Escrita Criativa - Parte 01

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 34

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Dl Nizo, Renata Escrita criativa: o prazer

da linguagem / Renata Di Nizo. So Paulo: Summus, 2008. Bibliografia. ISBN 978-85-323-0526-8 1. Arte de escrever 2. Criatividade I. Titulo.

08-09363 ndice para catlogo sistemtico:

CDD-80.0469

1. Arte de escrever Portugus: Tcnica e redao

808.0469

Xscrita L< n a t i v a
/ O prazer da linguagem

Renata Di Nizo

Compre em lugar de fotocopiar. Cada real que voc d por um livro recompensa seus autores e 05 convida a produzir mais sobre o tema; incentiva seus editores a encomendar, traduzir e publicar outras obras sobre o assunto; e paga aos livreiros por estocar e levar at voc livros para a sua informao e o seu entretenimento. Cada real que voc d pela fotocpia no autorizada de um livro financia o crime e ajuda a matar a produo intelectual de seu pas.

summus editorial

Sumrio

Introduo

13

o s C A M I N H O S DA ESCRITA H o r a de acabar c o m o pesadelo Desfeito o quiproqu O n d e m o r a a criatividade A motivao de a p r e n d e r O gosto pelas palavras O h b i t o da pesquisa ajuda. E m u i t o A l e i t u r a a b s o l u t a m e n t e essencial A s janelas da p e r c e p o O c a m i n h o da inspirao O p u l o do gato 27 29 3 0 33 3^ 38 4 4 49 5^ 5^

II ETAPAS DA ESCRITA W o r k s h o p Escrita Criativa A autodisciplina C o n h e c e r - s e p a r a estabelecer u m m t o d o . . . . A diviso e a c o m p l e m e n t a r i d a d e c e r e b r a l . . . . Uma h o r a p a r a cada coisa 63 64

EXERCCIO 4

S e q u n c i a de exerccios p a r a s e n s i b i l i z a r os s e n t i d o s I15

EXERCCIOS

C o n t a n d o u m a histria c o m base e m o b j e t o s Il6 116


116 117

66 7^ 7^ 79 81 88 8 9 9^ 98 lOO I02

EXERCCIO
EXERCCIO 7 EXERCCIOS

Q u a r t o de infncia
Poro A p r i m e i r a vez

P r i m e i r a etapa da escrita: c r i a o Segunda etapa da escrita: edio Na fico e na poesia Correio eletrnico O dilogo do e-mail tica e etiqueta c a m i n h a m j u n t a s Valores da c o m u n i c a o Reflexo

EXERCCIO?

Diante de u m a i m a g e m , uma histria 117 I18 II8 I18 II9 I20 120 . . . . 121 121 122

E X E R C C I O 10 H i s t r i a s o n o r i z a d a EXERCCIO II E X E R C C I O 12 E X E R C C I O 13 As palavras adocicadas O b i n m i o fantstico T r a n s f o r m a n d o objetos

E X E R C C I O 14 A j u n o d e d o i s a n i m a i s E X E R C C I O 15 A s h i p t e s e s f a n t s t i c a s E X E R C C I O 16 O b j e t o s p e r d i d o s d a i n f n c i a

III T C N I C A S DE Foi dada a largada EXERCCIO I B u s c a n d o palavras p a r a nossas h i s t r i a s


EXERCCIO 2 De uma palavra

E X E R C C I O 17 A l g i c a f a n t s t i c a E X E R C C I O 18 A v i d a d o s p r o v r b i o s 109 E X E R C C I O 19 T c n i c a d a i m a g i n a o a t i v a : j a r d i m da c r i a t i v i d a d e II3 EXERCCIO20 EXERCCIO21 II3 II3 E X E R C C I O 22 E x p l o r a n d o a s i n t a x e E x p l o r a n d o o erro criativo Explorando o prefixo arbitrrio. .

CRIATIVIDADE

122 123 . 124 124

nasce u m a h i s t r i a EXERCCIOS Mapa mental

E X E R C C I O 23 M i n h a s m e m r i a s E X E R C C I O 24 O d i l o g o c o m o c r t i c o i n t e r n o .

Referncias bibliogrficas

Introduo

N
do.

^A V I R A D A D O SCULO X X , a v e l h a m q u i n a d e

es-

c r e v e r e as c a r t a s m a n u s c r i t a s j h a v i a m c a d u c a -

Nossos hbitos f o r a m lenta e f i r m e m e n t e trans-

f o r m a d o s p e l o r i t m o das i n v e n e s t e c n o l g i c a s . G r a a s aos a v a n o s d a i n t e r n e t , s o m o s o b r i g a d o s a a d m i t i r a r e l a o c a d a vez m a i s e s t r e i t a e n t r e as n o v a s tecnologias e a escrita. Q u e m t i n h a e m m e n t e q u e " g r a mtica n u n c a mais" forado a encarar, cedo o u tarde, o pavor gramatical que tantos arrepios provoca. Gramtica no nenhum bicho-papo, como

d e m o n s t r a sem p o m p a n e m r o c o c s o p r o f e s s o r Pasquale C i p r o N e t o . N o e n t a n t o , na prtica, apenas d e c o r a r as r e g r a s g r a m a t i c a i s n o g a r a n t i a d e e s c r e v e r m e l h o r . T a n t o verdade q u e , m e s m o t e n d o aulas de p o r t u g u s d u r a n t e os d o z e a n o s d a e d u c a o b s i c a , a maioria das p e s s o a s t e m d i f i c u l d a d e s p a r a escrever

corretamente, e muitas cometem erros O quesito "redao"

elementares. continua hora

nos vestibulares

assombrando.

Boa parte dos jovens padece na

RENATA D I Ntio

E S C B I T A C a i A T I V A - O r R A Z E I DA L I K O U A O E U

d e c o l o c a r as i d e i a s n o p a p e l , r e s u l t a d o d e u m e n s i n o nem sempre eficiente e de u m a c u l t u r a que n o pride que

s e p a r a o e a i d e n t i f i c a o das f u n e s d o s rios esquerdo e direito do crebro. Tais

hemisfpesquisas

vilegia a l e i t u r a . F r e q u e n t e m e n t e ,

so incapazes

c o n s t a t a r a m q u e a m b o s os h e m i s f r i o s p a r t i c i p a m d e f u n e s cognitivas s u p e r i o r e s , mas cada u m a d o t a u m a f o r m a p a r t i c u l a r de processamento de informao.

elaborar u m texto c o m u m m n i m o de c o e r n c i a , tenha comeo, meio e f i m . Os e-mails corporativos causam espanto:

erros

teoria acabou r e p e r c u t i n d o e m vrias reas d o O esporte moderno, por exemplo, a

b s i c o s , ideias t r u n c a d a s , falta de a d e q u a o , de clareza e o r i g i n a l i d a d e . A s e m p r e s a s t e n t a m s u p r i r tais deficincias prometem com doses cavalares de s e m i n r i o s preciso e conciso. que Mas

conhecimento. beneficia-se

dessas

descobertas.

Popularizou-se

dobradinha corpomente, sendo reconhecido o admirvel talento do crebro para m o l d a r a realidade. Muito a l m das o p e r a e s l g i c a s e r a c i o n a i s , bus-

objetividade,

p a r t e c o n s i d e r v e l d a s p e s s o a s p e r m a n e c e s e m se r e lacionar c o m a escrita... O receita mais honesto reconhecer que nenhuma Articular

cou-se estimular o lado intuitivo e criativo, i n d u z i n d o o c r e b r o a perceber a ao desejvel. O t r e i n a d o r N u n o C o b r a e x p l i c a c o m o os atletas desempenho

produz

efeitos

instantneos.

ideias c o m clareza e s i m p l i c i d a d e r e q u e r prtica e aperfeioamento contnuos. Pressupe acumular

c o n s e g u i a m m e l h o r a r o u m o d i f i c a r seu p r o c e d e n d o s i n d u e s m e n t a i s :

referncias de m u n d o , resultado de intensa observao e curiosidade permanente; acordar para o Para quebrar o elo dessa cadeia de pensamentos como armadilha para a negaauto-estimental vacilaes negativos, do que se

d o m n i o da l i n g u a g e m ; levar a s r i o o h b i t o de l e r e e s c r e v e r , se p o s s v e l p o r p r a z e r ; c o m p l e m e n t a r a formao o; cartesiana com altas doses d e imaginalgica

tivos que funcionam ma, bem

temos que nos valer de uma programao positiva e estarmos sempre atentos e intromisso a capacidade s

e, a c i m a d e t u d o , f o r t a l e c e r o b i n m i o

emocionais mentalizando

de pensamentos de realizao

e criatividade.

deseja alcanar...

(Cobra. 2 0 0 0 , p. 4 0 )

A criatividade em evidncia
Ou E M 1 9 8 1 , o RENOMADO NEUROLOGISTA R o g e r W . S p e r r y g a n h o u u m P r m i o N o b e l p o r suas p e s q u i s a s s o b r e a rio s e j a : u t i l i z a n d o as h a b i l i d a d e s d o no-racional. exemplo, O t r e i n o de em hemisfAyrton com direito por

Senna,

consistia

imaginar

15

RENATA D I N I Z O

ESCRITA CRIATIVA - O PRAZER DA LINOUAOEU

p r e c i s o sua m e l h o r a t u a o , b e m c o m o a o do prprio recorde.

supera-

ma

rpida

e eficaz. ao

Seu

d o u t o r a d o alia o

funda"A

mento no

cientfico

conhecimento diz que o

intuitivo.

E m experimentos mdicos no convencionais

premissa

[da pesquisa]

desenvolvimenfun-

C a n a d , n o s E s t a d o s U n i d o s e, i n c l u s i v e , n o B r a s i l , foram comprovadas melhoras significativas n o pa-

t o d e u m a n o v a m a n e i r a d e v e r q u e u t i l i z e as es uma especiais d o hemisfrio direito pode

ajudar

c i e n t e q u a n d o se r e c o r r i a s h a b i l i d a d e s d o l a d o d i r e i t o d o c r e b r o . U m b o m e x e m p l o n a r r a d o , a seg u i r , pela equipe d o H o s p i t a l A r a j o Jorge:

pessoa a a p r e n d e r

a desenhar..."

(Edwards,

1984, p. 10). A o m e s m o t e m p o , o m o v i m e n t o c u l t u r a l de c r i a tividade aflorava n o J a p o , e m diversos pases e u r o p e u s

Uma paciente, com cncer de rinofaringe, quadro fbico ao utilizara

apresentou um

e n o s E s t a d o s U n i d o s . U m a das c o r r e n t e s n o r t e - a m e r i c a n a s , o brainstorming I93S)> ganhou ( p r a t i c a d o e m p i r i c a m e n t e desde mundial. Utilizado para ideias, deixa a

mscara (recurso utilizado pela para imobilizar o paciente e Com esta paciente foi,

equipe mdica de radioterapia

projeo

demarcar a rea a ser trabalhada). primeiro, trabalhada

produo

rpida

e q u a n t i t a t i v a de

um

a imagem do medo, com auxlio dos posteriormente,

breve espao t e m p o r r i o p a r a a " p i r a o " . J a escola inglesa i n o v o u c o m o m t o d o d o p e n s a m e n t o lateral de E d w a r d de B o n o tcnica mais metdica e o r g a n i zada q u e e m p r e g a p r o c e s s o s c o n s c i e n t e s . porm, uma f o r m a de pensamento Esta l t i m a , no linear e

exerccios de relaxamento e visualizao e,

foi feito um trabalho de aproximao sucessiva do objeto desencadeador da fobia a mscara. Neste caso, empoupossibili-

cas sesses, conseguimos conter o quadro fbico e tamos paciente submeter-se


dor e sofrimento.

ao tratamento com menos

no racional. A escola j a p o n e s a , baseada n o K a i z e n p r o g r e s so c o n t n u o , i m p l a n t o u o c o n c e i t o da inovao

C V u t / C a r v a l h o , i998<p-113)

As pesquisas do d r . R o g e r W . encontraram eco na educao.

Sperry anos

tambm 1980, a ao

participativa e a coleta de sugestes para a m e l h o r i a dos processos. A escola russa, r e s p o n s v e l p e l o todo Triz, contribuiu sua c o m tcnicas analgicas para todos os mque

Nos

d r a . B e t t y E d w a r d s r e v o l u c i o n o u a sala d e a u l a desmistificar o misterioso talento para o S e g u n d o ela, o mtodo "Desenhando

desenho. lado

demonstraram

eficcia

probleem proem

com o

mas t e c n o l g i c o s . O m t o d o consiste, p r i m e i r o , t r a n s f o r m a r cada p r o b l e m a especfico e m u m b l e m a g e r a l e d e t e c t a r sua c o n t r a d i o ; d e p o i s ,

d i r e i t o d o c r e b r o " p e r m i t e q u e t o d a s as p e s s o a s , e n o apenas algumas, a p r e n d a m a desenhar, de for-

te

17

R t N A T A Dl

NIZO

ESCKITA CRIATIVA - O

PRAZER DA L I N O U A O E U

p e s q u i s a r os p r i n c p i o s de i n v e n o j existentes p o d e m ser u t i l i z a d o s c o m base e m u m a m e s m a triz inventiva. Na

que ma-

metdica, organizada, possibilitando

aberta democraticamente

a todos,

o nascimento da criatividade

das ideias. (Az-

nar. 2 0 0 5 , p. 11)

F r a n a , desde m a i o de 1 9 6 8 , m o v i m e n t o s de preconizam a imaginao, enfatizando A s t c n i c a s d e p e s q u i s a d e i d e i a s e as p r t i c a s p e d a g g i c a s se d i s s e m i n a r a m e m e s c o l a s , u n i v e r s i d a d e s , empresas e t r e i n a m e n t o s abertos. Assim, na de 1 9 8 0 , Azpecial de dcada es-

vanguarda

e m a l t o e b o m t o m q u e t o d o m u n d o c r i a t i v o ! Esse era o l e m a da Synapse, escola f u n d a d a p o r C h r i s t i a n A z n a r , P i e r r e Bessis e G u y A z n a r . Segundo o socilogo e escritor francs Guy nar (2005). ao desmistificar a imagem do

oficinas de expresso e criatividade, e m escrita criativa, p r o l i f e r a r a m nos

Estados

criador lhes

Unidos e no continente europeu. Um belo expoente francs, o O u l i p o ( O u v r o i r de

solitrio, que recorre prpria intuio, o que interessava era pesquisar a criatividade e m

grupo.

