Peixes Do Rio Estreito, Meio-Oeste de Santa Catarina, Brasil

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CLEITON JOS GEUSTER

PEIXES DO RIO ESTREITO,


MEIO-OESTE DE SANTA
CATARINA, BRASIL

1 Edico
2012

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Geuster, Cleiton Jos.

Peixes do Rio Estreito, meio-oeste de Santa


Catarina, Brasil / Cleiton Jos Geuster. 1. ed. -Clube de Autores, 2012.
91 f.
1.Zoologia. 2. Biologia. 3. Ictiologia.
I. Ttulo.
CDD - 597

Natureza, que me faz sonhar, pesquisar e


aprender. Meu refgio e consolo. O sentido da
vida, para mim, te observar e ao menos tentar
lhe entender. A ti dedico este trabalho.
6

AGRADECIMENTOS
Ao Mario Arthur Favretto, pelo apoio, troca de
informaes e pela grande amizade a mim concedida;
Ao Andr e a Vanessa, colegas que me presentearam
durante estes ltimos anos com amizades verdadeiramente
sinceras;
Aos professores, e em especial, Professora Maria
Ignez, que me estimulou a ingressar no curso de Cincias
Biolgicas, uma das minhas escolhas mais bem acertadas;
Ao professor Rodrigo Lingnau pela confiana em mim
depositada no incio deste trabalho;
A minha esposa Adriana e meu filho Isaac, que me
perderam para o mato muitas vezes nos ltimos anos (e
devem continuar perdendo nos prximos...), e sempre
entenderam os motivos;
Aos meus pais, colegas e amigos, pelo apoio.

SUMRIO
Introduo
Referencial terico
Metodologia
Resultados
Espcies encontradas
Os peixes e observaes sobre sua ecologia
Discusso
A respeito da riqueza
Espcies no amostradas citadas em entrevistas
Recursos trficos importantes
Alteraes sofridas e perspectivas para o rio Estreito
Consideraes finais
Concluses
Referncias

09
11
14
24
24
30
73
73
75
76
80
82
84
85

INTRODUO

Como era a paisagem natural de Santa Catarina h um


Sculo atrs? Talvez esta pergunta nunca possa ser respondida
com riqueza de detalhes. Em parte pela biodiversidade que a
Mata Atlntica apresenta, mas tambm pelas condies de
miserabilidade em que ela se encontra.
A degradao do ambiente natural da regio do Rio
Estreito, bem como as regies ao entorno, comeou na segunda
dcada do sculo passado, primeiramente com a indstria
madeireira, presente at hoje (WOLOSZYN, 2006). Foram
cerca de oito dcadas de explorao intensa da mata nativa,
sendo que atualmente, so utilizadas com maior frequncia
espcies exticas, como Eucalyptus sp. e Pinus sp., usadas em
planos de reflorestamento.
Logo aps a instalao da indstria madeireira, Surgiu a
agricultura, praticada em pequenas propriedades familiares,
baseada principalmente na plantao de milho, criao de aves,
sunos e bovinos (FERRARI, 2003).
De maneira mais significante, a criao extensiva de
bovinos a que causa mais impacto sobre a flora e fauna
associadas ao rio. Estes animais, alm de se alimentarem com
uma grande gama de espcies vegetais pertencentes mata
10

ciliar, impossibilitando seu crescimento e manuteno, tambm


provocam grande eroso, por deixarem o solo totalmente
exposto nos locais que costumam usar para se deslocar em
busca de alimento. Isto se agrava mais ainda quando vo em
busca de gua no rio, e ao chegar at o curso da gua, pisam
sobre o solo da margem, descompactando-o, formando
lamaais, que facilmente so erodidos quando o nvel das guas
sobe, provocando assoreamento e diminuindo a qualidade da
gua (ABDON, 2004).
Secundariamente, a criao de aves e sunos em sistema
de confinamento, gera uma grande quantidade de dejetos, de
maneira concentrada. Se estes dejetos no forem processados
de forma adequada e tiverem um destino correto, eles podem
ser arrastados ao rio por guas pluviais, e l, promovem uma
srie de desequilbrios ambientais, oriundos principalmente da
exploso
favorecidos

populacional
pela

maior

de

microorganismos

disponibilidade

de

aquticos,
nutrientes,

ocasionando um fenmeno conhecido como eutrofizao, que


gera alteraes da composio qumica da gua, e consequente
implica em alteraes na ictiofauna (KUNZ, 2006).

11

REFERENCIAL TERICO

A classe Actinopterygii (peixes de nadadeiras raiadas)


soma mais de 22.000 espcies, representando praticamente a
metade de todas as espcies viventes de vertebrados (POUGH;
JANIS; HEISER, 2003). Rios de pequeno porte so os
possuidores da maior parte das espcies de peixes das guas
continentais, sendo que grande parte destes, ainda no foi
descrita pela cincia, e se j descritos, possuem sua biologia
desconhecida. Estes peixes, geralmente de pequeno porte,
possuem alto grau de variao morfolgica e gentica, sendo
na maioria das vezes, endmicos de determinadas bacias,
enquanto peixes de grande porte possuem ampla distribuio
geogrfica, e pequena variao morfolgica (CASTRO, 1999).
No Rio Estreito, no se tem notcia de algum
levantamento documentado de sua ictiofauna, porem j foram
feitos estudos no Rio do Peixe, mesmo assim, apenas
preliminares, abrangendo somente a parte baixa deste rio
(Segalin, 2008) e tambm estudos amplos na regio do alto Rio
Uruguai (ZANIBONI-FILHO et al. 2004; GODOY, 1987).
Segundo

Zaniboni-Filho

et

al

(2004),

foram

encontradas 97 espcies de peixes na regio do alto Rio


Uruguai, divididas em sete ordens: Cypriniformes (Apenas
12

uma famlia, peixes de origem extica); Characiformes (8


famlias); Siluriformes (10 famlias), Gymnotiformes (3
famlias); Atheriniformes (uma famlia); Perciformes (2
famlias) e Synbranchiformes (uma famlia). Das espcies
encontradas, 14 possuem potencial para a pesca e piscicultura.
No Rio do Peixe os levantamentos feitos por Segalin
(2008) constataram a ocorrncia de 41 espcies, entre as quais,
algumas com grande potencial para criao em viveiros
artificiais, para fins comerciais, como: Oligosarcus jenynsii
(Saicanga), Hoplias lacerdae (Trairo), Hoplias malabaricus
(Trara), Rhamdia quelen (Jundi), Steindachneridion scripta
(Suruvi), Hypostomus commersonii (Cascudo trepa-pau), todas
estas distribudas dentro das mesmas ordens encontradas por
ZANIBONI-FILHO et al (2004).
De acordo com Ghazzi (2008), a regio do alto Rio
Uruguai, possui um alto grau de endemismo de sua ictiofauna,
se comparada com outras bacias hidrogrficas brasileiras. Este
endemismo pode estar relacionado principalmente com a
grande variedade de hbitats e caractersticas geolgicas da
regio. A construo de represas para a gerao de energia e
barreiras naturais pode causar instabilidade nas comunidades
de peixes levando a um isolamento reprodutivo, diminuio da
variabilidade gentica daquelas espcies locais e at mesmo
13

ocasionar uma extino localizada de alguns elementos da


ictiofauna (CAMPOS; SILVA; AQUINO-SILVA, 2006).
A descrio de novas espcies na bacia do Rio Uruguai,
e as recentes revises taxonmicas aplicadas sua ictiofauna,
embora ainda insuficientes para abordar toda a riqueza de
espcies

que

este

rio

presumivelmente

detm,

foram

intensificadas nos ltimos anos, estimuladas principalmente


pelo setor energtico, que tem investido massivamente em
novos empreendimentos hidroeltricos no alto Rio Uruguai
(OLIVEIRA, 1999).

