Constituir-Se Enquanto Grupo
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Resumo
Este artigo tem por objetivo analisar o processo de constituio de um grupo a partir de dados coletados em pesquisa com uma turma de vinte servidores pblicos, participantes de um programa de formao de gerentes em servio. O fato de estarem reunidos durante duas semanas em um mesmo local favoreceu o estudo das relaes sociais entabuladas naquele contexto, bem como a investigao de seus movimentos. O elemento desencadeador da constituio grupal foi o reconhecimento mtuo dos sujeitos que, por verem-se compartilhando algo significativo, sentiram-se constituintes de um grupo. A partir do encontro promoveram, simultaneamente, continuidade e rupturas com a histria pregressa, construindo assim sua prpria rota, a qual marcada tanto pelas singularidades presentes quanto pela ao coletiva ali engendrada.
Palavras-chave: Constituio grupal, Ao coletiva, Psicologia histrico-cultural
Abstract
Developing oneself as group: people actions in the production of the collective The purpose of this article is to analyse the process of constitution of a group from data collected in a research with a group of 20 public workers, who took part in a program of manager formation at work. Since they were together during two weeks in the same place the constitution of meaningful relations among these people was favoured. The record of these relations was considered relevant material to the investigations of their movements. What sat off the constitution of the group was the mutual recognition of people who felt belonging to a collective because they perceived themselves sharing something which was meaningful to them. From the meeting onwards they promoted simultaneously continuities and ruptures with the past history, developing their own way, which is marked by the present singularities and the collective performance there produced.
Key words: Group process, Collective performance, Historical-cultural psychology
ste artigo tem por objetivo analisar o processo de constituio de um grupo a partir de material coletado em pesquisa com uma turma de vinte servidores pblicos, participantes de um programa de formao de gerentes em servio. O fato de estarem reunidos durante duas semanas em um mesmo local e envolvidos em atividades previamente planejadas favoreceu o estudo das relaes sociais entabuladas naquele contexto, bem como a investigao de seus movimentos. A anlise de relaes sociais, por sua vez, configurou-se como cenrio para investigar a constituio do sujeito, temtica crucial para a cincia psicolgica. A questo da especificidade do ser humano vem desafiando psiclogos que, fundamentando-se em diferentes pressupostos, tm fornecido explicaes que apontam para dire-
es muitas vezes opostas, as quais em geral cindem sujeito e contexto social atribuindo prevalncia ora a um plo, ora a outro. Opondo-se a essa ciso, a psicologia de Vygotski sustenta-se em uma leitura dialtica e de mtua constituio entre sujeito e sociedade, pois, modificando a conhecida 1 tese de Marx , poderamos dizer que a natureza psquica do homem vem a ser o conjunto de relaes sociais transladadas ao interior e convertidas em funes da personalidade e em formas de sua estrutura (Vygotski, 1995, p.151). O psiquismo humano resultado, nesse sentido, da apropriao das significaes de atividades empreendidas por sujeitos especficos em contextos sociais variados, o que demarca a condio inexoravelmente social do ser humano, temtica esta desenvolvida por vrios pesquisadores (Duarte, 2000a;
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Duarte, 2000b; Pino, 2000; Smolka, 2000, entre outros) e ponto de partida das discusses aqui travadas. O conceito de relaes sociais, por sua vez, amplo e fala do encontro/confronto de diferentes sujeitos em espaos sociais distintos, podendo igualmente configurar-se como encontro/confronto com interlocutores annimos na medida em que diz da inevitvel relao que tais sujeitos estabelecem com a cultura humana, com a histria e com os diferentes agentes que os produzem/transformam. possvel considerar como um desses espaos, de inegvel importncia, os grupos psicossociais. Necessrio se faz esclarecer que a anlise do processo grupal constitui-se como singular na trajetria das autoras, a qual marcada por pesquisas que se pautam no referencial histrico-cultural e privilegiam, consoante os aportes vygotskianos (Ges, 2000), a anlise de tramas dialgicas em contextos interpsicolgicos (Zanella, 1997) ou, decorrente destas, o embate entre sujeito e grupo de referncia (Zanella, Balbinot & Pereira, 2000). Contextos interpsicolgicos, no entanto, caracterizam-se tanto por aspectos que dizem respeito aos encontros face a face quanto so atravessados por dimenses histricas, econmicas, polticas e culturais que constituem os sujeitos em relao e so por estes (re)produzidos/transformados. Abarcar essas dimenses caracteriza-se como um desafio para qualquer pesquisador, posto a complexidade de considerar aspectos to variados, o que no constitui objetivo desse estudo. No entanto, a necessidade de ampliar espectros de anlise no que se refere constituio do sujeito serviu de mola propulsora ao estudo dos processos grupais e aproximao s teorias de grupo. Concordando com Rodriguez e Hera (1998) quando afirmam que o estudo dos grupos pela psicologia social pressupe a anlise das relaes sociais que so produzidas nesse contexto, as descries ora realizadas enfocam as idas e vindas das discusses e negociaes entre os participantes de um programa de formao de gerentes em servio, com destaque para os indicativos de constituio do grupo enquanto produo coletiva. As anlises da advindas pretendem contribuir com reflexes sobre contextos grupais, entendidos enquanto locus de constituio de sujeitos em relao.
