Conferencia de Lambeth 1867 e Outras
Conferencia de Lambeth 1867 e Outras
Conferencia de Lambeth 1867 e Outras
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1. O Arcebispo consultou as duas Cmaras de sua provncia. Naquele tempo ainda no havia a
participao leiga na Igreja da Inglaterra. (Como vimos, anteriormente, na Igreja nos Estados Unidos, na Nova
Zelndia e mais em algumas outras havia a participao dos leigos.) E ouviu o conselho de ambas as Cmaras
no sentido de que os bispos da Inglaterra e do exterior sejam convidados
2. Semelhante conselho ele recebeu dos irlandeses, das colnias e do bispo de Illinois, nos Estados
Unidos.
3. O propsito principal deve ser, acima de tudo,
(a) procurar a bno de Deus unindo-se na expresso mxima da liturgia da Igreja,
(b) e considerar mutuamente a unidade na obra missionria,
(c) promover a intercomunho anglicana.
4. Tal reunio no ser competente para definir alguns pontos de doutrina. Porm, unidos em adorao
e nos conselhos fraternos possvel manter a unidade da f.
De fato, o Arcebispo havia dito aos bispos ingleses que ele no convocaria uma reunio que tivesse
pretenso de elaborar cnones e tomar decises que obrigam s Igrejas o seu cumprimento. 3
Setenta e seis bispos aceitaram o convite. Tudo indica que as sesses da Conferncia duraram quatro
dias, mas houve muitas sesses preliminares para acertar a agenda. Pode-se imaginar a dificuldade em elaborar
uma agenda que pudesse atender toda uma gama de problemas que os bispos de diferentes persuases estavam
levando para serem debatidos. Uns queriam a instituio de um tribunal superior a todas as instncias nas
Igrejas da Comunho Anglicana. Havia quem se interessasse pela confirmao da condenao do Colenso. A
plena comunho com a Igreja da Sucia era o desejo de alguns bispos. Outros queriam o dilogo com as Igrejas
Orientais. Ainda outros queriam coibir o ritualismo. A reviso do Livro de Orao Comum e da Verso
Autorizada da Bblia. O papel do laicato e a aplicao social do Evangelho faziam parte dos debates
preliminares para a elaborao da agenda. Jocosamente um grupo de coadjutores das parquias de Londres fez
chegar Conferncia o pedido de debate sobre o salrio deles.
E as comisses designadas ficaram em Londres trabalhando por meses at redigir os relatrios. Quem
eram esses bispos? Havia telogos e historiadores competentes e profissionais, peritos em leis, formados em
medicina. H indicaes de que eles j haviam ocupado cadeiras nas Universidades de Cambridge, Oxford e
outras. 4 Todos eles participavam das diferentes vises teolgicas e eclesiais existentes na poca.
A Conferncia elaborou uma Carta Pastoral, tomou algumas decises e publicou os relatrios. Este
modelo persiste at agora.
Na saudao h indicao de autocompreenso anglicana que se completa com o que foi dito nas
resolues que logo vamos examinar.
Aos fieis em Cristo Jesus, Presbteros e Diconos e membros leigos da Igreja de Cristo em comunho
com o Ramo Anglicano da Igreja Catlica.
Que essa compreenso do Ramo Anglicano da Igreja Catlica? No prembulo das Resolues os
bispos disseram:
Ns, bispos da Igreja Santa Catlica de Cristo em comunho visvel com a Igreja Unida da Inglaterra e
da Irlanda, professando a F uma vez entregue na Santa Escritura, mantida pela Igreja Primitiva e pelos Pais da
Reforma Inglesa, agora reunidos...
Foi isso que, em diferentes tempos, desde a Reforma do sculo XVI, os anglicanos tm dito. No
entanto, para chegar a essas marcas houve longos e calorosos debates.
Na Pastoral, encontramos um outro aspecto da compreenso anglicana da Igreja. "O amor pelos
santos". Os santos so membros da Igreja e tm uma dimenso inclusiva no sentido de abarcar os vivos e os
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mortos. O que se destaca o sentido fraterno e comunal e comunho. "Pela expanso do conhecimento de
Cristo entre as raas". Outra caracterstica da catolicidade a inclusividade racial. No entanto, a reunio era de
homens brancos. Havia um nico bispo negro naquela poca, o Bispo Samuel Adjai Crowther, ex-escravo, que
no pode vir Conferncia e s pode vir em 1888.
Essa inclusividade intencional e aberta para a sua expresso mais plena e no significa ausncia de
problemas e de pecado na Igreja. Tanto assim que a orao passa a ser uma splica. "Com uma s boca
suplicamos a Deus, o Pai que pelo poder do Esprito Santo nos fortalea para emendarmos entre ns as coisas
que esto fora de propsito, e para providenciar as coisas que esto faltando e chegarmos a adorar-te com
mximo zelo". E, finalmente, a orao pede o restabelecimento do dom da unidade em toda a Igreja.
A Carta reflete, tambm, o conflito entre as Igrejas, principalmente, com a S Romana. A crtica se
dirige rea de
1. Supersties e adendo de ensino discutvel Palavra.
2. A pretenso da soberania universal sobre a herana de Deus por parte da S de Roma
3. A exaltao prtica da Bem-aventurada Virgem Maria como mediadora, que substitui o seu Divino
Filho e as intercesses dirigidas a ela.
Tambm, o item 2 tinha um propsito bem especfico, na vspera do Conclio de Trento (1870) onde
foi promulgada a Infalibilidade Papal e onde no faltaram opositores como Newman, ex-anglicano e Dllinger,
que deixou a Igreja Catlica e comeou a Igreja Vetero-Catlica.
A Carta passou, tambm, por momentos difceis, quando se referiu morte de Cristo por ns, para
reconciliar o Pai conosco, de acordo com o 2 artigo dos XXXIX Artigos da Religio, porm no conforme a
teologia paulina.
Verifica-se que a preocupao com a unidade da Igreja bastante saliente. No prembulo das
resolues, a Conferncia d,
em primeiro lugar, graas porque Deus os trouxe ao conselho mtuo e unidade na adorao.
Em segundo lugar, expressa a profunda tristeza pela diviso do rebanho de Cristo pelo mundo e o
desejo ardente de que se cumpra a orao do Senhor: para que seja um.
Em terceiro lugar, a Conferncia registra que a unidade ser mais eficientemente promovida pela
manuteno da F em sua pureza e integridade como ensinada nas Santas Escrituras, resumida nos Credos, e
afirmada pelos incontestes Conclios Gerais, e pela unio de cada um com o Senhor comum, e pela doao de
todos orao e intercesses, e cultivo do amor.
