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MODELAO DO CRESCIMENTO URBANO

DA PROVNCIA DE LUANDA, ANGOLA


Agostinho Jos Joo Secuma
ii
iii




MODELAO DO CRESCIMENTO URBANO DA
PROVNCIA DE LUANDA, ANGOLA













Dissertao orientada por


Professor Doutor Pedro da Costa Brito Cabral






Junho de 2012













iv





MODELLING OF URBAN GROWTH OF THE LUANDA
PROVINCE, ANGOLA












Dissertation supervised by


Professor Doutor Pedro da Costa Brito Cabral







June, 2012




v
AGRADECIMENTOS

A DEUS o dono da vida, o Sbio dos Sbios os meus agradecimentos por me ter dado a
vida e criado as condies para absorver os conhecimentos necessrios e indispensveis
para fazer este trabalho.
A minha esposa Ana Maria Secuma pelo encorajamento e apoio que me deu em todas as
fases do projeto.
Aos meus filhos que apoiaram direta ou indiretamente, suportando as minhas ausncias
s vezes prolongadas em busca de conhecimentos para tornar este projeto possvel.
Ao Professor Doutor Pedro Cabral pela reconhecida competncia com que orientou este
Trabalho de Dissertao, que muitas vezes abdicou de outras atividades para dedicar
parte do seu tempo a transmitir as melhores prticas e ensinamentos para desenvolver
um trabalho desta ndole, com pacincia.
Ao colega de curso e de viagens Mestre Amrico da Mata que ao termos decido fazer o curso,
embarcamos no mesmo barco e desta forma nunca mais nos separmos. Sempre juntos, nas
aulas, no desenvolvimento dos trabalhos, nas apresentaes, enfim, uma grande companhia pelo
que o reservo especial agradecimento.
Ao Engenheiro Fernando Santos, Gestor da SINFIC, agradecimento especial pela
disponibilidade permanente em ajudar-me, foi atravs dele que consegui os shape files
dos limites e da diviso administrativas da provncia de Luanda.
Ao amigo Carlos Fonseca, agradecimento especial por ter ajudado bastante ao ministrar
o treinamento em IDRISI Taiga que me permitiu fazer o trabalho em condies mais
confortveis. No poderia esquecer os amigos Mestre Antnio Cosme e o Mestre Srgio
Prazeres que viabilizaram o referido treinamento.
Ao Professor Doutor Edson Piroli da UNESP, polo de Ourinhos que dedicou parte do
seu tempo para dar-me treinamento em IDRISI Taiga que muito valeram para esboar e
estruturar o trabalho.
Ao amigo Joo Canaria por ter estimulado o apetite em fazer este curso, agradecimentos
especiais.
No poderia terminar sem expressar os meus agradecimentos especiais aos meus
irmos escolhidos, os amigos Lus Valente e Gilberto Figueira por terem estado
sempre presentes e me encorajado o tempo todo, a eles digo: obrigado, muito obrigado!


vi
MODELAO DO CRESCIMENTO URBANO DA
PROVNCIA DE LUANDA, ANGOLA


RESUMO


Este trabalho visa fazer a modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda, no
perodo de 1993 a 2008, simular e estabelecer cenrios de desenvolvimento, a partir de
imagens Landsat 5 TM, utilizando um modelo de dados baseado em Redes Neuronais
Artificiais, o Land Change Modeler e o software IDRISI Taiga. Resultados da
simulao utilizando o LCM indicaram que a mancha urbana de Luanda ser de 1.472
Km
2
em 2040, contra os 1.114 Km
2
em 2008. Verificou-se tambm que no perodo em
anlise a rea urbana de Luanda cresceu 278,95%, passando de 293,87 Km
2
em 1993
para 1.113,62 Km
2
em 2008. Como era de esperar, enquanto cresceu a rea urbana, a
rea no urbana diminuiu em cerca de 61,68%, passando de 2.148,72 Km
2
em 1993 para
1.328,97 Km
2
em 2008. Estas informaes so importantes para gerir o planeamento da
cidade, proporcionando o crescimento ordenado da cidade de modo a evitar os
constrangimentos resultantes de um crescimento desordenado, como por exemplo, a
degradao das condies de salubridade, dificuldade de acessos por falta de
arruamentos, construo em lugares propensos a inundaes e desabamentos, trnsito
catico, ou seja, fenmenos que ocorrem hoje em Luanda.
Os resultados permitem concluir que o LCM constitui uma ferramenta potencial para
modelos de predio desde que os dados de entrada sejam cuidadosamente preparados.
















vii

MODELLING OF THE URBAN GROWTH OF
LUANDA PROVINCE, ANGOLA


ABSTRACT


This work aims to model the urban growth in the province of Luanda, in the period
1993 to 2008, to simulate and to establish development scenarios, from Landsat 5 TM
data using a modeling tool based on Artificial Neural Networks, the Land Change
Modeler and IDRISI Taiga software. Simulation results using LCM, indicate that the
urban area of Luanda will be 1.471,88 km
2
in 2040, against 1.113,62 km
2
in 2008. It
was also found that in the period under review, the urban area of Luanda grew 278,95%
from 293,87 km
2
in 1993 to 1.113,62 km
2
in 2008. As was expected, while the urban
area grew, the non-urban area decreased by about 61,68%, from 2.148,72 km
2
in 1993
to 1.328,97 km
2
in 2008. This information is important to manage the city plan,
providing ordered growth to avoid the constraints resulting from an uncontrolled
growth, such as the degradation of health conditions, difficult due to lack of access
roads, on building places prone to flooding and landslides, and chaotic traffic, all
phenomena occurring today in Luanda. The results show that LCM is a potential tool
for prediction models provided that the input data are carefully crafted.




















viii
PALAVRAS CHAVE



Deteo Remota

Imagens de Satlite

Sistemas de Informao Geogrfica

Modelao Espacial

Crescimento Urbano




KEYWORDS



Remote Sensing

Satellite Images

Geographic Information Systems

Spatial Modeling

Urban Growth
















ix
ACRNIMOS


AC Autmatos Celulares
BI Bareness Index
DR Dirio da Repblica
ERTS Earth Resources Technology Satellites
EUA Estados Unidos da amrica
GLCF Global Land Cover Facility
GPL Governo da Provncia de Luanda
IGCA Instituto Geogrfico e Cadastral de Angola
INE Instituto Nacional de Estatstica
INOTU Instituto Nacional de Ordenamento do Territrio Urbano
IPGUL Instituto de Planeamento e Gesto Urbana de Luanda
LATLONG Latitude, Longitude
LCM Land Change Modeler
LTM Land Transformation Model
LUCC Land Use Cover Change
MLP Multi Layer Perceptron
MSS Multispectral Scanner
NASA National Aeronautics and Space Administration
NCGIA - National Center for Geographic Information and Analysis
NDVI Normalized Difference Vegetation Index
PNUH Programa Nacional de Urbanismo e Habitao
RBV Return Beam Vidicon
RF Reservas Fundirias
RGB Red Green Blue
RNA Redes Neuronais Artificiais
SIG Sistemas de Informao Geogrfica
SLEUTH Slope, Land Use, Exclusion, Urban Extent, Transportation and
Hillshade
TM Thematic Mapper
UCSB University of California, Santa Barbara
UEA Unio de Escritores de Angola
UNACA Unio Nacional de Artistas e Compositores de Angola
UTM Universal Transversa de Mercator
WGS84 World Geodetic System 84







x
NDICE DO TEXTO

AGRADECIMENTOS ...................................................................................................................................
RESUMO ......................................................................................................................................................
ABSTRACT ...................................................................................................................................................
PALAVRAS-CHAVE ....................................................................................................................................
KEYWORDS .................................................................................................................................................
ACRNIMOS ................................................................................................................................................
NDICE DO TEXTO ......................................................................................................................................
NDICE DE TABELAS .................................................................................................................................
NDICE DE FIGURAS ..................................................................................................................................
CAPTULO I - INTRODUO ................................................................................................................. 1
1.1. ENQUADRAMENTO ........................................................................................................................ 1
1.2. OBJETIVOS .................................................................................................................................... 3
1.3. HIPTESES DE TRABALHO ............................................................................................................. 3
1.4. ESTRUTURA DA DISSERTAO ............................................................................................ 4
CAPTULO II - REA DE ESTUDO ........................................................................................................ 5
2.1. LOCALIZAO GEOGRFICA ............................................................................................... 5
2.2. ORIGEM E FUNDAO DA CIDADE DE LUANDA .............................................................. 6
2.3. EVOLUO DA POPULAO DE LUANDA ......................................................................... 6
2.4. HBITOS E COSTUMES DO LUANDENSES .......................................................................... 7
2.5. RELIGIO ................................................................................................................................... 8
2.6. INDICADORES SCIOECONMICOS DE LUANDA ............................................................ 9
2.7. QUALIDADE DE VIDA EM LUANDA ................................................................................... 10
2.8. RESERVAS FUNDIRIAS DE LUANDA ............................................................................... 11
2.9. PROGRAMA NACIONAL DE URBANISMO E HABITAO. CONSTRUO DE NOVAS
CENTRALIDADES EM LUANDA ............................................................................................. 12
CAPTULO III - MTODOS .................................................................................................................... 14
3.1. INTRODUO ............................................................................................................................... 14
3.2. DETEO REMOTA E MODELAO URBANA ................................................................. 16
3.3. MODELOS DE CRESCIMENTO URBANO ............................................................................ 17
3.3.1.- Modelo de extrapolao linear: o Geomod ........................................................................... 18
3.3.2. - Modelo de automtos celulares: o SLEUTH ....................................................................... 18
3.3.3. - Modelo de redes neuronais artificiais: o Land Change Modeler ........................................ 22
3.4. CONCLUSES .......................................................................................................................... 24


iv
v
vi
vii
vii
viii
ix
xi
xii
xi
CAPTULO IV - MODELAO DO CRESCIMENTO URBANO DE LUANDA ........................... 27
4.1. INTRODUO ............................................................................................................................... 27
4.2. DADOS, FONTES E CARACTERISTICAS ............................................................................. 27
4.3. METODOLOGIA ...................................................................................................................... 28
4.4. SELEO DAS IMAGENS DE SATLITE ............................................................................ 30
4.4.1.- Programa Landsat e caracteristicas das imagens ................................................................ 30
4.5. PR-PROCESSAMENTO ................................................................................................................ 33
4.5.1. - Composio colorida RGB ................................................................................................. 33
4.6. CLASSIFICAO DAS IMAGENS DE SATLITE ................................................................ 35
4.6.1. - A dimenso da amostra ...................................................................................................... 36
4.7. DERIVAO DOS MAPAS DO USO DO SOLO .................................................................... 39
4.7.1. - Avaliao da qualidade dos mapas ..................................................................................... 44
4.7.2. - Aperfeioamento dos mapas classificados ........47
4.7.3. - Delimitao das reas urbanas em 1993 ............................................................................ 48
4.7.4. - Delimitao das reas urbanas em 2000 ............................................................................ 49
4.7.5. - Delimitao das reas urbanas em 2008 ........................................................................... 51
4.8. ALTERAES NO USO DO SOLO ENTRE 1993 E 2000 ...................................................... 52
4.9. ALTERAES NO USO DO SOLO ENTRE 2000 E 2008 ...................................................... 53
4.10. SIMULAO DO CRESCIMENTO URBANO ....................................................................... 54
4.10.1. - Modelao da transio 1993 - 2000 ............................................................................... 54
4.10.2. - Simula do crescimento urbano para 2008 ................................................................... 58
4.10.3. - Validao do cenrio de crescimento urbano de 2008 .................................................... 59
4.10.4. - Simulaao do crescimento urbano para 2040 ............................................................... 61
4.11. IMPACTOS DO CRESCIMENTO URBANO DE LUANDA ................................................... 62
4.12. AVALIAO DO CRESCIMENTO URBANO NAS RESERVAS FUNDIRIAS ................ 64
4.13. RESULTADOS E CONCLUSES ........................................................................................... 66
CAPTULO V - CONSIDERAES FINAIS .......................................................................................... 68
5.1 COMENTRIOS ...................................................................................................................... 68
5.2 LIMITAES ............................................................................................................................ 69
5.3 RECOMENDAES ................................................................................................................. 69
REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS....................................................................................................... 70








xii
NDICE DE TABELAS

Tabela 4.1. Dados, fonte e caracteristicas ............................................................. 27
Tabela 4.2. Satlites do programa Landsat ............................................................ 30
Tabela 4.3. Caractersticas dos Landsat 1-2-3-4-5 ... 31
Tabela 4.4. Caracterstica e aplicaes das bandas do Landsat 5 .... 32
Tabela 4.5. Nomenclatura da classificao em trs nveis 35
Tabela 4.6. Matriz de confuso 45
Tabela 4.7. Qualidade da classificao associada a estatstica Kappa . 47
Tabela 4.8. Reclassificao para o clculo do ndice de Bareness . 48
Tabela 4.9. Impacto do crescimento urbano nas RF ... 65
Tabela 4.10. Quantificao do uso do solo de Luanda entre 1993 e 2008 ..... 67






















xiii
NDICE DE FIGURAS

Figura 2.1 Mapa da rea de estudo (provncia de Luanda) e mapa de Angola ....... 5

Figura 2.2 - Representao grfica da variao da populao de Luanda de 1985 a 2010.
Fonte INE de Angola .. 7