genealogia do termo, portanto, traz implcita as noes de igualdade e enlace entre os membros. A distino entre grupo e agrupamento, por sua vez, inferida do uso do termo na Renascena quando este era utilizado para denominar um conjunto de esculturas, uma vez que olh-las em grupo conferia um sentido distinto de olh-las uma a uma (Fernndez, 1989). Zimmerman (1997) destaca que o agrupamento caracteriza-se por um conjunto de pessoas que partilha de um mesmo espao e tem interesses comuns, podendo vir a tornar-se um grupo. A passagem de um agrupamento a um grupo propriamente dito resultaria, segundo o autor, da transformao de interesses comuns em interesses em comum; isto , os integrantes de um grupo renem-se em torno de uma tarefa e de um objetivo comum ao interesse de todos. Alm dessa peculiaridade, o autor enumera outras caractersticas de um grupo: forma uma nova entidade, com leis e mecanismos prprios; garante, alm de uma identidade prpria, as identidades especficas; preserva a comunicao; garante espao, tempo e regras que normatizam a atividade proposta; organiza-se em funo de seus membros e esses organizam-se em funo do grupo; apresenta duas foras contraditrias, uma tendente coeso e outra desintegrao; apresenta interao afetiva e distribui posies de modo hierrquico. A questo da realidade dos grupos, por sua vez, pertinente medida que nem todos os autores tm se mostrado unnimes quanto a sua existncia. Rodrguez e Hera (1998) fazem um resgate histrico de trs movimentos que discutem essa temtica. Seguindo o carter temporal, o primeiro movimento defende a noo de grupo enquanto mente, isto , existe uma mente grupal independente, possuidora de caractersticas e leis prprias e que atua sobre os membros que compem o grupo. Esta leitura do grupo supe que o mero fato de estarem reunidos configura um espcie de alma coletiva que induz os sujeitos a sentir, pensar e agir como no fariam em separado. Floyd Allport, em 1924, apresenta uma reao a esta abordagem pois, segundo este autor, falar em mente, conscincia ou alma de grupo era algo sem sentido, uma vez que o grupo era uma fico que pretendia ultrapassar os comportamentos individuais. Nessa perspectiva, nada havia em um grupo que estivesse alm ou acima das aes dos sujeitos. Rodrguez e Hera afirmam que esta abordagem permitiu repensar as mistificaes que eram construdas em torno do grupo, porm propunha uma explicao to reducionista quanto a anterior, s que no sentido contrrio. A sada desse impasse encontrava-se na psicologia dos grupos desenvolvida, na dcada de trinta e quarenta, por autores como Muzafer Sherif, Kurt Lewin e Solomon Asch, os quais afirmavam a existncia dos grupos e assim viabilizavam a investigao dos mesmos. Nesse terceiro
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movimento encontra-se implcito o conceito de interdependncia entre os membros. O grupo passa a ser visto como totalidade possuidora de realidade prpria, produto da interao de suas partes componentes e que no se eqivale soma das mesmas. Ainda que, na referncia citada, a teoria lewiniana seja apresentada como uma soluo entre a idia de uma mente grupal e a reduo do grupo aos comportamentos individuais, Carlos (1998) analisa essa teoria como uma busca da essncia do que seja um grupo e, deste modo, este aparece como um ser que transcende as pessoas que o compem. Esta ltima anlise permite equiparar a teoria de Lewin ao primeiro movimento em defesa da realidade do grupo apresentado por Rodrguez e Hera. Nesse sentido, os estudos sobre pequenos grupos vinculados teoria de Lewin, isto , que trabalham com a definio de grupo em termos de espao e sistemas de fora, pensando a dinmica do grupo a partir da interdependncia em relao aos membros ou a uma tarefa proposta, acabam, segundo Lane (1985), por reproduzir os valores do individualismo e da harmonia. O grupo coeso, estruturado, um grupo ideal, acabado, como se os indivduos envolvidos estacionassem e os processos de interao pudessem se tornar circulares (Lane, 1985, p. 79). Tschiedel (1998), em consonncia, afirma que estas propostas conceituais e prticas produzem demandas que omitem o aparecimento do novo, a existncia de fluxos. Conforme Lane (1985), em um no-grupo as tarefas so sempre individuais e no h aes encadeadas para produo conjunta. O grupo, por sua vez, s existe enquanto tal quando, ao se produzir algo, transformam-se as relaes entre os sujeitos. Desse modo, a autora no identifica a produo grupal, necessariamente, com a tarefa nem com os objetivos do grupo. A produo seria a prpria ao grupal, que se d pela participao de todos, seja em torno de uma tarefa, seja