Resolues
So ao todo treze resolues e giram em torno da autodisciplina que as Igrejas da Comunho Anglicana
devem manter e dos meios para a promoo da intercomunho.
1. Na eventual criao de novas dioceses e na sagrao de novos bispos, os Arcebispos, Metropolitanos
e Bispos Presidentes, isto , os Primazes devem ser informados.
2. Na eventual visita dos clrigos e leigos s outras dioceses, recomendvel que levem a carta de
recomendao.
Na opinio da Conferncia a unidade na F e Disciplina se mantm pela subordinao dos Conclios
aos Snodos.
No que se refere situao da Igreja em Natal, na frica do Sul a Conferncia lamentou
profundamente e endossou a resoluo da Convocao da Canturia passada no dia 29/6/1866, que reza o
seguinte.
Se se decidir a sagrao de um novo bispo de Natal, opinio desta Cmara que se elabore um
instrumento formal de assentimento doutrina e disciplina da Igreja da Provncia da frica do Sul, ao qual todo
bispo, presbtero e dicono se subscrevam.
Uma outra resoluo diz respeito ao padro de f e doutrina em uso na Igreja que deve ser recebida da
Igreja-me pelas Igrejas novas em formao pelo trabalho missionrio. Nessa recepo haver sempre o direito
de fazer a adaptao de acordo com as exigncias das circunstncias locais, contanto que no esteja
inconsistente com o princpio do Livro de Orao Comum.
Relatrios
Vrios assuntos foram tratados pelas comisses, mas o que se destaca o relatrio sobre o sistema
sinodal e um outro sobre a eleio de bispos.
1. A comisso encarregada de tratar do sistema sinodal julgou que era necessrio pensar mais
abstratamente num princpio que pudesse ser adaptado conforme as circunstncias e as leis j herdadas.
1.a. No sistema sinodal o conclio diocesano a forma principal e mais simples de tal sistema. Por
meio de conclio obtm-se a cooperao de todos os membros da Igreja em ao e assegura-se a aceitao das
leis da Igreja, que obrigam o seu cumprimento por parte dos que expressamente ou pela implicao deram o
consentimento.
1.b. O conclio deve consistir de bispo, clrigo jurisdicionado e de representantes do laicato. A
constituio do snodo diocesano (i.e., conclio em nossa nomenclatura) pode ser determinada pelos
regulamentos estabelecidos pelo snodo da Provncia ou pelo consentimento geral da diocese ad referendum do
snodo provincial.
1.c. No que se refere organizao do conclio, sugere-se a forma unicameral com votao separada
em duas ordens, em casos que assim exigem.
1.d. interessante observar que a Igreja, nesse perodo, no estava consciente do ensino evanglico e
paulino de que em Cristo no h homem, nem mulher,mas uma nova criao, por isso, todos so iguais. (Gl
3.28). E isso redundou em afirmar que os representantes do laicato devem ser homens.
2. O Snodo provincial ou Snodo Geral como denominado na Nova Zelndia, ou Conveno Geral,
nos Estados Unidos, diz o relatrio, prov duas coisas: (1) um mtodo de assegurar a unidade entre as
dioceses, (2) o elo entre essas dioceses com outras Igrejas da Comunho Anglicana.
3. Sem questionar o direito dos bispos de uma Provncia se reunir quando e onde quiserem, o relatrio
sugere que a reunio sinodal seja de bispos, clrigos e leigos representantes de cada diocese.
4. Cada Provncia deve resolver se deve ou no, ou em que circunstncias, todos devem se reunir numa
s Cmara ou separadamente. Quanto votao o relatrio sugere que seja feita separadamente por ordens.
Para fins legislativos preciso que o consentimento seja obtido nas trs ordens: bispos, clrigos e leigos. As
funes e poderes que no envolvam a legislao sejam reservados aos bispos, em virtude de seus ofcios.
5. Para evitar os conflitos entre Snodo diocesano e Snodo geral (ou em nossa nomenclatura, conclio e
snodo), o Snodo geral deve tratar de questes de interesse geral de toda a Igreja (P.EX, IEAB) e daquelas que
afetam a comunho entre as dioceses e a comunho com o resto da Igreja, e deve deixar que o snodo diocesano
(em nosso caso, conclio) trate de seus negcios.
Sob essa perspectiva, o relatrio sugere que as alteraes litrgicas (LOC), o regulamento da disciplina
do Clero, o regulamento concernente ao julgamento do Clrigo so da alada do Snodo Geral. Do mesmo
modo, a criao de uma diocese da competncia do Snodo Geral.
Num outro relatrio, as sugestes quanto eleio de um bispo foram alinhavadas do seguinte modo:
A. Deve-se levar em considerao a necessidade de se ter ao concomitante de duas partes: clero e
laicato, sendo os bispos da Provncia responsveis pela sagrao.
B. Em princpio, de acordo com a prtica da Igreja Antiga, a diocese deve eleger o seu bispo e os
bispos da Provncia devem confirmar a eleio. Tambm, o relatrio opina que consistente com esse princpio
a diocese enviar dois ou mais nomes Cmara dos Bispos para a escolha de um. Ou ainda possvel que a
diocese delegue a um rgo ou pessoas para escolher o seu bispo. Ou ainda consistente com aquele princpio
acima exposto que a Cmara dos Bispos sugira dois ou mais nomes para que a Diocese eleja um deles.
SOBRE A 2 CONFERNCIA.
Preocupou-se mais pela manuteno da unidade entre as Igrejas da Comunho Anglicana. Foram reafirmados
os padres de doutrina, disciplina e liturgia anteriormente aceitos.
Os ttulos dos Relatrios
I. A melhor Forma de Manter a Unidade entre as Vrias Igrejas da Comunho Anglicana.
I.1-4. Unidade e Diversidade
A inviabilidade do Snodo Geral da Comunho Anglicana e mtodo de consulta (pp 82-3)
1. Organizao eclesial
2. Obra comum
3. Carta de recomendao do clero que viaja
4. comunicao entre as Igrejas
5. Dia de Intercesso
6. Diversidade nas formas de adorao
II.
III. A Relao entre os Bispos Missionrios e Missionrios de Vrios Ramos da Comunho Anglicana atuando
no mesmo pas.
IV. Posio das Capelanias Anglicanas na Europa Continental
[A idia do patriarcado anglicano no se vingou e em 1897 ficou muito mais patente de que esse no desejo
anglicano. STEPHENSON , PP100-101, 51-2,54]
3 Conferncia (1888)
I.
II.
III.
IV.
V.
VI.
VII.
VIII.
IX
X.
XI.
XII.
