Neoplasia, Cancer, Fisiopatologia Do
Neoplasia, Cancer, Fisiopatologia Do
Neoplasia, Cancer, Fisiopatologia Do
Certos vírus de ADN do grupo herpes e papiloma, bem como vírus de ácido ribonucléico
(ARN) do tipo C, foram também implicados como agentes produtores de câncer em animais, po-
dendo ser igualmente responsáveis por alguns cânceres no homem.
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Oncogênese física
Fisiopatologia do câncer – Capítulo 2
A radiação ultravioleta natural, proveniente do sol, pode causar câncer de pele. Há que se
considerar dois tipos de RUV: os RUV-A (320-400 nm) e RUV-B (280-320 nm). Os RUV-B são car-
cinogênicos e sua ocorrência tem aumentado muito com a destruição da camada de ozônio. Por
sua vez, os RUV-A não sofrem influência da camada de ozônio e causam câncer de pele em quem
se expõe a doses altas e por um longo período de tempo.
Dois mecanismos podem estar envolvidos na indução do câncer por raios ultravioleta: le-
são do ADN pela formação de dímeros de pirimidina e imunossupressão.
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Radiação ionizante
Oncogênese química
A segunda etapa (promoção) estimula o crescimento da célula que sofreu mutação, e pode
acontecer a qualquer momento, após a transformação celular inicial. Os fatores de promoção po-
dem ser agentes químicos (p. ex. asbesto), processo inflamatório, hormônios, fatores que atu-
am no crescimento celular normal. É importante destacar que o agente promotor não tem ação
mutagênica nem carcinogênica e que, para conseguir efeito biológico, deve persistir no ambien-
te. Isto significa que seus efeitos revertem-se, caso a exposição a ele seja suspensa, sendo esta a
grande diferença existente, entre ele e o agente carcinogênico, decisiva para as ações preventi-
vas do câncer.
Oncogênese biológica
Diversos vírus de ADN e de ARN produzem cânceres em animais, e alguns foram implicados
na gênese do câncer humano. Entre os vírus de ADN, encontram-se os do Papilomavírus humano
(HPV), de Epstein-Barr (EBV) e o da hepatite B (HBV).
‹ A Situação do câncer no Brasil
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Os vírus de ARN (retrovírus) se relacionam mais raramente com o câncer humano. O único
comprovadamente oncogênico é o retrovírus HTLV 1, responsável pela leucemia/linfoma da célu-
la T do adulto e pelo linfoma cutâneo de célula T.
Os vírus agem pela incorporação do seu ADN (ou, no caso dos retrovírus, do ADN trans-
crito de seu ARN pela enzima transcriptase reversa) ao da célula hospedeira, que passa a ser utili-
zada para a produção de novos vírus. Durante este processo, ou mesmo anos após ele, pode ha-
ver a inativação de anti-oncogenes celulares pelas proteínas virais (dando-se a imortalização da
célula pela inibição da apoptose) ou a ativação de proto-oncogenes humanos ou virais (que esti-
mulam a replicação celular). Diversos estudos demonstram que apenas essas alterações genômi-
cas, isoladamente, não são capazes de induzir a transformação maligna de uma célula. Para que
esta aconteça, são necessárias mutações adicionais, muito facilitadas pelas freqüentes mitoses
que ocorrem nas células infectadas.
Oncogenes
Ciclo celular
A vida da célula compreende uma seqüência de eventos, cujo modelo é chamado ciclo ce-
lular, e tem cinco fases: G1, S, G2, M e GO (figura 30). A duração de cada fase é variável até mes-
mo nas células sob reprodução controlada, mas os processos ocorridos no interior das células são
iguais para todas elas.
