Módulo 4 Cartuchos
Módulo 4 Cartuchos
Módulo 4 Cartuchos
Apresentao do Mdulo
Cartucho uma palavra de origem italiana (cartoccio) derivada da palavra latina charta,
que significa papel.
Um pouco de histria...
Embora possa parecer que no h relao para as armas de antecarga, os atiradores dos
sculos XV e XVI, principalmente quando em ao militar, tinham o costume de levar,
envolta em folha de papel, carga de plvora suficiente para um disparo. Agiam assim com o
objetivo de facilitar a recarga, agilizando o processo e diminuindo os riscos de uma carga
excessiva, pois tinham a certeza de estarem utilizando a quantidade adequada de plvora.
Com o passar do tempo, esses atiradores no carregavam apenas a plvora; passaram a
colocar junto os projteis, todos embrulhados no mesmo papel.
Os princpios de facilitar a recarga, acelerar o intervalo de tempo entre os disparos e de
conter a unidade completa de munio acabaram por dar origem aos cartuchos de armas de
fogo de nossos dias.
Um dos primeiros cartuchos a existir foram os cartuchos para os fuzis de agulha ou fuzil
Dreyse, utilizados na Guerra do Paraguai. Nesse cartucho, embrulhado como num cilindro de
papel, eram depositados o projtil, em contato com a sua base, a espoleta e, por ltimo, a
plvora. Quando acontecia o disparo, a agulha percussora furava o papel, atravessava a
camada de plvora, chocava-se contra a espoleta detonando-a e iniciava a queima da
plvora.
Logicamente, no se pode pensar em arma de fogo sem pensar na munio1 empregada
nessas armas. Existem muitos tipos de cartuchos diferentes, com componentes diferentes e
que se destinam a empregos distintos. Neste mdulo, voc estudar os cartuchos de armas de
fogo e seus principais componentes.
Objetivos do Mdulo
Ao final do estudo deste mdulo, voc ser capaz de:
Identificar os cartuchos de armas de fogo, seus componentes e emprego;
Compreender a interao dos componentes durante o disparo.
Estrutura do Mdulo
Aula 1 Cartuchos
Aula 2 Projteis de armas de fogo raiadas
Aula 3 Cartuchos de armas de alma lisa
Aula 1 Cartuchos
1.1.
O que um cartucho
Cartucho a designao genrica das unidades de munio utilizadas nas armas de fogo de
retrocarga. Segundo o Decreto n 3.665, de 20/11/2000, pode-se entender munio como:
artefato completo, pronto para carregamento e disparo de uma arma, cujo efeito desejado
pode ser: destruio, iluminao ou ocultamento do alvo; efeito moral sobre pessoal;
exerccio; manejo; outros efeitos especiais (art. 3, inciso LXIV, anexo).
1.2.
Modelos de cartucho
1.3.
estojo
projtil
(plvora) e o projtil.
Cartucho
espoleta
plvora
Nota
As diferenas entre os cartuchos devem-se ao emprego dado a eles, como acontece com os
cartuchos de festim, lanadores de granadas que no tm projteis e os cartuchos de manejo
que no so dotados de espoleta ativa e plvora. Especificamente, para os cartuchos
destinados s armas de alma lisa, utilizam-se ainda outros componentes, como a bucha e, em
alguns modelos, discos de papelo com finalidades especficas.
1.3.1. Estojo
O estojo o componente que integra os demais elementos do cartucho. Apesar de algumas
armas de fogo praticamente obsoletas (armas de antecarga) dispensarem o seu uso, trata-se de
um componente indispensvel s armas modernas. O estojo possibilita que todos os
componentes necessrios ao disparo fiquem unidos em uma pea, facilitando o manejo da
arma e acelerando o intervalo em cada disparo. Alm disso, permite a padronizao dos
Nota
Tambm so encontrados estojos semimetlicos construdos com a base metlica
(geralmente lato) e o corpo em diversos tipos de materiais, como plsticos (munio de
treinamento e de espingardas), papelo (espingardas), entre outros.
Forma do estojo
A forma do estojo muito importante, pois as armas modernas so construdas de forma a
aproveitar as suas caractersticas fsicas. Classificam-se os estojos, em relao forma do
corpo, como:
Cilndrico O estojo possui dimetro uniforme por toda sua extenso; o caso da
maioria dos estojos usados em armas de porte, como os cartuchos de calibre .38 SPL,
.40 S&W e .45 ACP. Alguns fabricantes produzem um ligeiro estreitamento na tera
parte prxima boca, com o objetivo de garantir a insero do projtil na altura
correta do estojo. Na prtica, no existe estojo totalmente cilndrico; sempre h uma
pequena inclinao para facilitar a extrao.