4 Conferncia (1897)
I.
II.
III.
Relao das Comunidades Religiosas com o Episcopado dentro da Igreja (sobre a diaconisa, p.217)
Estudo Crtico das Escrituras
IV.
(a)
(b)
(c)
V.
VI.
VII.
VIII.
IX.
X.
XI.
Misso Estrangeira
Dever da Igreja para com os seguidores
1. das religies tnicas
2. do judasmo
3. do islamismo
Desenvolvimento das Igrejas indgenas (nativas)
Relao dos Bispos e Clrigos Missionrios e com as sociedades missionrias
Sobre os Movimentos de Reforma na Europa e Alhures
1. A Igreja Vetero-Catlica na Alemanha
2.
na Sua
3. A Igreja Crist Catlica da Sua anterior Reforma
4. A Igreja Episcopal Mexicana
5. Igrejas Latinas
6. ustria
7. A Igreja Episcopal no Brasil
Sobre a Unidade da Igreja em relao
1.com Igrejas Orientais
2.com a Comunho Latina
3.com outras organizaes Crists
Tribunal Internacional
Questes Industriais
Livro de Orao Comum, Ofcios Adicionais e Adaptaes Locais
Deveres da Igreja para com as Colnias
Diplomas de Teologia
5 Conferncia (1908)
Carta (ver o esprito da...)
F e Pensamento Moderno
Proviso e Treinamento do Clero
Educao
LOC
Santa Comunho (problema do clice e o receio)
Ministrio da Cura
Casamento e seus problemas
O testemunho moral da Igreja
Organizao anglicana
Reunio
I.
II.
III.
IV.
V.
VI.
VII.
VIII..
IX.
X.
XI.
XII.
6 Conferncia (1920)
Notas biogrficas do Arcebispo Randall Davidson (1840-1930)
Foi arcebispo de Canturia de 1903 a 1920.
Notas biogrficas do Arcebispo Cosmo Lang ().
08/04/94
Manuteno e Promoo da Unidade entre as Igrejas da Comunho Anglicana (1878)
A 2 Conferncia de Lambeth ocupou-se mais com a manuteno e promoo da unidade das Igrejas de
sua Comunho.
A seguinte agenda foi adotada e discutida sob a presidncia do Arcebispo Tait.
I.1-4.
II.
III. Relao entre os Bispos Missionrios e Missionrios de Vrios Ramos da Comunho Anglicana atuando no
mesmo pas.
IV. Posio das Capelanias Anglicanas na Europa Continental
A agenda acima indicada mostra-nos que a 2 Conferncia trabalhou em torno daquelas coisas que
proporcionassem s Igrejas a unidade na diversidade.
Quais so essas coisas? Primeiro, a questo da unidade. Existe a unidade na comunho numa s
Cabea Divina. Como a Conferncia entendeu essa comunho? Ela reiterou o que se disse anteriormente com
pequenas variaes: de uma s Igreja Catlica e Apostlica, que mantm uma s F revelada na Sagrada
Escritura, definida nos Credos, mantida pela Igreja Primitiva, que recebe as mesmas Escrituras Cannicas do
Antigo Testamento e do Novo Testamento contendo todas as coisas necessrias para a salvao. Estas Igrejas
ensinam a mesma Palavra de Deus, participam dos mesmos Sacramentos divinamente ordenados, por meio do
ministrio das mesmas ordens apostlicas e adora um s Deus e Pai pelo mesmo Senhor Jesus Cristo, pelo
mesmo Esprito Santo e Divino, o qual dado aos que crem, para guia-los em toda a verdade.
Sempre que se fala na unidade surge a questo da diversidade. De fato, se quiser levar a srio a
realidade da vida e, acima de tudo, a realidade de Deus revelada como o Deus Triuno, preciso que se leve em
considerao a diversidade. Como foi considerada a diversidade? Nas Igrejas em comunho numa s Cabea
divina houve sempre variedade de costumes, disciplinas e formas de adorao, em conseqncia do exerccio
dos direitos "por parte das Igrejas particulares e nacionais de instituir, alterar, e abolir cerimnias ou ritos da
Igreja ordenados pela autoridade humana, de modo que tudo seja feito para a edificao.(Art XXIV dos 39
Artigos)
Por outro lado, a Conferncia entendeu que, na Comunho Anglicana, no havia questes efervescentes
na rea da diversidade.
A concepo da Comunho na unidade e diversidade em misso requer um mtodo que corresponda a
essa concepo e viabilize seus objetivos. Esse mtodo, entenderam os membros da Conferncia, deve ser
aquele que originou da inspirao dos Apstolos e serviu para manter as Igrejas de Cristo em comunho visvel
e indivisa. Tal mtodo o conclio disseram eles. E pode-se dizer que o corao do Conclio a consulta. Por
isso, reconheceram a importncia do Conclio ou Snodo Geral, e, tambm, da sua inviabilidade nas condies
reais das Igrejas. Por essa razo, eles descartaram o Snodo Geral das Igrejas da Comunho Anglicana e o
Tribunal Superior de Apelao da Comunho Anglicana. Essa questo sempre voltou nas Conferncias. Na
Conferncia de 1897 a maioria dos bispos pronunciou que no era a inteno deles ter um Snodo Geral da
Comunho Anglicana nem transformar a Canturia num Patriarcado Anglicano. 5
Estabelecida essa viso catlica da Igreja como a Comunho Anglicana entendeu passaram a tratar da
relao entre os bispos, dioceses e clrigos. Um desses princpios que abarca a unidade e diversidade o
respeito a um agrupamento do povo de Deus numa rea geogrfica e sua relao com outras num outro
agrupamento, isto , Diocese e Provncia.
Conforme esse princpio, estabelecida uma diocese nenhum bispo nenhum clrigo pode atuar nela sem
o consentimento do bispo da diocese. Baseado, tambm, nesse princpio nenhum clrigo ser transferido para
uma outra diocese sem o seu consentimento e do seu bispo e do bispo da diocese, qual se pretende ser
transferido. Como foi dito anteriormente, esse princpio era importante para manter a unidade e diversidade
entre as Igrejas da Comunho Anglicana. Esse princpio est em vigor at hoje.
Na verdade, havia a necessidade de "ecumenismo" interno das Igrejas da Comunho Anglicana. As
diferentes sociedades missionrias de diversas Igrejas como a da Inglaterra, dos Estados Unidos e do Canad,
por exemplo, estavam operando num s pas como Japo. Na frica e na ndia as sociedades missionrias
tiveram a dificuldade de cooperao e deixaram certas cicatrizes que foram difceis de sanar. Atualmente, elas
esto cooperando. A formao das Provncias ou Igrejas autnomas facilitou a cooperao, porque as dioceses e
5
as Provncias no ficaram atreladas a uma s sociedade, embora em alguns lugares tal coisa tivesse acontecido,
porm mais cedo ou mais tarde o cordo umbilical teve de ser cortado.
