Hélio Oiticica - Aspiro Ao Grande Labirinto-1986
Hélio Oiticica - Aspiro Ao Grande Labirinto-1986
Hélio Oiticica - Aspiro Ao Grande Labirinto-1986
scnttdo de ?entro para for a, e temporal por excel enci
se novo senu.do da cor nao possui as costurneir;
com a cor da ptntura no pa d El , .
plo sent' d D ssa
0
a e radical no n1ais an
res, ma; das rel a.;Oes anteri1
un1a da co
1 0
.e u;a volt.a a cor-luz pri snu1ti --:
qualidades na a reunt ao purificada das ... u<
tanto, a cor na luz nao e a, tempora!. reuno, po
dos sentidos, e s1n1 para de pi-1
pura c?mo mintehgencta, para que ela estej
urna stntese e nao uma ab t Na o
gar.a pi_ntura de uma so co: Para ISS? foi preciso cht
a dJrec; ao sle. pinceladas para u ersas quahdades, ou Illuda
a E 1sso tambem d'fq e uma mesn1a cor ton1e doi
gat ono que t 1 , . , I qualt'tat . N- , .
d d a cor seJa tonal ( Iva. ao e obn
e ), tonal aqui em out cor cotn di\ cr as l.JU lli
o ra e podera compor de n; .sentido que o 4
gar ao tonal vanas cores f
para a tomada d . ':.. ' 0 1 preciso l'ht
e consctcn d
16 lia a co r-Iu, at i ' a
mesmo com duas qualidades diferentes, ou tons, pois que
tom aqui e qualidade, e o mesmo e a luz. Chego assim pela
cor a concep<;ao metafisica da pintura. A estrutura vern jun-
tamente com a ideia da cor, e por isso se to rna, ela tambem,
temporal. Nao ha estrutura a priori, ela se constr6i na
mesma oa cor-luz. Essa pintura e fatalmente de pianos, pois
sao puros em essencia e carregam mais essa A tex-
tura nao entra como elemento, aqui, a nao ser como .Qualid -
de de super.ficie. A textura elemento e nociva, pois nAo pos-
sui ela divide, dilui a superficie. Quando se textura
uma superficie, o que se quer e transformar a em pe-
quenos pontos que se sucedem associativamente, perdendo
est a o sentido. A textura e urn produto da inteligencia, e rara
vez da
Natal de 1959
Leio estas palavras profeticas em Mondrian:
"What is certain, is that there is no escape for the non-
figurative artist; he must stay within his field and march to-
wards the consequence of his art. This consequence brings
us, in a future perhaps remote, towards the end of art as a
thing separate of our surrounding environment, which is the
actual plastic reality. But this end is at the same time a new
beginning. Art will not only continue but will realize itself
more and more. By the unification of architecture, sculpture
and painting a new plastic reality will be created. Painting
and sculpture will not manifest themselves as separate ob-
jects, nor as "mural art" or "applied art", but being purely
constructive, will aid the creation of a surrounding not mere-
ly utilitarian or rational, but also pure and complete in its
beauty."*
''0 que esta claro e que nao ha escapat6ria para 0 artista nao-figurativo; ele tern que
permanecer dentro de seu campo e, como conseqtiencia, caminhar em a sua
arte. Esta conseqtiencia nos leva, num futuro talvez remoto, em ao fim da
arte como uma coisa separada do ambiente que nos circunda, o qual e a pr6pria rea-
lidade plastica presente. Mas este fim e ao mesmo tempo urn novo A arte
nao apenas continuara, mas realizar-se-a mai s e mais. Pela da arquite-
tura, escultura e pintura, uma nova realidade plastica sera criada. A pintura e a es-
cultura nao se manifestarao como objetos separados, nem em forma de .. arte mu -
ralista" ou "arte aplicada", mas, sendo puramente construth as, aJudarao na
de ambiente nao meramente utili tario ou racional, mas tambem puro e
pleto em sua beleza. ''
17
..
Maio /960
Bran
0
em 'inta, 'O o: qui era ver um
d
meu
nunta ala vazta, toda "Jnza- "laro. 6 ai ere qua ..
ro . d .. l .... , d 10 que
. a em plenttU e. cor- _uz C a tnte, e a cor; e ta
e
0
homem pOiis_uisse e seu, moytmento e
l
11 altamente mustcal, rnustca tntertor, cosmtca; pode-
" er
1
' d t 1 d
dazer que a at attng:, at raves a sua empora 1 ade
Intern 'organinlJCa, a urn nao-ternpo.
d 1 1nbro de 1960
br na e de apenas urn toque na materia. Quero que
Ill l ria de que e feita a rninha obra tal como e;
u tran forn1a em expressao e nada mais que urn sopro:
pro interior de plenitude c6srnica . Fora di sso nao ha obra.
B ta un1 toque, nada mais.
: e toque do artista na mater ia nao e 0
rt1 ta nao uperpoe, subjetivamente, conteudos, que dessa
111 n ira erian1 fal so . Na do artist a com a
n1 t ria , fica o eu n1ovimento criativo, e e dai que se pode
diz r que na ce un1 conteudo; conteudo indeterminado, in-
f rrnulado. ..s e processo nao e tambem uma "transfor-
m ao , poi implica transformar algo em
I urna oi a transformar algo plasticamente mas esse "al-
, ' .... . . , .
o nao e 1 te antes, e s1m nasce simultaneamente no movt-
ntento riati\ o. com a obra .
I 1 de seten?bro de 1960
cria ao e 0 ilimitado; nao adianta querer mentaliza-
mente tern o poder de aprisionar o que deve ser espon-
o 9ue deve !lascer. maneira, porem, s6 conse-
g atrofiar o movtmento cnativo. Precisa-se da mente, mas
--
com isso nao nos deixamos escravizar por ela; e preciso mo-
vimentar o ilimitado, que e nascente, sempre novo; faz-se.
5 de outubro de 1960
A experiencia da cor, elemento exclusivo da pintura,
tornou-se para mim o eixo mesmo do que a maneira pe-
la qual inicio uma obra. S6 agora mesmo a complexi-
dade entre a core a estrutura (em sua Ionge daQue-
bra do retangulo e dos primeiros no 0
primeiro conjunto complexo e denso dentro desse desenvol-
vimento e o que estou realizando agora: o octeto vermelho.
Sao oito obras baseadas no vermelho, sendo que o vermelho
eo tom geral, desde o mais escuro (mas ainda luminoso) ate
o quase laranja. Nao sao organizados em nucleo, como o
equali branco, mas cada urn e uma unidade separada, com-
pleta em si. Volto novamente, e principalmente nesta expe-
riencia, a pensar no que vern a ser o ''corpo da cor''. A cor e
uma das dimensoes da obra. E insepan1vel do fenomeno to-
tal, da estrutura, do e do tempo, mas como esses tres
e urn elemento distinto, dialetico, uma das dimensoes. Par-
tanto possui urn desenvolvimento proprio, elementar' pois e
o nucleo mesmo da pintura, sua razao de ser. Quando,
porem, a cor nao esta mais submetida ao retangulo, nem a
qualquer sobre este retangulo, ela tende a se
"corporificar"; torna-se temporal, cria sua propria estrutu-
ra, que a obra passa en tao a ser o ''corpo da cor'' .
4 de novembro de 1960
Nao sei se o que esta mais numa arquiteto-
nica ou musical. A pintura, a medida que se vai nao objeti-
vando, cria com outros campos de arte; principal-
mente com a arquitetura e com a musica. Trata-se de uma re-
la9ao intrinseca, estrutural . Creio que se de urn lado e mais
arquitetonica, de outro e musical, e talvez na sintese das duas
esteja a solu9ao. Os nucleos, equali , para mim, sao essencial-
mente musicais na sua rela9ao de parte com parte, que, Ionge
da seria9ao de elementos, compoem urn todo fenomeno
16gico.
25 de novembro de 1960
Comecei hoje OS grande nucleo
n? 1. Ja montei o de ci,nco farei
varios, quantos forem ,preCISOS, ate cheg.ar a forma Ideal do
grande nucleo, que sera de muita.s A cor so-
frera tambem 0 e em amarelo;
0
grande nucleo, nao sei.; a c<;>r vira a evoluir hvremente, con-
forme a minha vontade Interior.
Preocupa-me o problema da nao-particularidade da ex-
pressao; nao fechadas, mas
tao cheias de vitahdade cosmica que nao 1m porta o autor. A
entre o artista e a obra teni de ser nao-particular, ex-
pressao alta, c6smica. 0 principal problema e 0 da universa-
lidade da expressao, do sentido da obra.
2 de dezembro de 1960
"Nao ha maneira mais segura de afastar o mundo nem
modo mais seguro de do que a art e."
Goethe
9 de dezembro de 1960
Quanta mais nao-objetiva e a art e, mais tende a
do mundo para a afirma<;ao de out ro mundo. Nao a
negativa, mas a extirpa<;ao dos restos inautenticos da viven-
cias do mundo, corriqueiras. S6 assirn seria licita a excla-
n:a9ao diante da nao-objetividade da arte: 'Que a --ao de
flJ? de mundo ou de nada." 0 que e preciso e que 0 nlundo
seJa urn mundo do homem e nao urn n1undo do tnundo .
.
30 de deze.mbro de 1960
E preciso dar a grande ordcn1 a cor, ao tne tno 1ue venl
a ordem dos arquitctonico . A c r. n "' CU
senttdo de estrutura, apenas pode ser vi lun1brada ,ran ic:
ordem nasc ' d "
era a vontade In ten or en1 dittlogo con1 a r. I u-
24
ra, em estado estrutural; e urn instante especial que, ao se re-
petir, criara ordem; sao instantes raros. A cor tern que se
estruturar asstm como o som na musica; e veiculo da pr6pria
cosmicidade do criador em dialogo com o seu elemento; o
elemento primordial do musico eo som; do pintor a cor; nao
a cor alusiva, "vista"; e a cor estrutura, c6smica. Mas o
dialogo cria sua ordem, que nao e unidade, .mas pluralidade:
exige o tempo para se exprimir; esse tempo pode sera crista-
lizac;ao da expressao ou a sua diluic;ao. Para uma grande or-
dem na expressao, de que a cor e 0 elemento principal, e pre-
ciso que o artista se torne superior, eticamente caminhe para
cima. Esta superada a individualidade, pela universalidade
de sua posic;ao etica: muda o seu modo de encarar o mundo;
a sua integrac;ao nesse mundo e superior; para ele ainda exis-
te a observac;ao de Goethe de que a arte ao mesmo tempo. que
afasta, enlac;a o mundo; a dialetica aqui se torna mais fina;
sua posic;ao e superior , da expansao a sua vida interior ,
coloca-se ao lado da religiao, esta religado: ele eo seu mundo
dialogo. Ai esta a grande ordem. Quando tera a cor a sua
grande ordem, mais pura e sublime? Quando tera a pintura
atingido a linguagem pura da musica?
7 de janeiro de 1961
0 infalivel e falivel e 0 falivel infalivel.
Nem sempre uma expressao serena e altamente harnH)-
nica indica ausencia de drama no artista. 0 artista, alias, por
condic;ao ja possui em si drama. Essa vontade de un1a grande
ordem, de alga supra-humano, c6smico, epico, e necessaria
para que o artista se complete; enquanto is to nao
ou atinge a urn zenite, ha drama. Drama COI11 D nlaiusculo.
Penso, por exemplo, no classico Haydn, n1usico hannonico
por excelencia, exemplo de pureza e classicisn1o. Ha na
musica de Haydn uma inquietac;ao latente con1o se o seu au-
tor andasse por uma corda. equihbno, inquie-
tante equilibria , o drama individual fica cn1 itltin1o plano,
p;)rem existe tanto quant a num rotnantico. Ha aqui. porttn.
ess<1 vontade de un1a grande orden1. que supl't e ou dcve esse.:
drama, de orden1 existencial, a alturas sobre lnnuanas t)U ii-
vinas . Tanto n1ais universal c tnaior ten\ tunn
obra de arte quanto mais for desligada do caos uH.iividual e
. . . ra essa grande ordem, nao-r.acional, mas ordem
se dtngtr pa ntrinsecos da obra entre s1 e em a von-
dos elementos 1 .
tade interior do seu cnador. .
0 infalivel e falivel e 0 falivel infalivel.
15 de janeiro de 1961 (domingo)
.
ASPIRO AO GRANDE LABIRINTO.
21 de janeiro de 1961
Goethe: "Mas o certo e que os sentimentos da juventude
e dos povos incultos, com sua e suas amplas
extensoes, sao os unicos adequados para o ' subl ime' . A su-
blimidade, se ha de ser despertada em nos por coisas exterio-
res, tern que ser 'informe' ou consistir de 'formas ina-
preensiveis', envolvendo-nos numa grandeza que nos supe-
re ... Mas assim como o sublime se produz facilmente no
crepusculo e na noite, que confundem as figuras, assim
tambem se desvanece no dia, que tudo separa e di stingue;
por isso a cultura aniquila o sentimento do sublime."
. Acho es_se panigrafo no momenta exato em que sin to em
mtm toda a e mobilidade do " sublime" . Goethe
e g:_nial em_ suas observac;oes. E o que desej o, na exteriori-
arte, nao serao as " for mas inapreensn ei s '?
So ass 1m cons1go en tender a eternidade que ha nas for mas de
arte; sua, constante, sua imperecibilidade, vern
de ''1napreensibilidade'' a forma artis tica nao
e obvta t ' t ' '
, es a 1ca no e no tempo mas m6vel eterna-
mente movel, cambiante. ' '
16 de f evereiro de 1961
Ja nao tenho d , ' d ,
defi nitivamente . uvt as que a era do fim do quadro esta
ve o problema d Para mim a dialetica que envol-
riencias (as ava.n<; ou, juntamente con1 as expe-
quadro em outra no( da transforn1ada pintura:
Oisa para m1m o nao-objeto). que ja nao e
26
1 mais possivel aceitar o desenvolvimento "dentro do qua-
dro", o quadro ja se saturou. Longe de sera "morte da pin-
j tura", e a sua pois a morte mesmo seria a conti -
nuac;ao do quadro como tal, e como Hsuporte" da "pintu-
ra". Como esta tudo tao claro agora: que a pintura terfa de
sair para o espac;o, ser completa, nao em superficie, em apa-
rencia, mas na sua integridade profundci: Creio que s6 par-
tindo desses elementos novos poder-se-alevar adiante o que
comec;aram os grandes construtores do comec;o do secul o
(Kandinsky, Malevitch, Tatlin, Mondrian etc.), construt ores
do fim da figura e do quadro, e do comec;o de algo novo, nao
por serem "geometricos" , mas porque atingem com mai or
objetividade o problema da nao-objeti vidade. Nao excluo a
importancia de Matisse, Picasso, Klee, Poll ock, \Vol s et c.,
mas pertencem a outro tipo de expressao, tam bern da epoca,
. mas paralelo aos construtores, e tambem prenunciam 0 fim
I
do quadro. Para mim pintura de Pollock j a se real iza vir-
tualmente no espac;o. E preciso, pois, a conscientizac;ao do
problema e o lanc;amento concreto e firme das bases des e
desenvolvimento da pintura, ainda que nao refeita da de -
trui c; ao da fi gura. Na verdade a desintegrac;ao do quadro ain-
da e a continuac;ao da desintegrac;ao da figura, a procura de
uma arte nao-naturalista, nao-obj eti va. Ha urn ano e doi
meses, prat icamente, achei palavras de Mondrian que profe-
ti zavam a mi ssao do arti sta nao-objetivo. Di zia ele que o ar-
ti sta nao-objetivo, que qui sesse uma arte verdadeiran1ente
nao-naturali sta, deveria levar seu intento ate as con-
seqiiencias; di zia tambem que a solu<;ao nao seri a o rnural
nem a arte aplicada, mas al go que con1o .. a
beleza da vida" , algo que nao podia definir, pois ainda nao
existia. Foi urn profeta geni al. 0 arti sta. neste dias. que dc::-
sejar uma arte nao- nat uralista. nao-objetiva. de grande
trac;ao, ver-se-a as con1 o problerna do quadro t sen-
ti ra, conscientemente ou nao, a da sua de'-
truic;ao ou da sua transfonna<;ao, o que no fundo e a
coisa, por dois caminhos diferentes. A do e -
pac;o pict6rico do quadro e cvidente en1 pint ores \Vc 1,
(o proprio tern1o "infonnal .. o indica), Dubuffet ( .. textur -
ou seja, a infinita ate que
transfonne nun1 infinito ao pequen
mtcrothnHt ado) ou con1o ern ( quadr) i \ inu 1-
rnentc Hexplodc .. , t ransfonna-se no canlJ it a a
-
. to gra' fico). Na tendencia oposta se da o mesmo
movtmen b '
.
1
tamente porem mats o Jettvamente, desde
0
mats en ' . b "r d d , , ,
renuncio de Mondrtan so re. o tm _ o qua ro , ate as ex-
P eriencias de Lygia Clark, da da moldura no qua-
partindo dai todas as consequenctas desenvolvi-
mento do quadro para o espaco. Num sentldo 1ntermediario
sta Fontana e os seus quadros cortados em sulcos, sulcos de
com os vejo afinidade com os sulcos de_minhas
maquetas e nao-objetos pendurados. 0 problema es.ta p_osto,
e portanto sin to a necess1dade de a fume-
mente, definitivamente, o desenvolv1mento, desse no- .
vo tipo de expressao, que por ser novo! esta 1ncerto, e ainda
flutua na indeterminacao, mas que mats cedo ou mais tarde
ten1 de se consolidar. E uma necessidade c6smica, est a na
mente coletiva, cabe ao artista torna-la clara e palpavel.