Figura 2.3 Reservas fundirias da provncia de Luanda .. .. 12

Figura 3.1 - Curvas de reflectncia do solo, gua, e vegetao. Adaptado de (Lillesand e
Kiefer, 2000) ...16

Figura 4.1 - Fluxograma do projeto ....29

Figura 4.2 - Bandas 4, 5, 3 da imagem Landsat 5 TM em tons de cinza e compsito
RGB453 de 1993, 2000 e 2008 ..34

Figura 4.3 Estatsticas da banda 3 do Landsat 5 TM de 2008 ... 38

Figura 4.4 - Calculo da dimenso da amostra atravs da ferramenta Sample Size
Calculator .. 38

Figura 4.5 Amostras de treino referentes as classificaes de 1993, 2000 e 2008
respetivamente ...... 41

Figura 4.6 Mapas do uso do solo de Luanda (nvel 1) referentes a 1993, 2000 e 2008
respetivamente ... 42

Figura 4.7 Mapas do uso do solo de Luanda (nvel 2) referentes a 1993, 2000 e 2008
respetivamente ... 43

Figura 4.8 - Mapa do uso do solo de Luanda em 1993 ..... 49

Figura 4.9 - Mapa do uso do solo de Luanda em 2000 .....50

Figura 4.10 - Mapa do uso do solo de Luanda em 2008 .. 51

Figura 4.11 Grfico de ganhos e perdas por classe entre 1993 e 2000 . 52

Figura 4.12 - Mapa de perdas e ganhos da classe no urbano e urbano respetivamente
entre 1993 e 2000 .. 52

Figura 4.13 - Grfico de ganhos e perdas por classe entre 2000 e 2008 ....... 53

Figura 4.14 - Mapa de perdas e ganhos da classe no urbano e urbano respetivamente
entre 2000 e 2008 .. 53

xiv
Figura 4.15 - Mapa que representa o potencial de transio da classe No Urbano a
Urbano entre 1993 e 2000 ............ 55

Figura 4.16 Mapa representativo das distncias zona urbana em 1993 ... 55

Figura 4.17 - Mapa representativo das distncias aos eixos rodovirios em 1993 .....56

Figura 4.18 - Indicadores da correlao e do poder preditivo das duas variveis ......56

Figura 4.19 - Vista da execuo do modelo de transio ...57

Figura 4.20 - Mapa que representa a previso do uso do solo em 2008 .... 59

Figura 4.21 - Matriz apresentada pelo algoritmo VALIDATE ..... 59

Figura 4.22 - Matriz completa apresentada pelo algoritmo VALIDATE ..... 60

Figura 4.23 - Mapa que representa o processo de validao da previso usando o painel
VALIDATION do LCM ... 61

Figura 4.24 - Mapa que representa a previso do uso do solo em 2040 .62

Figura 4.25 - Simulao urbana de 2040 e reservas fundirias ..66

Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

1

1. INTRODUO
1.1 Enquadramento
O conflito armado que assolou Angola durante mais de trinta anos, forou o
movimento acentuado das populaes procura de segurana e melhores condies
de vida nas zonas urbanas; facto que, associado forte dinmica do crescimento
populacional, se traduziu em fenmeno de ocupao desordenada das reas urbanas
e periurbanas das principais cidades.
Este fenmeno constitui a expresso mxima de um crescimento exponencial e no
programado do parque habitacional, marcado pela carncia generalizada das
infraestruturas urbanas e dos equipamentos sociais, com efeitos diretos sobre a
degradao dos nveis de salubridade e de qualidade de vida das populaes.
A este fenmeno, que assume especial incidncia na provncia de Luanda, associa-
se ainda um processo de informalizao crescente da economia urbana, indiciando a
tendncia para o empobrecimento das famlias.
A intensificao da guerra civil, verificada no interior de Angola a partir da dcada
de 70, causou muitas transformaes espaciais, decisivas no processo de
reestruturao da mancha urbana das cidades angolanas. Entre estas, o crescimento
da mancha urbana foi responsvel por novos eixos de crescimento, sem que os
governos locais conseguissem estabelecer uma ordem que organizasse a ocupao.
O desenvolvimento urbano quando ocorre de forma no controlada tende a
comprometer o desenvolvimento econmico. O controlo deste processo deve
orientar permanentemente a ao, tendo em conta a melhoria do desenvolvimento
urbano e socioeconmico (Zahn,1983).
Forster (1994) afirma que a deteo remota surge como uma tcnica alternativa e
bastante eficiente para avaliar o processo de crescimento do espao urbano. Esta
tcnica, aliada a outras, permite monitorar, alm do crescimento urbano, os
problemas ambientais decorrentes do processo de expanso urbana.
O estudo dos processos e padres da dinmica espacial urbana constitui atualmente
um desafio para a cincia. Conforme Polidori (2004), importantes esforos tm sido
empreendidos no campo terico da configurao urbana para melhorar a
compreenso sobre os mecanismos de produo e reproduo das cidades, tais
como as ideias vinculadas ao desenvolvimento desigual, auto-organizao e aos
estudos sobre sistemas complexos. A pesquisa contempornea sobre a modelao e
simulao do crescimento urbano ampla e diversificada envolvendo
conhecimento multidisciplinar. Por exemplo, Polidori (2004), num estudo para o
mesmo local, utiliza conceitos derivados da cincia do espao, modelos urbanos,
teorias de sistema e ecologia da paisagem, bem como a instrumentao propiciada
pela Teoria dos Grafos, dinmica de autmatos celulares, geocomputao e
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

2

Sistemas de Informao Geogrfica (SIG), para desenvolver o modelo de simulao
do crescimento urbano que integre fatores urbanos, naturais e institucionais.
O crescimento urbano tambm pode ser estudado atravs da integrao e
interpretao de dados sobre a evoluo temporal da mancha urbana e da sua
situao presente confrontado com os vazios urbanos, as condicionantes fsicas e a
legislao.
Para determinar os vetores de crescimento, Higashi (2006) afirma ser necessrio, no
mnimo, a caracterizao da mancha urbana em trs diferentes e significativos
perodos. Por indisponibilidade de imagens Landsat mais recentes da provncia de
Luanda, ser analisada neste trabalho a evoluo do crescimento urbano entre 1993
e 2008 e com base nos resultados obtidos simular o crescimento urbano da cidade
para os prximos anos.
A anlise da mancha urbana consiste em caracterizar as alteraes do uso e
ocupao do solo, aplicando as tcnicas de deteo remota e do geoprocessamento
para a elaborao dos mapas de uso do solo. A partir destes, sero definidas as
manchas urbanas e os eixos de crescimento urbano.
Os resultados deste trabalho sero confrontados com o Programa Nacional de
Urbanismo e Habitao (PNUH) aprovado pelo governo de Angola, relativamente
aos terrenos que constituem reservas fundirias (RF) da provncia de Luanda
destinados construo de novas infraestruturas, nomeadamente, o novo porto de
Luanda, a nova base naval, o novo estaleiro naval, o novo aeroporto de Luanda, a
cidade do Dande e outros terrenos reservados para a construo da cidade de
Cacuaco e da nova cidade de Luanda. Ser analisado se os eixos de crescimento da
provncia de Luanda determinados neste estudo apontam para essas reas.
Outro aspeto a ressaltar, o significativo custo da urbanizao da provncia de
Luanda, que envolve quase sempre a componente de realojamento de pessoas. No
passado, e ainda hoje se verifica, apesar de ser em menor grau, as autoridades
competentes assistiam impvidas construo de residncias sem qualquer
licenciamento ou autorizao, to grande era a presso das populaes para
conseguir um lugar para habitar no se importando em respeitar regras mnimas de
urbanizao e segurana. Assim, construiu-se um por pouco por todo lado, at
mesmo sobre as linhas de transporte das guas pluviais, tornando, hoje, a gesto da
cidade num problema socioeconmico e poltico. Uma das consequncias do
crescimento desordenado da cidade a dificuldade em servir gua potvel, energia
eltrica, redes tcnicas e transportes s populaes e graves problemas de
saneamento bsico. Para alterar este quadro o governo angolano aprovou o PNUH,
que para alm da construo de novos fogos habitacionais, visa o reordenamento do
territrio.
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

3

Por isso, importante avaliar as alteraes ocorridas na mancha urbana da
provncia de Luanda e definir cenrios de crescimento para os prximos anos como
contributo para esse programa, de modo a evitar que se repitam os erros do passado.

1.2 Objetivos
O objetivo central deste trabalho avaliar o crescimento urbano da provncia de
Luanda e traar cenrios de crescimento para os prximos anos usando um modelo
de alterao do uso do solo. Para se atingir este objetivo ser necessrio analisar a
alterao do uso do solo da cidade a partir de imagens de satlite, definir a mancha
urbana e os eixos de crescimento urbano da cidade.
Outro objetivo a confrontao dos resultados deste trabalho com as RF aprovadas
no mbito do PNUH.

1.3 Hipteses de trabalho
Podemos considerar como pressuposto que a cidade tem crescido de forma
desordenada e sem controlo de tal modo que as populaes tm construdo as suas
casas geralmente em reas inapropriadas, as chamadas zonas de risco e que
preciso dar rumo certo ao crescimento da cidade. Deste modo, a partir dos eixos de
crescimento da cidade e da mancha urbana atual possvel prever a tendncia de
crescimento da cidade, e isso servir de ferramenta para que as autoridades
competentes possam gerir melhor o espao da cidade e evitar musseques
1
na
cidade, que mais tarde ou mais cedo dificultam a construo de redes de
abastecimento de gua potvel e de energia eltrica, problemas no saneamento
bsico, inundaes, etc.
De forma resumida podemos formular as seguintes hipteses:
A Cidade de Luanda tem crescido a ritmo acelerado com planeamento
deficitrio.
Os eixos de crescimento urbano da cidade apontam para as RF definidas no
mbito do PNUH.
possvel prever como a cidade crescer nos prximos anos e isso pode
ajudar o governo de Angola na escolha e classificao dos terrenos para a
construo de habitaes e outras infraestruturas, promovendo o
desenvolvimento sustentvel equilibrado, planificado e controlado da
cidade.
________________________________
1
musseques so bairros suburbanos da cidade de Luanda ocupados por populao com menos
recursos (do quimbundo mu seke local arenoso)
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

4

1.4 Estrutura da dissertao
Este trabalho inicia-se com um captulo introdutrio que destaca os objetivos,
formulao de hipteses e a descrio da estrutura.
O segundo captulo dedicado a caracterizao da cidade de Luanda desde a sua
localizao geogrfica, origem e fundao da cidade, sua populao, hbitos e
costumes, indicadores socioeconmicos, problemas estruturais da cidade e
qualidade de vida dos luandenses. Este captulo termina com abordagem sobre o
PNUH do executivo angolano e as RF aprovadas para Luanda no mbito deste
programa.
No terceiro captulo faz-se a abordagem sobre a deteo remota aplicada a estudos
do crescimento urbano, so apresentados vrios modelos de crescimento urbano
com destaque para as Redes Neuronais Artificiais (RNA), que o modelo de dados
utilizado neste trabalho.
O quarto captulo o captulo chave do trabalho. Enquanto os captulos anteriores
fazem o enquadramento terico, necessrio para melhor compreender o que est a
ser desenvolvido, o quarto captulo constitui a parte prtica deste trabalho de
dissertao, onde de facto so utilizados os dados disponveis e processados no
software IDRISI Taiga. Ele comea com a apresentao e a descrio dos dados
utilizados, a metodologia seguida e o resumo das etapas do geoprocessamento
efetuado e que resultaram nos outputs que sero discutidos e analisados no quinto
captulo.
O quinto e ltimo captulo, destinado as consideraes finais sobre o trabalho,
sendo discutidos os resultados e apresentadas limitaes e recomendaes. Ser
tambm abordada a questo da convergncia entre a simulao do crescimento
urbano definido neste trabalho e as RF de Luanda, no mbito do PNUH aprovado
pelo executivo angolano.









Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

5

2. REA DE ESTUDO
2.1 Localizao geogrfica
Localizada na costa com o Oceano Atlntico e com 2,442.60 Km
2
de superfcie,
Luanda a capital da Repblica de Angola, situada geograficamente na latitude 8
50 00 Sul e longitude 13 14 00 Este (Figura 2.1). At h pouco tempo era
constituda por nove municpios, nomeadamente, Ingombota, Maianga, Samba,
Cazenga, Kilamba Kiaxi, Cacuaco, Sambizanga, Rangel e Viana (at Julho de
2011), porm, a nova diviso administrativa da cidade, recentemente aprovada
contempla sete municpios, nomeadamente, o municpio de Luanda, Viana,
Cazenga, Belas, Cacuaco, Icolo e Bengo e Quissama.


Figura 2.1. Mapa da rea de estudo (provncia de Luanda) e mapa de Angola

O clima tropical hmido, mas seco devido corrente fria de Benguela que
dificulta a condensao da humidade para produzir chuva. As temperaturas so
geralmente elevadas mesmo durante a noite, devido ao nevoeiro. A precipitao
mdia anual de 323 milmetros com variabilidade das mais altas do mundo, com
um coeficiente de variao de 40%. O curto perodo de chuvas de Fevereiro a
Abril depende de uma contracorrente hmida que vem do norte do pas. O relevo
ligeiramente acidentado e divide a cidade em duas partes, a parte baixa da
cidade com altitude prxima do nvel mdio do mar e a parte alta da cidade com
altitude superior, cerca de 300 a 400 metros.
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

6

A hidrografia caracterizada por ausncia de rios grandes na zona urbana da
cidade, mas vrios cursos de gua formam a rede de bacias pluviais de Luanda. Os
rios mais prximos so o Kuanza, o maior de Angola, e o rio Bengo.
A escolha de Luanda prende-se com diversos fatores de grande importncia: cidade
do pas que mais tem crescido; o peso de Luanda na economia nacional;
possibilidade de expanso urbana em grande escala; o territrio assistiu, entre 1980
e 2010, a uma presso urbanstica desmedida que se traduziu numa ocupao
irreversvel do solo mesmo em reas de risco a desastres naturais. Entre 1980 e
2010, a sua populao no deixou de crescer, ainda que em ritmos diferenciados. A
qualidade de vida tem baixado, contrariamente ao ascendente econmico que a
regio tem registado nos ltimos anos fruto do maior investimento que quase se
concentra em Luanda.

2.2 Origem e fundao da cidade de Luanda
O topnimo Luanda provm do termo lu-ndandu. O prefixo lu, primitivamente uma
das formas do plural nas lnguas bantu, comum nos nomes de zonas do litoral, de
bacias de rios ou de regies alagadas (exemplos, Lumbala-a-Nguimbo, Lucunga,
Lucapa, etc). Ndandu significa valor ou objeto de comrcio em aluso explorao
dos pequenos bzios colhidos na Ilha de Luanda e que constituam a moeda
corrente no antigo Reino do Congo, conhecido por zimbo ou njimbo.
Outra verso sobre a origem do nome refere que Luanda deriva de Axiluanda,
significa na lngua local homens do mar, nome dado pelos portugueses aos
habitantes da Ilha de Luanda, porque a chegados, perguntaram s pessoas
encontradas, o que estavam elas a fazer, tendo estas respondido wuanda, termo
que em kimbundo e kikongo significa rede de pesca ou de caa.
A cidade ganha nome atravs da sua ilha, a Ilha de Luanda, onde desembarcaram e
se radicaram os primeiros colonos portugueses. Naquela altura, a cidade chamava-
se So Paulo de Loanda.
Fundada em 1576 pelos portugueses sob o nome de So Paulo de Loanda, Luanda
a maior cidade e a capital de Angola.

2.3 Evoluo da populao de Luanda
Os habitantes de Luanda so maioritariamente membros dos grupos tnicos
Kimbundu, Ovimbundo e Bakongo, todavia, outros grupos tnicos habitam na
cidade. Existe uma minoria significativa de habitantes de outras origens, a destacar:
cidados europeus (maioritariamente portugueses), americanos (com destaque para
a comunidade brasileira) e asitica (principalmente chineses).
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

7

Nas ltimas dcadas a populao de Luanda aumentou exponencialmente como
consequncia do xodo massivo de populaes das zonas rurais para a capital
durante a Guerra Civil angolana. O resultado o crescimento acentuado,
desordenado e no controlado, o que tem provocado srios problemas desde a
escassez de habitaes, ao deficiente saneamento bsico, dfice no abastecimento
de gua e energia eltrica, insuficincia de estradas, desemprego e
consequentemente aumento dos ndices de pobreza.
Como se constata na tabela seguinte, a populao passou de 189.500 em 1960 para
475.328 em 1970, altura em que se realizou o ltimo censo populacional, e de
898.000 em 1983 para 5.000.000 em 2010, um aumento de 456% em 27 anos, ou
seja, um crescimento mdio anual de quase 17%, considerado recorde, comparado
com o crescimento populacional de outras cidades do mundo.


Figura 2.2 - Representao grfica da variao da populao de Luanda de 1985 a 2010. Fonte INE de
Angola (2004)



2.4 Hbitos e costumes dos luandenses
A sociedade luandense bastante heterognea como consequncia da origem
diversificada dos seus habitantes, tendo os hbitos e costumes influenciados pelas
migraes por um lado e pelo fenmeno da globalizao por outro. Nos primrdios
da sua existncia, os habitantes de Luanda dedicavam-se quase exclusivamente
pesca e os kimbundus eram o nico grupo tnico africano que vivia na cidade. Com
o trfico de escravos e mais tarde com a guerra pela independncia e a guerra civil
1,155,000
1,545,000
2,002,000
2,276,000
3,644,000
5,000,000
0
1,000,000
2,000,000
3,000,000
4,000,000
5,000,000
6,000,000
1985 1990 1995 2000 2005 2010
H
a
b
i
t
e
n
t
e
s
Populao de Luanda (1985 a 2010)
POPULA
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

8

angolana, populaes de outras origens de Angola comearam a povoar a cidade.
De forma geral, devido ao cruzamento de vrias culturas, os hbitos e costumes dos
luandenses no diferem muito dos hbitos e costumes dos restantes angolanos,
porm, contrariamente o que ocorre nas provncias, em Luanda a Autoridade
Tradicional
2
no se faz sentir e est raramente presente.
O portugus a nica lngua oficial de Angola, mas existem numerosos dialetos,
caractersticos de cada regio. A lngua com mais falantes em Luanda, depois do
portugus, o kimbundu.
Em Luanda, a dana distingue diversos gneros, significados, formas e contextos,
equilibrando a vertente recreativa com a sua condio de veculo de comunicao
religiosa, curativa, ritual e mesmo de interveno social. A presena constante da
dana no quotidiano produto de um contexto cultural apelativo para a
interiorizao de estruturas rtmicas desde cedo. Iniciando-se pelo estreito contacto
da criana com os movimentos da me (s costas da qual transportada), esta
ligao fortalecida atravs da participao dos jovens nas diferentes celebraes
sociais, onde a dana se revela determinante enquanto fator de integrao e
preservao da identidade cultural.
A msica outra forma de manifestao de identidade cultural. A maior parte dos
msicos angolanos desenvolve os seus trabalhos inspirados na vida quotidiana de
Luanda e aqui que encontram maior espao de projeo e sucesso. A literatura
outro campo da cultura que encontra em Luanda o espao representativo de todo o
pas. aqui que residem os artistas e compositores de renome, e fica sedeada a
Unio de Escritores de Angola (UEA), a Unio Nacional de Artistas e
Compositores de Angola (UNACA), entre outros.
Outra forma de manifestao cultural o Carnaval que no obstante ocorrer em
todo pas, realiza o ato central em Luanda.

2.5 Religio
A populao de Luanda maioritariamente catlica romana. Porm, o segmento
cristo de outras denominaes religiosas tem vindo a crescer nos ltimos anos,
como o caso da Igreja Metodista. A forte migrao de populaes de outras
regies do pas para Luanda, em razo da Guerra pela Independncia e
posteriormente da Guerra Civil angolana, reforou significativamente a presena da
Igreja Baptista em Luanda cuja principal base social se encontra entre os Bakongos,


_______________________________
2
Autoridade Tradicional tem a ver com o poder enraizado nos hbitos e costumes das comunidades,
tambm conhecido como direito consuetudinrio.
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

9

e da Igreja Congregacional de Angola enraizada significativamente entre os
Ovimbundos. H tambm uma forte presena de igrejas pentecostais, em particular
a Igreja Universal do Reino de Deus e muito recentemente a Igreja Mundial do
Poder de Deus. A comunidade islmica insignificante e quase exclusivamente
composta por imigrantes vindos de outros pases da Africa Ocidental.

2.6 Indicadores socioeconmicos de Luanda
Para alm de ser o centro poltico e administrativo do pas, Luanda tambm o
centro econmico. A presena das sedes das principais empresas do pas ilustra
bem esta realidade. As principais atividades econmicas so a indstria
transformadora e servios. Entre os produtos produzidos em Luanda, destacam-se
os produtos alimentares, bebidas, txteis, materiais de construo, produtos
plsticos, cigarros, etc. O petrleo refinado na nica refinaria do pas situada em
Luanda.
Aps o fim da guerra civil, Angola tem registado um franco perodo de crescimento
econmico, sendo hoje uma das economias que mais cresce a nvel mundial, com
reflexos positivos no desenvolvimento da provncia de Luanda.
Relativamente ao turismo, Luanda dos mais belos cartes-de-visita de Angola
com a sua marginal a exibir o contraste entre a beleza natural da Baa de Luanda e
os edifcios sua volta.
O sector da educao em Luanda registou progressos significativos desde o fim do
conflito armado, traduzidos no aumento de salas de aula e de professores do ensino
primrio e secundrio. O subsistema de ensino superior, que contava com apenas
uma universidade at antes do fim da guerra, conta hoje com 12 universidades e 4
institutos superiores, com um crescimento exponencial da populao estudantil.
No que toca ao sector da sade, foram construdas novas unidades hospitalares e
reabilitadas outras, foi aumentada e melhorada a assistncia mdica e
medicamentosa s populaes, houve melhoria significativa na reduo dos ndices
de salubridade atravs da melhoria do sistema de recolha de resduos slidos. A
distribuio de gua potvel, apesar de estar longe de satisfazer a demanda, tem
registado melhorias assinalveis. O sector da energia recebeu tambm fortes
investimentos nomeadamente na expanso da rede de mdia e baixa tenso, porm
muito ainda tem que ser feito para diminuir ou extinguir os constantes apages na
cidade.



Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

10

2.7 Qualidade de vida em Luanda
Uma das consequncias do crescimento no planificado das cidades a degradao
das condies de vida dos seus citadinos. A cidade de Luanda um exemplo dessa
realidade. Apesar do facto da qualidade de vida ser uma questo pessoal, isto ,
dependente da avaliao de cada indivduo ou grupo de indivduos, existem padres
universalmente aceites para caracterizar o bem-estar tendo em conta as vrias
dimenses do desenvolvimento social e humano.
Questes relacionadas com a assistncia mdica e medicamentosa, saneamento
bsico do meio, disponibilidade de gua potvel e energia eltrica, facilidade de
deslocar-se de e para casa, segurana das pessoas e bens, realizao scio
profissional e financeira, emprego, educao, cultura, habitao condigna, lazer,
enfim, morar bem ter o que cada um de ns considera como importante e
necessrio para o seu bem-estar. Atendendo a estes pressupostos, pode-se
considerar como baixa a qualidade de vida em Luanda.
Um dos principais objetivos que as polticas pblicas devem perseguir a busca da
qualidade de vida, isso no acontece na maioria dos pases subdesenvolvidos
devido geralmente a corrupo e a limitao das liberdades dos cidados. A
qualidade de vida deve ser aplicvel a qualquer pessoa independentemente da sua
condio fsica, social e ideolgica. Ela no deveria ser determinada pelas
condies ambientais nem pelo comportamento do meio social em que a pessoa
vive. Deveria sim, ser inerente ao indivduo, aos seus anseios mais pessoais. A
qualidade de vida algo que somente o prprio indivduo deve avaliar sem o
julgamento a partir de valores extra indivduo.
Em resumo, a qualidade de vida pode ser definida como a sensao de conforto ou
felicidade no desempenho de funes fsicas, intelectuais e psquicas dentro da
realidade que circunda cada indivduo. A avaliao da qualidade de vida tem em
conta vrias dimenses e se aplicam s mais diferentes condies de sade e
diversidade de aspetos da vida pessoal. Geralmente a avaliao da qualidade de
vida feita considerando pelo menos oito dimenses: o repouso, a mobilidade
fsica, a satisfao sexual, a presena ou ausncia de dor, o lazer, as funes
cognitivas, o emprego e os relacionamentos sociais.
Considerando estas dimenses, a qualidade de vida em Luanda est longe de
corresponder a tais dimenses, seno vejamos: grande parte dos habitantes no
dispe de gua potvel e energia eltrica, as pessoas levam entre quatro a seis horas
para se deslocarem de casa para o trabalho e vice-versa, s vezes as pessoas correm
srios riscos de verem a sua integridade fsica e moral ameaada por transportarem
um simples telemvel, o comrcio informal ainda o grande mercado que as
pessoas recorrem em Luanda, correndo o risco de adquirirem produtos expostos a
condies ambientais e higinicas inadequadas, as condies de salubridade na
maior parte das ruas de Luanda no so as melhores, sobretudo nas zonas
periurbanas, quando andamos em Luanda a p ou de carro podemos absorver
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

11

algumas quantidades de barro devido as poeiras que pairam no ar, a maioria dos
citadinos tm rendimentos que no chegam para suprir as necessidades bsicas e
isso cria frustrao e stresse s pessoas. Estes so apenas alguns exemplos que
demostram a precariedade da qualidade de vida em Luanda.