No se mantm a unidade s com o arranjo das estruturas e organizao. A unidade requer ao
conjunta. Por isso, procuraram unir-se em ao, cooperao. Descobriram que uma das necessidades das Igrejas
mais jovens estava na esfera da educao, da formao dos clrigos.
Um outro meio de promover a unidade proposta foi a intercesso. De fato, a intercesso pela Misso
implica na participao na Misso do Filho enviado pelo Pai e leva a Igreja ampliar os sinais do Reino sob um
s Pastor, Jesus Cristo. Naquela poca a intercesso ficou limitada a determinado perodo do ano cristo, por
exemplo, na semana que precede ao Pentecostes. Hoje, todos os dias h oraes por mais de uma diocese na
Comunho Anglicana.
Como nas futuras Conferncias foi tratada a questo da unidade e diversidade na adorao. No entanto,
a dimenso da unidade recebeu mais nfase.
Havia, sem dvida, problemas decorrentes de vrias sociedades missionrias de mais do que uma Igreja
em operao. Por isso, houve recomendao de que no se introduzissem vrios Livros de Orao Comum aos
conversos do paganismo. Mas, ao mesmo tempo, a recomendao deu espao adaptao da Liturgia, de um
lado, e de outro, a preservao do padro do Livro de orao Comum.
Como se pode observar nas duas primeiras Conferncias a preocupao dos bispos estava voltada mais
para a organizao da Igreja e sua relao com outras Igrejas. J na segunda Conferncia comeou despontar as
preocupaes relativas tica. Os temas do dia foram discutidos: temperana, a santidade do matrimnio,
divrcio, e assistncia aos emigrantes britnicos, e a questo da poligamia e do socialismo.
Para alm das fronteiras eclesiais e religiosas (1897 e 1908)
Os passos para alm das questes eclesiais internas para rea social e econmica foram dados
paulatinamente. A caminhada para a conversao com outras Igrejas que no da Comunho Anglicana foi
iniciada na 1 e 2 Conferncias. Isto no significou que as Igrejas representadas pelos bispos no tivessem
preocupaes com as questes sociais.
Na Inglaterra, a classe mdia e a elite viviam na prosperidade. Era o perodo do triunfalismo comercial.
Muitos clrigos vinham da classe mdia embora houvesse excees. Eles no tiveram a experincia da pobreza.
Gozavam de rendimentos do patrimnio da famlia.
Nesse contexto, os evanglicos eram orientados por uma pastoral do assistencialismo e da reforma dos
indivduos. Os panfletrios tiveram uma outra proposta: a ao da Igreja nas favelas para levar aos oprimidos
uma nova esperana.
Nesse clima houve um grupo inspirado por F.D.Maurice, (1805-72), professor na Universidade de
Londres, na College de Londres e por J.M. Ludlow (1821-1911), jurista que, na Frana, estudou a revoluo
francesa e Charles Kingsley, proco de uma aldeia com facilidade de comunicao. Estes se consideraram
socialistas cristos, preocupados com as injustias sociais e interessados na transformao social. Pois a prtica
social desse perodo foi dominada pelo individualismo e pelo descontroladas leis do comrcio. E as leis do
comrcio eram consideradas leis da natureza e de Deus. Por isso, os indivduos devem ser deixados livres para
buscar o seu interesse.
Alec Vidler observa numa preleo Bampton, em Oxford em 1825 a filosofia do dia contra a qual um
grupo de cristo reagia.
Conhecemos a tendncia caritativa, no seu amplo significado, para humanizar a sociedade, para adoar
a vida simples, para mitigar, para quase anular todas as calamidades que afligem a natureza.
E Vidler comenta
Estes sentimentos piedosos constituam uma resposta inadequada imensa desumanidade da sociedade
na qual viviam multides de ingleses, ou amargura da vida simples das choas onde tinham de viver e nas
fbricas e minas onde mulheres e crianas, tal como os homens, tinham de trabalhar durante horas em
condies intolerveis.6
Por outro lado, havia Thomas Spencer, clrigo da Igreja e tio do Herbert Spencer , que, na viso de seu
sobrinho, era mais semelhante aos profetas do Antigo Testamento, que denunciavam os erros, tanto do povo
quanto dos governantes. Como tal se diferia da maioria do clero que pensava que o seu ministrio consistia em
fazer cerimnias, fazer oraes e dar ordens que no ofendiam os membros influentes do seu rebanho. 7
No contexto dessa natureza a denominao socialismo cristo tinha sentido provocativo, e, no dizer de
Maurice, o alvo era cristianizar o socialismo e socializar o cristianismo. Ludlow e Kingsley e Maurice fizeram
circular panfletos com o nome de Poltica para o Povo, Socialismo Cristo e Socialista Cristo.
Este movimento teve seu recesso em 1854 e retomado uns vinte anos depois. Entrementes, houve
movimentos de pequenas reformas em favor dos pobres, movimento de "ambulncia", assistncia para os
alcolatras. Houve clrigos que foram morar nas favelas para estar com os pobres j mencionado
anteriormente. Essas questes de ordem assistencialista foram consideradas nas 3 Conferncia sob rubrica de
Intemperana e Socialismo Cristo.
Por volta de 1873 houve um tipo de Encontro ou Congresso da Igreja, que se dedicou aos temas como a
legitimidade das greves e indagavam pode-se conceber que S.Tiago ou S.Paulo ficasse do lado da elite contra
os trabalhadores? Havia um bispo em Manchester com o nome de James Frazer respeitado por vrias classes,
considerado lder no movimento da justia social e fez vrias mediaes nas vindicaes trabalhistas.
Foi nesse perodo que o socialismo cristo foi retomado por aqueles que foram inspirados por Maurice,
Kingsley e Ludlow. Estes foram Thomas Hancock e Stewart Headlam que consideravam o Magnificat como
"Hino da Revoluo Social" publicou panfletos como "a Bandeira de Cristo nas mos dos socialistas. Headlam
fundou a Associao de S.Mateus, em Londres e contou com 400 membros. Esse grupo ia s ruas em protesto.
Quando um jovem trabalhador foi morto numa demonstrao socialista em Londres, Headlam liderou a
caminhada pelas ruas importantes passando pela frente da Catedral de S.Paulo at o cemitrio Whitechapel.
