Caes de Aluguel. Análise de Um Roteiro de Quentin Tarantino
Caes de Aluguel. Análise de Um Roteiro de Quentin Tarantino
Caes de Aluguel. Análise de Um Roteiro de Quentin Tarantino
QUENTIN TARANTINO
(Disserta9ao de mestrado)
Campinas Jan./2001
&las de Alugual
Analisa da um rotairo
de Quentin Tarantino
Sergio J. Puccini Soares
apresentada ao curso
Disserta~ao
Este exemplar ,
eda9ao final da
disserta9ao defe ida ' lo Sr. Sergio Jose
Puccini
de
Mestrado
Instituto
como
de
Multimeios
Artes
da
requisito
parcial
do
de
obten~ao
Mul timeios
-orientador-
em
grau
sob
UNICAMP
para
Mestre
em
orienta~ao
do
Campinas 2001
do
2001.
Orientador: Femao Pessoa Ramos.
Disserta9ao (mestrado)- Universidade Estadual de
Campinas, Institute de Artes.
1. Cinema - Estados Unidos. 2. Cinema - Montagem.
3. Cinema - lntrigas, temas, etc. I. Ramos, Femao
Pessoa. Ill. Universidade Estadual de Campinas. Institute
de Artes. Ill. Titulo.
todos que a
(agradecimento especial
Janafna e ao Renaldo); ao
RESUMO
Esta
analise
privilegia
um enfoque
autor.
As
tradu<;oes
dos
trechos
do
roteiro
se
a referenda bibliografica.
iNDICE
PG
1.1ntrodu(:io
11
22
28
35
51
98
1. Conclusio 137
8. Filmogralia 149
9. Bibliogralia 158
1.1NTRODUCAO
"If there's something you wanna say
and talking is the only way
rap on, rap on"
OS
Queima Roupa, Coes de Aluguel e Jackie Brown. Em boa parte das vezes, essas
converses sao pautadas por assuntos que dizem respeito ao gosto pessoal nao
dos personagens mas do autor Tarantino, como cinema, musica pop, historic em
quadrinhos, junk food, programas de televisao, leones do cultura do lixo
americana. Pelo empenho com que os personagens discutem esses assuntos,
essas cenas podem se estender por p6ginas a fio fazendo com que o proprio
assunto das converses se torne o principal sustent6culo do cena, mesmo que
esta seja uma cena de transi<;ao, isto
e,
nos personagens de
a a<;ao
satisfeita pela
ffsica. No universo
personagens medem for<;:as. Como j6 foi dito por um crftico, para esses
personagens, "permanecer em silencio
guarda ou, mais proximo
OS
e em
caes de Aluguel
12
no segundo,
os
tom se altera
imagem. Tarantino prefere dizer, pela boca dos personagens, o que se passa no
sua hist6ria antes de mostrar visualmente esses acontecimentos, isso quando o
faz. Dessa forma, Tarantino concentra
poderiam ser cumpridos pela imagem. Exemplo claro desse procedimento diz
respeito a cena do assalto a uma joalheria, acontecimento central no narrativa
do filme que e omitido pelo roteirista para ser informado apenas pelos di61ogos
13
entre os personagens. Apesar de ter sido escrito para o cinema, Coes de Alugue/
faz muito pouco uso de recursos visuais no decorrer de suas p6ginas o que levou
alguns de seus possfveis financiadores a consider6-lo um roteiro inadequado para
o meio ao qual estava destinado (sobre esse assunto, ver capftulo 3).
Parte dos conselhos dos autores de manuais giro exatamente em torno da
utiliza<;:ao de di61ogos em um roteiro cinematogr6fico. Embora o cinema seja um
meio audiovisual, uma combina<;:ao entre som e imagem, os manuais sao
unanimes ao darem preferencia aos elementos visuais, e nao aos verbais, na
composi<;:oo do relato. Diz Lewis Herman: "0 erro mais comum em um roteirista
principiante e se limitar ao recurso dos di61ogos para informar fatos essenciais
quando os mesmos fatos podem ser informados visualmente, e, portanto, mais
graficamente. Uma das principais razoes no di61ogo do filme e informar apenas
os fatos que nao podem ser representados pela a<;:oo."14 J Para Eugene Vale, "o
escritor que quiser aprender a usar o di61ogo no cinema dever6 tratar de fazer o
relato compreensfvel sem o uso das palavras. Assim aprender6 a manejar ate ao
maximo possfvel os outros meios de expressao. (... ) 0 di61ogo deve ser o ultimo
recurso."!SJ Segundo David Howard e Edward Mobley, "quando um escritor
descobre uma redundancia entre uma a<;:ao e um di61ogo, o melhor e reduzir ou
eliminar o di61ogo e deixar que a a<;:ao e as imagens deem o recado."! 6l Para
Tarantino, essa inversao de prioridades em Coes de Alugue/ era
ponto
a disposi<;:oo de
optou por centralizar sua a<;:oo a poucos cen6rios reduzindo assim as despesas
com transporte de sua equipe tecnica. Como conseqOencia imediata, todos os
14
que
nos
referimos
anteriormente,
deveriam
ser
informados
mostrar o
personOgens? Mais ainda, como sustentar o dinamismo dessa mesma historia dinamismo exigido pela propria natureza do genero - inserindo no roteiro longas
cenas de bate-papo que nada dizem sobre a a<;:ao?
A principal razao de nosso interesse em Caes de Afuguef esta justamente
na forma como seu autor operou para solucionar os problemas que apontamos
acima. Apesar de todo o falatorio, Coes de Afuguef e roteiro essencialmente
dinamico. Em primeiro Iugar ha que se observar que em boa parte do roteiro o
dialogo desempenha uma fun<;:ao dramatica, o que por si so ja sugere
dinamismo. 0 falatorio compulsivo nao emperra a a<;:ao porque e a propria
a<;:ao. Seguindo as bases do drama ortodoxo, o conceito de a<;:ao dramatica
esta diretamente ligado ao conteudo das falas dos personagens. Entende-se por
a<;:ao dramatica uma a<;:ao "que provem da execu<;:ao de uma vontade
15
necessidade do
choque entre
E no
cen6rio de um
16
a resolu<;:ao final.
Porem, observamos tambem em Caes de A/ugue/ cenas onde o dialogo
se desvincula da sua fun<;:ao dramatica para se afirmar como instoncia em si.
sao as ja referidas cenas de bate-papo, como a que temos na abertura do
roteiro, cujos assuntos dizem mais respeito ao autor Tarantino do que aos
personagens. Uma analise mais atenta do conteudo estrutural do roteiro revelo a
ado<;:ao de um princfpio que orienta o encadeamento das cenas: em Coes de
a cenas
de relaxamento,
tem-se amplificado o impacto das cenas fortes que, no final das contas, nao sao
17
muitas mas sao muito bem utilizadas. Essa 16gica, criada pelo narrador Tarantino,
tr6s um novo sentido para cenas que nao encontrariam espac;:o no roteiro coso
seu
rigor um
ordem
inversa
da
apresentac;:ao
dos
capftulos
dessa
de Alugue/ tem como caracterfstica b6sica ser um roteiro onde a dura<;:ao das
cenas sao estendidas a um limite muito pouco toler6vel para o padrao
dominante
do
cinema
de
ac;:ao
americana.
Com
isso,
diminui-se
18
cenogr6fico e dado pelo roteirista. 0 espa<;o fflmico e criado pelo diretor atraves
do recurso do enquadramento. Conforme relatamos adiante, essa
falsa
Vemos por essa r6pida introdu<;ao que o centro de interesse das an61ises aqui
apresentadas est6 ligado a questoes estruturais do roteiro Coes de Aluguel. A
estrutura do roteiro e sustentada pelo desenvolvimento de uma a<;ao dramatica
que se passa dentro de um unico cen6rio e transcorre em tempo real (unidade
de espa<;o e tempo). Essa op<;ao estrutural refor<;a o papel do dialogo como
agente informador e condutor do a<;ao. No capitulo 6, veremos que a a<;ao do
armazem, por sua vez, possui uma estrutura interna que organiza a sequencia dos
eventos que 16 se sucedem. 0 quadro das situa<;oes apresentadas no armazem
est6 dividido em v6rios momentos marcados pelas entradas e safdas dos
personagens. Esses blocos menores de a<;ao sao enfileirados a partir de uma
ordem 16gica, pensada pelo autor do roteiro, que orienta a evolu<;ao dos
acontecimentos nesse cen6rio.
Como consequencia
dessa
evolu<;ao,
as
19
resumem
um
aparentemente
aquele pessoal que escreve aquelas falas horrendas que todos aqueles atores
tao simp6ticos e maravilhosos sao obrigados a repetir. Mas a verdade
contribuic;ao mais importante de todas, por parte do roteirista,
e que
e a estrutura.POJ
NOTAS
(1) entrevista a Graham Fuller em TARANTINO, Quentin, Reservoir Dogs, Faber and Faber,
(4) HERMAN, Lewis, A Pratical Manual of Screenwriting for Theater and Television Films, A
Meridian Book, New American Library, New York, 1952, pg 194.
(5) VALE, Eugene, Tecnicas del Guion para Cine y Television, Gedisa, Barcelona, 1985, pg
28.
(6) HOWARD, David e MABLEY, Edward, Teoria e Pratica do Roteiro, Editora Globo, Sao
(8) ROSENFELD, Anatol, 0 Teatro Epico, Editora Perspectiva, Sao Paulo, 1997, pg 34.
(9) PALLOTTINI, Renata, lntrodu~oo
1988, pg 18.
(10) GOLDMAN, William, conforme citado em HOWARD, David e MABLEY, Edward, Teoria
21
Joe Cabot
Longe
de
representor
uma
unanimidade
entre
os
crfticos,
a sua
essa
escassa
filmografia (apenas tres longas: Reservoir Dogs, Pulp Fiction e Jackie Brown, sem
contarmos o trope<;o Four Rooms, em que ele dirige um dos epis6dios). 0 banho
de sangue de Tarantino o elevou rapidamente a condi<;ao de celebridade
instantanea, tornando-se modelo obrigat6rio para pequenos diretores em toda a
parte do globo.
22
1992, noventa cineastas iniciaram carreira atr6s das camera, tres vezes mais do
que aqueles que se arriscaram dez a nos antes.f 1l
A explicac;ao para esse vertiginoso aumento da produc;ao independente
americana se encontra seguramente no relativo sucesso comercial de filmes
como Stranger than Paradise, de Jim Jarmusch, She's Gotto Have it, de Spike
Lee, e Sexo, Mentiras e Videotape, de Steven Soderbergh, que nos anos 80
ajudaram a consolidar um mercado alternative na mesma medida em que
atrafam os interesses dos executives de hollywood a tal ponto que hoje se tornou
bem diffcil estabelecer um parametro para o que realmente venha a ser uma
produc;ao independente.f2J
Mais pelo fato de nao existir um projeto estetico comum a esses cineastas,
nao se pode afirmar que o fenomeno se caracterizou por um questionamento ao
produto Hollywood. Em muitos casos, o r6tulo "independente" serviu apenas
para mascarar a absoluta falta de assunto de alguns dos membros da trupe. As
preocupac;oes e provocac;oes das vanguardas dos anos sessenta e setenta, bem
representadas por cineastas como Jonas Mekas, Stan Brakhage, Maya Deren,
John Cassavetes, Andy Warhol, John Waters e Amos Poe, deram Iugar a um certo
conformismo nos 90 que se traduz numa retomada do genero sem um
muito bem definido.
23
vi~s
crftico
24
a nossa memoria.
A Queima-Roupa
Avary, lhe rendeu a consider6vel quantia de 30.000 dolores pagos pelo diretor
William Lustig. Apos complicadas transa<;6es envolvendo diversos produtores, o
roteiro foi parar nos moos de Tony Scott, diretor respons6vel pela versao de Amor
25
a cultura
do
Natural Born Killers (no Brasil, Assassinos por Natureza). Roteiro menor dentre os
escritos por Tarantino, Assassinos por Natureza talvez seja mais lembrado por sua
incrfvel semelhan<;:a com o filme Badlands, de Terence Malick, realizado em
1974. A hist6ria e um desdobramento de uma antigo e volumosa versao de Amor
A Queima-Roupa.
26
blaxploitations, e a Jackie Brown do tftulo, uma aeromoc;a que ira se meter numa
complicada trama que envolve contrabando, remessa ilegal de dinheiro, acerto
de contas e, como sempre, alguma violencia.
NOTAS
(1) Ver AUGUSTO, Sergio, Cinema lndependente, artigo do Caderno Mais, Folha de Sao
Paulo, 18/07/93.
(2) Ver PIERSON, John, Spike, Mike, Slackers & Dikes- A guided tour across a decade of
independent american cinema, Faber and Faber, Londres, 1996.
27
~Thatiyour story?
e obrigado
gan;onetes ... 0 falat6rio se estende por mais de dez p6ginas de roteiro sem nos
fornecer qualquer dica sobre o assunto principal da hist6ria. Apenas no momento
final da sequencia, quando entao todos se preparam para deixar o local,
uma pista nos
e que
Segue
OS
creditos iniciais.
