Remifentanil - Uso Clínico
Remifentanil - Uso Clínico
Remifentanil - Uso Clínico
1. ADULTO
No paciente adulto, a indução com remifentanil como componente analgésico de uma anestesia
venosa total ou balaceada pode ser realizado, resumidamente, de duas maneiras: com ou sem
bolus.
A técnica de indução com bolus consiste na administração de 1,0 µg.kg-1 de remifentanil em até
1 minuto. Na maioria das vezes, essa maneira de administração acarreta, em poucos segundos,
níveis de concentração plasmática (Cp) e de sítio-efetor (Ce) em torno de 14 e 4 g.ml-1,
respectivamente.(figura 1) A conseqüência clínica é a rápida depressão ventilatória, bradicardia e
hipotensão arterial.
Essa técnica é bem aceita em pacientes hígidos e em situações que exige IOT em seqüência
rápida. Devido a seu rápido efeito clínico, recomenda-se a administração do hipnótico e do
relaxante muscular instantes antes da infusão do bolus do remifentanil.
Já a técnica de indução sem bolus consiste na administração, logo no início, da infusão
contínua. Inicia-se a infusão contínua em 0,5 µg.kg-1.min-1, após 30-90 segundos administra o
hipnótico seguido pelo relaxante muscular(3). A concentração plasmática e do sítio-efetor sobem
mais lentamente, evitando efeitos hemodinâmicos pronunciados. (figura 2) Essa técnica promove
uma indução anestésica mais suave e com poucos efeitos colaterais indesejáveis.
Observe na figura 3 que conforme a concentração de remifentanil vai subindo, os efeitos
adversos (depressão ventilatória, apnéia e rigidez torácica) vão aparecendo.
Como dose de manutenção em anestesia geral (venosa total ou balanceada) a dose
recomendada varia de 0,1 a 2,0 µg.kg-1.min-1. Essa dose varia conforme as necessidades do
paciente perante suas condições clínicas e a intensidade do estresse cirúrgico.
A figura 4 ilustra as variações na concentração de remifentanil quando se utiliza bolus de 1,0
µg.kg-1 seguido de uma infusão contínua de 0,3 µg.kg-1.min-1.
Devido as suas propriedades farmacocinéticas, essa titulação é de fácil controle. Alterando a
velocidade infusão, promove-se rápida variação na concentração plasmática e do sítio-efetor,
obtendo resposta clínica em poucos segundos.
Na anestesia venosa total (AVT) o dueto remifentanil/propofol tem sido empregado com muita
freqüência. A associação de um opióide e um hipnótico com curta meia-vida contexto dependente
vem popularizando a técnica de AVT, obtendo excelente controle hemodinâmico no intra-operatório
e despertar com qualidade e segurança. Com o advento da infusão alvo-controlada de propofol e
da monitorização instrumentada da hipnose, otimizou-se ainda mais essa técnica.
A associação mais sinérgica entre propofol e opióides é justamente a associação com o
remifentanil. Para o fentanil, alfentanil e sufentanil a dose-alvo de manutenção de propofol
recomendada é de 5, 3,5 e 3,5 µg.ml-1, respectivamente. Já para o remifentanil a dose-alvo de
manutenção de propofol recomendada é de 2,5–3,0 µg.ml-1(4).
Dentro da técnica de anestesia balanceada também existe uma combinação sinérgica entre o
remifentanil e o agente inalatório.
A concentração de remifentanil 1,2 g.ml-1 diminui a CAM do isoflurano em 50%. Não ocorre
maior redução no CAM com o aumento da concentração de remifentanil, sugerindo a existência de
um efeito teto(5).
Com o sevoflurano, o sinergismo é ainda mais evidente. Recentemente, mostrou-se que existe
um sinergismo analgésico e sedativo entre remifentanil e sevoflurano. A concentração de
remifentanil de 6,1 g.ml-1 (0,22 µg.kg-1.min-1) foi capaz de reduzir 66% a CAM do sevoflurano.
