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Qumica e Sociedade

Saberes Populares e Ensino de Cincias:


Possibilidades para um Trabalho Interdisciplinar

Maria Stela da Costa Gondim e Gerson de Souza Ml

Neste trabalho, apresentamos uma proposta de ensino de cincias que possa servir de orientao a professores, principalmente os de Qumica, na realizao de prticas pedaggicas que busquem a inter-relao entre
os saberes populares e os saberes formais ensinados na escola. Trabalhamos com uma abordagem temtica,
que possibilita a interdisciplinaridade e a contextualizao. A proposta de ensino foi desenvolvida como um
material paradidtico que inter-relaciona os saberes populares inerentes na cultura popular da tecelagem mineira,
no tear de quatro pedais, e saberes cientficos a serem ensinados na escola.
saber popular, tecelagem manual, material paradidtico

Recebido em 15/09/08, aceito em 21/10/08

m nossa sociedade, ainda


muito comum a viso que d
a cincia um status hegemnico e superior de saber. Essa viso
cientificista tambm reproduzida
na escola. Diante dessa realidade,
muitas consideraes sobre o ensino
e a aprendizagem de cincias tm
sido feitas. Um dos debates sobre
essa questo refere-se ao significado
de ensinar cincias para a vida de
estudantes que habitam um mundo
de enorme diversidade cultural (Pomeroy, 1994).
A partir da dcada de 1990, os
educadores e pesquisadores passaram a questionar essa superioridade
epistemolgica do saber cientfico e
considerar as relaes entre cultura e
educao cientfica. A cultura popular
e o conhecimento cultural passaram
a ser considerados na orientao
dos currculos de cincias. Essas
modificaes podem advir, segundo
os pesquisadores, da perspectiva
construtivista como tendncia na
educao cientfica, da substituio
da perspectiva tecnicista na elabo-

rao dos currculos e da postura


quais o conhecimento do mundo natucrtica em relao cincia ocidental
ral de outras culturas construdo (p.
moderna.
65, traduo e grifo nossos).
Pomeroy (1994)
Nessa perspectiapresenta algumas
va, desenvolvemos
Desenvolvemos uma
estratgias para a
uma proposta de
proposta de ensino que
educao cientfica:
ensino que possa
possa servir de orientao
explorar as inter-reservir de orientaa professores na realizao
laes entre cincia,
o a professores,
de prticas pedaggicas
tecnologia e sociedaprincipalmente os
que busquem a interde dentro do contexto
de Qumica, na rerelao entre os saberes
de vida dos estudanalizao de prticas
populares e os saberes
tes; utilizar recursos
pedaggicas que
formais ensinados na
locais e problemas
busquem a interescola.
locais para as problerelao entre os
matizaes; utilizar
saberes populares
textos que abordem narrativas de
e os saberes formais ensinados na
descobertas cientficas para desescola. Em nosso caso, escolhemos
mistificar a idia de cincia pronta
como cultura popular a tecelagem
e acabada; desenvolver currculos
mineira no tear de quatro pedais. A
de cincias em torno de contedos
proposta de ensino foi desenvolvida
cientficos que expliquem prticas e
como um material paradidtico que
tcnicas populares (p. 62, traduo e
inter-relaciona os saberes populares
grifo nossos); desenvolver atividades
de artess da regio do Tringulo
cientficas que no violem as crenas
Mineiro sobre a tecelagem manual em
dos estudantes; explorar as crenas,
quatro pedais, a partir de suas falas e
os mtodos, os critrios de validade
de outros conhecimentos que podem
e sistemas de racionalidade sobre os
ser abordados nessa relao.
Esse material deve dar suporte
s
atividades pedaggicas, trazenA seo Qumica e sociedade apresenta artigos que focalizam diferentes inter-relaes entre Cincia e sociedade,
do para sala de aula contedos
procurando analisar o potencial e as limitaes da Cincia na tentativa de compreender e solucionar problemas sociais.
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Saberes Populares e Ensino de Cincias