29
a joalheria.
30
mon61ogo,
vamos
encontrar
Freddy
dentro
do
seu
31
oficial dita, para Holdaway, toda a ficha criminal de White (sequencia cortada
da versoo final do filme).
Retornamos para os mementos que antecedem ao roubo. Freddy
(Orange), de corona no carro de Eddie, junto com os companheiros Pink e White.
Os quatro se dirigem para o armazem. No trajeto, eles se divertem contando
piadas. No armazem, Joe Cabot distribui os codinomes para cada um dos
integrantes da quadrilha.
Sentados nas arquibancadas de um estadio vazio, Holdaway explica a
Freddy qual sera o procedimento da polfcia durante o assalto (cena cortada da
versoo final do filme).
Passamos para o exterior da joalheria. White e Orange, dentro do carro
estudando o local enquanto acertam os ultimos detalhes do plano.
Uma elipse temporal no transporta para os mementos subsequentes ao
assalto. Acompanhamos White, Orange e Brown na desesperada tentativa de
escapar
a perseguk;oo
bala na cabe<;a. Fazendo uso de suas 45, Orange e White conseguem parar um
carro que passa pela rua, ordenando ao seu motorista que abandone o vefculo.
0 motorista, uma mulher, reage atirando em Orange. Por um instinto de defesa,
Orange responde acertando um bala<;o que vara a cabe<;a da mulher. Cafmos
entao na mesma sequencia inicial, onde encontramos White dirigindo feito um
manfaco ao mesmo tempo em que tenta consolar Orange ferido no banco de
tras.
Terminado o ultimo flash-back, estamos de volta ao armazem. Eddie,
White e Pink retornam com a valise contendo os diamantes. Ao entrarem no
local, os tres batem de frente com o corpo de Blonde, morto. Eddie corre pedir
32
explicac.;:oes
a Orange,
quase sem forc.;:as para falar, Orange diz que Blonde estava torturando o policial
e que ia queim6-lo vivo. Sem dar a mfnima para a compaixao de Orange, Eddie
fuzila o policial. Orange entao inventa uma hist6ria dizendo que Blonde
planejava matar a todos para depois fugir com os diamantes. Eddie nao engoli a
hist6ria. Diz que Blonde e amigo antigo, um cara de comprovada confian<;:a que
nunca cometeria uma traic.;:ao dessas. Antes que Orange possa dizer qualquer
coisa, Joe Cabot entra no local acusando Orange de ser parte integrante da
polfcia. White, como sempre, se coloca na defesa de Orange. Joe saca sua
arma decidido a matar Orange. White aponta sua arma para Joe ameac.;:ando
mat6-lo caso ele liquide com Orange. Eddie, por sua vez, aponta sua arma para
White ameac.;:ando mat6-lo caso ele atire em seu pai. Ap6s um memento de
hesitac.;:ao, os disparos. Joe, Eddie e White vao ao chao. Pai e filho mortalmente
feridos. Pink, que havia se escondido num canto para se proteger dos tiros,
abandona o local levando os diamantes consigo. White ainda encontra forc.;:as
para se arrastar ate Orange e abrac.;:6-lo. Ouvimos as sirenes dos carros da polfcia
do lado de fora. Falando ao ouvido de Orange, White lamenta o fato de terem
que ir para cadeia. Orange confessa a White ser mesmo um policial. Mais
arrasado pela traic.;:ao do que pelos ferimentos, White encosta o cano de sua
arma na cabe<;:a de Orange, pronto para execut6-lo. Nesse momento, a polfcia
invade o local. Os policiais exigem que White largue sua arma. White aciona o
gatilho quase no mesmo tempo em que e fuzilado pelas balas da polfcia. Fim.
NOT AS
33
( 1) TARANT! NO, Quentin, Reservoir Dogs, Faber and Faber, London, Boston, 1994, pg 12.
34
A Queima-Roupa
Queima-Roupa, Tarantino opta pelo que ele chama de guerrilla style: produc;:ao
35
barata, que nao excedesse os 30.000 d61ares que ele tinha em caixa, filmagem
em 16 mm, preto & bronco, com um bando de amigos servindo como atores.
Dentro das limitac;:oes impostas pelo orc;:amento, economizer nos locac;:oes e
cen6rios era ponto de honra para a propria viabilizac;:ao do projeto. Mais ainda,
seus cen6rios deveriam ser escolhidos dentre aqueles que mais facilitassem as
filmagens. Como parte de suas func;:oes, o roteiro j6 deveria trazer a soluc;:ao para
o dilema. Todo interesse do filme deveria estar centrado na sua estrutura
dram6tica e na qualidade de seus atores. Reduzindo os gastos com transporte e
di6rias de locac;:ao de equipamento e equipe tecnica, toda a ac;:ao deveria estar
concentrada a pouqufssimos lugares. Tanto melhor se essa ac;:ao nao exigisse
nenhuma parafern61ia cenogr6fica.
Roteiro pronto, e com uma ponta de esperanc;:a guardada no bolso,
Tarantino parte para mais uma exaustiva peregrinac;:ao
cata de possfveis
e em
36
trazer ao conhecimento do
multiplicando
seus
cen6rios.
Nao
importa
se
esse
37
e dito ou
seja visualizado. Por outro lado, no teatro trabalha-se no palco, enquanto que o
audiovisual tern, nesse aspecto, possibilidades ilimitadas. De modo que, neste tipo
de adapta96es, deve-se tentar multiplicar de forma criativa o numero de
cen6rios e sua verosimilhan9a." (41
E certo
"E
um
38
comec;:ar
eo
caminho certo para uma boa economic. Nesse sentido, o roteiro Coes de
A/ugue/ antes deter a forma de uma pec;:a de teatro, tem a forma de um filme
baratoJ 10l
A duvida que por ventura recai sobre as possibilidades cinematogr6ficas
de um roteiro que adota o
prindpio da
Ou
39
Ou ainda ...
a extensao completa
Festim Diab6/ico (Rope), de Alfred Hitchcock, filme cujo roteiro e composto por
duos unicas cenas, uma externa que abre para os creditos iniciais, e uma interna
que compreende toda a durac;:ao da ac;:ao, o que em teatro corresponderia a
um unico e continuo ato.
40
Se a cena corresponde
a extensao
da cadeia fflmica."f 19l Da mesma maneira que uma cena de roteiro, um plano
pode ter sua dura<;ao variada entre milesimos de segundos (o tempo mfnimo e
imperceptive! corresponderia a um fotograma de imagem)
a dura<;ao total
de
41
(embora
no cinema
permanec;:a
42
do
espectador/camera
parafern61ia
a atuac;:ao
tecnica.
Do
se
espectador de
43
MR. WHITE, MR. PINK, MR. BLUE, MR. BLONDE, MR. ORANGE, MR. BROWN, NICE GUY
EDDIE CABOT, and the big boss, JOE CABOT. Most are finished eating and are
enjoying coffee and conversation. Joe flips through a small address book. Mr. Pink
is telling a long and involved story about Madonna. f23J
44
49 bloco (pgs 6 a 10) - "Uh-uh. I don't tip." onde Mr Pink se recuse a pager
sua parte da gorjeta para a gar<;onete e se defende invocando questoes sociais:
"I don't tip because society says I gotta."f24J
(Note: nenhum desses assuntos diz respeito ao assunto central do roteiro, o
assalto a uma joalheria, motivo pelo qual os personagens estao reunidos.)
Apesar de pequenas discussoes, o clima durante a converso e de bom
humor. Nao existe nenhuma situa<;ao de conflito a ser explorada. 0
que
caracteriza a cena nao e seu apelo dram6tico mas seu aspecto realista, pois
mostra um segmento ordin6rio na vida desses personagens. Do infcio ao fim da
cena, os di61ogos seguem soltos sem que o texto do roteiro chame a nossa
aten<;oo para qualquer elemento visual durante a conversa<;oo. Ou seja, tirando
algumas indica<;oes que informam os pequenos gestos e rea<;oes das pessoas
em volta da mesa, vemos nas p6ginas apenas uma coluna compacta que d6
forma as falas dos personagens. Alem disso, nao h6 nenhuma indica<;oo de
movimento entre eles a nao ser quando Joe Cabot, em determinada altura da
converso, se levanta para pagar a conta. Os outros sete integrantes da mesa
permanecerao sentados ate o momento final da cena, quando entao se
levantam para ir embora. A unica a<;oo da cena e promovida pelo di61ogo, um
toma-16-d6-c6 de falas curtas e espirituosas que, de ceria maneira, entretem o
leitor (em bora isso nao seja garantia de entretenimento para o espectador).
Ao lermos o texto do roteiro, mentalizamos o cen6rio - uma lanchonete; os
personagens - oito homens vestidos em ternos pretos; a disposi<;oo de todos eles sentados em volta de uma das mesas da lanchonete. Sabemos tambem que
Joe Cabot tr6s consigo um pequeno caderno de endere<;os. Soma-se a isso as
xfcaras e os pratos com restos de comida utilizados para compor a mesa. Alem
45
dos oito personagens, o roteiro nos informa a presen<;a de uma gar<;onete que se
aproxima dos clientes oferecendo cafe (no filme a presen<;a da gar<;:onete e
informada de maneira bastante sutil atraves de uma tomada de camera que
mostra o pequeno movimento do local em profundidade de campo). 0 texto do
roteiro nos posiciona dentro do espa<;o cenogr6fico. Estamos dentro da
lanchonete olhando para tudo e para todos. Nosso olhar e muito pouco
direcionado. Em quase nenhum momento o roteiro invoca o espectador de
cinema. A nao ser no ultimo instante da cena quando:
The eight men get up to leave. Mr. White's waist is in the F.G. As he buttons his
coat, for a second we see he's carrying a gun. They exit Uncle Bob's Pancake
House, talking amongst themselves. f2SJ
apenas a camera
46
camera para para fazer duos tomadas.(26J E quando se chega na parte das
gorjetas, n6s j6 mentalizamos a geografia da mesa, entao toda a filmagem
feita em closeups. Sempre que voce tern uma cena tao Iongo quanto essa, voce
tern que quebrar em sec;oes. Dez minutes para sua sequencia de abertura
mesa, e
abaixo da altura dos ombros dos atores, a camera por v6rias vezes chega a se
esconder por complete atr6s das costas dos integrantes da mesa, o que
bloqueia qualquer possibilidade de capta<;ao de luz deixando a tela escurecida
por longos segundos. Em seu movimento, a camera assume uma autonomia
diante do acontecimento. Nao corre atr6s das linhas de di61ogo do roteiro, ou
seja, nao est6 preocupada com o verbo mas com a composi<;oo da imagem.
No segundo memento da cena, temos a pequena discussao entre White
(Harvey Keitel) e Joe (Lawrence Tierney) sobre a caderneta de endere<;os. A
quebra de assunto
e marcada
JOE
Wong?f28J
Mr. White snatches the address book from Joe's hand. They fight, but they're
not really mad at each other.
MR. WHITE
0 plano de White (com Joe e Orange) serve para que n6s retomemos o
contato com a mesa e com a continua<;:oo da converso. A discussoo White-Joe
que noo chega a ocupar uma p6gina do roteiro, e composta, no filme, pela
sucessoo de 8 pianos fixos tomados de 5 posi<;:oes diferentes. A discussoo se
encerra quando Blonde se oferece a Joe para "liquidar" White:
MR. BLONDE
Joe, you want me to shoot him for you?(30J
MR. WHITE
Shit you shoot me in a dream, you better wake
up and apologize.f31J
dream, you better wake up and apologize). 0 plano intermedi6rio serve como
uma pequena pausa para a entrada de Nice Guy Eddie, pause estrategica,
49
necessaria para a virada de assunto mas que nao consta no roteiro. Na sec;:ao "KBilly's", que no roteiro ocupa exatamente uma pagina, a camera volta a adotar
seu travelling circular, s6 que dessa vez temos apenas um plano-sequencia (o
maior de todos os pianos que compoe a cena). 0 assunto se encerra quando
Joe se levanta para pagar a conta:
JOE
correspondencia no filme).
A ultima parte da cena e composta por um total de 41 pianos, sendo que
apenas 3 deles nao sao tomadas em closeup, justamente os que servem para
mostrar White, que inclui Orange ao seu lado (uma construc;:ao do filme que
cementa sobre a forte alianc;:a entre os dois personagens, que sera causa e efeito
de todos os conflitos do roteiro daquele ponto em diante). Nos tomadas em
closeups, a camera passa para a altura dos ombros dos atores. Somente no final,
50
entre as tres ultimas tomadas, e que teremos algo parecido com um plano geral
da mesa. A camera agora se coloca acima das cabec;:as dos atores que estao
sentados, mas abaixo da altura do ombro de Joe que esta de pe. No
enquadramento, vemos Pink e Blue em primeiro plano, de costas para a camera,
Eddie no canto esquerdo da tela, Joe, White e Orange no centro, Brown no
canto direito da tela, ficando de fora apenas Blonde. No plano podemos ver
tambem, em profundidade de campo, uma extensao maior da lanchonete com
suas mesas, um balcoo e alguns poucos freqOentadores.