14

METODOLOGIA

REA DE ESTUDO

Fazendo parte da bacia hidrogrfica do Rio Uruguai, e


com sua foz no Rio do Peixe, o Rio Estreito (Mapas 1, 2 e 3),
um dos principais afluentes deste, possuindo uma calha com 15
a 30 metros de largura, guas rpidas, com leito formado
predominantemente por rochas baslticas. Sua nascente no
Municpio de gua Doce-SC (265354.7S; 513634.45O),
fica a uma altitude de 1240 metros, e ao percorrer uma
distncia de aproximadamente 60 quilmetros, encontra o Rio
do Peixe, entre os municpios de Luzerna e Ibicar
(270700S; 512553.25O), em uma altitude de 530
metros, sendo que a mdia de desnvel, de 12 metros a cada
quilmetro de rio (MMA, I3Geo--).
Em seu percurso, ocorre uma transio de tipos
florestais: a Floresta Estacional Decidual e a Floresta
Ombrfila Mista, a primeira, caracterstica na confluncia com
o Rio do Peixe, e a segunda, dominante na regio das
principais nascentes do rio, em altitudes maiores (KLEIN,
1978). Poucos remanescentes intactos destes dois tipos

15

florestais ainda perduram na regio que o rio drena, sendo que


atualmente, muitas reas esto em regenerao.

Mapa 1: Bacia hidrogrfica do Rio do Peixe e localizao da micro bacia


do Rio Estreito (quadrado verde). As cores com tons azul-escuro
representam locais com altitude de at 500 m, enquanto os de tom vermelho
apresentam altitudes de at 1300 metros. Fonte: Adaptado de Segalin,
(2008)

16

Mapa 2: Rio Estreito e seus afluentes (traado branco), e os trs pontos


amostrais (quadrados vermelhos) dentro da bacia de drenagem do Rio do
Peixe. Fonte: Adaptado de Segalin, (2008).

17

O Rio Estreito colhe guas do territrio dos municpios


de gua Doce, Treze Tlias, Ibicar e Luzerna. Os dois
primeiros so os mais importantes na formao deste rio, pois
neles, se formam a maioria de seus tributrios. Do mesmo
modo, so os que mais contribuem com a poluio do mesmo,
devido o contato com reas urbanas, lugares onde se percebe o
lanamento de plsticos, esgoto domstico e entulhos diversos,
que so encontrados ao longo no rio com grande frequncia.

Mapa 3: Localizao do Rio Estreito dentro da bacia hidrogrfica do Rio


Uruguai. Fonte: Adaptado de Lucena e Kullander, (1992)

18

vlido

acrescentar

que

no

Rio

do

Peixe,

aproximadamente 2500 metros abaixo da foz do Rio Estreito,


encontram-se uma barragem de difcil transposio para
espcies migradoras, pois a mesma no possui sistemas que
possam permitir a piracema. Isso se repete vrias vezes ao
longo do rio, inclusive no Rio Uruguai, que recebe as guas do
Rio do Peixe. Toda a regio do alto Rio Uruguai possui
projetos para a implantao de novas barragens (PAIM e
ORTIZ, 2006).

DETERMINAO DAS REAS DE ESTUDO

Ao longo do rio, foram estipulados trs pontos para


amostragem e observao dos peixes (Mapa 2). Sendo o ponto
I a 27 km da foz no Rio do Peixe, o ponto II a 14 km e o ponto
III a 5 km. O ponto amostral II, comea logo abaixo de uma
cascata, que forma um obstculo significativo, impedindo a
migrao dos peixes rio acima (Fotografia 1).
Cada

ponto

de

amostragem

apresentava

aproximadamente 1000 metros de comprimento, reunindo


vrias combinaes de profundidade, correnteza, tipos de
substrato de fundo (rochas, lodo, areia, seixos) e conservao

19

da mata ciliar. Alm disso, cada ponto tinha pelo menos um


pequeno tributrio, que tambm foram analisados.

Fotografia 1: Cascata no Rio Estreito, localizada entre os municpios de


gua Doce e Luzerna.

MTODOS DE CAMPO PARA EXTRAO DE DADOS

Os trabalhos de campo foram realizados entre os meses


de novembro de 2008 e abril de 2010, principalmente em
meses com temperaturas elevada, pois os peixes de modo geral
ficam notoriamente mais ativos nesta poca, facilitando
20

consideravelmente a coleta de alguns exemplares. No foram


realizados trabalhos de campo em dias muito chuvosos, pois
devido s caractersticas do rio, que apresenta muitas
corredeiras, as coletas so impraticveis com as guas acima de
seu nvel normal, alm da turbidez e do carregamento de
detritos (galhos, folhas, sedimento), impossibilitam o uso de
algumas metodologias de captura, e mesmo a visualizao dos
peixes.
Para a amostragem dos exemplares, foram realizadas 12
incurses ao rio, sendo quatro em cada ponto amostral, duas
vezes em cada poca de amostragem (meses quentes),
perfazendo um esforo amostral total de aproximadamente 570
horas. Durante as amostragens e em outros momentos ao
decorrer do estudo, foram feitas observaes diretas dos peixes
em seu ambiente, durante o dia, com a gua lmpida, e a noite,
com o uso de lanternas. Para isso, deslocava-se lentamente
dentro da gua, nas margens do rio e de tributrios.
Algumas entrevistas foram realizadas com moradores
mais antigos, que possuem terrenos as margens do rio, e que
praticam ou praticavam pesca amadora. Estas entrevistas
tinham como principal objetivo detectar uma possvel perda de
riqueza ao longo da ocupao humana na regio do Rio. Para

21

um melhor entendimento e identificao de espcies, material


fotogrfico foi apresentado aos entrevistados.
Os equipamentos utilizados na captura dos exemplares
foram redes de 10 a 20 metros e tarrafas mono filamento, com
medida de malha compreendida de 15 a 60 mm entrens, linhas
de mo e espinhis. Para a captura de espcies de porte muito
reduzido, pus, de at 5 mm de malha. Tambm foram
capturadas

manualmente

algumas

espcies

em

seus

esconderijos (tocas). Exemplares imaturos foram libertados


imediatamente aps sua captura.
Os exemplares adultos ou inditos na pesquisa, foram
identificados e tiveram seu comprimento total (Ct) e peso total
(Pt) anotados. Exemplares para testemunho, para anlise do
contedo estomacal e exemplares mortos ou debilitados, foram
fixados em formol 5%, e em seguida acondicionados em
recipientes contendo lcool 70%, metodologia de conservao
de peixes apresentada por AURICCHIO E SALOMO,
(2002). Os outros espcimes, quando com a integridade
corprea preservada e apresentando boa mobilidade, foram
devolvidos ao seu ambiente. Os espcimes fixados foram
depositados no Laboratrio de Zoologia da UNOESC, campus
de Joaaba e no Museu Frei Miguel de Luzerna, onde tero
finalidade didtica, e de material testemunho.
22