N 30, NOVEMBRO 2008

que abordem experincias de vida,


interesses e necessidades dos estudantes, propiciando a reflexo e
favorecendo a interao e o dilogo
dinmico. Ou seja, a partir da interdisciplinaridade efetiva entre os
vrios campos do saber, estudantes e professores podem tornar-se
conscientes e conhecedores das
inter-relaes entre cincia, cultura,
tecnologia, ambiente e sociedade,
favorecendo o desenvolvimento de
uma viso holstica do mundo.

roupas, colchas, cobertores, mantas


do; cardar (escovar as fibras para
e outros artefatos, tradicionalmente
facilitar a fiao) a l e/ou o algodo;
realizada por mulheres e transmitida
fiar (transformar a matria-prima j
de gerao em gerao. As mulheres
tratada em fios com espessuras detecels, normalmente, moravam na
sejadas); fazer a meada; tingir os fios;
zona rural ou na periferia das cidades.
fazer o novelo; urdir (paralelizar os fios
Essa tcnica, vista aqui como um
e formar o rolo de urdume) o fiado
saber popular, iniciou-se no Brasil,
(algodo) e/ou a l; e por fim tecer
segundo Maureau (1986), com a cheno tear de quatro pedais, realizando
gada dos europeus, destacando-se
as tramas de acordo com o produto
os provenientes do norte de Portugal.
desejado.
Estes j tinham tradio em tecelaH milhares de sculos, a tecelagem domstica e a difundiram nas
gem uma atividade realizada pelo
regies de Minas
ser humano a fim de lhe proporcionar,
Saber popular e
Gerais sul e Trinpor meio da utilizao de mantas
A proposta de ensino foi
tecelagem manual
gulo Mineiro , Gois
e vestimentas, proteo contra as
desenvolvida como um
Desde o sculo
e norte de So Pauintempries ambientais (clima, chumaterial paradidtico que
XIX, a cincia passou
lo. No entanto, a ativa, espinhos etc.). Aos poucos, o
inter-relaciona os saberes
a exercer um papel
vidade de tecelagem
vestir-se tambm passou a significar
populares de artess da
preponderante em
manual j era aqui
uma forma de expresso. Iniciada no
regio do Tringulo Mineiro
nossa sociedade, a
realizada mesmo anOriente Mdio, tal atividade fazia uso
sobre a tecelagem manual
ponto de menospretes da chegada dos
de vrias fibras txteis naturais como
em quatro pedais.
zarmos outros sabeportugueses.
o algodo, a l, o linho e a seda, e de
res (senso comum,
At meados do
corantes naturais para o tingimento
teologia, filosofia etc.) e consider-la
sculo passado, a tecelagem fazia
das fibras ou do tecido. Os corantes
o nico saber realmente passvel de
parte dos muitos afazeres domsticos
naturais utilizados eram provenientes
compreenso e de credibilidade. Endestinados s mulheres. No entanto,
de plantas como a anileira (Indigofera
tretanto, compreendemos que o ser
ao se diminuir a distncia entre o camtinctoria, da qual se obtm o anil ou
humano constitui-se a partir de uma
po e a cidade, conseqncia da indusndigo) e o pau-brasil (Caesalpinia