Se no roteiro nossa apreensao do espac;:o cenografico da cena se da logo
nos primeiras linhas do texto, no filme essa noc;:ao se constr6i de forma bem mais
Iento. Contrariando um procedimento classico, aqui nco existe nenhum plano
geral (establishing shot) que defina, para o espectador, o Iugar da ac;:oo
antecipadamente (o diretor prefere inverter a regra ao deixar o plano geral para
o final). Coda plano contribui com uma somat6ria de detalhes que aos poucos
vao nos permitindo entrar no universo dos personagens de Coes de Alugue/. No
entanto, o que esta em jogo no filme, ao contrario do roteiro, nao e a
apresentac;:ao de um espac;:o cenografico mas a construc;:ao de um espac;:o
fflmico que detenha algumas considerac;:oes de estilo de seu diretor. Os pianos
longos, a negac;:ao da sistematica plano/contra-plano, a recusa a pianos gerais
de abertura e a princfpios de frontalidade {os atores muitas vezes se comunicam
de costas para a camera ou de perfil), informam uma heranc;:a do diretor
Quentin Tarantino proxima a tradic;:oo dos diretores-autores como Jean-Luc
Godard, ao qual, alias, o roteiro Coes de Aluguel e dedicado original mente.
Entre roteiro e filme, temos a justaposic;:oo de dois discursos nem sempre
equivalentes. Enquanto no roteiro impera a continuidade, no filme prevalece a
51
coment6rios que nao sao sequer insinuados pelo texto do roteiro, possibilitando
"leituras" diversas das significa<;oes dos pianos. Falamos rapidamente da
insistencia da camera em inscrever Mr White e Mr Orange sempre em um mesmo
enquadramento. Alem disso, a forma como a camera exerce seu papel de
intermediadora entre n6s e os personagens, traduz com exatidao nosso gradual
envolvimento com cada um deles - no come<_;:o, sao como estranhos que
espreitamos as escondidas pelas brechas dos cotovelos. No final, j6 nos sentimos
familiarizados o suficiente a ponto de conseguirmos encar6-los de frente
(closeups). De comum, entre roteiro e filme, existe a busca de um estilo que
defina seu autor (a "estetica Tarantino"), que nao se limita as pr6ticas padroes do
grande cinema americano.
NOTAS
(1) Conforme relata Paul A. Woods em King Pulp- the wild world of Quentin Tarantino,
Thunder's Mouth Press, New York, 1996, pg 26, eo proprio Quentin Tarantino em entrevista
concedida
a Gavin Smith, revista Film Comment, july-august 1994, vol. 30, #4.
(2) YALE, Eugene, Tecnicas del Guion para Cine y Television, Gedisa, Barcelona, 1985, pg
48.
(3) PACKARD, William, The Art of Screenwriting, Thunder's Mouth Press, New York, 1987, pg
30.
(4) COMPARATO, Doc, Da Criac;:oo ao Roteiro, Editora Pergaminho, Lisboa, 1992, pg 237.
52
(5) 0 roteiro de Coes de Aluguel inclusive j6 rendeu uma adaptac;:ao para o teatro feita
pelas moos do diretor/dramaturgo Michael J. Alessandro, com a aprovac;:ao do proprio
Tarantino, que esteve em cartaz no Third Street Theatre no cidade de Phoenix, Estados
Unidos, no mes de outubro do ano de 1997.
(6) revista Film Comment, july-august 1994, vol. 30, #4.
(7) JAMES, David, Allegories of Cinema - American film in the sixties, Princeton University
Press, Princeton, 1989, pg 5.
(8) HERMAN, Lewis, A Pratical Manual of Screenwriting for Theater and Television Films, A
Meridian Book, New American Library, New York, 1952, pg 235.
(9) Sobre como se fazer um filme barato, ver lista de pre-requisites em PIERSON, John,
Spike, Mike, Slackers & Dykes: a guided tour across a decade of independent american
cinema, Faber & Faber, London, 1995, pg 236, e MERRITT, Greg, Film Production: the
complete uncensored guide to independent filmmaking, Lone Eagle Publishing CO., Los
Angeles, 1998, pg 13/14.
( 1OJ
E interessante
expressa pelo roteiro, no pr6tica de filmagem p6de ser ainda maior j6 que o mesmo
predio que serviu de cen6rio para as tomadas do armazem (uma antigo coso funer6ria
no regiao leste de Los Angeles), serviu tambem para ambientar os cen6rios do
apartamento de Orange e escrit6rio de Joe Cabot, que ocupavam as antigas solos de
embalsamento do local (ver CLARKSON, Wensley, Quentin Tarantino- Shooting From The
Hip, Piatkus, London, 1995, pg 158).
(11) SALLES, Walter, CARNEIRO, Joao Emanuel e BERNSTEIN, Marcos, Central do Brasil,
Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 1998, pg 21.
( 12) ROCHA Glauber, Deus e o Diabo no Terra do Sol, Civilizac;:ao Brasileira, Rio de
Janeiro, 1965, pg 65.
(13) MANKIEWICZ, Herman J., WELLES, Orson, Citizen Kane, extrafdo do site Screenplay451
- http://www.pumpkinsoft.de/screenplay451/.
(14) Syd Field define uma sequencia como sendo "uma serie de cenas conectadas por
uma (mica ideia: um casamento, um funeral; uma perseguic;:ao; uma corrida; uma
eleic;:ao; uma reuniao; uma chegada ou partido; uma coroac;:ao; um assalto a banco. A
sequencia e uma ideia especifica que pode ser expressa em meia duzia de palavras ou
menos." (FIELD, Syd, Manual do Roteiro, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 1995, pg 80).
Para Christian Metz: "A sequencia se baseia no unidade de uma ac;:ao (... ) que "passa
por cima" daquelas de suas partes que ela tem por bem omitir e que pode, portanto, se
53
pg 52.
(16) XAVIER, IsmaiL 0 Discurso Cinematografico, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1984, pg 19.
( 17) ST AM, Robert, 0 Espet6culo /nterrompido, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1981, pg 170.
(18) Onde Christian Metz diz que o plano seria "uma unidade ainda apreendida como
sendo que apenas urn deles e motivado: o que insere urn plano medio de James
Stweart, captando seu interesse diante de uma discussao entre os dois anfitrioes da testa.
(21) Note a cena em que James Stewart recebe, por um engano da govemanta, o
chapeu que pertence a David, o personagem assassinado, e que tr6s suas inicias DK em
seu interior. 0 gesto de Stewart, ao incliner o fundo do chapeu buscando o angulo de
captac;ao da camera, e tfpico de quem quer partilhar sua descoberta com o
espectador.
(22) CHION, MicheL 0 Roteiro de Cinema, Martins Fontes, Sao Paulo, 1989, pg 143.
(23) TARANTINO, Quentin, Reservoir Dogs, Faber and Faber, London, Boston, 1994, pg 3.
TRADU<:;AO:
Oito homens, vestidos com temos pretos, estoo sentados ao redor de uma
mesa em uma lanchonete. Eles sao MR WHITE MR PINK, MR BLUE MR BLONDE,
MR ORANGE, MR BROWN, NICE GUY EDDIE CABOT, e o chefoo, JOE CABOT. A
maioria j6 terminou de comer e agora estao tomando cafe enquanto
conversam. Joe folheia umo pequeno caderneta de enderec;os. Mr Brown
est6 contando uma Iongo e envolvente est6ria sobre Madonna.
(24) Ibid., pg 9. TRADU<:;AO:
54
MR WHITE
Me da essa merda.
JOE
Que porra voce esta fazendo? De minha caderneta.
MRWHITE
Eu to cansado de ouvir isso, Joe. Eu te devolvo quando a gente for
em bora.
(30) Ibid., pg 6. TRADU<:;AO:
MR BLONDE
Joe, voce quer que eu atire nele?
(31) Ibid., pg 6. TRADU<:;AO:
MR WHITE
Porra, se voce sonhar que esta atirando em mim
pra pedir desculpas.
e minha.
JOE
Blonde atira em Mr White com o seu dedo. Mr White tinge que foi ferido. Joe
sai.
56
Ecomo
estrutura.
"A estrutura
e crucial- e descobrir o
57
fio definitive e b6sico onde pendurar tudo o mais. Assim que eu tenho a espinha
dorsal do trabalho, e tudo mais que possa ser tramado e pendurado naquela
espinha, pronto. Se der para usar, maravilha. Se nao der para usar, por melhor
que seja o material, tem que ser descartado."I2J emenda William Goldman, outro
roteirista de sucesso em Hollywood. Para Syd Field "A estrutura e o elemento mais
importante no roteiro.
Ea
espinha, a fundac;:ao. Sem estrutura voce nao tem hist6ria, nao tem roteiro."I3 J
Ao se propor a contar uma hist6ria, o roteirista tem necessariamente que
fazer uma escolha.
E sabido
diversas. 0 que atrair6 nosso interesse nao e a hist6ria em si, o que se conta, mas
justamente a maneira como ela e contada. Como diz Michel Chion: "as hist6rias,
decididamente, sao sempre as mesmas. (... ) Em compensac;:ao, indefinidamente
aberta e renov6vel e a arte da narrac;ao, a arte do conto, da qual a arte do
roteirista e apenas uma aplicac;::ao particular, pensada para o cinema."1 4 J Embora
Arist6teles j6 chamasse a atenc;::ao para a diferenc;::a entre o "o que" e o
"como"15 J,
foram
os
formalistas
russos
(ChklovskL
TomachevskL
Propp,
teoria da narrac;::ao. Para eles, essa diferenc;::a e marcada pelos termos fabu/a e
syuzhet. Fabula seria "os componentes b6sicos da hist6ria, a soma total dos
eventos a serem relatados na narrativa"l6l, ou o acontecimento em si. "A fabula
incorpora a ac;::ao como uma cadeia cronol6gica de eventos conectados por
causa e efeito, que ocorrem dentro de uma determinada durac;::ao de tempo,
em um determinado campo especial. (... ) a fabu/a pode ser expressa em uma
sinopse verbal tao geral ou detalhada quanto as circunstoncias requererem."I7J
58
a fabu/a seriam
dispostos
e uma
constru<;oo abstrata que noo depende do meio pelo qual se conta a hist6ria,
"um mesmo modelo de syuzhet pode ser incorporado a urn romance, uma pe<;a
de teatro ou um filme."(8J A diferen<;a estar6 na maneira como os eventos
apresentados chegaroo ao nosso conhecimento. Em ingles, o termo syuzhet
traduzido por plot. Segundo a teoria estruturalista, um texto narrative est6 dividido
entre: hist6ria - "o conteudo ou a cadeia de eventos (a<;oes, acontecimentos),
mais o que se conhece por "existentes" (personagens, itens do cen6rio)"( 9 J; e
discurso- "a expressoo, os meios pelo qual o conteudo
e comunicado"'
10
l. 0 que
Ac;oes
Eventos
{
Acontecimentos
Hist6ria
ersonagens
Texto Narrative {
Exislenles
(
Discurso
Cenarios
o conteudo da
incorpora<;oo
um
meio
especffico,
verbal,
cinem6tico,
musical,
pantomfmico, ou o que seja."( 12l Mais uma vez, a estrutura narrativa independe
59
essencial
para o
desenvolvimento da
hist6ria
(uma
fuga,
um
casamento, um encontro, um assassinato ... ).' 16J Em ambos os casos est6 presente
a no<;ao da descontinuidade temporal, entre as cenas que compoem a
sequencia, ligada a uma no<;ao de sucessao que est6 claramente orientada
para comunicar uma declara<;ao narrativa, ou, em outras palavras, informa<;oes
sobre a hist6ria. Sera a ordena<;ao entre as sequencias que dar6 forma ao que
60
a morte.
61
a revelac;ao
62
a bola,
e repetida.
e aplicar ao cinema
e decisiva
a joalheria.
63
64
5-7-8-6-8-1-8-9-2-10-3-12
Essa manipula<;oo esconde uma estrategia calculada pela narrativa na
apresenta<;oo de informa<;oes sobre a hist6ria a ser desvelada, como fala o
proprio autor do roteiro:
"Se voce quebrar o roteiro em tres atos, a estrutura sob a qual ele trabalha sera
mais ou menos assim: no primeiro ato o espectador nao entende nada do que
est6 se passando. Eles estao apenas se familiarizando com os personagens. Os
personagens tern muito mais informa<;oes do que o espectador. No segundo ato
voce come<;a a sacar o que se passa e a igualar seus conhecimentos com os dos
personagens. No terceiro ato voce agora sabe muito mais do que os
personagens. No primeiro ato de Coes de A/ugue/, ate o memento em que Mr
Orange atira em Mr Blonde, os personagens tern muito mais informa<;oes sobre o
que acontece do que voce - e eles tern informa<;oes conflituosas. Entao n6s
temos a sequencia de Mr Orange que serve para nos nivelar com os
personagens. Voce come<;a a sacar exatamente o que est6 se passando. No
terceira parte, quando voce retoma para o armazem para o clfmax final, voce
est6 totalmente
Buscemi e Penn porque sabe que Mr Orange e um policial, e voce sabe mais do
que Mr Orange porque sabe sobre o paradeiro de Mr Blonde, sabe que ele foi
para a cadeia por tres anos pelo poi de Chris Penn. E quando Mr White aponta
sua arma para Joe e diz "voce est6 errado sobre esse homem"- voce sabe que
Joe est6 certo e que Keitel est6 defendendo o homem que no verdade o est6
entregando." 1181
65
fomentada
pela
necessidade
de
conhecimento
de
Essa
selec;ao
cria
lacunas
{gaps);
combinac;ao
cria
66
JOE
Okay ramblers, let's get to rambling. Wait a
minute, who didn't throw in?