IDENTIFICAO DAS ESPCIES E ANLIZE DOS


DADOS

Os exemplares amostrados foram identificados com


base nos trabalhos de Zaniboni- Filho et al (2004) e Godoy
(1987). Foram usados tambm artigos de reviso taxonmica e
de descrio de novas espcies: Bertaco e Cardoso (2005), Bifi,
Pavanelli e Zawadzki (2009), Buckup e Reis (1997), Cardoso e
Silva (2004), Carvalho (2004), Ghazzi (2008), Lucena (2007),
Lucena e Kullander (1992), Lucinda (2008), Rican e Kullander
(2008), Oyakawa e Mattox (2009). Duas espcies de Astyanax
no puderam ser identificadas com a literatura disponvel,
sendo ento, enviados cinco espcimes de cada para
identificao no Laboratrio de Ictiologia do Departamento de
Zoologia da UFRGS, onde foram identificados e tombados, sob
os registros: UFRGS 11903, Astyanax saguazu (5 exemplares)
e UFRGS 11904, Astyanax sp. (5 exemplares).
Quando capturados em nmero suficiente, at dez
exemplares de cada espcie tiveram seu contedo estomacal
analisado, sendo os itens encontrados foram identificados at a
menor classe taxonmica possvel, com base em Souza e
Lorenzi (2005) e Williams e Marcelino (2001) para itens

23

vegetais, e para invertebrados, Bennemann, Shibatta e Vieira


(2008) e BUZZI (2002).
Alm da riqueza de espcies encontrada nos trs pontos
amostrais, a riqueza individual tambm foi analisada, e com
estes valores pode-se obter um ndice de similaridade entre os
pontos amostrais. A frmula para clculo deste ndice a
seguinte:

Onde:
Is: ndice de similaridade
A: nmero de espcies da rea A
B: nmero de espcies da rea B
C: nmero de espcies comuns das reas A e B
Os valores deste ndice variam de 0 a 1, sendo que 1
corresponde a duas reas com 100% de igualdade, seja em
nmero e tipo de espcies.

24

RESULTADOS

ESPCIES ENCONTRADAS

Durante este trabalho, foram coletados e identificados e


medidos 425 exemplares, distribudos em 32 espcies, 5 ordens
e 11 famlias.
Devido o grande esforo amostral, acredita-se que a
maioria das espcies foram amostradas. Obtendo-se um
grfico, relacionando esforo amostral e n de espcies
amostradas

(curva

do

coletor),

percebe-se

uma

certa

estabilidade aps a 9 sada de campo (Grfico 1), sendo que


at a 12 amostragem, somente duas novas espcies foram
amostradas, ambas exticas e de ocorrncia considerada
acidental.

25

Grfico 01. Curva do coletor.

Foram encontradas 11 famlias, sendo a famlia


Characidae detentora do maior nmero de espcies (8),
seguida por Loricariidae (7), e Cichlidae (6) seguindo um
padro encontrado nos rios sul-americanos (CASTRO, 1999).

26

Grfico 02. Representatividade das famlias de peixes no rio Estreito.

Tabela 1. Espcie encontradas e seus respectivos locais de


amostragem.

27

28

29

RIQUEZA E NDICE DE SIMILARIDADE POR PONTO


AMOSTRAL

Os pontos amostrais se mostraram relativamente


heterogneos quanto a sua riqueza de espcies, se considerado
a pouca distncia entre eles e sua semelhana ambiental. O
ponto amostral III, na parte mais prxima da foz, no Rio do
Peixe, apresentou a maior riqueza, com 31 espcies, seguido
pelo ponto II, a jusante da cascata, com 22 espcies, e o ponto
I, a montante da cascata, com 16 espcies. Apenas uma espcie
no ocorreu no ponto amostral III, foi Australoheros cf.
forquilha, que foi amostrado nos pontos I e II.
Os resultados desta heterogeneidade se refletiram nos
ndices de similaridade, que foram de 72% entre pontos
amostrais I e II; 46% entre I e III e 65% de similaridade entre II
e III.
Tabela 02. Similaridade entre os pontos amostrais.

30

OS PEIXES E OBSERVAES SOBRE SUA ECOLOGIA

Classe: Actinopterygii
Ordem: Cypriniformes
Famlia Cyprinidae

Cyprinus carpio Linnaeus, 1758 Carpa

Espcie extica, de grande porte, originria da Europa


Oriental. Foi introduzida no Brasil pela primeira vez em 1881
(GODOY, 1987). a principal espcie criada nos audes da
regio. Aparentemente no possui sucesso reprodutivo nos rios
da regio, onde raramente so encontrados exemplares juvenis.
A maior parte dos indivduos capturados no ambiente natural
pesa mais de 500g. A presena no Rio Estreito, bem como
outros rios da regio provavelmente est associada a
enxurradas que fazem viveiros transbordarem, os peixes
acabam saindo destes viveiros e passam a viver nos rios.
Apenas um exemplar (Fotografia 2) foi capturado
durante as amostragens deste trabalho, no ponto amostral III.
Apresentava 52,8 gramas de peso total (Pt) e tinha um
comprimento total (Ct) de 11,6 centmetros. Semanas antes da
captura deste exemplar, fortes chuvas incidiram sobre a regio,
sendo que houve notcias de que alguns audes localizados na
31

zona de drenagem do Rio Estreito tiveram suas barragens


rompidas, explicando assim provvel origem deste exemplar.

Fotografia 02. Cyprinus carpio.

32

Ordem: Cyprinodontiformes
Famlia Poeciliidae
Phalloceros cf. caudimaculatus (Hensel, 1868)
Barrigudinho
Espcie de porte bastante reduzido, machos menores
que as fmeas, e com o primeiro raio da nadadeira anal
transformado em rgo copulador (Fotografia 3). Fecundao e
desenvolvimento interno. As formas jovens ao serem expelidas
atravs da papila genital da fmea, so independentes, com um
tamanho de 5 a 6 mm de comprimento. Foram contadas de 25 a
30 larvas no interior de fmeas fecundadas.
Esta espcie foi encontrada em todos os pontos
amostrais, ocupando diversos ambientes, desde que com guas
rasas e calmas. Alm de estarem presentes na calha principal
do rio, foram encontrados em pequenas lagoas perenes nas
margens, canais secundrios, em pequenos tributrios, e at
mesmo em pequenas poas nos banhados prximos de cursos
da gua. Para a captura dos exemplares, foi utilizada uma
pequena vareta, tocando repetidamente a superfcie da gua,
sendo que movimento os atraa, facilitando a sua visualizao e
coleta com um pu. Esta espcie mostrou grande capacidade
de ocupar novos ambientes, sendo que durante este estudo, foi
33

perceptvel a sua migrao em pocas chuvosas por pequenos


riachos sazonais, o que pode explicar sua presena em diversos
locais onde outras espcies no se fazem presentes. Foram
observadas se alimentando de larvas de Culicidae, o que pode
indicar que sejam importantes controladores de alguns destes
Dpteros. O maior exemplar amostrado foi uma fmea, com 5,3
cm de Ct, e 1,8g. de Pt.

Fotografia 03. Phalloceros cf. caudimaculatus.