Creio que nenhum artista que queira algo novo, autentico,
nessa epoca, nao aspire a tal coisa. S6 sera possivel a
do artista, posicao genetica, fenomenologicamente, numa
expressao que se realize no espaco e no tempo: a ideia se des-
fia, mantendo urn dialogo paralelo entre a e a ex-
pressao. No quadro esse dialogo se da pela pais pode
assim o artista abstrair mais facilmente o limite do quadro,
mas quando este limite ja nao existe, a acao ja esta implicita
na genese, e sera portanto mais licito que esta se cri stal ize em
construido. Evidentemente esta solucao esta em pe de
1gualdade com a arquitetura, pois "funda o seu espa9o"
(Gullar). A arquitetura e o sentimento sublime de todas as
,
epocas, e a visao de urn estilo e a sintese de todas as aspi-
individuais e a sua justihcacao mais alta. 0 problema
da se resolve na destruicao do quadro, ou da in-
corporacao no espaco e no tempo. A pintura caracreri?a-"e,
como elemento principal pel a cor est a poi' pa" a a
desenv 1 ' ' ' ...
tern
0
':_er-se o problema da estrutura, no espa9o e no
P ' na.o dando fi ccao ao plano do quadro: fic<;ao de
t
eospdaco de tempo. A pintura nunca e aproxin1ou tan-
a VI a do ' ' 1
- r' senttmento da vida" 0 ta1nanho da rea
nao Sign I Ica que se. . ', . , , . . ;
nese
0
bl
Ja ma1s VItal a obra rna 1111 a sua gt-
. pro ema n- ' '
ra murais), mas d
e (an1pliacao do
se da obra Integracao do espa<;o e do tenl i o na Qene-
' e essa Integra - , a
recimento e
0
t cao Ja condena o quadro a desap -
transforma-o nora! ao tridirnen ional. ou n1elh r.
nao-obJeto.
28
22 defevereiro de 1961
0 cspaco c ern concep<;Oes arquitetOni-
(.; US C<'>ntcn1por3ncas. A arqultctura tendc a diluir-se no es-
puco ao rnesrn.o tcn1po. que o incorpora como urn elemento
seaL N, o c n1a1s "plast 1ca,' . como diria Worringer, no senti-
do da n1assa, con1o na arqtutctura grcga. Para Worringer a
arquit ctura grcga c "orgtlni ca" no scntido de ser naturalista
6 o per fcito cquili!)rio.cntrc a idcia e a flucncia organica
scu s. t os. h po1s, ica" cxcclencia, plastica
aqu1 u.; audo n;lo cspac1al, ou antcspacial. A mcdida,
( . .
pot tn, que a arqu1tctura vat -sc tornando
rata". o passa a crcsccr de irnportancia. Assim,
p:ua tuilu. quaudo realizo ruaquctas ou projctos de maquc-
lat'l , Ia hi iutos por excel cru; ia, qucro que a cstrutura arquitc-
f< 11 i a 1 ri c c i ncor pore o cspa'Yo real n un1 es pa<;o virtual,
st /ti o , c uuu tcrupo, que{:, taruhcn1 cstctico. Scria a tcntati -
va de d:u ao csp;u; o real tun tcrnpo, urna vivcncia csteti ca,
:quo in1ando-sc assilll df) rn{tgico, tal(_) scu carat cr vital. ()
p1 in ' il o iudi cio di sso co car{at cr de lahirinto, que tendc a or-
va uifi "ar o t spa\.o dt; tnant; ira ahstrata , cs facclando-o e
da ndo-lhc 111n car;'at er novo, de tcns;ao int crna . () labirint o,
IHll l' nt , t'OIIlo ainda (; a idcia ahstrata ntai s pr6xi-
n " da arq uitetu ra cst{ati ca no csp;u;o . Seria urua arquit ctura
cs t:'t ica desenvolvendo-sc at (; tornar-sc cspacial. Seria por-
I auto a ponte p; u a u1ua arquit ctura cspacial, ati va, ou
es p!a io-tcutporal. I >e au a ucira 111ai s virtual, c, portanto,
ut a is no u o v o s c nt i do f a t c u t a t i v a d c s u I c a r , 11 o s c n t i do vert i-
"' al ou uo horizontal, as anaquctas. Esses sul cos sao con10 "re-
, .
!'ados pelo t quehrando a parcde out rora est at tea e
" tu:tssa n' l'll I t Cll Sl cs d i versas. Para rui Ill csscs s ulcos sao
t lcnH:.: ntos ir nporta ntcs que poden1 scr descnvolvidos na con-
ccp\'1 o das 111aq uet as e na a rq u it ct ura en rnaq
que surcdcnt aos pri 1uciros la hi rint os sao n1a1s sr.ruplcs, nao
ntai s labiriutos no stntido cstrito do tentHl , ntas vtrtuahncnt e
o s: o, o que c ntai s intportantc. As portas lhc dao
out ra d i
0
, junta ntcn t c cou1 os s ulcos , rnats coin c
profunda. A ta c tuais virtua l, nao ta nt o labtnnt o,
porcn1 n1ovi nt ento e tcns:.o, toruando assi n1 tuna ditncnsfio
que tcndc a scr litnitada. () cspa\o co tcn1po sc casan1 cn1 dc-
finit ivo.
(mesmo dia)
m desenvolvimento de pensamen-
., . , para mt , . d'
Esse dtano e, . dt'a mais ou menos tme tatos e ge-
fl
. em notte e ' t
ros que
1
8 , nuidade de urn dta para .o, ou O!J se
rais. Nao set se_had
da dialct ica da C\ -
o antes de e urn a aspt ra\aO Interior irre ist h cl. I -
38
8 de fevereiro de 1962
0 problema dos oposros
0 nudeO Yeio reYelar. OU melhor, acentuar 0 problema
do- opostos nessa expressao e particularn1ente dentro da nli-
nha estetka (sentido esterko). 0 aparecin1ento de sentidos
opostos se da entre o senrido estrutural e o sentido da cor
nuclear). :\ estrutura do nucleo aparece e
se gera nun1 senudo totaln1enre arquitetonko: dir-se-ian1 es-
truturas paredes. as quais. teto. passarian1 a
ser Os nucleos en1 tan1anho grande en1 que e
el a reYelam isso rna is daran1ente: na ver-
dade o sentido intin1o da estrutura do nudeo e o de recriar o
e\.t erior. na verdade pel a primeira vez. este-
t1canlente. Os 'aos que se abren1 e as placas a dirigirem a vi-
... ao eo sentido organico de quen1 con1 elas dialoga sao pura-
rnente ...1rquitetonicos . acentuados pelo rigoroso ono-
gonal.
lntegrando-se a essa estrutura rigorosan1ente arquitetu-
-
rada. est a o que denon1inei sentido da resoh ido a qui
pelo ' de,envoh in1ento nudear . rnaneira pel a qual
dar ntido a est rutura-la logican1ente .
-
scnudo da re\ ela-se sernpre. e nao so quase tonal
(de,cnvolvirnentl) de an1arelo par.1 laranja quan-
dl) nao o sej a. grandes o que viria a penurbar
l1 in1ento 16g.ico da propria tdei a. que partiu aqui
da '-onsideractio Rrin1ith a d3 ou .. lun1inosidade
anterior da cor E po1s ,10 planL) e arquiteto-
ni o rigoroso. l!esen' 101ento nuclear . nal1 'o pela pas-
agen1 dec r pdi a elJ "ti .. 1 pr 1pria ideia prin1eira.
ern [ udo a ideia da ut lli a . 0 P'-1IH l) de
que 1 ennite a integ.ra\aL1. e '-) J a ' UL1 tnittua das
laridade . Quando 'heguei a .. ... \ i .
que era desenvl1h er a utura nurn -.. enPdu ez
n1ai - arquitetonico (aband "h. quadr "' que -..e desen' o, -
' eu para o sob pena de ' '-"lt ar atr.:b _<.. :
sentido .. cor-lul" que ser '1 i "'-' .. il
1
eq .. "'..l 'l""'
aq u i a do q uadro). t('t11C u e sc u ans f(,rll1L1U e1n esr;u-
tura: e rruturou-se de' i :io ao desen' i1nent"1 puralek1 J a
e t rut u r ..1. en1 tudo op sto a ) da '"or. "' pell) lado
a '-ltlt' d1dtnei . 'desetl\ h itnento nudear' .. que e na \ erdade
39
0
ponto de indissoluvel em que urn nao existe sem o
outro.
17 de marf O de 1962
Cor tonal e desenvolvimento nuclear da cor
A primeira vista o que chamo de desenvolvimento nu-
clear da cor pode parecer, e o e em certo sentido, uma tenta-
tiva de trabalhar somente no senti do da cor tonal, mas na
verdade situa-se em outro plano muito di ferente do proble-
ma da cor. Pelo fa to de partir esse desenvolvimento de urn
determinado tom de core evoluir ate outro, sem pulos, a pas-
sagem de urn tom para outro se da de maneira muito sutil,
em nuanc;as. A pintura tonal , em todas as epocas, tratava de
reduzir a plasticidade da cor para urn tom com pequenas va-
riac;oes; seria assim uma amenizac;ao dos contrastes para in-
tegrar toda a estrutura num clima de sereni dade; nao se tra-
tava propriamente dito de "harmonizac;ao da cor ", se bern
que nao a excluisse, e claro. 0 desenvolvimento nuclear que
procuro nao e a tentativa de amenizar os contrastes, se bern
que o fac;a em certo sentido, mas de movimentar virtualnzen-
te a cor, em sua estrutura mesma, j a que para mim a di nami-
zac;ao da cor pelos contrastes se acha esgotada no momento.
como a justaposic;ao dissonante ou a justaposi<;ao de comple-
mentares. 0 desenvolvimento nuclear antes de ser dinami -
da cor e a sua durartio no espac;o e no tempo. E a volta
ao da cor, que comec;a na procura da sua luminosida-
de virtual, interior, ate o seu movimento do mai"
estatlco para a durac;ao. Na fase imediatamente anterior ao
lanc;amento das estr_uturas no espac;o, cheguei a "In\ en<;oes ..
as chamo .hoJe),, em que trabalhava com a lunzinosida-
e a a1 ao seu estado primeiro, a u1n ou dois
tons, tao prox1mos que se fundiam, ou a monocron1ia' Dai
ao se desenvolver tudo '
f d para o espac;o, a cor a totnar
ad ormal .e urn desenvolvimento a que chamo nuclear un1
esenvo v1mento que seria com
tado estatico ara a -
0
se a cor pulsasse do seu es-
do seu se com<:_ se ela pul sas.se de dentro
m.a de cor tonal .. Nao se trata pots do problc-
. ' Intermedtac;ao" (que ta b ,e dlto, !llas seu caratt'r de
blema tonal) de urn b m em n1u1tas YC!es o pro-
' a usca dessa dunenst.lo in.finita da cot.
40
em com a estr.utura,, o e o tempo. 0 problema
alem de novo sentldo procura tambem, e princi-
palmente, se fumar no senttdopuramente transcendental de
si mesmo.
Se tomo por exemplo urn tom qualquer de amarelo claro
e desenvolvo para mais escuro de passagem, ate o seu esver-
deamento, sem chegar ao verde, nao somente urn desen-
volvimento literal linear da cor, como alem do movimento
estrutural de que falei, indico determinadas que se-
riam como se fossem pontos de fuga da cor em a si
mesma: ha urn subir e descer de intensidade, urn vaivem de
movimento, evidentemente ligado diretamente a estrutura da
obra, pois a cor nao e independente ern si mesma. Seria nao
s6 6tica como uma de indeter-
minadas que s6 ai posso exprimir. Nao o conseguiria pel a pa-
lavra escrita ou oral, nem atraves de outro meio phistico
qualquer. Nao e s6 importante o senti do psicol6gico desse
movimento interior, como tambem a sua e o
dialogo que se estabelece entre o espectador e a obra. E uma
existencial no mais alto sentido da palavra. Essa
que faz o dialogo e que mantem a vitalidade
da obra e a sua comunica<;ao expressiva. Quero, pois, pores-
se sentido da cor exprimir uma vivencia, digamos assim, que
nao me e possivel de outra maneira. Dir-se-ia estetica? , exi s-
tencial criativa?, sei la! Como se queira.
23 de marro de 1962
Wassily Kandinsky, atraves da sua experiencia, pode e
deve ser considerado o pai de todas as posteriores
da arte abstrata, mesmo, estou hoje convencido, da de
drian. E verdade que o seu sentido de estrutura e dife-
re muito do de Mondrian, mas sua influencia ultrapassa as
simples barreiras formais, estruturais etc., para se projetar
tambem na parte te6rica, que com ele toma rara-
mente vistas em materia da amplidao de visao e prev1sao das
evolu<;oes futuras da arte. Nao foi urn esteticista no senti do
literal do termo, pois, se estudou detalhadan1ente os
tos que compoem uma obra, foi para encarar coin obJettvi-
dade o fa to criador, a propria obra. E aqui tuna n1aneira de o
encarar transcender ao fato material, procurar encan1-lo e
41
'
. .
. '
- seria um pintor de
artista da estrutura. Mas o erro esta
e u- .. confundir estrutura e seu
se pe ,
011
k em adivinhar as estruturas tnter-
seatido CODSIS
11
as suas possibilidades e
_. cfinluic:as do :um sentido espacial, de carater
. de ai e muito
de
M drian Ionge de "representar"
on '. . fi a pelas mesmas, e urn
cas, ou substJtutr a tgur "b"l"d des da mesma na re-
. o de estrutura, das possl I I _a .
:::=o formal da nele apare-
ce no conceito que estabeleceu do esptntual .
16 de abril de 1962
A minha vontade de libertar a pintura dos seus anugos
liames, quais sejam, os elementos que se c?m-
pondo o "quadro", para poder expressa-la pura (tsto e. a
cor estrutura) e desenvolve-la nesse sentido, parece ter s1do
ate agora muito mal compreendida. E ' erdade que ... o
nos primeiros da aventura, mas , se compreend1da
no seu sentido teorico, ja se poderia a\ aliar o alcance d_a
demarche. Ate mesmo as pessoas mais ligadas a ideia, e mal5
aptas a dar opiniOes, na \erdade ainda nao a aceitaram. -
ou julgam que se trata friamen e de
expenenCia . , ou outros, algo incomodo ou tah ez e ouco.
Creto que muno custara impor rais ideias. Ja estou planejan
do um que ate agora penso ira chamar-se" pintu
ra depo
15
do no qual procurarei expor e desen\O
er toda a teona e pr_atica , por mim em fin de
desse desemohtmemo. 0 incOmodo porem nao pa
sara. Quem, em sa consciencia, normal e s;dio. pod Ja a ei
42
tar tal coisa? Mas, felizmente a arte prescinde dos sAos nor-
mais e adios especimens da humanidade. ,
3 de junho de 1962
No "pcnct ravel" o fa to do espaco scr livre, aberto, pois
que a obra se da nele, intplica utna visao e posicAo diferentes
do que seja a "obra". Un1 escultor, p.ex., tende a isolar sua
nun1 socle, nao por razOes sitnplesrnente praticas, mas
pdl) pr6prio scntido de de sua obra; ha ai a nel:essida-
de de No "pcnctravel'', o arnbiental o pene-
tra e t'nvolve nun1 s6 tcn1po. fora dai ondc situar o ''pe-
nctravd"? Talvcz nasc;a dai a ncccssidadc de l:riar o que dla-
tno de "t rojctos". Nao que sejan1 socles dos pcnetravci s
(que ideia superficial scria), tnas que "guardern' essas
obras. Cflclll C01l10 que preltldios a sua COtllpreensao. Que
sentido at irar un1 "pcnct r[tvcl" nun1 Iugar qualqucr,
n1esn1o nutna pttblica. setn procurar qualqucr cspecic
de prcparac;ao para contrapor ao scu sentido
unit{nio'? Essa c profunda c itnportante, hao s6 .
pda origcn1 da prl1pria idcia para cvitar que a ntestna
en1 gratuidades local etc. Que adianta-
ria po"sui r a obra .. unidadc" fossc largada a
nll: de tun 1 on de n'1o so be sse ideia, as-
.._inl nflo houvcssc a possibilidade de sua plena vivend a
43
COR, TEMPO E ESTRUTURA
Com o sentido de cor-tempo tornou-se imprescindh el a
transformacao da estrutura. Ja nao era po sh el a utiliza ao
do plano, antigo elemento de n1esmo que 'ir-
tualizado, pelo seu sentido a priori, de uma superficie a er
pintada. A estrutura gira, entao, no espaco, pa ando, ela
tambem, a ser temporal: estrutura rernpo. Aqui , a eslrutura e
- . , . .
a cor sao tnseparavets, asstm como o e e o tempo,
dando-se, na obra, a fusao desses quatro elementos que con-
sidero dimensoes de urn s6 fenomeno.
Dimensoes: cor, estrutura, ten1po
Nao se da, aqui, uma engrenagen1 desses elemento . n1a
uma fusao, que ja existe desde o primeiro n1o' irnenro criat i-
vo; e nao A fusiio e organica , ao pa o
que a Justaposicao implica uma desagregacao de elernenro !
profundamente analitica.
Cor
...
. A cor pigmentar, material e opaca en1 si, procuro dar o
senttdo de luz. A toda primari a e outras que deri' ar11 de-
las, ser o senttdo de luz. e ao bra nco e a inza.
.e prectso separar as cores tnai aberta a luz n1
para esta experiCncia: cores-lu::.: bronco'. a/111-
relo, laranJa, vermelho-/uz.
