Império Bizantino
Império Bizantino
Império Bizantino
O Império Bizantino (em grego Βασιλεία Ῥωμαίων), inicialmente conhecido como Império Romano
do Oriente ou Reinado Romano do Oriente, sucedeu o Império Romano (cerca de 395) como o império
e reinado dominante do Mar Mediterrâneo. Sob Justiniano I, considerado o último grande imperador
romano, albergava Cartago e áreas nos atuais Marrocos, sul da península Ibérica, sul da França, Itália,
bem como suas ilhas, península Balcânica, Anatólia, Egito, Oriente Próximo e a Crimeia, no Mar Negro.
Sob a perspectiva ocidental, não é errado inserir o Império Bizantino no estudo da Idade Média, mas, a
rigor, ele viveu uma extensão da Idade Antiga. Os historiadores especializados em Bizâncio em geral
concordam que seu apogeu se deu com o grande imperador da dinastia Macedônica, Basílio II
Bulgaroctonos (Mata-Búlgaros), no início do século IX. A sua regressão territorial gradual delineou a
história da Europa medieval, e sua queda, em 1453, frente aos turcos otomanos, marcou o fim da Idade
Média.
Índice
[esconder]
1 Origem
2 Identidade, continuidade e consciência
3 História
o 3.1 Constantino
o 3.2 Dinastias latinas
3.2.1 Dinastia Teodosiana (379 – 457)
3.2.2 Dinastia Leonina (457–518)
3.2.3 Dinastia Justiniana (518-602)
3.2.4 Sem dinastia (602-610)
o 3.3 Dinastias gregas
3.3.1 Dinastia Heracliana (610–711)
3.3.2 Sem dinastia (711-717)
3.3.3 Dinastia Isáurica (717-802)
3.3.4 Dinastia Fócida (802 - 820)
3.3.5 Dinastia Amoriana (820 - 867)
3.3.6 Dinastia Macedônica (867 - 1057)
3.3.7 Dinastia Comneno (1057 – 1059)
3.3.8 Dinastia dos Ducas (1059 – 1078)
3.3.9 Sem dinastia (1078 – 1081)
3.3.10 Dinastia Comneno (1081 - 1185)
3.3.11 Dinastia Angelos (1185 - 1204)
3.3.12 Reinos sucessores bizantinos
3.3.13 Dinastia Paleóloga (1261 - 1453)
o 3.4 A queda de Constantinopla
3.4.1 Consequências
4 Arte do Império Bizantino
5 Notas e referências
6 Ver também
7 Ligações externas
[editar] Origem
O embrião do Império Bizantino surgiu quando o imperador romano Constantino I decidiu construir sobre
a antiga cidade grega de Bizâncio uma nova capital para o Império Romano, mais próxima às rotas
comerciais que ligavam o Mar Mediterrâneo ao Mar Negro, e a Europa à Ásia. Além disso, já havia
algum tempo que Roma era preterida por seus imperadores que optavam por outras sedes de governo, em
especial cidades mais próximas das fronteiras ou onde a pressão política fosse menor. Em geral, eles
tendiam a escolher Milão, mas as fronteiras que estavam em perigo na época de Constantino eram as da
Pérsia ao Leste e as do Danúbio ao norte, muito mais próximas da região dos Estreitos Turcos.
Sua religião, língua e cultura, eram essencialmente gregas, e não romanas, mas para os bizantinos a
palavra "grego" significava, de maneira injuriosa, "pagão". Os persas e os árabes também chamavam os
bizantinos de "romanos". Preferiram chamar a si mesmos, em grego, de romioi (povo grego cristão com
cidadania romana), ao mesmo tempo em que desenvolveram uma consciência nacional como residentes
da Romania (é como o estado bizantino e seu mundo foram chamados em sua época).
Seu nacionalismo se refletia na literatura, particularmente nas canções e em poemas como o Akritias, em
que as populações fronteiriças (de combatentes chamados akritas) se orgulhavam de defender seu país
contra os invasores.
Os bizantinos usavam romano como sinônimo de heleno. Um substituto comum do termo "heleno" (que
tinha conotações pagãs) tanto como o de romioi, foi o termo graekos (grego). Este termo foi usado junto à
romioi para sua auto-identificação étnica.
A palavra bizantino vem de Bizâncio, o antigo nome da capital do Império Romano do Oriente,
Constantinopla. O termo bizantino começou a ser utilizado por historiadores do século XVII para se criar
uma distinção entre o Império da Idade Média e o da Antiguidade. O Tradicionalmente, era conhecido
apenas como Império Romano do Oriente (devido à divisão do Império feita pelo imperador romano
Teodósio I, no século IV da Era Cristã).
O Império Bizantino pode ser definido como um império formado por várias nações da Eurásia que
emergiu como império cristão e terminou seus mais de mil anos de história em 1453 como um estado
grego ortodoxo: o império se tornou nação.
Nos séculos que seguiram às conquistas árabes e lombardas do século VII, esta natureza inter-cultural
(assinalamos: não multinacional) permaneceu ainda nos Bálcãs e Ásia Menor, onde residia uma poderosa
e superior população grega.
Bandeira atribuída ao Império Bizantino, que de fato é um popular desenho moderno, uma vez que o uso
da águia de dupla cabeça não foi atestada por historiadores contemporâneos e nunca foi apresentada em
um campo dourado (amarelo). Atualmente é com mais frequência associada à Igreja Ortodoxa Grega.
Os bizantinos identificavam a si mesmos como romanos, e continuaram usando o termo quando
converteu-se em sinônimo de helênico. Preferiram chamar a si mesmos, em grego, romioi (quer dizer
povo grego cristão com cidadania romana), ao mesmo tempo que desenvolviam uma consciência nacional
como residentes de Romania (Romania é como o estado bizantino e seu mundo foram chamados na sua
época). O nacionalismo se refletia na literatura, particularmente nas canções e em poemas como o
Akritias, em que as populações fronteiriças (de combatentes chamados akritas) se orgulhavam de
defender seu país contra os invasores.
Ainda que os antigos gregos não fossem cristãos, os bizantinos os reclamavam como seus ancestrais. De
fato, os bizantinos se referiam a eles mesmos como romioi por ser uma forma de reter tanto sua cidadania
romana quanto sua herança ancestral grega. Um substituto comum do termo "heleno" (que tinha
conotações pagãs) tanto como o de romioi, foi o termo graekos (grego). Este termo foi usado
frequentemente pelos bizantinos (tanto como romioi) para sua auto-identificação étnica.
A dissolução do estado bizantino no século XV não desfez imediatamente a sociedade bizantina. Durante
a ocupação otomana, os gregos continuaram identificando-se como romanos e helenos, identificação que
sobreviveu até princípios do século XX e que ainda persiste na moderna Grécia.
[editar] História
[editar] Constantino
Entre o século III e o século V, o Império Romano viveu uma desastrosa crise nas suas estruturas. A parte
ocidental do Império, onde se localizava a capital, Roma, teve que lidar com massivas imigrações de
povos do norte e do leste, fenômeno conhecido como invasões bárbaras. Enquanto isso, a parte oriental
do Império Romano, que sofria menos com essas invasões, se achava numa situação mais estável, tanto
econômica como politicamente.
Já fazia alguns anos que os imperadores romanos evitavam governar a partir de Roma, escolhendo
cidades como Milão ou Ravenna para morar. A antiga capital, Roma, estava decadente e a elite senatorial
era imprevisível quanto à sua fidelidade. Então não foi nenhuma surpresa quando Constantino ordenou,
em 324, a construção de uma nova capital no lado europeu do Bósforo. A cidade foi erguida no local da
antiga Bizâncio, colônia fundada por gregos de Mégara em 657 a.C..
Constantino pretendia que a nova capital se chamasse Nova Roma, mas o nome de Constantinopla
prevaleceu.
Constantino I
Em seis anos (324 – 330), os arquitetos e construtores de Constantino restauraram a cidade construindo
novas estradas, casas, igrejas e muitas outras edificações. Fizeram uma muralha tripla de 20 km, 50
portões fortificados e decoraram a cidade com ricos objetos de artes vindos de todas as partes do Império
Romano.
Para atrair habitantes para a nova capital, o imperador ofereceu às camadas superiores casas construídas
seguindo o modelo das de Roma e às camadas inferiores, pão e circo, em grande quantidade.
Constantinopla tinha uma posição privilegiada. Entre os mares de Mármara, Negro e Egeu, constituiu, ao
longo de sua história, um verdadeiro entreposto comercial entre o Ocidente e o Oriente.
O último imperador do Império Romano unificado, Teodósio, dividiu o império em duas partes dando a
parte Ocidental para seu filho Honório e a parte Oriental para Arcádio. Era o inicio definitivo do Império
Bizantino.
O primeiro imperador independente do Império Romano do Ocidente foi Arcádio (395-408), filho de
Teodósio.
Os visigodos que anteriormente receberam o título de confederados da Mésia inferior, sob seu rei Alarico
I, estimulados pelos hunos de Átila, começaram a movimentar-se pelas províncias romanas vizinhas, que
começaram a ser saqueadas.
Como meio de apaziguar os visigodos, Arcádio concedeu a Alarico o título de prefeito da província da
Ilíria, vindo desta forma a legalizar institucionalmente a presença visigoda dentro do Império Oriental.
Em 401 os visigodos abandonaram o Império Oriental e penetraram na Itália, possivelmente instigados
desde Constantinopla. sucessor de Arcádio foi Teodósio II.
De fraco caráter, deixou-se influenciar por aqueles que o rodeavam, nomeadamente a sua irmã e a sua
esposa. Desenvolveu uma política externa pouco brilhante e deixou os monofisitas triunfarem no Concílio
de Éfeso (431).
Após o papa Celestino I ter excomungado, em 430, Nestório, o patriarca de Constantinopla cujas teses
foram derrotadas no Concílio de Éfeso, Teodósio ordenou que toda a vasta obra do patriarca fosse
queimada.
O seu reinado foi marcado pelo alargamento das fronteiras do Império (apesar de algumas derrotas
pesadas, como contra as forças hunas de Átila) e pela controvérsia religiosa. Mandou redigir o Código
Teodosiano.
Com a morte de Teodósio II, Marciano foi escolhido para consorte pela irmã e sucessora de Teodósio,
Pulquéria, e incumbido de governar um Império humilhado e empobrecido pelas incursões dos hunos.
Marciano evitou envolver-se nos destinos do Império do Ocidente, nem mesmo com as incursões de Átila
e o saque de Roma pelos vândalos (455).
Pouco antes da morte de Átila, em 453, este voltava a entrar em conflito com Marciano. O chefe huno
viria a falecer antes que uma guerra aberta começasse.
Marciano morreu em 457 de uma doença, possivelmente gangrena contraída durante longa uma
peregrinação religiosa. Apesar de seu reinado breve e de sua aversão a envolver-se com o ocidente,
Marciano é considerado um dos melhores dentre os primeiros imperadores bizantinos A Igreja Ortodoxa
considera-o e a sua mulher Pulquéria como santos, celebrados em 17 de fevereiro.
Série História da
Grécia
Civilização antes de
Egeia 1600 a.C.
Grécia c. 1600-
Micênica 1200 a.C.
Idade das c. 1200-
Trevas 800 a.C.
776-323
Grécia Antiga
a.C.
Período 323 a.C.-
Helenístico 146 a.C.
Período
146 a.C.-
Greco-
330 AD
Romano
Império 330 AD-
Bizantino 1453 AD
Período
1453-1832
Otomano
Grécia depois de
Moderna 1832
Tópicos
Literatura
Língua Grega
Grega
História O grego
militar em termos
O imperador seguinte foi Leão I. Durante o reinado de Leão, os Bálcãs foram devastados seguidamente
pelos ostrogodos e pelos hunos, os quais, entretanto, não conseguiram tomar Constantinopla, devido às
muralhas que haviam sido re-construídas e reforçadas por Teodósio II. Procurou influenciar os
desdobramentos no Império Romano do Ocidente, ao nomear Antêmio como Imperador do Ocidente em
467.
Sua expedição contra os vândalos em 468 foi derrotada, devido à traição e incompetência de seu cunhado
Basilisco, um desastre que subtraiu ao império recursos financeiros e humanos. Leão morreu de disenteria
aos 73 anos de idade, em 18 de janeiro de 474.
O sucessor de Leão I era seu neto Leão II, filho de Zenão I com Ariadne, que por sua vez era filha de
Leão I e Verina.
Devido à minoridade do jovem Leão, Ariadne e sua mãe Verina convenceram Leão I a nomear Zenão
como co-imperador, o que ocorreu em 9 de fevereiro de 474. Quando Leão II caiu doente e faleceu em 17
de novembro, Zenão tornou-se imperador único.
Zenão era tido como impopular, em virtude de sua origem "estrangeira", e teve que fugir da capital para
Antioquia devido a uma revolta arquitetada por Verina em favor de Basilisco (irmão de Verina), em
janeiro de 475.
Durante seu pequeno mandato, Basilisco ganhou a antipatia dos apoios fundamentais da Igreja e do povo
de Constantinopla, exaltando o Cristianismo em oposição à fé da Calcedônia, que recebia maior
aceitação. Além disso, sua política de assegurar seu poder diante da nomeação para cargos importantes de
homens leais a si o tornou inimigo de figuras influentes da corte imperial, incluindo sua irmã Verina.
Então, quando Zenão tentou recuperar seu império, praticamente não encontrou oposição, entrando em
Constantinopla triunfalmente, capturando e matando Basilisco e sua família.
Dois meses após reassumir o trono, Zenão assistiu à derrocada da parte ocidental do império, quando
Odoacro depôs o último Imperador Romano do Ocidente, Rômulo Augustulo. Odoacro solicitou ser
reconhecido por Zenão como um oficial patrício da corte oriental, o que Zenão terminou por conceder,
tornando-se assim, em teoria, imperador sobre um Império Romano unificado (o primeiro desde 395). Na
prática, o ocidente foi praticamente abandonado por Constantinopla.
Zenão forjou um acordo de paz com Genserico, reconhecendo-o como rei dos vândalos e com direito aos
territórios então conquistados. Também teve que lidar com os ostrogodos sob Teodorico, com algum
sucesso. Em 478 e 484, Zenão enfrentou rebeliões, a primeira mais uma vez inspirada por Verina.
Em 481, Teodorico tornou-se rei de todos os ostrogodos e começou a causar problemas para os bizantinos
nos Bálcãs. Zenão logrou induzi-los a invadir a Península Itálica para combater Odoacro.
Zenão promulgou em 482 o Henotikon ("ato de união"), assinado por todos os bispos orientais, um
documento que tentava resolver a controvérsia monofisita.
Após a morte de Zenão em 491, a viúva Ariadne permitiu a Anastácio (alto oficial do palácio) ascender à
dignidade imperial. Pouco depois, casou-se com Ariadne.
Seu reinado foi marcado por guerras externas (Pérsia, a leste; eslavos e búlgaros a oeste) e internas
(contestação de Longino, irmão de Zenão) e por controvérsias religiosas (monofisismo).
O imperador Justiniano I.
Mosaico na Basílica de São Vital em Ravenna.
Justiniano I (527–565) buscou restaurar e dispor sob sua inteira autoridade a vastidão típica do império
dos Antoninos (96–192) perdida para os bárbaros germânicos no Ocidente, fez uma aliança com o papa
perseguindo judeus e filósofos pagãos e, além disso, construiu numerosas fortalezas, estradas, pontes,
hospitais e centenas de igrejas. Em 534, sob o comando do general Belisário, o exército de Justiniano
conquistou o reino dos vândalos. Em 554, com a conclusão das Guerras Góticas, na península Itálica, o
Império abraçava também o reino dos ostrogodos.
Ao mesmo tempo, o governo de Justiniano estabeleceu acordos com os governantes do Império persa
sassânida, aos quais passou a pagar impostos para que as tropas persas não atacassem Constantinopla.
Apesar de se considerar um porta-voz de Deus, Justiniano procurou dar ao seu governo uma base legal.
Para tanto encarregou eminentes juristas de atualizar e revisar o antigo Direito Romano. Esse trabalho
resultou no Corpus Juris Civilis, base, ainda hoje, da maioria dos códigos legislativos do mundo. O
Corpus Juris Civili era dividido em quatro partes:
Até no século XII, havia no Império Bizantino grande número de escravos, que eram principalmente os
prisioneiros de guerra. Os pobres recebiam alimentos gratuitamente e se divertiam, por exemplo,
assistindo às corridas de cavalo do Hipódromo de Constantinopla. Restituía-se assim, a política do "pão e
circo", que havia sido adotada no Império Romano. Com isso, esperava-se controlar o descontentamento
da população. Os trabalhadores livres eram mal-remunerados, e a moradia e as roupas tinham preços
elevados. Por isso, muitas pessoas viviam desabrigadas nas ruas da cidade, embora as condições de vida
em Constantinopla fossem consideradas melhores do que em outras partes do império.
No segundo domingo de janeiro de 532, o hipódromo de Constantinopla estava lotado. Sua capacidade
era para 60 mil pessoas. O público acompanhava a corrida, dividido em duas grandes torcidas: uma
apoiava os Verdes e a outra, os Azuis. Estes eram os nomes dos principais partidos políticos da cidade.
Ambos exibiam suas bandeiras e ensaiavam seus hinos. O imperador também estava presente. Ele e a
imperatriz Teodora eram torcedores dos Azuis.
Torcer contra o time do imperador era uma forma de oposição política. Não se sabe bem por que, ao final
de uma das corridas, os Verdes aproveitaram para fazer uma série de reclamações ao imperador.
Reclamavam, sobretudo, o abuso de autoridade por parte dos funcionários do governo e dos impostos
elevados.
O imperador tentou contornar a situação, mas não foi feliz: a população aos gritos de Nika! Nika!
(Vitória! Vitória!), marchou sobre o palácio imperial. Travaram-se então combates sangrentos entre os
soldados e as forças populares, e vários edifícios foram queimados e depredados.
Vendo-se ameaçado, Justiniano decidiu fugir levando consigo as riquezas do tesouro imperial. Contam
que, naquele momento, Teodora convenceu-o a voltar. Justiniano voltou e ordenou ao general Belisário
que reprimisse o movimento. A repressão foi brutal: milhares de rebeldes alojados no hipódromo foram
cercados e mortos. Era o fim da revolta de Nika.
Durante a revolta de Nika (532) a primeira grande igreja de Constantinopla (Santa Sofia) construída pelo
imperador Constâncio II, filho de Constantino I, foi destruída. O edifício foi reconstruído em sua forma
atual entre 532 e 537 sob a supervisão pessoal do imperador Justiniano. É considerada o exemplo
principal da arquitetura bizantina. De grande importância artística, seu interior foi decorado com
mosaicos, colunas e esculturas de mármore. A riqueza e o nível artístico da basílica teriam levado
Justiniano a dizer Νενίκηκά σε Σολομών ("Salomão, eu te superei!").
Basílica de Santa Sofia,
reconstruída sob supervisão pessoal de Justiniano I.
Uma característica do governo de Justiniano que evidentemente causou a grande revolta de Nika, foi seu
cesaropapismo.
Justiniano ainda se viu às voltas com terremotos, fome e a grande peste de 544. Após sua morte, subiu ao
trono seu sobrinho e sucessor Justino (565–578). Os lombardos, até então estabelecidos na Panônia como
aliados, invadiram, em 568, a Itália setentrional. Os bizantinos mantiveram ainda o Exarcado de Ravenna,
os ducados de Roma e Nápoles, a Ístria, a Itália Meridional e a Sicília.
Durante seu reinado Justino teve de combater os ávaros no norte, sem muito sucesso, após recusar-lhes
tributo. Em 572, seu contato com os turcos causou uma guerra com a Pérsia, com duas desastrosas
campanhas nas quais os persas invadiram a Síria. A paz, precária, foi comprada por meio de um tributo
anual.
Preocupado com seu estado de insanidade, Justino elevou Tibério II Constantino à dignidade de César em
dezembro de 574, por sugestão de sua mulher Sofia, retirando-se da vida pública.
Tibério assumiu o controle do Império quando Justino enlouqueceu em 574 e, de modo a aumentar sua
popularidade, começou imediatamente a gastar os recursos do tesouro. Com Justino ainda vivo, o general
Maurício derrotou, a mando de Tibério, os persas na Armênia.
Com a morte de Justino em 578, Tibério ascendeu plenamente à dignidade imperial e desencadeou ações
militares no território do antigo Império Romano do Ocidente, onde negociou a paz com os visigodos na
Hispânia e derrotou os mouros na África do Norte. Os eslavos começaram a migrar para os Bálcãs em
579, mas o exército bizantino estava ocupado com os persas e não pôde impedir as migrações eslavas.
Em 582, Tibério adoeceu e Maurício foi nomeado seu herdeiro. Tibério morreu em agosto de 582, entre
rumores de envenenamento.
Durante seu reinado, Maurício teve que lidar com guerras intermináveis em todas as fronteiras e, apesar
de suas excelentes qualidades como governante, logrou apenas adiar a desintegração do grande império
de Justiniano I.
Império Bizantino em 600 d.C.
Logo após a sua coroação, Maurício interferiu, em 590, numa guerra de sucessão na Pérsia, ao auxiliar
um dos pretendentes a conquistar o trono persa. Em troca, a Mesopotâmia oriental e a Armênia voltaram
ao controle do Império Bizantino.
As províncias dos Bálcãs (Panônia, Dácia, Mésia, Dalmácia, Trácia, Macedônia,Épiro e Aqueia) haviam
sido devastadas pelos eslavos e somente se recuperariam séculos mais tarde. Os eslavos avançaram até o
Peloponeso, de modo que diversas campanhas - vitoriosas mas exaustivas - tiveram que ser empreendidas
para contê-los. No ocidente, Maurício organizou em exarcados os territórios bizantinos ameaçados na
Itália e na África, agora sujeitos a governadores militares (exarcas).
Em 602, Maurício, sempre às voltas com a falta de recursos financeiros, decidiu que o exército deveria
invernar além do Danúbio, o que se mostraria um equívoco sério. As tropas, exaustas, amotinaram-se e
proclamaram um certo Focas como seu líder, exigindo que Maurício abdicasse em favor de seu filho
Teodósio ou do general Germano, sogro de Teodósio.
Ambos foram acusados de traição, mas o imperador e sua família tiveram que refugiar-se em Nicomédia,
devido a distúrbios em Constantinopla. Teodósio, por sua vez, dirigiu-se para a Pérsia. Focas entrou em
Constantinopla e foi coroado imperador. Maurício e sua família foram capturados. Ele e seus filhos
varões foram executados; Constantina e suas filhas foram poupadas e enviadas a um mosteiro. Maurício é
venerado como um santo da Igreja Ortodoxa.
O governo de Focas foi bem vindo, para muitos, uma vez que o imperador começou por reduzir os
impostos, que eram altos durante o reinado de Maurício. O próprio papa Gregório I demonstrou apreço
pelo imperador nas cartas que lhe dirigiu, em particular a reforma agrária das terras da Igreja em Itália e
na Sicília, que veio a ser seguida pelos patriarcas ortodoxos do Egito. Esta consistia em nomear "reitores"
como administradores dos latifúndios e em eliminar toda a espécie de intermediários que exploravam os
lavradores, reduzindo estes à miséria ao mesmo tempo em que limitavam os lucros do proprietário.
Focas, no entanto, viu-se confrontado com bastante oposição, e era visto por muitos como um
"populista"; o seu golpe de Estado fora à primeira mudança de governo violenta desde a fundação da
cidade por Constantino I. As crônicas registraram a sua reação à oposição como sendo cruel, assassinando
milhares de pessoas no esforço de conservar o poder. Isto é, provavelmente, um exagero: não chegaram
até nós quaisquer registros coevos de Focas, e por isso dependemos dos relatos dos cronistas pagos pelos
sucessores de Focas, os quais tinham interesse em denegrir a sua memória.
Focas é o homenageado pelo último monumento a ser erigido no Fórum Romano. A soberania sobre a
cidade de Roma ainda pertencia aos bizantinos no reinado de Focas, muito embora fosse o papa a figura
mais importante da cidade. Focas apoiou os papas em muitas das controvérsias teológicas do seu tempo, e
por conseguinte sempre teve boas relações com a Santa Sé. Focas ofereceu o Panteão ao papa Bonifácio
IV para que este o transformasse em igreja; o imperador também interveio para repôr Esmaragdo (exarca)
no Exarcado de Ravenna, e em agradecimento Esmaragdo fez erguer no Fórum uma estátua dourada
sobre a re-dedicada "Coluna de Focas", com uma nova inscrição em honra do imperador.