Littrature Potentielle), f u n d a d o pelo poeta e matemtico Raymond Queneau, at h o j e ensino de revoluciona redao. Georges a Os Pe-

Para t a n t o , f a z i a m uso de diversas c o r r e n t e s e p r t i cas c r i a t i v a s : t c n i c a s d e e x p r e s s o c o r p o r a l , t c n i c a s onricas e projetivas, desenho, tre outras. Precursores da p r i m e i r a associao francesa para expresso grfica, en-

abordagem

tradicional do

m e m b r o s dessa o f i c i n a ( I t a l o C a l v i n o , rec,

Mareei Duchamp, entre outros) inspiraram-se re-

e m modelos antigos (trovadores e retricos) o u

o d e s e n v o l v i m e n t o da criatividade (Crea France), tambm f o r a m p i o n e i r o s na interveno organizaconti-

centes ( R a y m o n d Roussel) c o m o o b j e t i v o de p o s s i b i l i t a r novas f o r m a s de e s c r i t a . P a r a eles, o desafio era

c i o n a l e na criao de p r o g r a m a s de f o r m a o n u a d a (considerados cursos de extenso desde 2007~2008). Para Guy Aznar,

m e r g u l h a r e m u m l a b i r i n t o de palavras, sons, frases, prosa e poesia e, sempre d i a n t e de novos desafios,

universitria h cerca de

sair d o e m a r a n h a d o c r i a n d o l i t e r a t u r a . Em 1982, tive o p r a z e r de p a r t i c i p a r da o f i c i n a de da

m e i o s c u l o a c r i a t i v i d a d e t o r n o u - s e p r o f i s s o e, i n clusive, t e m a de estudos graas v o n t a d e .

criatividade e expresso n o I n s t i t u t o de C i n c i a s

E d u c a o ( I C E ) da U n i v e r s i d a d e C e n t r a l de B a r c e l o No mais deixar a criao de ideias prpria sorie, no na. O objetivo era c r i a r novas m e t o d o l o g i a s para fade u m a l n g u a e s t r a n g e i r a , era d e s b l o q u e a r o a

contar somente com certos indivduos excepcionais ou marginais. Em suma, o importante foi estabelecer uma prtica

cilitar a aprendizagem

f r a n c s . A p r e m i s s a , p o r sua vez,

18

19

R i N A T A Dl

NIZO

E s C t I T A CBIATIVA - O PBAZEI DA LINOUAOKU

l i n g u a g e m ( e s c r i t a e o r a l ) , e s t i m u l a n d o as h a b i l i d a des d o l a d o d i r e i t o d o c r e b r o . Os a v a n o s da escola de p s i c o l o g i a g e n t i c a de nos

m o s e d a s e n s a o d e q u e m i n h a c a r a se t a m a n h o o p n i c o de m e e x p o r . J n o

agigantava primrio,

as r e d a e s e r a m u m p a r t o . R e c e b a m o s q u a t r o t e mas e m i n h a santa m e r e d i g i a os t e x t o s , q u e eu

G e n e b r a , e m especial d e v i d o a Piaget, t a m b m i n f l u e n c i a r a m s o b r e t u d o as o b s e r v a e s , a o

mesmo de-

a p r e n d i a de c o r . N o d i a da p r o v a , ela s e m p r e t i r a v a b o a n o t a . E u , c a d a vez m a i s a r r e d i a , passava interminveis aprendendo impretritos. escrever. Por horas e

t e m p o sutis e slidas, sobre o papel d o j o g o n o

s e n v o l v i m e n t o da i n t e l i g n c i a . T o r n a v a - s e necessrio favorecer ganhar em o imaginrio fluncia n a sala de a u l a p a r a , assim,

as l i s t a s d e p r e t r i t o s

S o f r i a de urticria s de pensar essa r a z o , o incio das o f i c i n a s

em de

verbal.

Naquele m o m e n t o , eu integrava o curso de Artes Cnicas da Escola Superior de Teatro. U m prato

criatividade em Barcelona desafio:

representou u m

grande pavor

eu me defrontava c o m m e u p r p r i o

cheio: elaborar jogos cnicos, de criatividade, de palavras e c o m palavras, e n t e n d e r e fazer a f l o r a r a f u n o l d i c a da l i n g u a g e m . A l m de d e c o d i f i c a r a e x p e r i n cia o u a i n f o r m a o , a l i n g u a g e m p e r m i t e expressar, agir c o m o o u t r o , entreter a c o m u n i c a o . . . Mas nossa t a r e f a m a i s o u s a d a f o i p e s q u i s a r a f u n o d o p r a z e r da l i n g u a g e m . Os pessoas, resultados imersas mostraram-se nos jogos, encorajadores. As

de escrever.

Lembro-me

dos oficinas de criatividade,

de uma experinO objetivo era Criei

cia no ateli de expresso, em particular. juntar palavras aleatoriamente,

construindo frases.

de imediato um poema, mas a coordenadora achou que o poema havia sido copiado de um texto j existente. Levei

um grande sermo, injusto. Ainda me lembro da vergonha exposta e do meu recolhimento sbito ante o desrespeito ao meu primeiro poema pblico. Talvez por isso inspire at

liberavam a

expresso;

e s c r e v e r se t r a n s f o r m a v a e m u m a a t i v i d a d e l d i c a e d i n m i c a ; o c l i m a de d e s c o n t r a o facilitava a cia da escrita e da fala. Nessa p o c a , p e l a s p a l a v r a s e, p r i n c i p a l m e n t e , p e l a de m e expressar. C o n f e s s o q u e s e m p r e o d i e i as a u l a s d e i n g l s e de p o r t u g u s . Detestava q u a n d o era p r e c i s o poesias de Olavo Bilac. Lembro-me do recitar nas flun-

hoje indivduos desejosos de, por meio da escrita, na sua aptido criativa. (Di N M O , a o o ? , p. 13)

confar

apaixonei-me possibilidade

Q u a n d o o p r o p s i t o l i b e r a r a escrita a c r i a t i v i d a d e , f u n d a m e n t a l s u s p e n d e r a i n t e r v e n o l i m i t a d o r a do crtico i n t e r n o . A g r a n d e aprendizagem,

suor

e m termos didticos, c o m o veremos mais adiante,

20

21

RENATA D I N I Z O

ESCRITA CRIATIVA - O PRAZFR DA MNOUAOEU

respeitar o m e l h o r desempenho

de cada

hemisfrio

contribuio Tambm

to

original

do

talento

de

Edvaldo.

c e r e b r a l : u m a h o r a p a r a cada coisa. A s s i m , o e f e i t o das o f i c i n a s f o i a r r e b a t a d o r , i r r e v e r s v e l e c u r a d o r . F i z as p a z e s c o m as p a l a v r a s e d e s cobri que eu mesma era capaz de escrever. Quinze meu

i d e n t i f i q u e i o q u a n t o a c r i a t i v i d a d e estava

e n t r e l a a d a e m m e u D N A . P e r c e b i a os f r u t o s d a e x p e rincia na E u r o p a em meu trabalho. Naquele m i n h a viso de momento, eu mundo, em

processava a

a n o s se p a s s a r a m . Q u a n d o v o l t e i a o B r a s i l , c o m

sntese e n t r e i n f o r m a o e c o n h e c i m e n t o que r e s u l t o u n a Casa da C o m u n i c a o . A g r a n d e c o n t r i b u i o de E d v a l d o f o i a insistncia n o e x e r c c i o d i r i o : u m texto p o r d i a . F u i u m a aluna exemplar. R e u n i as t c n i c a s d e E s c r i t a T o t a l cobaia.

t r a b a l h o j a m a d u r e c i d o , e l a b o r e i os f u n d a m e n t o s d e m i n h a e m p r e s a a Gasa da C o m u n i c a o . F o r a m meses de m u i t a i n s p i r a o e t r a n s p i r a o , e n q u a n t o desenhava cada m d u l o . U m a r p i d a pes-

q u i s a n o m e r c a d o a p o n t o u q u e , e n t r e as m i n h a s p r o p o s t a s , os w o r k s h o p s d e E s c r i t a C r i a t i v a e F a l a C r i a t i v a , b e m c o m o o de F o c o e C r i a t i v i d a d e , n o e n c o n t r a v a m eco n o m u n d o o r g a n i z a c i o n a l . L e m b r o - m e de q u a n d o d e c i d i , e n t o , q u e os d e d i c a r i a a m i m m e s m a , as m e n i n a s d o s m e u s o l h o s . Na mesma ocasio, uma amiga me convidou a Pereira pela como

e de criatividade. T o r n e i - m e m i n h a m e l h o r

Meses dedicados a investigar p o r m e i o de u m a i n trospeco m i n u c i o s a e da prtica regular o desab r o c h a r da escrita. Nessa p o c a , eu j escrevia c o m muito prazer,

m a s q u e r i a a v e r i g u a r os g a n h o s d o t r e i n o c o n s t a n t e . F o r a m tantos e to diversos que n o saberia enume-

p a r t i c i p a r da o f i c i n a de escrita c o m E d v a l d o Lima, doutor em Cincias da

r-los. E m resumo, q u i n t u p l i q u e i m i n h a rapidez e m e s c r e v e r E d v a l d o estava c o b e r t o d e r a z o . O mais

Comunicao

U S P . R e c m - c h e g a d o dos Estados U n i d o s e i n f l u e n ciado {creative pelo boom d a s o f i c i n a s d e "escritura criativa"

interessante, p o r m , f o i descobrir o j o r r a r da r i q u e za i n c o m e n s u r v e l d o s r e c u r s o s d a l i n g u a g e m . I n i c i e i c o m g r u p o s a b e r t o s , s e m p r e aos s b a d o s . U m pblico variado: advogados, d o u t o r a n d o s , m d i cos e a p o s e n t a d o s . G r u p o s , e m sua m a i o r i a , a b s o l u -

writing),

ele e l a b o r o u o m t o d o E s c r i t a T o t a l ,

q u e , p o r m e i o d e e s t m u l o s ao l a d o d i r e i t o d o c r e b r o , p e r m i t e a t o d o s escrever. F a l a n d o h o n e s t a m e n t e , fiz o curso e m estado de graa. Os exerccios que eu mesma utilizava, i n s p i r a dos na o f i c i n a de criatividade de Barcelona, eram

tamente apavorados diante do papel e m b r a n c o ; p r o f e s s o r e s d e p o r t u g u s q u e e n s i n a v a m as n o r m a s mas

se i n i b i a m a o e s c r e v e r ; v e s t i b u l a n d o s , s v s p e r a s d a p r o v a , p r o n t o s p a r a o abate; m e s t r a n d o s estressados

m u i t o similares queles. F i q u e i encantada d i a n t e da

22

23

RENATA D I N I Z O

c o m a d i s s e r t a o q u e p a i r a v a n o p l a n o das Sinto-me. at hoje, gratificada quando as

ideias. pessoas

s o l t a m o v e r b o e d e s c o b r e m extasiadas q u e p o d e m f a lar e m p b l i c o e escrever. A s s i m , a misso deste l i v r o d e m o n s t r a r q u e , ao

f o r t a l e c e r a a p t i d o c r i a t i v a , t o d o m u n d o capaz de desenvolver a competncia da escrita. Ao mesmo aprendiz

t e m p o , a d m i t i r q u e q u a l q u e r pessoa u m

constante na tarefa de escrever. N o m n i m o , avivar o d e s e j o d e se e x p r e s s a r . Convido o leitor a persistir n o

c a m i n h o da descoberta da expresso o r i g i n a l , p r p r i a d o p r o c e s s o c r i a t i v o , p a r a d a r f o r m a ao q u e sente, q u e sabe e ao q u e q u e r . ao

24

Hora de acabar com o pesadelo

URANTE O S WORKSHOPS, constato q u e , c o m raras e x c e e s , os p a r t i c i p a n t e s partilham a mesma algucor"do-

dificuldade:

i n i c i a r u m texto. Escrever, para

m a s p e s s o a s , c o n t i n u a a s s o c i a d o a o t r a u m a das rees e m vermelho, mingo no parque" s i n s o s s a s r e d a e s d e

o u " m i n h a s frias" do de

perodo portu-

escolar. Sem

f a l a r nas aulas e n f a d o n h a s

g u s , nas listas i n t e r m i n v e i s de p r e t r i t o s e nas v r g u l a s i m p e r t i n e n t e s . As queixas costumam ser idnticas,

marcantes

variando

entre: o s o f r i m e n t o para e n c o n t r a r a palavra certa, a f a l t a o u o excesso d e i d e i a s , a o r g a n i z a o t r u n c a d a d e a r g u m e n t o s , as d v i d a s d e o r t o g r a f i a e con-

c o r d n c i a , e n t r e o u t r a s . A nfase da escrita p e r m a nece nos aspectos formais de linguagem, quase

n u n c a na criatividade. Muitos professores de portugus, embora cocons-

n h e a m as r e g r a s g r a m a t i c a i s e o s m a c e t e s d e truo retrica, tambm vivenciam certo

constran-

RENATA D I N I Z O

ESCRITA CRIATIVA - O PRAZER DA LINGUAGEM

g i m e n t o na h o r a de escrever. Profissionais de d i s t i n t a expertise se a n g u s t i a m : s o b r a - l h e s t e o r i a , m a s , a i n d a assim, p a d e c e m na h o r a de d e m o n s t r a r u m r a c i o c n i o a u t n o m o , personalizado. A duras penas, con-

Desfeito o quiproqu
No
INCIO D O SCULO

X X , as a u t o r i d a d e s f r a n c e s a s s o -

l i c i t a r a m ao p s i c l o g o A l f r e d B i n e t u m i n s t r u m e n t o p e l o q u a l fosse p o s s v e l p r e v e r q u e a l u n o s t e r i a m s u cesso n o s c o l g i o s p a r i s i e n s e s . O f a m o s o teste d e Q I

f r o n t a m - s e c o m a atividade da escrita, inertes diante da l i n g u a g e m . O d e s a f i o d e e s c r e v e r , s v e z e s , s i m i l a r d i f i c u l dade de chegar a u m pas de lngua estrangeira d o m i n a r o i d i o m a . Por mais que estudemos sem