2.8 Reservas fundirias de Luanda
No mbito do seu Programa Geral, o governo de Angola decidiu implementar um
conjunto de investimentos pblicos estratgicos e estruturantes, com vista a
dinamizar o processo de melhoria da administrao do Estado, da economia e da
vida das populaes. Havendo necessidade de se constituir como reserva do estado
terrenos para a implementao dos referidos investimentos, incluindo as respetivas
proteo e expanso, foram aprovados vrios Decretos publicados no Dirio da
Repblica (DR) n 97 I Srie de 13 de Agosto de 2007.
O Decreto 63/07 aprova os terrenos para a construo da nova cidade de Cacuaco.
Com uma rea de 33,91 Km
2
a RF de Cacuaco ser utilizada para a edificao da
nova centralidade de Cacuaco.
A RF para a construo da nova cidade de Luanda foi aprovada pelo Decreto 65/07,
DR 97 I Srie, de 13 de Agosto de 2007 e ocupa uma rea de 1.253,81 Km
2
.
Nesta reserva est prevista a construo da nova cidade de Luanda que j deu
incio, com a construo das centralidades Projeto Nova Vida, o projeto
Talatona e a cidade do Kilamba recentemente inaugurada.
Outra RF aprovada pelo Executivo angolano destina-se ao desenvolvimento e
implementao do projeto de urbanizao de auto construo dirigida de Musseque
Capari, e foi aprovada pelo Decreto 64/07 do DR 97 I Srie de 13 de Agosto de
2007 ocupando uma rea de 23,16 Km
2
. A figura 2.3 mostra as trs RF da provncia
de Luanda. Um dos objetivos deste trabalho aferir se os eixos de crescimento
urbano da cidade apontam para as RF.
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

12


Figura 2.3. Reservas fundirias da provncia de Luanda

2.9 Programa Nacional de Urbanismo e Habitao. Construo de novas
centralidades em Luanda
O governo angolano est a implementar a estratgia global para o combate fome e
a reduo da pobreza no pas. Neste mbito, o lanamento do PNUH dever
contribuir sobremaneira na consecuo deste grande objetivo estratgico, tendo em
conta a sua capacidade de criao de oportunidades de acesso ao emprego para um
maior nmero de cidados, sobretudo nas zonas urbanas.
Sendo o acesso habitao uma condio fundamental para o exerccio da
cidadania, o governo angolano adotou a poltica do fomento habitacional que visa
garantir o direito universal habitao, a promoo da qualificao do territrio
nacional e o enquadramento da problemtica habitacional como componente
importante do processo de desenvolvimento social e econmico do territrio.
Considerando os grandes desafios de valorizao da componente habitacional e as
opes prioritrias da poltica social, o governo assumiu o compromisso de
promover a construo de 1.000.000 de unidades habitacionais em todo pas,
envolvendo os sectores pblicos e privado, as cooperativas e as comunidades
durante o perodo de 2009/2012.
No mbito deste programa, est previsto para a provncia de Luanda a construo
da Nova Cidade de Luanda, a cidade do Dande, a centralidade do Cacuaco, a
centralidade do Zango, a Urbanizao de Auto Construo dirigida de Musseque
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

13

Capari, o novo Porto de Luanda, a Base Naval e o Estaleiro Naval, entre outros
projetos.
O PNUH foi estruturado com base nos objetivos especficos prioritrios, e reflete
os principais anseios dos diversos estratos da sociedade angolana face
problemtica habitacional, com nfase no atendimento das famlias mais
vulnerveis e mais carenciadas socialmente tais como os antigos combatentes, os
jovens, as populaes que vivem em reas de risco, integrando maioritariamente as
classes de mdia e baixa renda.





















Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

14

3. MTODOS
3.1 Introduo
A disseminao crescente das metodologias de anlise espacial utilizando meios
informticos registada nos ltimos anos deu origem a nova rea de conhecimento,
que combina abordagens recorrentes dos SIG com outras emergentes como a
inteligncia artificial, algoritmos genticos, os sistemas periciais, anlise de dados
com incerteza fuzzy e Redes Neuronais Artificiais (RNA).
Da premente necessidade de catalogar esta nova rea interdisciplinar, para que no
fosse classificada como uma simples extenso das tcnicas estatsticas para anlise
de dados espaciais, nasceu a designao geocomputao. Proposta por Stan
Openshaw, esta designao tem granjeado uma crescente aceitao no meio, visto
permitir enquadrar no seio das tecnologias de informao geogrfica, um certo tipo
de investigao aplicada que recorre aos SIG como ferramenta, mas que,
simultaneamente, se afasta das solues comerciais (Goodchild e Longley, 1999).
Efetivamente, a geocomputao enquadra-se num conjunto de modelos e mtodos
computacionais adaptados soluo de problemas geogrficos de grande
complexidade (Couclelis, 1997). No se est face a uma simples utilizao do
computador como ferramenta, como era proposto nos primrdios, mas sim perante
o reconhecimento de que o computador j no faz parte dos meios de pesquisa,
sim - ele prprio - o meio (ambiente) da pesquisa (Goodchild e Longley, 1999).
Pode-se considerar que as investigaes no domnio da geocomputao tiveram
como motivao as seguintes razes: disponibilidade de grandes volumes de
informao e principalmente com a sua facilidade de circulao; a segunda razo
tem a ver com a emergncia da tecnologia SIG e um conjunto de tcnicas
decorrentes da algortmica e a terceira e ltima razo prende-se ao facto de que
processos de anlise espacial baseados em estatsticas espaciais, tm sido um tpico
fundamental da investigao geogrfica contempornea.
As alteraes que ocorrem no uso do solo so o resultado de fatores de natureza
poltica, socioeconmica, cultural, ambientais e do comportamento humano
(Houghton, 1994; Dale et al., 1993; Medley et al., 1995; Richards, 1990). O
entendimento da forma como tais fatores se relacionam e influenciam a ocorrncia
das mudanas no uso do solo no fcil uma vez que um processo de ndole
antropognica pode conduzir a uma vasta gama de impactos ambientais, desde a
alterao no ciclo hidrolgico (Steiner e Osterman, 1988), a alterao dos habitats
de diversas espcies (Dale e al, 1993) e na biodiversidade.
Estes impactos, apesar de preocupantes, no so nicos pois os efeitos resultantes
das alteraes do uso do solo no so apenas do foro ambiental, tambm podem
afetar as economias locais e regionais (Burchell, 1996).
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

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Os modelos de alteraes do uso do solo encontram utilidade como poderosa
ferramenta para:
- Explorar os vrios mecanismos que levam ocorrncia de alteraes de uso do
solo e identificar quais as variveis econmicas, sociais e espaciais que os
condicionam (Batty e Longley, 1994; Dekoning et al. 1999).
- Prever potenciais (futuros) impactos ambientais e socioeconmicos das
alteraes de uso do solo (Alig, 1986; Theobald, Miller e Hobbes, 1997).
- Avaliar a influncia de polticas de planeamento alternativas no uso do solo e
nos padres de desenvolvimento (Bockstael et al. 1995).
A projeo dos padres de uso do solo passvel de ser calculada atravs de dados
empricos, sendo os percursos genricos de mudana identificados como sequncias
de alteraes (Lambin, 1997).
Atualmente os estudos e pesquisas sobre modelao e simulao do crescimento
urbano so amplos e diversificados envolvendo vrios campos do conhecimento.
Luanda, cidade capital de Angola, situada no litoral, teve seu processo de
crescimento de forma acelerada e sem o devido planeamento, tendo registado seu
maior crescimento na dcada de 90, depois das primeiras eleies multipartidrias
que em vez de trazerem a paz fizeram despoletar o conflito armado mais violento
jamais ocorrido em Angola e qui em frica. A ocupao no poupou os
principais recursos naturais como os rios, as matas e o solo que ao longo de todos
esses anos tem gerado impactos negativos no meio ambiente. Para alterar este
quadro imperioso o conhecimento do espao luandense para planificar a melhor
maneira de intervir no seu habitat de modo a gerir melhor as informaes urbanas e
ambientais reduzindo desta forma o impacto negativo na natureza e
consequentemente melhorar a qualidade de vida das pessoas, buscando o mximo
possvel harmonizar o meio natural e meio urbano.
As geotecnologias representam um conjunto de tcnicas de grande valia para
aquisio, gesto e manipulao de dados espaciais. O desenvolvimento da deteo
remota tornou possvel fazer estudos de anlise espacial de forma rpida e mais
barata, principalmente pelo facto da recolha dos dados dispensar o contacto fsico.
Neste captulo pretende-se fazer o enquadramento terico do estudo a realizar sobre
a alterao no uso dos solos da provncia de Luanda, tendo como base a avaliao
das transformaes espaciais ocorridas em 1993, 2000 e 2008, atravs da
classificao e tratamento de imagens de satlite que foram processadas utilizando
um modelo de dados baseado em RNA, o LCM. Deste modo, falar-se- da deteo
remota aplicada a modelao urbana e de alguns modelos de crescimento urbano
nomeadamente: o Geomod, o SLEUTH e o LCM.

Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

16

3.2 Deteo remota e modelao urbana
Esta seco tem como objetivo apresentar de forma resumida a utilidade e
caracterstica das tcnicas de deteo remota na produo de cartografia temtica,
nomeadamente a cartografia referente ao uso/ocupao do solo.
A extrao de informao das imagens de satlite referente cobertura do uso e s
suas alteraes uma das mais representativas aplicaes de deteo remota
(Gonzlez, 2001; Jothimani, 1997; Lu et al., 2006; OHara et al., 2003; Seto et al.,
2002; Yang e Liu, 2005). A crescente utilizao destas tcnicas em detrimento das
mais tradicionais (e. g. foto interpretao de fotografias areas ou recolha de dados
no terreno), deve-se sobretudo ao facto de serem dados mais baratos e que
permitem a produo cartogrfica mais rpida, mas tambm periodicidade de
aquisio sem necessidade de programao e cobertura de grandes extenses
territoriais e em locais de acesso dificultado (Nunes et al., 2007; Santos, 2003). A
deteo remota tem enormes vantagens em estudos do espao urbano,
nomeadamente: a preciso dos dados, a flexibilidade temporal, a cobertura espacial
e a adequao a modelao (Massev e Logley, 1999).
Estas imagens podem ser usadas na produo desta informao pelo facto de
diferentes tipos de solo refletirem de modos diferenciados a principal fonte de
energia utilizada em deteo remota: o sol. Isto , os objetos presentes na superfcie
da terra exibem refletncias variadas para os vrios comprimentos de onda do
espetro eletromagntico, designando-se por assinatura espectral (Machado, 2005,
Santos, 2003). A figura 3.1 mostra o comportamento espetral da gua, do solo e da
vegetao.