Este movimento foi retomado posteriormente com moderao pelo Bispo Charles Gore, de Oxford, e pelos
autores de Lux Mundi. Por isso, Moorman observou que, enquanto as "ambulncias" de todos os tipos corriam
atrs das vtimas da sociedade, houve, tambm, quem fosse s razes dos males sociais e buscasse meios de sua
cura.8
Sob esse pano de fundo ,os bispos de diferentes pontos de vista reunidos em 1888 e 1897 trataram das
questes colocadas pela revoluo industrial.
A encclica da Conferncia de 1897 reconhece que, na viso de algumas classes, as indstrias so
injustas aos trabalhadores e indevidamente favorveis aos empregadores. claro que eles no puderam entrar
em pormenores a respeito da injustia. Porm apelaram para a prtica da fraternidade em todos os aspectos do
relacionamento entre os empregados e empregadores. Tambm, ponderaram que os ricos esto mais distantes
do Reino de Deus e que Deus est interessado com os cuidados dos pobres. Por outro lado, refletiram sobre as
tentaes ao desespero, dependncia da filantropia, que pesam sobre os trabalhadores. Em poucas palavras,
no faltou Conferncia a sensibilidade para com as estruturas sociais e econmicas e leis injustas que geram a
pobreza.
Socialismo na viso da Conferncia de 1888 (continua)
apndices
6
7
8
4 Conferncia (1897)
I.
II.
III.
IV.
(a)
Relao das Comunidades Religiosas com o Episcopado dentro da Igreja (sobre a diaconisa, p.217)
Estudo Crtico das Escrituras
Misso Estrangeira
Dever da Igreja para com os seguidores
1. das religies tnicas
2. do judasmo
3. do islamismo
Desenvolvimento das Igrejas indgenas (nativas)
Relao dos Bispos e Clrigos Missionrios e com as sociedades missionrias
(b)
(c)
V.
VI.
VII.
VIII.
IX.
X.
XI.
21/12/aa
E a Carta continua apreciar os estudos de esquemas que propem a restaurao do equilbrio social por via
legislativa ou por entendimento entre as classes sociais ou ainda por outros meios para a soluo pacfica sem a
violncia e sem a injustia o objetivo mais nobre que os seguidores de Jesus Cristo podem entreter. E a
Conferncia recomenda a leitura do relatrio sobre o socialismo.
Que se entendia por socialismo? Examinando algumas obras disponveis, a comisso que tratou do
assunto classificou os objetivos propostos pelas doutrinas socialistas. (1) introduzir nas condies sociais
maior igualdade. (2) as reformas sociais pelo Estado. Tambm foi observado que a interferncia do Estado
como sendo necessria no universalmente aceita entre os socialistas. 'O ponto central do socialismo
conforme a ltima edio da Enciclopdia Britnica naquele tempo '' terminar com o divrcio dos
trabalhadores com os recursos naturais da subsistncia e da cultura.E aessncia dessa teoria consiste na
produo cooperativa com um capital coletivo com vistas a uma distribuio eqitativa".
vista disso, a Conferncia entendeu que, em termos gerais, qualquer esquema de reconstruo social
poder ser chamado de socialismo, contanto que vise unir o trabalho e os instrumentos de trabalho (terra e
capital) seja pela mediao do Estado, seja pela ajuda do rico, seja pela cooperao voluntria dos
trabalhadores.
Diante de uma noo vaga do socialismo, a Conferncia no percebeu nenhuma incompatibilidade
entre o cristianismo e o socialismo. Por outro lado, o relatrio demonstrou as restries que os bispos fizeram
para com alguns socialistas ateus, ou advogados de dissoluo de laos familiares, e de extino de propriedade
privada como sendo o mal social.
A Conferncia mostrou, em linhas gerais, sua simpatia para com os ideais de uma democracia social e
sugeriu uma pastoral que pudesse ajudar os trabalhadores a organizar as cooperativas, bancos, e ajudar os
empresrios a levar os trabalhadores a ter participao nos lucros da empresa. Um dos pontos importantes nesse
relatrio foi a compreenso de que o Evangelho tem a ver com as injustias sociais de um lado, e de outro, com
a transformao social.
Houve anterior a essa Conferncia alguns movimentos sociais como j vimos anteriormente. Maurice,
Kingsley, Ludlow e Stewart Headlam e sua irmandade ou fraternidade de S.Mateus tiveram j suas aes. E em
1889 Charles Gore editou Lux Mundi retomando a linha do movimento social, porm com nfase nas
pesquisas.
Tambm, na Igreja Episcopal nos Estados Unidos, estavam surgindo, nessa mesma poca, movimentos
similares. Por exemplo, a Associao da Igreja pelo Avano dos Interesses do Trabalho foi fundando em 1887.
Desde a sua fundao at 1904 o seu presidente foi o Bispo F.D. Huntington. Essa associao reunia eclesianos
de vrias tendncias. Seu filho, James O. S. Huntington, fundador da Ordem de Santa Cruz, foi um dos lderes
dessa organizao. Ela influiu no reconhecimento do movimento sindical. Tambm, ela levou a Conveno
Geral da Igreja em 1901 a formar a Comisso para o estudo da relao entre o capital e o trabalho. Nesse
mesmo ano, Bernard Iddings Bell - presbtero e telogo da Igreja - fundou a Liga dos Cristos Socialistas. Estes
movimentos tiveram, naturalmente, as influncias de Maurice, Kingsley, Ludlow, S.Headlam. Certamente, esse
movimento se estendeu ao anglicanismo em outros pases. Por isso, no de estranhar que, no Congresso PanAnglicano de 1908, o tema do socialismo (democracia social) foi debatido com muito entusiasmo.
Em todos esses movimentos, o Evangelho era o centro motivador para denunciar os males sociais e
trabalhar pela transformao social. Junto a essa viso evanglica a Igreja, de modo geral, e alguns telogos
compartilhavam o otimismo em relao ao progresso da humanidade. Nos Estados Unidos esse perodo foi
denominado de Evangelho social. Naturalmente, o Evangelho social foi visto e exposto com diferentes matizes.
O tema da relao entre Igreja e o mundo foi retomado em 1948 sob o ttulo de Deus e seu mundo. Isto
foi depois da 2 Guerra Mundial, aps os horrores da guerra contra o totalitarismo, e aps a diviso do mundo
em reas de influncia das grandes potncias e incio da guerra fria.
10
Com o surgimento das novas maneiras de ver o mundo nos tempos das primeiras Conferncias de
Lambeth a Igreja foi desafiada a tomar a conscincia mais aguda de que "as coisas necessrias para a salvao
- o mistrio da comunho do Deus-conosco - so mediadas pelas estrias anunciadas nos contextos de outros
tempos. Isso equivale a dizer que a Bblia tem de ser estudada como produo literria de homens e mulheres
de outros tempos e ter reverncia para com a experincia do mistrio da comunho do Deus-conosco, que nos
vem por meio dessa produo literria.