diversidade de saberes e, dentre eles,
trializao de nosso pas, do xodo
echinata, da qual se obtm um veros saberes populares, to presentes
rural e do crescimento da rea urbana,
melho intenso), e de animais, como
na cultura de nosso pas e desconsientre outros fatores (Lima e Ferreira,
a cochonilha (Dactylopius coccus) e
derado em nossas escolas.
1999), os tecidos feitos no tear para
os caracis Purpura lapillus e Murex
A cultura popular, de acordo com
a confeco de roupas e as colchas
brandasis, ambos responsveis pela
Xidieh (apud Ayala e Ayala, 1987),
foram, aos poucos, sendo substituobteno da cor prpura (Ferreira,
pode ser definida como aquela [...]
dos por tecidos, roupas e cobertores
1998). Muitas vezes, o processo de
criada pelo povo e apoiada numa
industrializados. Conseqentemente,
tingimento envolvia procedimentos
concepo do mundo toda especfica
a procura pelas tecels diminuiu e
complexos, trabalhosos e dotados de
e na tradio, mas em permanente
muitas delas pararam de tecer, alm
crenas inexplicveis para a cincia.
reelaborao mediante a reduo
de se desfazerem
No se possua um
ao seu contexto das contribuies
de seus teares e das
conhecimento qumiA partir da
da cultura erudita, porm, mantendo
rodas de fiar.
co sobre os procediinterdisciplinaridade efetiva
a sua identidade (p. 41). Dentre as
Para a realizao
mentos adotados.
entre os vrios campos
manifestaes da cultura popular,
da tecelagem proO desenvolvimendo saber, estudantes
temos os chs medicinais, os artepriamente dita, so
to da cincia trouxe
e professores podem
sanatos, as mandingas, as cantigas
necessrias vrias
modificaes para
tornar-se conscientes e
de ninar e a culinria. Todas estas se
etapas anteriores.
a atividade da tececonhecedores das interconstituem como saberes populares.
No Tringulo Mineilagem. Inicialmente
relaes entre cincia,
Eles no exigem espao e tempo
ro, era comum as
manual, ela passou
cultura, tecnologia,
formalizados; so transmitidos de
mulheres realizarem
por um processo de
ambiente e sociedade,
gerao em gerao por meio de
todas essas etapas.
industrializao, lefavorecendo o
linguagem falada, de gestos e atituEm outros casos,
vando a uma produdesenvolvimento de uma
des; e so tambm transformados
pessoas diferentes
o em massa e a
viso holstica do mundo.
medida que, como parte integrante
dedicavam-se a atiuma padronizao
de culturas populares, sofrem influvidades especficas.
dos produtos, em
ncias externas e internas.
Tais etapas compreendem: tosquiar
contrapartida produo artesanal
A tecelagem com tear de quatro
o carneiro, para a retirada de l, ou
que, embora mais lenta e cara (compedais, com fins de fabricao de
colher, descaroar e limpar o algoparativamente ao produto industrial),
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oferecia produtos com caractersticas