44
0 .e a cor-luz ideal, slntese-luz de todas as coret
E a mats favorecendo, assim, a silenciosa
densa, metafistca. 0 encontro de dois brancos diferentes '
da tendo um mais alvura e o outro, naturalme:
te mats opaco, ao tom acinzentado. 0 cinza e, pois
pouco usado, porque Ji nasce desse desnivel de
urn branco e, outro. 0 porem, nlo perde
0
seu
senttdo nesse desnt.vel e, por 1sso, ainda resta ao cinza um pa-
pel em outro sent1do, de que falarei quando chegar a essa
cor. Os bran cos que se confrontam sAo puros sem mistura
dai tam bern sua diferenca da neutralidade '
0 amarelo, ao contrario do branco, e o menos sintetico
possuindo forte pulsacao 6ptica tendendo ao espaco real, a
se desprender da estrutura matertal e a se expandir. Sua ten-
den cia e o signo, num sentido Il)ais profundae para o sinal
6ptico num sentido superficial. E precise notar que o sentido
de sinal nao interessa aqui, pois que as estruturas coloridas
funcionam organicamente, numa fusao de elementos, e sao
urn organismo separado do mundo fisico, do espaco-mundo
circundante. 0 sentido de sinal, pois, seria uma volta ao
mundo real, sendo, assim, uma experiencia trivial, consistin-
do apenas em sinalizar e virtualizar o espaco real. 0 sentido
de sinal aqui e de e interne, para a estrutura e em re-
aos seus elementos, sendo o signo sua expressao pro-
funda, nao-6ptica, temporal. 0 amarelo tambem se asseme-
lha, ao contni rio do branco, a uma luz mais fisica, mais apa-
rentada a luz terrestre. 0 importante aqui, e 0 sentido luz
temporal da cor; de outra maneira seria ainda uma represen-
da 1 uz.
0 laranja e a cor mediana por excelencia, nao s6 em re-
ao amarelo e vermelho, como no espectro das cores:
seu espectro e cinza. Possui caracteristicas pr6prias que o di-
ferenciam do amarelo-escuro-gema e do vermelho-luz. Suas
possibilidades ainda restam a ser exploradas dentro desta ex-
. "' .
penencta .
0 vermelho-luz diferencia-se do vermelho-sangue, mais
escuro, e possui caracteristicas especiais dentro expe-
riencia. Nao e nem vermelho-claro nem vermelho-vtbrante,
sangiiineo, mas urn vermelho mais purificado, luminoso sem
chegar ao laranja por possuir qualidades de vermelho. Por
isso mesmo, no espectro esta no campo das cores escuras,
45
, luz e quente. Possui urn sen-
. tarmente e aberta a
mas ptgmen d tuz densa.
tido cavetnOSO, graved das e primarias: azul, verde, rto-
As outras c'?res enva ser intensificadas ate a luz, .. mas
leta, purpura e Ctnza podem fechadas a luz, salvo 0
dO cores de em relacao a
que se caractenza pela sua ra ois possuem relacoes mats
Nlo tratarei cores
e o tetupo. 0 problen1a.
P.almente se firmar no teo, procura tarnb( rn e pi inci-
SI mesmo.
0
puran1ente transcendental dt
No Penetravel, decididam _
tador e a estrutura-cor sed, ente., a entre o c I c ,_
a nurna Integrac;ao conlpk't l l oi
52 l
que virtualmente e ele colocado no centro da mesma. Aqui a
visio ciclica do nucleo pode ser considerada como uma vistlo
global ou esferica, pois que a cor se desenvolve em pianos
verticais e horizontais, no chio e no teto. 0 teto, que no
nucleo ainda funciona como tal, apesar da cor tambem o
atingir' aqui e absorvido pela estrutura. 0 fio de desenvolvi-
mento estrutural-cor se desenrola aqui acrescido de novas
virtualidades, muito mais completo, onde o sentido de envol-
vimento atinge o seu auge e a sua 0 sentido de
apreender o "vazio" que se insinuou nas chega
a sua plenitude da de todos os recantos do pe-
netravel, inclusive 0 que e pisado pelo espectador' que por
sua vez ja se transformou no "descobridor da obra",
desvendando-a parte por parte. A mobilidade das placas de
core mai or e mai s complexa do que no nucleo m6vel.
A cria<;ao do penetravel permitiu-me a dos
projetos, que sao conjuntos de penetraveis, entremeados de
outras obras, incluindo as de sentido verbal (poemas) unido
ao plastico propriamente dito. Esses projetos sao realizados
em maq ueta para serem construidos ao ar livre e sao
acessivcis ao publico, em forma de jardins. No primeiro
(Proj eto Ciies de Cara) ha bastante espac;o para que, como
qui s eu ao faze- lo, sejam ai realizados concertos musicais ao
ar li vre, alcm das obras que existi riam compondo o projeto.
Para mim a invenc;ao do Penetravel, alem de gerar ados pro-
jetos, abre campo para uma regiao completamente inexplo-
rada da arte da cor, introduzindo ai urn carater colctivi sta e
c6smico e tornando mais clara a intenc;ao de toda essa expe-
riencia no sentido de transformar o que hade imediato na vi-
vencia cotidiana em nao-imediato; em eliminar toda relac;ao
de e conceituac;ao que porventura haja carre-
gado em si a arte. 0 senti do de arle pura a tinge aqui sua jus-
16gica. Pelo fato de nao adtnitir a arte, no ponto a
que chegou seu desenvol vimento neste secul o, quaisquer li -
gac;oes extra-estcticas ao seu conteudo, chega-se ao sentido
de pureza. '' Pureza'' significa que ja nao e possivel o concei -
to de " arte pela arte", ou tampouco querer submete-la a fins
de ordcm polilica ou religiosa. Como diria Kandinsky no s-
piritual na Arte, tais ligac;ocs e conceitos s6 predon1inam en1
fase de decadcncia cultural e espiritual. A arte e un1 dos
pinaculos da realizac;ao espiritual do hon1en1 c e con1o tal que
deve ser abordada, pois de outro rnodo os equivocos sao ine-
53
. . ois da tomada de consciencia da pro-
1
Pda arte e nao de urn enclausuramento em
blemauca essencdta conceitos ou dogmas, incompativeis que
qualquer trama. e . _
1
om a pr6pna . , _ .
5 0
cE to para mim os prime1ros nucleos sao a culmi-
A ndquafanse anterior das primeiras estruturas no espa<;o, o
ncancaa a . 'I'd d d -o , 1 d
penetravel abre novas poss1b1 1 a es atn a na exp ora as
dentro desse desenvolvimento, a que se pode _chamar cons-
1 Utl
vo da arte contemporanea. Urn esclarec1mento se faz
r , ' d '' t . ' '
necessaria aqui, sobre o que cons1 ero. como cons rut1vo .
Mario Pedrosa foi o pritneiro a sugen r de que se trata essa
experiencia de urn novo construtivisn1o, e creio ser uma
mais ideal e importante para a cons1dera<;ao
do problemas universai s que desembocam aqui atraves dos
multiplos e sucessivos desenvolvimentos da arte contempora-
nea. A tendencia, porem, e a de abominar OS "neos" "no-
\ o '' etc., pois poderian1 retomar como indica<;ao a rela<;ao
com certos "ismos" do passado imediato da arte moderna.
Cabe nesse caso reconsiderar aqui o que seja construtivisnlo,
ja que foi esse termo usado para a experiencia dos russos de
'anguarda en1 geral (Tat lin, Lissist ky e n1esn1o l\1alevitch) e
para e Gabo em particular, que publicaran1 inclu ive
o .. do Construtivismo .. ora, apesar das liga<;oe que
entre o que se faz hoJe e o Construtivisn1o
nao que se justificaria s6 por is so o tenno
lrUllVIS010" Q f t } '
. a o , porem, e que se torn a inadiavel e
uma reconstderac;ao do tern1o dconstrutivisn1o''
ou arte construtiva" d t d .
rnundo s . en ro as novas pesqtusas en1 todo o
te6r
. . .Pretensioso querer considerar como o fazen1
cos e cnticos puratn t f 1' ,
ontente as obras que de en orma Istas . con1o construtiv_o
vista, Suprematista e dos Construu-
te geometrica" termo h
ad e. e t tu ral
__ po.rque ja predis ost a erta do Ja ex1 tente,
expenencta., na sua a que o esp1_nto a capte. E a
fac;o, na mtnha obra profunda, Jfi funda no que
uma pos - '
SUJetto-objeto. Antes' d
llllportante do probletna
1
?da objeti:a j
1
f , a corre.nte de realiza<;oe .
)a existe no cnada por 1111111, e logo a idcnti-
cendo, dan do-se o di<ilogo
0
que as est rut u ra , a nas-
serena No "t SUJett o-ob 't 4. :
s ransobjetos"
0
dialo o ntuna fu. Jo
64
go se da pcl a a entua\fl
da oposicao sujeito-objeto. Creio que posto desse modo
problema, nas estruturas totalmente "feitas" po
0
, d . " d d' 1, . r mtm, mu-
dara e visao, e 1a ettca, na sua fenomenolog
1
a N
t 1
t f
t , . as estru-
turas to a men e e1 as por mtm ha uma vontade de ob
1
- t t 1 b Je tvar
uma es r.u ura su Jetlva, que s6 se realiza ao
da obra" ; janos "transobjetos"
a dessa subjetiva com
0
obje-
to Ja exts.te!lte com? necessano a estrutura da obra, que na
sua condtc;:ao de oposto ao sujeito, ja o dei xa de ser
tdenhftcacao, porque na verdade j a existia
tmphctto na tdeta .
Novembro 1964
Basesjundamentais para uma dejini9ti0 do HParangole"
A descoberta do que chamo Parangole marca o ponto
crucial e define uma especifica no desenvolvimento
te6rico de toda a minha experiencia da estrutura-cor no es-
pac;:o, principalmente no que se refere a uma nova definic;:ao
do que seja, nessa mesma experiencia, o "objeto plastico",
ou seja, a obra . Nao se trata, como poderia fazer supor o no-
me parangole derivado da giria folcl6rica, de uma impli-
cac;:ao da fusao do folclore a minha experiencia, ou de identi-
ficac;:oes desse teor , transpostas ou nao, de todo superficiais e
inuteis (ver em out ra parte o te6rico do nome e como o des-
cobri).
A palavra aqui assume o mesmo que para
Schwitters, p.ex., assumi u a de Merz e seus (Merz-
bau etc.), que para ele eram a de urn a
rimental especifica, fundamental a compreensao teorettca e
vivencial de toda a sua obra.
Aqui a especificidade e .bern
da criac;:ao do que chamo Penetrave1s, e e
que aqui assume dentro da arte uma
definida em correlac;:ao com as expenenctas desse .Nao
quero aqui a apreensao obj eti va dos
que se constitui a obra: p .ex. , plast1cos, estetras,
las, cordas etc., nem essa mesma rela<;:ao a objetos aos quais
se relacionam as obras: p.ex., tendas, estandartes etc.
65
nido, uma to tali dade. Ha aqui urn a diferen9a fundamental
entre isso eo p.ex., da descoberta da arte negra
como fonte nquts.stma formal-expressiva etc. Era a desco-
berta de uma total!dade de urn sentido espacial defi-
nido. Era a ten.tattva e do desmonte da fi-
gura na arte dtnamtza<;ao expressiva da figura,
da procura da dtnamtza<;ao estrutural do quadro tradicional
da escultura etc. 0 J!arangole, porem, situa-se como que
lado oposto do Cubtsmo: nao toma o obj eto inteiro, acaba-
do, total , mas procura a estrutura do objeto, os principios
constitutivos dessa estrutura, tenta a funda<;ao objetiva e nao
a dinami za<;ao ou o desmonte do obj eto. Nao desenvolverei
tambem aqui esse argumento em detalhe; quero apenas
aponta-lo: cabe tambem a cr itica de arte a tomada do assun-
to sob seu ponto de vista.
Nessa procura de uma funda<;ao obj etiva, de urn novo
espa<;o e urn novo tempo na obra no espa<;o ambiental, al-
meja esse sentido construtivo do Parangole a uma ''arte am-
biental" por excelencia , que poderia ou nao chegar a uma ar-
quitetura caracteristica. Ha como uma hierarquia de ordens
na plasma<;ao experim-ental de Nucleos, Penetraveis e
B6/ides, todas elas, porem, dirigidas para essa cria<;ao de urn
mundo ambiental onde essa estrutura da obra se desenvolva
e te<;a a sua trama original. A participa<; ao do espectador e
tamben1 aqui caracteristica em rela<;ao ao que hoje existe na
arte em geral : e uma "participa<;ao ambiental" por excelen-
Trata-se da procura de "totalidades ambientais" que se-
nam criadas e exploradas em todas as suas ordens, desde o
infinitan1ente pequeno ate o espa<;o urbano
etc. Essas ordens nao estao estabelectdas a pnon mas se
criam segundo a necessidade criativa nascente. 0 uso, pois,
de elem; ntos pre-fabricados ou nao que
in1porta somente como detalhe de St?nift-
e a escolha desses eletnentos responde a neccsst?ade
tmeaiata de cada obra. A relaGao dessas obras con1 obJeto.;;
ou conceitos ja existentes e poren1 de outra ordetn.
tandartes . tend as, capas etc. l-l
con1o q uc utna
da obra con1 esses objctos, ou tnclhor , utna apa-
r l.! ntc tcnninada a obra, ou ja ton1a ela , tksdc l)
aparencia. l::.ssa convcrgcncia l. dan! af>non: l)
dart e e por cxcclcncia lll1l etcnt cnt u lHl ohJ Cll) ult r:\ -l':" J'a'-
1
.11.
ha t1 c\c, itnplicito na cs tr utura l>l it:: ti, a . Ill"
J
4
I
I
(
I
I
I
seriam os mesmos exigidos, p.cx. , para exprimi r deter
minada ordem espacial da estruwra-cor dada pclo obJCIO em
si e pelo ato de o espcctador carrcg{l-lo. A tomu-
do, pois, a forma de um estandartc, nllo qms f1g111 A-lo ou
transpor o que jil ex is 1 c para u ma out ra v isllo, para u I ro
plano, mas sc apropria dos scus element os ObJCII\ O
constitutivos ao tomar corpo, ao plasmar-sc na rcali
zaca:o. TambCm a "tcnda" e cri gida pcla rclacao ambicntal
que cxige aqui um "pcrcurso do espcctador", um de vend a
mento da sua estrutura pela corporal direta do e pecta-
dor . Essa c poi s \,;ontingcnt e, incvi tav I c pcrfei ta-
mcntc cocrent c dcntro da dialctica do J>arangole.
0 "achar' ' na paisagcn1 do nnu1d0 urbana, rural et .
elcn1entos "Parangolc" t:sta tatnbcnl ai incluido c n1o o
"estabclcl.:cr pcn.:cpti vo-cstruturai " do que ere ce
na tnuna cstrutural do Parangol e (que rcpre ent a aqui o
carater gcral da cstrutura-\; or no cspaco aJilbient al) c 0 que e
' 'achado" no mundo espadal an1biental. Na arquitet ura da
:' p.ex . impllcito um cariltcr do Parangole, tal
d entre os clcn1ent o que o c n ti-
tucnl c a tnt erna o c tcr no
dcssas const ru<; Ocs' nfi o h{t passagt;; ll S brusca d " "
para a " al , "
1
, quart
" . s ll . ou, coztn ta , lnas o essen ial que define c tda
pat tc _5l ll C. a out ra em con t i nu ida de. '
l:.rn tahtqucs " de obras ent con t ru fi
n1csn1o cn1 outro J)hno
1
. " . <;L o, p.e ., e dn o
, l ::. tnt t:nl todos cs c Icc t
constru<;Ocs popularcs, gerahncnt . . . ,: . d .. an os c
todos os eli as. Tarnbetn fdrts O\ l d. ' qu ' clll
popular de fest as junints --.: c c 111 Cncllg , de r .. "A ....
sas rc lat;oe s . tgtosds, carnaval ct . da c -
t
. s e - I ,l n l c h 'l Ill a r ' ' . . .
c ruturats" ultrll,.lstt' '' l " ' ' lllla g J nall\ -
I .. , , .... l . l;, s nt s stn br
pluridimensional :
s I OS" I I tdadc c n.
1
c-
: . prod u t ivt l co.; li'J'C cnt rc . " per CCI ",l '
mutua men ( .tnt). am I a 111 cpa I ' ci .
odos t
.... . '-s pon os rest
atnda outro que surge. . . ,1\lll para unla t ri za t\ CJJti a e
verdH.l1>' L 'quc.l sen o d"' ' "' '
:. ,l t:tra rctontada, at l't . ' : veni J de unHl
mitic<t tl) de Paranf.!,o/ ic -
c .. . .. t t,l .. ut c que c ..
tista em diant c l;n,uor ou men or D Ill( I c c I ttu C
tor que tend , como que IIIli uh : .a ar tc I
a cmcrgir
0
.apan:dtnc.:nto
c llll Ulto de f,-
, \ e L Ill 'u s . R e s t a v c r i f' l (1 I t e d n o c l' u l ) .
6R H.:al n Partmfi!.o/ I c ..
a com elementos da mltica por exceten-
cia, ou a de lugares privilegiados etc. Ha como que
uma ''vontade de um novo mito'', proporcionado aqui por
esses elementos da arte; ha Ulk.Uil: .._..IILJif,,
portamento do espectador: uma tnter continua e de
Iongo alcance, que se poderia al ar nos da psicolo-
gia, da antropologia, da sociologJa e da hist6ria. Este e outro
dos pontos a ser desenvo vtdo criticamente em detalhe num
estudo te6rico mais denso. 0 ponto de vista filos6fico ja
existe implicito nessas resta talvez uma procura
da de uma "ontologia da obra", uma analise pro-
funda da genese da obra enquanto tal.