34

Ordem: Characiformes
Famlia Anastomidae
Leporinus amae Godoy, 1980 Boca-de-moa
Peixe de pequeno porte, corpo fusiforme, com colorido
avermelhado (Fotografia 4). Dentes incisivos. Exemplares
foram abundantes nos pontos II e III, sendo que acima da
cascata,

espcie

no

foi

capturada.

Foi

capturada

exclusivamente em corredeiras, entre espaos nas rochas ou


sobre elas e ainda locais com abundantes colnias de Tristicha
trifaria (Podostemaceae). Em anlise do contedo estomacal de
alguns espcimes, encontraram-se exclusivamente larvas de
Simuliidae (Diptera), algas filamentosas e sedimentos (areia).
Seus itens alimentares devem ser mais amplos, visto que
podem ser capturados com anzis usando iscas diversas. Maior
exemplar: 19,1 cm de Ct e 82,2g de Pt.

Fotografia 04. Leporinus amae.

35

Famlia Characidae
Astyanax cf. scabripinnis (Jenyns, 1842) Lambari
Caracdeo de pequeno porte, corpo robusto, olhos
relativamente pequenos e nadadeiras avermelhadas (Fotografia
5). Observados em cardumes durante o dia, que aparentemente
ficam em constante deslocamento. Durante a noite ficam
solitrios e imveis sobre rochas. Quando o rio se apresentava
turvo e acima do nvel normal, frequentemente cardumes desta
espcie puderam ser capturados com o auxilio de tarrafa em
canais do rio que normalmente permanecem secos. Tambm
foram capturados sobre rochas recobertas de T. trifaria. De
modo geral, sempre se deslocam e forrageiam em guas
rpidas. Sua dieta similar de A. saguazu. Foram capturados
espcimes em todos os pontos amostrais. Maior exemplar: 15,3
cm de Ct e 48,6g de Pt.

Fotografia 05. Astyanax gr. scabripinnis.

36

Astyanax jacuhiensis (Cope, 1894) Lambari


Espcie de pequeno porte, com o corpo ovalado, e com
mancha oval atrs do oprculo. Colorao prateada, com
nadadeira caudal amarelada (Fotografia 6). Ocorreu nos trs
pontos amostrais, sendo que no primeiro ponto foi mais rara.
Encontrada principalmente em locais rasos, sombreados, de
guas calmas com substrato formado por folhio. Mais comum
em pequenos poos em canais secundrios do rio. O contedo
estomacal no pode ser determinado com preciso, pois os
itens constantes nos estmagos dos peixes analisados, alm de
apresentar

tamanho

diminuto,

estavam

bastante

fragmentados. Maior exemplar: 10 cm de Ct e 16,3g de Pt.

Fotografia 06. Astyanax jacuhiensis.

37

Astyanax

saguazu

Casciotta,

Almirn

&

Azpelicueta, 2003 - Lambari


Pequeno porte, corpo lateralmente deprimido, olhos
grandes se comparado com as demais espcies do gnero
(Fotografia 7). Esta espcie foi descrita como tendo
distribuio restrita a rios da Argentina (Casciotta; Almirn e
Azpelicueta, 2003), na provncia de Missiones, dentro da Bacia
do Rio Uruguai, sendo este o primeiro registro para rios
brasileiros (Bertaco, com. pess.). Foi observado e capturado em
diversos tipos de ambientes, com uma tendncia maior para
guas calmas e sombreadas. Durante o dia, so vistos
frequentemente em cardumes, deslocando-se rapidamente ao
longo do rio enquanto forrageiam, ou parados em locais rasos,
sob rvores cadas na gua ou vegetao marginal. noite,
com o auxilio de iluminao, foram observados espalhados em
locais rasos e de guas calmas. Pela anlise do contedo
estomacal, percebe-se que possuem uma dieta ampla, incluindo
insetos

adultos

(Himenpteros,

Colepteros,

Odonatos,

Dpteros, Ortpteros, Efemeropteros, entre outros) que caem na


gua, larvas de alguns destes, o crustceo Aegla sp., sementes
de camboat (Cupania vernalis Sapindaceae), pequenos
frutos, como o da pitangueira (Eugenia sp. Myrtaceae).

38

Foram capturados nos trs pontos amostrais. Maior exemplar:


15 cm de Ct, e 41,8g. de Pt.

Fotografia 07. Astyanax saguazu.

39

Astyanax n. sp. Lambari.

Espcie de pequeno porte, colorao dourada e


nadadeiras vermelhas (Fotografia 8). Espcie possivelmente
ainda no descrita (Bertaco, com. pess.). Foram amostrados e
observados nos trs pontos. Pequenos grupos destes peixes
ficam entre fendas nas rochas, sob troncos ou vegetao
marginal, sendo que com a gua do rio turva, podem ser
capturados um pouco mais afastados destes esconderijos.
Quanto menos luz penetra nestes ambientes, mais escura a
colorao deste peixe. Alimentam-se em grande parte de
pequenos insetos e frutos que caem na gua, sendo que podem
vir at a tona para capturar o alimento, mas logo se escondem
sob alguma estrutura. Sua dieta deve ser mais ampla, similar a
de outros Astyanax. Maior exemplar: 16,6 cm de Ct e 24,5g de
Pt.

40

Fotografia 08. Astyanax sp.

41

Bryconamericus iheringii (Boulenger, 1987)


Lambari.

Espcie de pequeno porte, corpo com colorido azulado


quando em vida, nadadeiras amareladas (Fotografia 9). Espcie
bastante freqente nos pontos II e III, ocupando vrios
ambientes, principalmente corredeiras e locais rasos. No ponto
amostral I, a espcie foi encontrada apenas em um pequeno
tributrio, onde os exemplares adultos apresentavam um
tamanho consideravelmente menor quando comparados com
exemplares dos outros pontos amostrais, alm de ter uma
colorao diferenciada. A dieta verificada inclua larvas de
Simuldae e de Lepthoplebiidae - Ephemeroptera, entre outros
no identificados. Maior exemplar: 9,8 cm de Ct e 11,3 g de Pt.

Fotografia 09. Bryconamericus iheringii.

42

Bryconamericus stramineus Eigenmann, 1908


Lambari.

Espcie

de

pequeno

porte,

corpo

alongado

semitransparente. Presena de uma faixa prateada do oprculo


ao pednculo caudal (Fotografia 10). Somente foram
observados e capturados no ponto amostral III, durante a noite,
quando muitos exemplares se concentravam em locais de guas
calmas e rasas, ficando bem prximo da superfcie. Os
contedos estomacais indicaram diversos txons de insetos em
fase larval, todos diminutos. Maior exemplar: 8,1 cm de Ct e
5,2g de Pt.

Fotografia 10. Bryconamericus stramineus.

43

Oligosarcus brevioris Menezes, 1987 Saicanga.


Espcie de mdio porte, focinho curto e dentes cnicos.
Corpo robusto de colorao dourada quando em vida
(Fotografia 11). Forma cardumes, que pela manh e ao
entardecer, exploram principalmente as pores finais dos
poos. Em dias ensolarados, o cardume tende a ficar sob a
vegetao

ciliar,

em

locais

mais

sombreados.

Nestes

agrupamentos, somente so observados indivduos adultos,


como tambm ocorre nos cardumes formados por algumas
espcies de Astyanax. A dieta verificada predominantemente
carnvora, incluindo outros Caracdeos, o crustceo Aegla sp, e
diversos insetos adultos que caem na gua, principalmente
Orthoptera. Durante a frutificao de Eugenia sp., exemplares
foram capturados com frutos desta planta no seu trato
digestivo. Indivduos com as gnadas maduras foram
capturados nos meses de outubro/novembro e abril/maio.
Esta espcie ocorreu em todos os pontos amostrais, mas
de modo mais raro no ponto amostral II. Maior exemplar: 28,9
cm de Ct, e 243,1g de Pt.