Assim como para o isoflurano, o efeito teto da concentração de remifenanil para redução da CAM
do sevoflurano, também foi observada(6).
Cirurgia Cardíaca
A cirurgia cardíaca promove elevado estímulo nociceptivo. Em muitas vezes, o controle
satisfatório do estresse cirúrgico e, conseqüentemente, da resposta neuro-humoral, é alcançado
com altas doses de analgésicos. Obtendo-se boa estabilidade hemodinâmica e melhor controle do
estresse, a porcentagem de complicações pós-operatórias diminuem consideravelmente(7).
Atualmente, muito se discute sobre fast-track em cirurgia cardíaca. Está em evidência, técnicas
anestésicas que promovam extubação precoce, diminuição do tempo de permanência em terapia
intensiva e diminuição no tempo de internação hospitalar, porém, sem aumentar as complicações
pós-operatórias. Entretanto, é necessário um perfeito entrosamento entre as equipes (cirúrgica,
anestésica, UTI e de enfermagem) para que o fast-track alcance seus objetivos(8).
Além da recuperação mais precoce do paciente, o resultado final do fast-track é a real redução
de custos hospitalares(9).
Mesmo utilizando o remifentanil em altas doses para alcançar boa estabilidade hemodinâmica e
menor resposta neuro-humoral, é possível, devido a sua farmacocinética, promover extubação
precoce e rápida recuperação da cognição.
Durante a circulação extracorpórea com hipotermia a depuração plasmática diminui cerca de
20%, mas não é necessário alterar a infusão do remifentanil nesse período(10).
Heijmans e cols mostraram que nos pacientes que receberam remifentanil, houve melhor
proteção contra o estímulo nociceptivo, melhor estabilidade hemodinâmica e menor tempo de
extubação, em relação aos pacientes que receberam alfentanil em infusão contínua(11).
Em relação ao fentanil em altas doses, Myles e cols demostraram que com o remifentanil
obteve-se menor tempo para extubação, menor concentração de cortisol urinário e menor custo
hospitalar, mesmo sendo o remifentanil um fármaco com custo direto alto(9).
Em outro recente estudo, agora comparando remifentanil e sufentanil em cirurgia cardíaca, os
autores demonstraram que com o remifentanil houve menor tempo de extubação (295 e 375
minutos, respectivamente), semelhante tempo de internação na UTI (22,9 e 26,3 horas,
respectivamente) e melhor proteção contra a incisão cutânea e esternotomia(12).
Neurocirurgia
Ultimamente, o uso mais eficaz do remifentanil em neurocirurgias está correlacionado a
procedimentos que necessitem da colaboração do paciente no intra-operatório. Dentre eles, pode-
se citar as ressecções de tumores localizados próximo à área da fala, cirurgias esterotáxicas e
cirurgias para tratamento da epilepsia. O tempo nobre desses procedimentos é realizado com o
paciente acordado a fim de melhorar os resultados cirúrgicos.
As técnicas anestésicas para esses procedimentos podem variar de uma simples sedação até
uma anestesia geral. Geralmente para a realização da craniotomia, realiza-se uma anestesia
infiltrativa associada a uma sedação ou anestesia geral (venosa ou balanceada).
O objetivo de qualquer técnica anestésica empregada é que durante a craniotomia o paciente
permaneça sem dor e imóvel e que consiga no tempo desejado despertar prontamente e responder
a comando verbal do anestesiologista e do cirurgião.
Por isso, muitos autores têm proposto a utilização do remifentanil como agente analgésico para
esses procedimentos.
Para a técnica de craniotomia acordada sob anestesia infiltrativa associada à sedação, alguns
autores propuseram o uso do remifentanil na dose de 0,01 a 0,1 µg.kg-1.min-1 e propofol em infusão
alvo-controlada a 0,5 µg.ml-1 ou 25-75 µg.kg-1.min-1 em infusão contínua manual(13-15).
