadeiras folclóricas, estão:
Bolas de Gude
Pipas,Papagaios,Arraias,Periquitos
Pião
Boca de Forno
Amarelinha
Esconde - esconde
Jogo de taco
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As lendas no Brasil são de inúmeras variedades, influenciadas diretamente pela
miscigenação do povo brasileiro . Devemos considerar que lenda não significa mentira, nem
mesmo verdade absoluta. O que podemos e devemos deduzir é que uma história para ser
criada, defendida e o mais importante, ter sobrevivido na memória das pessoas, deve ter no
mínimo algum fato verídico. Muitos historiadores, pesquisadores, folcloristas, e outros
profissionais que estudam Sociedades, tendem a afirmar que lendas são apenas frutos da
imaginação popular; porém, as lendas em muitos povos são "os livros na memória dos mais
sábios".
A diferença entre Mito e Lenda é que Mito é o personagem enfatizado na lenda,
portanto, a Lenda é a História sobre um determinado Mito.
Era costume nos conventos e mosteiros, desde os primeiros tempos da era cristã, fazer
cada dia, à hora das refeições em comum nos vastos refeitórios, a leitura da vida do santo que
dava nome ao dia". Tais trechos de leitura diária eram chamados "legenda". Neles a biografia
dos heróis da cristandade era recheada de narrativas dos milagres realizados por esses
taumaturgos, ou mesmo, inventados pela imaginação popular e compilados sem muito
critério.
De "legenda", incorporada a nosso vocabulário com os diversos sentidos acima
descritos, nos veio também a palavra "lenda", que Ayres Filho define como "narração de
sucessos fantásticos", "tradição popular" ou mesmo "mentira" ocasionada pelos exageros
incluídos no relato. Assim pensa também Weitzel (1995), que diz: "é um mundo de realidade,
embora exagerado e colorido, ao mundo sobrenatural do mito e ao mundo fictício do conto".
O mesmo Weitzel aponta quatro categorias de lenda: as lendas pessoais, locais, episódicas e
etiológicas.
As lendas pessoais referem-se a indivíduos cuja vida, em algum momento, beirou o
"fantástico", o "impossível" ou o "maravilhoso". Tanto pode ser um santo quanto um bandido,
um herói ou um vilão. Andar sobre as ondas, fugir espetacularmente de uma prisão, apagar
com uma prece um incêndio pavoroso, vencer sozinho milhares de canibais, bater a carteira
de um ladrão... Esses feitos espetaculares conferem a seus autores uma aura toda especial e os
inscrevem no rol das pessoas de vida lendária. Lendária é, por exemplo, a vida de um Padre
Anchieta, cuja estampa vem sempre acompanhada de uma onça dócil, ou a de São Francisco,
rodeado de passarinhos.
As locais, ou tópicas, ligam-se a um lugar: uma serra, uma lagoa, uma gruta, um rio,
um braço de mar etc. Bons exemplos deste tipo de lendas são a do El Dorado, montanha
faiscante de ouros e pedrarias, que dirigiu os sonhos de Fernão Dias Pais Leme, e a das
Amazonas, mulheres guerreiras descritas por Cristóbal de Acuña. E lendário, também, é o Rio
Paraíba onde, segundo contam, pescadores encontraram a imagem de Nossa Senhora
Aparecida. Ou a baía de Guanabara, onde Estácio de Sá travou lutas espetaculares ; ou o lago
Ness, na Inglaterra, habitação de um monstro conhecido como o Monstro de Ness. Algumas
destas lendas são mais recentes, como aquela de Três Corações, cidade mineira, palco de uma
história de aparecimento de um ET. Com o advento da indústria turística, os locais, marcados
por lendas são hoje valorizados como pontos de visitação turística.
São episódicas as lendas que se ligam a um evento ou acontecimento particular, como
aquela narrada em Ouro Preto, e que envolve a devoção de nossos militares Santa Efigênia,
patrona do homem-de-armas.
Contam que um comboio repleto de soldados ia partir para a guerra quando apareceu
uma mulher humilde, com uma pequena mala, pedindo carona. Proibido pelo regulamento de
transportar civis num comboio militar, o comandante ordenou a partida, deixando a mulher
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para trás. Na próxima paragem, uma surpresa: a mulher já estava lá, com sua maleta e pedia
carona.
— Impossível! – falou o comandante e mandou seguir. Mais adiante, a mulher, de
novo, implorava por um lugarzinho no comboio. Sem entender como aquela mulher sempre
chegava antes do trem, o comandante abriu exceção ao regulamento e ordenou que entrasse.
No fundo, o que ele desejava era saber qual o segredo daquela passageira que viajava mais
rapidamente que o trem e, mesmo assim ainda pedia para ser levada. Um soldado desceu para
ajudar a velhinha para subir no trem. Saltou, pegou a alça da mala e ... não conseguiu levantar.