( q u o c i e n t e i n t e l e c t u a l ) , c r i a d o p o r B i n e t , testa a h a b i l i d a d e das c r i a n a s n a s r e a s v e r b a l e l g i c a (as g r a des c u r r i c u l a r e s e n f a t i z a v a m , s o b r e t u d o , o desenvol-

gramtiganha-

ca o u a p r e n d a m o s d e c o r l i s t a s d e v e r b o s , n o

v i m e n t o da l i n g u a g e m e da m a t e m t i c a ) ( G a m a , s/d). A s s i m , o Ql t e i m a v a e m m e d i r nossa i n t e l i g n c i a ,

remos e m fluncia. N o incio, no teremos a m n i m a i d e i a d e c o m o j u n t a r as p a l a v r a s . P o u c o a p o u c o , as

e n t e n d i d a c o m o a capacidade de a d m i n i s t r a r a l i n g u a g e m e a l g i c a . Q u e m n o soubesse m a t e m t i c a o u p o r tugus teria 5 0 % de chance de p e r m a n e c e r n o b a n c o de

f r a s e s c o m e a r o a se e n c a i x a r c o m o u m i m e n s o q u e bra-cabea. O mesmo acontece q u a n d o vamos escrever. O

reservas ( a l m d e r e c e b e r os i n f a m e s t a p i n h a s n o o m b r o : " M e u f d h o , sem portugus voc no n i n g u m ! " ) . Os estudos do psiclogo H o w a r d Gardner per-

d o m n i o e m u m a rea especfica o u o c o n h e c i m e n t o f o r m a l do i d i o m a no influencia a soltura para r e d i gir. Superar o famoso " b r a n c o do papel" o u a "tela e m b r a n c o " exige estratgias a p r o p r i a d a s . Esta u m a das f u n e s das t c n i c a s d e c r i a t i v i d a d e : f a z e r s o l t a r o verbo. Escrever exige, a l m da d e s e n v o l t u r a , o a p e r f e i o a m e n t o incessante que c o n s t r i o saber. T a l c o m o se v e r m a i s a d i a n t e , a e s c r i t a t a m b m se c o n s t r i , e x ceto e m poucos casos, e m c o n s e q u n c i a d o t i p o de

m i t i r a m c o n t e s t a r a a f i r m a o d e q u e os

indivduos

t m u m p a d r o n i c o e quantificvel de inteligncia. Para G a r d n e r , trata-se da h a b i l i d a d e de resolver p r o b l e m a s da v i d a r e a l , de g e r a r n o v o s p r o b l e m a s a ser r e s o l v i d o s , de fazer algo o u o f e r e c e r u m servio v a l o r i z a d o e m sua c u l t u r a . Nesse m o d e l o , a s u p r e m a c i a da i n t e l i g n c i a l g i co-matemtica perde sua soberania. Triunfar nos

l e i t o r q u e s o m o s . A c i m a de t u d o , trata-se de u m a c o m u n i c a o da pessoa c o m ela m e s m a ; da relao c o m sua h i s t r i a e c o m s e u m u n d o pessoal.

negcios o u n o esporte requer inteligncia.

Entre-

t a n t o , e m c a d a u m desses c a m p o s u t i l i z a - s e u m a i n t e ligncia distinta. Einstein no mais inteligente que

28

RENATA D I N I Z O

ESCRITA CRIATIVA - O PRAZER DA LINGUAGEM

O tenista Guga. A

inteligncia de ambos

pertence

d o d o t a d o d e t a l e n t o p a r a se t r a n s f o r m a r e m e s c r i tor. Mas todos p o d e m , pelo menos, aprender a se

c a m p o s d i f e r e n t e s . T a m b m n o basta t e r g r a n d e pediente acadmico: quem menos brilhante no lgio p o d e , ainda assim, t r i u n f a r n o m u n d o dos g c i o s o u na vida pessoal.

excone-

e x p r e s s a r e a se c o m u n i c a r m e l h o r . A i n d a segundo o psiclogo H o w a r d Gardner, "a

i n t e l i g n c i a d a p e s s o a f o r n e c e a base p a r a a c r i a t i v i d a de; ela ser m a i s c r i a t i v a n o s c a m p o s e m q u e tiver m a i s e n e r g i a " (Q/)U/Goleman, K a u f m a n e Ray, 1 9 9 8 , p . 6 5 ) . E m m i n h a o p i n i o , o g r a n d e desafio na a p r e n d i z a g e m d e u m a n o v a h a b i l i d a d e , j u s t a m e n t e , a p o i a r - s e inteligncias o u nos prprios recursos nas

A i n t e l i g n c i a , at e n t o c o n s i d e r a d a i n a t a , c o n v e r t e - s e e m c a p a c i d a d e a ser d e s e n v o l v i d a , rompendo

c o m o c o n c e i t o t r a d i c i o n a l d e q u e se n a s c e i n t e l i g e n te o u n o e de q u e a e d u c a o n o p o d e m u d a r tal mes-

f a t o . A p a r t i r desse n o v o c o n c e i t o , t o d a p e s s o a , mo sem ter aptido lingustica, pode, a

criativos (ver

qualquer

" Q u a d r o das i n t e l i g n c i a s e p r t i c a d a e s c r i t a " , p . 6 8 ) . O raciocnio simples: o caldeiro da criatividaem um

t e m p o , sair d o b a n c o de reservas. A b o a n o t c i a q u e a e s c r i t a p o d e ser e n s i n a d a e a p r e n d i d a . Mas s a persistncia n o a p r e n d i z a d o rante a percia. De fato, n i n g u m mesmo ga-

d e e s t r e l a c i o n a d o p a i x o , a o q u e se g o s t a e, decorrncia, educador ao que se f a z b e m . Por exemplo:

aqueles

que ensina p o r vocao autntica

costuma

d o t a d o s de p o t e n c i a l i d a d e i n e r e n t e - chega ao sucesso s e m t r e i n o . O futebol, ginastas, m e s m o acontece c o m jogadores matemticos, inteligentes. O poetas talento ou de

ser c r i a t i v o n a h o r a de e n s i n a r . V a m o s i m a g i n a r q u e n u n c a t e n h a se i n t e r e s s a d o pela escrita, mas deseja

pessoas basta

t a n t o p a r t i l h a r seu c o n h e c i m e n t o q u e , u m b e l o d i a , a c o r d a c o m v o n t a d e de escrever u m l i v r o . que se e n t r a n h a r n o assunto, pesquisar e medida reunir

emocionalmente

no

p o r si s . n e c e s s r i a a p r t i c a c o n t n u a .

contedo terico e prtico... Observar, enfim, a re-

Onde mora a criatividade


A
TEORIA DAS INTELIGNCIAS MLTIPLAS

l a o e n t r e as v r i a s r e a s d o c o n h e c i m e n t o ,

selecio-

n a n d o as i d e i a s q u e r e s p a l d a r o s e u p o n t o d e v i s t a . levanta c o n t r o interessa: ConA s s i m , alicerado na criatividade para ensinar, aca-

vrsias, mas elucida, s o b r e t u d o , o que nos possvel desenvolver

b a r e n c o n t r a n d o m o t i v o s p a r a escrever. Desse m o d o , sua a u t o m o t i v a o , baseada n o p r p r i o t a l e n t o , f a v o recer e impulsionar, c a d a vez mais, o aprimora-

u m a nova competncia.

c o r d o : q u a l q u e r pessoa capaz de e s t r e i t a r seu r e l a c i o n a m e n t o c o m as p a l a v r a s . C l a r o , n e m t o d o m u n -

m e n t o da c o m p e t n c i a

lingustica.

30

31

RENATA D I N I Z O

ESCBITA CRIATIVA - O PRAZER DA LINGUAGEU

T a m b m verdade q u e gostar de matemtica n o g a r a n t e a h a b i l i d a d e de e n s i n - l a . V o c p o d e ser u m excelente tcnico e no ter aptido para dar aula

A pessoa criativa ridade,

tem de saber fazer as coisas com reguia Trata-se

no uma nica vezou esporadicamente.

de um estilo de vida. As pessoas criativas pensando refletindo:

esto sempre E

o u trabalhar e m equipe (inteligncia O u t r o e x e m p l o clssico o de alguns que, devido capacidade de

interpessoal). profissionais resultados, so

na rea em que atuam, sempre investigando.

o que tem sentido aqui, o que no tem ? Se no (Apud Goleman, K a u f -

produzir e,

tiver, posso fazer algo a respeito?


m a n e Ray. 1993)

ocupam

p o s i e s de liderana

m u i t a s vezes,

i n b e i s n o t r a t o c o m as p e s s o a s . D a m e s m a v o c p o d e ser u m p r o f i s s i o n a l o u p e s q u i s a d o r

forma, exeme Independentemente de a pessoa ser dotada ou

p l a r , capaz de a r t i c u l a r o r a l m e n t e os a r g u m e n t o s hipteses, mas no conseguir damente p o r escrito. express-los

n o de t a l e n t o p a r a desenvolver a a p t i d o de escrever, necessrio que tenha conhecimento tcnico e t r e i n a m e n t o c o n d i z e n t e . A m a n e i r a m a i s eficaz d e a p r e n der descobrir onde mora a prpria criatividade.

adequa-

P o r o u t r o l a d o , u m m s i c o , salvo raras excees, n o est a p t o a e l a b o r a r u m t r a t a d o d e fsica q u n t i c a , do mesmo m o d o que u m engenheiro dificilmente criativo para c o m p o r u m a msica. E necessrio ser

N e l a e s t o as b a s e s s l i d a s e p a l p v e i s e, i n c l u s i v e , o combustvel para perseverar...

c o m p e t e n t e e m u m a rea especfica para que a c r i a t i v i d a d e p o s s a a f l o r a r . Isso s i g n i f i c a h a b i l i d a d e o u d e s treza e m d e t e r m i n a d o c a m p o . E i m p r o v v e l a l g u m ser i n v e n t i v o e m u m a r e a que desconhea. Alm disso, fundamental ali-

A motivao de aprender
Q U E ASSUNTO DESPERTA e m m i m o interesse e m saber m a i s ? Q u a l a base d o m e u e n t u s i a s m o ? torna mais curioso? Ao reconhecer O que me da

a natureza

m e n t a r a capacidade d o processo criativo. Saber i n cubar, deixar o p r o b l e m a de lado p o r a l g u m t e m p o . E c o m a persistncia que se d r i b l a m os desafios

curiosidade, possvel e n t e n d e r o que a i m p u l s i o n a . O escritor E u g n i o Mussak l e m b r a que so necess-

r i a s e s t r a t g i a s p a r a e n c o n t r a r os m o t i v o s , p a r a m o t i var-se a agir. E acrescenta:

para levar u m p r o j e t o adiante. M o v e r - s e z e r d o q u e se f a z a n i c a g a r a n t i a d e Gardner complementa:

pelo p r a realizao.

Dessa compreenso, surge o conceito da Automotivar-se

automotivao... carregar

significa ganhar independncia,

32

33

RENATA D I N I Z O

ESCRITA CRIATIVA - O PRAZER DA LINOUAOEM

a prpria fonte de energia, no ser paralisado por mas, estabelecer uma relao mais saudvel com (Mussak, 2 0 0 3 , p. 137)

probleaquilo

chefe, d o r de cabea, globalizao, apago. P o r t a n t o , "constncia" a palavra-chave para o r i e n t a r a v o n t a de. D i s c i p l i n a v e m de d e n t r o . E f r u t o de u m a v o n t a de independente que faz escolhas, subordinando Exige

que estamos fazendo.

Q u e razes o levam a escrever? A a u t o d i s c i p l i n a a l i a d a i n d i s p e n s v e l p a r a se c o n s e r v a r f i r m e e c o n s tante, a p e s a r das frustraes. O envolvimento vira

s e n t i m e n t o s e h u m o r e s aos p r p r i o s v a l o r e s . clareza de p r o p s i t o s : a e d u c a o d o q u e r e r .

S e j a m o s f r a n c o s : n i n g u m d p u l o s de a l e g r i a ao r e c u s a r sua s o b r e m e s a p r e d i l e t a p o r q u e est d e r e g i m e . O s m o t i v o s d a d i e t a , c o n t u d o , p r e c i s a m ser fil-

c o m p r o m e t i m e n t o . A f i r m e z a de p r o p s i t o d l u g a r a u t o n o m i a para dedicar-se, sempre, e se c o n t i n u a m e n t e . Os mos neurocientistas c o m p r o v a r a m que o objeto do aprendenos desenvolver-

t r a d o s p e l a r a z o . A d i a - s e u m p r a z e r i m e d i a t o (a s o b r e m e s a ) p a r a se o b t e r u m p r a z e r m a i o r ( e m a g r e c e r ) . E preciso fazer escolhas: que vida e u q u e r o t e r ? senvolver u m a nova competncia compreende Desub-

melhor quando

aprendizado

causa p r a z e r . M u i t a s vezes, e n t r e t a n t o , o q u e n o s i m p u l s i o n a a questo da sobrevivncia, da necessidade. H o j e e m d i a , falar e escrever n o so escolhas: so habilidades requisitadas e m qualquer funo. Mais cedo o u mais tarde, t o d o m u n d o solicitad o a i n s t r u i r - s e na c o m p e t n c i a de escrever: o e - m a i l tornou-se ferramenta indispensvel. Por o u t r o lado, o trabalho acadmico tambm exige desenvoltura

m e t e r m i n h a s escolhas m i n h a v o n t a d e m a i o r . Um w o r k s h o p de escrita criativa, n o m n i m o , es-

t i m u l a e m u i t o a fluncia. Todavia, na sequncia, necessrio a u t o m o t i v a r - s e para escrever e ler com

r e g u l a r i d a d e . T r a n s p o r o s c o n t r a t e m p o s e as z o n a s de c o n f o r t o . D r i b l a r o d e s n i m o . Perseverar n o t r a b a l h o p a c i e n t e e c o n t n u o da escrita. A p r e n d e - s e m u i t o ao resgatar o prazer na relao c o m a palavra, e m p e n h a n d o - s e pelo menos, f u n o da ou integralmente. Ou, em

para a r g u m e n t a r . Sem contar que o processo n a t u r a l de ascenso na c a r r e i r a i m p l i c a , e m vrias situaes, escrever artigos, p r o j e t o s , pareceres... E inegvel que o domnio da l i n g u a g e m ( o r a l e escrita) n o pode

d e v i d o ao e s f o r o de m o b i l i z a r - s e ,

necessidade. E possvel a p r e n d e r p o r dever

ser i g n o r a d o . D e s e n v o l v e r a c o m p e t n c i a de escrever d t r a b a lho. com I n c o r p o r a r u m novo exerccio na rotina inmeros reveses: p r e g u i a , telefone, conta

necessidade? S i m , voc p o d e a p r e n d e r alguma c o i -

sa m e s m o s e m v o n t a d e . P o d e se p e r d e r n a r a n h e t i c e , mas, e m a l g u m t e m p o , acabar gostando de escrever. Descobrir q u e t e m t o d o s os r e c u r s o s e encontrar

amigos.