Cnico ou tronco-cnico O estojo tem o formato do corpo como um segmento de
cone, com dimetro menor na boca do que na base. um formato de estojo em desuso,
prprio para alguns rifles antigos como os calibres 8 x 72Rmm, 9,3 x 48Rmm e 7 x
72Rmm;
Garrafa O estojo apresenta basicamente dois dimetros, um de maior dimenso
junto ao aro ou base, o que
permite
conter
grande
Tipo de iniciao
Outra forma de descrevermos um estojo quanto ao tipo de iniciao, que pode ser:
Fogo circular A mistura detonante colocada no interior do estojo, dentro do aro, e
detona quando este amassado pelo percursor;
Fogo central A mistura detonante est disposta em uma espoleta, fixada no centro
da base do estojo.
Nota
Cabe lembrar que alguns tipos de estojos no foram citados por serem obsoletos, como os de
papel dos fuzis Dreyse, utilizados pelo Exrcito brasileiro durante a Guerra do Paraguai ou
outros muito pouco comuns.
1.3.2 Espoletas
As espoletas tm por funo iniciar a queima da plvora (propelente). Trata-se basicamente
de um explosivo e outros componentes depositados no fundo de um pequeno receptculo
metlico de lato (liga de cobre Cu e zinco Zn), cuja iniciao se d por percusso
(choque violento), o qual gera a detonao desse explosivo. Na detonao, ocorre a
transformao abrupta do explosivo em gases, com extraordinria rapidez (velocidade da
ordem de 5000 m/s), gera calor, chama e elevadas presses, o que ir agir sobre os gros do
propelente causando agitao aquecimento e ignio.
Mistura iniciadora
A mistura iniciadora de uma espoleta para cartucho composta de materiais diversos, com as
funes especficas de:
Um explosivo iniciador;
Materiais oxidantes;
Materiais redutores;
Atritante;
Aglomerante.
Diversas composies desses materiais so utilizadas por diferentes fabricantes. A
composio mais comum, utilizada pela Companhia Brasileira de Cartuchos, do incio da
dcada de 70 at a atualidade, tem por base o estifinato de chumbo (trinitroressorcinato de
chumbo).
Composio estifinato de chumbo:
Trinitroressorcinato de chumbo;
Tetrazeno;
Alumnio em p;
Trissulfeto de antimnio;
Nitrato de brio.
A composio do estifinato de chumbo constitui-se em uma mistura estvel umidade e
temperatura. Durante o disparo, a ignio da mistura iniciadora produz 40%2 em peso de
gases e 60% em peso de partculas slidas quentes, liberando CO, CO2, NO, NO2, N2, SO2,
vapor de gua, xido de chumbo e de brio, vapores de chumbo metlicos, entre outros. A
composio qumica da mistura iniciadora base de estifinato de chumbo produz
aproximadamente 300 cm3 de gs por grama de mistura.
Tipos de espoletas
Mistura iniciadora nos cartuchos de fogo circular
Os cartuchos de fogo circular, cujo exemplo mais comum so os cartuchos de calibre .22 LR,
no possuem uma espoleta como elemento distinto do cartucho, sendo essa a grande diferena
entre esses cartuchos e os cartuchos de fogo central. Neles a mistura iniciadora depositada
por um processo de centrifugao na base (orla do estojo). A percusso ocorre no choque do
percutor contra a orla do estojo, comprimindo-a contra a parede posterior da cmara, na qual o
cartucho se encontra alojado; isso produz a detonao da massa explosiva e
consequentement
e, em funo da
chama e calor
gerado,
deflagrao
Fonte: Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC)
a
do
propelente.
(www.cbc.com.br )
Pode at parecer pouca a transformao de apenas 40% em gs, mas na queima da plvora o
percentual apenas de 25 a 30 % e nos motores a exploso no passa de 12%. Sendo o gs
formado, tem-se o elemento essencial para o funcionamento do motor e acelerao do projtil
confeccionada
em
lato,
Fonte: CBC
As figuras representativas dos tipos de espoletas Boxer e Berdan foram extradas do site da Companhia
Brasileira de Cartuchos.
Aps a transferncia do explosivo para o fundo da cpsula da espoleta, colocada uma fina
lmina de papel que permite a compresso do explosivo, acarretando uma distribuio
uniforme no fundo da cpsula, sem que haja contato da puno de compresso e o material
explosivo.
45.000
libras
por
polegada
ao
Nota
Como os comprimentos dos canos variam de forma significativa das armas curtas raiadas para
as armas longas raiadas, o controle de tempo de queima demasiadamente importante,
porque, ao possuir maior ou menor espao de cano para a queima do propelente, a velocidade
de queima fundamental para fornecer as caractersticas balsticas de velocidade e energia
cintica ao projtil, mantendo os valores de presso de projeto da arma dentro dos limites.