Outra técnica proposta bastante interessante é a técnica “dormindo-acordado-dormindo”. Ela
consiste na realização de uma anestesia venosa total com remifentanil e propofol nas doses
convencionais, máscara laríngea e ventilação controlada. No momento solicitado pelo cirurgião
para despertar o paciente, os autores surgerem desligar a infusão de propofol e reduzir a infusão
de remifentanil para 0,005-0,01 µg.kg-1.min-1. Constatado o despertar do paciente, deve-se retirar à
máscara laríngea e realizar os testes neurológicos necessários. Terminada a ressecção, deve-se
aprofundar a anestesia novamente, introduzir a máscara laríngea e instituir a ventilação
mecânica(14).
Nesse mesmo procedimento, realizando uma boa anestesia infiltrativa antes da craniotomia
com anestésicos de longa duração (bupivacaína ou ropicavaína), é possível terminar o
procedimento só com a dose sedativa de remifentanil.
As doses sedativas de remifentanil não alteram a eletrocorticografia, não alterando o
prognóstico das cirurgias para tratamento da epilepsia(16).
Por não sofrer acúmulo, independente do tempo de infusão, o remifentanil tem sido bastante útil
em cirurgias da coluna, como a cirurgia para correção de espondilite anquilosante cervical, cirurgia
para correção de escoliose, dentre outras. No intra-operatório dessas cirurgias é comum o wake-up
test (despertar o paciente no intra-operatório para realização de testes neurológicos). É dentro
desse contexto que se remifentanil se encaixa como fármaco de escolha, permitindo o paciente
despertar prontamente após se desligar a infusão, independente da duração da infusão e do tempo
cirúrgico.
Entretanto, por ser um procedimento com estresse cirúrgico elevado, necessita-se de uma
anestesia mais “profunda”, o que acaba resultando, em alguns momentos, de uma taxa de infusão
de remifentanil superior a 0,4 µg.kg-1.min-1, gerando um fator de risco para a hiperalgesia no pós-
operatório(17,18).(ver “obesidade mórbida”)
Com o desenvolvimento de técnicas de neurocirurgia minimamente invasiva, possibilitou a
possibilidade do paciente encurtar sua permanência hospitalar, reduzindo a morbidade do pós-
operatório. Cada vez mais procedimentos podem ser realizados inteiramente por vídeo-endoscopia
ou vídeo-assistida, resultando pouca dor no pós-operatório. É nesse contexto, que o remifentanil
pode acelerar a recuperação desses pacientes submetidos à neurocirurgia minimamente
invasiva(19) .
Obesidade Mórbida
Segundo dados do IBGE (2002-2003), no Brasil 40,6% da população com 20 anos ou mais de
idade estão acima do peso. E, dentro deste grupo, 10,5 milhões são obesos. A obesidade afeta
8,9% dos homens adultos e 13,1% das mulheres adultas do País. E mais: os obesos
representam cerca de 20% do total de homens e um terço do total de mulheres com excesso de
peso.
É cada vez mais comum o contato com uma porcentagem cada vez maior dessa população,
seja para o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida ou qualquer outro tipo de procedimento que
necessite de anestesia geral ou sedação.
Essa população, de uma maneira geral, necessita de técnicas anestésicas que proporcionem
uma indução rápida e com mínimos efeitos cardiovasculares, uma manutenção estável do “plano
anestésico” e, principalmente, uma recuperação anestésica pronta, segura e sem efeitos residuais
de hipno-analgésicos e relaxantes musculares.
No Brasil, muitas instituições adotaram o remifentanil como analgésico de escolha para indução
e manutenção de anestesia geral em cirurgias bariátricas. Os pontos favoráveis do seu uso seria a
curta meia-vida contexto-dependente, eliminação órgão-independente e, em doses usuais, efeito
residual praticamente nulo após 5 minutos do término da infusão.
Porém, é demonstrado muito claramente a rápida tolerância desenvolvida ao remifentanil em
obesos submetidos à gastroplastia via laparotomia, principalmente com infusões superiores a 0,4
µg.kg-1.min-1. Essa tolerância aguda é responsável pelo fenômeno de hiperalgesia, a qual é
mediada via receptor NMDA(18,20-22).
