FOUCAULT - A Verdade e As Formas Jurídicas - FICHAMENTO
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controle
da
efetivao
das
Essa ideia de uma penalidade que procura corrigir aprisionando uma ideia
policial, nascida paralelamente justia, fora da justia, em uma prtica dos
controles sociais ou em um sistema de trocas entre a demanda do grupo e o
exerccio do poder. P. 99.
Foucault vai questionar desse deslocamento do conjunto terico das reflexes
sobre direito penal pelas prticas penais que o encobriram. Como essas
prticas da penalidade baseada nos indivduos, em seus comportamentos e
virtualidades prevaleceram.
Por que o poder ou aqueles que o detinham retomaram esses
mecanismos de controle situados ao nvel mais baixo da populao?
Na Inglaterra, uma das razes foi a materialidade da riqueza e a necessidade
consequente de protege-la e vigi-la por meio de uma polcia. A nova forma de
produo veio substituir o capital simplesmente monetrio, a fortuna de terras,
espcies monetrias e eventuais letras de cmbio por mercadorias, estoques,
mquinas, oficinas, matrias-primas. A fragmentao das propriedades de terra
e uma maior facilidade de depredaes. A polcia de Londres nasceu da
necessidade de proteger as docas, entrepostos, armazns, estoques, etc. Esta
a primeira razo, muito mais forte na Inglaterra do que na Frana, do
aparecimento da necessidade absoluta desse controle. Em outras palavras,
est a razo porque esse controle, com um funcionamento de base quase
popular, foi retomado de cima em determinado momento. P. 101.
A segunda razo dessa ressignificao dos grupos de controle pelo poder pode
ser localizada na mudana de forma da propriedade, que foi multiplicada e
fragmentada, expondo cada proprietrio a depredaes.
Foi, portanto, essa nova distribuio espacial e social da riqueza industrial
e agrcola que tornou necessrios novos controles sociais no fim do
sculo XVIII. Esses novos sistemas de controle social agora estabelecidos
pelo poder, pela classe industrial, pela classe dos proprietrios foram
justamente tomados dos controles de origem popular ou semi-popular, a que foi
dada uma verso autoritria e estatal. Esta , a meu ver, a origem da
sociedade disciplinar.
CONFERNCIA V
O panoptismo um dos traos caractersticos de nossa sociedade. uma
forma de poder que se exerce sobre os indivduos em forma de vigilncia
individual e contnua, em forma de controle de punio e recompensa e em
forma de correo, isto , de formao e transformao dos indivduos em
funo de certas normas. Esse trplice aspecto do panoptismo vigilncia,
Com efeito, no momento em que houve uma crise de produo, em que foi
preciso desempregar um certo nmero de operrios, em que foi preciso
readaptar a produo; no momento em que o ritmo do crescimento da
produo se acelerou, essas casas enormes, com um nmero fixo de operrios
e uma aparelhagem montada de forma definitiva, revelaram-se absolutamente
no vlidas. P. 111.
Organizaram-se tcnicas laterais ou marginais, para assegurar, no mundo
industrial, as funes de internamento, de recluso, de fixao da classe
operria, desempenhadas inicialmente por estas instituies rgidas,
quimricas, um pouco utpicas. P. 111.
O que era visado com estas instituies, tanto no seu sentido mais forte, no
incio do sculo XIX, como em sua forma mais branda, como as cidades
industriais e as caixas econmicas?
Portanto, poder-se-ia dizer que a recluso do sculo XIX uma
combinao de controle moral e social, nascido na Inglaterra, com a
instituio propriamente francesa e estatal da recluso em um local, em
um edifcio, em uma instituio, em uma arquitetura. P. 112.
No sistema ingls do sculo XVIII, era o fato de um indivduo pertencer a um
grupo que fazia com ele pudesse ser vigiado e vigiado pelo prprio grupo. J
nas instituies que se formam no sculo XIX no de forma alguma na
qualidade de membro de um grupo que o indivduo vigiado; ao contrrio,
justamente por ser um indivduo que ele se encontra colocado em uma
instituio, sendo esta instituio que vai constituir o grupo, a
coletividade que ser vigiada. enquanto indivduo que se entra na escola,
enquanto indivduo que se entra no hospital, ou que se entra na priso. P. 113.
No que se refere ao modelo francs, tambm o internamento do sculo XIX
bastante diferente do que havia na Frana no sculo XVIII. Nesta poca,
quando algum era internado, tratava-se sempre de um indivduo
marginalizado em relao famlia, ao grupo social, comunidade local a que
pertencia; algum que no estava dentro da regra e que se tornara marginal
por sua conduta, sua desordem, a irregularidade de sua vida. P. 113.
Na poca atual, todas essas instituies fbrica, escola, hospital
psiquitrico, hospital, priso tm por finalidade no excluir, mas, ao
contrrio, fixar os indivduos. (...) Mesmo se os efeitos dessas instituies
so a excluso do indivduo, elas tm como finalidade primeira fixar os
indivduos em um aparelho de normalizao dos homens. A fbrica, a escola, a
priso ou os hospitais tm por objetivo ligar o indivduo a um processo de
produo, de formao ou de correo dos produtores. Trata-se de garantir a
produo ou os produtores em funo de uma determinada norma. P. 114.