44

Fotografia 11. Oligosarcus brevioris.

45

Oligosarcus jenynsii (Ghunter, 1864) Saicanga.


Espcie de mdio porte, focinho alongado, corpo
esbelto, colorao prateada (Fotografia 12). Dentes caninos
mais alongados e frgeis que O. brevioris. No foram
observados cardumes nesta espcie, sendo que os indivduos
foram capturados prximos a estruturas submersas, como
troncos e rochas em vrios pontos de poos com profundidades
maiores de 1,5 m. Foram amostrados nos pontos II e III.
Os exemplares que tiveram seu contedo estomacal
analisado, possuam basicamente exemplares de Astyanax sp e
Bryconamericus sp. em seus estmagos, hbito alimentar
piscvoro, como j havia sido observado por Hermes-Silva;
Meurer; Zaniboni-Filho, (2004). Durante a frutificao de C.
vernalis e Eugenia sp., frutos e sementes destas rvores foram
encontrados tanto no estmago quanto nos intestinos de alguns
exemplares. Tambm verificou-se a presena de vrios taxons
de insetos, principalmente ortpteros. Maior exemplar: 28,2 cm
de Ct e 202,6g de Pt.

46

Fotografia 12. Oligosarcus jenynsii.

47

Famlia Crenuchidae
Characidium cf. serrano Buckup & Reis, 1997
Piquira.
Espcie de pequeno porte, corpo alongado e rolio,
apresenta listras escuras transversais ao longo do corpo
(Fotografia 13). No foi possvel a captura de exemplares desta
espcie, porm espcimes eram facilmente visualizados sobre
rochas, em locais de guas calmas. Costumam ficar imveis,
apoiados com as nadadeiras peitorais sobre o substrato. Eram
avistados somente entre as 10 e 17 horas. Nos meses de
dezembro e janeiro, apareciam aos pares, quando ento, se
tornavam

territorialistas,

expulsando

peixes

do

gnero

Astyanax e os perseguindo, quando estes eventualmente se


aproximavam do seu territrio. Foram observados apenas no
ponto amostral III. Nenhum exemplar tinha comprimento
superior a 8 ou 9 cm.

Fotografia 13. Characidium cf. serrano. Fonte: Buckup & Reis (1997).

48

Famlia Curimatidae
Steindachnerina biornata (Braga & Azpelicueta,
1987) Biru.
Espcie de pequeno porte, corpo robusto, boca voltada
para baixo, sem dentes. Colorao prateada com mancha escura
no pednculo caudal (Fotografia 14). Foi amostrada no ponto
III. Nada em cardumes, em poos de guas calmas, com mais
de um metro de profundidade e substrato de fundo constitudo
por areia e lodo. Hbito alimentar ilifago. Maior exemplar:
15,5 cm de Ct, e 45,7g de Pt.

Fotografia 14. Steindachnerina biornata.

49

Famlia Erythrinidae
Hoplias cf. australis Oyakawa & Mattox, 2009
Trara.
Espcie de mdio porte, colorao marrom escura.
Lngua lisa, sem dentculos, dentes caniniformes (Fotografia
15). Foi amostrada em todos os pontos, sendo que as capturas
se concentraram em locais pedregosos e de guas rpidas. As
capturas desta espcie se deram somente pela noite. Nas
verificaes

do

trato

digestrio,

os

itens

alimentares

encontrados com mais abundncia foram peixes diversos,


seguidos pelo crustceo Aegla sp. Nos meses de Dezembro e
Janeiro, alguns espcimes foram observados cuidando de suas
desovas em locais rasos, de gua parada, protegidos por pedras.
Maior exemplar: 35,9 cm de Ct e 520g de Pt.

Fotografia 15. Hoplias cf. australis.

50

Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Trara


Espcie de mdio a grande porte, colorao escura e ou
amarelada com grandes mculas dispostas longitudinalmente
pela lateral do corpo (Fotografia 16). Lngua spera, com
numerosos dentculos, e dentes caniniformes. Amostrada nos
pontos amostrais II e III, em diversos tipos de ambientes, com
maior incidncia em poos de guas calmas. Nos perodos mais
quentes e ensolarados, indivduos jovens (15 30 cm de
comprimento total) eram vistos prximo superfcie,
protegidos por galhos ou troncos semi-submersos. Ainda,
adultos foram observados em ninhos escavados no lodo e
folhio, em locais rasos com gua parada, cuidando de sua
desova. Nos estmagos dos exemplares analisados, foram
encontrados exclusivamente restos de Astyanax sp., hbito
alimentar j observado por Loureiro & Hahn, (1996), em um
reservatrio no Paran. s vezes, esta espcie usada no
controle populacional de outras espcies de peixes nos audes
da regio, principalmente Cicldeos dos gneros Geophagus e
Oreochromis.
Ainda

podem

ser

encontrados

exemplares

de

considervel porte, em reservatrios em que no existe


nenhuma outra espcie de peixe. Isto indica que sua dieta deve
ser mais ampla, e se ajusta conforme a disponibilidade e tipo de
51

alimento. O maior exemplar capturado nas amostragens no Rio


Estreito, pertencia a esta espcie, media 49,1 cm de
comprimento total (Ct), e pesava 1,456 kg de peso total (Pt).

Fotografia 16. Hoplias malabaricus.

52

Ordem: Siluriformes
Famlia Heptapteridae
Heptapterus cf. truncatorostris (Borodin, 1927)
Barriga-mole
Espcie de mdio porte, corpo serpentiforme. Colorao
castanho-escura.

Olhos

pequenos

voltados

para

cima

(Fotografia 17). Foi encontrada nos trs pontos de amostragem,


de modo mais frequente em pequenos tributrios. No Rio
Estreito ocorreu somente em determinados locais, onde o rio
possua uma calha mais estreita com o fundo pedregoso. Nos
pequenos crregos onde foi comum sua observao, foi visto
principalmente em pequenos poos com mais de 30 cm de
profundidade, se escondendo em cavidades no barranco ou sob
pedras, saindo destes locais, somente noite ou com a gua
turva. Os exemplares que tiveram os estmagos analisados
quanto ao seu contedo, apresentavam principalmente o
crustceo Aegla sp., e insetos adultos das ordens Hemiptera e
Coleoptera. Maior exemplar: 21,8 cm de Ct e 47,6g de Pt.

53

Fotografia 17. Heptapterus cf. truncatorostris.

54

Rhamdella longiuscula Lucena & Silva, 1991 Mandi


Espcie de mdio porte, colorao marrom, espinhos
peitorais pungentes, duas faixas escuras intercaladas por uma
clara ao longo da lateral do corpo (Fotografia 18). Amostrada
nos pontos II e III em diversos ambientes, mas com restries a
trechos com fundo lodoso. A espcie se mostrou mais ativa
durante a noite ou com a gua turva. Os espcimes que tiveram
seu trato gstrico analisado possuam pequenos colepteros
adultos, larvas de Trichoptera, e caranguejos Aegla sp. Maior
exemplar: 21 cm de Ct e 55,5g de Pt.