Foi durante o reinado de Focas que as fronteiras tradicionais do Império Romano do Oriente começaram a
ceder. Os Bálcãs tinham sido vítimas de incursões dos ávaros e dos eslavos; com a retirada do exército do
Danúbio estes ataques ganharam em intensidade, e os bárbaros chegaram até Atenas. Também a Oriente a
situação era grave. O rei persa Cosroes II recebera auxílio de Maurício numa guerra civil no Império
Sassânida; a morte do seu antigo aliado serviu-lhe de pretexto para atacar o Império. Acolheu na sua corte
um indivíduo que se fazia passar por Teodósio, filho de Maurício; organizou a coroação desse
pretendente e exigiu que os bizantinos o acolhessem como seu imperador. Cosroes também se aproveitou
da fragilidade militar do Império Bizantino: prestou auxílio à Narses, um general que se recusara a aceitar
a autoridade de Focas e que fora cercado em Edessa por tropas leais a Focas. Esta expedição fez parte da
guerra de desgaste que Cosroes conduziu contra as fortalezas bizantinas no norte da Mesopotâmia, e por
volta de 607 os persas já controlavam o curso do Eufrates.
Em 608 o Exarca da África e o seu filho, ambos chamados Heráclio, deram início a uma revolta contra
Focas, cunhando moedas que os representavam com as insígnias consulares (mas não imperiais). Focas
respondeu mandando executar a ex-imperatriz Constantina e as suas três filhas. Nicetas, sobrinho de
Heráclio o Velho, comandou uma invasão terrestre do Egito; o Heráclio mais novo embarcou rumo a leste
com outro exército através da Sicília e de Chipre. Com o início da guerra civil registraram-se graves
distúrbios na Síria e na Palestina; Focas enviou o seu general Bonosus para pôr fim aos motins e
reconquistar o Egito. Bonosus afogou as revoltas com tamanha violência que as suas atrocidades eram
ainda lembradas séculos mais tarde; depois trouxe quase todo o exército do Oriente na sua campanha do
Egito, na qual foi derrotado por Nicetas. Os persas aproveitaram-se desta situação e ocuparam territórios
significativos nas províncias orientais, chegando mesmo a penetrar na Anatólia.
Em 610 Heráclio o Jovem alcançara Constantinopla, e a maior parte dos militares leais a Focas ou tinham
sido derrotados ou tinham mudado de lado. Alguns aristocratas bizantinos vieram ao encontro de Heráclio
nas proximidades da capital e aclamaram-no imperador. Ao entrar em Constantinopla os Excubitores,
uma unidade de elite da guarda imperial comandada por Prisco, genro de Focas, desertou em massa para
Heráclio, que se conseguiu apoderar da cidade sem grande resistência. Focas foi capturado e trazido
perante Heráclio, que lhe perguntou: "É assim que tens governado, infeliz?" Focas replicou, "E tu,
governarás melhor?" Furioso, Heráclio matou e decapitou Focas, cujo corpo foi mutilado, arrastado pelas
ruas de Constantinopla e em seguida queimado.
Deste momento até o fim da história do Império Bizantino, ocorreu uma crescente valorização da cultura
grega, tendo um desligamento das instituições latinas. O latim deixa de ser a língua predominante sendo
substituído pelo grego.
Durante o século VII, sob o governo de Heráclio (610–641), o latim foi oficialmente substituído pelo
grego como língua oficial do império romano do Oriente em 630.
O novo imperador enfrentou sérios problemas nas fronteiras, com os ávaros ao longo do Danúbio e a
Pérsia a leste. O exército persa tomou Damasco, Jerusalém e o Egito e chegou até Calcedônia, à margem
do Bósforo.
Heráclio dedicou-se então a reorganizar o exército bizantino. Desenvolveu o conceito de outorgar terras a
indivíduos em troca de serviço militar hereditário. As terras concedidas foram organizadas em themata
(thema, no singular), palavra grega aplicada a unidades de terra agrícola pertencentes ao Estado,
entregues a soldados, administradas por governadores militares (strategos) e fornecedores de recrutas por
meio do serviço militar hereditário. Este sistema garantiu a sobrevivência do Império Bizantino por
séculos e permitiu a Heráclio reconquistar o território tomado pelos persas.
Heráclio abandonou o uso do vetusto título de "Augusto", adotando o de "Rei dos Reis", à moda persa.
Mais tarde, passou a empregar o título de Basileus, termo grego que significa "rei" e que foi aplicado aos
imperadores bizantinos por 800 anos.
No final de seu reinado, as províncias da Síria, Palestina e Egito foram perdidas para os árabes, unificados
por Maomé.
Após a morte de Heráclio subiu ao trono imperial seus dois filhos: Constantino III e Heraclonas.
Constantino III chegou há morrer quatro meses após o inicio de seu reinado (maio de 641) por
tuberculose deixando Heraclonas como imperador único. Contudo, a mãe de Heraclonas, Martina
(segunda mulher de Heráclio) foi acusada de envenenar Constantino III levando a deposição de
Heraclonas em setembro de 641. Subiu ao trono o filho de Constantino III, Constante II.
Constante II ascendeu ao trono em 641, após um breve período de turbulência e de lutas de poder dentro
da família imperial. Constante II sucedeu ao trono com apenas 11 anos de idade. No âmbito exterior do
Império Bizantino, estava suportando as ofensivas do califado árabe que tinha tomado em alguns anos as
províncias da Síria, Palestina e Mesopotâmia além de ameaçar o Egito.
Durante os primeiros anos de reinado de Constante II, parece que o poder esteve na mão do Senado, que
teve pela última vez em sua história poder política real. Esta fase histórica se finalizou em 648 quando o
imperador alcançou a maior idade. Constante II fez um grande esforço para defender um império
ameaçado que poderia sucumbir às mãos dos exércitos árabes. Os árabes conquistaram o Egito entre 641
e 642, durante os tumultuosos anos que seguiram a morte de Heráclio e as lutas pelo trono entre seus
filhos.
Durante os primeiros anos do reinado de Constante II, os árabes asseguraram suas conquistas da Armênia
e Egito e construíram uma frota naval para enfrentar os bizantinos. A partir de 649 os árabes começaram a
atacar as ilhas bizantinas do Mediterrâneo tendo assumindo o controle do Chipre.
Em 655 a frota bizantina, comandada pessoalmente por Constante II, foi derrotada na recém criada força
naval árabe na Batalha de Finike, que acabou com o mito da invulnerabilidade da frota bizantina. No
entanto, a ofensiva muçulmana foi interrompida com a morte do califa Uthman em 656, que abriu um
período de guerra civil dentro do Califado.
Estabilizada sua fronteira Oriental, Constante II voltou seu olhar para o Ocidente, fazendo uma expedição
militar no ano de 658 contra as tribos eslavas que tentaram infiltrar-se na Península Balcânica chegando a
derrotá-las no Danúbio. Esta vitória permitiu retardar a infiltração eslava no território balcânico.
Na política religiosa Constante II entrou em conflito direto com o papado. Seu avô Heráclio havia
imposto a doutrina do monotelismo, como uma forma de compromisso entre o monofisismo e a ortodoxia
cristã. No entanto, o monotelismo havia causado uma rejeição total no ocidente que dominava a ortodoxia
liderada pelo papa. O imperador manteve a validade da doutrina monotelista e para por fim as discussões
sobre o assunto em 648 emitiu o Édito de Typos, que proibia qualquer discussão sobre a natureza de
Cristo. A promulgação do édito causou rebeliões nas províncias bizantinas da Itália e da África, que
foram reprimidas pelo imperador. A ultima delas contou com o apoio direto do papa Martinho I
Entre 661 e 662, o imperador se mudou para a Itália. Existem varias especulações sobre os reais motivos
de tal mudança. Parece que o imperador queria redirecionar o centro de seu império em províncias
ocidentais diante a ameaça muçulmana. Outros consideram que o imperador havia adquirido muitos
inimigos em Constantinopla, buscando alojar-se longe deles. Constante II havia se tornado o primeiro
imperador a visitar Roma desde Focas no inicio do século VII. Na Itália, Constante II se confrontou com
os lombardos que haviam dominado o norte da Península Itálica. Terminou por ser derrotado por eles,
deixando a Itália e se estabelecendo em Siracusa (Sicília), onde este mudou a capital imperial, uma
decisão que se transformou em uma decisão extremamente impopular.
Para evitar problemas sucessórios, Constante II assassinou seu irmão Teodósio e nomeou seus filhos
Constantino, Heráclio e Tibério como co-imperadores. Em 15 de setembro do ano 668 foi assassinado em
Siracusa por um servente enquanto estava no banho. Constante II foi sucedido por seu filho Constantino
IV que voltou a capital imperial para Constantinopla.
A primeira tarefa que coube ao novo imperador foi à repressão da revolta militar na Sicília que fora a
causa da morte do seu pai. Sete meses depois da sua subida ao trono, Constantino IV tinha lidado com a
insurreição com o apoio do papa Vitaliano. Este sucesso foi, no entanto, ensombrado por problemas mais
graves na parte asiática do império.
Já desde 668 o Califa Muawiyah I enviara um exército comandando pelo seu filho Yazid contra o Império
Bizantino. Yazid alcançou a Calcedônia e tomou a importante cidade bizantina de Amorium. Embora os
bizantinos tivessem recuperado rapidamente a cidade, os árabes atacaram em seguida Cartago e a Sicília
em 669. Em 670, os árabes capturaram Cízico e aí estabeleceram uma base a partir da qual lançaram
ataques posteriores ao coração do Império. A sua armada capturou Esmirna e outras cidades costeiras em
672. Por fim, nesse mesmo ano, os árabes enviaram uma grande armada para atacar Constantinopla.
Enquanto o imperador Constantino se ocupava desta invasão, os eslavos tentaram atacar Tessalônica,
embora sem sucesso.
Constantinopla suportou o cerco dos árabes até 678, quando os bizantinos empregaram fogo grego pela
primeira vez na história para destruir a frota árabe na Batalha de Silaeum, na Panfília. Os árabes
retiraram-se, e foram derrotados quase ao mesmo tempo em terra, na Lícia, uma região da Anatólia. O
califa aceitou então, como condições da paz, abandonar as ilhas do mar Egeu recentemente conquistadas e
pagar ao imperador o tributo anual de cinquenta escravos, cinquenta cavalos e 3.000 libras de ouro.
Com o afastamento, pelo menos temporário, da ameaça árabe, Constantino também teve de dedicar a sua
atenção às questões eclesiásticas, uma vez que a Igreja estava dividida entre o monotelismo e a ortodoxia.
Em novembro de 680, Constantino convocou o Terceiro Concílio de Constantinopla (o sexto concílio
ecumênico), no qual se reafirmaram as doutrinas ortodoxas do Concílio de Calcedônia de 451. O concílio
resolveu assim a questão do monotelismo, até porque, convenientemente para a paz interna do império, a
maior parte dos monotelistas encontrava-se em território agora governado pelo califado omíada. O
concílio foi dado por encerrado em setembro de 681.
Os seus irmãos Heráclio e Tibério tinham sido coroados, juntamente com Constantino, augustos a pedido
das multidões, mas Constantino mandou que os mutilassem em 681 para que desta forma não pudessem
ascender ao trono. Ao mesmo tempo, Constantino associou ao trono o seu jovem filho Justiniano II.
Constantino morreu de disenteria em setembro de 685. Em 685, Justiniano II sucedeu ao seu pai, como
único imperador, com 16 anos de idade.
Graças às vitórias de Constantino IV, a situação nas províncias orientais quando Justiniano II subiu ao
trono era estável. Depois de um ataque preliminar contra os árabes na Armênia, Justiniano conseguiu
aumentar a quantia paga pelos Califas Omíadas como tributo anual, e ainda recuperou o controlo de parte
do Chipre. Em 687, como parte dos seus acordos com o califado, Justiniano deslocou do Líbano, 12.000
cristãos maronitas, que resistiam permanentemente ao domínio muçulmano.
Justiniano aproveitou a paz a Oriente para reconquistar territórios nos Bálcãs, então quase inteiramente
dominados pelas tribos eslavas. Em 687 Justiniano transferiu tropas de cavalaria da Anatólia para a
Trácia. Numa grande campanha militar entre 688 e 689 derrotou os búlgaros na Macedônia e conseguiu
finalmente tomar Tessalônica, a segunda maior cidade bizantina na Europa.
Os eslavos subjugados foram reinstalados na Anatólia, onde deveriam constituir um exército de 30.000
homens. Encorajado pelo aumento das suas tropas na Anatólia, Justiniano decidiu lançar uma nova guerra
contra os árabes. Justiniano venceu uma batalha na Armênia em 693, mas as suas novas tropas foram
subornadas pelos árabes e revoltaram-se. O imperador derrotou os revoltosos eslavos, mas a guerra contra
os árabes estava perdida, e aqueles conquistaram a Armênia entre 694 e 695.
Entretanto, a feroz perseguição que o imperador movia ao maniqueísmo e a supressão das tradições
populares de origem não-Ortodoxa causaram cisões dentro da Igreja. Em 692, Justiniano convocou o
chamado Concílio Quinisexto em Constantinopla para consubstanciar a sua política, com a qual
comprometeu as relações com a Igreja Católica. O imperador ordenou a prisão do papa Sérgio I; o seu
exército de Ravenna revoltou-se e passou para o lado do papa.
Durante o seu impopular reinado, Leôncio evitou qualquer atividade militar, tentando reorganizar o
império; esta inatividade e a postura defensiva levaram a que Abd al-Malik enviasse uma expedição para
tomar Cartago, que caiu em 697. Leôncio enviou então o almirante João o Patrício para reconquistar
Cartago; embora tivesse conseguido conquistar o porto e a maior parte da cidade, reforços árabes
repeliram as suas forças até Creta. Receosos do castigo que Leôncio lhes infligiria, os soldados se
revoltaram contra João e aclamaram Tibério Apsimar, o drungário dos cibireotas, e declararam-se contra
Leôncio em 698; tiveram êxito em tomar Constantinopla uma vez que a cidade varrida pela peste lhes
abriu as portas. O imperador foi deposto, mutilado por Tibério III, e aprisionado no mosteiro de
Psamátion em Constantinopla. Leôncio veio a ser exibido pelas ruas da cidade e executado quando
Justiniano II foi restaurado em 705.
Enquanto foi imperador, Tibério III ignorou a África, onde Cartago estava agora irremediavelmente
perdida, mas atacou o califado omíada de Abd al-Malik no Oriente, obtendo pequenas vitórias em
incursões na Síria em 701. As represálias árabes em 703 e 704 a partir da Cilícia foram repelidas.
Entretanto, em 704, Justiniano II fugiu do seu exílio e conseguiu regressar a Constantinopla com a ajuda
de Tervel da Bulgária em 705. Justiniano, depois de ter entrado na cidade, recuperou as rédeas do poder
rapidamente e mandou executar Tibério. Pouco depois a mesma pena foi aplicada a Heráclio, irmão do
imperador, o qual tinha sido nomeado strategos do thema Anatólico.
O segundo reinado de Justiniano foi marcado por uma guerra desastrosa contra os búlgaros e contra o
califado árabe, e ainda pela cruel repressão da oposição interna. Em 708, Justiniano virou-se contra o seu
César Tervel e invadiu a Bulgária, com o objetivo de recuperar os territórios cedidos em 705. Os
bizantinos foram derrotados, bloqueados em Anquíalo, e obrigados a retirar-se. A esta derrota seguiram-
se vitórias dos árabes na Ásia Menor, onde as cidades da Cilícia caíram nas mãos dos califas, que
atingiram a Capadócia em 709–711.
expansão muçulmana as custas bizantinas.
Justiniano estava mais preocupado em castigar os seus súditos de Ravenna e de Quersoneso. Ordenou ao
papa João VII que reconhecesse as decisões do Concílio Quinisexto e ao mesmo tempo mandou equipar
uma expedição punitiva contra Ravenna em 709. A repressão teve êxito, e o novo papa Constantino
deslocou-se a Constantinopla em 710, cedendo a algumas das exigências do imperador e restabelecendo
as relações entre o Império e a Santa Sé. Esta seria a última visita de um papa à cidade até a visita de
Paulo VI em 1967.
A tirania de Justiniano provocou mais uma revolta contra ele. Quersoneso revoltou-se e, comandada pelo
general exilado Bardanes, a cidade aguentou o contra-ataque das forças leais ao imperador e estas até se
passaram para o lado dos revoltosos. Os rebeldes conseguiram então o controlo da capital e proclamaram
Bardanes imperador com o nome de Filípico; Justiniano estava nessa altura a caminho da Armênia e não
pudera regressar a Constantinopla a tempo de defender a cidade. Foi detido e executado fora da cidade em
Dezembro de 711, e a sua cabeça foi enviada a Bardanes como um troféu.
Ao saber da morte de Justiniano II, a mãe do imperador levou Tibério, co-imperador e filho de Justiniano
II, com seis anos de idade, para a igreja de Santa Maria em Blaquernas, mas foi perseguida pelos sicários
de Filípico, os quais, tendo arrastado a criança para fora da igreja, mataram-na, extinguindo assim a
linhagem de Heráclio.
Um dos seus primeiros atos de Filípico como imperador foi depor o patriarca ortodoxo Ciro, a favor de
João VI, membro da sua seita, e convocar um conciliábulo de bispos orientais, o qual aboliu os cânones
do Terceiro Concílio de Constantinopla (sexto concílio ecumênico). Em reação, a Igreja Católica recusou-
se a reconhecer a legitimidade do imperador e do seu patriarca.
Tervel da Bulgária saqueou a Trácia até as portas de Constantinopla em 712. Quando Filípico transferiu
um exército do thema de Opsikion para defender os Bálcãs, o califa omíada Al-Walid I começou a fazer
incursões através das defesas enfraquecidas da Ásia Menor.
Em finais de maio de 713 as tropas do Opsikion revoltaram-se. Alguns dos seus oficiais penetraram no
palácio imperial e cegaram Filípico a 3 de Junho de 713. Foi sucedido pelo seu secretário Antêmio, que
reinou como Anastácio II.
Pouco depois da sua subida ao trono Anastásio II tomou medidas para restaurar a disciplina do exército e
executou os oficiais que tinham estado diretamente envolvidos na conspiração que depôs Filípico.
O império, livre, por algum tempo, da ameaça dos búlgaros na Trácia, era agora ameaçado pelos árabes
tanto por mar como por terra, e as incursões daqueles chegaram a penetrar na Galácia em 714. Anastácio
tentou re-estabelecer a paz pela via diplomática. Perante o fracasso dos seus emissários em Damasco,
Anastácio mandou reforçar as muralhas de Constantinopla e ordenou a construção de uma nova frota. No
entanto, a morte do califa Al-Walid I em 715 deu a oportunidade a Anastásio de atacar os Omíadas: a
frota foi enviada para se concentrar em Rodes, com ordens não apenas para resistir a qualquer avanço
muçulmano por mar como também para atacar e destruir as instalações de apoio à navegação que os
árabes lá tinham instalado, e um exército foi enviado, por terra, pela Anatólia em direção à Síria, sob o
comando de Leão, o Isáurico, que viria mais tarde a ser o imperador Leão III e o fundador da dinastia
Isáurica.
As tropas do thema do Opsikion, descontentes com as medidas disciplinadoras do imperador, e tendo
ganho, ao que parece, um claro gosto pela rebelião, amotinaram-se, assassinaram o Grande Logoteta
(almirante) João e proclamaram imperador Teodósio, um cobrador de impostos de baixa condição que
encontraram e que, por razões que são ainda inteiramente claras, decidiram aclamar. Depois de um cerco
de seis meses, Teodósio entrou em Constantinopla; Anastácio, que se refugiara em Nicéia, foi obrigado a
submeter-se ao novo imperador em 716 e retirou-se para um mosteiro em Tessalônica.
Pouco se sabe do curto reinado de Teodósio. Viu-se imediatamente confrontado com uma invasão árabe
da Anatólia e com o avanço das armadas árabes. Em 716, assinou um tratado com Kormesi da Bulgária
que era mais favorável aquele, num esforço para obter o seu apoio contra a invasão árabe. Esta política
teve êxito em 719, quando os búlgaros ajudaram a levantar o segundo cerco árabe a Constantinopla.
Em 717, o strategos do thema Anatólico, Leão, o Isáurico (o futuro Leão III, revoltou-se contra Teodósio
em conjura com Artabasdo, o strategos do thema Armênio. O filho de Teodósio foi capturado por Leão
em Nicomédia, e o imperador preferiu abdicar do trono a 25 de março de 717. Quer ele quer o filho
tomaram então votos monásticos.
Leão III foi denominado "Salvador do Império" por ter salvado Constantinopla quando esta foi assediada
pelos árabes. Intolerante em termos religiosos, Leão III combateu o culto às imagens (movimento
iconoclasta), procurando enfraquecer o poder dos mosteiros. Leão e seu filho Constantino V fecharam
conventos, confiscaram bens do clero e realizaram desfiles de monges no hipódromo.
A iconoclastia de Leão III se misturava com as suas tendências antimonásticas. As terras e demais
propriedades eclesiásticas tinham isenção de impostos e a multidão de monges significava, para o
imperador, diminuição de soldados e de camponeses. O interesse político e o interesse econômico do
imperador era diminuir o poder dos monges e aumentar a renda do Estado. Além disso, o imperador era
contra o culto às imagens religiosas. Dessa forma, os monges começaram a ser tratados como inimigos do
Estado.
Em 726 ocorreu uma erupção vulcânica, a qual foi interpretada como castigo do divino devido à idolatria.
Baseado nisso, o imperador fez uma lei contra as imagens, que passaram a ser destruídas. Teve inicio a
denominada política eclesiástica.
Este imperador, que defendeu tão bem as fronteiras do império e foi tão cruel nas perseguições religiosas,
foi exatamente tolerante em termos legislativos. O Código de Écloga (seleção de leis), atribuído a Leão
III, simplificou e abandou o Código de Justiniano, substituindo a pena de morte por toda uma série de
castigos corporais e instituindo verdadeira proteção à família, à mulher e às crianças.
O sucessor de Leão III foi eu filho Constantino V. Sua sucessão foi calma, mas logo sua autoridade foi
posta em cheque.
Constantino cruzava a Ásia Menor para lutar contra o califa Hisham ibn Abd al-Malik, em 741 ou 742
quando foi atacado pelas forças de seu cunhado, Artabasdo. Derrotado, Constantino buscou refúgio em
Amorium, enquanto o vitorioso chegava a Constantinopla e era coroado novo imperador.
Artabasdo abandonou a política de iconoclastia do seu antecessor e restaurou a ortodoxia com o apoio do
papa Zacarias. Pouco depois da sua subida ao trono, Artabasdo nomeou sua esposa Ana Augusta e o seu
filho Nicéforo co-imperadores, enquanto atribuía o comando do thema armênio ao seu filho mais novo
Nicetas. Mas enquanto Artabasdo podia contar com o apoio dos themata da Trácia e do Opsikion,
Constantino obteve o apoio dos thema Anatólico e Tracésio.
O choque inevitável ocorreu em maio de 743, quando Artabasdo lançou uma ofensiva contra Constantino
mas foi derrotado. Mais tarde, nesse mesmo ano, Constantino derrotou Nicetas e a 2 de novembro de 743
Artabasdo foi aprisionado quando Constantino V entrou de novo na sua capital. Artabasdo e os seus
filhos foram cegados em público e postos em reclusão no mosteiro de Cora nos arredores de
Constantinopla.
Em 754, Constantino reuniu um sínodo em Hieria, que era formado basicamente de bispos iconoclastas.
O sínodo aprovou as novas leis religiosas e um novo patriarca, também iconoclasta. Seguiu-se uma
campanha para remover imagens de igrejas e uma perseguição a monges, que, em sua maioria, eram
iconófilos. Muitos monges fugiram para a Itália e para a Sicília. A repressão aos ícones chegou ao limite
quando as imagens começaram a ser consideradas heresia. Constantino, um hábil general, reorganizou o
império e também seu exército para que não acontecessem mais revoltas. Desse modo, partiu para novas
conquistas.
Em 746, Constantino invadiu a Síria e realocou os cristãos nos Bálcãs. Em 745, entrou em guerra com o
Império Búlgaro e venceu várias batalhas. No último desses ataques, morreu em 14 de setembro de 775.
Os iconófilos consideraram sua morte uma bênção divina. No século IX, seus restos mortais foram
desenterrados e jogados ao mar. Seu filho Leão IV o sucedeu.
Durante o seu curto reinado Leão combateu o califado abássida de Al-Mahdi. O imperador enviou tropas
para a Síria sob o comando de Miguel Lacanodrácon em 776 e 778. No entanto, as forças abássidas
conseguiram fazer incursões na Anatólia em 776, 779 e 780.