visando um objetivo comum. Seria processo de produo o grupo se organizar, assumir papis, realizar tarefas, em outras palavras, seria se produzir como grupo (...) (Lane, 1985, p. 89). Esta definio de grupo destaca a rede de relaes que os sujeitos produzem no grupo e que os permite se organizarem coletivamente. Por sua vez, a no separao entre individual e coletivo aparece em praticamente toda a reviso terica ora apresentada. Como condio para a existncia de um grupo mister que haja algo compartilhado e que este algo no dizime as necessidades individuais ou descaracterize as singularidades que o constituem. O que est posto nas abordagens pesquisadas, respeitando suas diferenas, que o grupo tanto um espao de conjuno de singularidades, instncia que remete diversidade de sujeitos, quanto do comparti-
lhado, elo de ligao da pluralidade. Esta sntese aparece na definio de Olmsted (1979, citado por Carlos, 1998, p. 201): uma pluralidade de indivduos que esto em contato uns com os outros, que se consideram mutuamente e que esto conscientes que tem algo significativamente importante em comum. Este autor enfatiza tanto a presena de uma comunho no grupo como a pluralidade dos sujeitos que o compem, ou melhor, afirma que sujeitos diferentes encontramse unidos por um interesse que, para existir, no implica a igualdade pressuposta em muitas teorias. Carlos (1998) apresenta tambm o grupo como um lugar onde as pessoas mostram-se como diferentes e a pluralidade expressa no conjunto destes diferentes segue um movimento de discusso de idias no qual h o que seja conciliado e, ao mesmo tempo, o irredutvel. Esses sujeitos, sem perder a sua singularidade, podem juntos constituir um processo grupal. A estas leituras do processo grupal que o apresentam como uma configurao constituda pelos sujeitos sem esquecer das singularidades ali presentes, acresce-se a importncia de olhar o grupo tambm como constituinte dos sujeitos que se encontram em espao de negociao, no se esquecendo de que ali se expressa a sociedade como um todo, com seus valores e crenas, sendo ao mesmo tempo possvel, via relaes sociais, re-significar essas caractersticas2. Esse olhar, que inclui o movimento mutuamente constitutivo entre grupo e sujeitos, amplia o que comumente produzido a este respeito. Como exemplo de investigao nesse sentido apresenta-se Tschiedel (1998), autora que pesquisa sujeitos no processo grupal e entende o grupo como lugar propcio ao acontecimento. Diferentemente das propostas conceituais e prticas que vem o grupo de forma coesa e harmnica, que evitam a existncia do novo, esta perspectiva vale-se do conceito de dispositivo uma leitura que Deleuze faz de Foucault o qual no est circunscrito a uma finalidade. O dispositivo aciona, promove o contato entre diferentes sujeitos, possibilita novos movimentos e experincias a partir do encontro com o outro. Ao promover construes coletivas, o grupo possibilita que os sujeitos se diferenciem diante das novas produes. Nesse sentido, o grupo parte tanto da pluralidade de sujeitos que o compem quanto produz pluralidade, medida que os sujeitos singularizam/subjetivam o que no grupo se desenrola.
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vam problemas gerenciais na instituio, os quais reduziam a eficcia do trabalho realizado. Procurando atender a essas demandas, o programa estimulava uma viso crtica e prospectiva, explorando as possibilidades de mudana na instituio e um compromisso tico dos servidores pblicos. A metodologia de trabalho propunha produes coletivas, o que almejava a integrao dos funcionrios. No perodo de duas semanas - somando oitenta horas os participantes ficaram alojados em um mesmo hotel, o que favoreceu o alcance dos objetivos propostos. Participavam desse programa 160 funcionrios, entre chefes e no chefes, servidores com nvel de escolaridade superior e tcnico. Essas pessoas foram divididas em oito turmas com vinte funcionrios cada, sendo que as atividades desenvolvidas por uma dessas turmas3 foram registradas pela professora/pesquisadora que, naquele contexto, atuava enquanto uma das coordenadoras4. O material para anlise foi coletado da seguinte forma: 1) atravs de gravao em fita cassete de depoimentos dos participantes, decorrentes de atividades em que tanto se apresentavam aos colegas, bem como apresentavam as expectativas em relao ao programa de formao e a colaborao que poderiam dar ao processo; 2) fotografias do grupo e de seus integrantes no decorrer das atividades, as quais possibilitam visualizar os diferentes sub-grupos e as suas produes; 3) imagens em vdeo de uma atividade em especfico, na