Fotografia 18. Rhamdella longiuscula.

55

Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) - Jundi


Espcie de mdio porte, no apresenta espinhos
pungentes. Colorao variando do negro a tons castanhos, de
acordo com a turbidez da gua e luminosidade incidente
(Fotografia 19). Foi coletada e por vezes observada, nos trs
pontos amostrais. Durante o dia, com a gua lmpida,
permanecem sob rochas ou mesmo cavidades no barranco.
noite ou com a gua turva, foram capturados em diversos
ambientes, com prevalncia em locais de correnteza leve. A
dieta constatada muito variada, incluindo frutos de C.
vernalis,

Matayba

elaeagnoides

(Sapindaceae),

insetos

diversos, lambaris (Astyanax sp. e Bryconamericus sp.) e em


com grande freqncia, o crustceo Aegla sp. Maior exemplar
38,1 cm de Ct e 439g de Pt.

Fotografia 19. Rhamdia quelen.

56

Famlia Loricariidae
Ancistrus cf. agostinhoi Bifi, Pavanelli & Zawadzki,
2009 Cascudo
Espcie de pequeno porte, tentculos curtos na parte
superior da cabea. Espinhos curvos no oprculo. Corpo
recoberto

por

mculas

claras

(Fotografia

20).

Foram

amostrados quatro exemplares durante a secagem natural de


uma poa, devido uma forte estiagem, em um canal secundrio
do rio, no ponto amostral III. Ilifago, conforme outros
loricardeos, no foram observados forrageando nenhuma vez
durante as observaes noturnas e diurnas. Deduz-se que se
alimentam sob as rochas ou em outros locais protegidos, o que
explica sua no amostragem em outras modalidades de pesca.
Maior exemplar: Ct 13,1 cm; Pt 34,7g.

Fotografia 20. Ancistrus cf. agostinhoi.

57

Ancistrus sp.
Espcie de pequeno porte, tentculos longos na parte
superior da cabea. Espinhos curvos no oprculo. Corpo
recoberto

por

mculas

claras

(Fotografia

21).

Foram

amostrados cinco exemplares enquanto estes permaneciam


junto de sua desova em tocas no barranco do rio. Seguindo o
exemplo da espcie anterior, o local tambm ficava em um
canal secundrio, porm com um fluxo de gua maior. As tocas
tinham cerca de 20 a 30 cm de profundidade, e continham de
100 150 ovas de cor amarela, presas umas as outras, em
formato de cacho. Coletados no ponto amostral III. Maior
exemplar: 14,5 cm de Ct e 48,3g de Pt.

Fotografia 21. Ancistrus sp.

58

Hemiancistrus fuliginosus Malabarba & Cardoso,


1999 - Cascudo
Espcie de mdio porte, colorao variando de marrom
claro ao escuro, conforme a turbidez da gua. Apresenta
espinhos no oprculo (Fotografia 22). Peixe ilifago. Foram
amostrados em todos os pontos amostrais, com grande
frequncia. Facilmente observados durante a noite forrageando
algas e particulado preso nas rochas, sob as quais, se refugiam
durante o dia. Amostrados em vrios tipos de ambientes no rio,
desde profundidades de 30 cm at lugares com mais de 3
metros. Parecem ter predileo por locais com correnteza leve
a moderada. Maior exemplar: 21,4cm de Ct, e Pt de123g.

Fotografia 22. Hemiancistrus fuliginosus.

59

Hisonotus cf. aky (Azpelicueta, Casciotta, Almirn &


Krber, 2004)
Espcie de porte bastante reduzido, sendo que as
espcies deste gnero raramente ultrapassam 6 cm.. Colorao
verde, camuflando-os no meio em que vive (Fotografia 23).
Amostrado apenas no ponto III em locais de guas calmas. Foi
visto diversas vezes se alimentando de algas e detritos presos a
pequenos ramos ou folhas que alcanam gua a partir do
barranco do rio. Maior exemplar: Ct de 5,5cm e um Pt de 1,8g.

Fotografia 23. Hisonotus cf. aky.

60

Hypostomus commersoni Valenciennes, 1836


Cascudo Trepa-pau
Espcie de mdio a grande porte, colorao marrom,
recoberto por pequenas mculas negras (Fotografia 24). Foi
amostrado em todos os pontos pesquisados. Capturado em
diversos ambientes, sendo que no se pde detectar um algum
local preferencial para esta espcie no rio. Nos meses de
novembro e dezembro, adultos escavam tocas com mais de 1 m
de comprimento (algumas com at 2 m) no barranco do rio,
para realizarem l sua desova. Estas tocas so abandonadas
aps o perodo reprodutivo. Com a gua lmpida, durante o dia,
costumam ficar escondidos sob rochas e fendas. Durante a
noite, forrageiam sob rochas e locais com fundo lodoso. Hbito
alimentar: Ilifago. Maior exemplar: 47,5 cm de Ct. e 818g de
Pt.

Fotografia 24. Hypostomus commersoni.

61

Hypostomus isbrueckeri Reis, Weber & Malabarba,


1990 Cascudo
Espcie de mdio porte, colorao marrom clara,
recoberta de mculas escuras

(Fotografia 25). Foram

amostrados nos pontos II e III, em poos com mais de um


metro de profundidade, guas de correnteza fraca, e fundo
pedregoso. Hbito alimentar: Ilifago. Maior exemplar: 25,1cm
de Ct, e 198,9g, de Pt.

Fotografia 25. Hypostomus isbrueckeri.

62

Rineloricaria cf. zaina Ghazzi, 2008 Violinha


Espcie de pequeno porte, corpo achatado e esbelto.
Colorao marrom-clara, com listras escuras transversais
(Fotografia 26). Machos com muitas cerdas nas laterais da
cabea. Foi amostrada em todos os pontos. Presente em todos
os ambientes do rio, desde que com fundo rochoso. Loricardeo
de hbitos preferencialmente noturnos, mas esporadicamente
eram capturados durante o dia com a gua lmpida. Hbito
alimentar: Ilifago. Maior exemplar: 16,4cm de Ct; e 19,8g. de
Pt.

Fotografia 26. Rineloricaria cf. zaina.

63

Famlia Pseudopimelodidae
Microglanis eurystoma Malabarba & Mahler Jr., 1998
- Roncador
Espcie de pequeno porte, com faixas verticais
distribudas pelo corpo. Barbilhes maxilares curtos e espinhos
dorsal e peitoral pungentes (Fotografia 27). Ao manusear esta
espcie sem luvas, seus espinhos podem causar punes na
pele, causando dor e sensao de queimao. Foi amostrada
somente no ponto III, durante a secagem de uma poa em um
canal secundrio do rio. Em entrevistas, e conforme j havia
sido percebido pelo autor em outras oportunidades, esta espcie
pode ser considerada rara, somente sendo capturada em
ocasies em que o rio se encontra acima de seu nvel normal e
com elevada turbidez da gua, mesmo assim, com raridade. Ao
ser retirado da gua, emite um som caracterstico, ao
movimentar as nadadeiras peitorais para frente e para trs.
Embora o autor j tenha encontrado exemplares de mais de 8
cm de comprimento total, o espcime coletado neste trabalho
possua um Ct de 4,3 cm e 1,3g de Pt.

64

Fotografia 27. Microglanis eurystoma.