Ao contrário dos seus pai e avô, Leão mostrou-se bastante tolerante para com os iconódulos e colocou no
Patriarcado de Constantinopla um iconófilo. Só no final do seu reinado, em 780, é que mandou torturar e
executar uma série de oficiais iconódulos. Seguindo o exemplo do seu pai, preparou uma expedição
contra os búlgaros de Kardam, mas morreu antes de obter quaisquer resultados.
Leão foi muito influenciado pela sua mulher a imperatriz Irene, e quando morreu subitamente em 780 foi
a ela que coube a guarda do seu filho e sucessor, Constantino VI.
Constantino foi coroado co-imperador pelo seu pai em 776, e sucedeu-lhe aos nove anos de idade sob a
regência de Irene em 780.
Em 782, foi prometido a Rotrude, filha de Carlos Magno, rei dos francos, e da sua terceira mulher
Hildegarda de Saboia. Irene rompeu o noivado em 788. Em 787, Constantino assinara os decretos do
Segundo Concílio de Nicéia, mas parece ter-se inclinado mais para a iconoclastia. Por esta altura
Constantino já cumprira 16 anos de idade, mas a sua mãe não lhe entregou o poder.
Depois de uma rebelião contra Irene ter fracassado na Primavera de 790, a imperatriz tentou obter o trono
para si mesma. O plano não resultou e Constantino, à frente de tropas leais, assumiu o governo em 790,
depois de as tropas armênias se terem revoltado contra Irene. Ainda assim Irene pôde conservar o título
de imperatriz, que lhe foi confirmado em 792.
A fraqueza de Constantino provocou o descontentamento dos seus partidários. Revelou covardia depois
das derrotas perante Kardam da Bulgária em 791 e 792. Criou-se uma facção de apoiantes do seu tio, o
césar Nicéforo. Constantino mandou vazar os olhos do tio e rasgar as línguas dos outros quatro irmãos do
seu pai. Quando mandou cegar Aleixo Mosele, o comandante dos armênios, as tropas sob o seu comando
revoltaram-se contra ele. Conseguiu suprimir esta revolta com enorme crueldade em 793.
Papa Leão III coroando Carlos Magno, durante a ausência de um imperador no trono bizantino.
Divorciou-se da sua esposa Maria, que não conseguira dar-lhe um herdeiro varão, e casou-se com a sua
amante Teódota, numa decisão impopular e provavelmente ilegal, embora o patriarca Tarásio de
Constantinopla a tivesse deixado passar em claro. Com esta atuação, Constantino perdeu todos os apoios
que ainda tinha quer entre os ortodoxos quer entre os iconoclastas.
Em 797, Constantino foi aprisionado e cegado pelos apoiantes da sua mãe. Segundo alguns historiadores
o imperador morreu dos ferimentos infligidos, deixando Irene como única governante do império.
Imperatriz Irene.
Em outubro de 802, uma conspiração depois Irene e colocou no trono Nicéforo I, que havia sido ministro
de finanças. A imperatriz foi exilada na ilha de Lesbos, onde morreu um ano depois. Por sua decisão de
restaurar o culto as imagens, é considerada uma santa pela Igreja Ortodoxa.
Para perpetuar a sua dinastia no trono imperial de Bizâncio, Nicéforo associou ao seu trono o seu filho
Estaurácio em 803.
O seu governo foi ameaçado por Bardanes Turcos, um de seus melhores generais, que se revoltou e foi
apoiado por outros oficiais superiores, em especial pelos mais tarde imperadores Leão V, o Armênio, e
Miguel II, em 803.
Nicéforo conseguiu vencer os opositores e, tendo logrado dispersar o exército inimigo, obteve a
submissão de Bardanes, que foi enviado para um mosteiro. Uma conspiração encabeçada pelo patrício
Arsaber teve um final semelhante.
Nicéforo empreendeu uma reorganização geral do império, criando novos themas nos Bálcãs (onde
reiniciou a re-helenização da região através da deslocação para a península, de populações anatólicas) e
fortalecendo as regiões fronteiriças. Carecendo de enormes quantias de dinheiro para os seus projetos
militares, Nicéforo dedicou-se ativamente a reestruturar as fontes de receita do império. Granjeou o
desfavor dos seus súbditos (e em especial do clero, que tentou controlar mais firmemente) através da sua
rigorosa e exigente política fiscal. Embora tivesse nomeado o iconódulo Nicéforo I para patriarca de
Constantinopla, o imperador Nicéforo I foi retratado na historiografia eclesiástica como um vilão por
Teófanes o Confessor.
Em 803, Nicéforo concluiu um tratado intitulado a "paz de Nicéforo" (Pax Nicephori), com Carlos
Magno, mas recusou-se a reconhecê-lo como imperador. As relações externas deterioraram-se e
conduziram à guerra por causa de Veneza no período 806–810. Neste processo, Nicéforo esmagou uma
revolta na cidade em 807, mas sofreu pesadas baixas infligidas pelos francos. O conflito foi sanado depois
da morte de Nicéforo, e Veneza, a Ístria, a costa da Dalmácia e o sul de península Itálica foram atribuídos
ao Oriente, enquanto que Roma, Ravenna e a Pentápole foram incluídas no império do Ocidente.
Krum da Bulgária.
Tendo deixado de pagar o tributo que a imperatriz Irene se sujeitava a pagar ao califa Harun al-Rachid,
Nicéforo despoletou uma guerra contra os árabes. Forçado a tomar o comando pessoal dos seus exércitos
pela deslealdade de Bardanes, Nicéforo foi severamente derrotado na Batalha de Crassos, na Frígia, em
805, e as subsequentes incursões árabes na Ásia Menor compeliram-no a pedir a paz oferecendo um
tributo anual de 30.000 moedas de ouro. O califado abássida viu-se envolvido em lutas de sucessão
dinástica depois da morte de Harun al-Rachid em 809, e Nicéforo pôde dedicar-se a lidar com Krum da
Bulgária, que incessantemente assaltava as fronteiras norte do Império e que tomara Serdica (a atual
Sófia).
Nicéforo invadiu a Bulgária em 811, derrotou Krum por duas vezes e saqueou sua capital Pliska. No
entanto, enquanto Nicéforo retornava da campanha, o exército bizantino caiu numa emboscada e foi
destruído nos desfiladeiros das montanhas na Batalha de Pliska, a 26 de Julho de 811. Nicéforo morreu
nessa batalha, tendo sido o segundo imperador romano a sofrer essa sorte desde Valente, morto na
Batalha de Adrianópolis em 9 de agosto de 378. O filho do imperador, Estaurácio, conseguiu reunir os
sobreviventes do exército imperial e conduziu a retirada até Andrinopla, muito embora estivesse ele
próprio gravemente ferido.
A derrota de Plisca foi um golpe duríssimo para o império e diz-se que Krum fez do crânio de Nicéforo
uma taça, com a qual brindou à vitória obtida, antes de se preparar para pôr cerco à própria cidade de
Constantinopla.
Estaurácio ficou paralisado por um golpe de espada no pescoço, e foi salvo pela guarda imperial em
retirada. Por causa da incerteza quanto ao seu estado de saúde foi coroado formalmente em Andrinopla,
na primeira coroação a ter lugar fora de Constantinopla desde a queda do Império Romano do Ocidente
em 476.
Por causa da sua ferida debilitante, Estaurácio nunca pôde exercer de fato o poder. À medida que a sua
saúde se degradava, a corte dividiu-se entre as facções da sua mulher Teófano e da sua irmã Procópia, a
qual esperava que o seu marido Miguel viesse a ser escolhido como sucessor de Estaurácio. Quando se
tornou evidente que Estaurácio queria designar como sua sucessora Teófano (ou então abolir o império e
proclamar a república), os partidários de Miguel obrigaram o imperador a abdicar a 2 de Outubro de 811.
Estaurácio foi viver em um mosteiro, onde morreu a 11 de Janeiro de 812.
Miguel I tentou pôr em prática uma política de reconciliação, reduzindo a pesada tributação fiscal imposta
por Nicéforo I. Ao mesmo tempo em que reduzia as receitas do império, Miguel distribuía dinheiro
generosamente ao exército, à administração pública e à Igreja. Eleito com o apoio do partido Ortodoxo no
seio da Igreja, Miguel perseguiu os iconoclastas e obrigou o patriarca Niceforo a recuar na sua disputa
com Teodoro de Studion, o influente abade do mosteiro de Studion. A piedade de Miguel valeu-lhe uma
apreciação muito positiva da parte de Teófanes o Confessor.
Em 812, Miguel I reiniciou conversações com os francos e reconheceu Carlos Magno como "basileus
(imperador) dos francos", em troca da devolução de Veneza e da Ístria ao Império Bizantino. No entanto,
influenciado por Teodoro, Miguel rejeitou as pazes com Krum, o que provocou a tomada de Mesembria
(Nesebar) pelos búlgaros. Depois de alguns êxitos iniciais na Primavera de 813, o exército de Miguel
preparou-se para uma grande batalha em Versinikia, perto de Andrinopla, em Junho desse ano.
Os bizantinos foram postos em fuga e a posição do imperador ficou seriamente comprometida. Evitando
conspirações contra a sua vida, Miguel atalhou a questão abdicando a favor do general Leão o Armênio e
tomando em seguida votos eclesiásticos (sob o nome de Atanásio). Os seus filhos foram castrados e
encerrados em mosteiros, e um deles, Nicetas (com o novo nome de Inácio), chegou a tornar-se patriarca
de Constantinopla. Miguel morreu pacificamente em janeiro de 844.
Com Constantinopla sujeita a cerco terrestre por Krum, Leão V tornou-se imperador numa situação
precária para o império. Propôs negociar em pessoa com o invasor e tentou fazê-lo cair numa emboscada.
O estratagema falhou, e embora Krum tivesse abandonado o cerco da cidade, capturou e despovoou
Andrinopla e Arcadiópolis (Lüleburgaz). Quando Krum morreu na Primavera de 814, Leão V derrotou os
búlgaros nos arredores de Nesebar e os dois Estados firmaram pazes para 30 anos em 815.
Como a política iconódula dos seus antecessores estava associada com as derrotas às mãos dos búlgaros e
dos árabes, Leão V reinstituiu a iconoclastia depois de depor o patriarca de Constantinopla Nicéforo I e
de convocar um sínodo para Constantinopla em 815. O imperador utilizou a sua política iconoclasta para
confiscar os bens de iconódulos e de mosteiros, tais como o rico mosteiro de Studion, cujo influente
abade iconódulo, Teodoro de Studion mandou para o exílio.
Leão V nomeou comandantes militares competentes de entre os seus próprios antigos camaradas de
armas, incluindo Miguel, o Amoriano e Tomás, o Eslavo. Também perseguiu os paulicianos. Quando
Leão mandou encarcerar Miguel por suspeitas de conspiração, este último fugiu da prisão e organizou o
assassinato do imperador na catedral de Santa Sofia no dia de 25 de dezembro de 820.
Leão estava a rezar sozinho diante do altar, com guardas no exterior da igreja. Os conspiradores
disfarçaram-se de padres e de monges, comandados por Miguel, que tinha sido libertado pelos seus
partidários apenas horas antes dos acontecimentos. Leão ainda tentou defender-se dos atacantes com uma
grande cruz de madeira numa mão e um turíbulo na outra, mas o imperador acabou por sucumbir aos
ferimentos. Miguel foi imediatamente aclamado imperador, enquanto as grilhetas ainda pendiam dos seus
pulsos.
Foi nesta altura que Omurtag da Bulgária veio em auxílio de Miguel II e forçou Tomás a levantar o cerco
na primavera de 823. Cercado por sua vez em Arcadiópolis (Lüleburgaz), Tomás foi entregue ao
imperador e executado em outubro. Apesar de ter suportado a crise, Miguel deparou-se com um grande
enfraquecimento das defesas do império, e não conseguiu impedir a conquista de Creta pelos árabes em
824, nem logrou reconquistar a ilha através de uma expedição lançada em 826. Os árabes invadiram a
Sicília em 827, tirando partido das lutas internas locais, e sitiaram Siracusa. Em 829 tinham, no entanto já
sido expulsos da ilha.
Imperador Teófilo.
Depois da morte de Tecla, Miguel II casou-se, por volta de 823, com Eufrósine, a filha de Constantino VI.
O propósito deste casamento era provavelmente o de fortalecer a posição de Miguel no trono, mas
defrontou-se com a oposição do clero, uma vez que Eufrósine tinha sido freira. Miguel II faleceu a 2 de
outubro de 829. O sucessor de Miguel II foi seu filho de primeiro casamento Teófilo.
Teófilo demonstrou ser um iconoclasta fervoroso. Em 832, fez publicar um édito proibindo
terminantemente a veneração dos ícones; porem as histórias sobre o seu tratamento cruel dos iconódulos
recalcitrantes são tão radicais que levam alguns a pensar que são exageros. Teófilo também se via a si
próprio como um campeão da justiça, que dispensava ostentosamente, mandando executar os co-
conspiradores do seu pai pouco depois da sua subida ao trono. A sua reputação como juiz perdurou, e
Teófilo é representado como um dos juízes do outro mundo na obra literária Timarion.
Na altura da sua subida ao trono Teófilo viu-se obrigado a combater os árabes em duas frentes diferentes.
A Sicília fora mais uma vez invadida pelos árabes, que tomaram Palermo em 831, depois de um ano de
assédio. Estabeleceram o Emirado da Sicília e continuaram a expandir-se gradualmente pela ilha. No
outro extremo do império, a fronteira da Anatólia era ameaçada pelo califa Abássida Al-Ma'mun e o
imperador acorreu em pessoa, mas os bizantinos foram derrotados e perderam o controlo de várias
fortalezas. Em 831, Teófilo conduziu um grande exército numa invasão da Cilícia e capturou Tarso. O
imperador regressou a Constantinopla em triunfo, mas no outono desse ano o inimigo derrotou-o na
Capadócia. Novas derrotas nessa província em 833 obrigaram Teófilo a oferecer condições de paz, as
quais foram aceites no ano seguinte, depois da morte de Al-Ma'mun.
Durante o período de calma na guerra contra os abássidas, Teófilo planeou o resgate dos cativos
bizantinos levados para norte do Danúbio por Krum, rei dos búlgaros. As operações de resgate foram
levadas a cabo com sucesso em 836, e a paz entre a Bulgária e o Império Bizantino foi rapidamente
restabelecida. Uma situação, no entanto, impossível de replicar a Oriente: Teófilo concedera asilo a um
grupo de refugiados persas em 834, entre os quais se contava Nasr, batizado Teófobo, que se casara com
Irene, tia do imperador, e se tornara general no exército. Com as relações com os abássidas em nítida
deterioração, Teófilo preparou-se uma vez mais para a guerra.
Em 837, Teófilo liderou uma campanha contra a Mesopotâmia, e tomou Melitene e Samosata. O
imperador tomou também Zapetra, terra natal do califa Al-Mu'tasim, e destruiu a localidade, o que lhe
valeu novo triunfo no regresso a Constantinopla. Ansioso por se vingar, Al-Mu'tasim reuniu um grande
exército e invadiu a Anatólia em 838. Uma das alas do exército derrotou Teófilo em Dazimon, que
comandava pessoalmente o exército, e o imperador escapou por pouco com vida, salvo apenas graças aos
esforços de Teófobo. Outra ala do exército abássida avançou contra Amorium (Amorion), cidade berço da
dinastia bizantina reinante. Depois de resistir durante 55 dias, à cidade caiu nas mãos de Al-Mu'tasim por
traição em 23 de Setembro de 838. 30.000 habitantes foram massacrados, o restante foi vendido como
escravo e a cidade foi arrasada.
Miguel III.
Teófilo nunca se recuperou do golpe; a sua saúde foi-se deteriorando gradualmente, e o imperador morreu
a 20 de Janeiro de 842. O seu caráter tem sido o objeto de muitas discussões, com alguns a considerá-lo
um dos melhores imperadores bizantinos, outros a vê-lo como um simples déspota oriental e um
governante sobreestimado e insignificante. Não há dúvidas de que fez todos os possíveis para contrariar
práticas de corrupção e de abuso de poder por parte dos funcionários da coroa, e que tratou dos assuntos
da justiça com imparcialidade, embora os castigos aplicados por vezes não se adequassem ao crime
cometido.
O sucessor de Teófilo foi seu filho Miguel que já era co-imperador desde 840. Durante a menoridade de
Miguel, o império foi governado pela sua mãe Teodora, pelo seu tio Sérgio e pelo ministro Teoctisto. A
imperatriz tinha simpatias iconódulas e depôs o patriarca João VII, substituindo-o pelo iconódulo
Metódio I em 843. Este fato pôs fim à segunda era de Iconoclastia. A estabilização interna do estado não
teve reflexo, porém, nas suas fronteiras. As forças bizantinas foram derrotadas na Panfília, em Creta e na
fronteira da Síria pelos abássidas, embora a marinha bizantina tenha conseguido uma vitória contra os
árabes em 853. O governo imperial empreendeu o estabelecimento dos paulicianos das fronteiras orientais
na Trácia (afastando-os assim dos seus correligionários e povoando outra região de fronteira) e lançou
uma expedição contra os eslavos do Peloponeso.
À medida que o imperador crescia, os cortesãos em seu redor lutavam por exercer influência sobre ele.
Cada vez mais próximo do seu tio Bardas, Miguel nomeou-o César e autorizou-o a matar Teoctisto em
novembro de 855. Com a ajuda de Bardas, Miguel III derrubou a regência em 15 de Março de 856 e
mandou a sua mãe e as suas irmãs para um mosteiro em 857.
Fócio.
Bardas justificou a usurpação introduzindo várias reformas; Miguel III tomou parte ativa na guerra contra
os abássidas e os seus vassalos na fronteira leste do império (856–863). Em 859 cercou pessoalmente
Samosata, mas em 860 teve de interromper essa campanha para enfrentar um ataque dos russos a
Constantinopla. Miguel foi derrotado pelo califa Al-Mutawakkil em Dazimon em 860, mas em 863 o seu
outro tio Petronas derrotou o emir de Melitene e celebrou um triunfo na capital.
Guiado pelo patriarca Fócio, Miguel patrocinou a missão dos santos Cirilo e Metódio ao Khagan dos
Khazares, num esforço para deter a expansão do Judaísmo entre aquele povo. Embora a missão tenha
fracassado, a sua missão seguinte, em 863, conseguiu a conversão da Moravia e concebeu o alfabeto
glagolítico para transcrever o Eslavônico. Receando a possível conversão de Boris I da Bulgária ao
cristianismo de matriz ocidental, Miguel III e Bardas invadiram a Bulgária e impuseram a Boris a
conversão ao´Cristianismo ortodoxo como parte do tratado de paz em 864.
O Império Bizantino quando morreu Miguel III. Nota: O mapa não mostra que Veneza e uma parte da
Ístria pertenciam, ao menos formalmente, ao Império Bizantino.
O casamento de Miguel III com Eudóxia Decapolitisa não gerou filhos, mas o imperador quis evitar um
escândalo tentando casar com a sua amante de longa data Eudóxia Ingerina. A sua solução para o
problema foi casar Eudóxia Ingerina com o seu favorito e camareiro Basílio. Basílio foi ganhando cada
vez mais influência sobre Miguel, e conseguiu convencer o imperador que o seu tio Bardas estava
envolvido numa conspiração contra ele, o que lhe permitiu assassinar Bardas. Agora sem rivais diretos,
Basílio foi coroado co-imperador em maio de 867 e foi adotado por Miguel III, bem mais novo do que
ele. Esta curiosa iniciativa pode ter tido como objetivo legitimar a sucessão ao trono por Leão, filho de
Eudóxia Ingerina e de Miguel, apesar de Leão ser oficialmente filho de Basílio.
Basílio mandou assassinar Miguel III enquanto este dormia em setembro de 867, e sucedeu-lhe como
único imperador. A má reputação e o cognome com que Miguel III passou à História devem-se sobretudo
à propaganda de Basílio I, como forma de justificar a sua usurpação do poder.
Com a dinastia macedônica, ocorreram reforma políticas e campanhas militares que devolveram ao
Império Bizantino o status de potência após a expansão muçulmana do século anterior.
Basílio I deu início a uma nova era na história do império, associada à dinastia da qual foi o fundador. Foi
um período de expansão territorial, durante o qual o império se tornou no estado mais poderoso da
Europa.
Para reforçar a sua posição e a da sua família no trono, Basílio associou ao trono o seu filho mais velho
Constantino (em 869) e o seu segundo filho Leão (em 870).
Por causa do grande trabalho legislativo que Basílio empreendeu, e que pode ser descrito como um
ressuscitar da legislação de Justiniano I, este imperador é muitas vezes chamado "o segundo Justiniano".
As leis de Basílio foram compiladas na Basilika, que consistia em sessenta livros, e em manuais jurídicos
mais curtos conhecidos como os Prochiron e os Eisagoge. Leão VI completou estas obras jurídicas. A
política financeira de Basílio foi prudente.
A sua política eclesiástica ficou marcada pelas boas relações com Roma. Um dos seus primeiros atos
como imperador foi exilar o patriarca Fócio e repor no seu o lugar o rival daquele, Inácio, cujas
pretensões eram apoiadas pelo papa Adriano II. As boas relações com Roma iam, porém, só até certo
ponto: a decisão de Boris I da Bulgária de sujeitar a nova igreja búlgara ao patriarcado de Constantinopla
foi um grande golpe para Roma, que ambicionava ela própria essa posição. Com a morte, porém, de
Inácio em 877, Fócio retomou o lugar de patriarca e verificou-se um corte material, embora nunca formal,
com Roma. Este foi um acontecimento decisivo nos conflitos que levariam ao Grande Cisma cujos
resultados seriam a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa como entidades separadas.
Miniatura representando uma cena da vida de Basílio.
O choque dos interesses entre a Igreja e Constantinopla, dominada pelo imperador, e a Igreja de Roma,
poderosa e independente, levou a primeira a não mais reconhecer a autoridade da segunda, em 867,
enquanto Fócio era patriarca, sendo intensificada em 877 quando Fócio retornou ao posto de patriarca.
O reinado de Basílio ficou também marcado por uma guerra com os paulicianos da zona de Tephrike no
alto Eufrates, os quais, aliados aos árabes, fizeram razzias até Niceia e saquearam o Éfeso. Cristóvão,
general de Basílio, derrotou-os em 872, e a morte do seu líder Crisóquero ditou a sujeição definitiva do
seu estado. A fronteira oriental de Bizâncio foi reforçada, apesar da costumeira guerra fronteiriça com os
árabes na Ásia Menor. Chipre foi reconquistado, mas conservada durante apenas sete anos.
A Ocidente, Basílio aliou-se ao imperador Luís II contra os árabes e a sua frota acabou com as incursões
daqueles no mar Adriático. Com o auxílio dos bizantinos, Luís II capturou Bari dos árabes em 871. A
cidade viria a tornar-se território bizantino em 876. No entanto, a posição bizantina na Sicília deteriorou-
se e Siracusa foi tomada pelo Emirado da Sicília em 878. Embora a maior parte da Sicília tivesse sido
perdida, o general Nicéforo Focas (o Velho) conseguiu tomar Tarento e boa parte da Calábria em 880. Os
êxitos na península Itálica deram início a um novo período de domínio bizantino na região. Mais
significativamente, os bizantinos começaram a estabelecer uma forte presença no mar Mediterrâneo e em
especial no mar Adriático.
Basílio abateu-se quando o seu filho mais velho e favorito Constantino morreu em 879. Basílio associou
então ao trono o seu filho mais novo Alexandre, por não se dar bem com Leão. O imperador morreu a 29
de Agosto de 886 num estranho acidente de caça em que o seu cinto ficou preso nas hastes de um veado e
Basílio foi derrubado do seu cavalo.
O sucessor de Basílio acabou por ser seu filho Leão VI, o Sábio. Leão terminou a compilação de Basilika,
a tradução grega e atualização do código jurídico de Justiniano I, que havia sido iniciado durante o
reinado de Basílio I.
Leão não obteve tantos êxitos militares como Basílio, que nunca havia sido derrotado pelos búlgaros;
Leão foi derrotado por estes em 894. Em 895 teve mais êxito, após a primeira aliança com os magiares
(húngaros); sem o apoio magiar de 896, os bizantinos seriam derrotados novamente.
Leão se envolveu em um escândalo que remetia seu gosto exagerado por casamentos. O imperador
acabou por casar-se quatro vezes ao longo de seu reinado, tendo criado um titulo político após um deles,
basileopator (pai do imperador), para seu pai político.