34

35

R i N A T A Dl

NIZO

ESCRITA CRIATIVA - O PRAZER DA U N C U A G E U

sentido e m us-los. V o c conquistar o prazer. N o u m a c o n q u i s t a f c i l , a l g o q u e se c o n s t r i aos L e n t a m e n t e , o r e s u l t a d o acaba d a n d o p r a z e r . d o v o c se d e r c o n t a , j f o i c a p t u r a d o . O ser h u m a n o t e m f o n t e s i n e s g o t v e i s de p o s s i b i lidades: intuio, ousadia, imaginao, alegria, v o n tade, coragem, f... Nelas residem lembranas, c h e i ros, nmeros, formas, cores, solues, caminhos, que poucos. Quan-

t e r m m e t r o da insegurana e a b o r d a r a c o m p e t n c i a da escrita c o m o u m processo d i n m i c o , acessvel a

q u e m estiver d i s p o s t o a fazer sua p a r t e , m e s m o a p r e t e n s o d e se t o r n a r u m e s c r i t o r . E preciso descobrir o prazer da leitura.

sem

Uma so-

a t e n o d i f u s a q u e i n v e s t i g a a r e a l i d a d e , c o m o se

n h s s e m o s a c o r d a d o s . L e i t u r a s mais atentas q u e s o n dam as e n t r e l i n h a s , q u e se s u r p r e e n d e m com cada

gestos e palavras. S e m f a l a r nas i n m e r a s o p e s se p o d e m c u l t i v a r .

p a l a v r a c o m o se e l a f o s s e u m a c a s o e n o p e r f e i t a m e n t e exata, i m p o s s v e l d e ser s u b s t i t u d a p o r qual-

T a l v e z v o c se e n c a n t e c o m h i s t r i a s i m a g i n r i a s , talvez p r e f i r a a clareza e a s i m p l i c i d a d e das n a r r a t i v a s . Q u e m sabe, escolha d i s s e r t a r , e s m i u a n d o a r g u m e n tos e raciocnios c o m e s m e r o . A l i n g u a g e m , p o r m e i o d a e s c r i t a , p e r m i t e aos h o m e n s p e r m a n e c e r e m inter-

q u e r o u t r a . Palavras q u e n o s a s s o m b r a m pela e x a t i d o e nos a r r o m b a m o imaginrio. gosto pela palavra. T r e i n a r m u i t o , a o m e s m o t e m p o , p a r a se e x p r e s sar c o m desenvoltura e autoconfiana. Apostar nas Ou seja: cultivar o

ligados, p a r t i l h a n d o c o n h e c i m e n t o e sabedoria.

ideias e d e i x a r - s e i n u n d a r p o r elas. E s c r e v e r p o r p r a zer, p o r t e i m o s i a . A c i m a de t u d o : escrever s e m p r e !

O gosto pelas palavras


E S C R E V E R UMA HABILIDADE ORGNICA, e n o m e c n i c a . E u m a aptido natural o u adquirida que requer atitude criativa e observadora. Exige deter-se diante das com Pres-

E siona

to necessrio libertar-se de t u d o que o imaginrio como fundamental

apri-

conhecer Alguns Pescaco-

muito bem

as r e g r a s p a r a p o d e r b u r l - l a s .

autores consagrados, c o m o

o poeta F e r n a n d o

soa e o r o m a n c i s t a J o s S a r a m a g o , t o r n a r a m - s e m a l e e s da l n g u a portuguesa exatamente por

palavras, p r o c u r a n d o decifr-las, d e l i c i a n d o - s e as h i s t r i a s e c o m a p o s s i b i l i d a d e d e n a r r - l a s .

nhec-la profundamente. Se, n o e n t a n t o , q u i s e r m o s d e s m i s t i f i c a r e n o s r e c o n c i l i a r c o m a escrita, t e r e m o s de s o n d a r nossa presso original, l e g i t i m a r nossa autorizao expara

supe, s o b r e t u d o , u m e n c a n t a m e n t o pela l i n g u a g e m . O t a l e n t o para escrever u m privilgio sorte de q u e m teve o c o n t a t o i n i c i a l c o m a p a l a v r a p o r muita paixo. Do contrrio, resta-nos marcado zerar o

e s c r e v e r . Isso r e q u e r o l h a r , e s c u t a r , n o m e a r e m o e s .

36

37

RENATA D I N I Z O

E s C K I T A CRIATIVA - O PRAZER DA LINGUAGEM

r e c o r d a r , indagar, vasculhar, pesquisar, observar, ler, reler, inspirar e transpirar, tornando-se u m curioso n a t o da palavra. S assim ser possvel a parceria h o nesta e p r o d u t i v a e n t r e lgica e i n t u i o .

plementao

do texto c o m dados suplementares Enfim, com

ou

citaes de autores r e n o m a d o s .

fontes

fidedignas que r e f o r a m a c r e d i b i l i d a d e na g e m da matria. O

aborda-

interessante observar o a r r a n j o

particular daquele texto que seleciona e hierarquiza

O hbito da pesquisa ajuda. E muito


M A S NO S E I L I ^ J A : a m o n t o a r u m p u n h a d o d e boas

as i n f o r m a e s , c o m b i n a n d o i d e i a s , f a t o s , e n t r e v i s t a s e exemplos concretos. mas

U m r o m a n c i s t a t a m b m necessita pesquisar,

ideias e aplicar regras gramaticais n o garante a q u a l i dade d o texto. A l m de s o l t u r a para escrever, necess r i o , c l a r o , c o n t e d o . Q u a n t o m a i s f o r m o s capazes de a b o r d a r u m a q u e s t o e m p r o f u n d i d a d e , m e l h o r fluir a escrita. H f o r m a s de e s t i m u l a r a c u r i o s i d a d e e o conhe-

de maneira distinta do jornalista o u do h i s t o r i a d o r . Ele investiga a m b i e n t e s , trajes, p o c a s , j o g o s e d i v e r timentos, casas, m o b l i a s , j a r d i n s , c o m i d a , ocupa-

e s , t r a d i e s , c o n v e n e s , g r i a s , a v i d a das pessoas c o m u n s e o p e r f i l d o s p e r s o n a g e n s q u e c o m p e m sua o b r a . I s t o , p e s q u i s a p a r a c o n h e c e r m u i t o b e m o c e nrio da histria que contar. A i n d a q u e a g r a n d e z a da a r t e esteja, e m g r a n d e p a r te, na viso g e n u n a d o p r p r i o a u t o r , a pesquisa p r e l i m i n a r e o d i s c e r n i m e n t o bsico da c u l t u r a do consistncia e a u t e n t i c i d a d e o b r a . N i n g u m d u v i d a de q u e G u i m a r e s Rosa t e n h a r e n o v a d o a l i n g u a g e m literria com mudanas formais porque dominava a linguagem c o l o q u i a l e p o p u l a r . Seus p e r s o n a g e n s m t i c o s v i v e m n o m u n d o d e sua i n f n c i a e m o c i d a d e . V e j a m o s t r e c h o s d o p r e f c i o d e s e u l i v r o Primeiras estarias: alguns

c i m e n t o . A s m a i s eficazes s o a l e i t u r a e a p e s q u i s a . Algumas profisses, c o m o o j o r n a l i s m o , t a m b m exigem a expertise de g a r i m p a r i n f o r m a o a m p l a e b e m fundamentada. U m texto jornalstico, mente, normalA

c o m e a c o m u m a sntese da i n f o r m a o . n o ltimo pargrafo.

c o n c l u s o est s e m p r e

Ento,

voc p o d e fazer d o i s t i p o s de l e i t u r a : u m a rpida, q u e l h e p e r m i t e acessar o r e s u m o , p o r q u e t u d o r e v e l a d o na entrada para capturar a ateno do leitor; e o u t r a mais detalhada, e m q u e e n c o n t r a r os e l e m e n t o s j u s t i f i q u e m a sntese i n i c i a l . Quando sou entrevistada por jornalistas, por que

[...]

Bichos eplantas tm nome e atributos seguros;

costu-

e x e m p l o , p e r c e b o o e f e i t o dessas p e s q u i s a s , t a n t o n a f o r m a c o m o m e f a z e m as p e r g u n t a s q u a n t o n a c o m -

mes e hbitos, mistrios e fainas revivem na sua


dade minuciosa.

autentici-

(Paulo Rnai i n : Rosa, 2 0 0 3 , p. 2 o )

38

39

RENATA D I N I Z O

E s C B I T A CRIATIVA - O PRAZER DA LINGUAGEM

[...]

A soluo adotada por ele [Guimares Rosa]

consis-

v e s t i g a o CSl (Crime Scene Investigation).

Os produtores e

tia em deixar as formas, pular infiltrarem

rodeios e processos da lngua po-

r o t e i r i s t a s so abastecidos de i n f o r m a o p o r p r o f i s sionais da rea. Sabe-se, i n c l u s i v e , q u e alguns i n v e s t i g a d o r e s se t o r n a r a m r o t e i r i s t a s . A s t r a m a s b a s e i a m - s e e m experincias cotidianas, recheadas de suspense e da viso p r p r i a dos a u t o r e s . O funcU) de a u t e n t i c i -

o estilo expositivo e as da lngua elaborada Disse lngua elabo-

embeberem a linguagem dos figurantes.

rada e no culta: Guimares Rosa, conhecedor dos mais profundos do idioma, no se satisfazem explorar-lhe e codificado, mas submete-o todo a uma

o tesouro re^strado

dade tecido p o r u m l i m i t e tnue entre o imaginrio e o real. D e f a t o , q u a n d o q u a l q u e r a f i c i o n a d o da d e s c o b r e o v a l o r das p e s q u i s a s , acaba escrita

experimentao incessante, para testar-lhe a flexibilidade e


a expressividade. (Paulo Rnai i n ; Rosa, 2 0 0 3 , p. 3 0 )

convertendo-se idas

Para tntico

a romancista Jean do romance "advm

Saunders, do seu

o sabor

au-

e m c o l e c i o n a d o r : estantes a b a r r o t a d a s de l i v r o s , frequentes a livrarias e bibliotecas, materiais

conhecimento

sobre

n t i m o d o assunto s o b r e o q u a l escreve [ . . . ] m e s m o q u e acabe p o r u t i l i z a r apenas u m a f r a o d a q u i l o q u e a p r e n d e u " (Saunders, 1 9 9 8 , p . 15). A a u t o r a adverte, logo a seguir, que a descoberta dos fatos deve ser

vrios assuntos,

r e c o r t e s de j o r n a i s e revistas, velhas

f o t o g r a f i a s , a n o t a e s ao acaso s o b r e pessoas e l u g a r e s . S e m f a i a r das l i s t a s d e p a l a v r a s i m p a c t a n t e s , d e l e i t e p a r t i c u l a r ao p e r c e b e r q u e a l i n g u a g e m , tas v e z e s , t r a n s f o r m a d a e m u m m o s a i c o , do

mui-

resultado d o prazer e da satisfao que a pesquisa traz. O p r a z e r , s e m d v i d a , i n g r e d i e n t e i n d i s p e n s v e l d a curiosidade que nos seduz a e x p l o r a r a realidade a imaginao. A escritora E u n i c e S o r i a n o de A l e n c a r a importncia do impulso e do refora, interesse floresce tarefas e

milagrosa-

m e n t e revive expresses e realidades observadas e exploradas c o m afinco. J e a n S a u n d e r s d e u - s e ao t r a b a l h o de n o s deixar

u m a o b r a Eu pesquiso para escrever c o m o i n t u i t o d e a j u d a r o e s c r i t o r a o r g a n i z a r suas p e s q u i s a s . E l a e n f a t i z a :

tambm,

a p a i x o n a d o p e l o q u e se f a z : " A c r i a t i v i d a d e mais facilmente quando o i n d i v d u o realiza

[...]

tome nota de cada fonte, particularmente quer sejam seus ou o ttulo,

quando emprstide

m o b i l i z a d a s mais p e l o prazer e satisfao d o que pela obrigao e dever" (Alencar, 2 0 0 0 , p. 115)-

utilizar livros de referencia, mos da biblioteca. Anote

autor e nmero

U m b o m e x e m p l o que r e n e pesquisa e paixo o sucesso i n d i s c u t v e l da s r i e n o r t e - a m e r i c a n a d e i n -

pgina onde encontrou tenha-a

a informao

necessria e man-

numa lista separada.

Se no o fizer, muito

40

41

RENATA D I N I Z O

ESCRITA CRIATIVA - O PRAZER DA LINGUACEM

provvel que tenha esquecido comphfamente quando quiser adicionar ou confirmar a

a sua fonte informao.