caso, esto subordinados ao tema.
aquelas da comunidade. Entretanto,
prprias, personalizados. Teares e
Como referencial terico para uma
ao reconhecer aquilo que lhe aprecardadeiras manuais foram substiabordagem temtica, buscamos Paulo
sentado, o indivduo consegue melhor
tudos por mquinas
Freire (2000) e o seu
se identificar e atuar sobre o meio, em
industriais. Fibras e
conceito de tema geum processo de conscientizao.
A escolha da tecelagem
corantes passaram
rador, aliado a uma
A pesquisa com as artess
manual foi favorecida
a ser produzidos
educao como
pela
existncia
de
alguns
sinteticamente. A inprtica da liberdaA escolha da tecelagem manual
centros dedicados
dstria de corantes
de. Gerador porque
foi favorecida pela existncia de
sua preservao e por
sintticos cresceu
qualquer que seja
alguns centros dedicados sua
percebermos vrias
tanto que, atualmena natureza de sua
preservao e por percebermos, ao
possibilidades para a
te, pouco uso feito
compreenso, como
realizarmos um contato inicial em um
realizao da proposta de
de corantes naturais
a ao por eles prodesses centros de tecelagem, vrias
trabalho interdisciplinar.
na indstria txtil.
vocada, contm em
possibilidades para a realizao da
O processo de
si a possibilidade de
proposta de trabalho interdisciplinar.
tingimento um dos mais importantes
desdobrar-se em outros tantos temas
O foco de nosso trabalho foi o
na indstria txtil e tambm na tecelaque, por sua vez, provocam novas
conhecimento do processo de tecegem manual. A classificao utilizada
tarefas que devem ser cumpridas (p.
lagem manual, considerando todas
para os corantes na indstria txtil
93). Nessa perspectiva, o professor
suas etapas. Como tal conhecimento
a estrutura molecular da substncia
passa a ser parte integrante da transadvm de uma cultura popular, foi imqumica ou o mtodo utilizado no tinposio didtica e no mero executor,
perativo inserir-nos no meio em que as
gimento. De acordo com a estrutura
selecionando os seus contedos cienparticipantes desta se encontravam.
molecular da substncia, podemos ter
tficos a partir de uma realidade apreDessa forma, foi-nos possvel comazo-corantes, antraquinona e outros.
sentada pela comunidade da escola e
preender como se dava o processo de
Quando tratamos do mtodo utilizado
problematizada.
tecelagem em anos
no tingimento, devemos considerar
Um tema gerador
mais remotos e como
Compreendemos que
primeiro como ocorre a fixao dos
oferece condies
atualmente, quais
o ser humano constituicorantes s fibras. Ela geralmente
para uma abordaas caractersticas das
se a partir de uma
acontece em meio aquoso e pode
gem contextualizapessoas envolvidas,
diversidade de saberes
dar-se por meio de quatro tipos de
da e interdisciplinar.
quais as circunstne, dentre eles, os saberes
interao: ligao inica, ligao de
Cada professor, em
cias, as relaes que
populares, to presentes
hidrognio, interao de van der Wasua especialidade,
eram estabelecidas
na cultura de nosso pas e
als e interaes ou foras covalentes.
busca levantar que
pelas artess e tamdesconsiderado em nossas
Muitas vezes, assim como utilizado
problemticas pobm as modificaes
escolas.
nos procedimentos para os corantes
dem ser abordadas
ocorridas com o pasnaturais, necessria a adio de
a partir do tema essar do tempo.
mordentes para a melhor fixao do
colhido.
Para a realizao de nossa pescorante ou ainda a acidificao ou a
nesse sentido que defendemos
quisa, fizemos uso dos mtodos da
alcalinizao do meio.
a necessidade do saber popular a ser
abordagem antropolgica, como a
estudado ser inerente comunidade.
observao participante e a coleta de
Abordagem temtica
Ou seja, na regio do Nordeste, temos
depoimentos na forma de entrevistas
A tecelagem mauma forte presenno estruturadas gravadas em udionual no Tringulo Mia de outro tipo de
cassete. Alm desse instrumento,
A valorizao cultural
neiro, uma das maniartesanato (rendas
tambm fizemos uso de cmera
na escola pode auxiliar
festaes culturais da
de bilro e de fil) e
fotogrfica digital para o registro
a inter-relao entre as
regio, foi escolhida
de festas juninas e,
de imagens (artess, instrumentos
pessoas, favorecendo
por ns como tema a
no Esprito Santo,
e materiais utilizados e etapas do
o desenvolvimento
ser trabalhado no Entemos a produo
processo).
de sentimentos de
sino Mdio por meio
de panelas de barro,
A pesquisa foi realizada com nove
solidariedade e respeito
de uma abordagem
por exemplo. Essas
artess em visitas que ocorreram em
ao prximo, conferindo
temtica. Tal abordamanifestaes esto
dois momentos: outubro de 2006
novos significados
gem, segundo Deliprximas daquelas
e janeiro de 2007. Seis das tecels
aos conhecimentos j
zoicov e cols. (2002),
comunidades e detrabalham em ncleos de artesanato
adquiridos.
aquela em que a
veriam ser estudadas
que visam, dentre outros objetivos, a
organizao curricular
l. Ainda buscando
preservao de tal tradio. Um dos
baseia-se em temas que direcionam
Freire (2000), reiteramos sua afirncleos de artesanato, o Centro de
os contedos de ensino das disciplimao sobre possibilidades de se
Fiao e Tecelagem, localiza-se na
nas. Os conceitos cientficos, nesse
estudar outras realidades que no
cidade de Uberlndia e o outro, o
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Ncleo de Artesanato da Fundao