Alexandre III.
Em 907, Constantinopla sofreu um ataques dos russos que tentavam conseguir direitos comerciais mais
vantajosos com o império. O imperador pagou a eles para conseguir a paz, mas estes atacaram novamente
o império em 911 conseguindo um tratado comercial com o império. Por outro lado, Leão não teve tanto
êxito contra os árabes que derrotaram a frota bizantina quando esta tentava recuperar Creta em 912. Após
essa derrota, Leão adoeceu e terminou por morrer pouco tempo depois. Como seu filho era menor de
idade, seu irmão e co-imperador nominal Alexandre III tornou-se o novo imperador.
Alexandre demitiu rapidamente a maior parte dos conselheiros e partidários de Leão, incluindo o
almirante Himério, o patrício Eutímio e a imperatriz Zoé Carbonopsina. Durante o seu curto reinado,
Alexandre foi atacado pelas forças de Al-Muqtadir, do califado abássidas a Oriente, e provocou uma
guerra com Simão da Bulgária por se ter recusado a mandar o tradicional tributo quando da subida
daquele ao trono. Alexandre morreu de exaustão depois de um jogo de pólo a 6 de Junho de 913,
cumprindo, diz-se, a profecia do seu irmão de que reinaria apenas durante 13 meses. Seu sucessor foi
Constantino VII (filho de Leão).
As fontes são uniformemente hostis a Alexandre, que é retratado como sendo preguiçoso, insidioso e
malevolente, chegando até a falar de um rumor que corria de que o imperador pretendia castrar o jovem
Constantino VII para afastá-lo do poder.
Constantino VII ascendeu à dignidade imperial aos 7 anos em 913, baixo a regência do patriarca Nicolas,
o Místico. Nicolas se viu obrigado a firmar a paz com o rei da Bulgária Simão I, ao que teve que
reconhecer como imperador da Bulgária. Por causa disso, Nicolas perdeu a regência de Constantino para
a mãe dele, Zoe Karvounopsina.
Zoe tampouco conseguiu êxito algum com os búlgaros e em 919 foi substituída por Romano Lecapeno,
que casou sua filha Helena com Constantino, por onde recebeu o titulo de basileopator (pai do
imperador). Em setembro de 920 Romano foi designado César e em 17 de dezembro do mesmo ano foi
nomeado co-imperador coroado, tornando-se o verdadeiro líder do Império Bizantino.
Nos anos seguintes Romano I nomeou seus filhos como co-imperadores, casou suas filhas com membros
poderosos de famílias aristocráticas para reforçar sua posição e depôs Nicolas, o Místico acabando com o
conflito com o papado sobre os quatro matrimônios de Leão VI.
O primeiro desafio do novo imperador foi o conflito com a Bulgária. A subida de Romano ao poder
acabou com os projetos de Simão de casar sua filha com Constantino VII, além do que Romano negou a
concessão impopular de reconhecimento imperial de Simão I, que havia sido derrubado dos poderes
imperiais. Posteriormente, os primeiros quatro anos do reinado de Romano se caracterizaram com a
guerra contra a Bulgária.
Apesar de Simão ter sido mais poderoso e possuir um número maior de soldados, ele foi incapaz de
ganhar vantagem por causa da força das muralhas de Constantinopla. Em 924, quando Simão havia
bloqueado novamente a capital por terra, Romano foi capaz de abrir negociações com os búlgaros.
Encontrando-se com Simão na pessoa de Kosmidion, Romano criticou a indiferença de Simão para a
tradição e a fraternidade cristã ortodoxa; supostamente Simão ficou tão envergonhado que chegou em um
acordo com o império e levantou cerco.
Em realidade a paz foi alcançada pelo reconhecimento tácito de Romano a Simão como Imperador da
Bulgária. As relações posteriores foram marcadas pela continua discussão por títulos (Simão se
autoproclamava imperador dos romanos, um titulo igual ao dos imperadores bizantinos), contudo, a paz
foi estabelecida eficazmente.
Depois da morte de Simão em 927, o novo imperador búlgaro Pedro I fez um espetáculo de força ao
invadir a Trácia, porem se mostrou disposto a negociar por uma paz mais permanente. Romano
aproveitou a oportunidade e propôs a aliança matrimonial entre as famílias imperiais de Constantinopla e
Bulgária. Em setembro de 927, Pedro se casou com Maria, a filha com co-imperador Cristovão Lecapeno
e neta de Romano I. Sobre esta ocasião Cristóbal recebeu a preferência na linha de sucessão sobre seu
cunhado Constantino VII, o que causou ressentimento a Constantino VII em relação aos Lecapeno, os
búlgaros e os matrimônios imperiais com forasteiros.
A partir desse acordo de paz, o governo de Romano I havia conseguido libertar-se da ameaça de
confrontação direta com a Bulgária. Embora o império tenha apoiado tacitamente uma rebelião sérvia
contra a Bulgária em 931, e os búlgaros permitiram que incursões magiares cruzassem seu território até as
possessões bizantinas, o império e a Bulgária permaneceram em paz durante quarenta anos.
Romano designou o brilhante general João Curcuas comandante dos exércitos da campanha do leste.
Curcuas passou por uma rebelião no thema de Chaldia e interveio na Armênia em 924. Em 926 Curcuas
realizou uma campanha através da fronteira leste contra os abássidas e seus vassalos, conseguindo uma
importante vitória em Melitene em 934. A captura desta cidade é considerada como a primeira
recuperação principal do território por parte do Império Bizantino para os muçulmanos.
Em 941 uma frota de 15 navios liderados por João Curcuas teve que defender Constantinopla de uma
incursão russa, e derrotou os invasores tanto em terra como em mar. Em 944, Romano I realizou um
acordo com o príncipe Igor de Kiev. Depois do problema solucionado, Curcuas voltou sua atenção
novamente para o leste. Em 943 Curcuas invadiu o norte da Mesopotâmia e sitiou a importante cidade de
Edessa em 944. João Curcuas foi considerado como um segundo "Trajano ou Belisário"; foi despedido
depois da caída de Romano I Lecapeno em 945. No entanto, suas campanhas no leste prepararam terreno
para as reconquistas mais dramáticas durante a segunda metade do século X.
Romano I Lecapeno tentou reforçar o Império Bizantino buscando paz em todas as fronteiras do Império
onde era possível. Para proteger a Trácia das incursões magiares, Romano lhes pagou um tributo e
perseguiu lugares diplomáticos.
Os cazares eram aliados do império até o reinado de Romano, quando ele começou a perseguir os judeus
do império. Segundo a Carta Schechter, o governador dos cazares Joseph ben Aaron respondeu a
perseguição dos judeus "se livrar de muitos cristãos" e Romano I tomou represálias ao incitar a Oleg de
Kiev (chamado Helgu na Carta) contra o Estado Khazar.
Além disso, ele havia restaurado a paz dentro da Igreja e tinha acabado com o novo conflito entre Roma e
Constantinopla ao promulgar os Tomos da União. Em 933, Romano aproveitou uma vaga no trono
patriarcal para denotar seu filho mais novo, Teofilacto, patriarca de Constantinopla. O novo patriarca não
alcançou renome por sua piedade e espiritualidade, mas adicionou elementos teatrais à liturgia bizantina,
e foi um criador de cavalos ávido, alegadamente deixando a massa para atender a uma de suas éguas
favoritas que estava dando a luz.
O palacio de Myrelaion.
Romano era ativo como legislador, ao promulgar uma série de leis para proteger as terras dos pequenos
proprietários de serem engolidos pelos estados da nobreza (dynatoi). A reforma legislativa pode ter sida
parcialmente inspirada pelas dificuldades causadas pela fome de 927. O imperador conseguiu aumentar os
impostos, estabelecendo o Estado em um equilíbrio financeiro mais seguro. Romano também foi capaz de
terminar com eficazmente diversas rebeliões em varias províncias do Império.
Em Constantinopla construiu seu palácio em um lugar chamado Myrelaion, próximo do Mar de Mármara.
Ao lado do palácio construiu um lugar santo que seria a primeira igreja de enterro privada de um
imperador bizantino.
O reinado posterior de Romano I foi marcado pelo aumento do interesse no velho imperador no juízo
divino e pelo crescente sentimento de culpa pelo seu papel na usurpação do trono de Constantino VII.
Depois da morte de Cristovão, seu filho mais competente, em 931, Romano não colocou seus filhos mais
novos na frente de Constantino VII. Temendo que Romano permitisse a Constantino VII após sua morte,
seus filhos mais jovens Estêvão e Constantino se rebelaram contra seu pai em 944 colocando-o em exílio.
Quando ameaçaram Constantino VII, este incitou uma rebelião popular em Constantinopla em favor de
Constantino VII; Estêvão e Constantino foram banidos na cidade e postos no exílio com seu pai.
Olga de Kiev.
Em 949 Constantino realizou uma nova expedição contra os corsários árabes escondidos em Creta, porem
fracassou. Isto deu lugar a um ataque árabe por terra sobre as possessões bizantinas da Síria, Armênia e
Itália, contudo, os territórios perdidos seriam logo recuperados por João I Tzimisces. Em 957 graças ao
fogo grego se conseguiu destruir uma frota árabe.
Constantino manteve intensas relações diplomáticas com os reinos estrangeiros, incluindo com o califa de
Córdova Abd al-Rahman III. No outono de 957, Constantino recebeu a visita de Olga, princesa do
principado de Kiev. Olga foi batizada com o nome de Elena, iniciando assim a conversão de seu povo ao
cristianismo.
Embora em conjunto a valorização de seu reinado é positiva, porem foi mais conhecido como escritor e
erudito. Escreveu obras como De ceremoniis (sobre as cerimônias), que descreve todas as cerimônias da
corte, que também seria incluído, embora com animo critico, na obra de Liutprando de Cremona; De
administrando imperio (sobre a administração do império) que oferece conselhos sobre como governar o
império e sobre como lutar com seus inimigos externos; e uma história do império que reflete os eventos
ocorridos após a morte do cronógrafo Teófanes em 817. Estes livros são uma fonte importante de
informações para conhecer o período de Constantino e seu reinado. Constantino era também um grande
colecionador de livros, manuscritos e obras de arte em geral, assim como um bom pintor. Constantino
morreu em 959 sendo sucedido por Romano II.
Captura de Alepo pelas tropas de Nicéforo.
Romano II subiu ao trono, por entre rumores de que ou ele ou a sua esposa tinha envenenado Constantino
VII. Romano levou a cabo uma autêntica purga dos cortesãos do seu pai e substituiu-os pelos seus
próprios amigos e pelos da sua mulher. Entre os banidos da corte encontrava-se a imperatriz-mãe, Helena,
e as suas filhas, todas elas enviadas para conventos. Não obstante, muitas das novas nomeações de
Romano II foram para homens competentes, tais como o seu conselheiro principal, o eunuco José
Bringas.
O imperador, mais preocupado com desfrutar a vida, pôde também deixar os assuntos militares nas mãos
dos seus generais, em especial nas dos irmãos Leão e Nicéforo Focas. Em 960, Nicéforo Focas foi
encarregado de reconquistar Creta dos muçulmanos. Depois de uma difícil campanha e de 9 meses de
cerco a Cândia, Nicéforo conseguiu colocar toda a ilha sob o controlo dos bizantinos em 961. Agraciado
com um triunfo em Constantinopla, Nicéforo foi enviado para a fronteira oriental, onde reconquistou a
Cilícia e Alepo em 962. Entretanto Leão Focas e Mariano Argiro derrotaram incursões dos magiares na
península dos Bálcãs.
Romano II adoeceu depois de uma longa expedição de caça e morreu a 15 de março de 963. Correram
rumores de que a sua esposa Teófano o envenenara. A confiança depositada por Romano II na sua mulher
e em burocratas como José Bringas resultaram numa administração competente, mas provocou ao mesmo
tempo a insatisfação dos nobres, uma classe predominantemente militar.
Após a morte de Romano II, Nicéforo voltou para Constantinopla para se defender das intrigas do
ministro José Bringas. Com a ajuda da regente, a imperatriz Teófano, e do patriarca, obteve o comando
supremo das forças de oriente, e foi proclamado imperador por estas, na sua marcha sobre a capital, na
qual, entretanto, os seus partidários destronaram o seu inimigo Bringas. Graças à sua popularidade no
exército, Nicéforo foi coroado imperador junto aos filhos menores de Romano, e apesar da oposição do
patriarca, casou-se com a mãe destes, a regente Teófano.
Durante o seu reinado continuou envolvido em várias guerras. Entre 964 e 966, conquistou
definitivamente a Cilícia, e de novo entrou na Mesopotâmia e Síria, enquanto o patrício Nicetas
reconquistava Chipre. Em 968 tomou a maioria das fortalezas da Síria, e após a queda de Antioquia e
Alepo (969), que tomaram os seus generais, foram asseguradas as conquistas por meio de uma paz. Na
fronteira do norte, começou uma guerra contra os búlgaros, aos quais os bizantinos estiveram pagando
tributo (967), e distraiu a sua atenção pelo procedimento de instigar um ataque dos Rus (russos) de Kiev.
Contudo, Nicéforo teve menos sucesso nas suas guerras no ocidente. Após renunciar a pagar tributo aos
califas fatímidas, enviou uma expedição para a Sicília sob o comando de Nicetas (964—965), mas viu-se
obrigado a abandonar totalmente a ilha depois das derrotas no mar e em terra. Em 967, fez as pazes com
os muçulmanos de Cairuão e voltou-se contra o inimigo comum de ambos, o imperador do Sacro Império
Romano-Germânico Otão I, que atacara as posses bizantinas na Itália; mas após alguns sucessos iniciais,
os seus generais foram derrotados e retornaram à costa meridional.
Nicéforo II.
Devido ao cuidado que prestou à perfeita manutenção do exército, Nicéforo viu-se obrigado a economizar
em outros departamentos. Reduziu consideravelmente a munificência imperial e recortou as isenções do
clero, além de proibir a fundação de novos mosteiros, apesar de que ele próprio era uma pessoa de caráter
muito religioso. Devido ao aumento dos impostos e à depreciação da moeda, a sua popularidade ficou
seriamente minguada, e produziram-se várias revoltas. Finalmente, foi abandonado pela sua esposa
Teófano e assassinado na sua própria estância por uma conspiração urdida pela sua esposa e por seu
sobrinho João Tzimisces.
Nicéforo foi o autor de um tratado sobre tática militar, que é conservado e que contém informação muito
rica em relação à "arte" da guerra na sua época.
Elegido governante, João Tzimisces, para justificar a sua usurpação concentrou todas as suas forças na
luta contra os invasores estrangeiros do Império. Numa série de campanhas contra a recentemente
estabelecida potência russa de Kiev (970-973), expulsou os russos da Trácia, atravessou o monte Hemo e
assediou a fortaleza de Dorystolon no Danúbio. Após várias batalhas derrotou os russos de tal maneira
que o consideraram senhor dos búlgaros orientais.
Além disso, reforçou a sua fronteira setentrional levando para a Trácia algumas colônias de bogomilos
deportados da Capadócia, suspeitos de proximidade aos sarracenos do leste. Em 974 virou-se contra o
Império abássida e recuperou com facilidade alguns territórios do interior da Síria e um trecho meio do
Eufrates.
Morreu repentinamente em 976, retornando da sua segunda campanha contra os sarracenos. Seu apelido
parece derivar-se do armênio tshemshkik, que significa "bota vermelha".
Durante seu reinado colocou como co-imperadores os dois filhos de Romano II, Basílio II e Constantino
VIII. João Tzimisces, que não teve filhos faleceu em 976, deixando o trono aos jovens, que ficaram sob
tutela de um tio-avô, Basílio. Contudo, a autoridade deste foi posta em causa por dois generais que
ambicionavam a posição de imperador. Como Basílio era o irmão mais velho ele subiu ao trono imperial.
Logo no começo de seu reinado Basílio se encontrou com problemas. Os grandes latifundiários da Ásia
Menor, Bardas Scleros e Bardas Focas, que forneciam muitos dos soldados do império e grande parte dos
impostos, se encontravam em revolta aberta contra seu poder.
Basílio, fazendo mostrar a severidade que caracterizou seu reinado, reprimiu a rebelião destes em 979 e
989 respectivamente. Para este fim, aliou-se com Vladimir I de Kiev que ofereceu 6.000 homens de seu
exército como reforços para as tropas imperiais e a retirada da base bizantina de Quersoneso na Criméia
em troca da mão da irmã mais nova do imperador, Ana (963 – 1011). A princípio, Basílio hesitou porque
os bizantinos consideravam bárbaros os russos de Kiev e a própria Ana se opôs ao matrimonio com um
bárbaro.
Basílio II.
No entanto, Vladimir foi batizado e prometeu converter seu povo ao cristianismo; Basílio finalmente
aceitou. O matrimonio foi celebrado em 989. Os reforços russos seriam fundamentais para acabar com a
rebelião e se tornou o ponto de partida para a posterior guarda varegue. A queda de Basílio Lecapeno
seguiu as rebeliões. Foi acusado de conspirar com os rebeldes e foi condenado ao exílio e a confiscação
de enormes propriedades. Tentando proteger a pequena propriedade camponesa, Basílio II fez uma
reforma no sistema fiscal impiedoso ao tributar pesadamente a vasta propriedade que tinha se expandido
para a Ásia Menor.
Após as revoltas internas, Basílio voltou sua atenção para os inimigos do império. As guerras civis
haviam debilitado sua posição no leste e as conquistas de Nicéforo e João se tornaram perigosas, sendo
Antioquia e Alepo sitiadas. Em 995, Basílio lançou uma campanha contra os árabes com um exercito de
40.000 homens. Derrotou os árabes em varias batalhas na Síria, libertou Alepo, assegurou o estratégico
vale de Orontes e conquistou todas as cidades desde Emesa até Trípoli. Apesar de não ter forças
suficientes para entrar na Palestina e tomar Jerusalém, suas vitórias permitiram recuperar grande parte da
Síria para o império.
Porem Basílio não havia acabado com suas ações, tendo como intenção recuperar os territórios perdidos
pelo Império Bizantino ao longo do tempo. Em começos do século X, iniciou as hostilidades contra quem
seria seu grande adversário, Samuel da Bulgária.
A Bulgária havia sido parcialmente conquistada pelo imperador João I Tzimisces, porem parte havia
conseguido manter sua independência, baixo o reinado de Samuel e seus irmãos. Os búlgaros realizaram
incursões em terras bizantinas desde 976 e o governo bizantino tratou de provocar sem êxito dissensões
permitindo a fuga do imperador cativo Bóris II da Bulgária.
Foi à invasão da Tessália e a tomada de Larissa em 985 por parte de Samuel I que fez Basílio II começar
as ofensivas. Aproveitando um respiro no conflito com a nobreza, Basílio guiou um exercito de 30.000
homens a Bulgária, decidido a tomar por surpresa Sófia, em 986, porem não conseguiu penetrar na
cidade. Basílio decidiu regressar, quando todavia não havia sofrido muitas baixas; com a retirada o
exército búlgaro o alcançou e lhe infringiu uma grave derrota na Batalha das Portas de Trajano em agosto
de 986, colocando o poder e o prestígio de de Basilio em xeque no império.
Quando a guerra eclodiu em 1002, Samuel tinha estendido o reino búlgaro desde o Danúbio, ao Norte, até
Atenas. Seus domínios se estenderam do Adriático ao Mar Negro, e todos estes territórios haviam sido
conquistados durante os 300 anos anteriores a expansão dos bizantinos. Basílio estava decidido a inverter
a destino do império.
A guerra assolou os Bálcãs por 12 anos, durante tanto Basílio como Samuel conseguiram vitórias
surpreendentes. As forças de Samuel eram consideravelmente menores, porem estas foram capazes de
evitar o enfrentamento total, ao fazer ataques menores no exército de Basílio em seu avanço pelo
território búlgaro. Samuel esperava corroer as tropas bizantinas, forçando-nos a rendição ou ao menos
firmar uma paz.
Finalmente, em 29 de julho de 1014 Basílio encurralou o exercito búlgaro e o obrigou a lutar a Batalha de
Kleidion, porem, Samuel se encontrava a vários quilômetros dali. Basílio arrasou os búlgaros e fez 14.000
prisioneiros: mandou cegar 99 de cada 100 desses, deixando o restante com um olho para poder guiar os
demais de volta. Embora seja provavelmente um exagero, esse fato deu a Basílio o sobrenome
Bulgaróctones (matados de búlgaros).
Quando Samuel viu voltar suas tropas cegas, segundo a lenda morreu de tristeza. A Bulgária seguiu
lutando por quatro anos, terminando por submeter-se em 1018. A vitória sobre os búlgaros e a posterior
submissão da Sérvia significou a realização de um dos objetivos de Basílio: a recuperação para o império
da antiga fronteira do Danúbio pela primeira vez em 400 anos.
Enquanto isso, o exercito bizantino, aliado com o príncipe de Kiev, atacou a Criméia, grande parte da
qual havia caído sobre a égide do reino de Georgius Tzul, estado sucessor do reino dos cazares centrado
em Kerch. Segundo o historiador Cedreno, Georgius foi capturado e seu reino destruído.
Basílio voltou triunfante a Constantinopla, para sair novamente, desta vez para o Oriente, para atacar o
domínio persa sobre a Armênia. Este reino havia se convertido em um Estado tributário bizantino quando
morreu seu rei no ano 1000. Aqui também se sucederam vitórias, e a Armênia se reincorporou ao Império
Bizantino de onde havia se separado há 200 anos.
Ao mesmo tempo, outras forças bizantinas recuperaram grande parte da Itália Meridional cujo domínio
havia perdido para os lombardos e árabes há 150 anos antes. Reorganizou os themas italianos,
combinando a Lombardia com a Calábria sob um comando comum, o Catapán da Itália, com capital em
Bari, para formar o Catapanato da Itália. Em 15 de dezembro de 1025, Basílio morreu em meio a
preparativos para recuperar a ilha da Sicília das mãos árabes.
Em sua ultima vontade pediu para ser enterrado ao lado do campo de treinamento de sua cavalaria, em
vez do espaço reservado aos imperadores de sua família. Seu sucessor foi o já co-imperador e irmão
Constantino VIII, já que Basílio não teve filhos.
Quando Basílio II faleceu a 15 de dezembro de 1025, Constantino passou a ser o único imperador,
embora somente reinasse durante menos de três anos, até a sua morte a 15 de novembro de 1028.
Assumiu o poder aos 65 anos idade, e ao encontrar-se cheio de dinheiro, o tesouro imperial, abandonou-
se aos seus prazeres. Sabendo-se incapaz de consumir o seu tempo em preocupações, delegou as
responsabilidades em homens com uma grande formação, enquanto ele se encarregava de todo o
relacionado às audiências aos embaixadores ou do restante dos pequenos assuntos administrativos.
Nunca se mostrou excessivamente preocupado pelo poder; ainda que de constituição forte, era débil de
espírito; ao envelhecer e não poder já combater, exasperava-se com qualquer notícia de mau augúrio. Seu
reinado foi desastroso pela sua falta de coragem. Reagia perante a qualquer menor suspeita com grande
crueldade: assim, ordenou a execução ou mutilação de centos de homens inocentes. Em poucos meses do
começo do seu reinado, as leis sobre a terra ditadas por Basílio foram derrogadas pela pressão da
aristocracia da Anatólia.
Embora não tivesse muitos estudos, e os seus conhecimentos fossem muito limitados, estava dotado de
uma destreza e graça inatas e tinha a fortuna de possuir uma língua delicada e elegante à hora de falar. As
suas maiores paixões eram as corridas de carros e os espetáculos públicos, e a sua afeição pelos dados e
os jogos de tabuleiro era tal que desatendia os mais graves assuntos de Estado. Era também um magnífico
ginete, mas quando chegou a ser imperador único, sofria de gota crônica e apenas podia andar.
Constantino VIII tomou como mulher uma das mais nobres patrícias, chamada Helena, filha de Alípio,
formosa de aparência e nobre de espírito. Tiveram três filhas, passando o império à sua filha Zoé e aos
maridos e filhos desta.
Durante seu reinado, Constantino VIII ordenou que Romano III divorcia-se de sua esposa e casa-se com
Zoé, filha do imperador. Quando Constantino morreu, Romano III tornou-se imperador.
O novo imperador demonstrou vontade de deixar a sua marca como governante, mas sofreu grandes
reveses nos seus projetos. Gastou avultadas quantias em novas edificações e doações aos mosteiros, ao
mesmo tempo em que desorganizava a estrutura fiscal do império por querer reduzir a carga tributária.