MR. ORANGE
Mr. Pink.
JOE
(to Mr. Orange)
Mr. Pink?
(to Mr. Pink)
Why?
MR. ORANGE
He don't tip.
JOE
(to Mr. Orange)
He don't tip?
(to Mr. Pink]
Shut up!
(to Mr. Pink)
67
The Somebody screaming is Mr. Orange. He lies in the backseat. He's been
SHOT in the stomach. BLOOD covers both him and the backseat.
Mr. White is the Somebody Else. He's behind the wheel of the getaway car.
He's easily doing 80 mph, dodging in and out of traffic. Though he's driving
for his life, he keeps talking to his wounded passenger in the backseat.
They are the only two in the car. (20J
68
MR. WHITE
Okay, let's go through what happened. We're in
the place, everything's going fine. Then the alarm
gets tripped. I tum around and all these cops are
outside. You're right, it was like, bam! I blink my
eyes are they're there. Everybody starts going
apeshit. Then Mr. Blonde starts shootin all theMR. PINK
-That's not correct.
69
MR. WHITE
What's wrong with it?
MR. PINK
The cops didn't show up after the alarm went off.
They didn't show till after Mr. Blonde started
shooting everyone.
MR. WHITE
As soon as I heard the alarm, I saw the cops.
MR. PINK
I'm telling ya, it wasn't that soon. They didn't let
their presence be known until after Mr. Blonde
went off. I'm not sayin they weren't there, I'm
sayin they were there. But they didn't move in till
Mr. Blonde became a madman. That's how I
know we were set up. You can see that, can't
you, Mr. White?(21J
a narrativa.
0 primeiro
e um
Eo
explfcita do roteiro:
70
MR. WHITE
What's done is done, I need you cool. Are you
cool?
MR. PINK
I'm cool.
MR. WHITE
Splash some water on your face.
breather. (24 1
Take
MR. PINK
I gotta take a squint, where's the commode in
this dungeon?
MR. WHITE
71
MR. WHITE
What's the cut, poppa?
JOE
Juicy, junior, real juicy.(25J
74
We follow Mr. Blonde as he walks out of the warehouse ... to his car. He
opens the trunk, pulls out a large can of gasoline.
He walks back inside the warehouse ...
INT. WAREHOUSE- DAY
(tambem
conhecido por ponto de virada; plot point para os americanos). 0 golpe teatral
e um incidente que altera substancialmente os rumos da trama, ou, como diz
Chion "uma brusca reviravolta que modifica a situa<;:ao e a faz reativar-se de
maneira imprevista: pode ser a introduc:;ao de um elemento ou de uma
personagem novos, uma mudanc:;a de sorte, a revelac:;ao de um segredo ou
uma ac:;ao que torna o sentido oposto ao esperado."r28J 0 golpe teatral altera o
equilfbrio da situac:;ao do personagem fazendo com que a ac:;ao avance em
busca de uma resoluc:;ao. Geralmente e marcado por uma ac:;ao ou incidente
do qual noo h6 como se recuperar sem o investimento de um obstinado esforc:;o
75
do personagem.
Eo
76
a noite.
77
CLOSEUP- TELEPHONE
Hello.
NICE GUY EDDIE (O.S.)
(through phone)
It's time. Grab your jacketINT. NICE GUY EDDIE'S CAR (PARKED)- DAY
(through phone)
I'll be right down.
We hear the CLICK of Freddy hanging up through the phone. Nice Guy
places the receiver back in its cradle.
EDDIE
78
FREDDY
(to himself)
Don't pussy out on me now. They don't know.
They don't know shit.
(pause)
You're not gonna get hurt. You're fucking Baretta
and they believe every word, cuz you're super
cool.
He exits FRAME. We stay put and hear the door open and close OFF
SCREEN. f30J
e dissipada
EDDIE
Let me tell you guys a story. In one of daddy's
clubs there was this black cocktail waitress
named Elois.
MR. WHITE
Elois?
EDDIE
Yeah, Elois. E and Lois. We called her Lady E.
MR. WHITE
Where was she from, Compton?
79
EDDIE
No. She was from La:::l:>ra Heights.
MR. PINK
The black Beverly Hills. I knew this lady from
Ladora Heights once.
(in a stuck up black female
voice)
"Hi, I'm from Ladora Heights, it's the black Beverly
Hills."
EDDIE
It's not the black Beverly Hills, it's the black Palos
Verdes. Anyway, this chick, Elois, was a maneater-upper. I bet every guy who's ever met her
has jacked off to her at least once. You know
who she looked like? Christie Love. 'Member that
TV show "Get Christie Love"? She was a black
female cop. She always used to say "You're
under arrest, sugar."
MR. PINK
I was in the sixth grade when that show was on. I
totally dug it. What the fuck was the name of the
chick who played Christie Love?
EDDIE
Pam Grier.
FREDDY
No, it wasn't Pan Grier, Pan Grier was the other
one. Pan Grier made the movies. Christie Love
was like a Pam Grier TV show, without Pam Grier.
MR. PINK
What the fuck was that chick's name? Oh this is
just great, I'm totally fuckin tortured now.
EDDIE
WelL whoever she was, Elois looked like her. So
one night I walk into the club, and no Elois. Now
the bartender was a wetback, he was a friend of
mine, his name was Carlos. So I asked him "Hey,
Carlos, where's Lady E tonight? "Well apparently
Lady E was married to this real piece of dog shit. I
mean a real animal. And apparently he would so
things to her.
FREDDY
Do things? What would he do? You mean like
beat her up?
80
EDDIE
Nobody knows for sure what he did. We just know
he did something. Anyway, Elois plays it real cool.
And waits for the next time this bag of shit gets
drunk. So one night the guy gets drunk and
passes out on the couch. So while the guy's
inebriated, she strips him naked. Then she takes
some crazy glue and glues his dick to his belly.
The car reacts to how horrible that would be.
EDDIE
I'm dead fuckin serious. She put some on his dick
and some on his belly, then stuck 'em together.
The paramedics had to come and cut it loose.
The car reacts badly.
MR. WHITE
Jesus Christl
FREDDY
You can do some crazy things with it.
EDDIE
I don't know what he did to her, but she got
even.
MR. WHITE
Was he all pissed off?
MR. PINK
How would you feel if you had to do a
handstand every time you took a piss.
The car laughs. (31J
OS
MR. WHITE
81
ultimos
82
Pela segundo vez o corte tr6s subentendido a mesma elipse que temos no
infcio do roteiro. Pulamos do antes para o depois do assalto.
A fala
descontrafda
83
di61ogo que ela descreve, sendo que esse di61ogo caminha em sentido contr6rio
a essa tensao dram6tica, servindo tao somente para que o autor possa, mais
uma vez, recorrer ao seu extenso fndice de referencias pops ou dar vazao as suas
paranoias. Ao estudarmos a estrutura do roteiro, detectamos uma regra interna
adotada pelo autor que justifica a inclusao de cenas como a que se passa no
interior do carro de Nice Guy Eddie, cujo conteudo nao est6 diretamente
relacionado com os eventos centrais do historia. Alem dos efeitos de narra<:;::oo
produzidos pelas lacunas deixadas pela estrutura, a selec;ao e a combinac;ao
das cenas do roteiro estao sujeitas a um andamento rftmico de compassos
bin6rios produzido pela intercalac;ao de tempos fortes e fracos.
Eesse ritmo
que
faz com que a curva dram6tica se assemelhe mais com uma montanha-russa de
subidas e descidas abruptas que quebram uma ascensao uniforme. Mais
especificamente, a oscilac;ao entre os tempos do roteiro e marcada pela
intercalac;ao entre momentos de extrema verborragia com momentos de ac;ao.
Como j6 disse um crftico, "quando a energia retorica se eleva em um roteiro de
Tarantino, significa que alguma coisa terrfvel est6 para acontecer - ou que j6
aconteceu e dessa precisamos nos recuperar."l3 3l Conforme o roteiro avanc;a
rumo a sua resoluc;ao, a verborragia vai cedendo espac;o para a ac;ao sem, no
entanto, deixar de ser descartada. Comparada em sua extensao, a cena que se
passa no interior do carro de Nice Guy Eddie e sensivelmente menor do que a
cena de abertura. Entre as duos existe uma diferenc;a de sete p6ginas em favor
do cena de abertura, o que indica uma preocupac;ao de Tarantino em nao
emperrar o fluxo das ac;oes com seu grande estoque de converses.
E por esse
motivo que o bloco de dez p6ginas de di61ogo que constitui a cena de abertura
so encontra espac;o no infcio do roteiro, como diz o proprio Tarantino: "Voce
84
pode fazer todo tipo de porcaria no come<;:o do filme, coisa que voce nao ter6
paciencia de suportar quando vai se aproximando o final."(34l
A montagem da estrutura do roteiro leva em considera<;:ao tambem um
enfoque do autor no abordagem da hist6ria. Caes de A/ugue/ desenvolve sua
hist6ria a partir de uma situa<;:ao de genero. Mais precisamente, o roteiro se
encaixa dentro de um sub-genero do genero policial conhecido por heist
movies,
ou
filmes
de
assalto,
onde
invariavelmente
acompanhamos
Jewison,
1968), The
Getaway
(Sam
Peckinpah,
1972), e,
mais
dos
filmes
que
habitam
85
universe
do
genero,
armazem
E em
NOTAS
( l) in SERVER. Lee, Screenwriter: words become pictures, The Main Street Press. Pittstown,
New Jersey, 1987, pg 20.
(2) in HOWARD, David e MABLEY, Edward, Teoria e Pratica do Roteiro, Editora Globo, Sao
1978. pg 20.
(8) BORDWELL David, Narration In The Fiction Film, The University of Wisconsin Press,
1978, pg 19.
86
sequencia
em
epis6dios.
segundo,
sequencia
habitual.
"As
sequencias
de uma fase de uma evoluc;:ao bastante Iongo, que a sequencia no seu conjunto
sintetiza. Na sequencia habitual, coda uma das unidades da narrac;:ao apresenta
simplesmente um dos mementos nao pulados da ac;:ao." in METZ, Christian, A
Significac;:ao no Cinema, Editora Perspectiva, Sao Paulo, 1977, pg 153;154.
( 17) em Answers First, Questions Later, An interview with Graham Fuller, introduc;:ao
TARANTINO, Quentin, Reservoir Dogs, Faber and Faber, London, Boston, 1994, pg xiii.
(18) em When you know you're in good hands, Quentin Tarantino interviewed by Gavin
Smith, revista FILM COMMENT, july-august 1994, vol. 30, #4.
( 19) BORDWELL. David, Narration In The Fiction Film, The University of Wisconsin Press,
Madison, 1985, pg. 54.
(20) TARANTINO, Quentin, Reservoir Dogs, Faber and Faber, London, Boston, 1994, pg 11;
12; 14. TRADUCAO:
JOE
87
0 "Aiguem" que grita e MrOrange. Ele est6 deitado no banco de tr6s. Ele foi
ferido no barriga. H6 sangue por toda a parte.
Mr White eo "A/gum Outro". Ele est6 ao volante do carro roubado.
Ele corre a toda velocidade, tentando se /ivror do tr6fego. Embora ele esteja
correndo para salvor sua proprio vida, ele continua conversando com o
passogeiro ferido no banco de tr6s. Somente os dois estao no carro.
(21) TARANTINO, Quentin, Reservoir Dogs, Faber and Faber, London, Boston, 1994, pg 20;
21. TRADU<:;:AO:
MR WHITE
Ta legaL vejamos o que aconteceu. N6s estavamos no Iugar. Tudo estava
correndo bem. Entao os alarmes disparam. Eu me viro e todos aqueles
policiais estao Ia fora. Voce t6 certo, foi como num piscar de olhos e eles
ja estavam Ia. Todo mundo come<;:a a eagar de panico. Entao Mr Blonde
come<;:a a atirar em MR PINK
Nao foi desse jeito.
MR WHITE
0 que ha de errado?
MR PINK
Os policiais nao apareceram depois que o alarme disparou. Eles s6
apareceram depois que Mr Blonde come<;:ou a atirar em todo mundo.
MR WHITE
89
90
MRWHITE
Molhe o rosto. Respire fundo.
MR WHITE
V6 ate o fim do corredor, vire
voz
Como vai a Alabama?