Plvora negra
Plvora de Base
Simples
tendo sido o material utilizado desde os primeiros informes de disparos de armas de fogo at
os dias de hoje.
O projtil do tipo esfera foi inicialmente a escolha natural, por ser a forma que apresentava, a
princpio, a menor perda de gases. Porm devido a problemas com o alcance til 3e a
resistncia, eles foram gradativamente sendo substitudos pelos projteis de formato
pontiagudo, semelhantes s setas, nos cartuchos destinados a armas raiadas. Em sua evoluo,
procurou-se resolver problemas quanto a sua trajetria, resistncia do ar, movimentos
errticos dos projteis e problemas que advinham das caractersticas dos materiais, tais como
a vedao correta dos gases da plvora e a diminuio do atrito com o cano.
O moderno projtil de liga de chumbo isto , chumbo endurecido com antimnio e/ou
estanho e contm todos os elementos de sua evoluo.
Um projtil fundamentalmente dividido em trs partes:
PONTA CORPO BASE
Quanto ponta os projteis, verificam-se os seguintes formatos mais comuns: ogival, canto
vivo, semicanto vivo, cone truncado e ponta plana cada um com objetivos especficos.
Os corpos dos projteis destinados a armas raiadas so sempre cilndricos e recebem uma
graxa lubrificante colocada em canaletas apropriadas ou em reas recartilhadas e aplicadas
por presso, banho ou por spray; a funo dessa graxa diminuir a possibilidade de
chumbamento do cano. A parte cilndrica a responsvel pelo engajamento dos projteis
com o raiamento do cano.
Embora os principais componentes dos projteis de chumbo sejam o prprio chumbo, o
antimnio e o estanho, os projteis de chumbo so fabricados em diversas ligas, de diferentes
durezas e, consequentemente, de diferentes pontos de fuso, podendo ser produzidos atravs
de dois processos: estampagem ou fuso.
Nota
A estampagem um processo de fabricao no qual o projtil produzido atravs de corte e
deformaes em operao de prensagem a frio. Devido s suas caractersticas, esse processo
de fabricao apresenta vantagens, tais como: bom acabamento, custo reduzido e alta
produo. Os projteis frutos desse processo, por causa do encruamento que sofrem, so mais
resistentes.
Muitos
projteis
apresentam um cdigo de
cores para definir a sua
utilizao, principalmente
nos fuzis e metralhadoras.
Fonte: CBC
3. Plvora;
4. Projteis (projteis singulares, balins ou projteis
especiais);
5. Buchas e discos de papelo.
A seguir, estude sobre cada um deles.
5
3
3.1.1. Estojo
Os estojos destinados s armas de alma lisa so confeccionados em diversos materiais, como
metal (normalmente lato), plstico ou papelo. Esses dois ltimos geralmente apresentam
uma base metlica.
Os estojos em papelo esto em desuso, pois a absoro de umidade gera um aumento de
volume, dificultando a sua introduo na cmara. Os estojos metlicos, devido ao custo de
produo, no so empregados na confeco de cartuchos comerciais, sendo utilizados na
recarga artesanal de munio. Os estojos confeccionados em tubos de plstico, por no
absorverem umidade, por permitirem um considervel nmero de recargas e um melhor
fechamento, so os mais empregados atualmente.
Normalmente os estojos confeccionados em tubo de plstico ou papelo apresentam uma base
metlica (alta ou baixa), com a funo de aumentar a resistncia e principalmente de formar o
aro de travamento da cmara (headspace). Nesses estojos, empregada uma bucha interna,
confeccionada em papel ou plstico para afixar o tubo base.
Foto1
Foto 2
Fonte: CBC
3.1.2. Espoletas
As espoletas tm por funo a iniciao do propelente (plvora). Durante o acionamento do
gatilho, o percutor comprime a mistura iniciadora contra a bigorna, causando a sua detonao,
o que gera calor, chama e gases, que passam para o interior do estojo onde se encontra a
plvora atravs de orifcios chamados eventos. A ao do calor, chama e gases sobre os gros
do propelente agitam, aquecem e levam queima do propelente, o que ir gerar uma grande
quantidade de gases e a expulso da carga de balins.
As espoletas utilizadas em cartuchos destinados a armas
de alma lisa so do tipo bateria, possuem um copo
externo, no qual se aloja a bigorna, e a mistura iniciadora
contida em um recipiente em formato de copo. A
utilizao desse copo externo deve-se pouca resistncia
da base metlica do estojo e da bucha interna; dessa forma
Fonte: CBC
Nos estojos de cartuchos metlicos utilizados para recarga artesanal, as espoletas empregadas
so do tipo Berdan.