U m a p a l a v r a f o r t u i t a , m u i t a s vezes, o e s t o p i m d e u m infinito o l h a r de quebra-cabea descoberta. nosque me instiga a u m novo

(Saunders. 1998. p. 17)

E desejvel avivar c o n t i n u a m e n t e a lista de I n f e l i z m e n t e , q u a n d o l i seu l i v r o e u j h a v i a p e r d i d o h o r a s p r o c u r a n d o e m v o os a u t o r e s das sas paixes, em ser qualquer rea do

conhecimento. escrita,

Elas p o d e m

utilizadas n o

t r a b a l h o da

centenas de citaes que guardava sem n e n h u m r i g o r . H o j e a n o t o t u d o c o m a m a i o r preciso possvel. A l g u m a s p e s s o a s m e p e r g u n t a m c o m o se d processo de c r i a o p a r a escrever. T r a b a l h o de meu duas

p o r q u e p e r m i t e m a b o r d a r assuntos c o m a u t o r i d a d e e encanto. J e a n - J a c q u e s Rousseau (17121778) u m exem-

p l o clssico de a m a n t e e estudioso da natureza. T o d a a s u a o b r a p e r m e a d a p o r essa i r r e m e d i v e l p a i x o : " E u sinto xtases, contentamentos inexpressveis a me

f o r m a s d i s t i n t a s . A p r i m e i r a delas consiste e m c o l o c a r as i d e i a s n o p a p e l e, s o m e n t e d e p o i s d e u m l o n g o p e r o d o d e d e c a n t a o , i n i c i a r as r e l e i t u r a s . N e s s e m o m e n t o , d e c i d o o c a m i n h o da pesquisa vo respaldar conceitos. e quais obras

f u n d i r ao s i s t e m a d o s seres, a m e i d e n t i f i c a r c o m a natureza i n t e i r a " (Rousseau, 1 9 9 4 - P- ^OS)- R o u s s e a u

c o n f e s s a , e m Les rveries du promeneur solitaire [Os devaneios do caminhante solitrio], q u e seu v e r d a d e i r o t r a b a l h o de es-

A o u t r a f o r m a , ao c o n t r r i o , d a r i n c i o a u m a pesquisa sobre o assunto de m e u interesse e m bibliotecas, livrarias, dissertaes, p o r m e i o de soas q u e c o n h e c e m o a s s u n t o , v e l h a s n o t a s s o b r e servaes pessoais o u b a t e - p a p o s . V o u me sites, pesob-

c r i t a n o acontecia n o a m b i e n t e da mesa, dos

papis Em

e dos livros, q u e o entediava e o desencorajava.

face d a recusa d e u m p e n s a m e n t o s i s t e m t i c o e m p r o v e i t o d o d e v a n e i o , s u a i n t r o s p e c o l i t e r r i a se passava na c o n t e m p l a o m i n u c i o s a e i n s p i r a d o r a d o espetc u l o vivo da natureza. Cabe l e m b r a r que u m a novela, realista o u fantstica, t a m b m ter de c o n s t r u i r personagens e p a n o de f u n d o baseados e m i n f o r m a o (entrevistas, conver-

impregbelo quais

n a n d o de ideias e i n f o r m a e s at q u e , e m u m dia, desando a escrever, sabendo de a n t e m o

sero m i n h a s fontes. M i n h a pesquisa p e r m a n e n t e . T u d o q u e cai e m m i n h a s m o s e n s e j a i m a g e n s a t r e l a d a s u m a s s o u t r a s que, juntas, p o d e m desembocar e m u m b o m personagem para u m texto, u m novo livro, u m a dinmica, a abertura de u m a palestra o u o esboo de u m a histria.

sas; d e n o v o , p e s q u i s a ) . P a r a s i t u a r u m a c e n a n o p a s sado, p o r e x e m p l o , p o d e - s e r e c o r r e r a m e m r i a s de

infncia, mas t u d o d e p e n d e d o g r a u de r e a l i s m o que

42

43

RENATA D I N I Z O

ESCRITA CRIATIVA - O FRAZER DA LINOUAOEU

se p r e t e n d e d a r o b r a . S e n s i b i l i d a d e e so i n g r e d i e n t e s i n d i s p e n s v e i s . O

imaginao entre-

n o u - s e nossa vil e g u i a : n o h t e m p o bastante p a r a sentir, refletir, antecipar, degustar, contemplar. As se

que dar,

t a n t o , u m m n i m o de verossimilhana histria a coleta de m a t e r i a l c o n c r e t o .

leituras esto aceleradas. A verdade que j n o sabe l e r . A e s c r i t a s o f r e c o m isso. Q u a l q u e r i m p r e s s o newsletter, l i v r o o u

informanos de ser

A leitura - absolutamente essencial


E M SUA E V O L U O , a h u m a n i d a d e s e m p r e c o n t o u c o m pessoas d e v i s o a m p l a , q u e i n o v a r a m p o r m e i o d e p e n samentos nascem e aes arrojadas. As melhores ideias no

tivo t e m o p o d e r , e m frao de segundos, de agradar ou nos causar i n d i f e r e n a . E o tempo

" b a t e r o s o l h o s " p a r a d e c i d i r se o t e x t o m e r e c e l i d o o u se v a i d i r e t o p a r a a l i x e i r a . O s

profissionais

de m a r k e t i n g v i r a m ilusionistas, fazedores de gostos e desgostos. D i a n t e da e n x u r r a d a de i n f o r m a o , impres-

do nada. No despencam

s o b r e nossa c a b e a campo aberta,

c o m o l a m p e j o s d o c u . Elas p r e c i s a m de u m frtil p a r a g e r m i n a r . Isso r e q u e r u m a m e n t e

c i n d v e l s e l e c i o n a r o q u e vale a p e n a ser c o n s u m i d o . T e r u m o l h a r c l n i c o e a p u r a d o para fazer l h a s c a d a vez m a i s c o n s c i e n t e s . esco-

disposta a e n f r e n t a r , c o m criatividade e d i s c e r n i m e n to, o ambiente desafiador e m constante mutao. Significa manter-se r e c e p t i v o s i d e i a s d i v e r g e n t e s , aos

E aprender a pesqui-

sar n a i n t e r n e t , f o l h e a r u m l i v r o o u a r q u i v o c o m r a pidez e diligncia, sem a b r i r m o dos m o m e n t o s delicada concentrao para ler c o m qualidade, o faria u m investigador nato. E f a t o : a l e i t u r a a m p l i a a capacidade associativa e de

p e n s a d o r e s d e t o d o s os t e m p o s . D e f a t o , o q u e i m p o r ta l e r m u i t o , a d q u i r i n d o r i q u e z a de c o n h e c i m e n t o . O escritor e educador R u b e m Alves, e m artigo (2005),

como

intitulado " preciso aprender a brincar" fala sobre a importncia de desafiar a

intelignestaativi-

de a r m a z e n a r i n f o r m a e s , a p r i m o r a a m e m r i a , a u m e n t a o vocabulrio e o m a n a n c i a l de a r g u m e n t o s e respostas. F u n c i o n a c o m o u m catlogo de conheci-

cia. S e g u n d o ele,

no cotidiano, quando no

m o s a t e n t o s , a i n t e l i g n c i a r e a l i z a a p e n a s as dades r o t i n e i r a s . Q u a n d o provocada pelo

desejo,

m e n t o e de estilos de vida. O s b e n e f c i o s so a i n d a m a i o r e s q u a n d o se l c o m q u a l i d a d e , p o r q u e a s s i m se e s t i m u l a m o raciocnio crtico e a imaginao. A leitura diversificada ajuda a tirar o crebro z o n a de c o n f o r t o e dos estados h a b i t u a i s de apatia. da

p o r m , e l a c r e s c e e se d i s p e a f a z e r c o i s a s c o n s i d e radas impossveis.

N a m a i o r p a r t e d o t e m p o , as p e s s o a s s o i n d u z i das a u m a a t u a l i z a o s e m t r g u a . M a s a pressa t o r -

+4

45

RENATA D I N I Z O

ESCRITA CRIATIVA - O PRAZER DA LINGUAGEM

E o mesmo raciocmio de estradas e ruas. Quanto mais vias de acesso, maior a possibilidade
deslocamento.

soubemos apreciar. tambm mudam.

t e m p o passa e n o s s o s g o s t o s

de atalhos e rapidez de

(Cardoso, 2 0 0 3 , p. 52)

A m e l h o r f o r m a de a d q u i r i r c u l t u r a de escrita e edio ler obras de autores consagrados: M r i o de

F a z t e m p o q u e os c i e n t i s t a s d e s c o b r i r a m a p o s s i b i l i d a d e d e a u m e n t a r as l i g a e s e s t a b e l e c i d a s e n t r e os n e u r n i o s ( s i n a p s e s ) . S a b e - s e q u e as c l u l a s n e r vosas n o t r a b a l h a m i s o l a d a s : elas d e p e n d e m d a rede

A n d r a d e , J o o G u i m a r e s Rosa, M a c h a d o de Assis, Jos Saramago, Manuel Bandeira, Rubem Rachel de Q u e i r o z , Fonseca, Lis-

Fernando Sabino,

Clarice

pector, Lygia Fagundes Telles,

entre outros tantos. co-

qual p e r t e n c e m . Q u a n t o mais informao e c o n h e c i m e n t o , m a i s s i n a p s e s v o se f o r m a n d o e, p o r c o n seguinte, m e l h o r a m o raciocnio e a memria, h u m i n c r e m e n t o na velocidade pois de

E m suma, a l e i t u r a u m m o d o de aquisio de

n h e c i m e n t o v a l i o s o q u e faz p a r t e d a p r e p a r a o g e r a l da prtica da escrita. E c o m prazer! Segundo Arcngelo R. Buzz e Leonardo Boff,

da transmisso

d a d o s e n t r e os n e u r n i o s . D a a i m p o r t n c i a d e d i versificar a leitura. As habilidades humanas, nervosas, assim c o m o as clulas Quanto temas

d e v e m o s estar alertas p a r a c o m o n o s a p r o x i m a m o s de u m l i v r o , p r e s t a n d o a t e n o nas m o t i v a e s q u e nos

levam a ler. Os autores sugerem que o livro e n c o n tro, p o r t a n t o devemos l-lo dialogando.

trabalham em interdependncia.

m a i o r o h b i t o da l e i t u r a e a c u r i o s i d a d e p o r

diversos, m a i o r ser a capacidade de pensar; m a i o r a fluncia de ideias; m a i o r o arsenal de c o n t e d o e de bagagem lingustica. N a prtica, o h b i t o da l e i t u r a c o n t r i b u i , sobrede

Para ler preciso resse, olh-lo

achegar-se

ao livro com muito seu amigo

inte[...]

com amor e tornar-se internas

Passe a vista sobre suas folhas menu de um restaurante.

como se fosse o enamoramento

Depois desse

t u d o , para o c u l t i v o d o gosto pela palavra. A l m c o n f e r i r u m a viso mais a b r a n g e n t e da v i d a ,

sensvel, examine suas atitudes internas para com ele: a alegria, afobao, a expectativa, a curiosidade, a frustrao a indiferena, [...]. a

favorece

a a q u i s i o n a t u r a l da g r a m t i c a e d o v o c a b u l r i o . Est i m u l a a g e r a o de novas ideias, p o s s i b i l i t a n d o e n volv-las c o m outras e lapid-las c o m o u m arteso. E preciso t o r n a r sagrado o t e m p o dedicado l e i tura. Revisitar escritores que, na adolescncia, no

a inquietao,

Examine vee

ento a motivao que o leva a ler o livro. leidade trabalho; e gosto ftil; se por necessidade

Se forem de profisso

se por presso social determinada pelo fato de se por neces-

o livro estar na moda, de ser o best-seller;

46

47

RiNATA

Dl NllO

ESCRITA CRIATIVA - O PRAZER DA LINCUAOBM

sidade interna,

como quem busca a resposta de um

proNa foTor-

A p r e n d e r c o m cada e s c r i t o r c o m o u t i l i z - l a s . D e s e n v o l v e r u m a e s c r i t a q u e seja f r u t o d e t o d o s o s textos

blema vital, como quem busca salvar a prpria vida. medida do possvel, procure vencer as antipatias,

l i d o s a n t e r i o r m e n t e . E m s u m a , ser u m b o m l e i t o r a u m e n t a suas c h a n c e s d e s e r u m e s c r i t o r c o m p e t e n t e .

mentar as simpatias

e nutrir o interesse pelo livro.

ne-o seu amigo. (Biuzi Boff, 1987, p. 156)

As Janelas da percepo
N o i m p o r t a se v o c v a i e s c r e v e r o b r a s d e f i c o , a r t i g o s e p o e s i a s o u se s i m p l e s m e n t e q u e r a p r i m o r a r os t e x t o s c o r p o r a t i v o s e r e d i g i r m e n s a g e n s b r e v e s . A s i d e i a s p r o v m d a r i q u e z a de e x p e r i n c i a s e das l e i t u ras q u e n o s p o v o a r a m . O o b s e r v a d o r q u e v o c p e r manece espreita, d u m a direo e u m sentido a COMUNICAR UM ATO CORPORAL q u e c o m p r e e n d e t o p r o c e s s o s v e r b a i s e n o - v e r b a i s q u a n t o os d e tanper-

cepo. O s sentidos - tato, viso, o l f a t o , paladar, a u dio so responsveis por nossa experincia e

a p r e n d i z a d o . Para o a u t o r francs L o u i s T i m b a l - D u claux, a inspirao d o escritor n o u m d o m especial

t u d o que fizer. A leitura ajuda e m u i t o . imprescindvel tornar-se um melhor leitor.

da i m a g i n a o ; ao c o n t r r i o ,

Prestar ateno conexes de

nos textos,

s u b m e r g i r nas e

infinitas [...] na maioria dos casos, as boas e novas ideias lhe vm do mundo que o faculdades afrmam-

percepo, uma rede

experincia

informao Denota, ao

inscritas e m mesmo

de significados. em um

de uma observao atenta da realidade

tempo,

converter-se

melhor

leitor

rodeia e daquilo que ele tem em si mesmo. Estas no so inatas: desenvolvem-se, cultivam-se e

dos textos dos demais e dos p r p r i o s textos. L e r e escrever so atividades c o n c o m i t a n t e s . O t o r e o e s c r i t o r r e p r e s e n t a m u m a n i c a pessoa. O leibom

se com a experincia. Para sermos mais claros sete faculdades recordar, aprender complementares: olhar,

enumeremos sentir, e

escutar,

l e i t o r d e v e r i a se c o m p o r t a r c o m o se d e s c o b r i s s e os c d i g o s d e u m a n o v a l n g u a . E v i t a r as s i m p l e s p r o j e e s o u a busca rpida de u m a c o e r n c i a s u p e r f i c i a l . L a n a r o o l h a r de descoberta sobre o significado. p r e c i s o e s c r e v e r e l e r m u i t o m a i s . L e r p a r a se e n t e r n e c e r o u se d e l i c i a r . R e d u z i r a p r e s s a e e c o n o mizar a ateno para l e r as p a l a v r a s e degust-las.

ler, aprender a trabalhar

a trabalhar

com as palavras

com o subconsciente.