MRWHITE
Alabama? Faz mais de um ano e meio que eu nao tenho notfcias dela.
voz
Eu pensava que voces dois formassem uma dupla.
MRWHITE
N6s eramos, por algum tempo. Fizemos uns quatro servi<;os juntos. Entao
decidimos nos separar. Se voce for<;a muito, aquele tro<;o entre Homem e
Mulher acaba aparecendo.
Nos agora cortamos para ver Joe atras de sua mesa.
JOE
0 que ela est6 fazendo agora?
MR WHITE
Ela t6 ligada ao Fed McGar. Eles tem feito alguns servi<;os juntos. Uma boa
ladrazinha. Entao, explique o telegrama.
JOE
Trabalho para cinco caras. Entrar e sair de uma joalheria.
91
MRWHITE
E voce vai conseguir passar a mercadoria adiante? Eu nao conhec;:o mais
nenhum receptador.
JOE
Sem problema. Tern uns caras esperando por isso. Mas o que aconteceu
com o Marsellus Spivey? Ele nao era seu receptador?
MRWHITE
Ele t6 em Susanville, cumprindo vinte anos.
JOE
Qual o motivo?
MR WHITE
Azar. Como vai ser o esquema?
JOE
Dois minutos, no maximo. Mas vao ser dois minutos diffceis. De dia, durante
o hor6rio comerciaL lidando com os fregueses. Mas voces terao uns caras
para cuidarem deles.
MR WHITE
Quantos funcion6rios?
JOE
Por volta de vinte. 0 sistema de seguranc;:a e bern relaxado. Eles quase
sempre negociam apenas com caixas, pedras brutas que eles recebem
do sindicato. Dentro de alguns dias essa joalheria estar6 recebendo um
grande carregamento de pedras lapidadas vindas de Israel. Eles
funcionam como uma estac;:ao intermedi6ria. Recebem em um dia e no
dia seguinte eles mandam pro Vermont.
MRWHITE
Nao vao mandar nao.
Os dois doo risada.
MR WHITE
Qual e 0 lucro, papa?
JOE
Doce, meu garoto, muito doce.
e0
92
(28) CHION, MicheL 0 Roteiro de Cinema, Martins Fontes, Sao Paulo, 1989, pg 197.
(29) TARANTINO, Quentin, Reservoir Dogs, Faber and Faber. London, Boston, 1994, pg 65.
TRADU<:;::AO:
"Escuta, Marvin Nash. Eu sou um policial."
CLOSEUP- TELEFONE
0 telefone toea. Freddy atende, nos acompanhamos o fone ate seu rosto.
93
FREDDY
Al6.
NICE GUY EDDIE (OFF)
(ao telefone)
T6 na hora. Pega seu casacoINT. CARRO NICE GUY EDDIE (ESTACIONADO)- DIA
MRWHITE
Elois?
EDDIE
E, Elois. "E" mais "Lois". N6s cham6vamos Lady E.
MR WHITE
Da on de ela era, Compton?
EDDIE
Nao. Ela era de Ladora Heights.
MR PINK
A Beverly Hills dos negros. Eu conheci uma garota de Ladora Heights uma
vez.
(imitando a voz posuda de uma mulher negra)
"OL eu sou de Ladora Heights, a Beverly Hills dos negros."
EDDIE
Nao e a Beverly Hills dos negros, e a Palos Verdes dos negros. Em todo
caso, essa garota, Elois, era uma verdadeira devoradora de homens. Eu
aposto como ela comeu pelo menos uma vez todos os caras que
passaram na frente dela. Sabe com quem ela se parecia? Christie Love.
Lembra daquele programa da TV "Get Christie Love"? Ela era aquela
policial preta. Ela costumava dizer "Voce t6 preso, meu docinho."
MR PINK
Eu tava na sexta serie quando passava esse programa. Eu era totalmente
viciado nele. Qual era mesmo o nome da garota que fazia o papel da
Christie Love?
EDDIE
Pam Grier.
FREDDY
Nao. Nao era a Pam Grier. Pam Grier era a outra. Pam Grier fazia os filmes.
Christie Love era como a Pam Grier da TV, s6 que sem a Pam Grier.
MR PINK
Qual era a porra do nome da garota? Era s6 o que me faltava, agora eu
vou ficar me torturando por isso.
EDDIE
Bem, seja 16 quem for, Elois era parecida com ela. Entao, uma noite eu fui
ate o bar e ela nao estava 16. Acontece que o bartender era um pau
d' 6gua e ele era meu amigo, o nome dele era Carlos. Entao eu perguntei
para ele "Ei Carlos, cade a Lady E?" Bem, ao que parece, Lady E era
casada com tremendo de um canalha de marido. Um verdadeiro animal.
E, aparentemente, ele aprontava algumas com ela.
FREDDY
95
0 que voce acha de ter que se proteger com a mao toda a vez que
voce vai mijar.
Os outros caem no gargalhada.
(32) Ibid., pg 96;98. TRADUCAO:
MRWHITE
Quando voce to lidando com uma loja como essa, esses caras metem
tudo no seguro. Nao se espera que eles oferec;am resistencia. Se voce
encontra um cliente ou um funcionario que pensa que e o Charles
Bronson, meta uma coronhada no nariz dele. Derrube ele no chao. Todo
mundo salta, ele cai no chao, sangue espirrando do nariz. Todo mundo
caga de medo. Ninguem vai abrir o bico depois dessa. Voce pode
encontrar alguma vagabunda que vai querer te interpelar. De uma
olhada feia na cora dela como quem to querendo arrebenta-la. Ve s6 se
ela nao vai calor a boca. Agora, se houver um gerente, o gerente e uma
outra est6ria. 0 gerente e aquele que mais pode te atrapalhar. Entao, se
voce deixar um desses abrir a boca, ele provavelmente vai se achar um
96
verdadeiro her6i. Entao o que voce tem que fazer e quebrar o filho da
puta em dois. Se voce quer saber alguma coisa e ele nao quer falar, corte
um dos dedos dele, o menor. Depois diga que o polegar sera o proximo.
Depois disso ele vai te dizer ate se ele usa calcinhas de mulher. To com
fome, vamos comer um taco.
CORTE PARA:
Esse
A distancia,
(33)
DEEMER,
Charles,
The
Screenplays
of Quentin
Tarantino,
revista
Creative
97
Quentin Tarantino,
revista Creative
fic~ao)
defini~ao
de urn
conflito principal, sendo esse conflito a propria razao de ser do roteiro. De Syd
Field:
"Todo drama
personagem, nao h6
conflito. Sem
a~ao;
sem
a~ao,
conflito
nao h6
personagem;
sem
confronta~ao
entre
for~as
a~ao,
Eo
a~ao
se
para uma hist6ria assim como o som est6 para a musica."(4J De Lewis Herman: "Se
(no roteiro) nao existir nenhum conflito detectavel, nao existira uma hist6ria, quer
seja ela escrita para o cinema ou para a televisao, ja que somente o conflito
pode gerar a a<;ao e somente a a<;ao pode gerar o drama."(5J
A no<;ao de conflito como parte fundamental do drama foi primeiro
detectada por Hegel que, muito antes dos autores citados acima, ja dizia: "A
poesia dramatica nasce da necessidade humana de ver a a<;ao representada;
mas nao pacificamente, e sim atraves de um conflito de circunstancias, paixoes
e caracteres, que caminha ate o desenlace finai."( 6J Drama e conflito pois
pressupoe uma justaposi<;ao de for<;as antag6nicas. Estas for<;as nada mais sao
do que manifesta<;oes de desejos fntimos externados pelos personagens que
integram a obra. Diz Anatol Rosenfeld: "0 que se chama, em sentido estilfstico,
de 'dramatico', refere-se particularmente ao entrechoque de vontades e
a outra. E a
ligac;ao
99
Ea
"cujos
nova situac;:ao."f 13l Assim vemos que no curso de uma ac;:ao temos configurac;:oes
de diferentes situac;:oes. De Etienne Souriau: "no essencial do dram6tico, ac;:ao e
situac;:ao sao correlatas. A ac;:ao deve levar
conduzir
a ac;:ao."f14l
100
nos fornecem
E claro
nossa
e dito
nos
101
a fun<;ao
do di61ogo
no
composk;:oo
do
roteiro.
Todos
os
acontecimentos
que
102
extra, que nao est6 presente nas outras cenas (ver capitulo 5), qual seja, a de ser
o elemento condutor da ac;ao dram6tica que ali se desenrola. Em teoria, a
propria essencia do genero dram6tico est6 fundada no di61ogo.
E atraves
di61ogo
mais
que
os
personagens
manifestam
suas
existencias;
do
ainda,
a resoluc;ao
do roteiro. Se, por outro lado, Joe simplesmente aparecesse por 16, sacasse sua
103
arma e disparasse contra Orange sem dizer nada, White ficaria sem ac;;ao, por
nao ter consciencia da intenc;;ao premeditada de Joe, bern como a ac:;::ao de
Joe seria desmotivada, gratuita e nao aceita pelo publico. Dessa forma, vemos
que foi justamente a tala de Joe Cabot, antes mesmo da sua atitude de atirar
em Orange, que provocou toda a alterac:;::ao na situac:;::ao dramatica.
Alem do provo de folego que se submete o autor em Caes de Aluguel
(folego para sustentar o extenso dialogo exigido pelas condic:;::oes espac;;otemporais que estrutura o roteiro), Quentin Tarantino ainda tern pela frente um
desafio maior, o de criar artiffcios que amarrem os personagens ao espac:;::o do
armazem, procurando sempre alimentar a atenc:;::ao do espectador. Dentro do
esquema apresentado pela hist6ria, o armazem sera o ponto de encontro dos
assaltantes ap6s o golpe, onde sera feita a partilha do produto roubado. Especie
de esconderijo, o cenario e mais um dos itens obrigat6rios dentro do universo do
sub-genero ao qual Coes de Aluguel esta inscrito - que em ingles encontra sua
designac;;ao precisa: heist movies. A diferenc:;::a e que, enquanto nos filmes com os
quais o roteiro se relaciona o cenario se configura apenas como um local de
passagem, em Coes de Aluguel este sera o centro de todas as ac:;::oes, como diz
o autor: "0 que normalmente seria uma cena de dez minutos em qualquer outro
e obrigado a
levar em conta
104
frances, Manfred Pfister lembra que "tais restric;:oes de espac;:o e tempo podem
induzir a situac;:oes nas quais um numero de diferentes personagens se encontrem
em um determinado Iugar com tanta freqOencia que todo o processo vai se
tornando implausfvel."(21 l No caso de um roteiro de cinema, o risco de se incorrer
nessa implausibilidade e ainda maior pois, como sabemos, a possibilidade de
deslocamentos espaciais permitida a um roteirista e ilimitada. Sendo assim, a
relac;:ao entre espac;:o e ac;:ao dever6 ser ainda mais estreita quanto mais se
queira reforc;:ar o car6ter realista da obra.
105
(espa<:;:o cenografico)
externo
(espa<:;:o
106
incidente ocorrido com Mr Orange representa o n6 inicial que ira alterar os rumos
do hist6ria. 0 ferimento em Orange fora brotar um forte sentimento de culpa em
Mr White como se fosse ele proprio o autor dos disparos que vitimaram Orange
(note que, mais tarde, sera White o autor dos disparos que porao fim a agonia de
Orange). Orange e um peso morto, um obstaculo que dificultara a livre
movimenta<;:oo dos personagens no busca do resolu<;:oo do catastrofe no qual
estao envolvidos. Orange e um ponto fixo no cenario em torno do qual a a<;:ao
se desenvolvera como for<;:a centrffuga a manter os personagens presos no
espa<;:o. Pode-se dizer que, durante todo os momentos que se passam dentro do
armazem, Mr White sera o motor do a<;:ao dramatica, enquanto Mr Orange sera
seu combustive!. Mesmo quando Orange toma uma atitude, ao motor Blonde,
White continuara sendo a barreira que tencionar6 as rela<;:oes entre o grupo
impedindo decididamente que Eddie e Joe acertem as contas com Orange.
Sera pela motiva<;:ao de White em defender Orange, e nao pela de Orange em
defender o policial refem, que o roteiro encontrar6 o caminho para sua
resolu<;:oo. Passemos agora
a analise
a<;:ao dramatica vai sendo construfda ao redor das motiva<;:oes de coda um, e
como esta se articulo com o espa<;:o.
a indefinic;ao da
da quadrilha: "We're just gonna sit here, and wait for Joe." Cria-se assim o primeiro
artiffcio para manter os personagens em um mesmo espac;o. No entanto, essa
espera nao sera pacffica mas recheada por confrontac;oes entre todos os
personagens, conforme veremos.
A situac;ao crftica de Orange causa uma forte comoc;ao em White. 0
dialogo entre os dois ira evidenciar um forte elo afetivo gerado pelas
circunstancias (que no final dara justificativa para o desfecho):
MR. ORANGE
Larry, I'm so scared, would you please hold me.
108
Mr. White very gently embraces the bloody Mr. Orange. Cradling the young
man, Mr. White whispers to him.