FA
SE
(AD
SE
CICLO
N)
AD N - F A
MITOSE
E DE
TE S
t
M
SÍN
N)
FASE G 1 2 (AD
n
M: Mitose
Fase G2: Pré - mitótica Go
Fase G1: Pós - mitótica
Fase S: Síntese de ADN
t: Variação de tempo
Fase G1
Nesta fase, há a preparação para a síntese de ADN, mediante a mobilização de bases púricas
e pirimídicas, fosfatos e riboses, para a síntese dos nucleotídeos, e de aminoácidos, para a síntese
de proteínas, inclusive de enzimas. Tanto a síntese de ARN como a de proteínas são indispensáveis
para que a célula passe de G1 para a fase seguinte. A fase G1 precede à síntese, daí ser chama-
‹ A Situação do câncer no Brasil
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da pré-sintética. Células que apresentam baixo índice de duplicação apresentam uma duração de
G1 longa, correspondente à G0, aí persistindo (células como as do sistema nervoso) ou voltando
à G1, quando necessário (células do fígado, por exemplo, quando em processo de regeneração).
Células como as da pele, das mucosas e da medula óssea, como apresentam-se em constante di-
visão, têm G1 muito curto, podendo-se dizer que o seu ciclo não inclui a fase G0.
Fase S
Nesta fase, uma proteína desencadeante é produzida para fazer a interação entre o ADN e
a enzima duplicase de ADN; ocorrendo esta reação, ele é inteiramente duplicado.
Fase G2
Fase M
Fase G0
A duração do ciclo celular da maioria das células humanas normais é de 24 a 48 horas, en-
quanto que das células dos tumores malignos humanos mais comuns é de 72 a 120 horas.
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Crescimento tecidual
Quanto menor o tumor, maior a sua fração proliferativa, portanto mais sensível será aos
medicamentos antiblásticos (quimioterapia) e às radiações ionizantes (Radioterapia).
Os tecidos normais que apresentam alta fração de crescimento são os que sofrem a ação
da quimio e radioterapia, neles concentrado-se os efeitos colaterais agudos desses tratamentos
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Imunologia tumoral
Por intermédio de uma complexa rede de interações, que envolve diversas populações celu-
lares e uma miríade de moléculas solúveis, o sistema imunológico é capaz de reconhecer ameaças
internas e externas, reagindo de forma a eliminar, neutralizar ou tolerar alterações da homeosta-
se orgânica. Para isto, várias subpopulações de linfócitos passam por um sofisticado processo de
seleção e diferenciação, no qual a capacidade de auto-reconhecimento é desenvolvida e faz com
que as eventuais alterações do meio molecular interno, perturbando ou modificando esta conec-
tividade funcional, resultem em respostas biológicas capazes de adaptar o organismo, dentro dos
seus limites de funcionamento harmônico e coerente.
As moléculas estranhas que modificam a rede de interações habituais, seja pela invasão do
meio interno por um microorganismo ou uma substância química, ou pela modificação das molé-
culas normais, podem ser reconhecidas pelos linfócitos, desencadeando uma resposta imunológi-
ca. Esta capacidade de reconhecer moléculas estranhas (antígenos - Ag) confere ao sistema imu-
nológico a possibilidade de exercer uma vigilância sobre a integridade do meio interno.
membrana dos linfócitos, que interagem com os antígenos na superfície das células-alvo. As cé-
lulas apresentadoras de antígenos constituem uma população especializada no processamento e
apresentação de antígenos, que, uma vez interiorizados, são expressos na membrana, em conjun-
to com moléculas classe II do complexo de histocompatibilidade maior (MHC). Os linfócitos ca-
pazes de reconhecer esta configuração (Ag + MHC classe II) pertencem à classe de linfócitos au-
xiliares (helper), e caracterizam-se pela presença da molécula CD4 em sua membrana. Uma vez
efetuado o reconhecimento do antígeno, esta classe de linfócitos CD4+ ativa-se, prolifera e se-
creta uma série de citocinas que são capazes de ativar outras populações celulares.
Os linfócitos da classe citotóxica (CD8+), embora sejam também capazes de reconhecer an-
tígenos apresentados em células-alvo, em conjunto com moléculas da classe I do MHC, depen-
dem, para sua ativação e proliferação, de citocinas elaboradas e secretadas pelos linfócitos auxi-
liares (CD4+).
Seu potencial citotóxico dirigido contra antígenos tumorais constitui um dos principais
mecanismos efetivos na imunidade antitumoral e tem sido explorado em vários estudos que se
encontram em andamento. A figura 32 mostra um esquema destas interações celulares.