(Tmbal-Du-

claux, 1997R, p. 47)

C a d a pessoa t e m u m a m a n e i r a p r p r i a de gar, apalpar, degustar,

enxer-

escutar, c h e i r a r , s e n t i r e o b quando

servar. As p e r c e p e s i n d i v i d u a i s a c o n t e c e m

48

49

RENAIA D I

Ni/o

E s C K I T A CBIATIVA - O

PRAZER DA LINGUAGEU

se e s t d i s p o s t o

a i r alm

da i n f o r m a o

sensorial,

pensar

[...].

E um relacionamento

mais intimo com o

q u a n d o se a t r i b u i s i g n i f i c a d o a o s e s q u e m a s d e s e n s a o , t r a d u z i n d o a e x p e r i n c i a e m sua t o t a l i d a d e . De

mundo exterior do que o sentido do pensar nos dado por aquele sentido que nos possibilita sentir-nos unos com ou-

f o r m a diferenciada e peculiar, possvel t r a n s f o r m a r vivncia e c o n h e c i m e n t o e m l i n g u a g e m ( o r a l e escrita). Essa j u n o n i c a f o r m a t a r , e m p a r t e , o comu-

tro ser, que ns passamos a sentir como a ns mesmos. Isso acontece ao percebermos por meio do pensar, do pensar vivo que nos enviado por um ser o eu desse ser: o
sentido do eu. (Steiner, 1999. p. 13-4.)

n i c a d o r / e s c r i t o r q u e v o c . O educador austraco R u d o l f Steiner, fundador outros que

da Sociedade A n t r o p o s f i c a ,

considera ainda

G r a a s s p r i m e i r a s e x p e r i n c i a s s e n s o r i a i s d a i n fncia, a c r i a n a e x p l o r a seu e n t o r n o . P o r m e i o de

sentidos: sentido da vida (capacidade de sentir o

est d e n t r o d e n s ) ; s e n t i d o d o e u ( c a p a c i d a d e h u m a n a de p e r c e b e r - s c e de p e r c e b e r o o u t r o ) ; s e n t i d o d a p a l a v r a ( c a p a c i d a d e d e p e r c e b e r os sentido do pensamento (percepo significados); pensa-

d e s e n h o s e p i n t u r a s , ela expressa p e n s a m e n t o s , es, interesses e c o n h e c i m e n t o d o a m b i e n t e . A u m a f o r m a de expresso d o p r p r i o guagem do pensamento. Todavia, eu, u m a

emoarte linque,

pura do

tudo indica

m e n t o p o r d e t r s das p a l a v r a s ) ; e n t r e o u t r o s .

e m a l g u m m o m e n t o , ao p r i v i l e g i a r o a c m u l o de c o n h e c i m e n t o e de capacidades intelectuais, e m detria

[...]penetramos

mais intimamente no mundo exterior no

m e n t o da auto-identificao pessoa p e r d e aquilo que a identificao

e da a u t o - e x p r e s s o , consigo mesma e

quando percebemos meramente com o sentido da audio algo que soa, e sim quando percebemos, por meio do sentido da palavra, algo que tenha significado [...]. Contudo, do

com

faz. dedicaSe-

Viktor Lowenfeld e W . Lambert Brittain ram-se gundo compreenso

existe uma diferena entre a percepo da mera palavra,

da capacidade c r i a d o r a .

soar pleno de sentido e da verdadeira percepo do pensa mento por detrs da palavra [...]. Porm, no posso relacionatranspordenrepre-

eles, " c i e n t i f i c a m e n t e , f i z e m o s

grandes p r o -

gressos, mas s o c i a l m e n t e j n o c o n h e c e m o s nossos v i z i n h o s i m e d i a t o s e n o s o m o s capazes de n o s c o m u n i c a r c o m eles d e f o r m a p a c f i c a " ( 1 9 7 0 , p . 17). Para

mento vivo com o ser que emite a palavra, tar-me

imediatamente, por meio dessa palavra, para

tro desse ser que a est pensando, desse ser capazde

L o w e n f e l d e B r i t t a i n , u m a sociedade pacfica que c o m b i n a seres h u m a n o s d e d i f e r e n t e s c r e d o s , c o r e s e heranas pressupe a h a b i l i d a d e d e se i d e n t i f i c a r

sentaes mentais, e isto requer um sentido mais profundo do que o mero sentido da palavra isto requer o sentido do

50

51

I
RENATA D I N I Z O E a C R I T A CRIATIVA - o PRAZER DA LINGUAGEM

c o m a q u e l e s a q u e m se t e m e , a q u e l e s a q u e m n o se compreende autores o u aqueles que parecem estranhos. ainda, que a condio para Os se

Diluiu-se

aquela

capacidade

de

estar

inteira-

m e n t e c o m p e n e t r a d o n o q u e se e x e c u t a , q u a n d o t u d o p o d e se t r a n s f o r m a r , a c a d a m o m e n t o , n a t a r e f a m a i s i m p o r t a n t e e p r a z e r o s a . A n s e i a - s e p e l o s f i n a i s de sem a n a o u pelas frias p a r a , a s i m , s e n t i r p l e n a satisfao. Contudo, prefervel avivar a i n t e i r e z a nos

enfatizam, com os

identificar

outros identificar-se

consigo

m e s m o , o q u e p o s s v e l d e v i d o ao da capacidade criadora. " O

desenvolvimento

processo de criao i m -

plica a i n c o r p o r a o d o eu atividade; o p r p r i o ato de criar p r o p o r c i o n a a c o m p r e e n s o d o processo que os d e m a i s a t r a v e s s a m ao e n f r e n t a r s u a s e x p e r i n c i a s " ( 1 9 7 0 , p . 17)Lowenfeld e Brittain contrapem a modernidade v i d a de nossos antepassados, q u e e r a m c o n s t r u t o r e s a t i v o s d e sua c u l t u r a . C o m certeza, mantinham um suas

atos m n i m o s q u e executamos

n o cotidiano; capaci-

t a r - s e p a r a p e n s a r , e x p r e s s a r s e n t i m e n t o s e se e n g a jar na edificao da c u l t u r a . N o dizer de L o w e n f e l d e

B r i t t a i n : saber e x a t a m e n t e q u a l a nossa c o n t r i b u i o sociedade.

A aprendizagem no somente significa acumular

conheci-

contato mais estreito c o m o m e i o : construam casas, c u l t i v a v a m o a l i m e n t o e o j a r d i m ;

mentos. Ao contrrio, implica, alm disso, poder usar nossos sentidos livremente e, com atitude criadora, atitudes positivas rodeiam [...]. desenvolver

fabricavam

doces caseiros; deliciavam-se c o m o c h e i r o d o caf r e c m - m o d o e da f o r n a d a de p o . As crianas b r i n c a vam d e b a i x o das r v o r e s , c o m i a m b o l i n h o d e c h u v a e

com relao a ns mesmos e aos que nos

(Lowenfeld c B r i t u i n , 1970. p. 16)

se e n t r e t i n h a m c o m a o b s e r v a o d a n a t u r e z a .

possvel

r e v i g o r a r os

sentidos

permitindo o mais do

processo c o n t n u o

das e x p e r i n c i a s s e n s o r i a i s

I ^ E1I9 p o r e x e m p l o , lembro-me do quintal de minha av, com suas rvores frondosas. Assim era a floresta - eu imaginava. E da plantao despretensiosa do milharal. A o longo do ano. amos averiguar o despontar das espigas at que seus cabelos vermelhos se transformavam na minha boneca mais exuberante. Depois reunamos toda afamlia,e eu ficava encantada com o milho que virava bolo, pamonha e curau...

refinadas.

I r a l m das i m a g e n s

pr-fabricadas e

o l h a r t r i v i a l l a n a d o s o b r e as p e s s o a s e o s mentos. Decodificar detalhes, diferenas,

acontecinuanas.

"Precisamos fazer exerccios para VER T U D O A Q U I L O QUE OLHAMOS", afirma o escritor Augusto Boal

( 1 9 9 5 . P- 4 5 ) . E n q u a n t o o olho traduz e m ondas uma o v i s u a l , o c r e b r o r e s t i t u i essa i m a g e m informaprojetada

52

RENATA D I N I Z O

ESCRITA CRIATIVA

FRAiER

DA

LINGUAGEM

s o b r e o q u e se v . P a r a o p s i c a n a l i s t a c a n a d e n s e

Guy

n o z e s e a m n d o a s , d a q u e l e p r a t o q u e sua a v

sabia

C o r n e a u , esse m e c a n i s m o e s p e t a c u l a r : " O m a i s b o n i t o p e n s a r q u e n s p o d e m o s r e c e b e r essas o n d a s , condens-las, canaliz-las, traduzi-las, express-las, dan-las o u escrev-las" ( C o r n e a u , 2 0 0 7 , p- I 4 4 ) Assim, do mesmo m o d o que para aprender a desenhar deve-se a p r e n d e r a ver, para escrever necessrio, sobretudo e m literatura, pensar p o r imagens,

p r e p a r a r m e l h o r que n i n g u m , da sobremesa n o d o m i n g o t a r d e , d a p i p o c a n o c i n e m a , das f r u t a s f u r t a das d o p , e m b e b i d a s d e a v e n t u r a s , d o s cafs-da-ma-

nh apaixonados, q u a n d o t u d o m u d a de sabor? A h ! E o s c h e i r o s q u e r e m e x e m as l e m b r a n a s . . . O

o d o r c o m u n i c a - s e d i r e t a m e n t e c o m o sistema l m b i co c e n t r o a t i v a d o r da m e m r i a e das e m o e s . D e s p e r t a o passado e e s t i m u l a a i m a g i n a o . P o r isso t a n tos escritores u t i l i z a m o olfato para criar e d a r v i d a s i n t r i g a s . O s s e n t i d o s se r e l a c i o n a m e n o s d e v o l v e m m u i t o s personagens

e x t r a i r delas o u t r a s i m a g e n s e o texto q u e t r a z e m e m si. R e q u e r interiorizao da experincia sensvel, o b servao m i n u c i o s a do m u n d o real e d o m u n d o t r a n s m i t i d o pela p r p r i a cultura. A um sensibilidade auditiva p r i m o r d i a l . Ouvir

significados. O o l h a r de descoberta que vira encantamento. V o l t a r a se interessar pelas coisas simples.

ato biolgico

e escutar,

u m ato consciente

que

i m p l i c a i n t e n o de c o m p r e e n d e r .

Ouvir com aten-

Aguar a curiosidade. Estreitar o relacionamento c o m a realidade p o r m e i o de u m a observao p r i m o r o s a . P e r c e b e r o q u e a c o n t e c e d e n t r o e ao r e d o r . P e r m a n e c e r a t e n t o a q u a l q u e r e s t m u l o q u e possa disparar o processo criativo: u m a conversa, u m a i m a -

o cada solicitao, queixa, interjeio, m u r m r i o e z u m b i d o ; a e n t o n a o n i c a , a cada m o m e n t o rente; receber, difeos

d e o l h o s a r r e g a l a d o s , as h i s t r i a s ,

relatos e testemunhos. E x e r c i t a r - s e a s e n t i r t u d o q u e se t o c a : a roupa

gem, u m refro, u m pensamento,

uma leitura,

uma

m a c i a , o t o q u e suave d a seda e a aspereza d a l i x a . A s m o s e n t r e l a a d a s e o c a l o r e n t r e elas. O f r i o n a b a r r i g a e o v e n t o g e l a d o . T o c a r os c a c h o s d o c a b e l o e a fruta madura; o pontiagudo do espinho e a delicadeza d o a l g o d o ; o s o l a q u e c e n d o v r o s e as p g i n a s d o t e m p o . A h ! E o paladar... O que dizer do sabor i n d e s c r i tvel da m a n g a , d o p o i t a l i a n o b a n h a d o n o azeite, das o c o r p o . T o c a r os l i -

p a l a v r a . S o l a m p e j o s : u m a s e n s a o se a s s o c i a a o u tra, que remete a u m a terceira, e assim p o r d i a n t e . T u d o i n t e r e s s a n t e : gestos, sapatos, dentes silncios, odores e cores. O s d i a s , s v e z e s , se p a r e c e m u n s c o m o s o u t r o s . G o m o s e r i a s a i r d e u m c a t i v e i r o d e p o i s d e f i c a r s c e gas durante um ms? Certamente, notaramos as cerrados,

n u a n a s a z u i s d o c u ; r e i n v e n t a r a m o s as t a r e f a s a n t e s

54

55

RENATA D I N I Z O

EsCBITA

CBIATIVA

EKAZER

DA

LINOUAOEU

e n f a d o n h a s ; as r e l a e s g a n h a r i a m o t o q u e p e s s o a l e os a l i m e n t o s , m a i s s a b o r . O c a m i n h o da p a m o n h a ,

por

u m instante. O u t r o exemplo recorrente o que ficam ensimesmados no

dos

executivos

escritrio.

e m vez d e i n c o m o d a r , l e m b r a r i a as a v s . E a v s t r a zem esperana, contam histrias...

Q u a n d o o trabalho no rende, imprescindvel perg u n t a r - s e d e q u e m a n e i r a se p o d e c o n t r i b u i r p a r a f a zer a f l o r a r a i n t u i o .

O caminho da inspirao
M A N T E R ACESO O CALDEIRO DA CRIATIVIDADE tarefa p r i m o r d i a l de t o d o e s c r i t o r e de q u e m oferecer essa a quiser pri-

As

vezes,

decido

me

aprofundar em

um

tema.

