A Concepção Da Educação em ADORNO
A Concepção Da Educação em ADORNO
A Concepção Da Educação em ADORNO
Adorno
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Emerson Filipini de Lima1
Ncleo de Ensino/Prograd
Resumo:
O presente trabalho pretende demonstrar como o pensamento do filsofo alemo Theodor W.
Adorno est estritamente ligado com a questo da educao. Embora ele no tenha escrito nada
especificamente sobre este tema encontramos em sua principal obra, Dialtica do
Esclarecimento, vrias questes ligadas educao, como o pretenso esclarecimento da
humanidade e sua submisso a uma razo totalitria e, a indstria cultural, com sua influncia
fortssima na formao dos pensamentos e aes dos indivduos. Adorno procura mostrar que a
educao teria um poder de resistncia ao rumo catico para o qual a civilizao humana est
tomando, ela poderia, se trabalhada da maneira correta, fazer com que o homem refletisse sobre
sua realidade e a analisasse de maneira crtica, no aceitando todas as imposies sociais como
sendo naturais, mas entendendo que ele o responsvel pela produo da realidade e se ela vai
mal est em sua mos mudar de atitude, para que pelo menos ele prprio no se deixe levar pela
lgica irracional da sociedade administrada.
Palavras chave: Adorno. Teoria Crtica. Educao. Formao. Resistncia.
1. Introduo.
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texto de Adorno e Horkheimer, tambm o processo pela qual cresce seu domnio sobre
a natureza.
Primeiramente o homem criou o mito como uma forma primitiva de explicao
dos fenmenos da natureza, contudo, como o mito no dava controle total da natureza
ao homem, pois quem controlava a natureza eram os deuses, foram criadas as cincias
racionais como uma pretensa ruptura com a explicao mtica da natureza, porm, esta
explicao racional ratifica as bases e formas que j existiam no mito, apenas lhes
dando nova roupagem. Podemos encontrar no mito as mesmas caractersticas das
cincias racionais, estas tm a inteno de explicar a natureza, a paralisao desta
natureza e sua submisso a regras e leis.
Quando o mito convertido em esclarecimento o homem acredita ter o domnio
e conhecimento completo sobre a natureza, porm o preo que ele paga por tal
dominao a alienao daquilo sobre o que exercem poder (ADORNO e
HORKHEIMER, 1985, p. 24), ou seja, a natureza desqualificada e entendida como
mero objeto, no se busca estud-la para que a possamos entender, mas somente
buscamos estud-la para domin-la, e isto no gera um conhecimento completo. Na
contemporaneidade podemos ver os frutos que este tipo de conhecimento gera atravs
da devastao que sofre nosso planeta pelas catstrofes ambientais, foi s a partir destes
acontecimentos que o homem passou a ter conscincia de que todas as suas aes sobre
a natureza causam reaes que nem sempre podem ser previstas ou controladas.
A iluso de se achar esclarecida afetou as estruturas de nossa sociedade e
conseqentemente isso ecoa na escola. Podemos notar que nos tempos atuais a cincia
atingiu o mesmo estado de sagrado que antes tinha o mito: para que o homem se
encontre no campo da verdade e construa o verdadeiro conhecimento ele deve seguir as
normas j ditadas pelo mtodo cientfico, que quase como que os mandamentos e
preceitos religiosos que os homens tm o dever de seguir.
Outrora, enquanto exigncia de nada aceitar sem verificao e
comprovao, ela significava liberdade, emancipao da tutela de
dogmas heternimos. Atualmente cincia se converteu para seus
adeptos em uma nova forma de heteronomia, de modo que chega a
provocar arrepios. As pessoas acreditam estar salvas quando se
encontram conforme regras cientficas, obedecem a um ritual
cientfico, se cercam de cincia. (ADORNO, 2006, p. 70).
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lucro, no a divulgao da cultura. Existem aqueles que dizem que a indstria cultural
possibilita a democratizao da cultura, pois faz com que a obra de arte chegue mais
facilmente aos homens, porm Adorno contra esta idia. Ele explica que quando se
vende um bem cultural juntamente com um sabonete ou um automvel ele perde sua
capacidade de despertar a reflexo do indivduo e serve apenas como um meio de
distra-lo enquanto sua mente vtima de uma imensa carga de informao e ideologias
que so disparadas pelos meios de informao como, por exemplo, em um comercial de
um automvel de luxo. A imagem do carro em uma bela paisagem e uma msica
clssica ao fundo: o carter reflexivo que a msica desperta se perde completamente,
pois sempre que o indivduo a ouvir se lembrar do automvel do comercial e esta
juno da arte com a propaganda faz com que a arte perca sua essncia.
Tambm temos na indstria cultural um instrumento de ideologizao das
massas, pois ela tambm vende idias e opinies juntamente com suas mercadorias,
impedindo assim a autonomia dos indivduos e impondo certas opinies que balizam as
aes dos homens, fazendo com que eles se esqueam da situao de misria e opresso
que vivem e voltem sua ateno para assuntos sem a menor relevncia como as novelas,
os programas de fofocas sobre os famosos, etc.