As espingardas apresentam pouqussima resistncia ao deslocamento dos projteis (singular
ou balins) quando comparadas s armas de alma raiada. A inexistncia de raiamento faz com
que os projeteis abandonem o cano rapidamente. Esse fato, associado a maior ou menor
capacidade de expanso das buchas, torna obrigatria a utilizao de plvoras de queima
rpida nos cartuchos para armas de alma lisa, do mesmo modo daquelas utilizadas em armas
curtas.
3.1.3. Plvoras
As plvoras utilizadas nos cartuchos comerciais so de base simples (nitrocelulose), em
formato de disco, a exemplo das plvoras nos 216 e 219 da CBC. Essas mesmas plvoras so
as utilizadas em revlveres.
Nota
A empresa Condor utiliza plvora negra na produo de cartuchos dotados de projteis de
borracha, de carga lacrimognea e de efeito moral.
As plvoras utilizadas em espingardas apresentam pequenos valores de densidade
gravimtrica4 e tambm menor tempo de queima.
Nota
As plvoras que apresentam maior densidade gravimtrica so as que apresentam maior
tempo de queima (queima mais lenta). So destinadas s armas longas raiadas pela
necessidade de maior espao para sua queima. Essas armas permitem a colocao de maior
quantidade de propelente (em peso) para um mesmo volume do estojo, de forma que se
possam atingir as altas velocidades previstas para os projteis dessas armas. Quando, por
exemplo, acontece um disparo de espingarda e a vedao no boa, faz-se necessrio utilizar
plvoras de queima rpida e, logo, de menor densidade gravimtrica.
o parmetro que indica qual a quantidade de plvora em peso que pode ser colocada em uma mesma unidade
de volume
Fonte: CBC
3.1.5. Buchas
As buchas apresentam a funo de, ao se
expandirem, selarem o cano, no permitindo o escape
de gases oriundos da queima da plvora e fazendo,
dessa forma, com que a distribuio da energia seja
uniforme sobre a carga de balins. Realizam ainda a
tarefa de manter a presso em nvel adequado, tanto
na cmara quanto no cano durante o deslocamento da
carga de balins.
As buchas so constitudas de diversos materiais,
como papel, papelo, cortia, serragem e parafina (prensadas), feltro ou buchas pneumticas
(plsticas). comum a utilizao de discos de papelo na utilizao de buchas prensadas para
separar a bucha dos gros de plvora e ainda para separ-la da carga de balins, ou com a
funo de tampa nos cartuchos de fechamento orlado.
As buchas e os discos de papelo, quando encontrados em locais de crime ou na rea
lesionada, podem definir o calibre da arma utilizada.
do sol e temperatura ambiental normal (20 a 25C). Se a temperatura for mantida uniforme,
ao redor de 15C, a vida til dos cartuchos CBC pode ser prolongada de 3 a 4 vezes. A
umidade relativa do ar ideal para a conservao dos cartuchos de 40 a 60%.
Aps os cinco anos, inicia-se um processo lento de decomposio da plvora, resultando
numa deteriorao, tambm lenta, mas progressiva, das caractersticas balsticas da munio.
Na maioria das munies militares, o cartucho considerado ainda em condies de uso,
mesmo que a velocidade mdia de uma srie de 10 tiros esteja 5% abaixo do valor mdio de
fabricao. Esse percentual aumentado para munies destinadas ao uso civil, cujos critrios
de avaliao no so to rgidos.
Finalizando...
Neste mdulo, voc estudou que:
Cartucho a designao genrica das unidades de munio utilizadas nas armas de
fogo de retrocarga. Segundo o Decreto n 3.665, de 20/11/2000, pode-se entender
munio como: artefato completo, pronto para carregamento e disparo de uma arma,
cujo efeito desejado pode ser: destruio, iluminao ou ocultamento do alvo; efeito
moral sobre pessoal; exerccio; manejo; outros efeitos especiais (art. 3, inciso LXIV,
anexo);
Os cartuchos mais conhecidos e empregados hoje em dia so: cartuchos para armas
raiadas de percusso central, cartuchos para armas raiadas de percusso radial e
cartuchos para armas de alma lisa de percusso central;
Em quase todas as espcies de cartuchos, verifica-se a utilizao de alguns
componentes essenciais como o estojo, a espoleta, o propelente (plvora) e o projtil;
Para a balstica forense, o projtil a parte do cartucho que foi ou que pode ser
lanada atravs do cano sob a ao dos gases resultantes da queima do propelente;
Os projteis podem ser divididos em trs grupos distintos: os projteis de chumbo
(projteis nus), os projteis jaquetados ou projteis encamisados (total ou
parcialmente) e os projteis especiais;
Os cartuchos destinados a armas de alma lisa apresentam os seguintes elementos
essenciais: estojo, espoleta, plvora, projteis (projteis singulares, balins ou projteis