Giddens X-Bourdier2
Giddens X-Bourdier2
Giddens X-Bourdier2
RESUMO
O artigo apresenta uma reflexão acerca das semelhanças e diferenças existentes entre as
teorias de dois grandes sociólogos, Pierre Bourdieu e Anthony Giddens. Para concretizar
tal finalidade, nos dedicamos à compreensão de dois conceitos por eles construídos,
habitus (Bourdieu) e ação reflexiva (Giddens). Essas teorias assemelham-se quando cada
um desses autores, partindo de suas compreensões sociológicas, elaboram pressupostos
que buscam romper com a dicotomia subjetivismo-objetivismo que durante um longo
tempo embasaram a compreensão e o estudo da Sociologia. Tanto Bourdieu quanto
Giddens atribuem uma grande importância à ação dos agentes na continuidade ou
transformação das estruturas, porém eles estabelecem uma compreensão diferenciada
quanto às condições de concretização dessas ações dentro da estrutura social. O que
pudemos apreender é que Giddens dá mais importância às ações dos agentes e suas
influências sobre a estrutura; Bourdieu, por sua vez, dá mais ênfase em como a estrutura
é internalizada em forma de habitus por esses agentes.
ABSTRACT
The article presents a discussion about the similarities and differences between the two
great theories of sociologists, Pierre Bourdieu and Anthony Giddens. To achieve this
purpose, dedicate ourselves to understanding the two concepts they constructed, habitus
(Bourdieu) and reflexive action (Giddens). These theories are similar when each of these
authors, from their sociological understandings, develop assumptions that seek to break
the subjectivism-objectivism dichotomy which for a long time based understanding and
study of sociology. Both Bourdieu as Giddens attach great importance to the action of
agents in the continuity or transformation of structures, but they provide a different
understanding as to the conditions of implementation of these actions within the social
structure. What we learn is that He gives more weight to the actions of agents and their
influence on the structure, Bourdieu, in turn, gives more emphasis on how the structure is
internalized in the form of habitus by these agents.
1
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3634942982458597. E-mail: grasielaoss@hotmail.com
61 Recebido em 20/06/2009; Aprovado em 29/07/2009.
SILVA, G. O. S.
INTRODUÇÃO
Este artigo torna-se de grande relevância à medida que propõe apresentar uma
exegese da vida social estabelecida por Bourdieu e Giddens, voltando o olhar para a
forma como cada um deles analisa a relação entre indivíduos e sociedade. A ruptura da
dicotomia subjetivismo/objetivismo fundamentada nas suas teorias busca mostrar a ação
social em constante processo de estruturação e reestruturação. O indivíduo existe e não é
apenas reflexo das estruturas, ele também as reproduz a partir das suas experiências.
Percorrer tal caminho nos situará na discussão proposta em suas obras de superar as
distorções e reducionismos associados ao subjetivismo e objetivismo.
REVISÃO TEÓRICA
Posto isto, evidencia-se que Bourdieu buscava romper com a dicotomia entre o
subjetivismo (compreensão da ordem social a partir da ação humana) e o objetivismo (a
ordem social é vista como uma realidade externa e independente da ação humana); já
que a edificação de um em detrimento do outro estaria conduzindo para uma
interpretação equivocada da realidade social.
Vale ressaltar que o conceito de habitus não é novo, ele já havia sido utilizado
anteriormente por muitos outros pensadores como Hegel, Husserl, Weber, Durkheim e
Mauss. Entretanto, Bourdieu afirma que todos eles refletiram sobre tal conceito de forma
semelhante ao estabelecerem uma mesma intenção teórica:
[...] quer se trate de romper como em Hegel, que emprega também, com a mesma
função, noções como hexis, ethos, etc., com o dualismo kantiano e reintroduzir as
disposições permanentes que são constitutivas da moral realizada(Sittlichkeit) [...]
ou que, como em Husserl, a noção de habitus e diversos conceitos vizinhos, como
Habitualität, marquem a tentativa de sair da filosofia da consciência, ou ainda que,
como em Mauss, se trate de explicar o funcionamento sistemático do corpo
socializado (BOURDIEU, 2004, p. 25).
Ele compreende que o espaço social organiza-se de acordo com três dimensões:
os agentes se distribuem no espaço social de acordo com o seu volume global de capital
possuído; de acordo com o peso que o capital econômico e cultural adquire no conjunto
do seu patrimônio; e por fim, de acordo com a evolução no tempo, do volume e da
estrutura de seu capital (BOURDIEU, 1997).