Outro soldado vem ajudá-lo e os dois não conseguem levantar a mala. A mulher, que já havia
subido, volta, pega a malinha, e sobe a escadinha do vagão sem problema. E diante do pasmo
da tropa, ela declara o mistério:
— Aqui estão os pecados de todos vocês. Por isso, a mala é pesada. E eu sou Efigênia,
que vocês chamam de santa. Garanto que vocês nada sofrerão em batalha.
Muitos soldados relataram depois que, nos piores momentos, teriam visto pairando no
ar a figura protetora da santa.
A Etiologia é o estudos das causas e das origens. As lendas etiológicas, que formam a
última das categorias apontadas por Weitzer, exemplificam-se com os contos indígenas,
explicativos do aparecimento do milho, do guaraná, da mandioca.
São muitas as lendas etiológicas; como a da cegonha que explica a seu modo o
nascimento das crianças. Muitas aves e pássaros nacionais têm suas características explicadas
por intervenção da Virgem Maria ou do Menino Jesus, como a da rolinha que apagava os
passos da Sagrada Família em fuga para o Egito, enquanto o tico-tico ia ciscando atrás para
mostrar aos soldados de Herodes o seu paradeiro. A rolinha foi abençoada, ao passo que o
pobre tico-tico foi amaldiçoado e, por isso, ficou de canela fina e só anda aos pulinhos, como
se pisasse em brasas. Também o jumentinho que conduziu o santo casal através do deserto
mereceu sua bênção de modo original: franzido de medo, o menino teria urinado no lombo do
burrico. Daí por diante, toda a geração dos jumentos ganhou aquela lista escura que lhe
percorre a espinha da crina à cauda.
Muitas lendas etiológicas são importantes, por apresentar uma explicação ao
surgimento do homem brasileiro. Algumas delas, inclusive, forneceram a nossos escritores a
trama de importantes obras como o Caramuru, de Frei José de Santa Rita Durão, a Iracema, de
José de Alencar, ou o Guarani, do mesmo autor.
Caramuru é o náufrago português que, ao se ver cercado pelos inimigos, que não
conheciam arma-de-fogo, deu um tiro para o alto e foi aclamado "Deus do Trovão". Casa-se
com Paraguaçu, e a leva à França onde se batiza, recebendo na pia batismal o mesmo nome
de sua madrinha, a rainha Catarina de Médicis. De volta ao Brasil o casal terá muitos filhos,
dando início à geração dos primeiros brasileiros.
Iracema é outra lenda na qual a questão das origens nacionais é colocada. A virgem
sagrada de lábios de mel une-se a Martinho, português, para gerarem o primeiro homem da
América, supostamente pai de todos os outros. Peri, o índio enamorado de Ceci, salva das
águas a sua amada, como Tamandaré, de uma outra lenda, sobrevivente do dilúvio, que
recomeçou o povoamento da terra.
Muito importante também é a lenda de Bartolomeu Bueno da Silva, o feio,
conquistador das terras goianas. Este bandeirante vira lenda ao amedrontar os goianás que o
impediam de seguir caminho e queriam obrigá-lo a retroceder. Bartolomeu não se intimida e
parte para a ameaça:
— "Ou vocês me deixam passar, ou queimarei toda a água e vocês morrerão de sede".
E, ante a incredulidade dos índios que teimavam em lhe tolher os passos, fez uma
demonstração com pólvora em canudos parcialmente submersos (ou querosene espalhada
sobre as águas, segundo outras versões). Ao ver o rio em chamas, os goianás caem de joelhos
e aclamam o que pensaram ser Anhangüera, o Diabo Velho de suas crenças. Estava
franqueado o caminho para a fundação de Goiás e a descoberta das grandes jazidas de ouro
daquela região.
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Essas lendas foram selecionadas com o objetivo de ilustração em relação aos tipos de
lendas. Posteriormente, serão descritas lendas mais direcionadas ao público infanto-juvenil.
Vitória-Régia
Era uma vez, uma tribo de índios que vivia às margens do grande rio. Nos igarapés
silenciosos, as cunhãs cantavam e sonhavam seus lindos sonhos de virgens. As cunhãs
ficavam horas e horas, mirando a beleza da lua branca, o fascinar das estrelas, o céu recamado
de constelações.
O aroma da noite tropical embalava os sonhos. Um dia, neca-neca, a cunhã mais
sonhadora, subiu numa árvore mais alta para ver se pegava a lua. Não conseguiu.
Pressurosa com suas companheiras, noutro dia, foram aos montes distantes para
tocarem com as mãos a lua, as estrelas. Nada! Quando lá chegaram, a lua estava tão distante,
que voltaram tristonhas para suas malocas, e, na rede onde se embalavam, embalaram a
desilusão. Ficaram tristes, porque, caso tocassem a lua ou as estrelas, tornar-se iam uma delas.