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Linfócitos T citotóxicos (CD8) são capazes de reconhecer antígenos expressos nas células
tumorais em conjunto com moléculas da classe I do MHC, mas, para tornarem-se ativados e exer-
cerem citotoxicidade, necessitam de citocinas produzidas pelos linfócitos auxiliares (CD4). Para
Não parece evidente que estes anticorpos possam desempenhar um papel protetor con-
tra o crescimento tumoral, in vivo. O potencial para a destruição de células tumorais intermedia-
da por anticorpos tem sido fartamente demonstrado in vitro, sendo atribuído à ativação do com-
plemento ou à citotoxicidade celular dependente de anticorpo, na qual macrófagos, ou células
Natural Killer, ligando-se ao anticorpo, intermediariam a lise da célula tumoral.
Células Natural Killer podem exercer atividade citotóxica espontânea ou estimulada con-
tra células tumorais. Embora utilizem os mesmos mecanismos líticos que os linfócitos citotóxicos
(CD4+) para destruir células-alvo, as células Natural Killer não expressam receptores para antí-
genos (TCR) e exercem sua atividade citotóxica independentemente de moléculas do MHC. A na-
tureza das moléculas reconhecidas por estas células na superfície de células tumorais ainda não
é conhecida.
Outro aspecto importante das células Natural Killer é a expressão em sua membrana de re-
ceptores para a porção Fc de IgG. Desse modo, estas células podem ser atraídas para células tu-
‹ A Situação do câncer no Brasil
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morais, cujos antígenos estejam ligados à IgG, promovendo, então, uma citotoxicidade depen-
dente de anticorpo (ADCC).
Além disso, a capacidade tumoricida das células Natural Killer pode ser ampliada por cito-
cinas, incluindo-se a interferona, IL-2 e fator de necrose tumoral (TNF). Na realidade, há um gran-
de interesse prático no papel de células Natural Killer ativadas por IL-2, que se transformam em
células LAK (lymphokine-activated killer) e exibem uma capacidade citotóxica muito ampliada e
podem ser usadas para a lise de células tumorais.
Os tumores malignos apresentam duas propriedades peculiares: invasão dos tecidos cir-
cunvizinhos e comprometimento a distância (metástase).
A metástase é definida como o comprometimento a distância por uma parte do tumor que
não guarda relação direta com o foco primário. A disseminação tumoral é um processo comple-
xo e não de todo esclarecido, que pode ser dividido em cinco etapas: 1) invasão e infiltração de
tecidos subjacentes por células tumorais, dada a permeação de pequenos vasos linfáticos e san
güíneos; 2) liberação na circulação de células neoplásicas, tanto isoladas como na forma de pe-
quenos êmbolos; 3) sobrevivência dessas células na circulação; 4) sua retenção nos leitos capi-
lares de órgãos distantes; 5) seu extravasamento dos vasos linfáticos ou sangüíneos, seguido do
crescimento das células tumorais disseminadas.
Ao longo de todo esse processo, fatores mecânicos e imunológicos devem ser superados
para que as células neoplásicas consigam implantar-se em um novo órgão e terem crescimento
autônomo em relação ao tumor primário. A figura 33 resume os eventos relacionados aos meca-
nismos da disseminação tumoral.
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e aí crescem e disseminam-se. Na prática, as cavidades mais afetadas são a peritoneal e
a pleural, porém a pericárdica, subaracnóidea e articular podem também ser atingidas.
Por um tempo não determinado, é possível que os linfonodos consigam impedir a dissemi-
nação das células tumorais, pois, chegando aos linfonodos, elas entram em contato com células
do sistema imunológico e, então, podem ser destruídas. De outra forma, se resistirem e encontra-
rem condições vitais favoráveis, poderão multiplicar-se.
Fisiopatologia do câncer – Capítulo 2
Em todo o organismo, os órgãos que mais são comprometidos por esse tipo de dissemina-
ção são, obviamente, os mais vascularizados: pulmão e fígado, em parte por receberem, respecti-
vamente, grande volume de sangue procedente das circulações cava e porta, ossos e cérebro.