Figura 3.1. Curvas de reflectncia do solo, gua, e vegetao. Adaptado de (Lillesand e Kiefer,
2000)

Os atuais sistemas de deteo remota podem adquirir informao refletida pela
superfcie terrestre em quase todos os comprimentos de onda, contudo, segundo
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

17

(Richards e Jia, 2006), as gamas do visvel, do infravermelho prximo e do
infravermelho mdio (0.4 e 12m), so as que a maioria das substncias melhor
refletem a energia electro magntica.
A aplicao da deteo remota em estudos urbanos requer a utilizao de dados
com alta resoluo espacial e algoritmos de anlise da informao robustos. As
imagens de satlite so uma boa fonte de informao para mapear as reas urbanas.
Deste modo, questes como a localizao e estrutura da rea urbana, padres de
crescimento e a caracterizao do processo de urbanizao, podem ser estudados a
partir de dados de deteo remota (Jensen e Cowen, 1999). O crescimento urbano
pode gerar problemas ambientais como a contaminao da gua, a formao de
ilhas de calor, insalubridade do meio, assentamentos humanos em reas
inadequadas, presso sobre os eixos rodovirios, degradao da paisagem,
delinquncia, dificuldades de prover redes de abastecimento de gua e de energia
eltrica, etc.
A compreenso dos padres de crescimento urbano pode ajudar na conceo de
polticas pblicas voltadas para o planeamento, sendo este um dos principais
objetivos da modelagem do crescimento urbano. Atualmente corrente a
integrao entre autmatos celulares (AC), sistemas de informao geogrfica
(SIG) e deteo remota (Almeida, 2004). Esta integrao, associada ao aumento
cada vez mais da resoluo espacial dos sensores orbitais, faz com que a deteo
remota seja amplamente usada em estudos de reas urbanas, sem a qual tais estudos
seriam muito onerosos.

3.3 Modelos de crescimento urbano
Nos ltimos anos o planeamento urbano tem recorrido cada vez mais a modelos
dinmicos para simular os fenmenos de alterao do uso do solo como ferramenta
de apoio deciso. Este sucesso explica-se pela correspondncia destas simulaes
com os fenmenos estudados e com a possibilidade de compreender a dinmica
entre os diversos elementos do espao. Os modelos Land Use Cover Change
(LUCC), pelas suas potencialidades tornaram-se ferramentas teis nos processos de
deciso e constituem elementos indispensveis na simulao dos interesses dos
diversos atores do espao territorial.
Esta seco tem como objetivo descrever de forma resumida alguns modelos
LUCC. Apesar de existirem muitos modelos, apresenta-se aqui a descrio de 3 dos
mais utilizados: o Geomod, o Slope, Land Use, Exclusion, Urban Extent,
Transportation and Hillshade (SLEUTH) e o Land Change Modeler (LCM). Estes
correspondem respetivamente a modelos de extrapolao linear, autmatos
celulares e redes neuronais.

Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

18

3.3.1 Modelo de extrapolao linear: o Geomod
Em 1994, Pontius foi o primeiro a apresentar o Geomod quando pretendeu simular
a desflorestao tropical e avaliar as alteraes nas emisses gasosas resultantes da
desflorestao (Pontius, 1994). Atualmente o Geomod dos modelos de simulao
das alteraes ao uso / ocupao do solo mais generalizado. Opera em duas classes
e duas datas, ou seja, compara as alteraes ocorridas ao uso e ocupao do solo na
data inicial (t=0) e na data final (t=1) ao nvel de cada pixel. Vrias adequaes
verso inicial tm permitido a sua aplicao em diversos pases com o mesmo
objetivo. Destacam-se como casos de sucesso as aplicaes escala continental
(frica e sia), totalidade do territrio da Costa Rica e da ndia, escala local,
em localidades da ndia, Egipto, Estados Unidos, Portugal e de alguns Pases da
Amrica Latina (Pontius e Chen, 2006).
O modelo assenta numa estrutura de dados matricial e simula as alteraes
ocorridas entre duas categorias de ocupao do solo (e.g. solo urbano e no
urbano), devendo o utilizador fornecer um mapa com informao relativa
ocupao do solo (duas classes) no momento inicial (t=0), a quantidade esperada de
clulas afetas a cada classe no momento final (t=1) o Geomod no incorpora
nenhum mtodo explcito para extrapolao da quantidade de clulas que mudam
de uma classe para outra (Pontius e Malanson, 2005) e um mapa de aptido para a
transio entre classes de ocupao do solo. Para melhorar a qualidade da
simulao, o utilizador poder fornecer dados relativos s reas excludas e uma
funo de vizinhana que indica quais as clulas mais aptas para a transio. O
processo de modelao pode levar em considerao apenas o mapa de aptido ou,
simultaneamente, este e a proximidade s reas de cada tipologia de ocupao do
solo. Com efeito, no caso de as categorias serem solo urbano e no urbano, o
Geomod procura no espao de clulas no urbanas quais as mais aptas passagem
para solo urbano num determinado perodo de tempo (Pontius e Chen, 2006).

3.3.2 Modelo de autmatos celulares: o SLEUTH
O estudo de sistemas complexos caracterizados principalmente pela emergncia, a
auto organizao, a auto similitude e as relaes no lineares e hierrquicas exige a
utilizao de mtodos mais avanados com forte recurso geocomputao.
Este contexto tem potenciado a utilizao dos AC como mtodo de simulao do
crescimento urbano e regional. Os AC colocam um conjunto de clulas (pixis) em
interao, comportando-se cada um deles como um computador. O estado de
cada clula da matriz depende do estado prvio das clulas vizinhas, tendo em
conta um conjunto de regras de transio (Rocha J., Sousa P., Tenedrio J.).
A atualizao das variveis espaciais includas nos AC feita de forma dinmica
durante o processo iterativo o que se traduz em resultados no determinsticos.
Contrariamente, os modelos SIG encontram dificuldades em simular a evoluo do
uso do solo sem o recurso a regras locais e ciclos iterativos, usando quase sempre
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

19

variveis espaciais estticas. Por outro lado, difcil a captura dos elementos no-
lineares que geralmente esto presentes em muitos dos fenmenos geogrficos, o
que torna difcil explicar o significado terico e intuitivo dos fenmenos quando a
simulao puramente baseada em SIG. Por outro lado, os algoritmos utilizados na
modelao em SIG so mais complexos que os utilizados pelos AC, tornando o
processo computacionalmente mais exigente e alongando o tempo de simulao. Os
AC, por serem sistemas discretos e iterativos, so mais eficientes e envolvem
unicamente iteraes entre regies ao invs de um par de clulas. O facto de
permitirem trabalhar com grandes resolues espaciais confere aos AC uma
importante vantagem em termos de modelao das dinmicas de uso do solo (White
e Engelen, 1997) e a correta definio das regras de transio pode at permitir,
durante o processo de simulao, o advento de variveis no previstas (Wu, 1998)
como por exemplo a criao de novos centros de agregao (Wu, 1998) ou as
propriedades fractais das parcelas (White e Engelen, 1997).
Os modelos de AC tornaram-se bastante atrativos para simulaes em ambiente
urbano porque permitem gerar resultados bastante interessantes (Xia e Yeh, 2002),
constituindo uma poderosa ferramenta para compreender a cidade, vista como um
sistema complexo e evolucionrio. Numa cidade auto-organizada a evoluo do uso
um processo intimamente ligado histria, em que a evoluo passada
condiciona a futura atravs de interaes locais entre as parcelas de terreno (Wu e
Webster, 2000). Ao construrem-se regras apropriadas dentro de um AC, pode-se
simular um extenso conjunto de comportamentos complexos. Os AC incorporam
regras simples sobre os efeitos da adjacncia espacial que condicionam a dinmica
dos sistemas e do importncia a comportamentos e padres emergentes
normalmente mais complexos do que os gerados pelos modelos de equilbrio
simples.
Muito embora os AC apresentem muitas vantagens, tm um problema que reside na
forma de definio das regras de transio e da estrutura do modelo. Estas so
normalmente dependentes da aplicao em causa, pois muito embora existam
diversos modelos de AC de natureza genrica (Wu, 1998; Batty et al. 1999), eles
apresentam formas substancialmente diferentes.
As variaes devem-se existncia de diversas formas de definir as regras de
transio e as estruturas dos modelos. Por exemplo, Batty e Xie (1994) utilizaram a
concentrao num espao de vizinhana e uma funo decrescente de distncia
relativamente aos centros de crescimento para determinar as probabilidades de
transio, Wu e Webster (2000) definiram as regras de transio com base em
mtodos de anlise multicritrio, enquanto White e Engelen (1993) utilizaram para
o mesmo efeito uma matriz de parmetros predefinidos e Li e Yeh (1998 e 2000)
propuseram um modelo baseado numa matriz (imagem) em tons de cinzento para
acomodar o processo gradual de converso para urbano. Estes modelos tambm
podem incluir constrangimentos para gerar formas urbanas idealizadas (Li e Yeh,
1998 e 2002), opes e objetivos de planeamento para produzir cenrios
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

20

alternativos e teorias urbanas neoclssicas (Wu e Webster, 2000). Nestes modelos,
tm sido propostas estruturas e regras de transio substancialmente diferentes para
responder a vrios objetivos e especificaes. O dilema da escolha do modelo
apropriado est sempre presente na medida em que existe um variado leque de
opes.
Outro problema dos modelos de AC, e talvez o maior, o da determinao das
ponderaes a atribuir a cada fator. No passado estes modelos apenas eram
utilizados para simular o crescimento urbano na perspetiva da transio rural -
urbano. A simulao deste tipo de crescimento, que apenas lida com estados
binrios urbanizado ou no - relativamente fcil, mas os modelos AC tornam-se
consideravelmente mais complexos quando so introduzidos mltiplos usos, como
residencial, comercial e industrial (Batty et al. 1999). Quando se lida com diversos
usos do solo em competio entre si pelo territrio, o nmero de fatores de
ponderao aumenta consideravelmente e os modelos tornam-se mais complexos.
Existem numerosos parmetros que precisam de ser determinados para que uma
simulao reflita um sistema urbano particular e o naipe de possveis modelos a
empregar enorme (Batty et al. 1999).
A simulao envolvendo mltiplos usos do solo implica a utilizao de bastantes
variveis espaciais. A contribuio de cada uma destas variveis para a simulao
quantificada pelo peso, ou parmetro, que lhe est associado e existem numerosos
parmetros que tm de ser quantificados antes de se dar incio simulao. O valor
destes parmetros tem um grande peso (efeito) nos resultados da simulao,
verificando-se que diferentes combinaes de valores conduzem a formas urbanas
totalmente diferentes (Batty et al. 1999).
Neste momento, as aplicaes de AC multiplicam-se em reas: desde modelos de
crescimento urbano (Ward, 2000; Li, 2000; Batty, 1999; Clarke, 1998, 1997;
White, 1997a), a modelos de AC dedicados a fenmenos de migrao (Semboli,
1997; Portugali, 1995), simulao de formas urbanas (Wu, 2000; Batty, 1997a,c ),
modelizao de sistemas de cidades (Sanders, 1997; Semboli, 1997; White, 1997,
2000; Portugali, 1995), teoria microeconmica e localizaes ambiental e
economicamente eficientes (Irwin e Geoghegan, 2001; Wu, 2000; Webster e Wu,
1999), e ainda modelos de comportamento competitivo (Benati, 1997).
Existem vrios modelos de AC. Um deles o SLEUTH desenvolvido pelo
Professor Keith Clarke (UCSB/NCGIA). SLEUTH o acrnimo de Slope, Land
use, Exclusion, Urban Extent, Transportation and Hillshade (Declive, uso do
Solo, reas No Urbanizveis, reas Urbanas, Infraestruturas de Transporte, e
Exposio Solar), que correspondem informao de base que o modelo necessita.
SLEUTH um AC, e por conseguinte:
- constitudo por um espao a que correspondem clulas.
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

21

- Cada clula apresenta um estado (declives, reas urbanas, etc.).
- As relaes de vizinhana so feitas com as oito clulas contguas.
- composto por um conjunto de regras de transio (diffusion, breed,
spread, slope, roads).
- Evolui ao longo de um perodo temporal sincrnico definido pelo
utilizador (dia-a-dia, ano-a-ano, dcada-a-dcada...).
Para que o modelo possa correr e os resultados sejam estatisticamente significativos
necessrio que contenha um mnimo de:
- Quatro ficheiros contendo reas urbanas, correspondentes a quatro anos
diferentes distribudos ao longo do perodo de tempo que se pretende
estudar.
- Dois ficheiros contendo as vias de transporte para dois perodos diferentes;
- Um ficheiro contendo declives.
- Um ficheiro contendo reas no urbanizveis (restries ou limitaes);
- Um ficheiro correspondente s exposies solares, que ser usado como
base para simular o crescimento urbano.
O crescimento das reas urbanas o resultado de quatro regras de crescimento que
so aplicadas aos ficheiros anteriores:
- Crescimento espontneo simula o crescimento urbano em reas com
declives aceitveis para construo (sob influncia do coeficiente de
difuso).
- Crescimento difuso e nascimento de novos centros urbanos.
- Crescimento orgnico - replica a expanso da cidade para a periferia.
- Crescimento influenciado pelas vias de transporte - reflete a importncia
da densidade da rede viria e da sua rea de influncia.
Para alm destas regras de crescimento, o modelo contm ainda um segundo nvel
de regras de comportamento self-modification rules.
De cada vez que o modelo reconhece a existncia de crescimento rpido, lento ou
inexistncia de crescimento, o modelo reajusta-se a essas novas caractersticas:
- No caso, de crescimento rpido, o modelo multiplica os parmetros de
crescimento por um fator superior a um.
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

22

- No caso da inexistncia de crescimento urbano, ou pouco crescimento os
parmetros de controlo so multiplicados por um fator inferior a um.
Estas regras, permitem o reajuste do modelo para que este possa replicar a curva
em S do crescimento urbano.
As regras de crescimento urbano so aplicadas em dois loops (o modelo corre
sequencialmente). No primeiro loop (exterior) o modelo executa o histrico de
crescimento para os vrios anos e compila os dados estatsticos; no segundo loop
(interior) executa as regras de crescimento para cada ano.
O modelo ajustado realidade a ser estudada atravs de um processo intenso de
calibrao que se d ao longo de trs escalas e ao longo do perodo temporal a ser
estudado. Esta calibrao se processa em trs fases distintas: a calibrao mais
grosseira, a calibrao mais detalhada (resoluo intermdia) e calibrao final
(de grande resoluo), correndo o modelo com dados espaciais progressivamente
mais detalhados, e em que os valores que descrevem o comportamento do sistema
vo sendo progressivamente mais refinados, alimentando a fase de calibrao
subsequente.
Este modelo foi utilizado num estudo
3
sobre modelao urbana da rea
Metropolitana de Lisboa, Portugal (Ferreira et al. 2005).