Noutra noite, Neca-neca, deixou sua rede, muito tristonha, desiludida porque não conseguira
apanhar a lua. Eis que olha e vê na água remansosa do lago a lua branca ali refletida. Era uma
noite de lua cheia. Lá estava a lua grande, bela, refletida nas águas. Sua imobilidade no lago
tranqüilo era um convite. A cunhã alegrou-se. Certamente ela veio banhar-se nas águas do
lago para que eu pudesse apanhá-la. Veio satisfazer os meus pedidos feitos em pensamento.
Ela veio lançar-se nas águas profundas, misteriosas e desapareceu. Mas a lua apiedou-se da
cunhã e a transformou numa flor, a vitória-régia. É por isso, que a vitória-régia tem o mais
oloroso dos perfumes. Suas pétalas são estiradas à flor da água, para melhor receberem a luz
da lua. É por isso que, em noites de lua cheia, as cunhãs ,que são vitórias-régias, aparecem no
meio da flor que tem um brilho todo especial. Os raios brancos da lua, são como véus de
noiva a cobrir todas as flores do lago e ofuscam tanto, que mais parecem ''estrelas d'água a
disputar o seu brilho com milhares de vaga-lumes, que povoam a noite tropical.
Lenda da Iara
A Iara é uma sereia das águas, de grande beleza, que mora nas lagoas e que surge
repentinamente para atrair os viajantes descuidados. Quem escuta o canto da Iara fica
encantado e é atraído para o fundo da lagoa. Lá, entre milhares de sereias, num palácio de
coral e pérolas, é realizado o casamento pelo Rei dos Mares.
Cavalo-de –três-pés
Animal assombroso que aparece nas estradas desertas
durante a noite, correndo, dando coices e voando. Não tem
cabeça, mas possui asas. Quem pisar em seus rastros será
imensamente infeliz.
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Lenda da Mandioca
Nani era uma linda menina, filha de uma índia. Desde que nasceu , andava e falava.
De repente, morreu sem ficar doente e sem sofrer. Foi enterrada e todos os dias sua sepultura
era regada. Nela surgiu uma planta desconhecida, que cresceu e deu frutos. Os pássaros
comiam esses frutos e ficavam embriagados. Finalmente, a terra abriu-se e os índios
encontraram uma raiz branca como o corpo de Nani. Essa raiz, que passou a ser usada como
alimento pelos selvagens, é a mandioca.
Pé-de-garrafa
Tem a figura de um homem, mas os pés são redondos
como fundo de garrafa. Anda pelo mato dando gritos tão fortes,
que fazem as pessoas enlouquecerem e se perderem para sempre.
O Major e o moleque
História de um homem (Major), que negociou com o sujo para ficar rico. Tirou o
moleque (um capetinha) de um ovo de galinha preta chocado no sovaco. Criou-o, alimentando
com leite, cachaça e sangue de galinha preta. O Major ficou rico, mas lhe aconteceram
grandes desgraças. Morreu pobre e o capetinha desapareceu. Sua alma ninguém sabe para
onde foi.
Onça-boi
Animal assombrado, que anda pela floresta, sempre em
duplas. Quando um fugitivo sobe numa árvore, o casal monstruoso
fica esperando embaixo, pois não sabe subir em árvores.
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Caboclo-d’ água
Criatura fantástica, que vive no fundo dos rios. Tem o
domínio das águas e dos peixes. Ataca canoeiros e pescadores,
virando barcos e criando ondas enormes. Para evitar seus ataques,
quem viaja sozinho, deve fincar uma faca no fundo da canoa. É
bom também oferecer fumo a este monstrengo das águas
Onça-da-mão-torta
Outro registro feito pelo autor do Folclore Goiano. É a alma penada de um vaqueiro
velho e mau. É uma onça enorme, rajada e tem a pata dianteira torta. (Não diz se é a direita ou
a esquerda.) Se vista e atirada, não morre. A bala não entra no seu corpo.
Anta-cachorro
Boiúna
Cobra escura e gigantesca que habita os rios amazônicos. Pode
transformar-se em barco ou navio. Solta fogo pelos olhos e engole
pessoas com grande facilidade.
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Domingos Pinto Colchão
Mula-sem-cabeça
Mãozinha-preta
Lobisomem
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Curupira
Índio misterioso e cabeludo que gosta de cachaça e anda
pelas matas assobiando e cavalgando um porco-do-mato. Mora
nos troncos das árvores e é protetor das florestas e dos animais.
Ataca com pauladas os caçadores que se atrevem a penetrar nos
seus domínios e, em geral , tem os pés virados para trás, por isso
sempre consegue despistar os inimigos.