Padrões de localização
Em relação à escolha dos órgãos-alvo, sabe-se que a distribuição das metástases é variá-
vel, e depende principalmente do tipo histológico e da localização do tumor primário. De fato, a
localização mais comum de metástases de vários tipos histológicos é o primeiro leito capilar que
as células encontram. Exemplos são o câncer de pulmão metastatizando para o sistema nervoso
central e o câncer de cólon para o fígado. Entretanto, locais específicos parecem ser preferidos
pelas células tumorais circulantes, como no caso do câncer de próstata para ossos. Isto demons-
tra um processo de íntima correlação entre célula tumoral e órgão-alvo, denominado tropismo
seletivo.
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A metástase deve ser vista como um novo tumor, diferente do primário, com ampla auto-
nomia para crescimento e propagação. Uma compreensão mais abrangente sobre a patogênese
da disseminação do câncer provavelmente resultará em mudanças significativas no tratamento.
Neoplasia e tromboembolismo
Existe uma forte associação entre câncer e tromboembolismo venoso. A neoplasia pode in-
duzir à hipercoagulabilidade sangüínea. Estudos recentes mostram evidência genética para a li-
gação entre ativação de oncogenes e trombose. A ativação da cascata de coagulação ocorre fre-
qüentemente em pacientes portadores de neoplasia. As células neoplásicas promovem a ativação
da coagulação sangüínea através de diversos mecanismos: liberação de substâncias procoagulan-
tes; desenvolvendo atividade fibrinolítica e proagregante; liberando citocinas proinflamatórias e
proangiogênicas; e atuando diretamente no endotélio vascular e nas células sangüíneas, promo-
vendo a adesão entre as células através de moléculas de adesão.
Estudos diversos apontam para a associação entre doença neoplásica avançada e maior
risco trombótico, como também um prognóstico mais reservado desse grupo de pacientes.
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Classificação e nomenclatura dos
tumores
No estudo das neoplasias, a primeira dificuldade enfrentada é a sua definição, pois ela se
baseia nos aspectos descritos da morfologia e biologia do processo. Como alguns desses aspectos
vêm se modificando à medida que os conhecimentos evoluem, também as definições se modifi-
cam. Hoje, define-se a neoplasia como sendo “uma proliferação anormal de tecido que foge par-
cial ou totalmente ao controle do organismo, tendendo à autonomia e à perpetuação, com efei-
Fisiopatologia do câncer – Capítulo 2
Várias classificações foram propostas para as neoplasias. A classificação mais utilizada leva
em consideração dois aspectos básicos: o comportamento biológico e a histogênese.
Os critérios que permitem estabelecer com segurança o diagnóstico são, na maioria dos ca-
sos, morfológicos:
As alterações anaplásicas são mais evidenciadas nos núcleos das células, caracterizando-
se pelo pleomorfismo nuclear, com variação de forma, tamanho e cromatismo, assim como pelas
modificações da relação núcleo/citoplasma, pela proeminência dos nucléolos e pelo espessamen-
to da membrana nuclear.
Figura 34 – Aspecto microscópico de um leiomioma uterino (HE x100). Em maior aumento, no canto inferior esquerdo, células
sem atipias ou necrose (HE x400)
‹ A Situação do câncer no Brasil
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Fonte: Fabio Carvalho - DIPAT/HCI/COAS/INCA (arquivo pessoal).
Fisiopatologia do câncer – Capítulo 2
Figura 35 – Aspecto microscópico de um leiomiossarcoma uterino (HE x400), mostrando células com pleomorfismo e mitose
atípica
Fonte: Fabio Carvalho - DIPAT/HCI/COAS/INCA (arquivo pessoal)
Nos tumores benignos, as figuras de mitose são raras e todas têm aspecto típico. Já no
caso dos tumores malignos, as figuras de mitose são vistas em maior número e podem ter aspec-
to atípico.
Os antígenos tumorais vêm sendo utilizados no diagnóstico de alguns tipos de câncer. Por
exemplo, sabe-se que, no caso do câncer hepático, as células malignas voltam a produzir antíge-
nos fetais (alfafetoproteína), que normalmente não são produzidos pelos hepatócitos.
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• Metástases - Os tumores malignos têm capacidade de invasão e disseminação,
o que resulta na produção das metástases, principal característica do câncer. A metás-
tase constitui o crescimento neoplásico secundário, a distância, sem continuidade com o
foco primitivo.