Idealizando Marco Aurélio, Romano aspirava a ser o novo "rei filósofo", e ao mesmo tempo queria imitar
os feitos militares de Trajano.
Romano III Argiro - gravemente doente - morre no palácio em 1034. Na imagem, Romano está no banho
quando morre da Crónica de João Esquilitzes.
Em 1030 decidiu retaliar contra as incursões dos muçulmanos na fronteira oriental comandando um
grande exército e conduzindo-o até Alepo, mas sofreu uma pesada derrota por se ter deixado surpreender
em Azaz, perto de Antioquia. Embora este desastre tenha sido compensado pela conquista e posterior
defesa de Edessa por Jorge Maniace em 1032 e pela derrota de uma armada muçulmana no mar Adriático,
Romano nunca recuperou a popularidade.
Enquanto membro da aristocracia, Romano III suspendeu a prática dos seus antecessores de redução dos
privilégios da classe e reduziu-lhes os impostos, permitindo ao mesmo tempo em que os lavradores livres
fossem reduzidos à condição de servos. Numa tentativa vã de reduzir as despesas, Romano impôs limites
às despesas da imperatriz, o que só veio aprofundar as divergências entre os cônjuges.
Internamente Romano III viu-se confrontado com diversas conspirações, a maior parte delas tendo como
origem a sua cunhada Teodora, como as de 1029 e 1030. Embora tenha sobrevivido a estas conjuras, a
sua morte prematura em 1034 é atribuída ao envenenamento pela sua esposa, embora também se creia que
foi afogado enquanto se banhava, por ordem de Zoé.
O sucessor de Romano III foi Miguel, o camareiro da imperatriz que havia se apaixonado por ele. Miguel
ao subir ao trono foi nomeado Miguel IV.
Miguel IV era bem inteligente e generoso, mas não tinha instrução e sofria de epilepsia. Deixou por isso
as responsabilidades governativas ao seu irmão João, que já era um ministro influente desde os tempos de
Constantino VIII e de Romano III. As reformas que João efetuou no exército e no sistema financeiro
fortaleceram sensivelmente o império, que suportou bem os ataques dos seus inimigos estrangeiros. Mas
os aumentos nos impostos causaram descontentamento quer entre os nobres quer entre o povo. O governo
de João enfrentou diversas conspirações (em 1034, 1037, 1038 e 1040), uma das quais era liderada pela
própria imperatriz Zoé. A última das conspirações envolveu o patrício Miguel Cerulário, que se tornou
monge para salvar a vida e veio mais tarde a ser patriarca de Constantinopla.
Na fronteira oriental a importante fortaleza de Edessa foi libertada de um cerco prolongado. No frente
ocidental os muçulmanos foram expulsos da Sicília por Jorge Maniace (que conduziu campanhas na ilha
entre 1037 e 1040); mas uma expedição contra os normandos na Itália foi derrotada e depois do regresso a
Constantinopla de Maniaces a maior parte das conquistas na Sicília foram perdidas (1041).
Seu sucessor foi seu sobrinho Miguel que já havia recebido o titulo de Kaisar (César).
Decidido a governar sozinho, Miguel V entrou em conflito com o seu tio João o Eunuco, que foi
imediatamente banido para um mosteiro. Miguel revogou as medidas tomadas pelo seu tio e absolveu os
nobres e os cortesãos que tinham sido exilados durante o reinado anterior, incluindo o futuro patriarca
Miguel Cerulário e o general Jorge Maniace. Maniace foi rapidamente despachado para o sul de Itália
para conter o avanço dos normandos.
Além dos maus tratos a Zoé, a impopularidade de Miguel V também se deveu às suas tentativas de
reforma da administração, às quais se opunham fortemente as classes dominantes, enquanto que as classes
mais baixas o consideravam um usurpador.
Zoé partilhou o poder com Teodora durante dois meses até conseguir encontrar um novo marido, o
terceiro e último de acordo com as regras da Igreja. Escolheu Constantino IX (reinou entre 1042 e 1055),
que lhe sobreviveu apenas quatro anos. Zoé morreu em 1050.
Em 1043, Constantino IX relevou ao general Jorge Maniace do seu comando militar na Itália, e em
consequência Maniace declarou a si mesmo imperador. Quando as suas tropas estavam a pique de
derrotar a Constantino numa batalha, Maniace foi ferido e morreu no campo de batalha, dando fim à crise.
Logo após a vitória, Constantino foi atacado por uma frota dos Rus de Kiev, que seguramente fora
contratada por Maniace. Também essa frota foi derrotada graças ao uso do fogo grego.
Em 1046, os bizantinos tiveram um primeiro contato com os turcos seljúcidas. Lutaram numa batalha na
Armênia em 1048 e estabeleceram uma trégua para o ano seguinte. Contudo, em 1053 Constantino viu-se
obrigado a licenciar as suas tropas armênias por razões econômicas, deixando a fronteira oriental do
Império mal defendida.
Em 1054, as diferenças seculares entre a Igreja ortodoxa grega e a Igreja católica romana deram lugar à
sua separação definitiva. Os legados do papa Leão IX excomungaram ao patriarca de Constantinopla
Miguel Cerulário, ao não estar este de acordo com a adoção de certas práticas eclesiais ocidentais; e
Cerulário replicou, excomungando aos legados. Esse feito anulou as possibilidades de uma aliança entre
Constantino e o Papa contra os normandos do sul da Itália.
Este episódio de ruptura definitiva foi conhecido como Cisma do Oriente, onde por meio a Igreja
bizantina passou a ser conhecida como Igreja Ortodoxa grega, mantendo dogmas e rituais próprios,
diferentemente da Igreja Ocidental, a Igreja Católica Apostólica Romana, que manteve seus dogmas
tradicionais e não reconheceu a Igreja Oriental.
Constantino quis intervir, mas caiu enfermo e morreu em 11 de janeiro do ano seguinte. Teodora, a filha
mais velha de Constantino VIII, que já reinara junto com a sua irmã Zoé, foi nomeada imperatriz.
Depois da morte de Constantino IX, apesar de ter mais de setenta anos de idade, fez valer vigorosamente
seus direitos ao trono, frustrando uma tentativa de golpe contra seu governo em favor do general Nicéforo
Brienio.
Graças a sua administração firme, controlou os nobres rebeldes e acabou com muitos abusos, porem
prejudicou sua reputação de rigor excessivo para com seus inimigos e pelo indevido uso de seus servos
como conselheiros. Morreu repentinamente em 31 de agosto de 1056. Por não ter filhos e ser a última de
sua dinastia, escolheu um de seus favoritos como sucessor: Miguel VI. Porem, este não tinha nenhuma
relação que governou o império durante os últimos 189 anos (867 – 1056) e, portanto, não foi
considerado como possuidor de direito ao trono. Esta situação resultou em uma série de lutas pelo trono
pelas diversas famílias nobres, que durou até 1081.
Durante o seu breve mandato, favoreceu a burocracia em detrimento da aristocracia militar. Após desairar
os principais chefes militares do Império na Primavera de 1057, houve uma conspiração para derrocar, e a
8 de junho de 1057 foi proclamado imperador o comandante e chefe do exército bizantino, Isaac
Comneno. O exército rebelde derrotou os partidários de Miguel VI a 20 de agosto desse mesmo ano, entre
as cidades de Niceia e Nicomédia. O imperador enviou uma embaixada a Isaac Comneno, encabeçada
pelo historiador Miguel Psellos, propondo a coroação de Isaac como César e futuro sucessor. Embora
Isaac aceitasse, o patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário instigou um golpe de estado que depôs
Miguel VI. A 1 de setembro, Isaac Comneno entrou triunfalmente em Constantinopla. Ao contrário do
que costumava ocorrer com os imperadores bizantinos depostos, Miguel não foi assassinado nem cegado,
nem teve de exilar-se. Continuou vivendo como cidadão particular, e faleceu pouco depois, por volta de
1059.
A primeira preocupação do imperador foi recompensar os seus apoiantes aristocratas com nomeações que
os afastavam de Constantinopla, e em seguida tentar restabelecer as depauperadas finanças imperiais.
Revogou prebendas e concessões atribuídas pelos seus antecessores a cortesãos ociosos e, respondendo às
acusações de sacrilégio ditas por Miguel Cerulário com um decreto de desterro em 1058, apropriou-se de
parte dos rendimentos eclesiásticos. A única expedição militar de Isaac foi contra o rei André I da
Hungria e os pechenegues, que ameaçavam as fronteiras norte do império em 1059.
Pouco depois da campanha vitoriosa concluiu a paz com a Hungria e regressou a Constantinopla. Aqui foi
acometido por uma doença e convenceu-se de que esta era mortal. Os cortesãos tiraram partido da
situação, liderados por Miguel Psellos, que influenciou Isaac para que este nomeasse Constantino Ducas
seu sucessor e não o seu irmão João Comneno. Isaac abdicou a 22 de Novembro de 1059, contra a
vontade do seu irmão e da sua esposa Catarina. Tal como Isaac, tanto Catarina quanto a filha de ambos
tomaram votos religiosos.
Embora tenha se recuperado, Isaac Comneno não reassumiu o cargo de imperador, vivendo como um
monge no mosteiro de Studios, alternando trabalhos braçais com estudos literários. Os seus Scolia sobre a
Ilíada e outros trabalhos sobre os poemas Homéricos chegaram até aos nossos dias. Morreu em finais de
1060 ou em inícios de 1061. O grande objetivo de Isaac era devolver ao império a apertada organização
de que em tempos desfrutara, e as suas reformas, embora impopulares entre todas as camadas da
população, forma mais tarde reconhecidas como importantes para atrasar, pelo menos, a derrocada final
do Império Bizantino.
O novo imperador associou ao trono dois dos seus filhos, nomeou Kaisar (César) o seu irmão João Ducas,
e iniciou uma política favorável aos interesses da burocracia da corte e da Igreja Ortodoxa. Ao cortar
radicalmente nas despesas com o treino e aprovisionamento do exército, Constantino X enfraqueceu
dramaticamente a defesa bizantina num momento crucial da história, quando o império enfrentava o
avanço para Ocidente dos turcos seljúcidas e dos seus aliados turcomanos.
Constantino tornou-se impopular junto dos apoiantes de Isaac na aristocracia militar, que tentou
assassiná-lo em 1061; também não era bem visto pela população em geral, depois de ter aumentado os
impostos na tentativa de pagar ao exército. Constantino perdeu a maior parte da Itália bizantina para os
normandos de Roberto Guiscardo, com exceção dos arredores de Bari, e sofreu repetidas invasões de Alp
Arslan na Ásia Menor em 1064 e dos Uzes nos Bálcãs em 1065. Já velho e doente, faleceu a 22 de Maio
de 1067 e sucederam-lhe os seus filhos mais novos sob a regência da mãe, Eudóxia Macrembolitissa.
A imperatriz terminou por casar com um oficial do exercito chamado Romano Diógenes. Com este
casamento Romano tornou-se co-imperador, lado a lado com Miguel VII, Constâncio Ducas e Andrónico
Ducas, embora fosse o imperador sênior. Conduziu com êxito três campanhas contra os turcos seljúcidas,
repelindo-os para além do Eufrates nos anos de 1068–1069. Em 1071 Romano preparou uma expedição
em larga escala contra a fortaleza seljúcida de Manziquerta. Apesar de numerosas, as suas forças não
tinham todas, o mesmo grau de preparação e incluíam uma grande quantidade de mercenários.
Alp Arslan humilhando Romano.
Enquanto o imperador estava em cativeiro, a oposição decidira aproveitar a situação ao máximo. O César
João Ducas e Miguel Psellos confinaram Eudóxia num mosteiro e levaram facilmente Miguel VII a
declarar a deposição de Romano. Antes que Romano conseguisse reunir apoio foi atacado e derrotado
pelo general Andrónico Ducas. Cercado por Andrónico Ducas numa fortaleza da Cilícia, Romano rendeu-
se depois de prometer abdicar de todas as suas pretensões ao trono e de se retirar para um mosteiro.
Enquanto estava a ser levado para Constantinopla, Romano foi ainda assim cegado (29 de Junho de 1072)
e exilado na Ilha de Prote. Os seus olhos foram tão brutalmente vazados que Romano morreu pouco
depois da infecção dos ferimentos que lhe foram infligidos.
Embora ainda tendo João Ducas e Miguel Psellos como conselheiros, Miguel VII passou a depender
crescentemente de Niceforitzes, o seu ministro das finanças. Os interesses do imperador, essencialmente
por direção de Miguel Psellos, eram de natureza acadêmica, e o imperador foi permitindo a Niceforitzes
aumentar a carga fiscal e as despesas sumptuárias sem financiar devidamente o exército. Em situações
cada vez mais complicadas, os oficiais e funcionários do exército recorreram a confiscos e expropriações
de propriedades da Igreja. O exército mal pago revelava tendência para se amotinar, e os bizantinos
perderam Bari, a sua última possessão na Itália, para os normandos de Roberto Guiscardo, em 1071. Ao
mesmo tempo, tiveram de enfrentar uma revolta de grandes proporções nos Bálcãs, onde se tentava
restabelecer a Bulgária, nesse mesmo ano. Embora a revolta tenha sido sufocada pelo general Nicéforo
Brienio, o império não conseguiu recuperar das suas perdas na Ásia Menor, tendo ficado sob a ocupação
dos turcos os extensos planaltos da Capadócia e da Galácia.
Depois de Manziquerta o governo bizantino enviou um novo exército para travar o passo dos turcos
seljúcidas, comandado por Isaac Comneno, irmão do futuro imperador Aleixo I Comneno, mas também
este exército foi derrotado e o seu comandante capturado em 1073. A situação agravou-se ainda mais com
a deserção dos mercenários ocidentais contratados pelos bizantinos, contra os quais foi preciso organizar
uma campanha em 1074, sob o comando do César João Ducas. Esta campanha saldou-se por um novo
fracasso e João Ducas, também capturado, foi obrigado pelos mercenários a se proclamar imperador.
Miguel VII, perante esta situação, viu-se forçado a reconhecer as conquistas dos turcos na Ásia Menor a
troco do seu auxílio, e por fim um novo exército bizantino comandado por Aleixo Comneno e reforçado
por contingentes turcos enviados por Malik Shah I derrotou os mercenários em 1074.
Nicéforo Botaneiates.
Em Março ou Junho de 1078 Nicéforo Botaneiates entrou triunfalmente em Constantinopla e foi coroado
pelo patriarca Cosme I. Com o auxílio do general Aleixo Comneno, derrotou Brienio e outros rivais, mas
não conseguiu deter a invasão turca da Ásia Menor.
Com o propósito de consolidar a sua posição, Nicéforo III procurou casar-se com Eudóxia
Macrembolitissa, mãe de Miguel VII e viúva dos imperadores Constantino X e Romano IV. O seu plano
foi empecido pelo César João Ducas, e Nicéforo casou-se com Maria de Alânia, a viúva de Miguel VII,
em violação dos cânones da Igreja. No entanto, Nicéforo recusou-se a reconhecer os direitos sucessórios
dos filhos de Maria, Constantino Ducas, o que fez do imperador o alvo das conspirações e suspeitas da
facção dos Ducas na corte. A administração de Nicéforo também se deparou com obstáculos, uma vez
que os cortesãos por ele nomeados se incompatibilizaram com os funcionários permanentes e não
conseguiram impedir a continuada desvalorização da moeda bizantina.
Império Bizantino em 1081.
Nicéforo tornou-se cada vez mais dependente do apoio de Aleixo Comneno, que derrotou a rebelião de
Nicéforo Basilaques nos Bálcãs e de Nicéforo Melisseno na Anatólia (1080). O império bizantino
também enfrentava ameaças externas, tais como o duque normando Roberto Guiscardo da Apúlia, que
declarou guerra sob o pretexto de defender os direitos do jovem Constantino Ducas, prometido à sua filha
Helena. Com Aleixo à frente de um numeroso contingente reunido para enfrentar a invasão normanda, a
facção dos Ducas, liderada pelo césar João, conspirou para derrubar Nicéforo e substituí-lo por Aleixo.
Não tendo conseguido o apoio nem dos turcos seljúcidas nem de Nicéforo Melisseno (sendo que quer uns
quer outro eram seus inimigos declarados), Nicéforo III viu-se forçado a abdicar depois de um golpe sem
violência em 1081. O imperador deposto retirou-se para um mosteiro que ele próprio instituíra e aí
morreu nesse mesmo ano.
O sucesso dos Comneno causou a inveja dos Botaneiates e de seus ministros, e por pouco a família não
teve que pegar em armas para defender-se. Botaneiates foi forçado a abdicar e retirar-se para um
mosteiro, e Issac recusou a coroa em favor de seu irmão mais novo Aleixo, que se tornou imperador aos
33 anos de idade, reconhecidamente o mais hábil de ambos.
Aleixo I Comneno.
Dono de um inegável talento para a intriga, soube açular seus inimigos uns contra os outros, usando para
isso da inveja e desconfiança que eles sentiam uns dos outros. Diante de uma corte incapaz e
conspiradora, e de uma maquina de estado falida ele impôs uma nova administração, lidando com as
conspirações com relativo desembaraço.
Aleixo iniciou o restabelecimento de um exército com base no direito feudal (pronoia). Aleixo tentou
reformar a aristocracia e pacificar o império distribuindo o território entre os nobres. Assim conseguia
ademais afastá-los de Constantinopla, o que reduzia a capacidade de intrigar e protagonizar conjuras
palacianas. A maioria das pronoiai (plural de pronoia) outorgadas por Aleixo foram outorgadas a
membros da sua própria família, os Comneno. De fato, a medida implicou a legalização da propriedade da
terra pelos grandes oligarcas no quadro de um estado centralizado.
Aleixo adotou Constantino, filho da Imperatriz Maria de Alânia, que havia sido casada com Miguel VII e
com Nicéforo III, e que era amante do novo imperador. Após o casamento de Aleixo com Irene Ducaena
e o nascimento de seu filho João Comneno, Maria foi mandada para um convento e Constantino morreu.
O longo reinado de Aleixo (quase 37 anos) foi cheio de dificuldades. Logo no início, teve que enfrentar o
formidável ataque dos normandos (Roberto Guiscardo e seu filho Boemundo), que tomou Dyrrhachium
(hoje Durrës, na Albânia) e Corfu, e sitiou Larissa na Tessália. Este episódio do perigo normando passou
com a morte de Roberto em 1085, e o território perdido foi então reconquistado.
Em seguida, Aleixo repeliu a invasão dos pechenegues e cumanos na Trácia, com os quais a seita
maniqueísta dos bogomilos se havia aliado. Também precisou lidar com o crescente poder dos turcos
seljúcidas na Ásia Menor.
O grande desafio de seu reinado foi enfrentar as dificuldades causadas pela chegada dos cavaleiros da
Primeira Cruzada, que havia sido provocada, em grande medida, a seu próprio pedido, por intermédio de
embaixadores enviados ao Papa Urbano II no Concílio de Piacenza de 1095. Aleixo esperava ajuda do
Ocidente na forma de mercenários e não previa as imensas hostes recrutadas pela Cruzada, o que o deixou
consternado e constrangido. O primeiro contingente, chefiado por Pedro, o Eremita, foi logo despachado
pelo imperador para a Ásia Menor, onde foi massacrado pelos turcos em 1096.
Sua filha, Ana, descreve estes fatos como resultantes da política e da diplomacia do pai, mas os cronistas
latinos da Cruzada fizeram apenas sinal de sua atuação traiçoeira e desonesta. Os cruzados entenderam
que o juramento que prestaram havia sido cancelado quando Aleixo deixou de ajudá-los durante o cerco
de Antioquia; Boemundo, que se havia proclamado príncipe de Antioquia, esteve até mesmo em guerra
com o imperador, até que concordou em tornar-se vassalo de Aleixo nos termos do Tratado de Devol de
1108.
Nos vinte anos finais de sua vida, perdeu grande parte de sua popularidade. Este período foi marcado pela
perseguição dos seguidores das heresias paulicianas e bogomilas; pelo recomeço dos combates com os
turcos (1110 - 1117); e pela ansiedade com respeito à sucessão, com que sua mulher Irene tentou
beneficiar o marido de sua filha Ana, Nicéforo Brienio. Seu sucessor acabou sendo seu filho João
Comneno.
João II Comneno.
Após a sua adesão, João II recusou-se a confirmar o tratado de 1082 de seu pai com a República de
Veneza, tratado que concedeu a república italiana os direitos comerciais do Império Bizantino. No
entanto, a mudança na política não foi motivada por preocupações financeiras. Um incidente envolvendo
o abuso de um membro da família imperial pelos venezianos levou a um conflito perigoso, especialmente
como Bizâncio dependia de Veneza por sua força naval. Depois de um ataque de represália em Corfu,
João exilou os mercadores venezianos de Constantinopla. Isso gerou retaliação posterior, e uma frota de
72 navios venezianos saquearam Rodes, Quios, Samos, Lesbos, Andros e Cefalônia capturados no Mar
Jônico.[3] Eventualmente João foi forçado a chegar a um acordo; a guerra lhe custou mais do que valeu a
pena, e ele não estava preparado para transferência de fundos por parte das forças imperiais em terra para
com a marinha para a construção de novos navios. João re-confirmou o tratado de 1082. No entanto, este
constrangimento não foi totalmente esquecido, e parece provável que desempenhou um papel no sucessor
de João para re-estabelecer uma poderosa frota bizantina, alguns anos depois.
Entre 1119-1121 João derrotou os turcos seljúcidas, estabelecendo seu controle sobre o sudoeste da
Anatólia. No entanto, logo depois, em 1122, João rapidamente transferiu suas tropas para a Europa para
lutar contra uma invasão dos pechenegues em Mésia. Esses invasores foram auxiliares do príncipe de
Kiev. João cercou os pechenegues quando eles invadiram a Trácia, enganando-os fazendo-os acreditar
que ele iria dar-lhes um tratado favorável, e, em seguida, lançou um ataque surpresa devastador sobre seu
maior acampamento. A Batalha de Beroia foi renhida, mas até o final do dia, o exército de João teve uma
vitória esmagadora. Isso colocou um fim às incursões pechenegues em território bizantino, e muitos dos
cativos foram assentados como foederati na fronteira bizantina.
Imperatriz Irene.
João, em seguida, lançou um ataque punitivo contra os sérvios, muitos dos quais foram mandados para a
Nicomédia, na Ásia Menor para servirem como colonos militares. Isso foi feito, em parte, para intimidar
os sérvios em sua submissão (a Sérvia foi, pelo menos nominalmente, um protetorado bizantino) e em
parte para fortalecer a fronteira bizantina no Oriente contra os turcos. No entanto, o casamento de João
com a princesa húngara Piroska envolveu-o em lutas de sucessão dinástica no Reino da Hungria. Dando
asilo a um requerente cego ao trono húngaro (chamado Álmos), João despertou a suspeita dos húngaros, e
deparou-se com uma invasão em 1128. Os húngaros atacaram Belgrado, Braničevo, Niš, Sófia, e penetrou
o sul quanto na periferia de Plovdiv.[4] Depois de uma campanha desafiadora que durou dois anos, o
imperador conseguiu derrotar os húngaros e seus aliados sérvios na fortaleza de Haram restaurando a paz.
João então foi capaz de concentrar-se na Ásia Menor, que se tornou o foco de sua atenção para boa parte
de seus anos restantes. Os turcos estavam avançando contra a fronteira bizantina na parte ocidental da
Ásia Menor, e João estava determinado a expulsa-los. Em 1119, os seljúcidas haviam retirado Antália do
império; João levou um exército para capturar Laodiceia e Sozopolis, restabelecendo, por conseguinte, as
ligações terrestres para a cidade.[5] Ele empreendeu uma campanha contra o emirado Danismendidas em
Malatya, no Eufrates superior entre 1130-1135. Graças à campanha do enérgico João, as tentativas de
expansão turca na Ásia Menor, foram interrompidas, e João preparou-se para levar a luta ao inimigo.
A fim de restaurar a região de controle bizantino, João executou uma série de campanhas bem planejadas
contra os turcos, uma das quais resultou na reconquista do lar ancestral dos Comneno em Kastamonu, e
em seguida, deixou uma guarnição de 2.000 homens em Gangra.[6] João rapidamente ganhou uma
reputação formidável como um muro separador. Regiões que haviam sido perdidas, desde a Batalha de
Manzikert foram recuperadas e guarnecidas. No entanto, a resistência, especialmente dos danismendidas
no nordeste, era forte, e a dificuldade de segurar as novas conquistas é ilustrada pelo fato de Kastamonu
ser reconquistada pelos turcos, assim como João estava em Constantinopla celebrando seu retorno ao
domínio bizantino.