D u r a n t e dias a f i o , m e u n i c o f o c o d e s v e n d a r o assunto, embebendo-me em leituras especficas. Mas

t a m b m p r e c i s o d e o x i g n i o e das l e i t u r a s d e

fico.

respostas i n o v a d o r a s c o m a g i l i d a d e . O

S e m p r e m e s u r p r e e n d o : as r e s p o s t a s e s t o n o s l u g a res m a i s i m p r o v v e i s e m u m r o m a n c e , n a conversa

m e i r o passo i m p r e g n a r - s e , t o r n a r - s e o b c e c a d o p e l o p r o b l e m a . Esgotar o assunto, e m b e b e n d o - s e de t u d o que possa oferecer contedo. Ampliar o leque da

i n f o r m a l c o m u m c l i e n t e , n o b a t e - p a p o c o m os a m i gos, n o s i l n c i o . . . Meu subconsciente, i n t e i r a d o de m i n h a necessida-

pesquisa. Farejar e m outras reas, b i s b i l h o t a r autores q u e v o c a d m i r a . Ser exaustivo e m i n u c i o s o . Acontece, n o e n t a n t o , d e as l e i t u r a s n o darem

d e , c o n t i n u a a t r a b a l h a r . D o u a ele e s t m u l o s e t e m p o suficiente para colaborar c o m m e u consciente. N a p r t i c a c o m o d i z T i m b a l - D u c l a u x , d e v e m o s estar a t e n t o s s p e q u e n a s l u f a d a s d e i n s p i r a o q u e atravessam

f r u t o a l g u m e, d e r e p e n t e , u m f i l m e , u m descontrado

momento

o u u m a n i c a palavra a b r i r e m novas Por

janelas de e n t e n d i m e n t o o u de p u r a i n s p i r a o .

nossa cabea e a n o t - l a s r a p i d a m e n t e , p o r q u e , de a c o r d o c o m ele, " t o d a ideia n o v a n o a n o t a d a e m 2 0 se-

isso i m p o r t a n t e , i g u a l m e n t e , c e r t o d i s t a n c i a m e n to. no " A i n t u i o , f o n t e de p e r c e p o , v e m at v o c , se s a b e d e onde, justamente E voc quando ser no est

g u n d o s desaparece" ( T i m b a l - D u c l a u x , 1997a. p- 5 6 ) . C o n f e s s o : a e n x u r r a d a das m e l h o r e s i d e i a s pode

pensando a

naquilo.

precisa

receptivo e Ray,

m e a s s o l a r a q u a l q u e r m o m e n t o . M u i t o s insights a c o n tecem q u a n d o estou compenetradssima preparando nada en-

essa p o s s i b i l i d a d e "

(Goleman,

Kaufman

1998, p. 4 2 ) . Pense e m u m v e s t i b u l a n d o o u e m u m d o u t o r a n do que permanece 2 4 horas p o r dia debruado sobre

o a l m o o . A s vezes, basta o u v i r u m r e l a t o q u e tenha a ver c o m o trabalho. O resultado sempre

c o r a j a d o r : v o l t o r e v i g o r a d a . T o d a vez q u e m e d i s t a n cio, r e t o m o a escrita c o m u m a clareza i m p r e s s i o n a n -

l i v r o s e a n o t a e s , f e c h a d o e m si m e s m o , s e m r e l a x a r

56

57

RENATA D I N I 7 0

ESCRITA CRIATIVA - O PRAZER DA LINGUACEU

t e . O t e x t o f l u i o u t r a v e z . C r u z o as i n f o r m a e s , xergo a desordem e v i s l u m b r o u m a nova Algumas

en-

iiii, f u r t a - n o s u m sorriso. Debruada n o teclado, c|uco de q u e m est d o o u t r o l a d o , e s p e r a n d o (Ir m i m .

esalgo

ordenao. quando

pessoas l i b e r a m a c r i a t i v i d a d e

esto d i r i g i n d o na estrada. O u t r a s p r e f e r e m u m a boa leitura o u u m b a n h o t r a n q u i l o , sem pensar e m nada. H a i n d a aquelas que precisam de m o v i m e n t o s v i g o rosos o u repetitivos. Sem falar nas q u e funcionam

Recebo m u i t a s respostas assim: " O k ! " M i n h a av ~ q u e e m paz descansa d i r i a q u e u m a c h a r a d a . O

"estilo ok" que no diz nada. O u , ento, s i n t o - m e i n v a d i d a p o r glossrios exaustivos d o l i x o eletrnico.

s o m e n t e sob presso. O r e s u l t a d o a d m i r v e l . Gerenciar os r e c u r s o s criativos. T e m p o para o

U m s e m - f i m de imagens de M a r i a o u J o o , desaparecidos o u aflitos p o r u m t r a b a l h o . Confusos, b e m o s g e r e n c i a r a caixa de e - m a i l s . P o r parece que c r i a m o s u m m o n s t r o . . . A comunicao r e t r a t a nossa p r o f u n d a crise de no sa-

devaneio, para a criana, para o prazer. Instantes de trgua Tempo e meditao. de Tempo de sonhar e realizar. real e o

momentos,

escrever para t r a n s i t a r e n t r e o entre ns mesmos e o

imaginrio,

mundo.

Nada

valores. E, j u s t a m e n t e , p o r m e i o da l i n g u a g e m , i m p r i m i m o s nosso legado. O m e u e o seu nossas h i s t r i a s . Que testemunho, ser?

c o m o u m a dose, cadenciada e constante, de o e transpirao...

inspira-

c o m u n i c a d o r voc quer

Falta-nos regular c o m qualidades e discernimento

O pulo do gato
Ao
L O N G O D O M E U LIVRO

nossa trajetria, nossa escrita. Italo Calvino deixou u m a obra n o m n i m o A eucao do querer, reitero a conduta, pecudis-

l i a r Seis propostas para o prximo mir\io , e m q u e

mesma pergunta: que vida voc quer ter? A

c o r r e s o b r e as v i r t u d e s q u e d e v e m n o r t e a r t a n t o a l i t e r a t u r a q u a n t o a nossa e x i s t n c i a . Para ele, u m a das

assentada e m valores e p r i n c p i o s , l e g i t i m a o p r p r i o q u e r e r . E p r e c i s o se d a r u m a c h a n c e p a r a a s a t i s f a o real. O q u a n t o voc q u e r escrever? Quando me comunico, deparo com o querer Pe-

f u n e s e x i s t e n c i a i s d a l i t e r a t u r a a busca da leveza c o m o r e a o ao peso de v i v e r . P e r m i t o - m e d i z e r q u e essa m x i m a t a m b m v l i d a para q u a l q u e r f u n o da escrita. ( N a d a m a i s gostoso d o que receber u m e - m a i l c o m u m a palavra m gica q u e desconcerta a seriedade da n e u r o s e coletiva.) C a l v i n o associa a leveza " p r e c i s o e d e t e r m i n a o ,

alheio. H sempre u m e - m a i l que no respondi.

d i d o s negados sem sequer r e f l e t i r . Respostas atravessadas, m i n h a s o u d o s o u t r o s . E o e s p a n t o d o " s i m " e d a q u e l a n i c a palavra q u e , e m m e i o pressa c o t i d i a -

58

59

RENATA D I N I Z O

n u n c a ao q u e vago o u a l e a t r i o "

(2006,

p. 28).

Enfatiza que a escrita guarda t a n t o de realidade q u a n t o de i m a g i n a o , experincia e fantasia. do, por meio da matria verbal, Expressando

a diversidade

m u n d o d e f o r m a c o n h e c i d a e, a o m e s m o t e m p o , i n verossmil, diversa.

I g u a l m e n t e diversa a trajetria das palavras, os m o t i v o s e valores q u e as nortearo.

60

Workshop Escrita Criativa

A
ta

PROPOSTA

A SEGUIR

tem

O objetivo

de

expor

m i n h a p r t i c a e os m t o d o s q u e u t i l i z o d u r a n -

te os w o r k s h o p s de E s c r i t a C r i a t i v a . U m e s p a o p a r a desmistificar a escrita, antes considerada um dom

apenas d o escritor. E necessrio, c o n t u d o , trar-se n o processo.

concen-

Escrever para descobrir e c o m -

p r e e n d e r o que escrever. V o c s c o n h e c e a escriescrevendo. O workshop, portanto, transforma-se em u m l u gar de m u i t a s reflexes. O d o pedestal e engajar-se aprendizagem. O facilitador precisa descer da

na r e l a o q u e vai a l m

f o c o n o o saber, mas o sujeito

e seu d e s e n v o l v i m e n t o , seu p e n s a m e n t o , sua p a l a v r a , sua v i v n c i a . C r i a r u m estado d e e x p r e s s i v i d a d e e l e g i t i m i d a d e da p r p r i a e x p r e s s o . Coordenadas b e m precisas exercitam a fluncia

das i d e i a s d i r e t a m e n t e n o p a p e l . A r e s t r i o t e m e f e i t o de d e s b l o q u e i o . O m e r g u l h o na l i n g u a g e m desn u d a p o s s i b i l i t a e n c o n t r a r u m elo pessoal e r e c o n -

RENATA Dt Nizo

E S C U T A CRIATIVA - O PRAZER DA LINOUAOEM

c i l i a r - s e c o m a e s c r i t a , m o v e r os n s e d e s v e l a r u m lxico pessoal que refora a i n t u i o . As tcnicas de c r i a t i v i d a d e d e s a f i a m a e n c o n t r a r s o l u e s r a p i d a m e n t e . Elas s u r p r e e n d e m . V o c quece o c o n t e d o e se c o n c e n t r a no plano es-

r e s i s t n c i a n a t u r a l , os j u l g a m e n t o s , o d i l o g o no

inter-

d e d e s i s t n c i a , o s c o n t r a t e m p o s e as c r i a t i v a s j u s o

tificativas que o i n c i t a m a deixar a atividade para dia seguinte. Se persistir, no entanto, no

apenas

ldico. puro

s e r capaz d e a m p l i a r seus l i m i t e s c o m o

desfrutar

N a d a d e j u l g a m e n t o s s o b r e os t e x t o s , e s i m o prazer de constatar que f o r a m escritos.

d e m l t i p l o s b e n e f c i o s , t o r n a n d o essa a t i v i d a d e u m vcio prazeroso.

D e s c o b r i r q u e possvel escrever sem a angstia d e a t i n g i r u m o b j e t i v o . E s c r e v e r com e p o r p r a z e r . Essa dimenso d o prazer facilita a expresso divertir-se c o m a linguagem, contar histrias, dizer-se... na.

Desenvolver a escrita t a m b m exige a u t o d i s c i p l i Mas c u i d a d o : acima de t u d o , r e q u e r a tnue c o n precisa dos

j u n o d e t r e i n o e p r a z e r . Isso m e s m o : v o c

s e n t i r satisfao de escrever, i n d e p e n d e n t e m e n t e

O w o r k s h o p u m lugar de troca, de c o m p a r t i l h a r a escrita. O n d e , p o r excelncia, aflora a inteligncia i n t u i t i v a q u e p o d e i n v e n t a r seu p r p r i o t e r r i t r i o .

resultados. O que i m p o r t a , de incio, p r o d u z i r textos c o m o e x e r c c i o da i m a g i n a o , s e m n e n h u m t i p o d e e x i g n c i a . P e s c a r as i d e i a s s o r r a t e i r a s q u e i n v a d e m a m e n t e . Estabelecer u m a relao de encantamento \

A autodisciplina
A HABILIDADE DE ESCREVER assm c o m o tantas outras r e q u e r , antes de t u d o , dedicao e azeitadas pelo gosto do trabalho perseverana palavras. treise

c o m as p a l a v r a s .

[Meu

av] falava por meio de provrbios, conhecia

cente-

nas de contos populares e recitava longos poemas de cor. Aquele homem formidvel deu-me o dom da disciplina e o amor pela linguagem, sem os quais no poderia hoje dedicar-me a escrever. (Allende, 3 0 0 3 , p. 5a)

com

A p r e n d e r a l g o n o v o leva t e m p o . C o m p r e e n d e no e prtica, at q u e uma nova rede

neuronal

e s t a b e l e a . O c r e b r o se a c o s t u m a a u m p a d r o e r e luta e m aceitar o n o v o . A plasticidade cerebral, enC o m o veremos mais adiante, m i n h a proposta que sejam dedicados d i a r i a m e n t e de c i n c o a vinte m i n u t o s p a r a e s c r e v e r u m t e x t o . E n t r e t a n t o , as p e s s o a s incorporar camia q u e p a r t i c i p a m dos w o r k s h o p s de Escrita C r i a t i v a d e sistem, e m geral, na p r i m e i r a o u na segunda semana.

tretanto, garante que possvel r e f o r m a t a r e a m p l i a r sua a r q u i t e t u r a . Se v o c d e s e j a , p o r e x e m p l o ,

n h a d a s dirias e m seu c o t i d i a n o , ter de d r i b l a r

65

R i N A T A Dl

NIZO

EsCXITA O l A T t V A - O

PKAZEB D A U N Q U A O I U

"Outras coisas me absorveram." "No tive tempo, no deu mesmo." "No comeo foi bem legal, mas depois acabei largando."

O t e x t o se d e s e n v o l v e r . H q u e m a f i r m e q u e u m b o m p l a n e j a m e n t o p e r m i t e e c o n o m i a de t e m p o . v r i a s t c n i c a s d e e s t r u t u r a o . Se v o c n o Existem

conseguir

d e c i d i r p o r qual o p t a r , u m a sugesto bastante simples O exerccio c o t i d i a n o a n i c a g a r a n t i a p a r a escrever c o m fluncia. De fato, q u e m almeja desenvolver mesmo sem pretenso de a se e n u m e r a r d u a s listas c o m a r g u m e n t o s : os p r s e os contras. O u t r a possibilidade categorizar o material, demarcando uma to, meia dzia de ttulos. A i n d a possvel,

c o m p e t n c i a da e s c r i t a ,

t r a n s f o r m a r e m e s c r i t o r , necessita de t r e i n o . com

Concordo

vez d e l i m i t a d o o a s s u n t o , f i x a r o o b j e t i v o d o t e x ordenando o desenvolvimento do trabalho. O s mapas m e n t a i s (ver p . I I 3 - I I 5 ) , p o r sua o vez,

a escritora n o r t e - a m e r i c a n a F r a n c i n e Prose q u a n -

d o d i z : " A p r e n d e m o s a escrever c o m a prtica, o t r a b a l h o r d u o , a r e p e t i o d e t e n t a t i v a s e e r r o s , o sucesso e o f r a c a s s o e c o m os l i v r o s q u e a d m i r a m o s " ( 2 0 0 8 , p . 15)so

menos

lineares.