3.3.3 Modelo de redes neuronais artificiais: o Land Change Modeler
Existem vrios modelos baseados nas Redes Neuronais Artificiais nomeadamente o
Land Transformation Model (LTM), o LCM, que para definir as transies
potenciais utiliza a regresso logstica ou o perceptro Multi-Camada. Neste
trabalho, foi usado o modelo LCM para a modelao do crescimento urbano da
provncia de Luanda.
A escolha do LCM deveu-se ao facto de ser um modelo inovador no que concerne
anlise de mudanas que ocorrem na superfcie da terra e na previso do que
eventualmente pode ocorrer no futuro, por um lado e por outro a facilidade de
utilizao caracterizado por um ambiente grfico e intuitivo, contrariamente ao
LTM que usa a linha de comandos do MSDOS, o que o torna mais suscetvel a
erros.


_______________________________
3
FERREIRA, Jos; TENEDRIO, Jos; ROCHA, Jorge; e SIMES, Joana (2005). MODELOS

GEOGRFICOS E SISTEMAS COMPLEXOS, Contributo para a monitorizao da evoluo
da zona costeira.
Como funciona o modelo?
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

23

O perceptro constitudo por 3 nveis: i) nvel de entrada, ii) nvel escondido e iii)
nvel de sada, e tem a vantagem de permitir a identificao de relacionamentos de
natureza no-linear. Os algoritmos que compem as RNA consistem no clculo dos
pesos das variveis de entrada e dos ns dos nveis de entrada, nvel escondido e
nvel de sada a partir da introduo dos dados iniciais (de entrada) atravs de um
processo conhecido como alimentao para a frente, que os propaga atravs dos
nveis escondido e de sada. Os sinais se propagam de n para n, sendo
modificados pelo peso associado a cada ligao. Seguidamente, o n recetor
procede soma dos valores de todos os ns do nvel precedente que lhe esto
ligados. A sada deste n calculada em funo dos valores de entrada, sendo
denominada de funo de ativao. Desta forma, os dados passam para a frente, de
n para n, com a ocorrncia de mltiplos somatrios, at atingirem o nvel de
sada. Numa RNA a determinao dos pesos feita atravs de um algoritmo de
treino. Um dos mais utilizados o algoritmo de retropropagao. Este algoritmo faz
a seleo ao acaso dos pesos iniciais e compara o resultado obtido com o esperado.
A diferena entre os valores obtidos e os valores esperados para todos os usos
resumido pelo erro mdio quadrtico. Os pesos so modificados em funo da regra
delta modificada, depois da rede ter testado todos os usos, de modo que o erro total
seja disseminado pelos vrios ns da rede. Este processo de alimentao para a
frente e retropropagao dos erros repetido iterativamente at que o erro estabilize
num nvel baixo. Neste estudo, o processo foi concludo depois de 10.000 iteraes
(figura 4.19).
As ferramentas do LCM permitem:
- Analisar, medir e projetar impactos sobre o habitat e sobre a
biodiversidade, atravs de um conjunto de ferramentas inteligentes includas
no software que abordam de forma complexa a anlise de mudanas na
cobertura terrestre, gesto de recursos e avaliao do habitat, mantendo um
fluxo de trabalho simples e automatizado, permitindo ao utilizador mapear
rapidamente as mudanas ocorridas na paisagem, identificar e descobrir
tendncias de transies de classes de uso do solo e monitorar os planos em
curso.
- Modelar e prever para criar cenrios futuros da paisagem com a integrao
de variveis especificadas pelo utilizador como sendo impulsionadoras das
mudanas (e. g. declives ou a distncia aos centros urbanos, distncia s vias
rodovirias, distncia aos rios, etc), bem como informaes sobre restries
ou incentivos que possam interferir no cenrio, tais como reservas naturais
(parques nacionais), proximidade de infraestruturas como aeroportos ou
limitaes que tm a ver com a legislao local ou mesmo internacional;
- Uma vasta gama de ferramentas para integrar as informaes de habitat,
para cenrios futuros da paisagem, proporcionando avaliao do habitat por
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

24

espcie, a deteo de mudanas no estado do habitat e a modelao da
distribuio das espcies.
O painel de Anlise de Mudanas fornece um conjunto de ferramentas para
compreender a natureza e a extenso da mudana na cobertura do solo, incluindo
grficos de ganhos e perdas, mudanas e contribuies lquidas ocorridas por
categoria. Com um simples clique, possvel gerar mapas de mudana,
persistncia, transies especficas e intercmbios entre as categorias.
No painel de Transio Potencial o modelo treinado, ou seja, aprende o que
ocorreu na etapa anterior, onde foram analisadas as mudanas. Nesta etapa, so
imputados ao mdulo as variveis que podem constituir restries, incentivos ou
constrangimentos mudana, e definido o modelo a utilizar para a obteno do
mapa de Transio Potencial (que pode ser a Multi Layer Perceptron e a Regresso
Logstica).
No painel seguinte feita a previso de mudanas atravs da modelagem da
demanda da mudana que pode ser feito usando as Cadeias de Markov ou um
modelo externo.
O painel de avaliao do Habitat fornece mapas de reas em categorias de habitat
(primrio e secundrio), e solos inadequados com base na cobertura do solo e
adequabilidade do habitat. O utilizador especifica parmetros, tais como tamanho
da rea, larguras de buffer, e a possibilidade de atravessar distncias dentro do
alcance e durante a disperso.
De forma resumida, o LCM comea por analisar as mudanas ocorridas na
cobertura do solo entre duas datas. Seguidamente, o mdulo deve ser treinado para
aprender as causas que tero causado a mudana verificada entre a primeira e a
segunda data. Isso feito imputando ao modelo as variveis que causaram a
mudana para posteriormente fazer a previso das mudanas para uma terceira data.
Esta previso deve ser validada comparando o tema resultante da previso com um
tema j existente para a mesma data. Se a previso feita para a terceira data for
aceitvel, ento podemos passar para a fase seguinte, isto , fazer a previso para
uma quarta data e assim sucessivamente.

3.4 Concluses
Existem atualmente diversos modelos de LUCC. Pontius e Malanson (2005)
referem que esta variedade est relacionada com a especificidade de cada modelo:
nmero de classes possveis, tipos de transio entre classes, dependncia espacial,
requisitos de informao.
Os modelos de LUCC tm grande utilidade como poderosa ferramenta para, entre
outros:
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

25

- Explorar os vrios mecanismos que levam ocorrncia de alteraes de
uso do solo e identificar quais as variveis econmicas, sociais e espaciais
que os condicionam (Batty e Longley, 1994; Dekoning et al. 1999).
- Prever potenciais impactos ambientais e socioeconmicos das alteraes
de uso do solo (Alig, 1986; Theobald, Miller e Hobbes, 1997).
- Avaliar a influncia de polticas de planeamento alternativas no uso do
solo e nos padres de desenvolvimento (Bockstael et al. 1995). A projeo
dos padres de uso do solo passvel de ser calculada atravs de dados
empricos, sendo os percursos genricos de mudana identificados como
sequncias de alteraes (Lambin, 1997).
A simulao de alteraes no uso do solo importante para o planeamento e gesto
territorial e para proporcionar um desenvolvimento equilibrado e sustentado atravs
da preservao do ecossistema. Ela pode fornecer as linhas mestras para um cenrio
de crescimento que visa fornecer uma imagem do futuro desenvolvimento dos
padres de uso do solo, com assuno de premissas de desenvolvimento atual e que
se prolongam no futuro. A obteno destas linhas mestras pode ser determinante
para identificar futuros problemas relacionados com o crescimento urbano e,
paralelamente, verificar se os planos existentes esto de acordo com as
necessidades previstas ou se por outro lado necessrio proceder a correes. A
simulao da evoluo do uso/ocupao do solo fornece informao de importncia
relevante sobre o tipo, a escala, a quantidade e a densidade das transformaes que
provavelmente ocorrero, permitindo a tomada da deciso certa em momento
oportuno.
Os modelos de LUCC so ferramentas de grande valia para a:
- Explorao dos vrios mecanismos que influenciam as alteraes e as
variveis sociais, econmicas e espaciais que concorrem para tais alteraes.
- Previso de futuros impactos econmicos e ambientais resultantes das
alteraes.
- Avaliao da influncia das polticas de interveno e gesto, no
desenvolvimento dos padres espaciais.
- Preparao dos planos reguladores do uso do solo procurando obter
padres de uso corretos de acordo a finalidade.
A modelao das mudanas que ocorrem no uso do solo deriva da teoria de Von
Thnen e Ricardo (Mertens e Lambin, 2000), segundo a qual qualquer parcela do
territrio deve ser alocado ao uso que mais a rentabiliza tendo em conta as suas
caractersticas. Isso promove a competio entre os usos e as localizaes mais
favorveis. Theobald e Hobbs destacam dois tipos de modelos espaciais de
mudanas dos padres de uso do solo: os modelos de regresso linear mltipla
(Martens e Lambin, 2000) e os modelos baseados em transies espaciais. Os
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

26

primeiros permitem estabelecer relaes funcionais entre um conjunto de variveis
espaciais condicionantes e/ou estimulantes, como por exemplo a distncia aos eixos
rodovirios, que podem ser utilizadas para prever em antecipao as presumveis
alteraes. A avaliao das variveis espaciais e das tendncias de alteraes no uso
do solo feita com recurso a informao referente a vrias datas, isso permite o
estabelecimento de relaes funcionais entre os parmetros considerados e o
clculo das probabilidades de alteraes futuras no uso do solo. Os modelos de
transio espacial so considerados como uma extenso do modelo (no espacial)
de Markov (Hathout, S., 1988) e uma forma de autmato celular (Theobald, D. M. ;
Hobbs, N. T., 1998).






















Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

27

4. MODELAO DO CRESCIMENTO URBANO DE LUANDA
4.1 Introduo
Uma das consequncias da guerra em Angola foi o superpovoamento das cidades,
sendo Luanda um caso particular desse superpovoamento. Mas falar em
superpovoamento s aceitvel do ponto de vista do espao urbano (rea
construda), pois do ponto de vista do espao territorial, o mesmo no se pode
considerar se tivermos em conta a densidade populacional atual para a provncia de
Luanda (cerca de 0,027 habitantes/m
2
). O interesse em analisar esse fenmeno
motivou-me a fazer este trabalho. Porm no foi fcil por dificuldades em obter
dados georreferenciados sobre a rea de estudo.
Neste captulo sero processados os dados geogrficos disponveis para aferir sobre
as mudanas ocorridas na mancha urbana entre 1993 e 2008 e prever as alteraes
que podero ocorrer nos prximos anos como forma de avaliao do impacto das
polticas de planeamento e gesto territorial das autoridades angolanas e verificar a
eventual convergncia entre os terrenos reservados para a construo de novas
urbanizaes e as mudanas previstas no casco urbano da cidade.