Cultural Calmon Barreto, na cidade
de Arax. As outras trs artess residem nos municpios de Perdizes e
de Itapagipe.
Alguns procedimentos de tingimento descritos pelas artess foram testados por ns. Escolhemos para teste os
tingimentos feitos com: anil citado e
muito utilizado por elas, teve seu uso
descrito em detalhes; quaresminha
extrato vegetal para o tingimento de l;
ferrugem nico pigmento inorgnico
citado; sangra dgua feito a partir da
casca de tal rvore; e alguns corantes
comerciais.
Aps a pesquisa com as artess,
as entrevistas foram transcritas e demos incio construo do material
paradidtico, buscando inter-relacionar saberes populares, aprendidos
por ns com as artess, e saberes
cientficos. Tal material, alm da possibilidade de uso direto, pretende servir
de orientao e modelo a outros professores para realizao de trabalhos
semelhantes em suas escolas.

O material paradidtico proposto


A articulao entre os diferentes
saberes era uma meta prevista desde
o incio do trabalho. Assim, o material
paradidtico a ser produzido deveria
apresentar quais os outros saberes
poderiam ser trabalhados a partir de
tal cultura, alm de saberes referentes
prpria cultura.
O material paradidtico proposto
contm:
- uma breve apresentao destinada ao professor;
- uma introduo, na qual descrevemos sucintamente a tradio
cultural da tecelagem manual realizada a quatro pedais, situando-a
na cultura popular e descrevendo
suas manifestaes;
- uma apresentao das artess,
feita por elas mesmas. A identificao de cada uma delas
foi feita a partir de seus nomes
reais e de suas fotografias. Elas
so detentoras desse saber
popular, valorizadas e reconhecidas como parte integrante e
essencial de uma cultura, com
as suas normalidades e particularidades. Tambm preservamos
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o seu modo de falar para melhor


De acordo com a fala das artess,
caracterizar o contexto a partir do
buscamos questes que pudessem
qual foi produzido o material e
surgir a partir do assunto abordado.
respeitar e preservar as diferenOu seja, a partir das problematizates manifestaes de linguagem
es iniciais, geramos necessidades
por diferentes grupos sociais, em
de estudos mais aprofundados de
suas esferas de socializao
outros saberes. A partir da, suge(Brasil, 2002, p. 130);
rimos saberes cientficos ou outros
- as etapas envolvidas na tecelagem,
saberes ou temas que pudessem ser
apresentadas na seqncia em
abordados a partir dessas questes.
que so realizadas. Nos casos de
Essa seo foi denominada Tecendo
etapa que envolvem maiores detaoutros saberes, e esses entrelaalhes, estas so tratadas separadamentos realizados permitiram abordar
mente. Dessa forma, a tecelagem
uma variedade de conceitos (cientfi apresentada em partes com os
cos ou no) e temas.
seguintes nomes: Tosquiando o
Aps a seo Tecendo saberes,
carneiro, hora de colher o alsugerimos, como exemplo, alguns
godo!, Retirando a semente do
contedos qumicos com vistas
algodo, Deixar o algodo limpia auxiliar professores de Qumica
nho, Pentear as fibras, Fazer o
que, muitas vezes, trabalham com
fio, Fazer a meada e o novelo,
abordagens conceituais e no com
Agora, o tingimento, Para tirar a
abordagens temticas. Em seguida,
sujeira, Tingir de ferrugem pra
sugerimos algumas atividades. Nesse
ficar bonito, Dicuada? O que
momento, a nossa inteno era sugeisto?, O tingimento com o anil
rir atividades interdisciplinares, alm
enguiado, Mais sobre o anil...
de salientarmos algumas estratgias
crenas, crendices, Tingir a l
de ensino propostas na perspectiva
com quaresminha, Usando as
de Cincia, Tecnologia e Sociedade
cascas das rvores, Outras plan CTS (Santos e Schnetzler, 1997) ou
tas, novas cores, outros mtodos,
de experimentao.
Para segurar a tinta, A tinta coAs Figuras de 1 e 2 so dois
mercial, A quantidade para usar,
exemplos de seqncia do material
Urdir, Colocar no tear, O
paradidtico produzido, apresenrepasso, Os tipos de repasso,
tando todas as sees referidas
Tecer, Hoje mais quente?,
anteriormente. Tais exemplos foram
Uma profisso: artes.
escolhidos por apresentarem a aborEm cada parte, realizamos uma
dagem concernente ao tingimento, de
pequena introduo sobre o assunto
relao mais direta com a Qumica.
a ser tratado, situando o contexto
Na Figura 1 apresentamos a parte
em que aquela atividade realizada,
introdutria da abordagem feita em
fazendo algumas explicaes em
relao ao tingimento. Nessa abortermos cientficos ou esclarecimentos
dagem, so relatados os mtodos
e, ainda, comparaes mais superfide tingimento utilizados pelas artess
ciais entre a atividade
bem como as suas
realizada de forma
crenas. Buscamos
A articulao entre a escola
artesanal ou de forinter-relacionar os
e as pessoas envolvidas
ma industrial. Essas
conhecimentos adcom a cultura popular
introdues abrem
vindos da Biologia,
geradora dos outros
caminhos para as
Geografia, Fsica,
saberes poder dar-se
falas das artess, reArte e Qumica.
em diferentes momentos
produzidas parcial ou
Na Figura 2 aprenum movimento de ir e vir
integralmente. Em vsentamos outra parte
constante.
rios casos, no foram
referente abordautilizadas as falas de
gem do tingimento,
todas as artess, e sim selecionadas
dedicada ao estudo da decoada, um
aquelas que mais enfatizavam e/ou
mordente utilizado pelas artess.
esclareciam melhor o assunto em
Dessa forma, compreendemos
questo.
que os conceitos a serem abordados
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Figura 1: Seqncia Agora, o tingimento parte do material paradidtico.