Uma das formas de evitar a hiperalgesia, seria a utilização de baixas doses de cetamina
concomitante a infusão de remifentanil. O bloqueio do receptor NMDA pela cetamina evitaria o
desenvolvimento da hiperalgesia(18).
Por se tratar de um opióide com volume de distribuição bastante restrito, a utilização do peso
ideal ou até mesmo do peso corporal corrigido, seria o mais indicado para o cálculo da dose de
infusão do remifentanil no paciente obeso mórbido.
Pelo fato do remifentanil não proporcionar analgesia residual, e por ser a gastroplastia uma
cirurgia no abdome superior, a terapia de combate à dor pós-operatória deve ser rigorosa e
instituída entre 30 e 60 minutos antes do término da infusão.
Cirurgia Ambulatorial
Por ser um opióide de duração ultra-curta, o remifentanil é muito bem indicado em vários
procedimentos ambulatoriais, principalmente naqueles em que a dor pós-operatória é de fácil
controle.
Dentre as principais vantagens de seu uso na anestesia para cirurgia ambulatorial, pode-se
citar: boa estabilidade hemodinâmica no intra-operatório, rápido despertar, extubação precoce,
rápida recuperação e curta permanência na SRPA e redução na incidência de NVPO se associado
ao propofol(23).
Segundo recente artigo, a grande desvantagem do uso do remifentanil em cirurgias
ambulatórias seria o seu elevado custo efetivo. Haveria uma adição de U$ 17,72 por paciente no
custo de laparoscopias ginecológicas ambulatórias(24).
Basicamente, todos os novos agentes de ação curta e ultra-curta (sevoflurane, desflurano,
propofol, remifentanil) promovem recuperação precoce e com melhor qualidade perante os agentes
mais antigos. Porém, não diminuem o tempo de permanência hospitalar. Entretanto, é possível
com esses novos agentes adotar técnicas em que o paciente passaria diretamente da sala de
operação para o estágio 2 de recuperação (fast-track), não utilizando a SRPA. Assim, não só o
tempo de permanência hospitalar estaria reduzido, mas também, o custo ficaria semelhante(25).
Quando se utiliza remifentanil em cirurgia ambulatorial com a intenção de alta hospitalar
precoce, deve-se ter muito cuidado no controle da dor pós-operatória, principalmente naquelas
cirurgias em que a presença da dor pós-operatória é de forma moderada a intensa. Sem esse
rigoroso controle os objetivos não serão alcançados.
Um estudo em tonsilectomias e adenoidectomias comparando remifentanil e fentanil, mostrou
que apesar da extubação precoce no grupo do remifentanil, houve também maior dor no pós-
operatória, por isso, o tempo de alta hospitalar foi similar ao grupo do fentanil. Além do que, o custo
foi maior no grupo do remifentanil(26).
Obstetrícia
O remifentanil pode ser utilizado para analgesia de parto e anestesia geral para cesareana. Na
gestante a depuração plasmática é o dobro do adulto normal(27). Apesar desta aparente segurança
da droga, ainda não se conhece sua ação sobre a contratilidade e fluxo sangüíneo uterino(28).
A técnica gold standard para analgesia de parto é a anestesia peridural. Porém, essa técnica
pode ser contra-indicada nos casos de sepsis ou coagulopatias. Nessa situação, a analgesia
sistêmica com remifentanil pode ser proposta, já que os neonatos são capazes de metabolizar o
remifentanil de maneira eficaz e, portanto, não há risco de depressão respiratória prolongada no
nascimento(27).
Devido aos riscos de sedação e depressão respiratória materna, as pacientes devem ser
monitorizadas com oxímetro de pulso e a suplmentação de oxigênio está idicada. Caso ocorra
alguma intercorrência, o anestesiologista deve prontamente descontinuar a infusão do fármaco.
Inicialmente, a analgesia de parto com remifentanil foi desestimulada devido a grande
incidência de efeitos adversos e pouca qualidade no controle da dor do trabalho de parto(29). No
entanto, várias técnicas de analgesia com remifentanil foram descritas com grande sucesso(30,31).