69
,
SOBRE 0 PARANGOLE
Desde o primeiro "estandarte' que funciona com o a to
de ca17regor (pelo espectador) ou j a aparece \ ish el a
da danca com o desenvolv1mento dessas
obras da da cor no ambJental . T oda
a unidade estrutural dessas obra: esta baseada na estrutura-
que e aqui fundamental; o 'a to do especrador ao ar-
regar a obra, ou ao ou correr revela a totalidade e -
pressi\a da mesma na sua estrutura: a estrutura atinge ai o
maximo de acao propria no senti do do . a to expressi\ 0 ...
acao e a pura expressiva da obra. i\ ideia da
"capa", posterior a do estandarte. ia consolida mais es e
ponto de vista: 0 espectador a apa. que se onstitui
de de pano de cor que se revelam a medida que
este tmenta ou ando. obra requer ai a
dtreta alem de re\ e-rir o or po. pede
se mov1me_nte. que dance. em ul ima analise. 0
uato de vesur. a obra j a impli "'a uma ran_muia ao
_do espectador. --ara --reristi a rimordia
da sua pnmetra "'Ondicao.
A ria :ao da ' .. . . u I"
_ . . _ apa . a a 1 e - ) 'eio rrazer
nao so a de --onsiderar urn . . i lo e an. . - ..
na obra, Isto e, urn . assistir' e .. \"PStir". b I I a :ao
ompleta visao or r .... a o ra para a ua
abordar 0 espe mas l a in enl a e
. . ra no e pa o P no lem -
mcus como se fos.:e ela 'siiuada ' . em .. .... - po nao
los., mas omo uma ... \iven"i a , . a e e elemen-
- il-... .. 'l ma1 a dos ffiP mo
- ao ua at a partida da ' al -: - .... .
ou meibor obra-epa onza. ao obra-e pa o e o ra-
' para a ... on i era ...
... 0
da sua como obra-objeto no mundo am-
biental. Toda a m!nh_a que chega aqui a formu-
do Parangole, v1sa a essa magica dos ele-
mentos da obra como tal, numa vivencia t.otal do espectador
que chamo agora "participador" . Ha como que a "insti:
e urn "reconhecimento" de urn intercorporal
criado pela obra ao ser desdobrada . A obra e feita para esse
espaco, e nenhum sentid? de totalidade pode-se dela exigir
como apenas uma obra sltuada num ideal de-
mandando ou nao a parti cipacao do espectador. 0 ' ' vestir' ',
sentido maior e total da mesma, contrapoe-se ao "assis-
tir" , senti do secundario, fechando assim o ciclo "vestir-
assistir". 0 vestir j a em si se constitui numa totalidade viven-
cial da obra, pois ao desdobra-la tendo como nucleo central
o seu proprio corpo, o espectador como que ja vivencia a
transmutacao espacial que ai se da: percebe ele, na sua con-
de nucleo estrutural da obra, 0 desdobramento viven-
cial desse espaco intercorporal. Ha como que uma violacao
do seu estar como "individuo" no mundo, diferenciado e ao
mesmo tempo "coletivo", para ode "participar" como cen-
tro motor' nucleo, mas nao s6 "motor" como principalmen-
,.
te "simb6lico" , dentro da estrutura-obra. E esta obra aver-
dadeira metamorfose que ai se verifi ca na inter-relacao
espectador-obra (ou partici pador-obra). 0 assistir ja conduz
o participador para o plano espacio-temporal objeti vo da
obra, enquanto que, no outro, esse plano e dominado pelo
subjetivo-vivencial; ha ai a completacao da vivencia inicial
do vestir . Como fase intermediaria poder-se-ia designar a do
vestir-assistir, isto e, ao vestir uma obra ve o participador o
que se desenrola em "outro", que veste outra obra, e claro.
Aqui o espa<;o-tempo ambiental transforma-se numa totali-
dade " obra-ambiente"; ha a vivencia de uma "participa<;ao
coletiva" Parangole, na qual a "tenda", isto e, o "pe-
netravel' ' Parangole assume uma funcao importante: e elc o
"abrigo" do participador, convidando-o a tam bern nele par-
ticipar, acionando os elementos nele contidos (sempre ma-
nualmente ou com todo o corpo, nunca mecanicamente, co-
mo seja: acionar botoes que poem em movimento
etc. Quando para a a<;ao corporal do espectador, para o n1o-
vimento; alias, e importante no tar OS elen1entos a<;aO" e
' 'pausa" no desenrolar da participacao con1o elementos da
''a<;ao total": e ai a obra muito n1ais "obra-a<;ao" do que a
71
. . . . mente plasma9ao visual da acao
ant1ga action-painting, purfa da em elemento da obra co-
e nio a mesma trans orma
mo ole revela entiio
0
seu caniter funda!De!ltal de
'' orang b" ntal" possuindo urn nucleo pnncJpal: o
estrutura am 1e , ', t" d "
I
. d obra que se desmembra em par JCJpa or
par 1c1pa or- , d f
quando assiste e "obra" ass1st1da . ora nesse
espaco-tempo ambiental. Es.ses nucleos .partiCipador-obra,
ao se relacionarem num aJ?biente (numa
sicao, p.ex.), criam urn "sistema amb1ental Para'!g_ole, que
por sua vez poderia ser '' assistido'' por ou tros partiCipadores
de fora.
Dai para o estabelecimento perceptivo de relacoes entre
a estrutura Parangole, vivenciada pelo participador , e outras
estruturas caracteristicas do mundo ambiental , surge o que
chamo de "vivencia-total Parangole' ', que e sempre aciona-
da pela do sujeito nas obras e lancada no n1un-
do ambiental como que querendo decifrar a sua verdadeira
constituicao universal, transformando-o em ''percep<;ao
criativa". 1m porta aqui, agora, procurar determinar a in-
fluencia_ d: tal no comportamento geral do participa-
dor; sena 1sto uma as estruturas perceptivo-criati-
vas do mundo ambiental? Toda obra de arte, no fundo o e
resta saber aqui q_ual a especificidade caracteristica ness a'
cepcao do que seJa o Parangole.
12 de noven1bro de 1965
A danra na minha experiencia
Antes de mais nada e prec l
resse pela danca, pelo ritmo ISO esc arecer o rneu inte-
ba, me veio de uma necessid 'dno caso particular o sam-
de desinibicao intelectual : e VItal desintelectualizacao
pres sao, ja que me sentia 'a a necessidade. de unla livre ex-
uma excessiva na mmha expre silo de
ra a procura do mito uma t ena
0
passo definiti vo pa-
fundacao dele na min'ha art reE,omada desse mito e uina no' a
... e portant
penencta da maior vitalidad . d" o! para n1Im, uma ex-
como demolidora de Ispensavel_, principahnente
mo veremos mais tarde h ei os, etc. o-
' ouve uma convergencia de sa exJ e
72 -
riencia com forma que_ a minha arte no Parangole e
tudo 0 que a lStO se relaclona ua que 0 Parangole influenciou
e mudou o rumo Penetrtiveis e B6tides). ao sO
isso como que fo1 o lDlClO de uma experiencia social definiti-
' .
,
va e que nem se1 que rumo tomara.
A e por excelencia a busca do ato expressivo dire-
to, da imanencia desse ato; nao a de bale, que e exces-
sivamente intelectualizada pel a de urn a
fia" e que busca a transcendencia desse ato, mas a di'n<;a
"dionisiaca", que nasce do ritmo interior do coletivo, que se
externa como caracteristica de grupos populares, etc.
A reina aqui no lugar da coreografia organiza-
da; em verdade, quanto mais livre a improvisac;ao, melhor;
ha como que uma imersao no ritmo, uma identificac;ao vital
completa do gesto, do ato como ritmo, uma fluencia onde o
intelecto permanece como que obscurecido por uma for c;a
mitica interna individual e coletiva (em verdade nao se pode
ai estabelecer a separac; ao) . . .\s imagens sao movei s, r apidas.
inapreensiveis sao o oposto do icone, estatico e carac-
teristico das artes ditas plasticas em verdade a danc; a. o
ritmo, sao o proprio ato plastico na sua crudeza essencial -
esta ai apontada a direc;ao da descoberta da imanencia. Esse
ato, a imersao no ritmo, e urn puro ato cri ador. uma arte - e
a criac;ao do proprio a t o, da e tam ben1. con1o
o sao todos os atos da expressao criadora . urn criador de
imagens alias, para n1im, foi con1o que utna nova de-co-
berta da imagem, uma recriac;ao da in1agen1. abarcando. co-
mo nao poderia deixar de ser, a expressao phi tica na minha
obra.
A derrubada de preconceitos sociaL, das barreiras de
gru pos, classes etc. , seri a in evi ta vel e es. en cia! na rea I i za a o
dessa experiencia vital. Descobri ai a conexao entre o coleti-
vo e a expressao individual o passo tnais itnportante para
tal- ou seja, o desconhecin1ento de nivei- abstratos. .. ca-
madas" sociais, para un1a con1preen ao de un1a totahdade.
0 condicionamento burgues a que estava eu subn1etido dewde
que nasci desfez-se coffio por encanto devo dizer. aHa-.
que o processo ja se vinha fonnando antes setn que eu C' -?u-
besse. 0 desequilibrio que adveio de se de locamento s 1al.
do continuo descredito das estruturas que regen1 nos-a \ida
nessa sociedade. especificatnente aqui a bra ileira. foi ine-
vitavel e carregado de problema , que Ionge de terem id t -
73
'
I
I
I
'
I
I
l
I
'
I
talmente superados, se renovam a cada dia. que a. dina-
mica das estruturas sociais revelaram-se aq u1 para ntnn na
sua crudeza na sua expressao mai s imediata, ad' inda de sc
processo de' descredito nas socia_i ;
nao que considere eu a sua exJstencJa, n1as s1m que par a rnn11
se tornaram como que esquematicas, artificiais, con1o c, de
repente, visse eu de uma altura superi or o seu mapa, o cu e -
quema, "fora" delas a marginali za<;ao, ja que exi stc no
artista naturalmente, tornou-se fundan1ental par a rnin1 e-
ria a total "falta de Iugar social ", ao mcsn1o ternpo que a
descoberta do meu "Iugar individual" con1o hon1en1 total no
mundo, como "ser social" no scu scntido total e nao in-
cluido numa determinada can1ada ou "elite", nern n1 n o
na elite artistica marginal mas existente (do verdadciro ar-
tistas, digo eu, e nao dos habitues de arte); nao o pro e o a a
e mais profunda: e urn processo na ociedadc con1o urn rodo
vida no mundo objetivo de ser na 'i\ en ia u J
sena a de uma posi<;ao intcira, o ial n u
ma1s nobre sent1do, hvre e total. 0 que n1c intere a .. o &Oat
de que experiment o aqui en1 rnirn nao alo p r-
to.tats, mas urn "a to total de vida", irrc' er 1\ el o d..: t ..
quthbno para o equilibria do ser .
. A antiga posic;ao frent e a obra de anc ja nao pr cd
mais mesmo nas obras que hoje nao exijan1 a pani il a
do espectador, o que propoern nao e urn a ao
mas urn "estar'' no rnundo. dan a
13111 111
uma desse nlundo irnancnt . rna r \
" a a plenitude o que eri a par iet z h
diOnisiaca" e na verdade Ul113 '"lu .d
siva da tmanencia do a to', .. I ez e pr
por parcialidade alguma e s: a to e e que nao c , ra tent
uma expressao total do eu por _ua totalidad nl I I -
tal da arte? o Parangole e
en a e ta a .Pedra fu nd rncn
pela dan<;a, e apenas x., exm e a P n i Jpa J
tura e vice-versa ada est t da rne Ill a na ua c t u
t .. ru ura na dan a .
ranstorma<;ao desse "ato total do . I t al ena unl
mam uma nova forma detennin eu . f!C.: r u Ill
do Parangole, sendo .ada ela ' I da e 1ru
tlcipac;ao estrutural - a dan<;a puJ a tlln ndi i de I r
naosetratad d '
rativos para uma e out ra ex Jrt: - e n l \ c J '
pura) como a outra (a d I ao. POL tanto urn (
1
d
1
totais an<;a no i=> 1rangol ) ' '
a c pn.:
74
9 que se chamar "interpreta<;ao" sofre
tambem uma nos. nossos dias nao se trata,
em e claro, repehr uma (uma
p.ex.), ahas mator ou menor expressao segundo
0
interprete. HoJe. o pode assumir uma tal importan-
cia sobrepuJe propna ( ou <;>utra coisa qualquer)
que tnterprete. Nao se trata de vedettsmo" individual se
bern que is so tambem exista, mas de urn a real ex-
pressiva do mesmo. Antigamente o "vedetismo" servia para
imortalizar determinados interpretes segundo a sua
calcada em obras famosas (opera e teatro). Hoje o problema
e diferente: mesmo que as obras interpretadas nao sejam
grandes musicas geniais (no campo da musica po-
pular, p.ex.), o interprete urn alto grau expressive-
urn cantor, Nat King Cole, p.ex., cria uma "estrutura ex-
pressiva vocal", independente da qualidade das musicas que
interprete ha uma cria<;ao sua, nao mais como simples
"interprete", mas como urn "vocalista" altamente expressi- '
vo. Uma atriz, Marilyn Monroe, p.ex., pela sua presen<;a
comportando tudo o que hade "interpreta<;ao", possui antes
de mais nada uma qualidade criativa, isto e, estrutural-
expressiva. A sua presen<;a em certos filmes mediocres da a
esses filmes urn interesse incomum, criado pela sua co-
mo interprete. 0 que interessa aqui e a de e a
interpretativa de Mar"ilyn, independente da quahdade
da musica ou do texto interpretado, se bern que estes pos-
suam, e claro, urn valor que e aqui relativo e nao absoluto 1
como antes.
10 de abril de 1966 (continuarao)
A experiencia da (o samba) deu-me portanto a 1
exata ideia do que seja a pelo ato a I
continua transformabilidade. De outro lado, porem,
revelou-me o que chamo de "estar" das c?isas, ou a
pres.sao estatica dos objetos, sua imanencta que e
aqut o gesto da imanencia do ato corporal expresstvo? 9ue se
trans forma sem cessar. 0 oposto, a nao-transformabthdade,
nao esta exatamente em ''nao-transformar-se no e no
temp0". mas na imanencia que revela na sua estrut ura, fun-
dando no mundo, no espa<;o objetivo que ocupa, seu Iugar I
75
unico e isso tambem uma estrutura-r>arangol e; nao posso
considerar hoje o Parangolf! co n1 0 u n1a e,s t rut ura
transformavel-cinetica pelo espcctador , n1as .tarn ben1 o seu
oposto, ou seja, as coisas, ou rnelhor, os que
fundem uma relacao difere_nte no ObJCtJvo! ou .. seJa,
" deslocam" o espaco ambJcntal das rcla<;Oes 6bv1as ja co-
nhecidas. Esta ai a chavc do que sera o que charno de '' arle
ambiental": o etcrnamcnte rn6vel, que sees-
trutura pelo ato do espectador c o estati co, tan1bem
transformavel a seu modo, dependcndo do an1b1entc en1 que
esteja participando como estrutura ; sera necessaria a cria<;ao
de "ambientes" para essas obras o pr6prio conccito de
"exposicao" no seu sentido tradi cional ja rnuda, poi s dena-
da significa "expor" tais pe<;as (seri a ai un1 int ere se parcial
menor), mas sim a cria<;ao de cs pa<;os estruturados, livres ao
mesmo tempo a participa<;ao c invenc;ao criati va do e pecta-
dor. Urn pavi lhao, dos que sc usan1 nos nossos dia para cx-
posic?es. ( cor;t o sao bcn1 n1a is in tere sante do que
de art e!), seria o ideal para tal
ftm sen a a oportur11dadc para unHl verdadei ra e cfi caz ex-
pe.nepcta como povo, jogando-o no senticlo da participac;ao
. ,.. .
cnatt.va, Ionge das "mostras para elite" tao ern rnoda hoje
ern dta. Essa experiencia dcver{t ser dt sde o "dado ' ja pron-
to, o.s ' .. que estruturarn corno que arquit eloni canlcn-
te os espa<; os a percorrer, aos ' 'dado tran -
que exrgem tuna part icipa<;ao i nvent i\ a qualqucr
d
o espcctador (ou. vestir c dcsdobrar . ou danrar) at e o ' da-
os para fazer" t d . . "'
. , ts o c, ar o rna t cnal vt rgen1 para cad a un1
construtr ou fazer
0
q .. .
estim I . , qtnser, J'l QUt: a nloti\ a ao. o
u o, nasce do propno fato de Hestar ali para aquHoq.
A execuyao para tal 1 ,
ganiza<;ao previa m t , P ano c conlplcxa , extgindo urna or-
sive as categorias aut? de tuna tquipe, e claro. lnclu-
1
scrcm ex pl orld ' lS :- . , . , I .