qual os sujeitos se organizaram para a realizao de uma tarefa que tinha por objetivo retratar a realidade institucional. Necessrio se faz esclarecer que a atividade foi desenvolvida sem a interveno da coordenadora que atuava naquela semana, constituindo-se assim em material significativo para a anlise das relaes entre os participantes que ali aconteciam e suas caractersticas; 4) produes escritas, decorrentes das atividades propostas; 5) anotaes feitas pelo monitor da turma, as quais revelam falas dos sujeitos originadas em situaes a eles propostas; e 6) avaliao escrita feita pelos sujeitos, na qual refletem sobre o programa de uma forma geral, as atuaes da coordenadora da primeira semana e do monitor da turma bem como sobre a prpria participao no processo. Tendo reunido todo o material coletado ao longo das 80 horas do programa de formao elaborou-se, em um primeiro momento, uma detalhada descrio do que aconteceu em ordem cronolgica: as fitas-cassetes com depoimentos e a fita de vdeo foram transcritas; as anotaes feitas pela pesquisadora e pelo monitor da turma e o material produzido pelos sujeitos textos, grficos, avaliaes foram todos descritos, reunidos e organizados conforme a ordem dos acontecimentos narrados; tambm as fotos foram agrupadas conforme os acontecimentos que retratavam. Alm do registro dos acontecimentos, foram anexados os materiais utilizados pelas coordenadoras, tais como textos, artigos de
peridicos, transparncias, recursos grficos, fotos e letras de msica. Esse procedimento resultou em um relatrio de quatro volumes, o qual foi o ponto de partida para as leituras que resultaram na anlise aqui apresentada. Cabe acrescentar que, alm desta pesquisa, o material descrito possibilitou o desenvolvimento de outra investigao, qual seja, a anlise do processo de constituio dos sujeitos naquele contexto em especfico. No que concerne pesquisa ora apresentada, foi feita uma leitura do relatrio descritivo a partir de categorias 5 temticas, elaboradas a posteriori , que se referem a diferentes movimentos: 1) Dos sujeitos aos colegas, no qual so apresentadas informaes sobre a forma como os sujeitos se apresentaram aos demais e se dispunham a interagir; 2) Dos sujeitos entre si, categoria que compreende os momentos de produo coletiva, debates, questionamentos e estabelecimento de relaes; 3) Dos sujeitos enquanto grupo, categoria em que se inserem as iniciativas individuais que falavam das relaes estabelecidas no grupo, dos objetivos deste, suas regras implcitas, enfim, destacaram-se os momentos em que os sujeitos reconheciam-se enquanto grupo e dirigiam suas falas e aes neste sentido. As categorias acima citadas so bastante prximas posto que dizem respeito a um mesmo processo do qual todos fizeram parte/participaram. A distino entre estas, porm, estabelecida para fins de anlise e expressam movimentos que partem do indivduo para outros indivduos at chegarem a relaes em que os sujeitos se reconhecem enquanto parte e participantes de um coletivo, sendo suas falas expresso do grupo e, ao mesmo tempo, seu fundamento.
Disposio ao encontro
Nas apresentaes individuais, realizadas no primeiro dia, as informaes que os sujeitos expuseram aos demais
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estavam ligadas predominantemente a caractersticas pessoais, ficando em segundo plano as questes profissionais ou institucionais. Ainda que o programa em que estavam envolvidos fosse, de certa maneira, extenso de seu trabalho, os sujeitos enfatizaram aspectos de sua vida privada, o que j de incio favoreceu um clima de informalidade. O contedo das apresentaes dizia da disponibilidade dos sujeitos em mostrar aos colegas algo alm de sua identidade profissional. A atividade seguinte consistia na adjetivao, pelos colegas, dos subgrupos formados a partir de categorias enunciadas pela coordenadora, sendo que tambm nesse momento o clima de informalidade e descontrao caracterizou as relaes ali estabelecidas. As categorias propostas para os agrupamentos foram, cada uma a seu tempo: regio de atuao, condio de contratao - nvel de escolaridade tcnico ou superior, rgo em que trabalhavam, tempo de servio, sexo e estado civil. Os adjetivos atribudos a cada agrupamento destacavam, na maior parte das vezes, aspectos positivos e negativos presentes em cada condio. A anlise desta atividade permitiu observar que, quando a categoria para formao de agrupamentos relacionavase instituio em que trabalhavam, os adjetivos marcavam as relaes de poder presentes em vrias dimenses, o status em exercer certos cargos, a qualidade e quantidade de trabalho realizado