65

Ordem: Perciformes
Famlia Cichlidae
Australoheros cf. forquilha Rican & Kullander, 2008
Car
Espcie de pequeno porte, colorido azulado, e
nadadeiras alaranjadas. Corpo alto e ovalado, com faixas
cinzentas transversais e uma mcula escura no centro
(Fotografia 28). Encontrado no ponto amostral I com maior
frequncia em relao ao ponto II, no ocorrendo no ponto III.
sempre capturados em casais. Aparentemente possuem
predileo por trechos sombreados, com leve correnteza e
fundo rochoso. Em anlise do contedo estomacal, verificou-se
a presena de detrito de origens vegetais e pequenos bivalves.
Maior exemplar: Ct de 17 cm e 93,3g de Pt.

Fotografia 28. Australoheros cf. forquilha.

66

Crenicichla igara Lucena & Kullander, 1992 Joaninha


Espcie de mdio porte, colorido verde-azulado, com o
corpo recoberto de pequenas mculas escuras (Fotografia 29).
Foi nica do gnero presente nos trs pontos amostrais.
Capturada e visualizada em diversos ambientes com fundo
rochoso. Geralmente vista aos pares, e na poca de reproduo
(novembro, dezembro e janeiro), podia ser visualizada
cuidando da prole em guas rasas. Em uma ocasio, um par foi
observado executando uma espcie de dana em um local
raso, possivelmente um ritual de acasalamento. Os dois
apresentavam na ocasio uma faixa de tom avermelhado ao
longo do corpo (colorao comum entre adultos das trs
espcies de Crenicichla no Rio Estreito, na poca de
reproduo). No trato digestivo de alguns exemplares, foram
encontrados fragmentos de pequenos peixes, e apndices de
Aegla sp. Maior exemplar: Ct de 25,5 cm e 160,3g. de Pt.

67

Fotografia 29. Crenicichla igara.

68

Crenicichla missioneira Lucena & Kullander, 1992


Joaninha
Espcie de mdio porte, colorao verde-azulada, sete
mculas quadradas contrastantes no dorso (Fotografia 30).
Foram amostrados indivduos desta espcie nos pontos II e III.
Seus hbitos alimentares e de distribuio pelos ambientes do
rio, foram semelhantes com os observados em C. igara. Maior
exemplar: 23,5 cm de Ct, e 132,5g de Pt.

Fotografia 30. Crenicichla missioneira.

69

Crenicichla tendybaguassu Lucena & Kullander, 1992


Joaninha
Espcie de pequeno porte, colorido verde-azulado, com
pequenas maculas por todo o corpo. Lbios hipertrofiados
(Fotografia 31). Esta espcie ocorreu apenas no ponto III, em
ambientes semelhantes aos ocupados por C. igara e C.
missioneira. Em anlise de seu trato digestivo foram
encontrados fragmentos de conchas de moluscos bivalves e
gastrpodes. Maior exemplar: Ct de 19,3 cm e Pt de 70,7g.

Fotografia 31. Crenicichla tendybaguassu.

70

Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824)


Acar
Espcie de mdio porte, corpo alto e com mcula escura
na lateral (Fotografia 32). Foi muito comum em todos os
pontos

amostrais.

Capturada

visualizada

em

vrios

ambientes, com preferncia para locais de guas calmas e com


fundo lodoso e/ou com folhio. Durante o perodo reprodutivo,
nos meses mais quentes, o macho constri um ninho, que
consiste em uma pequena depresso, no fundo lodoso do rio
prximo da margem, onde a fmea deposita os ovos. Podem
nadar solitrios ou em pequenos grupos de 3 a 6 indivduos.
Durante a noite, ficam estticos em locais rasos. Tem
um interessante comportamento de defesa: ao ser encurralado,
se esta em um local com fundo composto por folhio,
velozmente se projeta contra este substrato, ficando ali,
completamente escondido, se localizado e manipulado,
continua

esttico

por

um

bom

tempo.

Em

anlises

macroscpicas feitas do contedo estomacal de alguns


espcimes, somente se verificou detritos de origem vegetal,
porm Rodrigues et al, (2007), em verificao aprofundada,
encontraram vrios itens, tanto de origem animal, quanto
vegetal, concernindo a esta espcie um habito alimentar
onvoro. Maior exemplar: Ct de 23 cm e 224,6g de Pt.
71

Fotografia 32. Geophagus brasiliensis.

72

Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) Tilpia


Espcie extica, de mdio porte. Colorao acinzentada
(Fotografia 33). Foram amostrados dois exemplares jovens, no
ponto III, em um pequeno afluente. Como em C. carpio, a
ocorrncia desta espcie esta relacionada fuga de criatrios,
porm, at agora no foi detectada nenhuma populao estvel
desta espcie nos rios da regio. Para o controle populacional
desta espcie em audes e tanques, alguns produtores tm
introduzido peixes piscvoros do gnero Hoplias, obtendo
sucesso. Maior exemplar: 8,1 cm de Ct e 10,4g de Pt.

Fotografia 33. Oreochromis niloticus.

73

DISCUSSO

A RESPEITO DA RIQUEZA

Similaridade com outros rios


Torna-se difcil fazer comparaes entre a riqueza
encontrada no Rio Estreito com o resultado de outros estudos
parecidos. Dentro da mesma bacia hidrogrfica - Rio do Peixe , tem-se o conhecimento de apenas um levantamento
publicado, feito por Segalin (2008) no prprio Rio do Peixe,
que tem um porte consideravelmente maior, sendo que na
ocasio foram usadas metodologias diferentes. Alm disto, nos
ltimos dez anos, foram feitas inmeras revises taxonmicas
com a descrio de novas espcies, e a maioria dos trabalhos de
levantamento de ictiofauna para a regio do alto Rio Uruguai
foram feitos embasados em material antigo. Um exemplo atual
a descrio de uma nova espcie do gnero Hoplias para os
rios da regio. At 2009, se conheciam para o alto Rio Uruguai
as espcies H. malabaricus e H. lacerdae. Neste mesmo ano,
Mattox e Oyakawa, descrevem H. australis, que at ento
podia ser identificada erroneamente como H. lacerdae. A partir
deste trabalho, passaram a ser conhecidas trs espcies validas
de Hoplias para o Rio Uruguai, muitas vezes ocorrendo em
74

simpatria. Do mesmo modo, vrios outros gneros de peixes


regionais passaram a comportar um nmero maior de espcies
nos ltimos anos: Astyanax, Characidium, Phalloceros,
Australoheros,

Ancistrus,

Microglanis,

Hisonotus,

Rineloricaria, Hemiancistrus, Crenicichla.


Deve-se

considerar,

portanto,

inapropriado

fazer

comparaes dos resultados deste trabalho com outros


semelhantes, a menos que se tenha acesso ao material coletado
por estes outros, e se faa um novo enquadramento do material
com as atuais revises taxonmicas.

Similaridade entre os pontos amostrais


Os resultados heterogneos de riqueza, observados
entre os pontos amostrais, principalmente entre os pontos I e
III, devem ter relao direta com o acidente geogrfico
(cascata) entre estes dois pontos. Porm, a diferena de
similaridade entre os pontos II e III no deve estar relacionada
com isso, mas possivelmente por diferenas nas caractersticas
do leito do rio: rochoso, raso e correntoso no ponto II, e mais
profundo, com pontos de remanso e fundo lodoso no ponto III.

