O Gigante Adamastor
O Gigante Adamastor
O Gigante Adamastor
Análise da obra
Como se vê, há uma distribuição muito equilibrada das partes: das vinte e quatro estrofes, quatro se
destinam à introdução, transição e epílogo; as vinte restantes, divididas ao meio, apresentam o herói
da seqüência. Tanto Vasco da Gama como o Adamastor aparecem como narradores e como
personagens.
No plano histórico, simboliza a superação pelos portugueses do medo do “Mar Tenebroso”, das
superstições medievais que povoavam o Atlântico e o Índico de monstros e abismos. Adamastor é
uma visão, um espectro, uma alucinação que existe só nas crendices dos portugueses. É contra seus
próprios medos que os navegadores triunfam.
No plano lírico é um dos pontos altos do poema, retomando dois temas constantes da lírica
camoniana: o do amor impossível e o do amante rejeitado.
Adamastor, um dos gigantes filhos da Terra, apaixonou-se pela nereida Tétis. Não correspondido,
tenta tomá-la à força, provocando a cólera de Júpiter, que o transforma no Cabo das Tormentas,
personificado numa figura monstruosa, lançada nos confins do Atlântico.
Enredo
37 - A viagem da esquadra é rápida e próspera até uma nuvem que escurece os ares surgir sobre as
cabeças dos navegantes.
38 - A nuvem escura que surgiu vinha tão carregada que encheu de medo os navegantes. O mar, ao
longe, fazia grande ruído ao bater contra os rochedos. Vasco da Gama, atemorizado, lança voz à
tempestade perguntando o que era ela, que ela lhe parecia mais que uma simples tormenta marinha.
Repare que o cenário aterrador fará a imagem do Gigante ainda mais terrível e assustadora.
39 - Vasco da Gama não havia terminado de falar quando surgiu uma figura enorme, de rosto
fechado, de olhos encovados, de postura má, de cabelos crespos e cheios de terra, de boca negra e
de dentes amarelos. Esta passagem é meramente descritiva.
40 - A figura era tão enorme que poder-se-ia jurar ser ela o segundo Colosso de Rodes. Surge no
quarto verso a introdução da fala do Gigante, cuja voz fazia arrepiar os cabelos e a carne dos
navegantes.
41 - O gigante chama os portugueses de ousados e afirma que nunca repousam e que tem por meta a
glória particular, pois chegaram aos confins do mundo. Repare na ênfase que se dá ao fato de
aquelas águas nunca terem sido navegadas por outros: o gigante diz que aquele mar que há tanto ele
guarda nunca foi conhecido por outros.
42 - Já que os portugueses descobriram os segredos do mar, o gigante lhes ordena que ouçam os os
sofrimentos futuros, conseqüências do atrevimento de cruzar os mares.
43 - O gigante afirma que os navios que fizerem a viagem que Vasco da Gama está fazendo terão
aquele cabo como inimigo. A primeira armada a que se refere Adamastor é a de Pedro Álvares
Cabral, que perdeu ali quatro de suas naus: o dano - o naufrágio – foi maior que o perigo, pois os
navegantes foram surpreendidos.
44 - O gigante afirma que se vingará ali mesmo de seu descobridor, Bartolomeu Dias, e que outras
embarcações portuguesas serão destruídas por ele. As afirmações são ameaçadoras, como se verá: o
menor mal será a morte.
45 - É citado D. Francisco de Almeida, primeiro vice-rei da Índia, e sua vitória sobre os turcos. O
gigante continua ameaçador: junto a ele continua a haver perigo.
46 - Nesta estrofe o gigante cita a desgraça da família de Manuel de Sousa Sepúlveda, cujo destino
será tenebroso: depois de um naufrágio, sofrerão muito.
47 - O gigante diz que os filhos queridos de Manuel de Sousa Sepúlveda morrerão de fome e sua
esposa será violentada pelos habitantes da África, depois de caminhar pela areia do deserto.
48 - Os sobreviventes do naufrágio verão Manuel de Sousa Sepúlveda e sua esposa, que morrerão
juntos, ficarem no mato quente e inóspito.
51 - Adamastor diz que era um dos Titãs, gigantes que lutavam contra Júpiter e que sobrepunham
montes para alcançar o Olimpo. Ele, no entanto, buscava a armada de Neptuno, nos mares.
52 - Adamastor cometeu a loucura de lutar contra neptuno por amor a Tétis, por quem desprezou
todas as Deusas. Um dia a viu nua na praia e apaixonou-se por ela, e ainda não há algo que deseje
mais do que ela.
53 - Como jamais conquistaria Tétis porque era muito feio, Adamastor resolveu conquistá-la por
meio da guerra e manifestou sua intenção a Dóris, mãe de Tétis, que ouviu da filha a seguinte
resposta: como poderia o amor de uma ninfa agüentar o amor de um gigante?
54 - Continua a resposta de Tétis: ela, para livrar o Oceano da guerra, tentará solucionar o problema
com dignidade. O gigante afirma que, já que estava cego de amor, não percebeu que as promessas
que Dóris e Tétis lhe faziam eram mentirosas.
55 - Uma noite, louco de amor e desistindo da guerra, aparece-lhe o lindo rosto de Tétis, única e
nua. Como louco, o gigante correu abrindo os braços para aquela que era a vida de seu corpo e
começou a beijá-la.
56 - Adamastor não consegue expressar a mágoa que sentiu, porque, achando que beijava e
abraçava Tétis, encontrou-se abraçado a um duro monte. Sem palavras e imóvel, sentiu-se como
uma rocha diante de outra rocha.
57 - Adamastor invoca Tétis, perguntando porque, se ela não amava, não o manteve com a ilusão de
abraçá-la. Dali ele partiu quase louco pela mágoa e pela desonra procurando outro lugar em que não
houvesse quem risse de sua tristeza.
58 - Os Titãs já foram vencidos e soterrados para maior segurança dos deuses, contra quem não é
possível lutar. Adamastor anuncia, então, seu triste destino.
59 - A carne do gigante se transformou em terra e os ossos em pedra; seus membros e sua figura
alongaram-se pelo mar; os Deus fizeram dele um Cabo. Para que sofra em dobro, Tétis costuma
banhar-se nas águas próximas.
60 - O gigante desapareceu chorando e o mar soou longínquo. Vasco da Gama ergue os braços ao
céu e pede aos anjos que os casos futuros contados por Adamastor não se realizem.