e o conhecimento acumulado nas respectivas condies de emprego. Essas adjetivaes, porm, eram carregadas de bom humor. Uma peculiaridade apareceu quando a turma foi dividida em dois subgrupos a partir da condio de ingresso na instituio: os tcnicos, representados por trs mulheres, e aqueles aprovados em concurso para pessoas de nvel de escolaridade superior. Na adjetivao dos concursados de nvel tcnico ficou evidente a omisso do outro subgrupo, pois no atriburam adjetivos que se relacionavam com a condio institucional daquelas funcionrias. Por outro lado, as funcionrias de nvel tcnico, ao adjetivarem seus colegas ingressos em concurso para profissionais com nvel de escolaridade superior, demarcaram no s a sua funo na instituio mas o status que tal posio lhes confere. Assim, apenas aqueles que estavam desfavorecidos na escala hierrquica manifestaram a valorizao, pela instituio, dessa diferena. Constatou-se que, se por um lado os participantes criavam um clima de descontrao e de liberdade ao fazerem brincadeiras, ao mesmo tempo cuidavam para no trazer polmica s situaes. Desse modo, embora as contradies e conflitos caractersticos das relaes de trabalho estivessem todo o tempo presentes, havia um movimento, no sendo possvel precisar se intencional, de no explicit-los, recurso que pode ser entendido como propcio naquele momento ao estabelecimento de relaes que permitissem, pos-
teriormente, lidar com os mesmos sem que a possibilidade de novos encontros fosse ameaada. Em suma, nessas atividades e em vrias outras havia um ambiente cordial no qual as pessoas disponibilizaram-se para o encontro com o outro, fato este que foi entendido como um importante indicador de predisposio formao de um grupo. Essa condio, no entanto, no excluiu as divergncias e as denncias realizadas entre as brincadeiras, por mais que tenham aparecido de forma velada.
Anuncia-se o grupo
As pessoas que compunham a turma em anlise constituram relaes que possibilitavam a formao do grupo, entretanto, tal disponibilidade, embora abrisse precedentes, no poderia garantir isso. O grupo comea a anunciar-se de fato quando aparecem mobilizaes coletivas, ou ento, quando participantes assumem lugares que visavam a representao de todos. Um dos momentos que exemplifica o movimento de formao do grupo aconteceu no segundo dia de encontro, quando uma das participantes questionou se todos deveriam sentar no mesmo lugar do dia anterior. A coordenadora explica que no existe essa necessidade. A partir dessa abertura a participante em questo sugere que sejam trocadas as tarjetas, as quais haviam sido afixadas pelos prprios participantes, nas mesas que iriam ocupar, com informaes referentes ao local de trabalho. Essa troca de tarjetas aconteceu em todos os dias que se seguiram naquela semana, sendo que a cada dia um dos integrantes da turma a efetuava antes da chegada dos colegas. Essa mudana surpreendeu a quem chegava, porm estes a aceitaram aparentemente sem problemas. A proposta em questo e o fato da coordenadora ceder seu lugar institucionalizado, ainda que brevemente, fez com que alguns participantes assumissem a coordenao por alguns instantes e possibilitou a todos perceberemse como exercendo um papel ativo na forma como o programa seria conduzido, acontecimento este que firma a importncia em considerar a coordenao como um dos aspectos constitutivos do processo grupal. Nessa situao o grupo fez-se pela voz e a ao de sujeitos que, alm de terem apresentado aos colegas a possibilidade de insero ativa no programa, possibilitou que cada um tivesse contato com os demais, pois diariamente estavam ao lado de participantes diferentes fato entendido como propcio formao de um grupo e oposto cristalizao de subgrupos. A iniciativa da participante, portanto, ao viabilizar encontros variados, constituiu-se como um anncio da transformao daqueles sujeitos isolados em um grupo. No terceiro dia de encontro houve um outro momento em que o interesse coletivo apareceu, atravs da voz de um sujeito: uma participante solicitou que a coordenadora ce-
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desse tempo para que eles pudessem se preparar para a apresentao teatral que teriam de fazer no perodo vespertino do mesmo dia. A coordenadora cedeu o espao e os participantes organizaram-se em funo da tarefa. Naquela circunstncia havia uma tarefa esperada, mas o espao para executla foi solicitado por uma participante em nome do interesse comum. O fato de terem ficado at meia hora aps o tempo limite da manh discutindo sobre o que fariam, mostrou a disposio dos sujeitos em cumprir os objetivos propostos.