Esse campo seria espaços sociais onde as atividades humanas acontecem tendo
como fator determinante o seu capital acumulado, onde estão incluídos os capitais
simbólico, cultural, econômico e social. Cada campo pode ser caracterizado como um
local de disputa onde estão presentes a classificação e a hierarquização dos indivíduos,
oriundos de uma divisão desigual de poder.
que as camadas menos favorecidas (os agentes dominados) introduzam em suas mentes
estruturas sociais objetivamente (BOURDIEU, 1997)
Através do habitus o sujeito incorpora valores que o faz pertencer a uma específica
classe social e ocupar uma determinada posição dentro da estrutura social, ou seja, os
indivíduos agem como integrantes de uma classe muitas vezes sem ter consciência que a
sua atitude traz traços da sua posição social. Todavia, esse espaço social é dinâmico à
medida que os agentes sociais estariam em constante disputa, buscando manter ou
elevar a sua posição na hierarquia social.
direta com a natureza através da agricultura, o seu tempo era cíclico porque se baseava
nas estações do ano e a idéia de espaço era fixa. Logo, fica evidente que o homem
tradicional encontrava-se encaixado em comunidades locais.
Vale ressaltar que a religião também dispunha de certa autoridade nas sociedades
tradicionais. Embora nelas também existissem os céticos, os magos e os feiticeiros que
divergiam da ordem ortodoxa, a autoridade do sistema religioso prevalecia dentre os
demais. As autoridades religiosas cultivavam nos homens a sensação de estarem
cercados de ameaça e perigo e de serem vistas como as únicas capazes de controlar
essas ameaças. “A força das formas pré-modernas de autoridade quase poderia ser
entendida como uma reação à imprevisibilidade da vida diária e ao número de influências
percebidas como fora do controle dos homens” (GIDDENS, 2002, p.180).
passam a fazer parte do cenário das sociedades contemporâneas são produtos da ação
do homem sobre a natureza e os modos sociais, assim, os riscos são criados pela
própria intervenção humana no mundo em que vive.
Não foi somente a natureza que sofreu a influência da ação dos homens, o corpo e
os processos fisiológicos também. Um exemplo citado por Giddens (1997) são as
mudanças no processo reprodutivo, já que com a modernidade vieram os métodos de
contracepção, a fertilização in vitro e o transplante de embriões; todas essas modificações
possibilitam uma mistura dos efeitos de destradicionalização (reorganização da cultura) e
da tecnologia.
Assim, cabe aos sistemas abstratos nutrir essa segurança cotidiana, uma
segurança no sentido da existência, de previsibilidade, de confiança no sentido de
reciprocidade e de garantia das relações sociais.
A relação pura é uma ambiente-chave para construir o projeto reflexivo do eu, pois
tanto permite quanto requer a auto-compreensão organizada e contínua – o meio
de assegurar um laço duradouro com o outro (GIDDENS, 2002, p. 172).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Giddens propõe uma integração entre ação e estrutura através do que ele
denominou de estruturação, no sentido de que nenhum deles adquire primazia sobre o
outro; a estrutura deve ser pensada em termos de recursividade social, ou seja, ela está
vinculada à ação dos indivíduos. Para ele, “[...] o momento da produção da ação é
também um momento de reprodução nos contextos do desempenho cotidiano da vida
social [...]” (GIDDENS, 2003, p. 31). Sendo assim, percebe-se que ação e estrutura
mutuamente se influenciam, pois é na conduta cotidiana dos indivíduos que a sociedade é
moldada e transformada.
Portanto, o que se apreende é que as estruturas não devem ser vistas como algo
exterior ao sujeito, mas sim como subjacente a ele. Giddens e Bourdieu ao analisar a
relação entre indivíduo e sociedade atribuem uma grande importância à ação dos agentes
na continuidade ou transformação das estruturas; compreendendo a sua capacidade
reflexiva na busca pela aquisição da liberdade, mesmo tendo a sua vida inteiramente
influenciada pela existência de normas.
Assim, fica evidente que em Giddens o indivíduo é visto como um agente capaz de
desenvolver uma atividade de forma intencional, isto é, sua ação é praticada de forma
compreensiva, ele sabe o que faz e as razões por que a faz. Os indivíduos ao nascerem
encontram-se inseridos num contexto de estruturas, mas através da sua capacidade
compreensiva, ou seja, da aquisição de sua ação reflexiva, eles desenvolvem a
capacidade de transformar essas estruturas e à medida que essa modificação vai
ocorrendo eles também se modificam.
Cada grupo, de acordo com a posição que ocupa na estrutura social oriunda do
seu capital acumulado, é capaz de elaborar estratégias de ação que considere mais
rentáveis e seguras. Essa consciência acerca das melhores estratégias seria herdada do
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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