João perseverou, contudo, Kastamonu logo mudou de mãos mais uma vez. João avançou pelo nordeste da
Anatólia, provocando os turcos para atacar seu exército. No entanto, mais uma vez as forças de João
foram capazes de manter sua coesão, bem como a tentativa dos turcos de infligir uma segunda Manzikert,
contudo, as tropas do imperador sairam pela culatra. O sultão, desacreditado por seu fracasso em derrotar
João, foi assassinado por seu próprio povo. Em 1139, o imperador marchou pela última vez contra os
turcos Danismendidas, seu exército marchou ao longo da costa sul do Mar Negro através da Bitínia, e
Paflagónia. Voltando ao sul de Trebizonda, cercou, mas não conseguiu tomar a cidade de Niksar.[7]
O imperador então dirigiu sua atenção para o Levante, onde procurou reforçar sua suserania no Império
Bizantino sobre os Estados Cruzados. Em 1137 ele conquistou Tarso, Adana, e Mopsuestia do Reino
Arménio da Cilícia, e em 1138 o principe Leão I e a maioria de sua família foram levados como
prisioneiros para Constantinopla.[8] Isto abriu o caminho para o Principado de Antioquia, onde o príncipe
Raimundo reconheceu-se vassalo do imperador em 1137, e João chegou em triunfo em 1138. Seguiu-se
uma campanha conjunta onde João levou os exércitos de Bizâncio, Antioquia e Edessa contra os
muçulmanos na Síria. Embora João tenha lutado muito pela causa cristã na campanha, na Síria, seus
aliados, o principe Raimundo de Antioquia e Joscelino II sentaram em torno de dados jogando ao invés de
ajudar João a pressionar o cerco de Shaizar.
Estes príncipes cruzados eram suspeitos e não queriam que João vencesse em sua campanha, quando
Raimundo também queria segurar Antioquia, que ele havia concordado em entregar a João se a campanha
fosse bem sucedida em capturar Alepo, Shaizar, Homs, e Hama. Quando o imperador estava distraído
com as suas tentativas para garantir uma aliança com os Sacro Império Romano-Germânicogermânicos
contra os normandos da Sicília, Joscelino e Raimundo conspiraram para atrasar a entrega prometida da
cidadela de Antioquia para o imperador.
John planejada uma nova expedição ao Oriente, incluindo uma peregrinação a Jerusalém na qual ele
planejava levar seu exército consigo. O rei Fulque de Jerusalém, temendo uma invasão, pediu ao
imperador para trazer apenas um exército de 10.000 homens com ele.[9] João II decidiu então não ir. No
Monte Taurus na Cilícia, em 8 de abril de 1143, ele foi infectado acidentalmente por uma flecha
envenenada esquanto estava caçando. Logo depois ele morreu. Seu sucessor foi Manuel.
Morte de João II Comneno e coroação de Manuel I Comneno (do Manuscrito de Guilherme de Tiro
Historia e Old French Continuation). Iluminura feita em Acre século XIII, Biblioteca Nacional da
França.
O neto de Aleixo, Manuel I Comneno, continuou as doações de terra aos aristocratas, mas também
estendeu a pronoia aos oficiais do exército em substituição de um salário regular. A pronoia
desenvolveu-se como uma forma de impor impostos aos cidadãos do território doado (paroikoi). Os
pronoários tornaram-se uma espécie de coletores de impostos aos que era permitido ficar com uma
percentagem. Não era uma ideia nova, já que na época de Heráclio reorganizara-se o império em distritos
militares chamados themas, nos quais um strategos arrecadava os impostos dos agricultores e governava a
província. Contudo, os paroikoi guardam diferenças com os servos do feudalismo ocidental. Não deviam
lealdade ou serviço nem a strategos nem a pronoários e o imperador retivo sempre a propriedade jurídica
da terra. O pronoário costumava ser, além disso, alheio à terra que lhe tinha sido doada.
O tamanho da pronoia, o número dos paroikoi e os deveres destes eram registrados num documento
chamado praktika. Um pronoário poderia arrecadar impostos sobre o comércio e uma parte da colheita,
bem como os direitos de caça e vários pedágios. A praktika também registrava os deveres do pronoário
com o imperador, que, de precisá-lo, costumava poder pedir auxílio militar. Contudo, o pronoário não
podia recrutar forçosamente os seus paroikoi ,e a maioria costumavam ser remanentes das campanhas
militares, vivendo uma vida confortável na sua terra. Poder negar-se ao serviço militar era um dos
exemplos da autonomia que chegaram a ter, que podia induzi-los a rebeliões regionais se contavam com o
apoio da população local. Estas, porém, eram menos perigosas para o imperador do que as conjuras
palacianas da corte na capital imperial, que o sistema de Aleixo evitava. Nem Aleixo nem Manuel nem
outro imperador do século XII supervalorizaram estas revoltas, assumindo que uma doação de uma nova
pronoia bastaria para as pacificar.
O império que Manuel herdou continuava a sofrer imensos desafios no que dizia respeito ao seu regime
político. Ao final do século XI, os normandos da Sicília libertaram a Itália do controle do imperador
bizantino. Os turcos seljúcidas fizeram o mesmo com a Anatólia central e, no Levante, uma nova força
aparecera - os estados dos Cruzados - os quais desafiaram o Império Bizantino. Neste momento, mais do
que em qualquer outro durante os séculos precedentes, a tarefa que o imperador encarava era assombrosa.
[10]
A primeira prova pela qual Manuel passou em seu reinado deu-se em 1144, quando o príncipe Raimundo
de Antioquia reivindicou os territórios da Cilícia. Contudo, ainda naquele mesmo ano, o Condado de
Edessa estava assolado por uma guerra santa islâmica, iniciada por Imad ad-Din Atabeg Zengi. Raimundo
percebeu que qualquer ajuda imediata do ocidente estava inteiramente fora de questão. Com o seu flanco
oriental perigosamente ameaçado por esta nova guerra, não havia muitas opções a não ser uma
humilhante visita a Constantinopla. Engolindo a seco seu orgulho ferido, dirigiu-se ao norte a fim de
dialogar a respeito da proteção do imperador. Após seu pedido a Manuel, foi-lhe prometido o apoio
requisitado e sua lealdade a Bizâncio estava garantida.[11]
No ano de 1146, Manuel iniciou uma expedição punitiva contra o sultão de Rum, Masud, o qual violava
repetidamente as fronteiras do Império em Anatólia e Cilícia.[12] Não houve qualquer tentativa de se
conquistar sistematicamente o território, entretanto as forças bizantinas atingiram a capital de Rum,
Konya, destruíram a área em torno da cidade, porém não conseguiram transpor seus muros. Manuel
destruiu a cidade fortificada de Philomelion, retirando de lá a população cristã ainda existente.[12] Um de
seus motivos para elaborar esse ataque era o desejo de ser visto, no oeste, como alguém que
verdadeiramente abraçou o ideal das cruzadas. Durante essa campanha, Manuel recebeu uma carta de
Luís VII de França, a qual anunciava a intenção deste de liderar um exército para socorrer os estados dos
cruzados.
Manuel foi impedido de seguir com suas sucessivas vitórias no leste por conta de outros eventos que
ocorriam no oeste e, por isso, deveria seguir para os Bálcãs imediatamente, onde sua presença era
importante. Em 1147, Manuel concedeu uma passagem através de seus domínios a dois exércitos da
Segunda Cruzada, sob o comando de Conrado III da Germânia e Luís VII de França. Naquela época,
ainda existiam membros da corte bizantina que relembraram a passagem da Primeira Cruzada, a qual foi
um momento determinante na memória coletiva da história e que fascinou Ana Comnena, tia de Manuel.
[13]
Chegada da Segunda Cruzada a Constantinopla, conforme retratado por Jean Fouquet, 1455-1460
Muitos bizantinos tinham medo das cruzadas por causa de seu vandalismo e dos roubos praticados pelo
exército sem lei, conforme marchavam através do território bizantino. Tropas bizantinas seguiam os
cruzados com o intuito de policiar seu comportamento e outras tropas eram formadas em Constantinopla e
estavam preparadas para defender a capital de qualquer ato violento. Esta medida de segurança foi
amplamente difundida, porém os numerosos incidentes por conta do abrigo oferecido pelos bizantinos e a
profunda hostilidade entre os francos e os gregos quase principiaram um um conflito entre Manuel e seus
convidados, neste caso, os Cruzados que atravessavam seu território. Manuel tomou suas precauções - as
quais seu avô não tinha tomado - reparando as muralhas da cidade, e pressionando os dois reis por
garantias com relação à segurança de seu território. O exército de Conrado III foi o primeiro a entrar no
território bizantino no verão de 1147, o qual aparece mais proeminentemente nas fontes bizantinas, sendo,
portanto, o que ofereceu mais problemas dentre os dois que penetraram esse território.
Entretanto, após 1147, as relações entre os dois líderes tornaram-se mais amigáveis. Por volta de 1148,
Manuel percebeu que poderia obter uma aliança com Conrado, cuja cunhada, Berta de Sulzbach, ele
esposara; na verdade, ele persuadira o rei alemão a renovar sua aliança contra Rogério II da Sicília.[14]
Para a infelicidade do imperador bizantino, Conrado morreu em 1152 e, apesar de todas as tentativas,
Manuel não conseguiu alcançar um acordo com seu sucessor, Frederico I Barbarossa.
Em 1156, Manuel voltou sua atenção novamente para Antioquia, quando Reinaldo de Châtillon, o
príncipe de Antioquia, afirmou que o imperador bizantino não cumpriu sua promessa de pagá-lo uma
importância em dinheiro, e prometeu atacar a província bizantina de Chipre.[15] Ele mandou prender o
governador da ilha e sobrinho do imperador, João Comneno, e o general Michael Branas.[16] O historiador
latino Guilherme de Tiro lamentou a guerra contra os cristãos e descreveu detalhadamente as atrocidades
cometidas pelos homens de Raynald..[17] Tendo sido a ilha saqueada e todos os seus bens pilhados, o
exército de Reinaldo de Châtillon mutilou os sobreviventes antes de forçá-los a comprar seus próprios
produtos a preços altíssimos com apenas com o dinheiro que lhes havia restado. Enriquecidos com o
espólio que faria a Antioquia rica por muitos anos, os invasores embarcaram em seus navios e partiram
para sua pátria..[18] Raynald enviou, ainda, alguns dos refens mutilados a Constantinopla como uma
demonstração de sua desobediência e seu desprezo pelo imperador bizantino.[16]
Manuel I Comneno.
Manuel respondeu a este ultraje de uma forma muito enérgica. No inverno de 1158-1159, ele marchou
para Cilícia, à frente de um numeroso exército; a velocidade em que seu exército caminhava (Manuel
acelerou o passo com 500 cavaleiros à frente do exército principal) era tão grande que conseguiu
surpreender o Teodoro II da Armênia, o qual participou do ataque a Chipre.[19] Todas as cidades e vilas
renderam-se imediatamente a Manuel, sendo Toros forçado a fugir para as montanhas; diz-se que
sobreviveu abrigando-se sozinho sob as pedras das colinas, onde um pastor lhe trazia comida para mantê-
lo vivo.
Com a paz restabelecida, uma grande celebração foi organizada no dia 12 de abril de 1159 para receber
triunfalmente o exército bizantino na cidade, com Manuel montado em seu cavalo, enquanto o príncipe da
Antioquia e o rei de Jerusalém seguiam-no a pé. Manuel mostrou justiça aos cidadãos e presidiu jogos e
torneios para a população. Em maio, reuniu um exército cristão e partiu para Edessa, porém abandonou a
campanha, quando Nur ad-Din libertou 6.000 prisioneiros cristãos, capturados em várias batalhas desde a
segunda cruzada.[22] Mesmo com o glorioso fim da expedição, pesquisadores dizem que Manuel recebeu
muito menos do que esperava em termos de compensação imperial.
Satisfeito com seus sucessos, Manuel retornou a Constantinopla; entretanto, no caminho de volta, suas
tropas foram surpreendidas pelos turcos. Apesar disso, Manuel e seu exército venceram a batalha,
derrotando o inimigo, causando-lhe imensas perdas. No ano seguinte, Manuel expulsou os turcos
seljúcidas de Isauria.[23]
No ano de 1147, Manuel travou uma guerra com Rogério II da Sicília, cuja frota capturou a ilha bizantina
de Corfu e saqueou as cidades gregas. Entretanto, apesar de ter sido distraído por um ataque cumanos nos
Bálcãs, Manuel conseguiu uma aliança com Conrado e o auxílio dos venezianos, conseguindo derrotar
Rogério e sua poderosa esquadra. Em 1149, Manuel, contando com 500 navios, 1.000 navios de
transporte de soldados e em torno de 30.000 homens, recuperou a ilha de Corfu e preparou-se para a
ofensiva contra os normandos.[24] Ele já havia concordado com Conrado em realizar uma invasão conjunta
e com a divisão do sul da Itália e Sicília. A renovação da aliança germânica foi o ponto principal da
política de relações exteriores de Manuel por todo seu reinado, apesar da divergência gradual de
interesses entre os dois impérios, após a morte de Conrado.[14]
Com a morte de Rogério em fevereiro de 1154 e a sua sucessão por Guilherme I da Sicília, bem como as
rebeliões espalhadas contra as leis do novo rei na Sicília e Apúlia, a presença dos refugiados apulianos na
corte bizantina e o erro cometido por Frederico Barbarossa (sucessor de Conrado) ao lidar com os
normandos encorajaram Manuel a tirar vantagem das várias instabilidades existentes na península Itálica.
[25]
Ele enviou Miguel Paleólogo e João Ducas, os quais possuíam o alto cargo de sebastos, com as tropas
bizantinas, 10 navios e uma grande quantidade de ouro para invadir a Apúlia (1155).[26] Os dois generais
receberam instruções para apoiar Frederico Barbarossa, uma vez que era hostil aos normandos da Sicília e
estava ao sul dos Alpes naquele momento, porém ele recusou o apoio porque seu exércio desmoralizado
desejava chegar ao norte dos Alpes o mais rápido possível. No entanto, com a ajuda dos barões menos
afeiçoados a ele, incluindo-se o conde Roberto de Loritello, a expedição de Manuel obteve um progresso
bastante rápido no momento em que todo o sul da Itália rebelou-se contra a coroa siciliana e o rei
Guilherme I.[14] Houve uma sucessão de eventos espetaculares conforme muitas fortalezas rendiam-se ou
por força ou pela sedução do ouro.[22]
A cidade de Bari, que foi a capital por séculos da Catapan bizantina do sudoeste da Itália antes da
chegada dos Normandos, abriu seus portões ao exército do imperador e os cidadãos conseguiram destruir
a cidadela normanda. Com a queda de Bari, as cidades de Trani, Giovinazzo, Andria, Taranto e Brindisi
também foram capturadas e Guilherme, que chegou com seu exército para combatê-las (seu exército
possuía 2.000 cavaleiros), foi derrotado.[27]
Papa Adriano IV, aquele que negociou com Manuel contra o rei normando Guilherme I da Sicília
Encorajado pelo sucesso, Manuel sonhou com a restauração do Império Romano através da restauração
entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica, uma perspectiva que seria frequentemente oferecida ao Papa
durante negociações e planos de aliança.[28] Caso houvesse uma oportunidade de reunir as igrejas
ocidental e oriental, e reconciliar-se com o Papa de forma permanente, este seria, provavelmente, o
momento mais favorável. O Papado nunca se deu a bons termos com os normandos, exceto quando sob a
coação estabelecida pela ameaça da ação militar direta. Ter o "civilizado" Império Romano do Oriente em
sua fronteira do sul era infinitamente preferível ao papado do que ter de lidar constantemente com os
incômodos normandos da Sicília. Era do interesse do Papa Adriano IV alcançar um acordo de qualquer
forma, uma vez que, caso ocorresse o acordo, aumentaria substancialmente sua influência sobre todos os
seguidores cristãos ortodoxos. Manuel ofereceu uma imensa quantia em dinheiro ao Papa a fim de
provisionar as tropas, com o pedido ao Papa que garantisse ao imperador bizantino poder sobre três
cidades costeiras em troca de assistência na expulsão de Guilherme da ilha da Sicília. Manuel também
prometeu pagar 5.000 libras de ouro ao Papa e à Cúria.[29] Negociações foram apressadamente feitas, e
uma aliança foi formada entre Manuel e Adriano.[25]
Uma derrota em Brindisi em 1156 terminou com a restauração bizantina na Itália e em 1158 as tropas
orientais já haviam deixado a Itália. Após a morte de Manuel, os normandos da Sicilia novamente
invadiram o território bizantino em 1185, saqueando Tessalônica.
Para enfraquecer o poder de Veneza sobre o comércio imperial, Manuel assinou acordos com Pisa e
Gênova. Para contrariar as aspirações de Frederico Barbarossa, apoiou as cidades livres da Itália. Porém
não conseguiu que os italianos apoiassem seus interesses; em uma breve guerra com os venezianos,
conseguiu expulsa-los do mar Egeu.
Os resultados finais de sua campanha na Itália foram muito limitados. A cidade de Ancona passou a ser
uma base bizantina na Itália. Os normandos da Sicilia, enfraquecidos, aceitaram a paz para o resto do
reinado de Manuel. A campanha havia tido um enorme custo em dinheiro, para produzir apenas
resultados limitados.
Em sua fronteira setentrional, Manuel fez um grande esforço para conservar as conquistas de Basílio II.
Obrigou os sérvios rebeldes a vassalagem (1150 – 1152) e lançou ataques constantes a Hungria com
intenção de anexar seu território até o rio Sava. Nas guerras de 1151–1153, e 1163–1168, Manuel levou
suas tropas até a Hungria, penetrando muito em seu território e obtendo um considerável espólio de
guerra, porem, ao mesmo tempo, foi contido pelo rei Geza II da Hungria durantes varias batalhas. Em
1155 o rei húngaro e Manuel firmaram a paz. No entanto, em 1156, Manuel sugeriu ao sacro imperador
romano germânico Frederico Barbarossa, que juntos, os impérios venceriam o reino da Hungria. O
imperador rejeitou o plano, e em 1158 decidiu atenuar suas hostilidades contra Geza II.
Em 1162 morreu Geza II da Hungria e seu filho Estêvão III herdou de imediato o trono. Depois de ter
centrado seu olhar para o oriente e cansado de tantas guerras, Manuel I decidiu que deveria retomar sua
guerra contra o reino húngaro e assim, enviou uma embaixada a Hungria, para que fosse aceita a coroação
do príncipe Estêvão IV, que até este momento havia estado vivendo em Constantinopla a seu lado.
Igualmente mobilizou seus exércitos até a fronteira do reino magiar e antes disso, os senhores húngaros
por outro lado aceitaram como rei Ladislau II que se encontrava em uma posição mais independente.
Ladislau II de Hungria havia sido coroado em 1162, mas seria envenenado em janeiro de 1163.
Em seguida, o famoso imperador Estêvão IV subiu ao trono e serviu os interesses do imperador Manuel:
cortou todos os laços com o papado, e inclusive confiou a produção de dinheiro a Constantinopla.
Posteriormente, Estêvão III sobrinho de Estêvão IV, encabeçaria uma rebelião e em 19 de junho de 1163
venceria o rei com laços bizantinos, a quem permitiria fugir até o imperador Manuel I. No entanto, o
imperador bizantino deixou a cidade de Sófia, jurando a Estêvão IV que resolveria o assunto. Desta
forma, ele ofereceu a mão de sua filha Maria, a Bela III da Hungria, o irmão de Estêvão III, nomeado
herdeiro do trono húngaro. Em troca da paz, Manuel perdeu os territórios da Croácia e Dalmácia, e da
presença de Bela em Constantinopla. O acordo se consumou e em 1163, Bela retornou a Constantinopla,
sendo educado de acordo com a fé ortodoxa, adotando o nome de Alexios.
No entanto, Estêvão III não entregaria os territórios exigidos e perante isso, Manuel mobilizou seus
exércitos em 1164 com Estêvão IV em seu comando. O imperador avançou até o coração da Hungria, até
Bács, logo que Estêvão III continuava negando a entrega dos territórios, protegidos por tropas germânicas
e checas. No entanto, Manuel utilizaria o rei checo Ladislau II, quando Estêvão III renunciaria à Dalmácia
e à Croácia inclusive até à Sírmia, e Manuel renunciaria seu apoio a Estêvão IV.
Em 1167 ocorreu a Batalha de Zimony, onde o general bizantino Andronikos Kontostephanos a serviço de
Manuel, comandou e venceu as forças húngaras, recuperando os territórios de Sírmia, vitória com a qual
se contentaria. Após a morte de Estêvão III em 1172, Manuel enviou a Hungria Bela III, que seria
coroada de imediato como Bela III da Hungria e manteria uma política orientada a Constantinopla durante
todo seu reinado.
Os benefícios da paz: uma igreja rura bizantina. Durante o reinado de Manuel I se edificaram numerosas
igrejas.
Nos Bálcãs, Manuel alcançou êxitos importantes o que lhe permitiu reforçar a segurança da Grécia e da
Bulgária. Essas províncias experimentaram um período de brilhantismo que duraria até o final do século.
De fato, estima-se que o império no século XII era mais rico e mais prospero do que nunca, desde a
invasão persa na época de Heráclio, cerca de quinhentos anos antes.
As cidades imperiais haviam começado um tímida recuperação desde fins do século IX, a derrota de
Manzikert (1071), contudo, as guerras civis antes de Aleixo I interromperam o processo. Apenas os êxitos
dos Comnenos detiveram o colapso final do império, e graças a eles se recuperou a vida urbana. A
população de Constantinopla chegava a meio milhão de habitantes no período de Manuel, o que a
converteu na maior cidade da Europa e com diferença, seguia crescendo. O caráter cosmopolita da capital
se viu reforçado pela chegada de mercadores italianos e cruzados a caminho da Terra Santa.
Os venezianos e outros italianos abriram as portas do Egeu ao comércio com os reinos cruzados de
Ultramar e com o Egito fatímida. Esses comerciantes demandaram produtos em toda a Grécia, Macedônia
e as ilhas. Tessalônica, a segunda cidade do império, celebrava uma famosa feira de comerciantes de todo
o Bálcãs. Em Corinto, a produção de seda animou a economia local. Tudo isto era devido aos
imperadores Comnenos e a "Pax Byzantina" firmemente estabelecida no núcleo de seu império.
Em 1169, Manuel enviou uma expedição conjunta com o rei Amalrico I de Jerusalém contra o Egito. A
expedição forneceu uma extraordinária demonstração de poder por parte do império, por causa do grande
exército e frotas enviados, que também significaram um custo enorme para os bizantinos.
Apesar de um ataque a uma tão larga distancia do centro do império podia parecer algo extraordinário,
pode ser entendida pela política de Manuel que buscava aproveitar-se dos latinos para assegurar a
sobrevivência do império. Uma invasão bem sucedida do Egito oferecia muitas vantagens para o império.
Primeiro, evitaria uma aliança islâmica para expulsar os cruzados. Segundo, a riqueza do Egito era tão
que os ingressos a obter (inclusive partilhado com os cruzados) compensavam o esforço realizado. Alem
disso, a aliança uniria ainda mais os cruzados ao império.
A invasão do Egito esperava contar com certo apoio da população local copta que vivia a mais de
quinhentos anos baixo o poder muçulmano. Porem o fracasso na cooperação plena entre cruzados e
bizantinos fez com a operação falha-se. Os bizantinos só levaram provisões para três meses; porem
enquanto os cruzados estavam preparados, já se estavam acabando a dos bizantinos. A aliança se manteve
e se fizeram novos planos porem não foram realizados.
Em geral, as relações de reinado de Manuel Comneno deram pouca atenção à expedição do Egito, devido
a seu fracasso e a importância de outros assuntos, como a ascensão de Veneza e dos turcos seljúcidas. No
entanto, as consequências do fracasso foram muito sérias. Manuel havia investido muito tempo, dinheiro
e homens neste ataque, recursos que poderiam ter tido melhor aproveitamento contra os turcos na
Anatólia.
O sultão seljúcida Kilij Arslan II aproveitou a ocasião para eliminar seus rivais e reforçar seu poder na
Ásia Menor. Pouco depois, a ascensão de um jovem general curdo, Saladino, só seria possível graças ao
controle do Egito, o que permitiria expulsar os cruzados de Jerusalém, mudando o equilíbrio de poder no
Mediterrâneo Oriental para sempre.
Em 17 de setembro de 1176, Manuel foi derrotado por Kilij Arslan II na Batalha de Miriocéfalo. Este
desastre foi um sério revés pessoal, desde então, debilitando a saúde de Manuel até este morrer em 1180.