Pas (em outra parte f .. . .' ' van a\ e1., c nHt tl -
como categorias d que con idero
un1a "artc ambient 1") ar s IH.:ssa llllnha IH va c n de
laborayao de t! ckvendn n1c n1o l cr a c -
do . ar IStds de tdct l ' l"'
s apcnas ness a id . .. ., ' s <. t eru1t t: c onccn t1 a-
P - ,, cta gcraldc tuH H
, a que serian
1
tcr , . .. '
1
total da patti i-
parttctpa<;ao anonirna d' , cscc ntadas as obra pel a
do, "participadorcs" . os espectadores, ali a ' n1clhorl di zcn-
76
Ju/ho 1966
Posir;iio e progra1na
Antiarte compreensao e razao de ser o arti sta nao
mais como urn criador para a contempla<;ao n1as como un1
motivador para a a cria{'iio como tal se con1pleta
pela dinamica do "espectador", agora conside-
rado ''participador''. Antiarte seria urn a con1pleta<;ao da ne-
cessidade coletiva de uma atividade criadora latent e, que sc-
ria motivada de urn det erminado modo pelo arti st a: fican1
portanto invalidadas as posi<;6es mctafi sica, intelect uali st a c
esteticista nao ha a proposi<;ao de urn " elevar o especta-
dor a urn nivel de cria<;ao", a urna "metarrealidadc" , ou de
impor-lhe uma "ideia" ou urn " padrao estetico" corrcspon-
dentes aquel es conceitos de a rte, mas de dar-lhe un1a sin1ples
oportunidade de pa rticipac;ao para que elc "ache" ai algo
que queira realizar e pois uma " reali za<;ao cri ativa" o que
pro poe o arti sta, realiza<;ao est a is en ta de prcn1 iss as n1orai s,
intelectuai s ou est eti cas a anti art e isenta disto c
uma simpl es do homem nelc mesrno c nas suas possi-
bilidades criativas vitais. 0 "nao-achar " e tan1bcrn llllla par-
ticipa<;ao importa nte pois define a oportunidade de
4
lha" daquele a que se propoe a participa<;ao a obra do ar-
tista no que poss uiria de fixa s6 toma sentido c se con1pl eta
ante a ati t ude de cada participador este e o que lhc en1-
presta os significados correspondentcs algo e previ sto pelo
artista, mas as signi fica<;5es en1prestadas sao
suscit adas pela obra nao prcvi stas, incluindo a nao-
nas suas in urn eras possibilidades tam bern. Nao
existe pois o problen1 a de saber se art e e isto ou aquila ou dei -
xa de ser nao ha defini <;ao do que sej a arte. Na tninha ex-
periencia tenho urn progra rna e j a ini ciei o que charno de
" apropriac;oes": acho tun "ob jeto" ou " conj unt o-objct o"
formado de partes OU nao, e dele tOITIO posse COI110 algo que
possui para rnim urn significado is to e,
transformo-O e111 obra: UOHl lata contendo oleo, ao qual e
posto fogo (uma pira rudirncntar, se o declaro-a
obra, dela tomo posse: para tnin1 ad9u1nu o tuna cs-
trut ura aut 6non1a acho nel e al go ftxo, un1 stgnlf H.: ado q llt
quero expor a parti cipa<; ao; esta obra vai adquiri r depois n
77
'
I
I
'
...... , won pela partici-
maleabilidade significa-
a pretenslo de querer dar a
m : morais, es!eticas. etc. A
da artistica e que tmpera
:
8
propria dada pelo _a to
80
rcalizar-se: pr<?por uma.
S6 isto basta pa!a defin1r o propostto e
de ser de tais
Programa ambiental
com referencia a uma e a
derrubada de todas as antigas
pintura-quadro, etc., urn a man-
total, integra, do arttsta na_s .suas_ que po-
proposicOes para a do espectador.
e para mim a reuniao indivisivel de todas a mo-
em posse do artista ao criar as ja conhe ida :
palavra, luz, acao, etc., e as que a cada n1o-
urgem na ansia inventiva do mesmo ou do proprio
panicipador ao tomar contato com a obra. No n1eu progra-
nasceram Nucleos, Penetraveis, Bolides e Parangole , a-
da qual com sua caracteristica am bien tal definida, de tal
maneira relacionados como que formando urn todo organico
por uma talliberdade de meios, que o proprio a to
de nlo cnar Ji c?'!lo uma manifesta<;ao criadora. ur-
ae &! uma etJca de outra ordem de n1ani fe ta ao.
que tambe!'l dentro da am bien tal , ja que os seu rneios
se reabzam atra':es da escrita ou falada, e n1ai onl-
me:nte do dtscurso: e a social. inLluindo ai
politica) te uma etica (assim corno un1a
do cornponan1ent
s6. s:r"!a
1
s. nada dev? esclarecer que tal
ca, tal 0 grau de tot alrnent e anarqui-
opressivo, social e individ
1
FP Ictto Tudo o que ha de
todas as formas fixas e est a em oposiGa a ela-
vigentes, en tram a de gove_rno, ou e .. J rut uras
.SC?Cal-ambiental" e f QUI em contluo a r i\"' ao
cuus e politicas ao mpar Ida para todas as 111 od i fi a -e -
P
ati 1 ' enos o ferme t '"
ve com ela qualquer lei u o P_ara tal t:. in -. n1-
. q e nao SeJa dett:nninada 1 r
78
uma necessidade interior definida, leis que se refazem cons-
tantemente e a retomada da confian<;a do individuo nas
suas intui<;oes e anseios mais caros.
Politicamente a posi<;ao e a de todas as autenticas es-
no. r,nundo, nao, as esquerdas opressivas (das
quats o stahntsmo e exemplo), e claro. Jamais haveria a pos-
sibilidade de ser de outro modo.
Para mim a caracteristica mai s com pleta de to do esse
conceito d,e ambienta<;ao foi a formula<;ao do que chamei Pa-
rangole. E isto muito mais do que urn termo para definir
uma serie de obras caracteristicas: as capas, estandartes e
tenda; Parangole e a formulac;ao definitiva do que seja a an-
tiarte ambiental, justamente porque nessas obras foi-me da-
da oportunidade, a ideia de fundir cor, estruturas, senti do
poetico, danc;a, palavra, fotografia foi o compromisso de-
finitivo com 0 que defino por totalidade-obra, se e que de r
compromissos se possa falar nessas considerac;oes. Chamarei , '
entao, Parangole, de agora em diante a todos os principios I
definitivos formulados aqui, inclusive 0 da nao-formulac;ao
de conceitos, que e o mais importante. Nao quero e nem
pretendo criar como que -uma "nova estetica da antiarte",
pois ja seria isto uma posic;ao ultrapassada e conformista.
Parangole e a antiarte por excelencia; inclusive pretendo
estender o sentido de "apropriac;ao" as coisas do mundo
com que deparo nas ruas, terrenos baldios, campos, o mun-
do ambiente, enfim coisas que nao seriam transportaveis,
mas para as quais eu chamaria o publico a participac;ao -
seria isto urn golpe fatal ao conceito de museu, galeria de arte
etc. , e ao proprio conceito de "exposic;ao" ou nos o modi-
ficamos ou continuamos na mesma. Museu eo mundo; e a
experiencia cotidiana: os grandes pavilhoes para mostras in-
dustriais sao os que ainda servem para tais
para obras que necessitem de abrigo, porque as que d1sso nao
necessitarem devem mesmo fi car nos parques, terrenos bal-
dios da cidade (como sao bern mais belos que, parc?tes. ti-
Aterro da Gloria no Rio) a cham ada estet1ca de
e uma praga que deveria acabar os parql!es bern mat s
belos quando abandonados porque sao mats vttats (meu so-
nho secreto vou dizer aqui: gostaria de colocar uma obra
perdida, soita, displicentemente, para ser "achada" pelos
Passantes, ficantes e descuidistas, no Campo de Santana, no
centro do Rio de Janeiro e est a a posi<;ao ideal de urn a
79
obra - como f I 110 uma apecie de
alivio: servem o tempo, malandrear para
amar, para eagar etc.). a experiancia da obra CUJO ele
men to e consu p.a., o de uma cesta
cheia de ovos ,..110 (ovos logo tern que
ser consumidos para a e, d1g0 ,eu! segundo
Mario Pedrosa, um escunio ao chamado comerc1o da arte
criado pelas galerias: aqui o elentento comp6e a obra c
vendido a de custo, este acess1vel a qualq ucr
soa (ha ainda a simpatica possibilidade de se poder roubar
urn ou mais ovos is escondidas, o que torna maior o escfu ..
nio). A experiencia da lata-fogo a que me referi em toda
parte servindo de sinalluminoso para a noite e a obra que
isolei na anonirnidade da sua origem existe ai como que
uma geral": quem viu a lata-fogo isolada co-
mo uma obra nlo podera deixar de Jembrar que c uma
"obra" ao ver, na calada da noite, as outras espalhadas co-
mo que sinais c6smicos, simb61icos, pela cidadc: juro de
maos postas que nada existe de mais emocionantc do que c -
sas Jatas s6s, iluminando a noite (o fogo que nunca apaga)-
sao urn a ilustracio da vida: o fogo dura e de repcntc se apaga
urn dia, mas enquanto dura e eterno .
. ,Tenho programa, para ja, ambien-
tas , ou seJa, lugares ou obras transformavcis nas ruas
p.ex., a obra-obra (apropria.;ao de urn con
pubhco nas ruas do Rio, onde nao faltam, alias como ao
como e de " ambientes", e
Ja que nao posso transporta-las, aproprio-me del as ao meno
durante algumas horas para que me pertencam e deem ao
desejada ambiental) . Ha aqui uma
dspon1b_1hdade enorme para quem chega ninguem e con -
.dlante da a antiarte e a 'verdadeira J a a
definJtJva entre manfestacao criativa e coJeth idade co-
mo que uma d 1 d .
u , e a go esconhec1do A chatn- e
COISQS que se vee t d .
111 0
os os dtas mas que Jama
pensavamos procurar E .
urn a especie de a procura de. Sl mesma na col a -
\a realiza isso bem! COf!l
0
ambten.te (ah! como a dan-
seu lendario boteco "SO de ensato da eo
as maiores despara quem pode" foram para m
e ai!lbiente, catalisados
gia todo o dialetico desse do
Clark assinalamos apenas a revtravolta t
mesmo d . . ,. . te Paralelamen e,
inte { a ma1or 1mportanc1a na nossa ;r
1
te6ricas
de ;sl esse processo, nascem as ormu dos" com a
redenco .t\1orais sobre uma "arte dos sen
1
'
89
o objeto, fu1indo a seu mo-
ou pintura. Isto se apli-
oomo as de Hercules Barsotti e
vtsual de Slo Paulo.
VII t11rtc 111:0 independente, mas fundamental, e
do Realismo Magico de Wesley Duke Lee, centra-
Rex. Por incrfvel que apesar de saber-
da sua importlncia (que nesse processo descrito teria pa-
pel semelhante ao do Grupo Realista do Rio), pouco dele co-
. B um grupo fechado, extremamente solido, mas
do qual nlo podemos avaliar todas as conseqtiencias por des-
conhecermos sua totalidade. Apenas vamos anotar aqui,
al&n do de Wesley Duke Lee (nome ja plenamente conhecido
fora do Brasil e cuja experiencia abarca varias ordens estru-
turais, desde as pict6ricas as ambientais), os nomes de Nel-
son Leirner, Rezende, Fajardo', Hasser. Esta mostra servira
tambem para nos confirmar o que previamos: as premissas
te6ricas do Realismo Magico como uma das constituintes
principais nesse processo que nos levou a formula<;ao da No-
va Otijetividade. Eis, por fim, o esquema geral (ver quadro)
da Nova Objetividade, das principais correntes, grupos ou
individualidades que colaboraram no seu processo constituti-
vo, aqui descrito oeste item fundamental, ou seja, o da "pas-
sagem" e "chegada" as estruturas objetivas, considerando
perifericas as mais gerais de ordem cultural, que interessam
aqui como processo desta ordem, o que, de urn modo e de
outro, influenciou a eclosao do processo.
Perifericas
ORUPO POESIA
NEOCONCRETO PARTICIPANTE
(Gullar)
GRUPO
OPINIAO
(Teatro)
CINEMA
' NOVO
LYGIA CLARI< NOVA
REALISMO OBJETIVIDADE
CARIOCA
POPCRETO
REALI SMO
MAGI CO
PARANGOLE
Item 3: Participacao doe pectador
. Q probletna do e rnai C0111ple-
O, Ja que pat hctpac;ao. que .ntl: lO e opoe a pur a con-
templacao se tnanliesta de tnaneiras.
Ha poren1, duas tnanetras . bctn definidas de part icipac;ao:
uma e a que t:nvolve 'tn&:unpulacao ou 'part sen-
orial corporal". a outra que envoi\( utna participa\ao
" ernant ka". Esses do is tnodos dt' 1 art icipa an buscan1
con1o que tuna fundan1c nt al. h.Hal. nat)- fra-
ionada. envolvendo os dois pro essos. signi fica tiva, isto
e. nao r t"th lZt' lll at> pur o nH:(:tnisn1) dt' partidt ar. tna"
c n nt ranl -"t c.: n1 th)\ '-'S. da
pur a )11 t etn pla fh t tat. I )t:sch. as pn.'p,.'si,
.. h) .. att) ... dt"Sde da
1 ala\ ra i ura .. da pal:l\Ta 11\.' l)bjctn ... lHl as h: t>l
"narra t h a " c prot est ) pl) lit il:l) lHl Sl)t'ial. o q uc pro-
cura r lllll !lh) h) l)bjct i\ l) part kipa\.'ih> ..... cria a l n>Lura in-
lerna f )J' "\ dt"ntro h) t)blt'll. pda propt)Si\.'fll) da
artitipa"' ':\l) at iva lit) nt'SSt l) in iividtH.l
a t'llt'Ua a ol t\\ t' Sl)li"'itadl) dl)S signifka-
d o.. 1 r ) p l) t l) n a n l t' s 111 a c s t a t' p l) is tun a l) h r a abe r t a . E s s
pr "l', t'l)ll h) su rgi u 11\.' l. t inti n1a lllt n t c ligadl) al)
d a q llt: bra I o q u a i r t) t "'. h 12 ad a o l j e t l) ) u a< r d t:' l e an-
tiquad1'l (qua lro narrati,o). t: de 1nil e tun nlo-
d dcsde.:: a1 arc in1 ntl Ill) Ill n in1Cilh) n
atra\ de vgia lark e t rn u- e c 1110 que a dtr tnz I nn-
ii al d n1e tn , 1 rith..il altnente no ca1np P ia pala-
' ra I ala\ ra- bjeto. : int'Itil fazer aqui un1 ht t nco da fa-
e . u r g i 111 c n t d t: part i c i 1 d _t" 1 ectad or
a
'enf1 a- e en1 t da as n , a 1nan1 fc ta\ e d.e no a ' an-
uarda, de de a obras indi' iduai ate a co let 1\ a (happen-
. ' ... . . 1 d o n1 o a
mg p.ex. ). T'anto a cxperiencia nd' 1dua 1za a .
d an\ter cokti\ o tende1n a 1 r p i<;oe. cad a' cz
111
a
1
a ber-
t no en tid de a 1 articil a(aO, inclu e .a que tendenl a
dar ao indi\ iduo a aport unidadc de 'cnar a ua
Preo upa ao tatnbenl da produ\=ao en1 erie de obra (
0
. entido ludi o ele' ado ao n1axirno) e utna de clnbo a ul a
tnlportante de e proble1na.
r
'
I
consciencia, e claro, dos perigos metafisicos que as
h d d
Finalmente quero assinalar a mtn a toma a e cons-
ciencia, chocante para muitos, da crise das estruturas puras,
com a descaberta do Parangole em 1964 e a
te6rica dai decorrente (ver escritos de 1965). Ponto pnnc1pal
que nos interessa citar: o que com o Raran-
gole de uma colet1va .<vestu capas e
dialetico-soctal e poettca (Parangole poet1co e
social de protesto, com ludica (jo-
gos, o, pnnc1pal motor : o
de uma "volta ao m1to . Nao descrevo aqu1
tambem esse processo (ver da Teoria do Paron-
go/e).
Outra etapa, ligada em raiz e que incluo ao lado dos tres
primeiros realistas cariocas segundo Schemberg, seria carac-
terizada pelas experiencias ja conhecidas e adn1irada de Ro-
berto Magalhaes, Carlos Vergara, Glauco Rodrigues e Zilio.
Qual o principal fator que poderia atribuir a estas experien-
cias que as diferenciaria numa etapa? Seria este: sao elas ca-
racterizadas, no conflito entre a pict6rica e a
do objeto, na abordagem do problen1a, por u1na
ausencia de dramaticidade, fator positivo no proce 0 . que
confirma a aquisicao de handicaps en1 anteriore .
artistas enfrentam o quadro, o desenho, dai an1 ao
obJeto (sendo que quadro e desenho sao ja t ratado co1no
tal), de_volta a<? plano, uma liberdade e un1a ausencia de
drama E porque neles o conflit o j a ... e apre-
senta ma1s maduro no dialetico geral. eja no ... de-
senhos e nos e micro.ob_Jetos de , uq reen-
d_entemente sensiveis e sarcast1cos, ou na experi en ias nu11-
tlplas de desde os quadros iniciai para o relevo ou
os en1 pla_stico ou para a J arti-
do seu happen1ng (na G4 en1 66). u
c?m suas manifest a 6es ambi ntais
a es e , em plashco a brinqued gi-
sohdos geometricos cotn colagen e antiquadn; .... e
ain a nas estruturas "participantes" de Z' r .. d ... J.o-
esta presentee t " . t 10, l e
sao :sencta exenlplar a ai a"' inten-
va oeste processo Sam clareza hedoni ta e no-
lhante sem
0
ar IS as que esHlo no 0111 o, bri-
, e que nos recontortan1 corn eu otirni 111
92
se aqut o se torna veloz, imediato nas .
o que dtzer dos novissimos e dos
to
talmente desconhectdos que abordam criam J. 1..