Eles r e p r e s e n t a m

funcionade infor-

m e n t o m e n t a l e as r e d e s d e a r m a z e n a g e m

m a o . S o teis p a r a d e f i n i r u m p l a n o de ao eficaz

Conhecer-se para estabelecer um mtodo


R E S T A SABER DE Q U E MANEIRA c a d a u m v a i a g e n c i a r , de

e criativo. Voc comea c o m u m a nica

palavra-chave acrescenta

inscrita d e n t r o de u m crculo; a seguir,

o u t r a s p a l a v r a s a s s o c i a d a s a esse t e r m o c e n t r a l , l i g a d a s a ele p o r u m a l i n h a . d e ideias Em conectadas. comum, como se v e r mais adiante, tanto Desse m o d o , c r i a - s e u m a rede

m o d o n i c o e p e c u l i a r , suas a p t i d e s . O i m p o r t a n t e e n c o n t r a r u m m t o d o q u e possa f a v o r e c - l o . H a q u e l e s q u e e s c r e v e m c o m o se f o s s e m atrope(nunes-

lados pelas ideias. A v e n t u r a m - s e s e m g a r a n t i a s ca s a b e m a o n d e o t e x t o o s l e v a r ) . Q u a n t o

q u e m prefere planejar quanto q u e m prefere deixar o texto acontecer necessita, c o m raras excees, t r a b a nica garantia para

mais

c r e v e m , m a i s q u e r e m e s c r e v e r . P e r m i t e m o j o r r a r das i d e i a s e, s o m e n t e a p s d e i x - l a s d e c a n t a r , a e s t r u t u r a d o t e x t o . N a h o r a da e d i o , descobrem corrigem

lhar o processo de edio c o m o atingir bons As resultados. adquiridas

competncias

podem

estimular

desvios de rota, c o m p l e m e n t a m , e n x u g a m , c h e c a m a clareza e a c o e r n c i a . Outros, ao contrrio, preferem trabalhar me-

a a p r e n d i z a g e m da escrita. A l m disso, t a m b m i n f l u e n c i a m d i r e t a m e n t e as p r e f e r n c i a s e, p o r t a n t o , a e s c o l h a das t c n i c a s e d o m t o d o m a i s a d e q u a d o cada p e r f i l . a

diante u m planejamento e u m a estrutura sobre a qual

66

67

RENATA D l Nizo

E s C B I T A CRIATIVA - O PRAZER DA LINOUAOIU

C o m o p r i m e i r a c o n d i o , q u a l q u e r p e s s o a se e n volve c o m m a i o r intensidade q u a n d o u m a atividade g i r a e m t o r n o de temas de seu interesse. A s s i m , p o r e x e m p l o , se v o c g o s t a d e m s i c a e se h a b i t u a a l e r poesia, o texto ganha e m ritmo. que

crever! Alm da primeira leitura prazerosa. recomendvel uma segunda para prestar ateno na construo do texto.

i m c u s t M C i A L a i c * - n f f u i A f i c A : aprende por mero de classificaes, padres lgicos, categorizaes e relaes abstratas. a inteligncia dos cientistas, utilizada para resolver problemas de lgica e matemtica. Representa o modo de pensamento necessrio edio (segunda etapa da escrita), que checa a clareza e a objetividade do texto. Conresponde tambm habilidade de planejar um texto eficaz. Deve-se ter o cuidado de planejar sem permitir que o lado lgico iniba o processo criativo (primeira etapa da escrita). Uma boa prtica o estilo jornalstico - direto. claPD e preciso -. que deve responder a seis questes bsicas: quem? o qu? onde? quando? como? porqu? Outro exemplo o texto

R e c o n h e c e r as p r e f e r n c i a s e os r e c u r s o s d e

j se d i s p e u m b o m c o m e o p a r a c o n d u z i r a a p r e n dizagem de m o d o consciente e d e c i d i d o . A seguir, p r i m e i r o u m a definio resumida c o m base nas o b r a s de H o w a r d G a r d n e r dos t i p o s d e i n teligncia; d e p o i s , m i n h a i n t e r p r e t a o de c o m o cada t i p o p o d e favorecer a prtica da escrita.

Quadro das inteligncias e prtica da escrita


i i m u c C i i c i A u i i a # l S T i c * t aprende melhor visualizando palavras, ouvindo e falando. a capacidade de usar palavras de forma oral ou escrita. Inclui a habilidade do uso da sintaxe, da fontica e da semntica, bem como os usos pragmticos da linguagem (a retrica, a explicao, a metalinguagem, entre outros). a inteligncia dos escritores e poetas, dos bons redatores e daqueles que tm mais facilidade para escrever Utilizam ambos os hemisfrios do crebro. Pode ocorrer de a pessoa gostar de falar, mas no de escrever Nesse caso, se for um bom ouvinte de histrias, recomendvel intenessar-se pela construo das frases, pelo simples prazer das palavras. Ler em voz alta altamente estimulante. Um dirio, s vezes, serve de inspirao. H quem se utilize de gravador para registrar ideias. Normalmente, so pessoas que gostam de ler - sem dvida o maior incentivo para es-

dissertativo. que envolve fato. opinio, hiptese e argumentao.

MTcuatMCiA ciiicsTtMc*-ciiP*iiiu:

aprende melhor por meio

de sensaes corporais, movimento, toque e atividades fsicas. O corpo instrumento para expressar ideias e sentimentos, para resolver problemas ou fabricar um produto. a inteligncia dos esportistas, artesos, cirurgies e bailarinos. Para quem quer escrever, uma boa dica exercitar o corpo antes. Propiciar pequenas pausas regularmente. Manter um dilogo permanente com o prprio corpo e com as sensaes. Evitar longos perodos diante do microcomputador Investigar temas de interesse para ler e escrever, um pouquinho cada vez. Tudo com prazer claro! ...-.v.-.

iHTCuatMCiA H m c A L ^ aprende, sobretudo, por meio do ritmo, da melodia e da msica. Sua maior capacidade est em perceber discrimi-

68

69

RENATA D I N I Z O

E a C B l T A CRIATIVA - O PRAZER DA LINOUAOEU

nar e expressar formas musicais. a inteligncia dos cantores, compositores e bailarinos. Lembre-se: toda nota musical tem uma cor e um cheiro, pode representar uma palavra e assim por diante. Pode-se utilizar a habilidade auditiva como elemento motivador para escrever. Alis, uma boa fomna de estimular a presena do ritmo em nossos textos ouvir msica (prestando ateno nas letras e no ritmo), ler poesias (curtindo as imagens, os sentimentos, o som das palavras...). Enfim, escutar o mundo. Experimente escrever ouvindo uma msica apropriada ou compondo a letra de alguma cano. A facilidade auditiva enriquece a construo de textos ritmados e harmoniosos.

dores, polticos, professores ou terapeutas. Ajuda quem escreve a ter em conta o leitor; a pensar no pblico-alvo para encontrar a fon-na adequada de se fazer entender Motiva a partilhar o que se sabe. Significa ter mais facilidade para preocupar-se com a eficcia da mensagem que deve ser lida e compreendida pelos outros. O desafio enfrentar a tarefa solitria de escrever

i i m u c t H C i * I N T M M S S M I L : aprende melhor sozinho, respeitando seu ritmo de trabalho. Percebe o mundo interior, identificando emoes, pensamentos e metas. Permite entender a si mesmo. Pode adaptar sua maneira de agir com base no autoconhecimento, na au-

i m u t M C M n M i c i J i L t aprende imaginando formas e cores. E capaz de achar o caminho e determinar as direes do espao, percebendo as relaes visuoespaciais - tanto as frontais, maneira do escultor quanto as mais amplas, como faz o piloto ao dirigir o avio. a inteligncia dos marinheiros, dos escultores, dos arquitetos. dos decoradores. Ao saber formar um modelo mental do mundo em trs dimenses, as pessoas podem explorar e descrever cenrios mais dinmicos. As intervenes visuoespaciais ajudam o leitor a se situar com imagens ricas em detalhes. O desafio equilibrar o texto (sem abusar de descries), usando representaes visuais e estimulando continuamente o leitor. Uma boa aventura desenhar com as palavras (caligramas).

tocompreenso, na auto-estima e na autodisciplina - to essenciais ao desenvolvimento da aptido lingijstica. Sugestes: anotar os sonhos logo ao despertar e cultivar o hbito de registrar as sensaes e as observaes dirias.

i H T E u a C i i c i A N j m u u m M t aprende melhor em contato com a natureza. E a capacidade de distinguir e classificar objetos, animais, plantas. Compreende os ambientes rural e urbano. Inclui as habilidades de observao, experimentao, reflexo e questionamento do entorno. a inteligncia dos botnicos, ecologistas, paisagistas, entre outros. Uma boa dica comear escrevendo sobre o que observa na natureza para. em seguida, diversificar os cenrios, aquecendo o mago da criatividade.

i M T C u a t N C M i N T E i m s s A A L : aprende melhor se relacionando. Per-

cebe a motivao, a necessidade e os sentimentos dos demais. Ao compreend-los, sabe como lidar com eles, identificando a maneira adequa. da de lider-los. segui-los ou trat-los. a inteligncia dos bons vende-

O u t r o p o n t o i n t e r e s s a n t e : os a p r e n d i z e s t t e i s cinestsicos (fsicos) a p r e n d e m m e l h o r e m atividade e m o v i m e n t o ; os a p r e n d i z e s v i s u a i s p r e f e r e m , s o b r e -

70

71

RENATA D I N I Z O

ESCRITA CRIATIVA - O PRAZER DA LINGUAGEM

t u d o , i l u s t r a e s o u l e i t u r a ; os a p r e n d i z e s a u d i t i v o s , p o r sua vez, o p t a m p e l a m s i c a e p e l a c o n v e r s a . E n t o , p a r a os p r i m e i r o s , o m o v i m e n t o ( d a r u m a v o l t a , fazer u m alongamento ou alguma atividade fsica) mesmo

eles a t u a m e i n t e r a g e m n o a t o de escrever. Isso p o r que a escrita solicita t a n t o a imaginao (hemisfrio (hemisf-

d i r e i t o ) q u a n t o a clareza e a o b j e t i v i d a d e rio esquerdo). O lado esquerdo do crebro

pode abrir espao para iniciar u m texto. D o

essencialmente

m o d o , os a p r e n d i z e s v i s u a i s p o d e m e x p l o r a r a t c n i ca d a i m a g e m ( v e r e x e r c c i o 9 , p . I 1 7 ) . a s s i m c o m o auditivos, cio
I O ,

v e r b a l usa p a l a v r a s p a r a n o m e a r , d e s c r e v e r e d e f i n i r . A n a l t i c o , decifra de m a n e i r a sequencial e por

os

uma 118).

histria

sonorizada

(ver

exerc-

p a r t e s . R a c i o n a l , e x t r a i c o n c l u s e s baseadas n a r a z o e nos dados. Lgico, opera e m u m a o r d e m a r g u m e n -

p.

Uma

pessoa m a i s i n t r o s p e c t i v a p o d e (ver exerccio

preferir

tativa, matemtica. L i n e a r , u m p e n s a m e n t o outro. E m s u m a , sua f u n o primordial

segue o

tcnica da m e m r i a

23 p - I 2 4 ) '

en-

traduzir

q u a n t o a l g u m r a c i o n a l v a i se s e n t i r m a i s c o n f o r t v e l c o m a l g i c a f a n t s t i c a ( v e r e x e r c c i o 17. p . I 2 l ) . A l gica fantstica ajuda a e n c o n t r a r p a r m e t r o s racionais enquanto estimula a flexibilidade e a imaginao. Isso n o s i g n i f i c a q u e seja r e c o m e n d v e l f a z e r as m e s m a s coisas s e m p r e da m e s m a m a n e i r a . M a s i m p r e s c i n d v e l l e v a r e m c o n t a suas t e n d n c i a s n a t u r a i s . Recomenda-se, principalmente, e m u m primeiro m o m e n t o , c o n c e n t r a r os e s f o r o s d e m o d o a d e s p e r t a r o gosto pela palavra.

toda percepo e m representaes lgicas e c o m u n i c-las de m o d o lgico-analtico. domnio

S u a c o m p e t n c i a se e x e r c e s o b r e t o d o o

da l i n g u a g e m (gramtica, sintaxe e s e m n t i c a ) , d o p e n s a m e n t o , da l e i t u r a , da escrita, da aritmtica, d o c l c u l o e da c o m u n i c a o d i g i t a l . Responsvel pelo b o m senso, p r e t e n d e nos i m p e d i r de c o m e t e r famoso desva-

r i o s . E , c o m o se c u m p r i s s e a f u n o d e a d v o g a d o d o d i a b o , e s t s e m p r e e s p r e i t a c o m suas e x i g n c i a s e s u a viso r a c i o n a l . A n t e s de c o n t i n u a r , p r o p o n h o u m a pausa. O que

A diviso e a complementaridade cerebral


A
FIM D E M E L H O R E N T E N D E R O

u m b o m texto? E m u i t o provvel que o leitor tenha pensado e m u m texto objetivo, claro, b e m articulado.

processo da escrita,

S i g n i f i c a m a n e j a r palavras de m a n e i r a r a c i o n a l , c o n c a t e n a r i d e i a s c o m c l a r e z a . O u seja: usar o l a d o es-

interessante identificar, ainda que de f o r m a sucinta, as f u n e s o u h a b i l i d a d e s d e c a d a h e m i s f r i o b r a l . L o g o a seguir, ser possvel c o m p r e e n d e r cerecomo

q u e r d o d o c r e b r o , m o r a d a da lgica e d o crtico i n t e r n o . E m termos prticos, o crtico i n t e r n o b e m

72

73

Você também pode gostar