A grande discussão está na maneira de administração do remifentanil. Existe uma tendência na
preferência da analgesia controlada pelo paciente (PCA) com uma pequena infusão contínua basal
(0,05 µg.kg-1.min-1) associado a bolus de resgate (25µg) quando solicitado pelo paciente.(32,33)
Porém, existem também bons resultados quando a PCA é realizada somente com a dose bolus
(0,2 a 0,5 µg.kg-1 em intervalos de 1 a 5 minutos) (27,31).
Comparando PCA de remifentanil com infusão de meperidina, houve menores escores de dor,
maior satisfação materna e menores incidências de dessaturação materna e alterações na
freqüência cardíaca fetal com o uso do remifentanil.
No parto cesareana sob anestesia geral, o uso do remifentanil em bolus associado ou não à
infusão contínua, causou depressão respiratória fetal, a qual foi prontamente revertida com
naloxona(34,35). Ressaltando: houve alguns casos de depressão respiratória fetal mesmo
administrando somente 1 bolus de remifentanil momentos após a indução anestésica.
Isso mostra que apesar da rápida depuração plasmática, o remifentanil atravessa a barreira
placentária e causa depressão respiratória no neonato. Entretanto, no grupo do remifentanil
somente com bolus inicial, não houve diferença no índice de Apgar e de oxigenação fetal, em
relação ao grupo controle (sem remifentanil)(35).
Exames Diagnósticos
Os exames diagnósticos realizados dentro ou fora do centro cirúrgico, principalmente aqueles
mais dolorosos, como os da radiologia intervencionista, as colonoscopias dentre outros, podem ser
realizados com doses reduzidas de remifentanil(38).
Para a sedação desses pacientes, a dose de remifentanil preconizada varia entre 0,025 a 0,1
µg.kg-1.min-1, sendo que acima dessa dose o risco de apnéia é grande(39).
Apesar de ser uma sedação, alguns cuidados devem ser seguidos. Em toda sedação é
recomendada a monitorização adequada do paciente, suplementação de oxigênio através de
máscara facial ou cateter nasal e material para abordagem da via aérea superior preparado.
Com o objetivo de aumentar a segurança e otimizar a infusão, deve utilizar diluições menos
concentradas. Concentrações da solução de remifentanil entre 0,01 a 0,05 mg.ml-1 são mais
indicadas. As doses devem ser tituladas de acordo com a resposta clínica do paciente(39).
Nos casos em que ocorra depressão respiratória, ela é facilmente corrigida desligando a infusão
de remifentanil. Devido a sua rápida eliminação, o retorno da ventilação é quase que imediata,
porém em alguns casos é necessária assistência ventilatória mais efetiva.
Sempre que possível, deve administrar a solução de remifentanil o mais próximo do cateter
venoso, reduzindo o espaço morto do equipo.
Terapia Intensiva
A utilização do remifentanil na unidade de terapia intensiva para sedação de pacientes críticos
mostra-se como técnica muito promissora.
Devido a sua metabolização órgão-independente, livre de efeito acumulativo, rápido início e
término de ação, o remifentanil pode ser utilizado na sedação de pacientes em terapia intensiva
sob ventilação mecânica.
A sedação analgésica com remifentanil é tão efetiva quanto a sedação feita com outros opióides
(fentanil, sufentanil e morfina), no que se diz respeito ao alívio da dor e sedação dos pacientes em
ventilação mecânica. Permite ainda, tempo de extubação precoce e diminuição do tempo de
permanência na UTI(40).
Em outro recente estudo, comparou-se a sedação tradicional com midazolam ou propofol
(sedação hipnótica), associoada ou não a algum opóide, e a sedação realizada somente com
remifentanil (sedação analgésica). A dose de remifentanil sugerida pelo protocolo do estudo variou
de 6-15 µg.kg-1.h-1, conforme resposta clínica do paciente. Os autores puderam concluir que a
sedação com remifentanil foi mais efetiva para controle do desconforto do tubo traqueal e da dor, e
que em 37% dos casos não houve necessidade de associar um agente hipnótico (midazolam ou
propofol)(41).