Como j vimos, quando alguns membros da Igreja comearam examinar as teorias de autorias da Bblia
at ento aceitas e as publicar houve rebulio na Igreja. Nesse rebulio foi revelado algo insano, doentio, que
procurou ir ao encontro dos desafios negativamente, por meio de condenao oficial dos desafios.
Diante disso, a Conferncia de 1897 exps o perigo a que incorreria a f se ela for tomada de medo de
examinar as Escrituras com o critrio aplicado literatura e aos documentos antigos. Que que a Conferncia
de 1897 disse?
O estudo crtico da Bblia pelos estudiosos competentes essencial manuteno de uma f sadia na
Igreja. J se encontra em graves perigos aquela f que recusa enfrentar as questes sobre a autoridade da Bblia
ou sobre a autenticidade de qualquer parte das Escrituras. Tal recusa cria uma dolorosa suspeita nas mentes
daqueles aos quais ministramos e enfraquecer o vigor de nossa prpria convico da verdade que Deus nos
revelou. A f que sempre ou com freqncia acompanhada de um medo secreto para que no ousamos fazer
pesquisa, a fim de que ela no nos leve aos resultados inconsistentes com o que j cremos - essa f j est
infectada de vrus que logo a destruir. 13
Por outro lado, a Conferncia reconheceu que o estudo crtico ser acompanhado de doena, se no
tiver a proteo da reverncia, confiana e pacincia. Essa proteo refere-se postura de f, de abertura diante
da Divina Presena em Jesus Cristo, o centro das Escrituras. Lida sob essa perspectiva, a Escritura a histria
da revelao da humanidade criada imagem de Deus e da revelao de Deus que assume a humanidade em
Jesus Cristo e, por isso, todas as pginas da Escritura esto plenas da revelao da Presena Divina e elas
exercem seu poder sobre as pessoas at que o Senhor venha. 14
Estas referncias encontram-se na Carta Encclica e representam a linguagem mais pastoral, tendo
como base um estudo apresentado por uma comisso designada pela Conferncia.
O estudo constata, primeiramente, duas coisas. (1) O estudo das origens e estruturas das Escrituras tem
inquietado alguns dos leitores ponderados e piedosos (2) Por outro lado, os leitores igualmente ponderados e
reverentes para com a Bblia tm acolhido o estudo livre da crtica bblica por apoiar a melhor compreenso e
aceitao mais pronta da Palavra de Deus. Aqui bom observar que esta forma de constatao tem prevalecido
nos relatrios das Conferncias recentes de Lambeth, principalmente, das questes controvertidas. O mesmo se
constata nos documentos das Comisses designadas para as questes da Ordenao Feminina. Numa conversa
mais informal Colin Craston, coordenador do Conselho Consultivo Anglicano disse que tal procedimento
consiste em no colocar os oponentes na parede, mas deixar certa abertura para uma sada melhor.
Na primeira parte do relatrio a comisso expe ainda outros pontos detectados no estudo. Por
exemplo,
(1) a autoridade divina e a inspirao mpar das Escrituras no sero comprometidas com os estudos crticos.
(2) Conclui-se, ao contrrio, que a Bblia em sua coerncia histrica, moral e espiritual apresenta a Revelao
de Deus progressivamente dada e adaptada s vrias pocas at que se encontre a sua completao na pessoa,
no ensino e na obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Revelao assim interpretada e aplicada sob a direo do
Esprito Santo constitui a suprema regra e o padro ltimo da doutrina crist. Sob esse aspecto, (3) o estudo
crtico de qualquer parte das Escrituras um dever comum dos mestres cristos e dos telogos que so capazes.
Por outro lado, o relatrio recomendou que se tomasse precauo contra posies dogmticas e concluses
apressadas tanto por parte dos oponentes quanto dos simpatizantes da crtica bblica.
13
14
Feita essa ressalva, a comisso reconhece que os estudos crticos traro para a Igreja um senso mais
vvido da realidade da Revelao Divina que foi dada pelas agncias e histria humanas, que contm "todas as
coisas necessrias para a salvao".
Na segunda parte do relatrio, a comisso reconhece vrias especulaes crticas, limita-se a
reconhece-las, e salienta que, nos ltimos cinqenta anos, os estudos tm sido influenciados por duas
caractersticas da poca: (1) desenvolvimento do conhecimento cientfico e pesquisa histrica, (2)
solidariedade do conhecimento humano.
Aps essa constatao, vem ainda o reconhecimento de que, aplicado o mtodo cientfico, a Bblia se
difere de todas as outras obras literrias. Esse carter diferente merece a nossa ateno. Pois com todas as
caractersticas da produo humana feita em diferentes pocas, em contextos diferentes h nessa literatura algo
que nos confronta e desafia. Sem ser o outrem, a Bblia deixa de ter desafio para a Igreja.
Que essa caracterstica diferente que o mundo de estudiosos ressaltou?
(1) Diversidade e crescimento das tradies bblicas (ainda no se usou essa terminologia)
(2) O valor permanente dos livros da Bblia quando colocados em seu contexto histrico e em relao
com as idias dominantes da poca.
Esses pontos so importantes, tambm, para ns hoje, embora a noo da diversidade fosse limitada.
No que se refere continuidade entre o Antigo Testamento e Novo Testamento e o uso do Antigo
Testamento pelos autores do Novo Testamento, mostrou-se necessrio ainda passar pelos estudos e debates.
Mesmo assim, vemos ai a abertura de espao para a leitura contextua das Escrituras com instrumentos crticos.
O reconhecimento da "mediao" da Palavra por meio das agncias humanas e histricas possibilita todas as
formas de leitura da Bblia hoje disponveis. Lambeth nunca foi legislativa e seus relatrios tm tido fora
limitada. Mas os relatrios tm sido uma orientao geral para a Comunho Anglicana. claro que, nos
Seminrios e nas Universidades relacionadas com as Igrejas da Comunho Anglicana, estava em processo o
ensino das Escrituras nos moldes crticos disponveis na poca e os debates sobre os mesmos.