MR. WHITE
(whispering)
MR. ORANGE
109
joalheria. Durante esse di61ogo, Pink informa a White estar de posse dos
diamantes roubados e sugere que os dois deixem o local antes que os policiais
aparec;:am por 16.
MR. PINK
I got the diamonds.
MR. WHITE
Where?
MR. PINK
I got 'em, all right?
MR. WHITE
Where? Are they out in the car?
MR. PINK
No, they're not in the car. No, I don't have them
on me. Yo wanna go with me and get 'em? Yes,
we can go right now. But first listen to what I'm
telling you. We were fuckin set up! Somebody is
in league with the cops. We got a Judas in our
midst. And I'm thinkin we should have our fuckin
heads examined for waiting around here.
MR. WHITE
That was the plan, we meet here.f28)
Mais uma vez, pela fala de White, temos reforc;:ada uma justificative para a
presenc;:a dos personagens no armazem: "That was the plan, we meet here." Por
outro !ado, as falas de Pink irao alimentar uma expectative relacionada
possibilidade de os dois deixarem o local. Com isso, cria-se uma tensao entre
llO
e claro,
MR. WHITE
Without medical attention, this man won't live
through the night. That bullet in his belly is my
fault. Now while that might not mean jack shit to
you, it means a helluva lot to me. And I'm not
gonna just sit around and watch him die.f29 J
White exp6e, assim, a motivac;;ao que orientara suas ac;;oes durante todo o
roteiro. "And I'm not gonna just sit around and watch him die.", diz ele,
anunciando sua decisoo de fazer tudo o que for possfvel para salvor a vida de Mr
Orange, o que implica em passar por cima de todos os obstaculos que por
ventura aparec;;am pela frente. No entanto, o senso de profissionalismo de Pinko
impede de se comover com a dor de Orange, o que para ele faz parte dos
riscos assumidos da profissao: "And I'm very sad about that. But some fellas are
lucky, and some ain't."P0l Para Pink, importa apenas resolver uma questao
pratica, ou seja, fugir do armazem o mais rapido possfvel. Diante da insistencia de
White em dar prioridade aos cuidados exigidos pela precaria condic;;oo de
Orange, tambem pelo fato de nao acreditar que nenhum outro membro da
gang ira aparecer no armazem, Pink sentencia: "Well, I guess we drop him off at
111
the hospital. Since he don't know nothin about us, I say it's his decision."I31 J Porem,
White responde lanc;:ando um elemento novo, motivo de maiores complicac;:oes:
MR. PINK
A fala de Pink d6 o tom imperative de sua decisao ("We ain't taking him to
a hospital."). Em contrapartida, a fala de White nao apenas alerta para o risco
que corre Mr Orange mas comunica sua disposic;:ao de lev6-lo ao hospital por ser
essa a Onica maneira de salv6-lo diante do quadro atual. A nova situac;:ao gera a
112
113
armazem faz com que White esque<;a imediatamente sua pequena rixa com Mr
Pink para concentrar seus desaforos em Blonde, o que reverte o esquema de
confronta<;oes, conforme veremos.
Ap6s um r6pido question6rio sobre o paradeiro dos outros membros da
gang, Pink aviso Blonde que o Iugar nao e mais seguro e que, portanto, todos
devem deixar o armazem. No entanto, Blonde pensa diferente.
MR. PINK
We don't think this place is safe.
MR. WHITE
This place just ain't secure anymore. We're
leaving, and you should go with us.
MR. BLONDE
Nobody's going anywhere.(36)
MR. WHITE
(to Mr. Pink)
MR. BLONDE
Don't take another step, Mr. White.
Mr. White explodes, raising his gun and charging towards Mr. Blonde.
MR. WHITE
Fuck you, maniac! It's your fuckin fault we're in so
much trouble.{37J
114
Situacao 1
MrWhite
Mr Pink
MrOrange
Situacao 2
X
MrWhite
Mr Blonde
!
MrOrange
Mr Pink
MR. PINK
Cut the bullshit, we ain't on a fuckin playground!
(pause)
MR. BLONDE
We're gonna sit here and wait.
MR. WHITE
For what. the cops?
MR. BLONDE
Nice Guy Eddie.
MR. PINK
Nice Guy Eddie? What makes you think Nice
Guy's anywhere but on a plane half way to
Costa Rica?
MR. BLONDE
Cause I just talked to him. He's on his way down
here, and nobody's going anywhere till be gets
here.(39 l
116
MR. WHITE
(pointing to Mr. Orange)
What are you gonna do about him?
EDDIE
Jesus Christ, give me a fuckin chance to breathe.
I got a few questions of my own, ya know.
ll7
MR. WHITE
is.f40J
118
munk;:ao em Blonde ate que este caia morto. Ap6s o matar Blonde, Orange
revelo, em converso com o policial, ser ele tambem um policial que est6
envolvido em um esquema para pegar o chefao da quadrilha, Joe Cabot. A
revelac:;:ao de Orange expoe a verdadeira motivac:;:ao por tr6s de seus atos. No
cen6rio da hist6ria, Orange est6 contra todos e principalmente contra Joe
Cabot. No entanto, dentro do cen6rio das ac:;:oes desenvolvidas no armazem,
Orange e forc:;:a secund6ria aliada a forc:;:a principal encarnada por Mr White.
0 crime de Orange e o primeiro ato de ruptura, sem volta, entre os
membros da gang. A crueldade de Blonde ultrapassa o limite do toler6vel para
Orange. Pela primeira vez, este toma uma atitude em nome da corporac:;:ao a
qual pertence, deixando transparecer sua real posic:;:ao no campo de jogo. A
situac:;:ao dram6tica est6 definitivamente alterada e abre-se caminho para a
confrontac:;:ao final do roteiro. Orange nao poder6 escapar impune de seu crime.
Nossa duvida recai apenas na posic:;:ao que Mr White ira assumir diante do
ocorrido, se continuar6 a defender Mr Orange ou se passar6 a adotar uma
postura um pouco mais desconfiada.
(Vale notar que a retirada de Nice Guy Eddie, Mr White e Mr Pink respeita
exatamente o tempo necess6rio para que tenham vez acontecimentos
fundamentais dentro da 16gica das ac:;:oes apresentadas pelo roteiro. Tanto a
morte de Mr Blonde como a posterior converso entre Mr Orange e o policial nao
poderiam ter ocorrido com a presenc:;:a dos outros tres personagens, um sinal
claro de como o autor manipula a escalada dos eventos e suas durac:;:oes.)
0 retorno de Eddie, White e Pink marco o infcio do sexto e ultimo momento
das ac:;:oes no armazem, o ultimo ato do roteiro. Ao ver seu amigo Blonde morto,
Nice Guy Eddie imediatamente passa a exigir explicac:;:oes a Mr Orange.
119
EDDIE
What the fuck happened here?
Eddie runs over to his friend Mr. Blonde I Toothpick Vic.
MR. WHITE
(to Mr. Orange)
What happened?
MR. ORANGE
(very weakly)
Blonde went crazy. He slashed the cop's face,
cut off his ear and was gonna burn him alive.f43J
MR. ORANGE
Look, Eddie, he was pullin a bum. He was gonna
kill the cop and me. And when you guys walked
through the door, he was gonna blow you to hell
and make off with the diamonds.(44J
MR. WHITE
(to Eddie)
Uhuh, uhuh, what's I tell ya? That sick piece of shit
was a stone cold psycho.
MR. ORANGE
(to Eddie)
You could've asked the cop, if you didn't just kill
him. He talked about what he was going to do
when he was slicing him up.
120
EDDIE
I don't buy it. It doesn't make sense.
MR. WHITE
It makes perfect fuckin sense to me. Eddie, you
didn't see how he acted during the job, we
did.f45)
A desculpa de Orange cai por terra diante das informa<;oes que Eddie
lan<;a a seguir:
EDDIE
The man you killed was just released from prison.
He got caught at a company warehouse full of
hot items. He could've walked away. All he had
to do was say my dad's name. But instead he
shut his mouth and did his time. He did four years
for us, and he did 'em like a man. And we were
very grateful. So, Mr. Orange, you're tellin me this
very good friend of mine, who did four years for
my father, who in four years never made a deaL
no matter what they dangled in front of him,
you're telling me that now, that now this man is
free, and we're making good on our
commitment to him, he's just gonna decide, right
out of the fuckin blue, to rip us off?l46l
poder6 mesmo ser perpetrado pelo chefe do gang. Arma-se assim a situa<;oo
propfcia para a tao aguardada entrada em cena de Joe Cabot.
EDDIE
Mr. Orange, why don't you tell me what really
happened?
121
VOICE (O.S.)
Why? It'll just be more bullshit.
Eddie steps out of his CLOSEUP and we see Joe Cabot standing in the
warehouse doorway. He walks into the room.
JOE
(pointing to Mr. Orange)
122
acha por bem, ate com certa razao, defender a vida de Orange. 0 que
surpreende e o fato de White arriscar sua propria vida na confronta<;;:oo, alem de
colocar por terra sua Iongo parceria com Joe Cabot. A situm;:ao nos leva ao que
em ingles e designado por mexican stand-off, termo emprestado dos filmes
westerns, especialmente os de Sergio Leone, que diz respeito ao momento em
Mr. White pointing at Joe, looking like he's ready to start firing any minute.
Eddie scared shitless for his father, gun locked on Mr. White.
Mr. Pink walking backwards away from the action.
Nobody says nothing. (49)
X
Joe Cabot
l
Nice Guy Eddie
MrOrange
---..
"
X+--
l
MrWhite
Mr Pink
Joe FIRES three times, HITTING Mr. Orange with every one.
Mr. White SHOOTS Joe twice in the face. Joe brings his hands up to his face,
screaming, and falls to the ground.
Eddie FIRES at Mr. White, HITTING him three times in the chest.
Mr. White brings his gun around on Eddie and SHOOTS him.
The two men FALL to their knees, FIRING at each other.
Eddie COLLAPSES, dead.
Joe's dead.
Mr. Orange lies perfectly still, except for his chest heaving. The only SOUND
we hear is his loud breathing.
Mr. White is SHOT full of holes, but still on his knees, not moving.
Mr. Pink is standing motionless. Finally he grabs the satchel of diamonds and
RUNS out the door. rso)
124
Com algum esforc;o, White se arrasta ate Mr Orange que mais uma vez
parece ter resistido a todas as perfurac;oes de bala pelo corpo. 0 roteiro fecha
com a revelac;ao de Mr Orange a Mr White.
MR. WHITE
(with much effort)
Sorry, kid. Looks like we're gonna do a little time.
Mr. White lifts his .45 and places the barrel between Mr. Orange's eyes.
The CAMERA MOVES into an EXTREME CLOSEUP of Mr. White.
The SOUNDS of outside STORM inside. We don't see anything, but we HEAR a
bunch of shotguns COCKING.
POLICE FORCE (O.S.)
Freeze. motherfucker! Drop your fucking gun!
Coes
125
126
NOT AS
(1) FIELD, Syd, Manual do Roteiro, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 1995, pg 5.
(2) HOWARD, David e MASLEY, Edward, Teoria e Pr6tica do Roteiro, Editora Globo, Sao
(7) ROSENFELD, AnatoL 0 Teatro Epico, Editora Perspective, Sao Paulo, 1997, pg 34.
(8) PALLOTTINL Renata, lntroduc;ao
(9) PAVIS, Patrice, Diccionario del Teatro: Dramaturgia, estetica, semio/ogia, Ediciones
(13) PFISTER, Manfred, The Theory and Analysis of Drama, Cambridge University Press,
127
(18) conforme citado em PFISTER, Manfred, The Theory and Analysis of Drama,
Cambridge University Press, Cambridge, 1988. pg 6, e PAVIS. Patrice, Diccionario del
Teatro: Dramaturgia, estetica, semiologia, Ediciones Paid6s, Barcelona, Buenos Aires.
Mexico. 1980. pg 129.
(19) TARANTINO, Quentin, Reservoir Dogs, Faber and Faber. London. Boston, 1994,pg 104.
TRADU<;AO:
"Esse homem nos traiu."
(20) em When you know you're in good hands, Quentin Tarantino interviewed by Gavin
Smith, revista FILM COMMENT, july-august 1994, vol. 30, #4.
(21) PFISTER. Manfred, The Theory and Analysis of Drama, Cambridge University Press.
Cambridge, 1988. pg 250.
(22) Em teatro, se entende por espa9o cenico "o espa9o perceptive em cena: e o
em
PAVIS,
Patrice, Diccionario
del Teatro:
Dramaturgia,
estetica,
128
"Eu sinto muito por isso, mas alguns tem sorte outros nao."
(31) Ibid., pg 35. TRADUCAO:
"Bom, acho que a gente pode deixa-lo em um hospital. Ja que ele nao sa be
nada sobre a gente, a decisao e dele."
MR WHITE (OFF)
Bem, ele sabe um pouco sobre mim.
MR PINK
Voce nao disse seu nome, disse?
MR WHITE (OFF)
Eu disse meu primeiro nome e de onde eu vim.