4.2 Dados, fontes e caractersticas
Para este estudo foram utilizados os seguintes dados da tabela 4.1:
DADOS DATA FONTE FORMATO
SISTEMA DE
REFERNCIA
RESOLUO
ESPACIAL
Imagens Landsat5
TM, PATH/ROW
182/66 27/02/1993 NASA Raster WGS84 (UTM33N) 30 metros
Imagens Landsat5
TM, PATH/ROW
182/66 14/06/2000 NASA Raster WGS84 (UTM33N) 30 metros
Imagens Landsat5
TM, PATH/ROW
182/66 24/03/2008 ENGESAT Raster WGS84 (UTM33N) 30 metros
Limite administrativo
da provncia de
Luanda 2011 SINFIC Vectorial WGS84 (LATLONG) -
Municpios da
provncia
de Luanda 2011 SINFIC Vectorial WGS84 (LATLONG) -
Vias rodovirias da
provncia de Luanda 2011 SINFIC Vectorial WGS84 (LATLONG) -
Reservas fundirias
da provncia de
Luanda 13/08/2007 DR 97 - I Srie Raster WGS84 (UTM33N) 30 metros
Tabela 4.1 Dados, fonte e caractersticas

Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

28

4.3 Metodologia
Depois da reviso bibliogrfica, na segunda etapa desenvolve-se conceitos tericos
necessrios para melhor compreender o tema Modelao Urbana da provncia de
Luanda, destacando a deteo remota aplicada ao crescimento urbano, descrio de
alguns modelos de crescimento urbano como os AC e as RNA. A terceira etapa,
configura-se como sendo aquela que d corpo ao tema desenvolvido, que consiste
na etapa de modelao de facto, que comea com o pr-processamento dos dados,
seleo e classificao por segmentao das imagens de satlite, derivao dos
mapas de uso do solo para 1993, 2000 e 2008, avaliao da qualidade dos mapas
derivados e a delimitao da mancha urbana para as trs datas. Os mapas de uso do
solo 1993 e 2000 foram o input para o modelo de dados utilizado para a modelao
do crescimento urbano da cidade, o LCM atravs do software IDRISI Taiga. A
partir dos dados de input obtiveram-se os mapas de ganhos e perdas por classe, o
mapa de alteraes e persistncia por classe. Posteriormente correu-se o modelo
para obter o mapa de transies potenciais que foi usado para simular o
crescimento urbano para 2008 tendo em conta dois dos fatores que podem ter
estimulado as mudanas ocorridas entre 1993 e 2000, nomeadamente: a distncia
zona urbana e a distncia aos eixos rodovirios (em 1993). Esta simulao foi
validada comparando-a com o mapa de uso do solo de 2008 obtido por
classificao por segmentao. Validado o mapa da simulao, o modelo aceite
para simular outros cenrios de crescimento. Assim sendo, fez-se a simulao para
o ano 2040. Na quarta e ltima etapa feita a confrontao entre a simulao para
2040 e as RF definidas pelo governo no mbito do PNUH para aferir se de facto os
eixos de crescimento previstos pelo modelo convergem com tais RF. Esta etapa
encerra com as consideraes finais sobre o projeto. A figura 4.1 resume as etapas
desenvolvidas neste trabalho.










Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

29










No


Sim

























No


Sim


Figura 4.1. Fluxograma do projeto
Landsat 1993 Landsat 2000 Landsat 2008
Classificao
Ok ?
Mapa uso solo 1993
Mapa uso solo 2000
Mapa uso solo 2008
LCM
Alteraes 2000 - 2008 Alteraes 1993 - 2000
Treino
Ok ?
Potencial de Transio
Validao
Ok ?
Previso 2040
Previso 2008
Qualidade da
Classificao
Etapa de
Campo
Reclassificao
(NDVI, BI)
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

30

4.4 Seleo das imagens de satlite
Uma das dificuldades enfrentadas e que constituram fator crtico de sucesso foi,
conseguir imagens sobre a provncia de Luanda. Vrias instituies foram
contactadas para o efeito nomeadamente o Instituto Geogrfico e Cadastral de
Angola (IGCA), o Instituto Nacional de Ordenamento do Territrio Urbano
(INOTU), o Instituto de Planeamento e Gesto Urbana de Luanda (IPGUL) o
Governo da provncia de Luanda (GPL) e alegaram no dispor de imagens
nenhumas da rea de estudo. Perante o quadro outra alternativa no me restou
seno aceder ao site da Global Land Cover Facility (GLCF) da National
Aeronautics and Space Administration (NASA) de onde foram obtidas as imagens
landsat 5 de 1993 e 2000 do sensor Thematic Mapper (TM); da empresa
ENGESAT foram compradas as imagens de 2008 tambm do sensor TM, todas em
formato TIF. As imagens landsat 7 de 2006 por no terem boa qualidade ( presume-
se que isso deveu-se ao facto de a partir de 31 de Maio de 2003 o satlite Landsat 7
ter avariado), foram substitudas por imagens Landsat 5 TM de 2008.

4.4.1 Programa Landsat e caractersticas das imagens
A NASA lanou nos EUA o primeiro satlite chamado Earth Resources
Technology Satellites 1 (ERTS 1), no dia 23 de Julho de 1972, no mbito do
Programa Espacial americano Earth Resources Technology Satellite. Mais tarde,
o programa foi denominado Landsat assim como o satlite que o compe.
Foram lanados sete satlites do Programa Landsat desde 1972, dos quais seis
fornecem imagens da Terra (tabela 4.2):
DATA SITUAO DATA
SATLITE
LANAMENTO ATUAL INATIVAO
Landsat 1 23-07-1972 Inativo 06-01-1978
Landsat 2 22-01-1975 Inativo 22-02-1982
Landsat 3 05-03-1978 Inativo 31-03-1983
Landsat 4 16-07-1982 (*)
Landsat 5 01-03-1984 Ativo
Landsat 6 05-10-1993 (**)
Landsat 7 15-04-1999 (***)
Tabela 4.2 Satlites do programa Landsat


___________________________________________
(*) No recolhe imagens, porm no est inativado.
(**) Perdeu-se aps o lanamento.
(***) Em atividade normal at 31-05-2003. Problemas tcnicos depois desta data.
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

31

Os satlites da primeira gerao do Programa Landsat, Landsat 1-2-3 utilizavam
dois instrumentos: o sensor Return Beam Vidicon (RBV) e o Multispectral Scanner
(MSS).
Por razes de problemas tcnicos do sensor RBV, e da superioridade tcnica do
MSS do ponto de vista espetral e radiomtrico, o RBV teve uso muito limitado.
Com o lanamento do Landsat 4 em 1982 teve incio a segunda gerao do
programa e o sensor RBV foi substitudo pelo sensor TM.
A terceira gerao do programa inicia com o lanamento do satlite Landsat 7. As
caractersticas dos satlites Landsat 1-2-3-4-5 so apresentadas na tabela 4.3
Thematic Mapper TM
Bandas 1 2 3 4 5 6 7
Faixa (m ) 0,45 0,52 0,52 0,60 0,63 0,69 0,76 0,90 1,55 1,75 10,42 12,50 2,08 2,35
Resoluo
(m)
30 30 30 30 30 120 30
Multi-Spectral Scanner MSS

Bandas 1 2 3 4
Faixa (m ) 0,5 0,6 0,6 0,7 0,7 0,8 0,8 1,1
Resoluo
(m)
80 80 80 80
Tabela 4.3 - Caractersticas dos Landsat 1-2-3-4-5. Fonte: site do ENGESAT

A tabela 4.4 apresenta o resumo das principais caractersticas e aplicaes das bandas
TM do Landsat 5.
Banda
Intervalo
espectral
(m)
Principais caractersticas e aplicaes das bandas TM do satlite
LANDSAT-5
1 (0,45 - 0,52)
- Grande penetrao em corpos de gua, com elevada transparncia;
permitindo estudos batimtricos. Sofre absoro pela clorofila e
pigmentos fotossintticos auxiliares;
- Sensvel a plumas de fumaa oriundas de queimadas ou atividade
industrial;
- Pouco afetado pelo efeito atmosfrico.
2 (0,52 - 0,60)
- Grande sensibilidade presena de sedimentos em suspenso,
possibilitando sua anlise em termos de quantidade e qualidade;
- Boa penetrao em corpos de gua.
3 (0,63 - 0,69)
- Grande absoro a vegetao verde, densa e uniforme, ficando
escura, permitindo bom contraste entre as reas ocupadas (ex.: solo
exposto, estradas e reas urbanas);
- Bom contraste entre diferentes tipos de cobertura vegetal (ex.:
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

32

agricultura e floresta densa);
- Permite o mapeamento da drenagem atravs da visualizao da mata
e dos cursos dos rios em regies com pouca cobertura vegetal;
- a banda mais utilizada para delimitar a mancha urbana, incluindo a
identificao de novos loteamentos;
- Permite a identificao de reas agrcolas.
4 (0,76 - 0,90)
- Os corpos de gua absorvem muita energia nesta banda e ficam
escuros;
- Permite o mapeamento da rede de drenagem e delineamento de
corpos de gua;
- A vegetao verde, densa e uniforme, reflete muita energia nesta
banda, aparecendo bem clara nas imagens;
- Sensvel rugosidade da copa das florestas;
- Sensvel morfologia do terreno, permitindo a obteno de
informaes sobre Geomorfologia, Solos e Geologia. Serve para
anlise e mapeamento de feies geolgicas e estruturais;
- Serve para mapear reas ocupadas com vegetao que foram
queimadas;
- Permite a identificao de reas agrcolas.
5 (1,55 - 1,75)
- Sensvel ao teor de humidade das plantas, servindo para observar
stress na vegetao, causado por desequilbrio hdrico. Esta banda
sofre perturbaes em caso de ocorrer excesso de chuva antes da
obteno da cena pelo satlite.
6 (10,4 - 12,5)
- Sensvel aos fenmenos relativos aos contrastes trmicos, servindo
para detetar propriedades termais de rochas, solos, vegetao e gua.
7 (2,08 - 2,35)
Sensvel morfologia do terreno, permitindo obter informaes sobre
Geomorfologia, Solos e Geologia. Esta banda serve para identificar
minerais com ies hidrxidos;
- Potencialmente favorvel discriminao de produtos de alterao
hidrotermal.
Tabela 4.4 - Caracterstica e aplicaes das bandas do Landsat 5 (obtido do site da ENGESAT)

As rbitas do Landsat so:
- Repetitivas, circulares, hlio sncronas, significa que so sincronizadas
com o sol e passam mesma hora solar em qualquer ponto observado.
- Quase polares, o que permite a cobertura completa da terra entre os
paralelos 81N e 81S. A altitude de 705 Km e a velocidade equivalente a
7,7 Km/seg no solo. O ciclo orbital do Landsat 1-2-3 de 18 dias, e do
Landsat 4-5-7 de 16 dias. A rea de recolha de imagem de 185 Km x 185
Km, com durao de 24 segundos.
Modelao do crescimento urbano da provncia de Luanda

33

4.5 Pr-processamento
As imagens Landsat 5 foram obtidas em formato TIF e georreferenciadas em
Universal Tranversa Mercator (UTM) para zona 33 Norte. Por isso, foi necessrio
reprojetar as imagens Landsat de UTM33N para UTM33S com o mdulo
PROJECT do IDRISI Taiga. Em resumo as operaes efetuadas na etapa de pr-
processamento so as seguintes:
- Importao das imagens landsat (em formato TIF) para o IDRISI Taiga
(formato .rst).
- Projeo das imagens landsat de 1993, 2000 e 2008 de UTM33N para
UTM33S.
- Importao dos shapefile Limite Administrativo de Luanda, Municpios de
Luanda e Vias Rodovirias de Luanda (formato .shp) para o IDRISI Taiga
(formato .vct).
- Projeo dos temas vetoriais Limite Administrativo de Luanda,
Municpios de Luanda e Vias Rodovirias de Luanda do formato
LATITUDE/LONGITUDE (LATLONG) para UTM33S.
- Converso para raster dos temas vetoriais Limite Administrativo de
Luanda, Municpios de Luanda e Vias Rodovirias de Luanda uma vez que
a maioria dos mdulos do IDRISI Taiga s processa temas raster. Isso foi
feito com a funcionalidade RASTERVECTOR.
- O IDRISI Taiga s processa temas com o mesmo tamanho e a mesma
resoluo espacial, por isso, fez-se o recorte de todos os temas de modo a
atender esse requisito. Utilizou-se o mdulo WINDOW do IDRISI Taiga
para o efeito.
- Criao de uma mscara da rea de estudo para fazer o corte dos mapas
finais sempre que necessrio, atravs da funcionalidade OVERLAY.