O LIVRO DE ORAO COMUM EM 1897 E SUA ADAPTAO AOS NOVOS CONTEXTOS
Depois das Escrituras o Livro de Orao Comum ocupa lugar de importncia em nossa Comunho
Anglicana, porque, nele, se encontra o nosso padro autorizado de doutrina. Os membros da Conferncia
entenderam que, no LOC, esto expostas as grandes doutrinas da F em sua relativa proporo. Por isso, eles
mostraram o cuidado de no comprometer a inclusividade e equilbrio. Dentro desse cuidado, eles
reconheceram as limitaes no sentido de que nenhum LOC pode ir ao encontro de toda e qualquer necessidade
dos membros da Igreja em cada variao das circunstncias locais. Por exemplo, a Igreja dos Estados Unidos
estava enfrentando problemas advindo do evangelicalismo,dos panfletrios, do ritualismo, do evolucionismo,
da crtica bblica, da insegurana em face imigrao macia de Catlicos Romanos, e da mudana de gosto na
arquitetura eclesistica. 15
Nessa mesma poca, na Inglaterra e no Pas de Gales cerca de cinqenta por cento da populao
freqentava as Igrejas. Ronald C.D. Jasper apresenta o seguinte quadro:
O nmero de populao
O nmero de participantes
Igreja da Inglaterra
Igreja Catlica Romana
Igrejas Livres
15
17.927.609
5.292.551
383.630
5.288.294
Marion Hatchett citado por SYDNOR, William. The Real Prayer Book, p.60
A grande maioria havia perdido contacto com as Igrejas por desinteresse. Havia, tambm, quem no
fosse liturgia porque no se dispunha de roupas adequadas. Outros, embora em poucos casos, eram barrados
pelo sistema de cadeiras "cativas". Principalmente, a Igreja da Inglaterra perdeu a sua influncia na rea
industrial do Norte. Com a pesquisa que mostrou o quadro acima houve uma pergunta geral: Ser que os
Ofcios da Igreja esto indo ao encontro da necessidade espiritual do povo? Foi nessa poca que em que houve
a tentativa de mudana na legislao litrgica no sentido de reduzir Orao Matutina, Litania e Eucaristia num
s Ofcio de modo que o culto dominical fosse abreviado. Houve mais sugestes at movimentos para a
mudana na Liturgia.16
Sob esse pano de fundo, a Conferncia de 1897 afirmou a importncia do jus liturgicum, o direito do
bispo diocesano autorizar ofcios adicionais na sua diocese. Vemos com isso o princpio da liberdade e ordem.
Por isso, o relatrio ressalta a importncia do esprito e padro do ensino do Livro de Orao Comum.
PREOCUPAES COM A EDUCAO TEOLGICA
Houve demonstrao de interesse pelo nvel educacional teolgico nas Igrejas, principalmente, nas
colnias britnicas. Houve recomendao aos empresrios no sentido de que, para elevar o referido nvel,
instituir seminrios ou bolsas ou ctedras. Todavia, as preocupaes pela melhoria do nvel acadmico eram
mais apologticas no sentido de defender a F, ao invs de ampliar as fronteiras da Misso no apenas no
sentido geogrfico, mas no sentido de dialogar com o mundo e descobrir novas formas de participar na vida
deste mundo como agentes do Reino de Deus
MISSO AOS POVOS DE OUTRAS RELIGIES
O relatrio sobre a Misso aos povos de outras religies foi bastante extenso. Primeiramente, louvado
o esforo que a entidade ecumnica, a Unio Missionria de Estudantes Voluntrios est empreendendo.
Constata-se que um bom nmero desses voluntrios so anglicanos.
O relatrio classificou as misses de acordo com os povos aos quais procuram servir. Os povos no
cristos foram classificados em judeus, maometanos e outros e estes em letrados e iletrados. Por letrados querse dizer que o sistema de crena baseia-se em escritos da antigidade e implica numa filosofia completa de
vida. E, por iletrados, quer-se dizer povos cuja crena e rito so matrias de tradio e costume e, em geral, no
h estudo para se viver essa religio. o caso dos africanos. E o relatrio mostra imenso entusiasmo pela
misso na frica. A causa disso a disposio imensa dos evangelizados se tornarem evangelistas.
No panorama dos movimentos de reforma na Europa e na Amrica Latina tais como a Igreja VeteroCatlica, na Alemanha, Cristos Catlicos da Sua, Igreja Episcopal Mexicana, Igreja Episcopal na Espanha e
Portugal (com episcopado e snodo prprios) aparece, pela primeira vez, o trabalho da Igreja Episcopal no
Brasil.17
LAMBETH 1908 e Misso Estrangeira
O crescimento da Igreja nas linhas raciais, nacionais na sia, frica e Amrica
1. Batismo
O perigo da admisso fcil dos adultos Igreja pelo Santo Batismo geralmente reconhecido. Existe
um perodo preparatrio de catecumenato e este varia de acordo com o grau de educao. Mas preciso
assegurar crena inteligente na f crist e aceitao desejosa de viver a vida crist.
2. Livro de Orao Comum
Existe em toda parte no campo missionrio a necessidade de adaptar o Livro de Orao Comum
16
17
s circunstncias locais. interessante observar duas afirmaes. (1) o reconhecimento do LOC como valor
educativo, como lao de unio entre as Igrejas da Comunho Anglicana e padro de devoo. (2) a importncia
de tornar a forma do culto pblico mais inteligvel aos menos instrudos e melhores adaptado s diversas
necessidades de vrias raas dentro da Comunho Anglicana.
3. Celebrao da Eucaristia com o po feito da farinha de trigo e com o fruto da videira
Tudo indica que houve situao angustiosa dos responsveis diante de milhares de pessoas batizadas e
confirmadas na Uganda. Desejosas de comungar, no entanto, distante da regio ocenica, sem produo local
do vinho e, alm disso, sua importao dificultada pelo governo, elas no puderam comungar. Diante disso, a
Conferncia foi consultada sobre a celebrao com outros elementos. O relatrio demonstrou a extraordinria
simpatia com o dilema que os bispos nessas circunstncias enfrentaram. Mas deixou o fardo do dilema com os
que tm de arcar o fardo da responsabilidade. Em que consistia o dilema? Recusar ao povo de Deus os meios de
graa ordenados por Cristo? Ou alterar esses meios de acordo com as exigncias da circunstncia? Em poucas
palavras, a Conferncia deixou com a sabedoria dos bispos nessas circunstncias. 18
idem, pp.388-90
The Six Lambeth Conference, pp 375-56
Nesse mesmo esprito o relatrio recomendou que se faa o mximo esforo de treinar as Igrejas
nativas e suas congregaes manuteno prpria e ao governo prprio e conduzi-las a gerenciar seus
negcios. Tambm se alegrou com o progresso j alcanado nesse sentido em vrios lugares, mas que muita
coisa ainda estava para se fazer.