0
b"
. d d" I, . , " o Jeto
sem mats to a essa ta ettca da "passagem'' do
1
.
E t
t . . d , urn1ng
point etc. a mos ra, pnmetra a Nova Objetividade, visa
dar que apareY!lm. estes jovens, para que
se m.antfestem Inclustve as coletivas anonimas
que ao processo (expenenctas que determinaram
inclustve a m1nha do Parangoll). Nao adianta
com en tar, mas anotar algWls desses novissimos,
abertos a urn desenvolv1mento: Hans Haudenschild com seus
manequins de cor (seria o nosso primeiro "totemista") Mo-
na Gorovitz e os seus underwears, Solange Escosteguy com
suas anticaixas ou supra-relevos para a cor, Eduardo Clark
(fotografias, multidoes e anti caixas), Renato Landim (rele-
vos e caixas), Samy Mattar (objetos), Lanari , o baiano Sme- r
tack com seus instrumentos de cor (musicais). "
Lygia Pape, que no Neoconcretismo cri ou 0 celebre Li- I
vro da onde a imagem da forma-cor substi tuia in
totum a palavra, cria, a par de sua experiencia com cinema,
caixas de humor negro, manuseaveis, que sao ainda desco-
nhecidas, e abre novo campo a explorar, ou seja, este do hu-
mor como tal e nao aplicando em representac;oes externas ao
seu contexto; em outras palavras: estruturas para o humor .
Ivan Serpa, que passara das experiencias concretas a
dissoluc;ao estrutural das mesmas, depois ainda pela fase
critica reali sta, retomou o senti do construtivo da epoca. con-
creta num novo sentido, de imediato no objeto,
do o sentido ludico sem drama entrando com a partict-
do espectador: Sao sadias que ainda serao
certo desenvol vidas, que tam bern nos evocam pre-
!l11SSas do conceito de antiarte, que as tornam de Imedtato
tm port antes. . ,. . .
Em Sao Paulo queremos ainda anotar a expenencta tm-
portante de Willys de Castro que desde a epoca neoconcreta
criara o "obj eto ativo" e desenvolveu coerentemente. esse
Processo ate hoje aproximando-se de soluc;oes que se afinam
com
0
que os definem como prinzary struc!ures,
o 1', . .t s obras da epoca
que a 1as acontece coin as de Serpa a r) e as de
neoconcreta con1o as de Carvao (tiJolos de co . sta ex-
Am.ilcar de Castro que tambem n1ostraremos ne uma
Sao cxpe;ienci as muito atuais, que ten em a
93
Item 4: Tomada de em a problemas politi-
. . , .
socials e et1cos
Ha atualmente no Brasil a necessidade de tomada de po-
em a problemas politi cos, sociais e eticos, ne-
cessidade essa que se acentua a cada dia e pede uma formu-
urgente, sendo o ponto crucial da propria abordagem
dos problemas no campo criativo: artes ditas plasticas, lite-
ratura etc. Nessa linha evolutiva da qual surgiu, ou melhor,
que eclodiu no objeto, na participa9ao do espectador etc., o
chamado grupo realista segundo Schemberg (no Rio), no
campo plastico (incluindo ai as experiencias de Escosteguy),
conseguiu a primeira sintese de ideias nesse sentido a qui 'eri-
ficadas. Ai, a primeira obra plastica propriamente dita com
carater participante no sentido politico foi a de Escostegu}
em 1963, que, surpreendido por gestoes politicas de 'ulto na
epoca, criou uma especie de relevo para ser apreendido nle-
nos pela visao e mai s pelo tato (alias, charnava- e ' 'pintura
tactil' ', e teria sido en tao a primeira obra ne se entido a qui
- mensagem politico-social em que o e pectador teria que
usar as maos como urn cego para desvenda-l a) .
Essas ideias, ou linhas de pensan1ento no entido de urna
"arte participante" , porem, ja ha algun a no ' inharn gernli -
nando de maneira clara e objet iva na obra de algun poet a e
que pela natureza de seu trabalho po uiam maior
tendencia para a abordagem do problen1a. polemi a u i-
tada ai tornou-se como que indispen cl \ e) aquele que em
qualquer campo criativo estao procurando criar un1a ba e
s6lida para uma cult ura tipicamente bra ileira. on1 ara -
teristicas e personalidade pr6prias . en1 din ida a obra e a
ideias de Ferreira Gullar, no campo poetico e te6ri o. ao a
que mais criaram nesse periodo, ne e entido. Ton1an1 hoje
uma importancia decisiva e aparecen1 on1o un1 e_t ilnulo pa-
"'
ra que no prote to e na cornpleta reforrnula --ao
pohtico-social uma necessidade fundan1ental na no a atuali-
cultural. <? que Gull ar cha1na de participa ao e. no fun-
essa necess1dade de urna partici pa ao total do p ta.
Jntelectual em g:ral, no -- e n problerna d
consequentemente Influindo e n1odifi and - : un1
nao as costas para o n1undo para re tringir- e a 1 r bl -
mas estet1cos, mas a nece sidade de abordar e e n1und ... 111
uma vontade e urn pensamento realn1enr tran ... f nnad re' .
94
pianos etico-p?lit_ico-social. 9 ponto crucial dessas
ide
1
as, propno Gullar :, n.ao compete ao artista tra-
tar de modtftcac;oes no ca.mpo como se fora este uma
segunda natureza, urn obJeto em s1, mas sim de procurar pe-
la participac;ao total, erguer os alicerces de uma totalidade
cultural, operando transformac;oes profundas na consciencia
do homem, que de espectador passivo dos acontecimentos
passaria a agir sobre eles usando os meios que lhe coubes-
sem: a revolta, o protesto, o trabalho construtivo para atin-
gir a essa transformac;ao etc. 0 artista, o intelectual em ge-
ral, estava fadado a uma posic;ao cada vez mais gratuita e
alienat6ria ao persistir na velha posic;ao esteticista, para n6s
hoje oca, de considerar os produtos da arte como uma segun-
da natureza on de se processariam as transformac;oes formais
decorrentes de conceituac;oes novas de ordem estetica. Defi-
nitivamente e esta posic;ao esteticista insustentavel no nosso
panorama cult ural: ou se processa essa tomada de conscien-
cia ou se esta fadado a permanecer numa especie de colonia-
lismo cultural ou na mera especulac;ao de possibilidades que
no fundo se resumem em pequenas variac;oes de grandes
ideias ja mortas. No campo das artes ditas plasticas o proble-
ma do objeto, ou melhor, da chegada ao objeto, ao
generalizar-se para a criac;ao de uma totalidade, defrontou-se
com esse fundamental, ou seja, sob o perigo de voltar a urn
esteticismo, houve a necessidade desses artistas
mentar a vontade construtiva geral no campo pohtico-ettco-
social. E pois fundamental a Nova Objetividade a discussao,
o protesto, o estabelecimento de conotac;oes dessa ordem no
contexto,_ para que seja caracterizada, como urn
tlptco brasileiro, coerente com as outras dernarches. ts-
verificou-se, acelerando o processo de chegada obJet<? e
as proposic;oes coletivas uma ''volta ao mundo ' ou seJa,
urn ressurgimento de urn'
mas humanos, pela vida em uluma analise. _o fenomeno
vanguarda no Brasil nao e mais hoje questao de urn grupo
provindo de uma elite isolada, mas uma questao am-
pia, de grande alrada tendendo as soluc;oes coleuvas. b'
'r ' sa e tam em
A proposirao de Gullar que mats nos tnteres . .,.
a -or - b tern a conscten-
Pnnctpal que o move quer ele que nao as d r
ci d t 0 poder cna o
a o arttsta como homem atuante somen e .
1
dor
e a
1
. ,. . ser socta cna
tnte 1genc1a mas que o mesmo seJa um ' e"nctas
na , ' b, de con set
0
so de obras mas modificador tam em ,
95
r
.I
I
colaborc elc revo-
e que algum dia
ISm que 0 arUsta "participe'' enrun da
po o.
at a crltica: quantos o fazem?
a arte coletiva
Hi maneiras de propor uma arte coletiva: a I se-
ria a de jogar individuais em con!ato com o
p6blico das ruas (claro 9ue que se destlnem a tal, e
apbcadas modo); ou!ra,_ a
de propor atividades cnat1vas a esse pubbco, na propna
da obra. o Brasil essa tendencia uma arte cole-
tiva e a que preocupa realmente nossos art1stas de vanguar-
da. Hi como que uma fatalidade programatica para is to.
Sua origem esti ligada intimamente ao problema da partici-
do espectador, que seria tratado entao ja como urn
programa a seguir, em estruturas mais complexas. Depois de
expcriencias e tentativas esparsas desde o grupo neoconcreto
(Fiojetos e Parangoles meus, Caminhando de Clark, happen-
ings de Dias, Gerchman e Vergara, projeto para parque de
diversOes de Escosteguy), ha como que uma solicita<;ao ur-
gente, no dia de hoje, para obras abertas e proposi<;oes
irias: atualmente a preocupa<;ao de uma "seria<; ao de
obras" (Vergara e Glauco Rodrigues), o planejamento de
"feiras experimentais" de outro grupo de artistas,
deorden1 coletiva de todas as ordens, bern o indicam .
. Slo porem programas abertos a realiza<;ao, pois que
mwtas dessas proposi<;Oes s6 aos poucos vao sendo possibili-
para tal. Houve algo que, a meu ver, determinou de
c:erto essa intensifica<;ao para a proposi<;ao de un1a ar-
te total: a descoberta de manifesta<;oes populares or-
ganudas (escolas de samba, ranchos, frevos. festas de toda
ordean, futebol, feiras), e as espontaneas ou os acasos ..
("arte das ' ou antiarte surgida do acaso) . Ferreira Gul-
lar Ja, certa vez, o sentido de arte total que rvssui-
as samba onde a dan<;a, o ritmo e a n1u -i"a
Vb UD!dOS mdissoluvelmente a exuberancia visual da Of.
das :est,mentas etc. Nao seria estranho en tao, se levarn1os is-
soc
1
conta, que os artistas em geral, ao procurar a chegada
processo uma coletiva para suas proposi .... oes.
descobrissem por sua vez essa autonoma dessas ma-
popul_ares, das o possui urn enorme
acervo, de uma nqueza _express1v_a tn1guahivel. Experiencias
tais como a Ql!e Mora1s realizou na Universidade
de Minas D1as, e Vergara, qual seja a
de procurar cnar obras de m1nha autoria procurando
"achando" _na paisagem q'ue
dessem _a ta1s_ e reahzando com 1sso uma especie de
happening, sao 1m port antes como modo de introduzir o es-
pectador ingenuo no processo criador fenomenol6gico da
obra, ja nao mais como algo fechado, Ionge dele, mas como
uma aberta a sua total.
Item 6: 0 ressurgimento do problema da antiarte
Por fim devemos abordar e delinear a razao do ressurgi- t
mento do problema da antiarte, que a nosso ver assume hoje
papel mais importante e sobretudo novo. Seria a mesma ra- I
zao por que de outro modo Mario Pedrosa sentiu a necessi-
dade de separar as experiencias de hoje sob a sigla de "arte
p6s-moderna'' e, com efeit o, outra a atitude criativa dos
artistas frente as exigencias de ordem etico-individual, e as
sociais gerais. No Brasil o papel toma a seguinte configu-
racao: como, num pais subdesenvolvido, explicar o apareci-
mento de uma vanguarda e justifica-la , nao como uma alie-
nacao sintomatica mas como urn fat or decisivo no seu pro-
gresso coletivo? Como situar ai a atividade do ar tista? 0
problema poderia ser enfrentado cotn uma outra pergunta:
para quem faz o artista sua obra? Ve-se, pois, que sente esse
artista uma necessidade maior, nao s6 de criar simplesmente,
mas de.co1nunicar algo que para ele e fundamental , !llas essa
teria que dar etn grande nao numa
ehte reduzida a experts mas ate contra essa ehte, com a pro-
posicao de obras nao acabadas, "abertas" . E essa a tecla
fundamental do novo conceito de antiarte: nao ap enas
telar contra a arte do passado ou contra os concettos
(como antes ainda uma atitude baseada na transcendent ah-
mas novas condi<;oes experimentais, enl
hsta assume o papel de "proposicionista", ou "enlpresano
ou mesmo "educador''. 0 problema antigo de "fazer Uf!la
nova arte" ou de derrubar culturas ja nao se for!li ula asstm
-a formulacao certa seria a de se perguntar: quats as propo-
97
.
0
medidas a que se devem recorrer para
ampla de popular nessas
cnar c bertas no ambito criador a que se elegeram es-
a ' b ,.. d
ses artistas. Disso depende sua pr6pna so revJvencia e a o
povo nesse sentido.
Conclusiio:
Mario Schemberg, numa de nossas reunioes, indicou urn
fato importante para nossa como g:upo ho-
je,
0
que quer que se qualquer que seJa a denlar-
che se formos urn grupo atuante, real mente parttcipante, se-
ren{os urn grupo contra coisas, argun1ent o.s, fatos .
1
ao pre-
gamos pensamentos mas comun1camos
tos vivos, que para o serem te'!l que Jt.ens
citados e sumariamente descntos ac1n1a. ' o Bra II (n1 to
tambem se assemelharia ao Dada) hoje, para se ter U[11a po-
cultural atuante, que conte, ten1-se que ser contra, ' is-
ceralmente contra tudo que seri a ern surna o conforn1i rno
cultural, politico, etico, social.
Dos criticos brasileiros atuais, qua tro influenciararn
com seus pensamentos, sua obra, sua atua<;ao en1 no os e-
tores culturais, de certo modo a e a eclo-ao da
1
o-
va Objetividade, que ja vinha eu, ha cert o ten1po. con luindo
de pontos objetivos na minha obra te6rica (Teo ria do Paron-
go/e) sao eles: Ferreira Gullar, Frederico 1orai . 1ario
e Mario Schemberg. Neste esquema da
1
o' a
Objetlvidade nao nos interessa desenvol er a fundo todo o
P?ntos, mas apenas indica-los. Para fi nalizar, quero e\ o ar
uma frase que, creio, poderia muito ben1 repre en taro
esp1nto da Nova Objetividade, frase esta fundan1ent al e que.
de certo m<?do, _uma sintese de todo e.., e ponto
e at.ual s1tuac;ao para ela) da vanguarda bra ilei-
portanto, de elementos
que fazem parte destas obras e.
tante apenas como detalhes de srgmfic.
dos totais, e a escolha destes e
a resposta as neccssidade imedmtn" di."
cada obra. A obra pode tcr n form.t de um
estandarte, mas nfio reprcsenta um e tan
darte. ou a de urn J
1
existentc para um ontro plnnl1 1 k tr.\ c
esta natureza quando tonhlll foml.l,
quando se mol,fuu no cont nr,, l.'l'lll l'
Pcctadur. A kndn tnmn s u.1 f,Hlll.\ p.u1u
do pr{,prio cnminhru d,) J,n c-nl
rcdur deJa. sua ,:annur. c ,fc,, cr ,t d
1
atraves do coql,)l\1 J,, 'I
1
dor.
)
)
('
Desdemone Bardin com
Capa 2.
(Foto: Jose Medeiros)
Roseni corn Capa 2.
(Foto: Desdernone Bardin)
N illh1 d.l m
C.lp.t 1
l>a ac" ( '' d,ld( ' ' '
(I q66)
(I nt<' <_ l.tudlll <.. ltla
Dan"a d
. e ntual funcbrc da
tnbo P iw C d .
. a e, II uveo,
1 rtip;, Ul de Claude .
Lev-Strauss).
(Foto: Claud L
e
Ensao de 5amba na quadra da ManJU ra
(f'oto: Desdemone BardmJ
0 contato do vi s1tante como Santuano de
ISE como ru1do dos seus passe
em contato com os seixos a entrada do
templo.
Ao cruzar a ponte sobre o no lsuzu
embaixo do primeirO/IIr/1 ele se \e
mconscientemente crundo em slenc1o,
preocupado com o som que ele esta pro-
Ainda que tente con" en r com
companheJro, o som dos se1xos dtfi
culta' o coloquio. Cammha em slenc10
pela extensa ale1a de criptomerias. 0 atn
tar de fato acentua a
de tranqiulidade em redor, ass1m,
mergulhado na monotona dos
sons que faz, esquece qualquer con\ e
e a sua mente fica possulda por pen -
que nenhuma palaHa pode eA
pre)sar. ''
Noboro Kawazoe& Kenzo Tange .I SE. _
Prololype tif Jupaneu Ar< hlltc tllr
. . e uma especie de labirinto
Trop1cdlia 66 aida
99
no fmal.
fi :b do sem uma
5
voce entra9 percebe que nio
e nos em que o es-
tad
C
ircula existem elementos ta-
pec or ,. be
. Ao penetrar mais voce perce
teJS. os sons que vem Ia de fora (vozes
tipo de som) sio revelados
como se viessem de um aparelho tv
que esta colocado bem no E ex-
traordinario
0
sentido que as 1magens
tomam aqui: quando voce senta num
banco Ia dentro, as imagens da tv apa-
recem como se estivessem sentadas no
seu colo. Eu quis oeste Penetravel fa-
zer um exercicio da "imagem" em to-
,
das as suas fo1mas: a estrutura geome-
trica flxa (que lembra as mondrianes-
cas casas japonesas), as imagens ta-
teis, a de pisar (no chao exis-
tem tres tij>os de coisas: saco com
areia, areia solta, seixos, e tapete na
parte escura como segmento de uma
parte para outra), e a imagem da tv. A
terrivel que senti Ia dentro
foi como se estivesse sendo devorado
pelo proprio trabalho, como se ele
fosse urn grande animal. Interpretei
isto como se uma esti-
vesse sendo processada no meu traba-
lho e pensainento: talvez este plano
para o Penetravel com agua no chao
seja o primeiro resultado positivo
desta crise: e uma especie de libe
d b
-. ,.
a o sessao Imaget1ca do outro
travel. J>ene-
Em Tropicalia criei uma espe' ci d
. al e e
cena tropic , com plantas ara
. d . , ras,
are1a, pe ras, sel.Xos, brita 0 P
. . . ro-
b lema da imagem e posto aqui objeti-
vamente mas desde que o mesmo ,
universal, proponho tambem este
blema em urn contexto que e tipica-
mente nacional, tropical e brasileiro
Quis acentuar esta nova
com elementos brasileiros e uma ex-
tremamente ambiciosa tentativa de
criar uma linguagem que fosse nossa, a
qual se ergueria frente a imagetica in-
temacional da Pop e Op arte, na qual
uma boa parte de nossos artistas esta-
vam submersos. Mas as imagens em
Tropicalia nao podem ser consumidas,
nao podem ser apropriadas, diluidas
ou usadas para comerciais
ou chauvinistas. Pois que o elemento
de experiencia direta vai alem do pro-
blema da imagem.