4.5.1 Composio colorida RGB
A visualizao de imagens de satlite com a composio colorida RGB, exige que
se atribua uma banda do espectro eletromagntico a cada cor. A composio de
cor verdadeira quando se atribui ao canal vermelho a cor vermelha, canal azul cor
azul e ao canal verde cor verde. A cor vermelha, verde e azul correspondem s
bandas 3, 2 e 1 respetivamente, da regio do visvel do satlite Landsat (sensor TM
e ETM+). Quando na composio entra uma banda que no seja da regio do
visvel ou entram as bandas do espetro visvel mas com a ordem trocada, diz-se que
a composio colorida RGB de falsa cor.
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Caetano (2006), apoiado num estudo para uma imagem Landsat TM, sugere uma
anlise de correlao de bandas para selecionar de entre todas as bandas disponveis
quais as trs que retm maior informao, concluindo que para uma composio
colorida RGB se deve optar por uma banda do visvel, do infravermelho prximo e
outra do infravermelho mdio. Segundo Machado (2005), a anlise visual efetuada
no mbito do programa CLC baseou-se numa composio RGB453, precisamente
uma de cada regio do espectro eletromagntico sugerida pelo estudo referido no
autor anterior.
Vrios investigadores sugerem que, no caso de reas construdas a descriminao
visual mais fcil usando a composio RGB453, no obstante a menor resoluo
espacial do sensor TM, por isso, neste projeto foi utilizada esta composio, que
corresponde a banda do infravermelho prximo, infravermelho mdio e do
vermelho no TM. A figura 4.2 mostra para a rea de estudo, as trs bandas
espectrais (banda 4, banda 5 e banda 3) em tons de cinza e as composies
coloridas RGB453 de 1993, 2000 e 2008.




Figura 4.2. Bandas 4, 5, 3 da imagem Landsat 5 TM em tons de cinza e compsito RGB453 de 1993,
2000 e 2008 respetivamente



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4.6 Classificao das imagens de satlite
Os mtodos tradicionais de classificao de imagens, em deteo remota, so
baseados geralmente na anlise espetral dos pixis. Tais mtodos funcionam bem
com dados de maior varincia, mas encontram dificuldade quando aplicados sobre
imagens multiespectrais de alta correlao espetral, como caso das imagens da
rea de estudo. Deste modo, para a classificao deste tipo de imagens
conveniente a adoo de um mtodo mais robusto tal como o mdulo Segmentation
Classifiers do IDRISI Taiga, que para alm da anlise ao nvel do pixel permite a
incluso de informaes adicionais a partir da segmentao dos objetos de
interesse.
Em termos gerais a funcionalidade Segmentation Classifiers do IDRISI Taiga
possibilita extrair informaes e classificar imagens com base nas caractersticas
espaciais, espectrais e de textura.
Com imagens pancromticas e/ou multiespectrais de alta resoluo, um mtodo
baseado em objetos oferece maior flexibilidade nos tipos de caractersticas
extradas. Um objeto caracterizado por uma regio de interesse com
caractersticas espaciais, espectrais (brilho e cor) e de textura.
O objetivo deste projeto avaliar as alteraes ocorridas na mancha urbana da
provncia de Luanda entre 1993 e 2008, o que pressupe a classificao dos mapas
do uso do solo de 1993, 2000, e 2008 em apenas duas classes: urbano e no urbano.
Porm, a grande variabilidade espectral associada a cada uma delas justifica que o
treinamento do algoritmo de classificao recorra a mais classes. Aps a anlise
pormenorizada das imagens Landsat 5, achou-se adequado considerar uma
nomenclatura em trs nveis de classificao: nvel 1 com 8 classes, nvel 2 com
4, classes e nvel 3 com duas classes (tabela 4.5).

Nvel 1 Nvel 2 Nvel 3
Urbano
Urbano Urbano
Suburbano
Vegetao ciliar
Vegetao
No Urbano
Vegetao herbcea
Agricultura
Zonas hmidas
Zonas hmidas
gua
Solo exposto Solo Exposto
Tabela 4.5 Nomenclatura da classificao em trs nveis

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A variabilidade espectral das imagens da rea de estudo associada diversidade de
tipos construo na provncia de Luanda sugere a utilizao da anlise combinada
pixel/objeto pelos algoritmos da mxima verosimilhana e anlise orientada a
objeto atravs da classificao por segmentao. Aps a classificao, foi avaliado
para o ano 2008 o desempenho da classificao, obtendo-se os resultados da
exatido global apresentados na tabela 4.5.
Para aferir o uso do solo nos pontos de controlo na classificao de 2008, recorreu-
se s imagens do Google Maps e algumas entrevistas com pessoas que vivem na
regio h mais de 30 anos, como o caso dos sobas e outras autoridades
tradicionais. No foram avaliados os resultados da classificao de 1993 e 2000 por
falta de informao disponvel, pois nesta altura no possvel confrontar no
terreno os pontos de controlo se tivermos em conta que o que est hoje nestes
lugares, muito provavelmente no corresponde ao que havia naquela altura. Deste
modo, supe-se que a exatido global da classificao de 2008 seja semelhante a de
1993 e 2000.

4.6.1 A dimenso da amostra
importante antes de mais definir o que uma amostra.
Amostra um subconjunto de indivduos subtrados de uma populao. A escolha
dos indivduos que devero pertencer a amostra feita por um processo
denominado de amostragem. Existem vrios mtodos de amostragem. Um deles o
mtodo de amostragem probabilstico, segundo o qual, qualquer indivduo da
populao pode integrar a amostra.
Geralmente possvel determinar a dimenso mnima de uma amostra para estimar
um parmetro estatstico, como por exemplo, a mdia ou a proporo da populao.
No caso da estimativa da mdia da populao, a dimenso da amostra calculado
pela expresso:
n = ( Z
/
2./E)
2
( equao 4.1 )
onde:
n a dimenso da amostra;

Z
/2
um valor que corresponde ao grau de confiana desejado;

o desvio-padro da populao;

E a margem de erro (est relacionado com a diferena mxima entre a
mdia da amostra e a verdadeira mdia da populao.
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O clculo da dimenso da amostra atravs da equao 4.1 no fcil, porque na
prtica o valor do desvio-padro da populao nem sempre conhecido. Para
resolver o problema procede-se da seguinte forma:
- Utiliza-se um valor aproximado de obtido dividindo a amplitude por 4.
- Realiza-se um estudo preliminar, comeando o processo de amostragem
com base na primeira coleo de pelo menos 31 valores amostrais
selecionados aleatoriamente e calcula-se o desvio-padro da amostra S que
utilizado em lugar de .
Pela estimativa da proporo da populao a dimenso da amostra calculada
recorrendo a expresso:
n = ( Z
2
/2 .p.q)/E
2
( equao 4.2 )

onde:
n a dimenso da amostra.
Z
/2
um valor que corresponde ao grau de confiana desejado.
p a proporo de indivduos que pertence a categoria em estudo.
q a proporo de indivduos que no pertence a categoria em estudo.
E a margem de erro (est relacionado com a diferena mxima entre a
Proporo da amostra e a verdadeira proporo da populao.
Se os valores de p e q no so conhecidos, a equao 4.2 exige que se substituam os
valores populacionais p e q, por valores amostrais p e q . Se estes tambm no
forem desconhecidos, substitumos p e q por 0,5, obtendo a seguinte estimativa
(Levine, 2000):
n = ( Z
2
/2 .0,25)/E
2
( equao 4.3 )

O nmero de amostras por classe uma questo importante, porm a literatura
consultada no aponta nenhum nmero totalmente consensual sobre a dimenso da
amostra. Certos acadmicos e pesquisadores recomendam um mnimo de 50
amostras para um nmero de classes at 10 e 100 amostras quando o nmero de
classes superior a 10.

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Figura 4.3. Estatsticas da banda 3 do Landsat 5 TM de 2008


Para resolver o problema, recorreu-se ferramenta pblica Sample Size Calculator
para calcular a dimenso da amostra tendo em conta algumas estatsticas da banda 3
da cena Landsat 5 TM de 2008 (figura 4.3).
Neste caso concreto, considerando um intervalo de confiana de 95% e uma
margem de erro de 15%, o software sugeriu 43 amostras por classe (figura 4.4).

Figura 4.4. Calculo da dimenso da amostra atravs da ferramenta Sample Size Calculator

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4.7 Derivao dos mapas do uso do solo
Os mapas do uso do solo de 1993, 2000 e 2008 foram obtidos a partir da
classificao por segmentao das imagens Landsat 5 TM. A classificao foi feita
sobre os respetivos compsitos de falsa cor RGB453 e realizou-se em trs etapas.
Na primeira foi criado, atravs do mdulo SEGMENTATION, o tema vetorial com
a segmentao dos pixis utilizando as seis bandas (1, 2, 3, 4, 5 e 7) do Landsat 5.
A segunda etapa consistiu na gerao das amostras de treino (figura 4.5) a partir do
ficheiro da segmentao e do compsito RGB453, utilizando-se o mdulo
SEGTRAIN que posteriormente foram usados no mdulo MAKESIG do IDRISI
Taiga para criar as assinaturas espetrais das classes.
Finalizadas as amostras de treino fez-se a classificao atravs do mdulo
SEGCLASS. Este mdulo realiza a classificao utilizando uma imagem
classificada j existente resultante de um processo de classificao supervisionado
ou no supervisionado. Neste caso a imagem foi obtida atravs da classificao
supervisionada por mxima verosimilhana, usando o mdulo MAXLIKE.
Terminadas as amostras de treino, executou-se o mdulo MAKESIG que usou esses
segmentos para criar as assinaturas espetrais das classes (figura 4.5). A
nomenclatura de classes utilizada foi:
1. Urbano
2. Suburbano
3. Vegetao ciliar
4. Vegetao herbcea
5. Agricultura
6. Zonas hmidas
7. Solo exposto
8. gua

A etapa seguinte foi fazer a classificao atravs do mdulo SEGCLASS. O
resultado uma imagem classificada para as oito classes (figura 4.6).
A classificao, foi feita em 8 classes porque se recorreu deteo remota para o
conseguir, e isso significa que se utilizaram as respostas espectrais do coberto do
solo para se obter o mapa classificado. Reduzir o nmero de classes significa
englobar na mesma classe respostas espectrais muito diferentes, de onde resultaria
dificuldade em chegar a uma assinatura espectral fivel dessa macro-classe.
Foi avaliada a qualidade da classificao no nvel 1 tendo sido aceite, considerando
os valores da exatido global e de kappa, da matriz de confuso (tabela 4.6). O
mapa do nvel 1 foi reclassificado agrupando as classes Urbano e Suburbano em
Urbano, as classes Vegetao ciliar, Vegetao herbcea e Agricultura em
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Vegetao, Zonas hmidas e gua em Zonas hmidas e manteve-se a classe Solo
exposto. Como resultando obteve-se o mapa do uso do solo do nvel 2 (figura 4.7).
Para a obteno dos mapas finais, foram reclassificados os mapas do nvel 2 em
apenas duas classes (urbano e no urbano) com auxlio do ndice de Vegetao por
Diferena Normalizada (NDVI) para corrigir as classes mal classificadas. O NDVI
de autoria de TUCKER (1979) e definido como a diferena normalizada entre as
reflectncias captadas na regio do infravermelho prximo e na do vermelho. Pode
ser diretamente relacionado com a quantidade de biomassa existente num pixel
(Masek et al. 2000). possvel reconhecer as reas com alteraes da vegetao e
consequente artificializao, subtraindo o NDVI de perodos diferentes (Haobo et
al. 2005, Masek et al. 2000). Com o auxlio do NDVI foram feitas a adequaes
necessrias para se chegar ao mapa do uso do solo. O NDVI foi calculado de
acordo a equao 4.4:
NDVI = (
ivp

v
)/(
ivp +

v
) ( equao 4.4 )

onde:

ivp
a reflectncia no infravermelho prximo;

v
a reflectncia no vermelho
Aps o clculo automtico do NDVI o mapa foi reclassificado associando os
diferentes valores do NDVI s classes do uso do solo.
Por exemplo, a gua tem reflectncia maior no visvel do que no infravermelho,
sendo assim, o NDVI tem valores negativos. As rochas e o solo exposto tm
reflectncias semelhantes nas duas bandas, logo, o NDVI aproximadamente igual
a zero. Valores mais altos do NDVI esto associados a um maior vigor na
vegetao (HOLBEN, 1986).
O resultado da reclassificao so os mapas das figuras 4.8, 4.9 e 4.10 com apenas
duas classes.


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Figura 4.5. Amostras de treino referentes as classificaes de 1993, 2000 e 2008 respetivamente
ERROR: ioerror
OFFENDING COMMAND: image
STACK:

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