sentao nova coordenadora, em que cada participante apresentava um dos colegas, destacaram-se as experincias vivenciadas no grupo como caractersticas definidoras daqueles sujeitos. Desse modo, o envolvimento com os colegas, pela via das atividades do programa de formao e encontros informais ao longo desse perodo, fez com que a maior parte dos sujeitos ficasse conhecida no pela posio que ocupava na instituio, nem por qualquer outra caracterstica profissional ou pessoal anterior ao grupo. Os sujeitos foram apresentados pelos colegas a partir dos relacionamentos ali estabelecidos, os lugares assumidos nas atividades, as caricaturas realizadas, enfim, a forma como cada um apresentou-se ao grupo e ali atuou. possvel afirmar, com isso, que cada sujeito era significado pelos demais a partir das relaes intragrupais. O grupo, nesse sentido, passou a ser ponto de referncia, o que tambm apareceu na anlise da formao de relacionamentos preferenciais. Resgatando todos os subgrupos de trabalho que se formaram do sexto ao nono dia, os quais foram constitudos de forma aleatria, foi possvel verificar a freqncia com que cada sujeito realizou tarefas com os outros e, conseqentemente, o total de colegas com que cada um deles trabalhou neste perodo. Duplas e trios foram identificados, bem como sujeitos que nunca trabalharam juntos. A anlise desses subgrupos possibilitou verificar que, ainda que existisse uma perspectiva coletiva, alguns integrantes apresentavam preferncias no momento de escolher com quem realizar as tarefas. No entanto, essas dades ou trios no descaracterizaram o que at ento tinham produzido de modo grupal, pelo contrrio, o grupo continuava a despeito, ou por intermdio, destas relaes6. Por outro lado, a existncia das duas duplas e do trio so indicativos positivos das relaes que ali estabeleceram, seja no contexto dos encontros formais ou informais facilitados pelo perodo de duas semanas que estiveram hospedados no mesmo local. H outros momentos em que o grupo aparece enquanto tal. Um deles quando os participantes falam a partir dos objetivos da grupalidade ou em seu nome. Uma destas falas individuais que reflete a grupalidade enunciada no stimo dia de encontro, quando a coordenadora organizacional apresentou questes especficas desta rea e um dos integrantes discordou de sua afirmao. Outros participantes complementaram a idia do colega destacando que o programa do qual estavam participando os levava a refletir e possibilitava mudanas. Nesse momento, os sujeitos falaram por si mas tambm pelos colegas, foram porta-vozes do grupo, de suas transformaes, necessidades e ansiedades, o que aconteceu tambm em outras ocasies. necessrio destacar, por sua vez, que esses sujeitos que passaram a constituir um grupo depararam-se com vrias situaes que poderiam ter levado a fazer justamente o
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movimento contrrio ao que realizaram. Um destes obstculos foi a mudana de coordenador, j que esse entendido como um importante elemento a ser considerado no processo de constituio de um grupo. Na primeira semana a coordenadora cedia espao para o grupo cada vez que este o solicitava; ao mesmo tempo, suas atividades, ainda que muitas vezes realizadas em subgrupos, privilegiavam momentos coletivos onde todos estariam juntos discutindo a temtica do dia. Na segunda semana, com a troca de coordenador, algumas formas de trabalho e espaos que o grupo havia conquistado tiveram de ser renegociados. A nova coordenao no garantia que todos tivessem um espao para se manifestarem no grupo, pois privilegiava os contedos a serem veiculados e no as relaes que os sujeitos estabeleciam. Apesar disso, ou mesmo fortalecido por essa situao, o grupo reivindicou alguns espaos e se produziu enquanto coletivo. A grupalidade apareceu, tambm, em momentos nos quais os sujeitos construram uma proposta coletiva sem que houvesse uma tarefa a ser executada. Uma das discusses que emergiu no grupo foi sobre o que era o Estado brasileiro. Nesta, os sujeitos procuraram expor suas opinies para que se chegasse a um assero coletiva, produzida a partir das idias e contraposies que foram apresentadas. Um dos participantes da discusso fez uma sntese do que estava acontecendo: o que vimos aqui o diagnstico de um grupo que se sente mutilado. Este sujeito elucida importante fator de unio entre eles, qual seja, os problemas pelos quais vm passando enquanto servidores pblicos em um contexto que prope a diminuio do Estado e, em decorrncia, o descrdito dos servios por este prestado.