O sucessor de Manuel foi seu filho Aleixo II.
Imperatriz Maria de Antióquia.
Pela morte de Manuel, em 1180, Maria de Antióquia (mulher de Manuel), que se tornara freira sob o
nome de Xene ("estrangeira"), assumiu o cargo de regente (segundo alguns historiadores). Afastou o seu
jovem filho do poder, empossando antes o prōtosebastos Aleixo (primo de Aleixo II), que se acreditava
ser amante da regente. Os amigos do jovem Aleixo II tentaram criar um partido contra a imperatriz-mãe e
o prōtosebastos; a irmã de Aleixo II, Maria, mulher do César João, provocou desordens e motins nas ruas
da capital.
Com a desorganização ocorrida pelos motins, Bela III da Hungria tomou a Dalmácia, a Bósnia e a Sirmia,
e com elas todas as conquistas das tão custosas guerras húngaras de Manuel se podiam dar por perdidas.
Os frutos de largas lutas contra os ´sérvios se perderam com a mesma rapidez, pois o príncipe sérvio
Estêvão Nemanja repudiou sem dificuldade a soberania bizantina. Por sua vez, os turcos conquistaram
uma ampla porção da Ásia Menor, cortando em dois o norte e o sul bizantinos da Anatólia. Além disso, o
rei armênio Ruben atacou a Cilícia.
A revolta foi derrotada a 2 de Maio de 1182; Andrónico Comneno, primo direito do falecido imperador
Manuel, tirou partido da desordem para tentar usurpar a coroa, entrando em Constantinopla, onde foi
recebido quase com honras divinas, e derrubou o governo. A sua chegada foi assinalada por um massacre
dos latinos na cidade, em especial dos mercadores venezianos, que Andrónico nada fez por evitar ou
deter. Permitiu a coroação de Aleixo II, mas foi responsável pela morte da maior parte dos atuais e
eventuais apoiantes daquele, incluindo a sua mãe, meia-irmã e do césar, e recusou-lhe qualquer
intervenção nos assuntos públicos.
Andrónico foi formalmente elevado a co-imperador e pouco tempo depois, com o pretexto de que a
governação dividida era nociva para o império, mandou estrangular Aleixo II com uma corda de arco, em
Outubro de 1183.
Andrónico I Comneno foi provavelmente o membro mais brilhante e fascinante de sua inteligente
dinastia. Sua turbulenta e trágica vida destaca por seus aspectos novelescos de entre todos os imperadores
bizantinos. Levou uma vida aventureira e foi proscrito, encarcerado e exilado em diversas ocasiões.
Homem belo e eloquente, bem como forte e corajoso, destacou-se como grande general e hábil político.
Após estrangular seu sobrinho e se tornar imperador, Andrónico se casou com a noiva de Aleixo II, [[Inês
de Borgonha|Inês, filha de Luís VII da França.
Assim começou o curto e enérgico reinado de Andrónico I Comneno, o ultimo e o mais odiado de sua
casa. Duas de suas tarefas essenciais na política interna eram: estabelecer um governo nacional e livrar o
império da preponderância latina e limitar o poder da aristocracia dos altos funcionários e de grandes
latifundiários, cuja supremacia provocava a ruína de camponeses modestos.
Em 1183 os húngaros aliados com os sérvios invadiram o império. Belgrado, Branicervo, Nis e Sófia
foram devastadas de tal forma que seis anos mais tarde os cruzados encontraram estas cidades desabitadas
e em parte destruídas. Em sua luta contra os bizantinos, Estêvão Nemanja logo assegurou a independência
de seu país e aumentou sua extensão, à custa do Império Bizantino, para o leste e sul.
O exercito imperial da zona, a mando de Andrónico Lapardas e Aleixo Branas, se dividiu entre os
partidários do novo imperador, dirigidos por Brasa, e os sediciosos de Lapardas, que temia por sua vida
baixo um novo regime, de modo que tomou caminho de Adramyttium para adquirir armas, porem foi
capturado por homens do imperador e cegado.
Pronto, Andrónico tomou medidas contra os inimigos externos: depois de firmar uma paz vantajosa com
os seljúcidas, lançou um rápido contra-ataque contra os húngaros em 1184, tomando Serdica e Nis e,
aliado dos sérvios de Estêvão Nemanja, chegou ao Danúbio por Belgrado. Bela teve que firmar a paz,
pois estava em plena luta por Zadar com Veneza.
Enquanto isso,genoveses e pisanos se vingavam da cruel matança mediante a pirataria. Para combatê-los,
firmou um tratado com a Senhoria de Veneza na primavera de 1185, pelo qual Andrónico consentia em
libertar os venezianos presos em Constantinopla desde a matança de 1182 e se comprometia a pagar certa
soma todos os anos, em compensação pelos danos sofridos, abandonando a primeira anualidade em 1185.
Isto manteve a distancia as outras repúblicas italianas.
Ele também retomou as relações com Roma. O papa Lúcio III enviou em finais de 1182, um legado a
Constantinopla. Para congraçar-se com o pontífice, Andrónico permitiu que se abriria uma nova igreja
latina em Constantinopla apesar da oposição do patriarca.
Para combater as mas relações com os turcos, enviou emissários ao sultão Saladino, tentando assim
contrapesar a hostilidade manifestada pelos seljúcidas de Iconio com uma aliança com o sultanato da Síria
e Egito, situado na retaguarda deste. Pouco antes de sua morte, Andrónico fez uma aliança formal com o
sultão do Egito. A aliança estipulava que se Saladino, com o aconselhamento e apoio do império, pudesse
ocupar Jerusalém, reteria para si qualquer outro território que ambos pudessem ganhar, porem possuiriam
suas aquisições sob a soberania de Andrónico. O imperador tomaria posse de todos os territórios
conquistados ao sultão de Iconio até Antioquia e a Armênia Menor, em caso de que novos aliados
pudessem apoderar-se de tais regiões. A morte impediu Andrónico de realizar esse plano.
Andrónico, inimigo da nobreza latifundiária, decidiu acabar com seus muitos abusos, e, antes de tudo,
lutar para limitar o crescente feudalismo que minava o poder absoluto do imperador, e arrancar da raiz a
prepotência da aristocracia. Andrónico acometeu suas tarefas com ardor, iniciando um amplo programa
para frear a expansão nobiliária e restaurar a administração central com base do poder imperial, tal e
como foi à dinastia macedônica. Posto que não reconhecia outro método de governo que a brutal
aplicação da violência, seu governo se converteu em uma cadeia de atos de terror, conspirações e
atrocidades. Não cabe duvida, tendo até seus detratores reconhecendo isto, que suas medidas levaram nas
províncias do império uma rápida e muito sensível melhora.
Com mãos de ferro, colocou fim a corrupção imperante na administração. Ele pois fim a venda de cargos
públicos; nomeou como juízes pessoas honradas e incorruptíveis, e os funcionários passaram a ser
elegidos por sua capacidade e remunerados suficientemente para que assim fossem menos inclinados ao
suborno.
A prática mais frequente dos corruptos, a cobrança abusiva de impostos foi erradicada. Foi submetido
severas penas aos cobradores de impostos e se adotaram medidas implacáveis contra os grandes
latifundiários, executando a numerosos aristocratas. Isto acarretou em uma melhora substancial da
situação dos camponeses das províncias, tendo ele respirado aliviado, sabendo pela primeira vez o que era
a segurança legal perante os abusos do governo.
Foi o administrador mais capaz de toda a sua dinastia. Graças ao aumento dos ingressos do tesouro, pode
satisfazer as muitas dificuldades encontradas em seu breve reinado. Ele também produziu uma grande
impressão sobre seus contemporâneos suprimindo o costume amplamente difundido de saquear barcos
naufragados. A este péssimo habito, Andrónico ordenou que os culpados fossem pendurados nos mastros
dos barcos saqueados.
O Comneno não só estava em mas relações com a nobreza provincial, mas também tampouco suportava
seus parentes imperiais. Eles odiavam seu estilo autocrático e invejavam a sua posição. O imperador só
poderia contar com um circulo de agentes e conselheiros, embora ele tentou criar um partido favorável
entre o proletariado da capital praticando a demagogia, o populismo e as vantagens de uma honesta
administração.
Assim tentou melhorar as condições de vida dos pobres mandando construir uma nova instalação de
condução de água a capital, procedente do rio Hydrales. Esta medida, contudo, foi recebida com frieza,
pois os latinófobos constantinopolitanos não o perdoavam por ter se aliado com Veneza novamente nem
que sua injustificada caça as bruxas castigava tanto os nobres como a simples comerciantes e tendeiros.
As revoltas internas e a perda do apoio familiar causaram a Andrónico um estado de paranóia agudo,
arremetendo-se contra todos os seus inimigos reais ou supostos. A luta contra a aristocracia degenerou em
uma terrível brutalidade. Os métodos que ele utilizou privavam de base, por si só, impor as suas
aspirações de justiça. A violência respondeu com mais violência. Houve uma interminável sucessão de
conspirações. Irritado com a resistência, o imperador, cuja irritabilidade e desconfiança tinham chegado a
dimensões verdadeiramente patológicas, intensificaram suas ações, que, no entanto, só conseguiu ganhar
novos inimigos.
Vendo traições e conspirações em todo lugar, incapaz de distinguir os culpados dos inocentes, Andrónico
introduziu um regime de terror. Todo aquele que fosse minimamente suspeito poderia temer por sua vida
e ou de sua família; era rara a semana que não havia detenções arbitrarias, condenações injustas e
execuções cruéis em Constantinopla, o que levou ao ódio e ao descontentamento. O império se
encontrava em um estado de guerra civil latente. A aristocracia feudal durante muito tempo tornou-se o
verdadeiro apoio do Estado e do poder militar. Ela não poderia ser eliminada, mas a sua aniquilação
através de execuções maciças fez os fundamentos de força militar do imperio desse tempo cambalear.
Além disso, acompanhado de seus guarda costas bárbaros, o imperador passou mais tempo em seu
palácio de verão fora da cidade, na companhia de meretrizes, músicos e concubinas.
Porem o golpe maior e decisivo veio do Ocidente. Aleixo Comneno, sobrinho e copeiro do defunto
imperador Manuel, foi exilado por Andrónico em Cumania, refugiando-se na corte de um antigo inimigo
do império, Guilherme II, governante normando da Sicília. Aproveitando dos problemas internos
bizantinos, preparou uma grande expedição para vingar a matança de 1182 e para tomar o trono do
império. Guilherme reuniu 80.000 homens em junho de 1185, incluindo um corpo de cavalaria seleta de
5.000 ginetes, que embarcaram em uma frota de 200 unidades, levando-as aos Bálcãs.
Pronto as tropas puseram sitio em Dyrrhachium (atual Durrës), que caiu em 24 de junho pela traição de
um comandante, que formava parte da nobreza afetada no regime. Depois os normandos seguiram para
Tessalônica. Pelo caminho encontraram pouca resistência chegando na cidade em 6 de agosto. Enquanto
isso, sua armada ocupava as ilhas de Corfu, Cefalônia e Zane, alcançando a cidade em 15 de agosto. Os
normandos minaram suas muralhas sem problemas e Tessalônica foi tomada em assalto em 24 de agosto
e saqueada com atrocidade.
Deixando em Tessalônica uma parte de suas tropas, um segundo corpo seguiu para Serres e o grosso de
suas tropas marchou sobre Constantinopla, acabando em Mosynopolis. Ao saber da tomada de
Tessalônica e da aproximação dos normandos, a população da capital se inquietou, acusando a Andrónico
de indeciso e debilitado.
Andrónico enviou mensageiros as guarnições da Ásia Menor, Bulgária e Peloponeso para iniciar uma
contra-ofensiva contra os normandos. Andrónico conseguiu formar quatro divisões. O único que se
atreveu a atacar os normandos foi o general Teodoro Cumno, que se retirou após umas poucas
escaramuças.
A tenção afetou ainda mais o estado paranóico do imperador, que se afanou a procurar mais traidores. Um
funesto oráculo lhe revelou que o imperador estava com seu poder em perigo pois alguém com as iniciais
Is, usurparia o trono. Andrónico ordenou que procurassem por todos com essas iniciais chegando a
encontrar Isaac Angelo (neto de Aleixo I Comneno) que já havia se amotinado contra o imperador, mas
atualmente vivia tranquilamente na cidade.
Quando tentaram prender Isaac, este fugiu e foi para Santa Sofia onde incitou os cidadãos da cidade a se
amotinarem contra o imperador Andrónico. Com o motim, Isaac foi coroado imperador pelo patriarca.
Contudo, o predecessor, recém chegado à capital quando começou a revolta, só pode trinchar-se no
palácio e tentar uma desesperada resistência, porem teve de ceder ao ímpeto furioso de seus súditos.
Andrónico tentou fugir para a Criméia com sua mulher e sua concubina mas acabou sendo capturado,
extremamente torturado e morto por um soldado italiano. A multidão também atacou seu filho Manuel
que foi cegado. Seu outro filho, o co-imperador João acabou morto por suas tropas na Trácia quando
chegou a noticia da morte de seu pai. O resto da família Comneno conseguiu salvar-se.
Isaac II Ângelo reforçou a sua posição enquanto imperador através de casamentos dinásticos em 1185 e
1186. A sua sobrinha, Eudóxia Angelina, casou-se com Estêvão, filho de Estêvão Nemanja. A irmã de
Isaac, Teodora, casou-se com o marquês italiano Conrado de Montferrat. Em Janeiro de 1186 o próprio
Isaac contraiu matrimônio com Margarida da Hungria (rebatizada Maria), irmã do rei Bela III da Hungria.
A Hungria era um dos maiores e maios poderosos vizinhos do império, além do que Margarida tinha a
vantagem de ter uma linhagem da mais alta aristocracia, sendo aparentada com famílias reais da Rússia de
Kiev, do Sacro Império Romano-Germânico, da Itália, do Condado de Provença e com dinastias
bizantinas anteriores.
Isaac iniciou o seu reinado com uma vitória decisiva sobre o rei normando da Sicília Guilherme II nas
margens do rio Estrímon, a 7 de Setembro de 1185, que invadira o império no final do reinado de
Andrónico I. Noutros capítulos a sua política não logrou obter tanto êxito. A sua tentativa de recuperar
Chipre das mãos do nobre rebelde Isaac Comneno fracassou devido à ingerência normanda.
A pesadíssima carga fiscal que impôs para poder custear as guerras e os casamentos da sua família
resultou na revolta da Valáquia e da Bulgária, em finais de 1185. Esta revolta conduziu à criação do
Segundo Império Búlgaro sob a dinastia dos Asen. Em 1187, Aleixo Branas, o vencedor dos normandos,
foi enviado contra os rebeldes mas voltou-se contra o imperador e tentou por sua vez conquistar
Constantinopla.
Frederico Barbarossa.
A atenção do imperador foi posteriormente exigida a oriente, de onde surgiram e foram sendo derrotados
diversos pretendentes ao trono. Em 1189 o imperador romano-germânico Frederico I obteve autorização
para atravessar o império com as suas tropas durante a Terceira Cruzada; mas Isaac, que tinha concluído
havia pouco tempo uma aliança com Saladino, colocou-se no caminho, cumprindo somente em 1190 sob
ameaça de ataque o acordado.
Os cinco anos seguintes foram perturbados pela guerra constante com a Bulgária, contra a qual Isaac
comandou em pessoa diversas campanhas. Apesar de terem começado bem, estas iniciativas não tiveram
efeitos duradouros e numa ocasião em 1190, Isaac escapou com vida por pouco. Enquanto se preparava
para uma nova campanha, Aleixo Ângelo, o irmão mais velho do imperador, aproveitando-se da ausência
deste numa caçada, fez-se proclamar imperador e foi rapidamente reconhecido pelos soldados como o
imperador Aleixo III. Isaac foi cegado e preso em Constantinopla.
Para redimir-se deste crime e ao mesmo tempo consolidar a sua posição no trono, Aleixo teve de
distribuir dinheiro tão generosamente que deixou o tesouro vazio, e tratou os oficiais do exército tão
benevolentemente que o império ficou praticamente sem defesa. A imperatriz Eufrósine Ducaina
Camaterina, competente e enérgica, tentou em vão suster a sangria financeira; Vatatzes, o seu homem de
mão favorito na tentativa de reformar o império, acabou por ser assassinado por ordem do imperador.
No Oriente o império estava a ser avassalado pelos seljúcidas; a norte os búlgaros e os valáquios abatiam-
se sobre as planícies da Macedônia e da Trácia sem que ninguém se lhes opusesse, e Kaloyan da Bulgária
tomou várias cidades importantes, enquanto Aleixo gastava somas astronômicas em palácios e jardins e
tentava resolver a crise por via diplomática. A tentativa do imperador de fortalecer as defesas do império
através de concessões a aristocratas bizantinos e búlgaros nas regiões fronteiriças deu maus resultados,
uma vez que aqueles aproveitaram para se estabelecerem como senhorios independentes. A autoridade
bizantina sobreviveu, mas num enquadramento muitíssimo enfraquecido.
Pouco depois Aleixo viria a defrontar-se com uma ameaça ainda mais impressionante. Em 1202 os
príncipes ocidentais reunidos em Veneza lançaram a Quarta Cruzada. Aleixo Ângelo, filho do deposto
Isaac II, fugira havia pouco de Constantinopla e apelara para os Cruzados, prometendo-lhes o fim do
Grande Cisma do Oriente, o custo do seu transporte e apoio militar aos Cruzados, se estes o ajudassem a
depor o tio e colocassem a ele no trono que fora de seu pai.
Os cruzados, cujo objetivo inicial era o Egito, deixaram-se convencer a desviar o rumo para
Constantinopla, diante da qual surgiram em Junho de 1203, proclamando Aleixo como imperador e
incitando a população da capital a derrubar Aleixo III. O imperador não tomou medidas para resistir, e as
suas tentativas para subornar os cruzados fracassaram. O seu cunhado, Teodoro Lascaris, o único a
esboçar um movimento de resistência, foi derrotado em Scutari, e teve início o cerco de Constantinopla.
Aleixo IV.
A 17/18 de Julho os cruzados, comandados pelo idoso Doge Henrique Dandolo, escalaram as muralhas e
tomaram a cidade de assalto. Durante os combates no interior das muralhas Aleixo III escondeu-se no
palácio e, por fim, meteu-se num barco e fugiu com uma das suas filhas, Irene, com todos os tesouros que
conseguiu juntar, rumo a Develton na Trácia, deixando para trás a sua mulher e demais filhas. Isaac II,
tirado da prisão e envergando novamente a púrpura imperial, recebeu apoteoticamente o seu filho.
Apesar das grandiosas promessas de Aleixo, Isaac, com maior experiência e sentido prático, sabia que a
dívida dos Cruzados não poderia ser paga com fundos do tesouro imperial. Aleixo, no entanto, parecia
não estar plenamente inteirado do estado calamitoso a que tinham chegado às finanças imperiais nos
cinquenta anos anteriores. Conseguiu, ainda assim, reunir metade da quantia prometida, apropriando-se
de bens da igreja e confiscando as propriedades de opositores. Dirigiu-se então contra o seu tio Aleixo III,
que ainda controlava a Trácia. O saque de algumas cidades trácias ajudou a aumentar o tesouro de guerra,
mas entretanto a tensão crescia entre os cruzados cada vez mais inquietos e os cidadãos de
Constantinopla.
Após sua coroação, Aleixo V começou a reforçar as defesas de Constantinopla e pois fim as negociações
com os latinos. Porem era tarde demais, não houve tempo para o novo imperador: durante a batalha que
se seguiu, defendeu a cidade com coragem e tenacidade. Os cruzados demonstraram serem muito fortes e
Aleixo foi obrigado a fugir para a Trácia logo após a cidade cair.
Então, Aleixo V tentou aliar-se com Aleixo III contra os latinos mas foi cegado por ele e colocado a mão
dos cruzados, que o condenaram como assassino de Aleixo IV. Foi o ultimo imperador bizantino antes do
estabelecimento dos reinos cruzados que durariam alguns anos até o restabelecimento do Império
Bizantino.
Depois da Quarta Cruzada os territórios do Império Bizantino foram divididos em vários estados,
iniciando-se o chamado período da Francocracia (em grego Φραγκοκρατία):
Estados Cruzados
Sucessores diretos
Entre os sucessores bizantinos, o império de Niceia sem duvida era o mais forte. É deste império que
surgiu a última dinastia do império bizantino, a Paleóloga. No ano de 1261 Miguel VIII Paleólogo
conquistou a cidade de Constantinopla e assim reestruturou o antigo império bizantino.
A sua principal ambição era retornar o Império Bizantino à sua glória de outrora. Aboliu todos os
costumes introduzidos pelos conquistadores latinos e, restabeleceu muitas das antigas instituições e
cerimônias bizantinas de antigamente. Estabeleceu acordos de paz com o Principado de Acaia (1263) (que
havia sido incitado pelo papa romano a atacar Niceia) que lhe cedeu terrenos na Despotado da Moreia, e
com o Despotado do Épiro (1264). No entanto, Miguel falhou em trazer o império até as fronteiras do
início do século XIII: o norte dos Bálcãs foi tomado pelos búlgaros e sérvios, o império de Trebizonda
permanecerá independente até a conquista otomana, Creta continuará sob controlo francês até 1489, altura
em que tiveram de ceder aos venezianos, o Despotado do Épiro, o Reino de Tessalônica, o Principado da
Moreia e o Ducado de Atenas, na posse dos francos.
Para separar o papa dos seus antigos aliados, Miguel decidiu unir a Igreja Católica à Igreja Ortodoxa, e
efetivamente em 1274, no Segundo Concílio de Lyon forma-se uma tênue aliança entre as duas igrejas.
Esta aliança veio com um preço, todavia, as cadeias de Constantinopla, encheram-se de gente descontente
com a união. Essa união seria efêmera: o papa Martinho IV, com uma pequena ajuda de Carlos de Anjou,
rei da Sicília, excomungou Miguel. Como vingança, o basileus bizantino manipulou a Companhia Catalã
de modo a que atacassem a Sicília, o que cortou o reino de Carlos pela metade.
Miguel VIII Paleólogo.
Ao reconstruir o Império Bizantino, Miguel restaurou a velha administração, porém sem se esforçar por
corrigir os seus abusos, e ao reduzir a cunhagem de moeda apressou a decadência do comércio bizantino.
A retirada de tropas da Ásia para a defesa e reconquista da Europa abriu caminho para os vários emirados
turcos, inclusive aquele dos Otomanos, se instalarem em antigos territórios do Império de Niceia. Miguel
morreu na Trácia em Dezembro de 1282, mas a sua dinastia continuou durante quase dois séculos, mais
do que qualquer outra dinastia romana. Seu sucessor foi seu filho mais velho Andrónico II Paleólogo.
Andrónico II procurou resolver alguns dos problemas do Império Bizantino através da diplomacia.
Depois da morte da sua primeira mulher, o imperador casou-se com Irene de Montferrat (originalmente
batizada Iolanda), pondo assim um termo às pretensões dos Montferrat ao trono do reino de Tessalônica.
Andrónico II tentou também casar o seu filho mais velho e co-imperador Miguel IX Paleólogo com a
imperatriz latina Catarina I de Courteney, procurando desta forma, reduzir ou mesmo acabar com as
movimentações ocidentais para restaurar o Império Latino. Outra aliança matrimonial destinava-se a
acabar com os conflitos territoriais com a Sérvia na região da Macedônia, com o imperador a casar a sua
filha de cinco anos de idade Simonis com o rei Estêvão Milutin em 1298.
Andrónico II.
Apesar da solução dos problemas na Europa, Andrónico II enfrentava a oriente o colapso da fronteira
bizantina na Ásia Menor. Depois do fracasso do co-imperador Miguel IX em travar o avanço dos turcos
na Anatólia em 1300, o governo bizantino contratou a Companhia Catalã dos Almogávares de Roger de
Flor (aventureiros oriundos de Aragão e da Catalunha) para combaterem os inimigos do Império na Ásia
Menor. Apesar de alguns êxitos iniciais, os catalães não conseguiram consolidar as suas conquistas.
Envolveram-se em conflitos com Miguel IX e acabaram por se voltar contra os seus patrões bizantinos
depois do assassinato de Roger de Flor em 1305. Devastaram a Trácia, a Macedônia e a Tessália, à
medida que avançavam para a Grécia latina. Ali conquistaram o ducado de Atenas e Tebas. Os turcos
continuaram a avançar e a tomar territórios e praças bizantinas, e Bursa caiu em 1326. No final do reinado
de Andrónico II a maior parte da Bitínia já estava nas mãos dos otomanos de Osman I e do seu filho
Orhan.