2. CRIANÇA
Todos os cuidados para o uso do remifentanil discutidos no início do tema “uso clínico do
remifentanil” devem ser redobrados no seu uso em pacientes com menor peso corporal.
Diferente de outros opióiodes, o remifentanil tem uma depuração plasmática maior em crianças
de 2 a 6 meses de idade comparada a dos adultos. Já em crianças de acima de 2 anos de idade,
as características farmacocinéticas e farmacodinâmicas são semelhantes à dos adultos. Porém, a
infusão média necessária para se obter o bloqueio das respostas cardiovasculares à incisão
cutânea mostrou ser pelo menos duas vezes maior que a observada em adultos(1).
Um recente estudo com o uso de remifentanil em cirurgia cardíaca em crianças acima de 5
anos, mostrou que a infusão contínua, sem bolus inicial, na dose de 1,0 µg.kg-1.min-1 foi mais eficaz
em combater o aumento do nível glicêmico e da freqüência cardíaca, em relação a dose de 0,25
µg.kg-1.min-1. No entanto, recomenda-se extrema precaução na utilização dessas altas doses de
remifentanil quando se tratar de crianças que serão submetidas a cirurgia de correção de truncus
arteriosus ou transposição de grandes vasos(45).
A técnica de anestesia venosa total na criança ficou mais popular com o advento de fármacos
com latência curta, rápida recuperação, sem efeitos acumulativos e facilmente titulável. É nesse
contexto que o remifentanil se destaca como analgésico de eleição para condução da anestesia
venosa total na criança. No entanto, é muito freqüente a bradicardia ou hipotensão que pode ser
evitada com uso prévio de anticolinérgicos. A dor pós-operatória deve ser tratada de forma
especial, já que não existe analgesia residual com o término da infusão de remifentanil(46).
Um dos obstáculos para desenvolvimento da técnica é a venopunção. O uso da medicação pré-
anestésico e de anestésicos transdérmicos facilitam esse trabalho. A utilização de sedação
inalatória com óxido nitroso, também pode ser uma alternativa.
É comum, principalmente em uso pediátrico, a mistura de remifentanil ao propofol na mesma
seringa. Porém, como visto anteriormente, essa prática é condenável.
3. IDOSO
A farmacocinética e a farmacodinâmica do remifentanil sofrem profundas alterações no paciente
idoso.
O volume de distribuição central (V1) diminui 20% dos 20 aos 80 anos de idade, enquanto que a
depuração plasmática diminui 30%(47).
O t½Ke0 é o tempo necessário para ocorrer a equilíbrio entre a concentração plasmática e a
concentração cerebral. Um aumento no t½Ke0 resulta em aumento no tempo do pico de ação. O
t½Ke0 do remifentanil está aumentado no paciente idoso, resultando em maior latência do
fármaco(47).
A DE50 é a medida da “sensibilidade cerebral”. Se a DE50 está diminuída significa que a
sensibilidade está aumentada. No idoso a DE50 está diminuída, comprovando alteração
farmacodinâmica nesses pacientes. A queda da DE50 também acontece com os outros opióides
com o avançar da idade(47).
A pressão arterial e a freqüência cardíaca podem abaixar em 10-40% nos pacientes acima de
70 anos, no entanto é facilmente revertida com vasopressor. Essa queda pode está associada à
alterações do segmento ST nos pacientes coronariopatas(47).
Devido a todas essas alterações na farmacologia do remifentanil no paciente idoso, a dose em
bolus deve ser reduzida em 50% ou até mesmo evitada, enquanto que a taxa de infusão reduzida
em metade ou 1/3 da dose(47).
Com relação ao tempo de recuperação, respeitando as doses recomendadas para o paciente
idoso, não há diferença clínica significante nesses pacientes. Quando as doses não são reduzidas,
o tempo de recuperação pode ser duas vezes mais prolongado nos pacientes com mais de 60
anos(48).
Fig 1 – Bolus de 1,0 µg.kg-1