Figura 35 - Etapas da evolução do ovo e origem dos tecidos a partir do embrião tridérmico
Fonte: INCA (2002, p. 73)
‹ A Situação do câncer no Brasil
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Tumor benigno
O tumor benigno pode apresentar mais de uma linhagem celular e, neste caso, recebe via
de regra o nome dos tecidos que o compõem, acrescido do sufixo “oma”.
Exemplos:
- Tumor benigno do tecido cartilaginoso – condroma.
- Tumor benigno do tecido gorduroso – lipoma.
- Tumor benigno do tecido glandular – adenoma.
Tumor maligno
Quanto aos tumores malignos, é necessário considerar a origem embrionária dos tecidos de
que deriva o tumor, para se poder aplicar as regras de nomenclatura.
Os tumores malignos originados dos epitélios de revestimento externo e interno são de-
nominados carcinomas. Quando o epitélio de origem for glandular, passam a ser chamados
Fisiopatologia do câncer – Capítulo 2
adenocarcinomas.
Exemplos:
- Carcinoma basocelular da face.
- Adenocarcinoma de ovário.
O nome dos tumores malignos originários dos tecidos conjuntivos (mesenquimais) é for-
mado pelo nome do tecido mais a determinação sarcoma.
Exemplos:
- Tumor maligno do tecido cartilaginoso – condrossarcoma.
- Tumor maligno do tecido gorduroso – lipossarcoma.
- Tumor maligno do tecido muscular liso – leiomiossarcoma.
- Tumor maligno do tecido muscular estriado – rabdomiossarcoma.
Exceções
Por este critério, são classificados os tumores originados de células blásticas, que ocorrem
mais freqüentemente na infância. São os chamados blastomas, como, por exemplo, hepatoblas-
toma, nefroblastoma, neuroblastoma, retinoblastoma e osteoblastoma.
São classificados também sob este critério os tumores originados de células primitivas toti-
potentes que antecedem o embrião tridérmico. Eles são agrupados em quatro principais tipos: te-
ratomas, seminomas, coriocarcinomas e carcinoma de células embrionárias. Os teratomas podem
ser tumores benignos ou malignos, dependendo do seu grau de diferenciação. Quando benignos,
mostram 100% de células diferenciadas, principalmente de pele e anexos (cistos dermóides).
Uso de epônimos
Há tumores cuja nomenclatura utiliza o nome dos cientistas que os descreveram pela pri-
meira vez, ou porque sua origem demorou a ser esclarecida ou porque os nomes ficaram consa-
grados pelo uso. São exemplos: o linfoma de Burkitt, o sarcoma de Ewing, o sarcoma de Kaposi,
Morfologia tumoral
Exemplos:
- Cistoadenocarcinoma papilífero.
- Adenocarcinoma mucinoso.
- Carcinoma ductal infiltrante.
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teliais e glandulares malignos. Será um adenoacantoma quando somente a linhagem glandu-
lar for maligna, mas apresentar áreas de metaplasia escamosa. Tumores como o melanoma e os
linfomas podem receber o adjetivo “maligno”, apesar de não possuírem a variante benigna. Isto
ocorre devido à confusão que sua terminação -oma faz com a nomenclatura de tumor benigno.
Fonte: INCA
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Graduação e estadiamento
dos tumores malignos
A evolução do tumor maligno inclui várias fases, que dependem, em grande parte, da ve-
locidade do crescimento tumoral, do órgão-sede do tumor, de fatores constitucionais do hospe-
deiro, de fatores ambientais etc.
Os tumores podem ser detectados nas fases microscópica, pré-clínica ou clínica. A histó-
ria biológica de alguns tumores permite que eles sejam previstos quando ainda a lesão esteja na
fase pré-neoplásica.
As ações preventivas na área da saúde podem, se bem orientadas, imprimir uma profun-
da modificação na evolução natural dos tumores, levando a diagnósticos precoces que permitem
não só aplicar o tratamento nas fases iniciais das lesões, assim como - o que é mais importante -
tratar as lesões pré-neoplásicas e, com isso, evitar o aparecimento do tumor.