(33) Ibid., pg 41. TRADUCAO:
"Sea policia pega ele, a policia te pega, sea policia te pega, eles tem a
chance de me pegar e isso nao vai acontecer."
(34) Ibid., pg 38. TRADUCAO:
MR PINK
N6s nao vamos leva-lo ao hospital.
MR WHITE (OFF)
Se a gente nao fizer isso, ele morre.
(35) Ibid., pg 25. TRADUCAO:
130
"0 que voce deve fazer e agir como um profissional. Um psicopata nao e um
profissional."
(36) Ibid., pg 42. TRADU<:;AO:
MR PINK
Pra gente esse Iugar nao e seguro.
MRWHITE
Esse Iugar nao e mais seguro. N6s vamos embora e voce deveria vir com a
gente.
MR BLONDE
Ninguem vai a Iugar algum.
(37) Ibid., pg 42/43. TRADU<:;AO:
MR WHITE
(para Mr Blonde)
Va a merda, n6s vamos embora.
Mr White se vira pro sair.
MR BLONDE
Nao de mais nenhum passo, Mr White.
Mr White explode Jevantando sua arma e ameac;ando Mr Blonde.
MR WHITE
Va te foder, manfaco!
MR WHITE
Voce t6 ficando do lado dele?
MR PINK
A merda com isso! 0 que a gente precisa aqui e de um pouco de
solidariedade. Alguem t6 enfiando um bastao quente na nossa bunda e a
gente tem que descobrir quem e que t6 fazendo isso. Agora, eu sei que eu
nao sou nenhum bosta ...
(referindo a Mr White)
Eu to certo que voce e um cora legal...
(referindo a Mr Blonde)
E eu to mais ainda certo que voce t6 com a gente. Entao vamos tentar
descobrir quem e 0 filho da puta.
(39) Ibid., pg 45. TRADU<;AO:
MR BLONDE
N6s vamos sentar aqui e esperar.
MRWHITE
Por quem? Pela policia?
MR BLONDE
Nice Guy Eddie.
MR PINK
Nice Guy Eddie? 0 que faz voce pensar que ele t6 por aqui e nao a
caminho da Costa Rica?
MR BLONDE
Porque eu acabei de falar com ele. Ele est6 vindo pra c6 e ninguem vai
sair daqui ate que ele chegue.
(40) Ibid., pg 57. TRADU<;AO:
MR WHITE
(apontando para Mr Orange)
0 que voce vai fazer com ele?
EDDIE
Meu Deus, me de uma chance pra respirar. Eu tambem tenho algumas
perguntas pra fazer, sabia?
MRWHITE
Voce nao t6 morrendo. Ele t6.
(41) Ibid., pg 61. TRADU<;AO:
"Eu nao ligo a minima para o que voce sa be ou deixa de saber. Eu vou te
torturar de qualquer jeito. Nao para obter alguma inforrnac;:ao. Mas porque
torturar um policial me diverte."
132
Esse homem que voce matou acabou de sair da prisao. Ele foi apanhado
dentro de um armazem cheio de muamba quente. Ele poderia se safar.
Tudo que ele tinha que dizer era o nome do meu pai. Mas, ao inves disso
ele calou a boca e foi preso. Ele ficou quatro anos na cadeia por nossa
causa e, durante todo esse tempo, ele se comportou como um homem. E
n6s ficamos muito grates a ele. Entao, Mr Orange, voce to dizendo que
esse amigo meu, que ficou quatro anos na cadeia pelo meu paL e que
nesses quatro anos nunca aceitou nos entregar, nao importando o que os
outros lhe oferecessem em troca, voce to me dizendo que, agora que
esse homem estava livre, e n6s estovamos lhe retribuindo por tudo o que
ele fez por n6s, que ele decidiu, da sua cabec;::a, que iria nos passar pra
tras?
(47) Ibid., pg 104. TRADU\;AO:
EDDIE
Mr Orange, por que voce nao fala o que realmente aconteceu?
VOZ (OFF)
Pra que? Serio s6 mais um monte de bobagem.
Eddie sai do CLOSEUP e nos vemos Joe Cabot parado na porta do armazem.
Ele entra no local.
JOE
(apontando para Mr Orange)
Esse homem nos traiu.
A CAMERA faz um 360 em volta de todos.
EDDIE
PapaL eu sinto muito, eu nao sei o que to acontecendo.
JOE
To tudo bem, Eddie, eu sei.
MRWHITE
(para Joe)
Que porra voce to falando?
JOE
(apontando para Mr Orange)
Esse bosta trabalha pra policia.
MR WHITE MR PINK & EDDIE
Oque?
JOE
Eu disse que esse bosta trabalha para a pollcia de Los Angeles.
134
Eu sou um policial.
Mr White nao diz nada. E/e permanece acariciando a testa de Orange.
MRORANGE
136
7.CONCLUSAO
137
se viu" .f 1l 0 grande achado do diretor america no tem sido justa mente recontar
essas hist6rias manjadas assumindo algumas liberdades narrativas que fogem do
padrao quadrado adotado pela maioria dos filmes de Hollywood. 0 que se
observa como operac:;:ao recorrente nos seus principais roteiros e uma h6bil e
decisiva manipulac:;:ao do tempo da hist6ria. Essa manipulac:;:ao encontra no
recurso do flashback seu expediente mais habitual. Flashback e o termo que
temos usado ate aqui para designar as manipulac:;:oes temporais - recuos no
tempo- que observamos em Caes de Aluguel. A rigor, com excec:;:ao das cenas
iniciais, na lanchonete, da cena subsequente (p6s-creditos) e das cenas do
armazem, todas as outras cenas do roteiro podem ser caracterizadas como
e um
termo que
eu nao reconhe90. Eu uso uma estrutura de romance para contar minha hist6ria.
Quando se le um romance, os tempos se alteram constantemente sem que se
refiram a isso como flashbacks. (... ) Para mim um flashback
e uma
recorda9ao
semelhantes,
"o
termo
138
flashback
aparentemente
noo
foi
safra de filmes policiais, e urn dos filmes que guarda estreita rela<;ao com Coes
de A/ugue/ (de fato, o proprio Tarantino confesso ser The Killing seu filme noir
preferido(9J). Como em Coes de A/ugue/, o filme de Kubrick narra a hist6ria de um
assalto planejado e executado por um grupo de criminosos - no coso o alvo nao
e uma joalheria mas um hip6dromo. Como em Coes de A/ugue/, The Killing possui
uma intrincada estrutura que joga com sucessivas manipula<;oes temporais,
flashbacks. Essas manipula<;oes sao sempre acompanhadas por uma voz off de
um narrador neutro que orienta o espectador diante dos fatos da hist6ria ao
mesmo tempo em que fornece ao filme um tom de document6rio, especie de
cine-jornal que narra os fatos buscando a exatidoo de um boletim policial recurso que nao est6 em Coes de A/ugue/. Como em Coes de A/ugue/, coda
Pulp
Fiction,
essa
habilidade
lhe
permitiu
ir
mais
adiante
em
suas
de repente resolve assaltar a lanchonete onde estao tomando cafe; (2) Vincent
Vega e Jules Winnfield, uma dupla de matadores que sai para um acerto de
contas; mais tarde iremos ver (3) Vincent e Mia Wallace, o matador agora
servindo de companhia para a mulher do chefe; e por fim temos (4) Butch e
Fabian, um lutador de boxe, que est6 prestes a se aposentar, foge com a sua
namorada ap6s aplicar um golpe em Marsellus Wallace, chefe de Vincent e
Jules, a quem havia prometido entregar uma luta em troca de dinheiro.
Se utilizando de um h6bil recurso narrative, o filme comec;a e termina na
mesma hora e local: o interior de uma lanchonete em uma determinada
manha. No entanto, as cenas que ocorrem nesse local nao se encontram nem
no infcio e nem no fim da cadeia cronol6gica dos eventos apresentados.
Organizadas de maneira linear, as cenas da lanchonetes ocupariam o primeiro
141
que pretende adotar, motivada pelo recente "milagre" que acredita ter
presenciado, Jules entrega todo o seu dinheiro para os bandidos e os despacha.
No sequencia, Vincent e Jules vao ate a um bar entregar a mala a Marsellus
Wallace. No momento em que Vincente Jules adentram o bar, Marsellus est6
orientando Butch Coolidge, um boxeador em fim de carreira que est6 sendo
subornado para que entregue sua proxima Iuta.
3. No dia seguinte, Vincent passa na casa de um amigo traficante para
comprar herofna. Em seguida, Vincent apanha Mia Wallace, mulher de Marsellus
Wallace, seu chefe, a quem dever6 servir de companhia por uma noite. Ap6s
jantarem em um restaurante tem6tico, Mia acaba ingerindo, por acidente, uma
overdose de herofna (a mesma herofna de Vincent que ela confundira com
cocafna). Vincente obrigado a recorrer ao amigo traficante que salvo a vida de
Mia ap6s lhe aplicar uma inje<;ao de adrenaline no peito.
4. Passa-se mais um dia e estamos no momento da luta de Butch, o
boxeador que vimos antes conversando com Marsellus. Este, ao inves de
entregar o combate para o oponente, acaba o nocauteando ate a morte com
o intuito de ficar com o dinheiro das apostas. No meio do sua fuga, devidamente
acompanhado por sua namorada Fabian, Butch d6 pela falta de um rel6gio de
ouro, objeto que tem valor puramente afetivo. Butch se ve obrigado a voltar ao
seu antigo apartamento. Tendo recuperado o rel6gio, a<;ao que tambem resulta
no morte de Vincent que, por acaso, fazia guarda em seu apartamento, Butch
cruza ainda com Marsellus Wallace, que passa atravessando a rua bem na frente
de seu cerro enquanto ele aguarda o sinal. Butch joga o cerro em cima de
Marsellus mas acaba se envolvendo em um forte acidente ao atravessar a pista
143
local,
salvor o
ex-desafeto.
Pela ordem do roteiro, a primeira cena que temos e a que mostra Pumpkin
e Honey Bunny conversando no lanchonete. No seqUencia, retornamos no
tempo para encontrarmos Jules e Vincent se dirigindo para o acerto de contas. A
sequencia seguinte mostra Butch Coolidge recebendo o suborno de Marsellus
Wallace para que entregue sua luta. Nesse momento, vemos Vincent e Jules
entrarem no mesmo local onde se encontram Butch e Marsellus. Um corte e
vemos Vincent indo buscar Mia Wallace para seu passeio noturno. Desse ponto
em diante as cenas do roteiro continuam sua evoluc;ao linear ate o fim do
hist6ria de Butch e seu rel6gio de ouro, quando entao temos mais uma volta no
tempo que ira mostrar o fim do historic envolvendo Vincent e Jules. Retoma-se o
momento do chacina no apartamento dos delinqOentes para depois termos as
cenas subsequentes, que mostram o acidente envolvendo Vincent e Marvin no
trajeto de volta, a resoluc;ao do problema comandada por The Wolf e, por fim, o
encontro de Vincent e Jules com Pumpkin e Honey Bunny no lanchonete.
144
nenhum
momento
verificamos
um
retrocesso
temporal
durante
desenvolvimento de coda uma dessas hist6rias. 0 que faz com que percebamos
esses recuos no tempo, no contexte da narrativa, e uma estrategia montada
pelo narrador de estabelecer elos de conexao entre as hist6rias, mesmo que as
vezes esses elos sejam sutis. Butch em algum momento cruza com Vincent e Jules
que em algum momento cruzam com Pumpkin e Honey Bunny. Embora existam
esses cruzamentos, todas as hist6rias evoluem em ordem de sucessao e nao
simultaneamente uma com a outra, o que facilita ao espectador acompanhar,
de modo separado, o desenvolvimento de coda bloco de a<;ao. Coda um
desses blocos de a<;ao forma como que capftulos a parte no corpo total da
obra. lsso gera um efeito curioso. Vemos, em determinada altura do roteiro,
Vincent Vega ser morto por Butch Coolidge no momento em que este consegue
recuperar seu rel6gio de ouro. Nas seqOencias finais do filme, Vincent ir6
reaparecer vivo junto com Jules. Vincent morre enquanto acompanhamos o
desenrolar da hist6ria de Butch, on de Vincent e personagem secund6rio, poderia
muito bem ser trocado por qualquer um dos capangas de Marsellus. A
informa<;ao sobre a morte de Vincent nao altera em nada o desdobramento da
hist6ria subsequente, onde ele volta a se tornar personagem principal. Embora
Vincent fosse
hist6ria
de Butch, seu
145
"Eu noo acho que me us filmes sejam diffceis de se acompanhar. A (mica coisa
necessaria e que voce tern que selar uma especie de compromisso ao assisti-los,
voce tern que se envolver totalmente com eles. Eu noo fac;o filmes para
espectadores de ocasioo. (... ) Para mim, o mais importante e contar uma boa
hist6ria. Minhas estruturas podem ser complexas, mas minhas hist6rias sao muito
simples."f 10J
"Eu sinto orgulho do que fiz em Coes de Aluguel e Pulp Fiction. (... ) Mas eu sempre
disse que se a hist6ria for mais emocionante e mais envolvente contada de
146
maneira linear, entao eu vou cont6-la desse jeito. Eu nao vou embaralh6-la s6
para mostrar o quao inteligente eu sou."flll
e exigir uma
entregar a hist6ria mastigada. Talvez esse seja um dos segredos que sustenta o
prazer de se assistir aos seus filmes a coda nova exibi<;oo.