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Figura 2: Seqncia Dicuada: o que isto? parte do material paradidtico.


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e as atividades a serem realizadas


na escola sero geradas durante os
encontros da escola com os detentores do saber popular, permitindo o
surgimento de outras questes.

intensidade de outrora, podem proporcionar a abordagem de diferentes


conhecimentos escolares, possibilitando o resgate de conhecimentos
populares e favorecendo o reconhecimento de nossa histria, como bem
Consideraes finais
argumenta Chassot (2000).
Embora as pesquisas educacioRessaltamos a necessidade de
nais voltadas para o multiculturalismo
que propostas de ensino semena educao cientfica ainda estejam
lhantes a essa sejam desenvolviem fase preliminar,
das no interior da
acreditamos que elas
cultura popular em
Embora as pesquisas
podem levar a uma
seu contexto prprio.
educacionais voltadas
nova viso sobre o
Assim, a articulao
para o multiculturalismo na
ensino de cincias.
entre a escola e as
educao cientfica ainda
A valorizao cultural
pessoas envolvidas
estejam em fase preliminar,
na escola pode aucom a cultura popuacreditamos que elas
xiliar a inter-relao
lar geradora dos oupodem levar a uma nova
entre as pessoas,
tros saberes poder
viso sobre o ensino de
favorecendo o dedar-se em diferentes
cincias.
senvolvimento de
momentos num mosentimentos de sovimento de ir e vir
lidariedade e respeito ao prximo,
Referncias
conferindo novos significados aos
conhecimentos j adquiridos.
AYALA, M.; AYALA, M.I.N. Cultura popuEm um pas como o Brasil, com
lar no Brasil: perspectiva de anlise. So
Paulo: tica, 1987.
uma diversidade cultural to grande
BRASIL. Secretaria de Educao Mdia
e, conseqentemente, uma variedae Tecnolgica. Parmetros Curriculares
de de interpretaes sobre o mundo
Nacionais: Ensino Mdio. Ministrio
natural, no prudente excluir os
da Educao, Secretaria de Educao
saberes populares da escola. Desse
Mdia e Tecnolgica. Braslia: MEC/
modo, se os diferentes saberes que
SEMTEC, 2002.
fazem parte da constituio de cada
CHASSOT, A.I. Saberes populares
indivduo forem mais bem compreenfazendo-se saberes escolares. Relato de
didos e a escola propiciar formas de
pesquisa, 2000.
mediao entre esses saberes, a caDELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J.A.; PERNAMBUCO, M.M. Ensino de cincias:
pacidade de dilogo entre educador e
fundamentos e mtodos. So Paulo:
educando se tornar mais suscetvel,
Cortez, 2002.
possibilitando melhores negociao
FERREIRA, E.L. Corantes naturais da
de significados.
flora brasileira. Guia prtico de tingimento
Ao propormos a inter-relao entre
com plantas. Curitiba: Optagraf, 1998.
os saberes populares e os saberes forFREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 28.
mais na escola, compreendemos que
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
vrias dessas manifestaes da culLIMA, R.G.; FERREIRA, C.M. O museu
tura popular esto sendo esquecidas
de folclore e as artes populares. Revista
ou so, muitas vezes, consideradas
do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, n. 28, p.101-119, 1999.
obsoletas e antiquadas. Entretanto,
MAUREAU, X. Tecelagem manual no
mesmo aquelas expresses populares
Tringulo Mineiro: uma poltica sistemque no so praticadas na mesma