es que configuram a situao anterior reunio dos participantes, pois se esta unidade anterior ao encontro dos sujeitos parece disparar seu movimento, ao mesmo tempo, o grupo que se forma busca a singularizao e nega que suas relaes se restrinjam dimenso profissional, ganhando destaque as relaes ali entabuladas com seus matizes singulares. O processo de produo grupal ora apresentado caracterizou-se por rupturas e continuidades em relao s condies anteriores ao encontro dos sujeitos, as quais foram significadas bem como singularizadas pelo encontro/ confronto entre estes. A forma que aqueles participantes encontraram ou escolheram para comear a se relacionar marcada pela primazia da informalidade e do cmico. No entanto, se a preservao de uma relao amistosa promoveu o encontro, ao mesmo tempo foram criadas, em seu nome, regras implcitas para a sua manuteno. Tais regras propunham, no incio do programa, a omisso dos conflitos entre os sujeitos postos nas condies de trabalho institucional. H indcios de um cuidado em no levantar polmicas para que o clima j estabelecido no se perdesse e, consequentemente, para que a produo grupal e o carter ntimo das relaes que se estabeleceram no fosse rompido. Estas caractersticas iniciais do grupo, a eminncia do humor e a omisso dos conflitos, no permaneceram constantes, pois medida que estabeleceram um lugar comum e que se sentiram um grupo, o humor passa a ser apenas mais uma das caractersticas de suas relaes, enquanto os debates acerca do contedo programtico e as preocupaes com a instituio emergiram, ao longo dos encontros, com maior mpeto. Uma outra caracterstica destes sujeitos que j no primeiro encontro participaram ativamente do desenrolar do programa. Faziam intervenes que redirecionavam as propostas da coordenadora e apresentavam sugestes inusitadas. Esse agir foi possibilitado, inicialmente, pelas atividades propostas e pela coordenadora da primeira semana que, consoante a proposta do programa de formao, favorecia momentos coletivos bem como garantia a contribuio de todos ao grupo. A coordenao da segunda semana de programao, no entanto, imprimiu mudanas nessas relaes, uma vez que estava mais atenta ao contedo programtico do que s necessidades do grupo. Em conseqncia, o grupo apresentou resistncias ao relacionamento com a mesma, situao esta que estreitou, de certa forma, a unio dos participantes em torno de um problema em comum, o que pode ter tambm contribudo para que se firmassem enquanto grupo.
Consideraes Finais
No grupo em questo, a partir do momento em que os sujeitos se reuniram para realizar a formao profissional, produziram falas, aes, textos, brincadeiras e conhecimen-
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tos de modo coletivo, sendo que por coletivo entende-se as produes que emergem das relaes estabelecidas no grupo, que elucidam o desejo deste e que se realizam por este meio. Nesse sentido, a produo de um coletivo se faz medida em que todos interagem e negociam visando o interesse em comum, sendo este definido/acordado pelos prprios sujeitos que, por sua vez, no se eclipsam: o coletivo produzido concomitantemente pelas singularidades que o produzem. As experincias vividas so apropriadas de forma singular por cada sujeito e retornam realidade via diferentes atividades, pela forma como se posicionam, expressam, silenciam, enfim, pela maneira como registram sua presena naquele contexto. Este embate entre o que os sujeitos levam para o grupo, a forma como as pessoas se apropriam desse material e como este retorna ao grupo, explica a constituio social das falas individuais, o que no basta, porm, para explicar as produes coletivas. Tendo como premissa as pontuaes anteriores a fala de todos e de cada um marcada pelo contexto em que se inserem medida que provm deste o material para suas construes e para este destina suas enunciaes compreende-se as produes coletivas como aquelas em que o tema da interlocuo o coletivo. Ou seja, o que est em pauta a prpria existncia do grupo e, nesse sentido, as aes coletivas tm um carter reflexivo. Inmeras so as aes grupais que indicam a formao de um coletivo neste grupo: as enunciaes feitas por sujeitos que assumem o lugar de porta-voz do grupo; as mudanas na organizao dos encontros sugeridas pelos sujeitos e realizadas pelos mesmos; a produo de novas formas de interlocuo e discusses no planejadas pelas coordenadoras e o clima criado no grupo. A ao grupal , ento, o que caracteriza a constituio do grupo. Poder-se-ia questionar o que desencadeou tais aes grupais naquele contexto especfico. Nesse momento, retornase s primeiras consideraes sobre a forma deste grupo, qual seja, o fato de compartilhar algo significativo no qual o reconhecimento de si no outro possibilitou que os sujeitos se sentissem constituintes/constitudos por um grupo. Outra questo a ressaltar que, conforme os encontros foram transcorrendo, transformaes foram se imprimindo nos relacionamentos. Essas, inicialmente, eram pautadas pela cordialidade e pelo humor, porm muitas outras relaes se desenvolveram: desacordos nas decises, denncias de omisso, apoio no outro que explicita seus anseios, unio para fortalecer-se e opor-se coordenao, silncio frente s discordncias, relacionamentos preferenciais, entre outros. Enfim, as relaes no se apresentaram apenas como coesas e harmnicas: nuanas de conflitos e omisses coexistiram com denncias e desabafos. O humor com o siln-