O relatrio fez, digamos, trs ponderaes importantes. (1) os missionrios devem fazer auto-restrio
para que sua fortaleza no se torne em fonte de fraqueza para os conversos. (2) No h razo para se alarmar
quando houver erros. melhor cometer erros e deles tirar lio do que os cristos nativos permanecerem
inativos e dependentes. (3) o passo importante para o autogoverno a socializao mais ampla do
conhecimento teolgico.
Autonomia financeira e poltica das Igrejas esto de acordo com a opo feita pelas Igrejas da
Comunho Anglicana, em nvel internacional com respeito sua organizao, sem uma superestrutura
centralizada, mas uma organizao que permita a seus membros a prtica de consulta. Os anglicanos tm
considerado esta forma de governo parte do catolicismo antigo ou reformado. 20
6. Questes Raciais
A Igreja est presente entre vrias raas do mundo. A presena de diversas raas na Igreja representa,
de um lado, a aceitao do Evangelho do Reino de Deus por vrias raas, e, de outro, as dificuldades que a
Igreja Primitiva enfrentou (judeus e gentios).
O relatrio, enfaticamente, lanou, em primeiro lugar, o princpio da unidade em Cristo. Todas as raas
devem estar numa s Igreja de Cristo. inconsistente com esse princpio a existncia de Igreja lado a lado
separadamente por diferenas raciais.
No Japo e na China o trabalho estava sendo feito no sentido de organizar e fortalecer uma Igreja
nativa.
Na ndia e na frica do Sul a questo era mais complexa. Em 1908, a Conferncia pensou na
possibilidade de se ter diferentes administraes em linhas raciais, sem incorrer na quebra da unidade por meio
de discriminao racial.
O relatrio deplorou a situao dos negros no Sul dos Estados Unidos, e louvou a Igreja que se esfora
para sobrepujar a discriminao na Igreja. 21
7. TESTEMUNHO DA IGREJA EM RELAO AO IDEAL DA DEMOCRACIA E QUESTES SOCIAIS
Um outro ponto significativo no relatrio de 1908 foi a reao da Conferncia diante do crescente
interesse dos povos pela democracia como havia preconizado Alexis De Tocqueville em 1828. A democracia
representativa dos tempos modernos com seus novos ideais e aspiraes, o senso crescente de insatisfao com
as coisas como so os clamores pela justia na distribuio dos resultados da indstria, todos esses fatores
trazem tona questes sociais. Assim entendeu a maioria da Conferncia.
Todos esses movimentos para a soluo democrtica devem ser, na viso dos bispos, acolhidos pela
Igreja como um dos grandes desenvolvimentos da histria humana, que, em ltima instncia, so de inspirao
divina. Disseram eles, tambm, que cabe misso da Igreja ajudar o esprito democrtico abrir-se ao propsito
divino.
Por que esse interesse por todos esses movimentos sociais? O que os bispos disseram a respeito disso
esclarece a razo porque a Conferncia dos Pastores da Igreja debateram as questes sociais e polticas.
20
21
idem, p. 376
idem, pp. 376-78
Toda a esfera da vida humana material bem como espiritual deve ser consagrada aos mais nobres
propsitos. Toda aspirao humana, todo desejo humano devem encontrar satisfao legtima e devem ser
trazidos ao domnio de Cristo.
Certamente, essa viso inspirada pela perspectiva da f crist de que o mundo criado por Deus e
tudo pertence a Deus. E o cristo chamado santificao. No existe tal santificao da alma ou santificao
limitada aos setores da vida denominados de religiosos.
Os membros da Conferncia buscaram relacionar a doutrina da paternidade de Deus e fraternidade das
pessoas com as questes sociais. Entenderam eles que a timidez e a indiferena da Igreja com respeito s
questes sociais fortaleceriam o sentimento entre os assalariados de que a Igreja sempre se identifica com os
interesses da riqueza e da propriedade. E levantaram questes francas e corajosas para a Igreja.
Por que a Igreja falha em conseguir a simpatia e respeito daqueles que procuram um ideal to
amplamente de acordo com os princpios de Nosso Senhor, visto que claramente errneo supor que este
movimento democrtico seja em si ateu e anticristo?
A Conferncia viu dois fatores na Igreja que respondem a essas questes.
(1) A nova democracia em busca de fraternidade confronta-se com as divises e competies
interminveis das organizaes dentro da Igreja e com pouca prtica da solidariedade na vida da Igreja. E isso
foi dito como a vergonha que deve ser confessada.
(2) Com freqncia o governo da Igreja autocrtico. 22
Por outro lado, a nova democracia demonstra tristemente suas limitaes. Que so as limitaes?
Embora deseje a fraternidade, o seu escopo se restringe ao progresso material. Por isso, cabe Igreja relacionar
a fraternidade na democracia e a fraternidade de toda a humanidade em Jesus Cristo. Houve, tambm, a
sugesto de que se desenvolvesse por meio de pequenos grupos a prtica da justia comum Igreja e aos ideais
democrticos. Nisso ensejou-se a fertilizao mtua no sentido de inspirar a cidadania democrtica na
perspectiva do Reino de Deus e renovar o senso da cidadania do las (povo, leigo) de Deus nas linhas de
servio no mundo. Tambm, percebeu-se que o senso da cidadania na Igreja implicaria no exerccio do
ministrio de todo o povo de Deus, principalmente, na participao no governo da Igreja.
8. ORGANIZAO INTERNA DA COMUNHO ANGLICANA
Como em outras Conferncias anteriores e futuras a organizao da Comunho Anglicana no deixou
de ser tratada.
Foi considerada a importncia da Comisso Central Consultiva para se reunir periodicamente no
interregno das Conferncias. Por outro lado, descartou-se a supremacia da S de Canturia sobre as ss
primaciais e metropolitanas.
Quanto autoridade do bispo diocesano o relatrio entendeu o seguinte:
Como Ministro da Igreja a autoridade do bispo no absoluta, mas constitucional, sendo limitada, de
um lado, pelos Cnones, e, de outro lado, pela analogia com o princpio antigo de que o bispo deve agir aps
aconselhar-se com o seu clero e com o seu povo. 23
APNDICES
5 Conferncia (1908)
Carta (ver o esprito da...)
F e Pensamento Moderno
22
23
The Six Lambeth Conferences, p.410. As citaes acima feitas vm das pp.409-411
idem, p.419
II.
III.
IV.
V.
VI.
VII.
VIII..
IX.
X.
XI.
XII.
6 CONFERNCIA (1920)
Relatrios
1. Cristianismo e Relaes Internacionais (Liga das Naes)
2. Oportunidade e Dever da Igreja em Relao aos Problemas Sociais e da Indstria