As etapas seqüenciais das neoplasias epiteliais que surgem em epitélio escamoso, como,
• Carcinoma invasor - é assim definido quando se verifica a infiltração, com invasão mais
profunda dos tecidos adjacentes.
Essa seqüência, no entanto, não é suficiente para permitir uma avaliação mais completa da
evolução da lesão. Métodos que possam definir a rapidez do crescimento e a presença ou não de
metástases são necessários à avaliação do prognóstico e tratamento a ser instituído.
Graduação
A graduação histológica dos tumores baseia-se na diferenciação citológica das células tu-
morais e no número de mitoses. A diferenciação se deduz da maior ou menor semelhança das cé-
lulas neoplásicas com as do tecido normal que se presume tenha dado origem ao tumor. O núme-
ro de mitoses se exprime pelo número encontrado em, pelo menos, dez campos microscópicos de
grande aumento. Como o grau de diferenciação pode variar de uma área para outra, há a possi-
bilidade de que o grau seja diferente de uma amostra para outra de um mesmo tumor.
‹ A Situação do câncer no Brasil
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Além disso, alguns tumores podem modificar este grau, à medida que evoluem, geral-
mente tornando-se menos diferenciados com o passar do tempo. Utilizam-se três graus descri-
tivos de diferenciação: bem diferenciado, moderadamente diferenciado e pouco diferenciado.
As implicações clínicas dos graus de diferenciação se traduzem na maior rapidez de crescimen-
to dos tumores menos diferenciados em relação aos mais diferenciados de mesmas histogênese
e localização.
Estadiamento
Verifica-se que, apesar da sua variedade, os tumores malignos seguem um curso biológico
mais ou menos comum a todos eles, que se inicia pelo crescimento e invasão local, segue pela in-
vasão dos órgãos vizinhos e termina com a disseminação regional e sistêmica. Esta evidência le-
vou a União Internacional Contra o Câncer (UICC) a desenvolver um sistema de estadiamento dos
tumores que tem como base a avaliação da dimensão do tumor primário (T), a extensão da disse-
minação em linfonodos regionais (N) e a presença ou não de metástases a distância (M) - Sistema
TNM de Classificação dos Tumores Malignos. Na interpretação de cada fator são analisadas as di-
versas variações que, para o tumor primitivo, vão de T1 a T4, para o comprometimento linfático,
Fisiopatologia do câncer – Capítulo 2
Hoje, mais do que a graduação, o estadiamento clínico representa o mais importante meio
de que dispõe o oncologista para definir o prognóstico e a terapêutica dos pacientes.
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• Displasia - Este termo tem sido usado para definir processos patológicos diver-
sos. Como lesão pré-neoplásica, a displasia é considerada uma forma de proliferação ce-
lular que ocorre nas células epiteliais, caracterizada por perda de polaridade e alterações
de forma e tamanho, além da presença freqüente de mitoses (figura 37).
Figura 37 – Aspecto microscópico de: (A) epitélio escamoso normal do colo uterino (HE x400) e (B) epitélio escamoso com
neoplasia intra-epitelial cervical III (NIC III) (HE x400)
Fonte: Fabio Carvalho - DIPAT/HCI/COAS/INCA (arquivo pessoal)
Grande parte dos conceitos atualmente consolidados sobre displasia provém de estudos
feitos por acompanhamento das lesões observadas no colo uterino. Isto ocorre porque este órgão
oferece facilidade de observação e porque estas lesões ocorrem com freqüência nele. Verificou-se,
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por exemplo, que as displasias do colo podem atingir apenas o terço inferior ou profundo do epi-
télio escamoso (displasia leve) ou até dois terços da espessura desse epitélio (displasia modera-
da) ou, por fim, quase toda a espessura do epitélio, poupando apenas as células mais superficiais
(displasia acentuada). Estas alterações morfológicas podem ser seqüenciais e progressivas, como
também podem regredir. A progressão da lesão leva ao carcinoma in situ.
O acompanhamento dessas lesões mostra que são necessários, na maioria dos casos, cer-
ca de dez anos para que elas originem o carcinoma in situ e mais dez para que surja o cacinoma
invasor.
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