cio; o apoio com a disputa; os relacionamentos dos sujeitos assumiam mltiplas formas, razo pela qual no h como dizer que para a existncia do grupo preciso que se estabeleam tais ou quais relaes. A nica afirmao possvel que estas relaes assumem uma diversidade de formas e que a existncia do grupo se faz mediante a aproximao dos sujeitos por meio de uma considerao mtua que tem como resultado a ao grupal. Em suma, a partir do estudo realizado, o critrio mais significativo para definio do que seja um grupo, certamente, a ao coletiva, entendida como ao que desencadeada por uma considerao mtua, realiza-se com o envolvimento de todos e tem como resultado o coletivo. A ao coletiva pode resultar em um produto concreto, porm este por si s no definidor e nem garantia da constituio do grupo: necessrio destacar o processo em que este produto se originou e como os sujeitos em relao o significaram, como significaram aos outros e a si mesmos nesse percurso. Segundo este critrio, no h um momento em que o grupo esteja garantido, pois sua existncia depende da ao deliberada de seus participantes e este agir coletivo gerador de novas necessidades que realimentam, por sua vez, as relaes entre os sujeitos e seus interesses em trabalhar coletivamente. O processo de constituio grupal interpelado por momentos de produes individuais e em subgrupos, porm, caracteriza-se primordialmente pelo desenvolvimento de aes coletivas. Desse modo, o grupo no entendido como uma entidade prpria que se sustenta a despeito dos sujeitos e seu percurso no previsvel como sugerem as teorias de coeso. O grupo aqui entendido como uma forma de relacionar-se na qual destaca-se um sentido compartilhado que no prev o que dali surgir, mas que tem como caracterstica necessria o engajamento de todos, sendo que este no necessariamente significa concordncia. Este conceito de grupo centra-se nas relaes que os sujeitos estabelecem e, para que estas no esmoream ou se desfaam, preciso que os sujeitos estejam de fato engajados na construo de tais relaes. No grupo em questo foi possvel visualizar esse movimento medida que os sujeitos se apoiaram na histria que os reuniu e, a partir da, produziram sua prpria rota, marcada pelas singularidades dos que ali se encontravam. A perspectiva do coletivo foi, para esses sujeitos, marcada pela acolhida das diversidades, o que possibilitou significarem aos outros e a si mesmos a partir dos encontros ali engendrados.
Referncias
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Notas
Vygotski (1995) faz referncia Tese VI sobre Feuerbach: ...a essncia humana no uma abstrao inerente ao sujeito singular. Em sua realidade, o conjunto das relaes sociais (Marx & Engels, 1982, p. 2). 2 Embora cientes da complexidade das questes apontadas e da dificuldade de contempl-las em investigaes cientficas, as pesquisadoras tm tentado se aproximar do fenmeno em questo atravs de diferentes faces. Zanella e Abella (2000) tm pesquisado, neste mesmo contexto do programa de formao de gerentes em servio, as relaes entre o movimento de constituio dos sujeitos e o processo de constituio grupal. J no que concerne ao atravessamento do grupo pela sociedade, Zanella e Pereira (2001) dedicam-se, no momento, investigao do lugar social de coordenadora de grupo/consultora e, para tanto, fazem uma anlise que, alm de considerar o que os sujeitos ali presentes trazem para o grupo e a partir dele significam, resgata as significaes sociais que constituem este lugar simblico de consultora/professora. 3 Atravs de uma atividade que agrupava os sujeitos em funo de categorias previamente delimitadas, foi possvel delinear o retrato dos participantes: a turma era formada majoritariamente por homens (65%), casados (80%), ingressos na instituio a partir de concurso para pessoas com nvel de escolaridade superior (80%), no ocupantes de cargos de chefia (75%), com um tempo de servio entre 0 e 7 anos (40%) ou acima de 15 anos (45%), oriundos de diferentes estados brasileiros e com formao em diversas reas do conhecimento.
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O desenvolvimento das atividades no programa de formao de gerentes em servio ficou sob responsabilidade de duas coordenadoras que atuaram de maneira diversificada: uma ficou responsvel pelas atividades na primeira semana e acompanhou a turma no decorrer de toda a segunda semana, ocasio em que os trabalhos ficaram sob responsabilidade, de segunda a quinta-feira, de outra coordenadora. Se primeira couberam contedos mais gerais e questes relacionadas ao grupo em si, segunda couberam os contedos referentes aos diferentes tipos de gesto administrativa e outros correlatos. 5 Aps a leitura de todo o relatrio descritivo foram elaboradas as categorias temticas de anlise, sendo tal forma de categorizao denominada por Franco de categorias no-apriorsticas. Nestas As categorias so criadas medida que surgem nas respostas, para depois serem interpretadas luz das teorias explicativas (Franco, 1996, p. 176). 6 Com exceo de uma dupla, os relacionamentos preferenciais no se realizaram entre pessoas que se conheciam antes da realizao do programa. Escolheram colegas que conheceram naquele contexto e preteriram, ao mesmo tempo, aqueles que conheciam anteriormente.
Andra Vieira Zanella, doutora em Psicologia da Educao pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Renata Susan Pereira bolsista de Iniciao Cientfica (Programa PIBIC/CNPq - BIP/UFSC) e estudante do curso de graduao em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Endereo para correspondncia: UFSC - CFH - Departamento de Psicologia, Campus Trindade, CEP 88010-970, Florianpolis, SC. Fone/Fax (48) 331-9984. E-mail: azanella@cfh.ufsc.br.
Recebido em 08.11.00 Revisado em 26.04.01 Aceito em 08.05.01