0 participador tern que caminhar pela
areia, brita, tern que olhar os poemas
dentro da folhagem, brincar com ara-
ras etc. 0 ambiente e obviamente tro-
pical, como o fundo de uma chacara.
mas mais importante e que temos a
de estarmos de novo pisando
na terra.
Ptiginas anteriores:
Tropic4/ia (1966-7) no Museu
de Arte Modems, Rio - doJS
Penetrtiveis, areia, selXO$,
tropicais, araras,
brinq uedos, tv
Morro do 1tftlll8uetrS
A dtrt.fta
M noli do
,. -
Kirdi Hut ("Architecture
without Architects''. de
Bernard Rudolfsky).
.. .
,, Ao evocar 05 Bororos, f':
. ha primeira expenencta
ramaoun
t
po volto a encontrar os
desse ' .
U
. mentos que me invadtram no
sen . . . .
nto
em que antctet a mats
mome . .
recente destaS, ao atangtr o
d
uma alta colina numa aldeta
e . d
Kuki da fronteira btrmanesa,
pois de horas pass_ada com os pes
e as maos no chao trepando ao
Iongo das escarpas, transforma-
das em lama escorregadia pelas
chuvas da mon\io que caem sem
cessar: esgotamento fisico, fome.
sede e perturba\iO mental , sem
duvida; mas essa vertigem de ori-
gem organica e toda ela iluminada
por de formas e de co-
res: cujo tamanho as
to rna majestosas . apesar de sua
fragilidade ; utilizando materiais e
tecnicas que consideramos me-
diocres: visto que essas moradias
sao menos edificadas do que en-
tecidas, bordadas e
desgastadas pelo uso; em Iugar de
o habitante sob a massa
tndiferente das pedras. etas re-
agem com flexibilidade a sua pre-
e aos seus movimentos. ao
COnt . .
. rano do que acontece entre
permanecem subme-
tl as ao h
Se
, omem. A aldeia ergue-
a volta d
co o seus ocupantes
mo uma levee elastica armadu-
ra; esta mais perto dos chapeus de
nossas mulheres do que das nos-
sas cidades : ornamento monu-
mental que conserva urn pouca da
vida dos arcos e das folhagens ,
atraves dos quais a habilidade dos
construtores soube conciliar o
a-vontade natural com o seu pro-
jeto exigente.
A nudez dos habitantes parece es-
tar protegida pelo vel udo herba-
ceo das paredes e pela franja das
palmas : esgueiram-se para f:ora
das suas moradias, do mesmo
modo q ue despiriam gigantesco
robes de penas de avestruz. 0
corpos. j6ias desses estojos ma-
cios, pos uem modelos requinta-
dos e tonalidades pelo
brilho das tintas e das pinturas.
suportes dir-se-ia destina-
dos a valorizar o omamento
mais esplendido : retoques gor-
durosos e brilhante dos dente e
pres a de animai eh agen . a -
,
sociados a pluma e a flore . E
como e uma ci' iliza ao inteira
conspira e numa me rna temu-
ra. apaixonada pela forma_. pe-
la ub tancia e pelas core da
'ida .. :
Tropic o de Claude Le-
' i-Strau
HEUOOmCICA
1969
-L!-.,_
11
6
urn ctJtnPMS experinental,. espkie de taba, onde
0 c:MC bumanas sio permitidas bumano enquanto
da esp6cie bu!D8" E uma esp6cie de luger mftico para as
as , para a feitura de coisas e do cos-
-::-.: um porisso. "abenas" sio dadas c
brutoS e eNs para o '' fazer coisas'' que o partici-
ll6 1"
sert capaz de reazar. ,
Nunc& estive iao contente com plano do Eden.
. mpletamente livre de tudo, ate de mun mesmo. lsto me veto
ti-me co b d "S S
com as novas ideias a que cbegue re o e upra-
rial", e para mim toda cbega a 1sto: a necess1dade de um stgnifi-
cado supra-sensorial da VJda, em transfo mar os processos de arte em
de vida.
Considero como problemas ''sensoriais'' basicos aqueles relacio-
nados a de condicionados a priori , tal como
ceone na Op Art e nas artes relacionadas com isto (quer sejam aqueles
atraves de estimulos mecinicos ou estimulo natural como nos mobiles
de Calder, onde leis fisicas detet minam sua mobilidade e afetam o es-
pectador sensorialmente). Mas, quando uma e feita para
uma sensorial", ou uma da .. ,
quero relaciona-la a um sentido supra-sensorial, no qual o participador
ini elaborar dentro de si mesmo suas pr6prias as quais foram
"despertadas" por tais
. Es!e de ''despertar" eo do .. Supra-Sensorial .. : o parti-
cipador: e retirado do campo habitual e deslocado para urn outro, des-
que desperta suas regif>es sensoriais int,emas e da-lhe cons-
aencta alguma regiao do seu ego, onde valores verdadeiros se afir-
mam. Se asto nio se eli, e porque a nao aconteceu.
Meus novos trabalhos sao bem abertos: dois grandes bOlides onde
se pode entrar n '
. a area mtenor: areia em urn e palha em outro. Uma
pane eloxtenor do cerco de madeira e pintada de laranja e a outra de
mare , ambos bern lumin .and 0 , 0 a: ..... ;
visual " osos. en ' 0 asstm uma especle de uuut'e
como
80
. campo de e o espectador entra nessa area e atua
qwser: .envolvendo-se na areia e na palha, ou apenas
r uuO, cammhando etc C .d
c6smi ons1 ero-os como trabalhos .. abertos e
partir :es Quero que o espectador erie suas pv6prias a
' mas sem condicio , l .
pa)ba sio apen dif na- o a uma ou outra A are1a. a
sobre' estas ,._ as b qualitativas. e o espectador ilii .. atuar
cu eas uscando . . . . fi .
mo, ao inves de t stgm tcados intemos dentro de si mes-
entar apreender si "fi d -
Musica ritmi d .. gn1 tea os externos ou sen a e..s.
n!llr-... e tern sido a principal
r--u. mun quer h y
cial, psicol6gico e , tl:
0
c egar ao todo desta area de atu A : .so-
SOObos . , e co. utros P . . -
as , ti rocessos stmilare pod em o-11-er em
artistica" ( ce ca e, em e peciai ch mad
t numa condi - ..,.
on. que e Quando se , .. como a definida em Zen m ... a-
e tocad d
0
e forte e fundnnte.nt I e .., c
.....
....... ).tcllnt
----
...., ilto,--...., 01 _...
., _. ....a.lllo e moder
-
..,..... .. ..,
para bem , COIIIIO um
, cobe to de lona arona (como se em
da chuva), e outro com vai-
lllia a entrar sem sapatos, e todo o piso
par a um Divel bem raso, de maneira que a 8gua
p& do espectador.
que estou construindo e um penetrivel, alto e largo,
..,.. de .. ": a pessoa entra deita nela,
de enttar, a pessoa fecha a porta, de ita e brinca com
piiP6il coloidos etc. A cabine e toda pintada de vermelho. 0
... aqui e 0 ato de deitar oeste detellltinado
A do cresce lentamente como conceito do Eden,
de r.to e o sentido profundo: la:rer em si mesmo, uma ideia aberta
.._... em um "estado comportamental" que intemamente requer
... ou uma daqueles que querem penetra-
la, - esta nio seria preordenada: .. seja isto" ou
.. ......,., ' voce nao pode comprar a obra, porque a ideia de ven-
der om tnhalho real em si mesmo e falsa: os ninhos, tendas, camas etc.
11o de lazer e, como tais, colocados em contexto especifico,
- que tem que ser diferentes em aos sentimentos intemos de
c.da pessoa; nio faz sentido ter alguma coisa como objeto e depois te-
lo a uma estrutura burguesa etc. porque isso se relaciona
Q)l!ll a ideia de lazer criativo, e nao e Iugar para
meramente divertidos, mas a do mito em nos-
vidas, o cressonho consciente de si mesmo .
. planejando o Barraciio, que deveni ser ambiente total co-
do Crelazer em meu grupo especifico no Rio de Janeiro.
Voce tem a ideia do seu?
0 Crelazer pode estar marginalizado agora, mas estou certo de
que .nio '! sera para sempre assim, desde que as humanas
=m livres da de urn mundo opressivo, nao como uma
ta J e falsa atividade, mas uma verdadeira que desmistifique e
mternamente.
H.O.
B61ide-Cama I (1968). um ..,..
das em EN
(Fotos: Luis nr l o S ld nh )
,
j
'
que 1sso procurado e. conseguido, isto e, as formas
que essas tomanam, seriam tam bern atingidas
de sem previa, pois cada compor-
tame!lto tndtvtdual pr6pria dentro do
colettvo: qualquer nesse sentido seria espuria
tais como as alucinogenac;Ao, por uso
drogas, ou efettos superficiais ou nao com luzes, cheiros etc. ,
a nlo ser que entrassem como elementos esparsos, abertos
como probelementos, mas de antemao sabe-se que, se deter-
minam urn tal estado, ou uma condic;ao para atingir algo ja
estao furados como elementos criativos abertos. A a borda-
gem do lazer, nela mesma, e aberta, pois e 0 lazer algo geral
uma ideia fu':ldad_a num "estado do comportamento" e que:
por dentro, 1mphca uma tomada de posic;ao em relac;ao a
problemas humanos mais profundos, miticos, dos quais se
alimenta a arte (sempre se alimentou) e com os quais se iden-
tifica cada vez mais, como se a tal "volta as origens" se con-
cretizasse num crescendo, na vontade de ser real como urn
bloco de pedra, de na o aceitar a repressao c9mo condic;ao de
progresso, de sere estar vivo.
Ha algum t empo venho sentindo a necessidade de nu-
cleizar tudo a que a minha experiencia me levou: a descober-
ta do lazer , ou de Crelazer, no nucleo-casa a que charnaria de
Barracao esse sera posto em pratica, e e no Brasil que ele
devera ter seu verdadeiro carater. Ha, porem, algo bern se-
melhante talvez nao tanto na formulac;ao mas bern parecido
na do comportamento, ou do ''obra''
como.algo estatico ou mesmo objetal, na expenencta total a
que se entrega o grupo Exploding Galaxy de Lon,dres. A casa
onde vivem que pode nao ser s6 aquela mas sera a que hou-
ver por on'de quer que a ndem, t ern esse de urn
arnbiente-recintotal ate a comida, o con1er, o vesttr ' o_ anl-
biente em si, mostram que I a com eles a vida e obra nao se
podem separar pois na reali dade nao lui essa dtferen<;a
mo. Nao ha di zer que suas n1anifcstacoes nos parqt_Ies de
Londres ou Amst erda ou por onde n1ais andarenl, seJanl a
b
' - ., t . tudo t" tna-
o ra ou uma forn1a dela nao sena e.xd
0
t:
' 1 ' US a-
nt fcstarao 111cstno 1s on1i ssoes do cott c tano. M.:
'Y ' ' 'd 1 J1l}r que
lhos OU a fraqueza de se agUentar a Vl a. ta Vt:Z . ,.
. ' . , : . . ni so en11
senttdo con1 unt t ' l i'IO con1 que se get a1 3
111
' .., '
1 . . s ., F a art c gn-
nccessanl J)ara tal Eo .
. . , "' "' " . . I . ' r "OJTlfilll
lenas'! Pre fi r a das galcras. que cran1 hnl n c It:
J_ l
5ete mares, de sui a
Blood ou em Errol
racolados, 0 que e .
comer p1poca, que
foi vivo, e nem
122
LOfiDUCMRN70
2111JOSI() 69
EsJ!Ial para NELSON MO'IT A
HELlO OITICICA
depois da Whitechapel (primeira e ultima experi@ncia)
depois de Paris com Ceres Franco,
fazendo Rhobo de Jean Clay
depois de Los Angeles com Lygia Clark, cuja
reviveu e en_grandeceu com o
contato-americano I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I
depois de Nova York com Gerchman, cujo trabalho cresce
dia-a-dia I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I
estou again em Loridres
E NAO TENHO LUGAR NO MUNDO
onde esta o Brasil que representa nele ou onde esta a pai-
xao pelo Rio: no 6dio ou no despeito, de quem, de onde, por-
que sinto que Rio e Mangueira me foram a grande expe-
riencia, o amazement diario, visceral , mas que s6 eu vivi e
senti; se puderem me destroem mas e que nao sou otario e
nao deixo o mundo me parece pequeno e feio onde esta
o sonho do novo mundo? do 3?, 4?, 5? ou a obsessao infantil
o mundo e maior do que se pensa, mais perdido, e 213 de
mar, animal e s6, vazio de humano Londres e a solidao
gay swinging do mundo: procuro com Caetano, a noite, algo
que lembre "os misterios de Londres" ou "Londres depois
de meia-noite" (como o filme de Lon Chaney), no pequeno
trecho de Chalk Farm a Camden Town n1as parece que o
infinito de ruas e casas se fecha procuro o crelazer: faco o
pianos, e parece que e rt o-
nao terminam e sao o sentido do que nao exi te e e
procura erguer releio 1neus textos; hennajrodiotese t o
que mais me atinge: e o scnt ido de: tudo, inclusive do. reln-
zer: o sexo nao existe con1o conceito (as roupa 5o unas ex e
sempre o foram; fa<;o a hon10 e hetcr '"'1
mesmo c nunca cxistiran1 l:Olll O algo real: s, o a ..,Oint rn dn
, .
social prefrro meus textos _que nascem
na rua em toda parte, tenho que escreva a em Char-
inl erOss noite e dia nio
pc)clem nascer e vir, se estou com 1 no macro 1 taco, ou
com Nelson e M6nica no Arts Lab, ou com Graham e Mur-
del ouvindo Varese ou radio, ou quando hit nitro-
benZOl no ar (meu filme se chamara Nitro benzol & black li-
noleum) cinema deve ser forte como o underground (eu
sou o underground da America Latina!), como Chelsea Girls
que e a America (do Norte), mas serei mais forte: serei o
tropico sol, serei a explosao minha e sua: nao deixe que a
tragedia o consuma, ela ja existe todo dia ela passa e esta
ela e e 0 colapso sobre 0 colapso e 0 ir e
vtr e a conqutsta de se agtientar o dia que nasce nao se
. . '
que a notte termtne e que venha o escrevo
leto, estou . o Brasil e triste como a ideia de
co, mas s<?u eu aqu1, sou o desafio de mim mesmo sem-
pre o que oposto e desafio: o frio, o conforto su-
na notte os tambores mentais _
art;osepLhetne F Pope Guy Brett -
a, Mike Cha
sen to-me JUnto a estatua d E . . pman
to a agua eo frio se esconJ rose VIV<? mats, enquan-
e o la-o BARRACAO . , em mas e urn m1nuto entre o ca
sol Ja se ergue dentro e procura a luz do
.
voz alta .
epoca: ultim
ha a semana agosto 1969
umanodaA 1.
da not poca lpop6tese
1 e negra
124
S U B T E R R A N I A
LONDRES
HELlO
21 SETEMBRO 1969
OITICICA
SOUEU
EVOCE
E AMERICA LATINA SUL SUB
em baixo da terra Ionge do falatorio dentro de voce
condicao unica de criacao : do mundo para o-Brasil :
no Brasil no submundo algo nasce germina culmina
ou e fulminado como fenix nasce da propria cinza (cafono)
subterra : romantico cafono classico ortodoxo
folk-pop consciente mistico lirico ( + neo + sub tudo)
tropicalia e o grito do Brasil para o mundo --
subterrania do mundo para o Brasil : nao quero
usar underground ( e dificil demais pro brasileiro) mas
subterrania e a glorificacao do sub atividade-
homem mundo manifestacao : nao como detcmento
ou glori-condicao sim : como consciencia para veneer
a super paranoia repressao impotencia
negligencia doviver : marcha funebre enterro e grito
consciencia critica criativa ativa --
necessidade do disfarce do surrealismo-farsa
do sub-sub da redundancia Ionge do olhos _ _ _ . . , . ~
perto do coracao : ou da cor da acao : debaixo da terra
como rato de si mesmo : RA TO e o que somos simbolo flama
enterremo-nos vivos desaparecamos sej amos o nao do nao
o n6 omitivo a nao-omissao creomissao
mtssa
missao
eu sou o astronauta o Brasil e a Lua cuja poeira mostrar-se-a ao mundo
sublixo
SUB'I'ERRANIA 2
sub
sub solo
sub terra
submundo
o sub desenvolvido em baixo da terra como rato
a sub America
sub terraneo do desconhecido
terra
sub fraseado
sub mar
sub ir ou descer no hemisferico sui
sub verter ou correr
sub liminar desejo de veneer e construir
sub alterno que faz sua tarefa de cobrir de
terra o presente
sub termico termometro
sub altura
sub estatuto : o suplente suplanta
sub status
sub erguer
sub mergir pelas matas ou nas ondas do mar
sub lime a tua musica escondida sob o
sub veu
sub way
127
68
: nlo de uma ' 'ideia
1
experiencla do grupo aberto num
... quentes: 0 nan que outrora era
ou a na parede, esta encer:
,___pan eto como um poema adormec-
o protesto que' encerra, a ideia de ".mensa-
iniciada no ato de martelar para abr1r, que-
ocerne, PQ$&nir o c6digo poetico; nAo-gravura,
mas a coiSa, concreta e v1rgem,
a pqrretadas: proposta do superpanfleto: lati-
. ie o p6ster traz-nos- o ldolo-her6i , as ur-
o documento trAgico do sofrer anOnimo
: o grito coletivo documentado: a marteladas po-
conhecido. Penso como urnas dessas poderiam ser en-
a toda parte, ou as possibilidades que decorrem deJa.
no Antonio Manuel, precisaria urgentemente
carpintaria e liberdade para agir. On de obte-la?