NOTAS
(1) em When you know you're in good hands, Quentin Tarantino interviewed by Gavin
Smith, revista FILM COMMENT, july-august 1994, vol. 30, #4.
(2) Entrevista com Quentin Tarantino por Leonardo Garcia Tsao, revista Dicine, #57, 1994.
(3) TURIM, Maureen, Flashbacks in Film: memory & history, Routledge, New York & London,
1989, pg 4.
(4) BORDWELL David, STAlGER, Janet, THOMPSON, Kristin, The Classical Hollywood
Cinema, film style & mode of production to 1960, Routledge, London, 1985, pg 42.
(5) VALE, Eugene, Tecnicas del Guion para Cine y Television, Gedisa, Barcelona, 1985, pg
52.
147
(6) SWAIN, Dwight V., Film Scriptwriting- a pratical manual, Hastings House Publishers, New
York, 1976, pg 190.
(7) HERMAN, Lewis, A Pratical Manual of Screenwriting for Theater and Television Films, A
Meridian Book, New American Library, New York, 1952, pg 67.
(8) em X Offender, artigo de Sean O'Hagan, The Times Magazine, 15 October 1994, parte
da coletanea Quentin Tarantino: the film geek files, WOODS, Paul A. (edit.), Plexus,
London, 2000, pg 61.
(9) Conforme relata em entrevista a Leonardo Garcia Tsao, revista Dicine, #57, 1994, ou
relatado por CLARKSON, Wensley, Quentin Tarantino - Shooting From The Hip, Piatkus,
London, 1995, pg 64.
(10) em X Offender, artigo de Sean O'Hagan, The Times Magazine, 15 October 1994,
parte da coletanea Quentin Tarantino: the film geek files, WOODS, Paul A. (edit.), Plexus,
London, 2000. pg 66.
(11) Method Writing: an interview with Quentin Tarantino, revista Creative Screenwriting,
January/February 1998.
148
Harvey Keitel
Tim Roth
Michael Madsen
Chris Penn
Steve Buscemi
Lawrence Tiemey
Randy Brooks
Kirk Baltz
Eddie Bunker
Quentin Tarantino
Michael Sottile
Robert Ruth
Lawrence Bender
Suzanne Celeste
DJ Steven Wright
Ronnie Yeske!
Karyn Rachtman
Quentin Tarantino/Reger Avary
Betsy Heimann
KNB EFX Group
David Wasco
Sally Menks
Andrzej Sekula
Richard N. Gladstein/Renna B. Wallace/
Monte Hellman
Harvey Keitel
Lawrence Bender
Quentin Tarantino
Christian Slater
Patricia Arquette
Dennis Hopper
149
MENTOR (Elvis)
DREXL SPIVEY
FLOYD
VICENZO COCCOTTI
ELLIOT BLITZER
BIG DON
DICK RITCHIE
LEE DONOWITZ
MARY LOUISE RAVENCROFT
VIRGIL
LUCY
NICKY DIMES
CODY NICHOLSON
Equipe:
Elenco
Surpevisor Musical
Figurinista
Efeitos Especiais
Maquiagem
Editores
Diretor de Fotografia
Produtores Executives
Co-Produtores
Produtores
Escrito por
Dirigido por
Musica
Musica Adicional
Val Kilmer
Gary Oldman
Brad Pitt
Christopher Wolken
Bronson Pinchot
Samuel L. Jackson
Michael Rappaport
Saul Rubinek
Conchata Ferrell
James Gandolfini
Anna Thomson
Chris Penn
Tom Sizemore
Tim Roth
Amanda Plummer
John Travolta
Samuel L. Jackson
Uma Thurman
Bruce Willis
Harvey Keitel
Ving Rhames
Eric Stoltz
Rosanna Arquette
Maria de Medeiros
Chritopher Wolken
Laura Lovelace
150
COFFEE SHOP
MARVIN
ROGER
BRETT
FOURTH MAN
PAUL
TRUDI
BUDDY HOLLY
BUTCH'S MOTHER
KLONDIKE
ESMERALDA VILLALOBOS
DEAD FLOYD WILSON
WILSON'S TRAINER
PEDESTRIAN/BONNIE
GAWKER
HERSELF
MAYNARD
ZED
THEGIMP
JIMMIE
MONSTER JOE
RAQUEL
YOUNG BUTCH
MARILYN MONROE
MAMIE VAN DOREN
JERRY LEWIS
DEAN MARTIN
JAMES DEAN
ED SULLIVAN
RICK NELSON
PHILLIP MORRIS PAGE
SHOT WOMAN
LONG HAIR YUPPIE SCUM
"HOLD HANDS YOU LOVE BIRDS"
SPORTSCASTERS
Equipe:
Elenco
Supervisor Musical
Figurinista
Efeitos Especiais
Maquiagem
Editor
Diretor de Fotografia
Produtores Executives
Produtor
Est6rias
Robert Ruth
Phil LaMarr
Burt Steers
Frank Whaley
Alexis Arquette
Paul Calderon
Bronagh Gallagher
Steve Buscemi
Brenda Hillhouse
Sy Sher
Angela Jones
Carl Allen
Don Blakely
Venessia Valentino
Karen Maruyama
Kathy Griffin
Duane Whittaker
Peter Greene
Stephen Hibbert
Quentin Tarantino
Dick Miller
Julia Sweeney
Chandler Lindauer
Susan Griffiths
Lorelei Leslie
Brad Parker
Josef Pilate
Eric Clark
Jerome Patrick Hoban
Gary Shorelle
Michael Gilden
Linda Kaye
Lawrence Bender
Emil Sitka
Robert Rutch Rich Turner
Quentin Tarantino
Woody Harrelson
Juliette Lewis
Robert Downey Jr.
Tommy Lee Jones
0-Lan Jones
Ed White
Richard Limeback
Lanny Flaherty
Carol-Renee Modrall
Rodney Dangerfield
Edie McClurg
Sean Stone
Jerry Gardner/Jack Caffrey I
Leon Skyhorse Thomas
Corey Everson
Dan Dye
Eddie "Doogie" Connor
Evan Handler
Kirk Baltz
Terrylene
Maria Pitillo
Josh Richman
Matthew Faber/Jamie Herrold/Jake Beecham
Saemi Nakamura/Seiko Yoshida
Jared Harris
Katherine McQueen
Salvator Xuereb/Emanuel Xuereb
Natalie Karp
Jessie Rutkowski
Sally Jackson
Phil Neilson
Brian Barker
Corinna Laszlo
Baltharzar Getty
Tom Sizemore
Red West
Gerry Runnels
Jeremian Bitsui
Russell Means
Lorraine Ferris
Glen Chin
Saemi Nakamura
Puritt Taylor Vince
152
WURLITZER
DR. EMIL RHEINGOLD
WGN NEWSCASTER
Equipe:
Elenco
Elenco Sudoeste
Elenco Chicago
Produtor Musical
Figurinista
Efeitos Especiais
Efeitos Visuais:
Supervisor
Produtor
Animac;ao
Maquiagem
Coordenador de Dubles
Editores
Diretor de Fotografia
Produtores Executives
Co-Produtor
Produtores
Est6ria por
Escrito por
Dirigido por
Everett Quinton
Steven Wright
Robert Jordam
BETTY
SAM THE BELLHOP
MARGARET
LONG HAIR YUPPIE SCUM
Equipe:
Escrito e Dirigido por
Tim Roth
Kathy Griffin
Marc Lawrence
Marisa Tomei
Lawrence Bender
JEZEBEL
Sammi Davis
153
DIANA
ATHENA
ELSPETH
EVA
RAVEN
KIVA
Amanda De Cadanet
Valeria Golino
Madonna
lone Skye
Lili Taylor
Alice Witt
Equipe:
Editor
Diretor de Fotografia
Escrito e Dirigido por
Margaret Goodspeed
Rodrigo Garcia
Allison Anders
Jennifer Beals
David Proval
Equipe:
Editor
Diretor de Fotografia
Escrito e Dirigido por
Elena Magnani
Phil Parmet
Alexandre Rockwell
The misbehavers:
HUSBAND
WIFE
SARAH
JUANCHO
CORPSE
TV DANCER
Antonio Bandeiras
Tamlyn Tomita
Lana McKissack
Danny Verduzco
Patricia Vonne Rodriguez
Salma Hayek
Equipe:
Diretor de Fotografia
Escrito, Dirigido e Editado por
Guillermo Navarr
Robert Rodriguez
Quentin Tarantino
Paul Calderon
Bruce Willis
Equipe:
Editor
Diretor de Fotografia
Escrito e Dirigido por
Sally Menke
Andrzej Sekula
Quentin Tarantino
Creditos Gerais:
Efeitos Especiais
Figurinista
Designer de Produ9ao
Musica Composta e Executada
Produtores Executives
Co-Produtores
Produtor
Diretor de Fotografia
Produtores Executives
Co-Produtores
Produtores
Est6ria
Escrito por
Dirigido por
Guillermo Navarro
Lawrence Bender/Robert Rodriguez/
Quentin Tarantino
Elizabeth Avellan/Paul Hellerman/
Robert Kurtzman/ John Esposito
Gianni Nunnari/Meri Teper
Robert Kurtzman
Quentin Tarantino
Robert Rodriguez
Pam Grier
Samuel L. Jackson
Robert Forster
Robert De Niro
Bridget Fonda
Michael Keaton
Michael Bowen
Lisa Gay Hamilton
Tom 'Tini' Lister, Jr.
Hattie Winston
Chris Tucker
Denise Crosby
Sid Haig
Aimee Graham
Ellis E. Williams
T' Keyah 'Crystal' Keymah
Quentin Tarantino
Equipe:
Elenco
Figurine
Designer de Produc;ao
Editor
Diretor de Fotografia
Produtores Executives
Em fase de produc;ao:
Forty Lashes
Dirigido por
Quentin Tarantino
Quentin Tarantino
Escrito por
Adaptado do romance Forty Lashes Less One de
Elmore Leonard
Produtor
Lawrence Bender
Elenco
Samuel L. Jackson
(Dimension Films/A Band Apart Productions)
157
l BILIOGRAfiA
1988
SERVER, Lee, Screenwriter, words become pictures, The Main Street Press,
Pittstown, New Jersey, 1987
SIDNELL, Michael J. (Edit.L Sources of Dramatic Theory, 2 Voltaire to Hugo,
Cambridge University Press, Cambridge, 1994
SOURIAU, Etienne, As Duzentas Mil Situac;oes Dram6ticas, Editora Atica, Sao Paulo,
1993
STAM, Robert 0 Espet6culo lnterrompido, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1981
SWAIN, Dwight V., Film Script Writing, a pratical manuaL Hastings House Publishers,
NewYork, 1976
TARANTINO, Quentin, Reservoir Dogs, Faber and Faber, London, Boston, 1994
TARANTINO, Quentin, True Romance, Faber and FabeL London, Boston, 1994
TARANTINO, Quentin, Natural Born Killers, Faber and Faber, London Boston, 1994
TARANTINO, Quentin, Pulp Fiction, Editora Rocco, Rio de Janeiro, 1995
TARANTINO, Quentin, Jackie Brown, Faber and Faber, London, Boston, 1998
TURIM, Maureen, Flashbacks in Film: memory & history, Routledge, New York &
London, 1989
VALE Eugene, Tecnicas del Guion para Cine y Television, Gedisa, Barcelona, 1985
XAVIER, Ismail, 0 Discurso Cinematogr6fico, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1984
XAVIER, Ismail, Cinema e Teatro: A noc;oo c/6ssica de representac;oo e a teoria
do espet6culo de Griffith a Hitchcock, in 0 Cinema no Seculo, Imago, Rio
de Janeiro, 1996
WOODS, Paul A., King Pulp, The Wild World of Quentin Tarantino, Thunder's Mouth
Press, New York, 1996
WOODS, Paul A. (edit.), Quentin Tarantino, the film geek files, Plexus, London,
2000.
Jornal THE NEW YORK TIMES, november 16, 1997, sunday, late edition. Artigo: The
two holfywoods: the man who changed everything. Entrevista com Quentin
Tarantino por HIRSCHBERG, Lynn.
Revista ARTFORUM, november, 1992. Artigo: Who's afraid of Red Yellow and
Blonde?, escrito por DARGIS, Manohla.
Revista CINEASTE, Vol. XXI, #3, 1995. Artigo: Pulp Friction, two shots at Quentin
Tarantino's Pulp Fiction, escrito por FRIED, John.
Revista FILM COMMENT, july-august 1994, vol. 30, #4. Artigo:When you know you're
in good hands, Quentin Tarantino interviewed by Gavin Smith.
Revista DICINE, #57, 1994. Entrevista com Quentin Tarantino por TSAO, Leonardo
Garcia.
Sites da Internet
161