Saci-pererê
Negrinho encantado de uma perna só, que usa
carapuça vermelha , adora fumar cachimbo e sabe ficar
invisível. Vive a vida fazendo a comida queimar no fogão e
pregando susto nos viajantes solitários. Detesta água e de vez
em quando, transforma-se num pássaro, o Matintapereira.
Boitatá
Gênio protetor dos campos. Aparece sob a forma de enorme serpente de fogo, que
mata quem destrói as florestas. O padre José de Anchieta, em 1560, é o primeiro a mencionar
o boitatá como personagem de mito indígena brasileiro. Esse é o nome dado pelos índios ao
fenômeno do fogo-fátuo.
Boto
Mito amazônico. É o pai das crianças de paternidade ignorada. Descrito como rapaz
bonito, bem-vestido, boêmio e ótimo dançarino. Nos bailes, encanta as moças, leva-as para
igarapés afluentes do Amazonas e as engravida. Antes da madrugada, mergulha no rio e se
transforma em boto. Chamado também de boto tucuxi.
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Cuca
Influenciada pela bruxa de origem européia, é uma velha feia que ameaça crianças
desobedientes, em especial, as que não querem dormir à noite.
Negrinho do pastoreio
Na tradição gaúcha, uma espécie de anjo bom, ao qual se recorre para achar objetos
perdidos ou conseguir graças. É o negrinho escravo, que o dono da estância pune
injustamente, açoitando-o e depois amarrando-o sobre um formigueiro. Mas seu corpo
aparece intacto no dia seguinte, como se não tivesse sofrido nenhuma picada, e sua alma passa
a vaguear pelos pampas.
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São perguntas de caráter enigmático, cuja resposta parece difícil de ser descoberta. As
adivinhas compreendem a adivinhação propriamente dita, pergunta enigmática e charada.
Veja alguns exemplos :
O que é o que é que ninguém quer ter, mas quem tem não quer perder?
Careca.
O que é leve como uma pluma, mas ninguém consegue segurar nem 5 minutos?
A respiração.
Como você chama alguém que leva outra pessoa para seu almoço?
Um canibal.
Qual é a nota musical que não é grande nem pequena, mas cura?
Ré - médio.
Ninguém me vê, mas muita gente me ouve; só falo depois que alguém fala. Quem sou?
O eco.
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Qual é o fogo que não se apaga com água?
Fogo da paixão .
O que é que pula, mas não é bola, tem bolsa mas não é mulher?
Canguru .
Verde como folha, folha não é; alvo como papel, papel não é; vermelho como sangue, sangue
não é; preto como carvão, carvão não é; tem todas essas cores; me diz o que é?
Melancia.
O que é que tem barba mas não tem queixo; tem dentes, mas não tem boca?
Espiga de milho.
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O que é, o que é que tudo tem, até o nada também?
O nome.
Quem é que leva a casa nas costas e, quando anda, deixa sinal?
O caracol.
Não sou pintor, sou o painel: pinto a cor, o gesto e a formosura. Quem sou?
O espelho.
Verde como folha, folha não é: fala como gente, gente não é?
O papagaio (ave).
O que é que tem bico, mas não bica; tem asa, mas não voa ?
O bule.
Tem coroa mas não é rei, tem escamas mas não é peixe ?
O abacaxi.
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“A condenação do silêncio é mais eficiente que as acusações ruidosas."
"O que você vê é real, o que você ouve talvez não seja."
"Palavras verdadeiras podem não ser agradáveis, palavras agradáveis podem não ser
verdadeiras."
"Para cortar uma árvore, bem rapidamente, gaste o dobro do tempo afiando o machado."
"Quem passa o tempo todo falando não terá tempo para pensar."
"Se alguém fala mal dos ausentes, falará mal de ti quando te ausentares."
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"A fome é o melhor tempero."
26
"Gato escaldado até de água fria tem medo."
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Folguedos são festas em que predominam o espírito lúdico. Realizam-se anualmente,
em diversas regiões do país, em datas mais ou menos fixas. Algumas delas têm origem
religiosa, tanto católica como de cultos africanos ou mesmo do sincretismo afro-brasileiro.
Essa religiosidade permanece latente na maioria dos casos. São alguns deles:
AFOXÉ
Cortejo que sai pelas ruas de Salvador desde 1922. Acontece também em Fortaleza e
no Rio de Janeiro. Os participantes cantam em dialetos africanos, acompanhados de
atabaques, agogôs e cabaças . Por ter origem religiosa ligada ao candomblé, é conhecido
como candomblé de rua. Os desfiles mais famosos acontecem durante o Carnaval da Bahia.
BUMBA-MEU-BOI
CONGADAS
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FANDANGO
FARRA DO BOI
MARACATU
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AZEVEDO, Ricardo. Meu Livro de Folclore. São Paulo: Ática,
2002.
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