Quem tirou partido dos problemas do império foi Teodoro Svetoslav da Bulgária, que derrotou Miguel IX
e conquistou uma parte significativa do nordeste da Trácia entre 1305 e 1307. O conflito acabou com
mais um casamento dinástico, desta vez entre Teodora, filha do imperador Miguel IX, e Teodoro. O
comportamento dissoluto do filho de Miguel IX, Andrónico III, levou a uma cisão interna na família, e
depois da morte de Miguel IX em 1320, Andrónico II afastou o seu neto da sucessão ao trono imperial,
iniciando deste modo uma guerra civil que duraria, mesmo com interrupções, até 1328. O conflito
propiciou a ingerência búlgara através de Miguel Asen III da Bulgária, que tentou capturar Andrónico II
sob a artimanha de lhe enviar auxílio militar. Andrónico III entrou em triunfo em Constantinopla em 1328
e Andrónico II foi obrigado a abdicar e a confinar-se num mosteiro.
A verdadeira autoridade administrativa durante o reinado de Andrónico III foi exercida pelo seu "Grande
Doméstico" (megas domestikos) João Cantacuzeno, enquanto o imperador passava o tempo ou a caçar ou
na guerra. A aliança estabelecida com o seu cunhado Miguel Asen III da Bulgária contra Estêvão III Uroš
Dečanski da Sérvia não produziu quaisquer efeitos, uma vez que os sérvios derrotaram os búlgaros antes
que estes conseguissem unir-se aos bizantinos na Batalha de Velbăžd em 1330. A tentativa de Andrónico
III de compensar este revés anexando a Trácia, ocupada pelos búlgaros, fracassou em 1331, quando o
imperador foi derrotado pelo novo imperador búlgaro Ivan Aleksandăr em Rousokastron. A paz com a
Bulgária foi obtida pelo preço de concessões territoriais e pelo casamento diplomático dos filhos dos dois
imperadores.
Os anos seguintes assistiram ao desaparecimento do poderio bizantino na Ásia Menor, à medida que
Orhan dos turcos otomanos, que já derrotara Andrónico III na Batalha de Plekanos em 1329, conquistou
Niceia em 1331 e Nicomédia em 1337. Depois destas derrotas, só restavam Filadélfia e mais alguns
pequenos portos sob a autoridade bizantina na Ásia. Anteriormente, Andrónico III conseguira recuperar a
Fócida e as ilhas de Lesbos e de Quios de Benedetto Zaccaria em 1329, mas estes êxitos de pouco
serviram para conter o avanço dos turcos.
Sob o reinado de Estêvão Uroš IV Dušan, a Sérvia expandira-se à custa do Império Bizantino para a
Macedônia, conquistando Ohrid, Prilep, Kastoria, Strumica e Voden, em 1334. Ainda assim, Andrónico
III conseguiu conservar o controlo da Tessália em 1333 e do Épiro em 1337, aproveitando-se da sucessão
de crises que afetaram estes principados.
Andrónico III reorganizou a marinha bizantina e reformou o sistema judicial criando um painel de quatro
juízes universais. Analisado em retrospectiva, o seu reinado é entendido como tendo terminado antes de a
situação do Império se tornar insustentável perante o crescimento do Império Búlgaro. Apesar de diversos
reveses nada despiciendos perante sérvios, búlgaros e otomanos, Andrónico III foi para o Império um
líder enérgico, cooperando com administradores competentes, e fez mais que qualquer dos seus
antecessores para reinstalaram o domínio bizantino na península helênica.
Andrónico III morreu aos 44 anos de idade em 1341 e foi sucedido pelo seu filho, João V Paleólogo.
João VI Cantacuzeno, amigo do seu pai, foi regente em seu nome e co-imperador (1347–1354), depois de
ter travado uma guerra civil (1342–1347) contra a regência de Ana de Sabóia.
João V Paleólogo.
Durante este período o império, já de si reduzido a estreitas faixas de território, viu-se atacado por todos
os lados. Houve guerras contra os genoveses, que detinham uma colônia em Gálata e controlavam
numerosas operações financeiras na corte imperial; guerras contra os sérvios, que nessa altura se
expandiam para criar um império ao longo da fronteira norte de Bizâncio; e havia ainda a perigosa aliança
com os otomanos, que fundaram o seu primeiro estabelecimento estável na Europa em Gallipoli na
Trácia, em finais dos seu reinado.
Cantacuzeno demonstrou-se sempre demasiado pronto a invocar o auxílio de estrangeiros nas suas
disputas europeias; e uma vez que não dispunha de meios para lhes pagar, este era um pretexto para que
atacassem uma cidade. A carga financeira e fiscal imposta por João VI desde há muito o afastara dos seus
súbditos, e João V Paleólogo dispunha de um forte partido de apoiantes. Assim, quando João V entrou em
Constantinopla em 1354, o seu êxito estava garantido de antemão.
O seu longo reinado ficou marcado pela dissolução gradual do poder imperial. Os turcos otomanos,
comandados por Salomão Paxá, filho de Orhan, sultão otomano, conquistou Andrinopla (atual Edirne) e
Filipópolis (atual Plovdiv), e para mais passou a exigir o pagamento de tributo por parte do imperador.
Depois de os otomanos terem conquistado Galípoli e ameaçado Constantinopla, João V apelou ao
Ocidente por auxílio, oferecendo o fim do Grande Cisma entre a Ortodoxia e o Catolicismo, submetendo-
se à supremacia do Papa. Empobrecido pela guerra, foi detido por dívidas quando se encontrava em
Veneza em 1369.
Manuel II Paleólogo.
Em 1371 reconheceu a suserania do sultão otomano Murad I, o qual viria mais tarde a ajudá-lo a
recuperar o seu trono (1379) depois de João V ter sido deposto pelo seu filho Andrónico IV em 1376.
Quando Andrónico IV morreu em 1385, João VII Paleólogo (seu filho) sucedeu-lhe, provavelmente, na
mesma posição, mas a verdadeira sucessão ao trono imperial foi atribuída ao seu tio Manuel II Paleólogo.
A 14 de Abril de 1390, João VII derrubou o seu avô João V e deteve o trono durante cinco meses. João V,
no entanto, foi reposto no trono pelo seu filho Manuel II com o auxílio da República de Veneza, enquanto
João VII pedia asilo junto de Bayezid I, sultão otomano, a 17 de setembro de 1390.
No final do seu reinado, em 1390, João ordenou o reforço do Portão Dourado das muralhas de
Constantinopla, utilizando nas obras, mármore das igrejas em ruínas de Constantinopla. Com a conclusão
da obra, Bayezid I, o ameaçando com guerra, exigiu que João desfizesse a construção. João V obedeceu
às ordens do sultão, mas diz-se que ficou de tal modo afetado com esta humilhação que morreu de choque
a 16 de Fevereiro de 1391 sendo sucedido por seu segundo filho Manuel II Paleólogo.
Tendo tido notícia da morte do seu pai em Fevereiro de 1391, Manuel II evadiu-se da corte turca e
reentrou em Constantinopla a fim de precaver-se contra qualquer golpe ou pretensão do seu sobrinho João
VII. Apesar da melhoria das relações entre Manuel II e João VII, o sultão Bayezid I montou cerco a
Constantinopla de 1394 a 1402. Depois de cinco anos de cerco, Manuel II confiou à regência a João VII e
partiu para uma longa viagem pelas cortes ocidentais, tendo visitado Inglaterra, França, o Sacro Império
Romano-Germânico e Aragão, procurando auxílio contra o Império Otomano.
Império Bizantino em 1403.
A cruzada antiotomana sob a liderança do rei da Hungria Sigismundo fracassou na Batalha de Nicópolis,
em 25 de Setembro de 1396, mas os otomanos foram em seguida eles próprios esmagados pelos timúridas
de Tamerlão na Batalha de Ancara em 1402. Enquanto os filhos de Bayezid I guerreavam entre si durante
o Interregno Otomano, João VII conseguiu recuperar para o Império a margem européia do Mar de
Mármara e Tessalónica. Quando Manuel II regressou da sua viagem em 1403, João VII entregou o poder
ao imperador e foi recompensado com o governo da recém-recuperada Tessalónica.
Manuel II aproveitou este período de calma para melhorar as defesas do Despotado da Moreia, onde o
Império Bizantino estava a conseguir expandir-se à custa dos resquícios do Império Latino. Aqui Manuel
II supervisionou a construção do Hexamilion, uma muralha que atravessava o Istmo de Corinto, destinada
a defender o Peloponeso dos otomanos.
Manuel II desenvolveu relações amigáveis com o vencedor da guerra civil otomana, o sultão Mehmed I
(1402–1421), mas as suas tentativas de ingerir-se na sucessão deste levaram a que Murad II (1421–1451)
atacasse Constantinopla em 1422. Nos últimos anos da sua vida Manuel II delegou quase todos os
deveres oficiais no seu filho e herdeiro João VIII e em 1424 foram obrigados a assinar um tratado de paz
com os otomanos, pelo qual o Império Bizantino se tornava um tributário do sultão. Manuel II faleceu em
21 de Julho de 1425.
Em Junho de 1422, João VIII Paleólogo comandara a defesa de Constantinopla durante um cerco que lhe
foi posto pelo Sultão Murad II, mas teve de admitir a perda de Tessalónica para os otomanos em 1430.
Com o propósito de assegurar alguma defesa contra os otomanos, João visitou o Papa Eugênio IV e
aceitou a união entre as igrejas Católica Romana e Ortodoxa, ratificada pelo Concílio de Florença em
1439. Estava acompanhado pelo patriarca de Constantinopla José II e por Jorge Gemistos Pléton, um
filósofo neoplatonista que gozava de grande influência junto dos acadêmicos italianos e que marcou parte
do Renascimento então nascente. A união proposta entre as duas igrejas fracassou devido à oposição dos
Bizantinos, que se recusaram a sujeitar-se ao Papa; João, no entanto, e graças à condução de uma política
prudente em relação ao Império Otomano, conseguiu conservar Constantinopla em suas mãos.
João VIII Paleólogo designou o seu irmão Constantino XI, que desempenhara o cargo de regente em
Constantinopla entre 1437 e 1439, como seu sucessor. Apesar das maquinações do seu irmão mais novo
Demétrio Paleólogo, a sua mãe Helena conseguiu garantir a sucessão de Constantino XI em 1448.
Em 12 de dezembro de 1452, a União de Florença foi proclamada solenemente na igreja de Santa Sofia,
perante Constantino XI, o representante do Papa Nicolau V e o Patriarca Gregório.
Tal união havia sido discutida e decretada no Concílio de Florença, nos anos 1438 e 1439, com
representantes tanto dos católicos romanos quanto dos ortodoxos. Os ortodoxos voltavam atrás em suas
diferenças com os católicos romanos em troca de apoio militar contra os otomanos. Mesmo questões
delicadas como o filioque, a doutrina do purgatório, o uso do pão ázimo na eucaristia e o reconhecimento
da autoridade do Papa foram admitidas pelos ortodoxos orientais. Em 1452, com a missa solene e
conjunta em Constantinopla, tentou-se selar, por fim, a união. No entanto, esta cerimônia provocou uma
reação contrária dos não-unionistas, que eram a maioria. Com tamanha oposição e, mais tarde, com a
Queda de Constantinopla (1453) em mãos dos otomanos, esta união católico-ortodoxa acabou por não se
tornar realidade.
Em fevereiro de 1451, com a morte de Murad II, assumiu o comando dos otomanos o sultão Mehmed II,
seu filho. Seu objetivo claro era a tomada de Constantinopla. Para isto, fez tratados diplomáticos com
possíveis aliados de Constantino XI (como a República de Veneza), além de incursões militares contra
cidades que pudessem enviar socorro a Constantinopla.
Constantinopla foi em princípio poupada devido às suas potentes defesas, porém com o advento dos
canhões os muros, que foram impenetráveis por mil anos, não ofereceram proteção adequada à nova
tecnologia. No mês de abril de 1453, começaram os bombardeios e as tentativas de assalto contra a
cidade. Em 23 de abril, Constantino XI ofereceu desesperadamente a paz ao sultão, mas este, recusou.
Na madrugada de quarta-feira, 29 de maio, a lenta agonia cessou. Sob o ataque de três frentes, a cidade de
Constantinopla caiu sob o domínio do império turco otomano. Constantino XI Paleólogo, embora fosse
aconselhado a fugir para Morea, quis permanecer na cidade fundada por seu homônimo Constantino I e
foi visto pela última vez quando entrava em combate contra os janízaros otomanos, que avançavam
perigosamente, perdendo além do império a vida em campo de batalha. Maomé II conquistou também
Mistra em 1460 e Trebizonda, pondo fim ao estado grego.
[editar] Consequências
A aquisição de alguns produtos originários da Ásia, especialmente das Índias, que eram muito procurados
pelos europeus, começaram a ficarem mais escassos. Esse foi um dos fatores que levaram os comerciantes
e os governos europeus a tentarem descobrir outros caminhos para se chegar à Ásia partindo do Oceano
Atlântico, contornando a África, sem temer passar pelo Mediterrâneo e por Constantinopla.
Portugal e Espanha rapidamente tiraram vantagem da posição geográfica para dominar as novas rotas,
causando o declínio das repúblicas marítimas de Veneza e Gênova.
No final do século XV, financiado pelos reis de Espanha, Cristóvão Colombo partiu para uma ousada
tentativa de alcançar a Ásia em uma nova rota através do oceano, para oeste, descobrindo um novo
continente, a América, descortinando um novo mundo para os europeus.
Este mesmo processo de fechamento do comércio no mar mediterrâneo, no qual os turcos otomanos
impediram o avanço europeu, fez com que toda a região balcânica se tornasse mais dependente da
produção própria, juntamente com a península Itálica.
História do Islamismo
Maomé , História da religião islâmica, doutrinas , Alcorão, Expansão do Império
Islâmico, preceitos religiosos,
Festas e lugares sagrados , Divisões do Islamismo, império árabe.
Introdução
A religião muçulmana tem crescido nos últimos anos (atualmente é a segunda maior do
mundo) e está presente em todos os continentes. Porém, a maior parte de seguidores do
islamismo encontra-se nos países árabes do Oriente Médio e do norte da África. A
religião muçulmana é monoteísta, ou seja, tem apenas um Deus: Alá.
Criada pelo profeta Maomé, a doutrina muçulmana encontra-se no livro sagrado, o
Alcorão ou Corão. Foi fundada na região da atual Arábia Saudita.
Muhammad (Maomé) nasceu na cidade de Meca no ano de 570. Filho de uma família
de comerciantes, passou parte da juventude viajando com os pais e conhecendo
diferentes culturas e religiões. Aos 40 anos de idade, de acordo com a tradição, recebeu
a visita do anjo Gabriel que lhe transmitiu a existência de um único Deus. A partir
deste momento, começa sua fase de pregação da doutrina monoteísta, porém encontra
grande resistência e oposição. As tribos árabes seguiam até então uma religião
politeísta, com a existência de vários deuses tribais.
Maomé começou a ser perseguido e teve que emigrar para a cidade de Medina no ano
de 622. Este acontecimento é conhecido como Hégira e marca o início do calendário
muçulmano.
Em Medina, Maomé é bem acolhido e reconhecido como líder religioso. Consegue
unificar e estabelecer a paz entre as tribos árabes e implanta a religião monoteísta. Ao
retornar para Meca, consegue implantar a religião muçulmana que passa a ser aceita e
começa a se expandir pela península Arábica.
Reconhecido como líder religioso e profeta, faleceu no ano de 632. Porém, a religião
continuou crescendo após sua morte.
Livros Sagrados e doutrinas religiosas
O Alcorão ou Corão é um livro sagrado que reúne as revelações que o profeta Maomé
recebeu do anjo Gabriel. Este livro é dividido em 114 capítulos (suras). Entre tantos
ensinamentos contidos, destacam-se: onipotência de Deus (Alá), importância de
praticar a bondade, generosidade e justiça no relacionamento social. O Alcorão
também registra tradições religiosas, passagens do Antigo Testamento judaico e
cristão.
Os muçulmanos acreditam na vida após a morte e no Juízo Final, com a ressurreição de
todos os mortos.
A outra fonte religiosa dos muçulmanos é a Suna que reúne os dizeres e feitos do
profeta Maomé.
Preceitos religiosos
Locais sagrados
Para os muçulmanos, existem três locais sagrados: A cidade de Meca, onde fica a
pedra negra, também conhecida como Caaba. A cidade de Medina, local onde Maomé
construiu a primeira Mesquita (templo religioso dos muçulmanos). A cidade de
Jerusalém, cidade onde o profeta subiu ao céu e foi ao paraíso para encontrar com
Moises e Jesus.
Divisões do Islamismo
Arabia pré-islâmica
Os beduínos eram nômades e levavam uma vida difícil no deserto, utilizando como
meio de sobrevivência o camelo, animal do qual retiravam seu alimento (leite e
carne) e vestimentas (feitas com o pêlo). Com suas caravanas, praticavam o
comércio de vários produtos pelas cidades da região. Já as tribos coraixitas,
habitavam a região litorânea e viviam do comércio fixo.
Foi após a morte do profeta, em 632, que a Arábia foi unificada. A partir desta
união, impulsionada pela doutrina religiosa islamita, foi iniciada a expansão do
império árabe. Os árabes foram liderados por um califa, espécie de chefe político,
militar e religioso.
1. Contexto
Constantinopla era, até o momento de sua queda, uma das cidades mais importantes no
mundo. Localizada numa projeção de terra sobre o estreito de Bósforo em direção à
Anatólia, funcionava como uma ponte para as rotas comerciais que ligavam a Europa à
Ásia por terra. Também era o principal porto nas rotas que iam e vinham entre o Mar
Negro e o Mar Mediterrâneo. Para explicar como uma cidade deste porte caiu em mãos
estrangeiras, é preciso voltar a séculos antes de 1453 e detalhar os eventos que
enfraqueceram o Império Bizantino.
Durante a Quarta Cruzada em 1204, foi capturada pelos cruzados. Em 1261, foi
recapturada pelas forças do Império de Niceia, sob o comando de Miguel VIII
Paleólogo. Porém Constantinopla não recuperou o antigo esplendor e iniciou a
decadência que quase dois séculos depois levaria ao fim definitivo do império.
Além disso, existia um crise sucessória no trono bizantino, que facilitou a investida
cruzada.[12] Depois de uma revolta bizantina, em 1204 os cruzados novamente tomaram
a cidade. Inaugurou-se assim o chamado Império Latino (1204-1261) com o reinado de
Balduíno I (Balduíno IX, Conde da Flandres). Parte dos territórios bizantinos foram
então divididos entre os chefes da cruzada, formando-se na região os reinos
independentes católicos de Tessalônica, Principado de Acaia, e Ducado de Atenas. Os
bizantinos reuniram forças, e em 1261 retomaram Constantinopla e restabeleceram seu
domínio sobre a Península Balcânica. Mas agora governavam um império depauperado
economicamente e sem o apoio da Igreja, império este que perdurou até 1453.[13]
O ataque dos cruzados revelou um ponto fraco nas defesas da cidade. As poderosas
muralhas a oeste da cidade repeliram invasores de persas, germânicos, hunos, ávaros,
búlgaros e russos[4][14][15][16] (um total de 22 sítios) durante séculos, mas as muralhas ao
longo do litoral, sobretudo ao longo do Corno de Ouro (um canal que separava
Constantinopla da vila de Pera, ao norte) revelaram-se frágeis. Após recuperarem a
cidade, os bizantinos reforçaram as muralhas litorais e as defesas nos pontos onde
precisavam ser abertas para a entrada de navios nos portos. Para se assegurarem de que
não precisariam se preocupar com as defesas no Corno de Ouro, uma pesada corrente
de ferro foi erguida sobre o canal, impedindo qualquer navio de passar sem a
autorização da guarda bizantina.
Mesmo antes da Quarta Cruzada, o Império Bizantino vinha, havia muitos séculos,
perdendo territórios para muçulmanos no Oriente Médio e na África. No início do
século XI, uma tribo turca vinda da Ásia Central, os seljúcidas, começou a atacar e
ganhar territórios bizantinos na Anatólia. No final do século XIII, os seljúcidas já
haviam tomado quase todas as cidades gregas da Anatólia, à exceção de um punhado
de cidades no noroeste da península.[17]
Nesta época, um clã semi-nômade turco teria migrado do norte da Pérsia para o oeste, e
se defrontado com uma batalha entre turcos e mongóis na Anatólia. O clã entrou na
batalha ao lado dos turcos e venceu. O sultão seljúcida, em agradecimento, ter-lhes-ia
concedido um pequeno território montanhoso no noroeste do Império, nas
proximidades do território bizantino. A forma como isto ocorreu exatamente se perdeu
no folclore subsequente, mas sabe-se que, sob o comando de um líder chamado Osman
I (ou Othman), estes turcos ficaram conhecidos como "otomanos".
Quando o Reino da Sérvia atacou Salônica, em 1349, Cantacuzeno pediu auxílio aos
otomanos pela segunda vez. Em 1351, Cantacuzeno fez uma terceira aliança com os
turcos para ajudá-lo na guerra civil provocada entre seus partidários e os seguidores do
príncipe João. Neste último acordo, Cantacuzeno prometeu aos otomanos a posse de
uma fortaleza do lado europeu do estreito de Dardanelos - a primeira ocupação de uma
civilização asiática na Europa desde o assédio persa à Grécia, mais de 2000 anos antes.
Entretanto, o príncipe otomano Suleiman decidiu reforçar sua posição tomando a
cidade de Gallipoli, estabelecendo o controle sobre toda a península e uma base
estratégica para a expansão do Império Otomano na Europa. Quando Cantacuzeno
exigiu a devolução da cidade, os otomanos voltaram-se para Constantinopla.
Muralhas de Constantinopla
Bayazid convocou Manuel e outros reis cristãos do leste europeu para uma audiência,
onde demonstraria as consequências a qualquer um que resistisse ao sultão. Paleólogo
pressentiu que seria assassinado, e recusou o convite. Após uma segunda recusa, em
1396, Bayazid enviou novamente seu exército para Constantinopla, saqueando e
destruindo os campos à volta da cidade, impedindo que qualquer um entrasse ou saísse
vivo de lá. Constantinopla ainda podia contar com suprimentos vindos do mar, já que
os turcos não se apoiaram em um cerco marítimo à cidade. Assim, Constantinopla
resistiu por seis anos, até que, em 1402, o temível exército de Tamerlão invadiu o
Império Otomano pelo leste, e Bayazid se viu obrigado a mobilizar suas tropas para
esta nova frente, salvando Constantinopla no último momento.
Nas duas décadas seguintes, Constantinopla viu-se livre do jugo otomano, e pôde até
recuperar alguns territórios na Grécia. Mas em 1422, Manuel Paleólogo resolveu
apoiar um príncipe otomano ao trono, visando uma duradoura trégua no futuro. Mas o
sultão Murad II enviou em resposta um contingente de 10 mil soldados para cercar
Constantinopla mais uma vez. Naquele ano, em 24 de agosto, o sultão ordenou um
ataque maciço às muralhas, e após várias horas de batalha, ordenou a sua retirada, e
mais uma vez Constantinopla conseguiu uma sobrevida.
2. A queda de Constantinopla
O cisma entre Igrejas Católica e Ortodoxa manteve Constantinopla distante das nações
ocidentais, e mesmo durante os cercos de turcos muçulmanos, não conseguira mais do
que indiferença de Roma e seus aliados.
2. 2. Constantino XI e Maomé II
Retrato de Maomé II, por Paolo Veronese
João VIII morrera em 1448, e seu filho Constantino assumiu o trono no ano seguinte.
Era uma figura popular, tendo lutado na resistência bizantina no Peloponeso frente ao
exército otomano, mas seguia a linha de seu pai na conciliação das igrejas oriental e
ocidental, o que causava desconfiança não só entre o clero bizantino como também no
Sultão Murad II, que via esta aliança como um ameaça de intervenção das potências
ocidentais na resistência à sua expansão na Europa.[19]
Em 1451, Murad II morreu, sendo sucedido por seu jovem filho Maomé II (ou
Mahmed II). Inicialmente, Maomé prometera não violar o território bizantino. Isto
aumentou a confiança de Constantino que, no mesmo ano se sentiu seguro o suficiente
para exigir o pagamento de uma anuidade para a manutenção de um obscuro príncipe
otomano, mantido como refém, em Constantinopla. Furioso mais pelo ultraje do que
pela ameaça a seu parente em si, Maomé II ordenou os preparativos para um cerco
total à capital bizantina.