At mesmo em nosso lazer somos vtimas da indstria cultural. Ela tira toda a
ingenuidade da diverso e a transforma em prolongamento do trabalho. Mesmo em
nossas atividades de lazer o que temos uma sucesso automtica de operaes
reguladas, como, por exemplo, nos vdeo games ou nas salas de cinema, onde devemos
voltar nossa ateno para a tela e no temos tempo nem de refletir sobre o que vemos,
devido a rapidez da sucesso de imagens. Podemos notar que nos dias atuais o homem
necessita de certos produtos e mercadorias oferecidos pela indstria cultural. Isto se d
devido massificao do pensamento causada por ela mesma, alm de produzir os
produtos ela faz com que sintamos a necessidade de consumi-los.
[...] nenhuma pessoa pode existir na sociedade atual realmente
conforme suas prprias determinaes; enquanto isso ocorre, a
sociedade forma as pessoas mediante inmeros canais e instncias
mediadoras, de um modo tal que tudo absorvem e aceitam nos termos
desta configurao heternoma que se desviou de si mesma em sua
conscincia. claro que isto chega at s instituies, at discusso
acerca da educao poltica e outras questes semelhantes. O
problema propriamente dito da emancipao hoje se e como a gente
e que a gente, eis uma grande questo a mais pode enfrent-lo.
(ADORNO, 2006, p. 181-182).
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Podemos notar que a indstria cultural tem uma fortssima influncia sobre a
formao dos indivduos, pois, desde o nascimento e por toda a vida os homens so alvo
de uma avalanche de informaes e mensagens ideolgicas. A partir disto o papel da
escola enquanto instituio de educao dos indivduos fica muito prejudicado, pois, ao
iniciar sua vida de estudante o indivduo j trs consigo uma certa bagagem intelectual
obtida pela exposio aos diversos meios de comunicao. Esta bagagem molda a sua
mente de forma que a estrutura cognitiva do indivduo no seja levada a pensar, mas sim
interiorize tudo o que lhe apresentado como natural. Desta maneira ao ir para a escola
o estudante entra em choque com um ambiente que exige seu esforo intelectual, que
lhe apresenta coisas diferentes das que est acostumado. Este choque pode causar no
estudante profundo desinteresse sobre os assuntos referentes ao contedo escolar,
fazendo da educao algo visto com desconfiana, como sendo algo chato e sem
importncia, dificultando assim o trabalho da escola na formao de indivduos
autnomos e conscientes.
Adorno era contrrio a qualquer tipo de modelo ideal, pois, entendia que
modelos ideais eram como uma imposio exterior, uma postura autoritria que impedia
a autonomia intelectual do indivduo. Iremos tentar esboar o que o filsofo alemo
entendia por educao, mas mostrando que seu conceito de educao no era algo
esttico, ou um modelo ideal, que se impe como a verdade, mas que a educao algo
que muda conforme a histria, ela tem um papel diferente em cada sociedade, em cada
tempo. O que tentaremos expor aqui a anlise de Adorno sobre o que dever ser a
educao na sociedade contempornea, na situao em que se encontra de submisso
aos ditames do capital e ao esclarecimento totalitrio que domina a forma de pensar e
agir dos indivduos.
Primeiramente, o que precisamos entender que a educao no ocorre apenas
no interior da escola, mas sim em todas as relaes no interior da sociedade, durante o
dia-a-dia do indivduo, por toda a vida. Seja pela influncia dos indivduos com quem
convivemos, pela influncia da indstria cultural, pela cultura e hbitos do prprio
ambiente em que somos formados, a todo o momento somos alvo de informaes e
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Vemos, portanto, que para Adorno a educao no algo que ocorra de maneira
inconsciente. Sua funo produzir nos sujeitos uma conscincia verdadeira, ou seja, os
sujeitos devem perceber sua relao com o ambiente de forma crtica, no aceitando
tudo o que apresentado de forma irrefletida. esta conscincia verdadeira que nos d
autonomia, ela seria como que o estado da maior idade kantiano, onde o indivduo tem
capacidade de julgar e decidir por si prprio o que bom ou mal, sem se deixar
influenciar por outrem.
Entendendo a educao como algo que possui diversos campos e veculos
encontramos nela uma ambigidade: ao mesmo tempo em que ela deveria formar os
homens para autonomia, ou seja, torn-los capazes de se movimentar, agir e pensar por
si prprios, ela tambm deve deixar os homens aptos a viver em sociedade, sendo
capazes de assimilar alguns preceitos necessrios para sua insero na vida social, ou
seja, ela tambm deve adapt-los de certo modo.
A educao seria impotente e ideolgica se ignorasse o objetivo de
adaptao e no preparasse os homens para se orientarem no mundo.
Porm ela seria igualmente questionvel se ficasse nisso, produzindo
well adjusted people, pessoa bem ajustadas, em conseqncia do que a
situao existente se impe precisamente no que tem de pior. Nestes
termos, desde o incio existe no conceito de educao para a
conscincia e para a racionalidade uma ambigidade. (ADORNO,
2006, p. 143-144).
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Referncias
ADORNO, T. W. Educao e emancipao. So Paulo: Paz e Terra, 2006.
ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialtica do esclarecimento. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1985.
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