constante. Esse exerccio constante


permite, dentre vrias possibilidades,
uma forma de negociao de significados e de apropriao de conceitos
cientficos, pois as inter-relaes entre
os saberes cientficos e os saberes
populares nem sempre se apresentaro to claras. Alm disso, podem ser
gerados novos contedos a serem
trabalhados em disciplinas distintas,
de forma dinmica e motivadora.
Maria Stela da Costa Gondim (stelagondim@yahoo.
com.br), licenciada em Qumica e bacharel em Engenharia Qumica pela UFU, mestre em Engenharia
Qumica pela UFMG e mestre em Ensino de Cincias
(rea de concentrao: Qumica) pela UnB, professora de Ensino Mdio na Secretaria de Educao do
Distrito Federal. Gerson de Souza Ml (gmol@unb.br),
bacharel e licenciado em Qumica pela UFV, mestre
em Qumica Analtica pela UFMG, doutor em Ensino
de Qumica pela UnB, docente no IQ-UnB e docente/orientador no Programa de Ps-Graduao
em Ensino de Cincias UnB.

tica de inventrio tecnolgico. Revista do


Patrimnio Histrico e Artstico Nacional,
Rio de Janeiro, n. 21, p. 56-63, 1986.
POMEROY, D. Science education and
cultural diversity: mapping the field.
Studies in Science Education, n. 24, p.
49-73, 1994.
SANTOS, W. L. P. dos; SCHNETZLER,
R. P. Educao em qumica: compromisso
com a cidadania. Iju: Uniju, 1997.

Para saber mais


GONDIM, M.S.C. A inter-relao entre
saberes cientficos e saberes populares
na escola: uma proposta interdisciplinar
baseada em saberes das artess do Tringulo Mineiro. 2007. 232 p. Dissertao
(Mestrado em Ensino de Cincias rea
de concentrao: Qumica)- Programa de
Ps-Graduao em Ensino de Cincias,
Universidade de Braslia, Braslia, 2007.
Disponvel em: <http://www.unb.br/
ppgec/dissertacoes/trabalhos/dissertacao_mariastela.pdf>.
GUARATINI, C.C.I.; ZANONI, M.V. Corantes txteis. Qumica Nova, v. 23, n. 1,
p. 71-78, jan./fev. 2000.

Abstract: Folk knowledges and science education: possibilities for an interdisciplinary work. In this work, we introduce a science education proposal that can be used as orientation to teachers,

especially to the chemistry ones, on the realization of pedagogical practices which aim the relation between the folk knowledge and the technical knowledge taught at school. We work on a thematic
approach, which enables the interdisciplinary nature and the contextualization. The education proposal was developed as a supplement educational material that relates the folk knowledge inherent
in the popular culture of region and science knowledge taught at school.

Keywords: folk knowledge, manual weaving, paradicdatic material.

Errata

A verso original do Artigo O vdeo educativo: Aspectos da organizao do ensino, publicado no nmero 24 (novembro,
2006), nas pginas 8-11, foi substituda na website da SBQ devido a correes julgadas imprescindveis pela editoria. Eventuais
novas impresses da Revista tambm traro essa nova verso.
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