Orupo que seria isso; posso imaginar urn g n 11 o
QUe P&I:tiClpem pessoas "afins", isto e, cujo tipo dee J t: -
da mesma natureza; mas, numa e perien i.1
cal1bre, o comu'!' seria a cnt t
....... a interferencia do in11 n
a desconhec1da co let i a' 111 n.1,
I
de. (alias, creio eu, a grande passeata
cem md tena stdo a para a Apoculipopotese: sua
e gerais ainda me sAo presentes) mas
aqu1, nessa as surpresas do desconhecido fo-
. ram eficazes sempre oslo e sempre "falta algo" em todas
elas, 0 que e importante e born.
Lygia Pape Ovos: (ver meu texto sobre ela) como se
sabe os 'ovos' deram origem, com a minha cama-b6lide a
ideia de Apocalipopotese: Rogerio Duarte formulou tudo
numa conversa comigo, em minha casa, em maio de 68:
ideia de probjeto, que engloba tudo (as cabines Lololiana e
Cannabiana, que construi entao, seriam drogens, como as
outras citadas acima sao Apocalipopotese, tudo sob o con-
ceito de probjeto) os 'ovos' de Lygia Pape seriam o exem-
plo classico de algo puramente experimental, por isso mesmo
diretamente eficaz; estar, furor, sair o continuo 'reviver' e
'refazer', na tarde, na luz, na gente: o ovo eo que de mais ge-
neroso se pode dar: e nascer e ali men tar , aqui tam bern o
ovo do ovo.
Tudo explodiu naquela tarde John Cage estava Ia,
trazido por Esther Stockier Escosteguy n1ostrava poemas-
objetos Samy Mattar roupas fosforescentes na luz negra
- sambistas tantanteando a intelectualia deli-
rava Raimundo Amado e Bartucci fHn1avan1 (cade o fil-
me? quem trancou? destranca senao eu n1ando o tranca-
rua!) as pessoas participavam diretan1ente, obliquan1ente
sei la mais como mas o importante eo sei Ia 1nais con1o. o
indefinido que se exprime pela inteligencia clara de Lygia Pa-
pe ou pela turbulencia de Antonio I\1anuel, ou pela perple o-
das pessoas ou por
Rogerio Duarte - dentro da n1anifestacao, a redundan-
cia: a do apresentavel: o ato c:Jos cae . do-
mador e tudo: nao a simples cafona de _R?geno. ou
melhor, s6 ela, a fri o: quen1 assiste partiCipa .. a . J
que " e pra isso mesmo": parecia cena de Fellnu. rna. na
era: nao se queria ITI Or a l agua COI11 acucar d? fa111 . 0 CUlea..,-
ta: mas tudo se dcu pel a contingcncia de vana I sa _fat .
momentos vividos; na tarde o show d< ae Rogt:no
cursa o spot de 1 uz dos ci neast as cai sol re a ccnn . tnt"'-
ma ou hafJ{Jening'' antbos c ncnhun1, porqut c totahdn he
f' t e qucr
nao detalhc, n1ancha e t ransparenc.a: na dl < qu .
exprirnir o fa to, ou a represent a no da "'ida c
1110
l._t c : l'
1 Q
0 primeiro e ultimo show de
a e ultima fala de Rogerio: o mo.
cles amestra os, a
mento. .
1
de com capas novas de Parangole: sei 0
gente, estar ali; queimou-se muito f umo de
que espe_ te Ia. bouve samba e trombada com o nosso car.
hoje olho os slid_es e vejo pela primeira vez
ro
0
s lindas: estio aqut, nas foto-momentos, na
as capa " f ' 'f
ente e no simbolo; gosto, adoro ,a .atxa , e1ta .no co.rpo''
urn nordestino veste: e a capa q,ue ded1cada
a Gilberto Gil; cada vez que. a ten to vesttr, ate hoJe, parece a
prirneira vez: o corpo e a fatxa, que se enrosca e se transfer-
rna no ato de descobrir o corpo, do jogo de descobrir como
pode ser vestida: cada vez e a primeira; primario; Rosa Cor-
rea veste Seja Marginal Seja Her6i Balalaika, Caeteles-
veltisia- a barba de Macale espreita algo Frederico, Gue-
varctilia- Nininha da Mangueira, Xoxoba Torquato, a
'Capa 1, Bidu, Bulau, Santa Tereza, Mirim, Manga e
Mosquito sao escalas emotivas onde estou, que sons e atos
e pensamentos nos rodeiam e a pratica ou 0 ato? - e 0
pen.samento .ou 0 fato? 0 filme e outra coisa, que 0 slide, que
a de cada urn Ia, naquelas horas seria ja a
uma coisa e certa: e a primeira pratica que se
ate pratica constante da liberdade-lazer.
Whit devendou-me o futuro: a experiencia
ou a
do que uma sintese de toda minha obra,
de liberd d e tdetas, decorre de Apocalipop6tese: a
te dentro-determinado, intencionalmen
descobertas
0
a erta como o campo natural para todas as
Apocalipop6tese que se recria, que nasce: na
abertas ao com ort estruturas .tornavan1-se gerais, dadas
Whitechapel
0
colet1vo-casual-n1omentaneo: em
no se para quen1 chega e e
pettdas, fechadas e monuado, d? fno das ruas londrina . re:
natureza, ao calor f e se recria con1o de 'olra n
no utero anhl de se deixar absorver: aur
que "galeria" ou aberto construido, que ntaL d
go , era esse
130
Utht' JIILI'
3
Unl\ de de ' ' ''" '
Ba itl ht n ., " "U ut I Qt\\J
0
..
"cuidado, su-
e melbor'' pra que a
sei nlo sei se e a maciez da pele ou a
pela aombra, pelo baixo da ponte ou o mato onde
baseado, se quiser: sempre amei a sombra e
sempre adorei fazer o que ninguem aprova: adoro meu ba-
mas que sentimento estranho, que nAo e medo do cas-
tigo mas dapriva,ao do prazer, que me faz evitar o flagran-
te: policia, algo abstrato repressAo nao existe em mim se
tenho o prazer imediato: o que falo sinto Ia ou agora
que penso no Ia no que foi ou podera vir a ser no falar na voz
que nAo e conhecido (masse tornou) do dia-a-dia: pra mim
era o dia-a-dia e e: nao e agora porque estou aqui e nao Ia:
mas o eco-samba e vejo-me descendo a ponte pra som-
bra; atraves dela chega-se a sempre vazia a noite ou
alguem caido no chao dorme ou curte: " que dana-
da, to muito a vontade'' talvez o cinema tenha
ai, para mim em algum desses momentos-ponte onde a ba-
naneira e o trem se encontram na sombra ou o verde do mato
alto triste tr6pico calado e brisante expectante: cheiro de
sumo-fumo nem frio nem quente na noite estrelas bananeiras
e as luzes se juntam s6 som: cinema nao e filmado mas essa
ponte que desce pras sombras desliza aveludada e carros so-
bern, nao! se algum vern subindo e contramao e pode sera
policia! mao unica e basta mas nao se basta e nao e limitado
ao efeito do fumo: maconha e meu dia-a-dia, meu estado na-
tural: (por isso nao nele) mas nao eo efeito que tne faz ver as
sombras nem o grupo que desce e o outro que vein cotnigo;
lider. nao sei , talvez meu entusiasn1o pennanent e rne
oh, se existisse ou fosse licito dizer que 111e sen-
u!ll era at:. todas as apreensoes infant o-juvenis ou llh)rnl-
cnattvas tntelecto-maniacas dispcrsavan1-se c urn .., t:nti -
mento ongtnal me possuia ao desccr aquela ponte conl tun
. mpanhar: urn sendmento gru-
grupo ou dois ou a grega? ulissiano talvez_?
pal? ou algo que stnto ao "lhada da ponte com a ponte e mJ-
mas estar !lo altona olhar do Olimpo sei Ia qu_e
rar a desctda pra somb maria (sonhos tive com mares medt-
imagem ou segundo dizem de
ftr;;logia
00
tragedia? mas _tsso _fo1 na
eternJdadde I ... m.a e nem me lembro ou revivenco por-
infanto-a o escenct . h f
ue): e fala-se linguagem sou preto e mn a a-
se transforma e casos-est6nas sao tnvocados e o
acende, chique merda de fin6rio, nao quer acender: detxa
voce nunca sabe acender esse porra como demora.
nenhum trem passa apenas a batida compassada do surdo e o
repique tamborinesco ceu e sombra brisa e sombras
na rua abaixo onde a ponte desce suavemente como o avtso
que pousa e ja se ve se esta no chao na sombra onde desem-
bocam os portoes escuros (nunta reparei quem ou que nas es-
tranhas chacaras por detras daqueles portoes tudo sempre es-
teve na escura escuridao e sempre o silencio como se ha secu-
los todos dormissem naquele rincao on de as lin has se separa-
vam: Central pra esquerda Leopoldina pra direita onde as
desapareciamna completa ombridao) : na rua de
paralelepipedo som de carros que chegam e saem e vao e ven1
e pausam no da noite para que o tanta ecoe mais nas
fombras dos ceus se se olha pra tras o Cristo ao
onge aceso Indica que moro alem dele no lado sul mais sul
que .estas sombr_as aonde a nao porque est a
aqu1 no meu pet to porq f .
aonde a
1
ue aguento o un1o o ma1s
ss1m e me hor oh 1 . ... .
ploram a palavra vicio _ oucura ? PressJva,. porque Im-
existir porque nao exist na? e PJonunciada mas Implorada a
de pecado original (s .e. a em a mente obcecada pel a ideia
blime que sinto nao :ra pouco .me importa!) rnas o u-
nao o _ soe
0
d VICio (se ex1ste tal coisa nunca o , i
jardim bairro sons e ra9a planeta cosnlo'"'
silencio eu- f e
0
que e e son1bra noite afero
guem. m.e pode derrubar comunafeto estou on de nin-
tes trop1cos como sao gra d
0
dos na pele da 1 ele t ris-
po ?ao parou apenas se e pra Cln1a nao ha lirnite tcn1-
ma1s que som tanta sombra de sua cronolouia c.:: nih
grohmneogrosa praqui prala faladn g.r -
e apaga ena pra .. c)r?
132
amei
IIIDae ea-
ltl... o toaho ou
tque parafra-
me vem aos olhos sem me-
\fiver nlol a defesa nlo estava
alerta ao sonho contraposta a mlo
ou a toalha detalhe que penso e nlo lembro a
nlo defensiva nio viera pusera-me a s6s na alegria
Criat da noite e do ir ou nlo oh, perdi-a para sempre
ou lfmharei o plo amanhi ou tragicamente retiro-me da vida
no quarto da casa cOmodo tijolo embebido de cal ou no nao?
- nlo sei quando foi ha cinco anos talvez mas que seculo de
progresso regresso transgressao da lei ( da minha nao da
opressionisticossocial): eu estava no ceu paradiso paradise pa-
rafso perdido ou s6 como no utero mutero mugir de surdo ou
cuica alem das escadas luzes bandeirolas macarronadas para-
fuseamento roxo ou delegadico delgade corte no espaco piao
pe trio quarteto quadra jarda luz olhar ceu e noite pra frente
pra tras pra cima energograma sem lama clamor ou 6dio mas
o sorriso era fora e dentro lamento unico momento no para-
diso paradise paraiso: trombetas destinatarias anunciavam o
do drama da queda da lama do sol ardente nas ladei-
ras sem fim tiloconduzidas paran6ia ou o carro caveira na
esquina ou a caixa d'agua banhados que estranho ambiente:
s6 o cheiro da maconha me reportava a ultima vez e unica
que Ia estivera: carro preto descida do inferno: p6, ssfum que
onda o carro ta cheio mas desce com a neve no calor no odor
desodor que esta dentro e nao fora ja sin to o filete acido des-
cera goela nlo sinto mais nada sou eu todo e nao epiderme
nem verme creme lua estrelas bar na Cancela tiro veloz carro
preto sono fome da Bandeira helenico boemico rna
pretilo: na luz quente adolescentes short bola praca
um-
Judus
traDs-
- (oh,
aqw. e ouVI can-
criei acima do tem-
ebarco mato caixa
que 6 asfalto so.bre pedra
pra Penha) grtto morro
ao te acompanhar, mas nio
subidas pedras e cimento
- e nlo sonhar com ouropoder
romana: vestir-se de suo-
linho e sol: a ausencia do bon-
das dobras longes trilhos .
.... a reboqueando o
II na Ansia ou do ''porque
matagais ''tarde tarde,
redoredor'' roedores que se escon-
na aus@ncia ao meu teu redor
' l ,, Umpido polido e limpo sem sons subi-
central s6 s6s sois de dias
. tr6pico corpos: transparencia ou
ttocestos restos distancilindios ou o re-
linhor@ncia quarto abafado e -
me se engana porque acolhe o
USinala o suor tempora carcoporal
do corpo tropotropical
PGDto final o despedir ir e vir.
Este livro foi composto pela
. Memphis Producoes Graficas Ltda. , .
Rua Vtsconde de Inhafuna, 64 - 2? andar - Centro - Rio - RJ
e impresso pela Grafica Portinho Cavalcanti Ltda.
Rua de Santana, 136 - Centro - Rio - RJ
em maio de 1986
para a Editora Rocco Ltda.
Bauru
lOS D R$ 1l0,GO
Maria Loi:ciot MI!Ml/ler
Questionou e refletiu sobre
arte internacional, o que lhe
tiu reformular, com i'ual ousadta,
outros conceitos e prattcas
na vanguarda do seculo 20, tats co-
mo ready-made, '!'erz-
bau, objeto, happening, anttarte,
eventos, environmen_ts e
outros oriundos da arte construttva,
do Dada, dapop, da body-art.
Sua com o Brasil, com
a arte e a cultura brasileiras, foi
sempre tensa, uma de amor
e 6dio. "Cada centimetro do chao
de Mangueira eu- amo com a mesma
intensidade com que me dedico ao
meu trabalho criador", dizia, mas
se rebelava contra o conformismo, o
oficiaHsmo e a burrice na arte brasi-
leira e dizia que nossa falta de
carater era diarreica: "Para cons-
truir algo e preciso mergulhar na
merda. ''
Sua obra criadora foi a reali-
zac;ao, nos pianos estetico e etico,
do que poderia ser chamado de uma
teo ria de marginalidade. Mas uma
marginalidade radical , e nao apenas
urn alibi para uma anti carreira
apoiada no sistema. Radicalidade
que o levou a considerar a arte como
revolta contra toda forma de opres-
sao, fosse ela intelectual estetica
metafisica e social:
revolta semelhante a do bandido
q_ue rouba e mata, em busca de feli-
mas, tambem, a do revolu-
Clonano politico. Viveu intensamen-
te t<?dos os m_omentos de sua vida,
atraia-lhe o nsco, o perigo. Viveu
em estado de guerra, sempre: "Nao
5
?u pel a paz, acho-a inutil e fria'
disse num dos seus textos. '
Frederico 1\1orais
ASPIRO AO GRANDE
I,ABIRINTO
Helio Oiticica extravasou aquilo que se con-
vencionou cbamar urn artista. A grande parte -de
sua atividade desenvolveu-se nas decadas de 60-70,
e elc soube sempre captar e reciclar os 'sinais vi-
tais' de sua epoca, sem perder uma postura cnttca.
Reformulou conceitos das vanguardas; repensou a
brasilidade nas artes; antecipou o Tropicalismo.
Sua nao se constituia de artigos pa-
ra consumo. A criatividade, a e o rigor
conceitual misturam-se explosivamente em objetos
feitos para serem vividos, recriados continuamente
pelo espectador. Ele mesmo preferia considerar-se
urn "antiartista", urn "propositor de atividades
criadoras". Suas iam dos acontecimentos
anirquicos que promovia as roupas que vestia, do
seu apartamento em Nova Iorque ao morro da
Suas homenagens, de James Joyce ao
bandtdo Cara de Cavalo. Helio nunca dei-
xou ter urn referencial poetico, chegando a
apro:umar-se, de uma linguagem textual. E no seu
_revela-se a mesma inventividade de sua obra
arttsttca.
0801061260
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