75

ESPCIES

NO

AMOSTRADAS,

CITADAS

EM

ENTREVISTAS

Trs espcies no amostradas foram reconhecidas para


o Rio Estreito, atravs de entrevistas com moradores da regio,
e pescadores. A primeira, Salminus brasiliensis (Cuvier, 1817)
- Dourado, j no mais observada a mais de 60 anos, espcie
citada pelos entrevistados porm no chegaram a conhec-la,
mas trazem consigo relatos dos primeiros colonizadores da
regio. Tendo como base o trabalho de Silva et al (2008), que
atravs de dados como volume de gua e tamanho das bacias
hidrogrficas, estabeleceram os rios com ocorrncia ou com
condies de abrigar S. brasiliensis, deve-se considerar que na
parte baixa do Rio Estreito, esta espcie pode ter ocorrido,
juntamente com outra espcie de grande porte, Prochilodus
lineatus (Valenciennes, 1836) - Grumato. Atualmente,
existem relatos da captura de exemplares destas espcies na
parte baixa da bacia hidrogrfica do Rio do Peixe.
Outras duas espcies parecem ter desaparecido do rio
recentemente, h pelo menos 20 anos: Hypostomus luteus
(Godoy,

1990)

Cascudo-amarelo

Loricariidae;

Eigenmannia virescens (Valencienes, 1842) - Espada


Sternopygidae. As duas, ao contrrio de S. brasiliensis, no so
76

to

dependentes

de

grandes

rios,

sendo

encontradas,

principalmente E. virescens, em rios menores que o Rio


Estreito.

Atualmente,

estas

duas

espcies

podem

ser

encontradas no Rio do Peixe, desde sua parte baixa, at regies


acima da foz do Rio Estreito (SEGALIN, com. pess.).

RECURSOS TRFICOS IMPORTANTES

As anlises feitas do contedo estomacal dos peixes do


Rio Estreito revelaram uma grande gama de itens por eles
usados como alimento, tanto de origem autctone como
alctone.

Das

famlias

Cyprinidae,

Crenuchidae

Pseudopimelodidae no foram analisados espcimes, devido o


baixo nmero de amostragens destas.
As espcies das famlias Loricariidae e Curimatidae
foram consideradas ilifagas, devido presena exclusiva de
detritos em seus estmagos e intestinos. Estes detritos
macroscopicamente no puderam ser identificados, mas os
peixes destas famlias foram frequentemente visualizados se
alimentando de algas e material particulado preso e ou
sedimentado no fundo do rio e em outras estruturas.
O restante das famlias apresentou a maior variabilidade
quanto aos seus itens alimentares, com destaque para larvas
77

aquticas de diversas ordens de insetos, em especial Dptera e


Trichoptera. Insetos adultos que caem na gua, tambm foram
predados, principalmente das ordens Orthoptera e Coleptera.
As espcies dos gneros Hoplias e Oligosarcus apresentaram
freqentemente

pequenos

exemplares

de

Astyanax

Bryconamericus no seu trato digestivo. Fragmentos de


Bivalves e de Gastrpodes estiveram presentes no trato
digestivo de duas espcies de Cichlidae.
Pequenos frutos e sementes de rvores fizeram parte da
dieta de espcies do gnero Astyanax, Oligosarcus e Rhamdia,
durante as pocas de frutificao, com destaque para Eugenia
sp. (Myrtaceae), Cupaina vernalis (Sapindaceae) e Matayba
elaeagnoides (Sapindaceae), indicando a importncia destas
espcies na composio da mata ripria (Fotografia 34).
Encontrado no trato digestivo de oito espcies, o
crustceo Aegla sp., foi um dos mais importantes itens
alimentares observados. Estes caranguejos foram encontrados
em diversos ambientes, com preferncia para locais onde
houvesse esconderijos: para os adultos, fendas nas rochas e sob
troncos, e para as formas jovens, folhio. Nos tributrios
estudados, tambm foram abundantes (Fotografias 35 e 36).

78

Fotografia 34. Sementes de M. elaeagnoides retiradas do trato digestivo de


uma fmea madura de Rhamdia quelen. Nota-se tambm a presena de
fragmentos de Orthoptera e de Aegla sp.

Fotografia 35. Fragmentos de Aegla sp. e um Astyanax sp., semi-digeridos


retirados do trato digestivo de um exemplar de Rhamdia quelen.

79

Fotografia 36. Caraguejo Aegla sp.

80

ALTERAES SOFRIDAS E PERSPECTIVAS PARA O


RIO ESTREITO

Foram ouvidos relatos de moradores que vivem


prximo ao Rio Estreito, de que as caractersticas deste j no
so mais as mesmas apresentadas h algum tempo atrs. Entre
as mudanas, citam a acelerada perda do volume de gua aps
perodos chuvosos, rpida tonalizao de verde de suas guas
aps alguns dias de estiagem, e principalmente, a diminuio
da piscosidade, principalmente em termos de quantidade, mas
tambm com relao ao tamanho atingido por algumas
espcies, que parecem no atingir o mesmo porte que atingiam
no passado. Relatam tambm, o aparente desaparecimento de
algumas espcies nos ltimos anos.
Na regio da foz do Rio Estreito, o Rio do Peixe
possua guas rpidas antes da construo de uma barragem, e
esta inclusive, modificou as caractersticas originais do prprio
Rio Estreito na sua poro final, tornando-o represado. As
guas naquele ponto, outrora rpidas, se tornaram lentas, o que
de alguma forma, pode ter interferido nos hbitos migratrios
de determinadas espcies de peixes que preferem ambientes
lticos para se deslocar.

81

Fazendo-se projees para o futuro do Rio, algumas


alteraes antrpicas ainda podem influenciar em sua dinmica
e biodiversidade. Caractersticas como, corredeiras, cascatas e
margens ngremes, so muito vislumbradas quando se procura
lugares em rios para a implantao de usinas hidreltricas,
devido ao custo de implantao ser menor, e os ganhos
energticos serem maiores. Isto faz do Rio Estreito, um timo
lugar para a implantao de pequenas centrais hidreltricas
(PCHs), e estas podem vir a interferir nas atuais caractersticas
fsicas e qumicas da gua, e consequentemente, podem ocorrer
mudanas ecolgicas no rio e seu entorno.
No entanto, nos ltimos anos vem se observando uma
grande recuperao da cobertura vegetal da regio. Grande
parte das lavouras fora abandonada, permanecendo somente
aquelas localizadas em locais em que possvel a mecanizao
da produo. Estas reas que deixaram de ser usadas para fins
agrcolas, hoje se encontram recobertas com vegetao
formada a partir de regenerao natural,

ou atravs

reflorestamento. De qualquer modo, este aumento da cobertura


vegetal (extica ou no), protege o solo, amenizando a eroso e
seus efeitos sobre o rio.

82

CONSIDERAES FINAIS

Com este trabalho, um prvio conhecimento da


ictiofauna do Rio Estreito foi formado, principalmente quanto
identificao e nmero de espcies ali presentes. A possvel
perda ou extino local de trs espcies tambm foi detectada
em

entrevistas.

Algumas

espcies

ainda

no

foram

identificadas com preciso, ou possivelmente representem


espcies novas, necessitando uma anlise morfolgica mais
refinada. Estudos aprofundados da morfologia, ecologia ou
mesmo genticos, devem ser aplicados a algumas espcies em
especial:
Bryconamericus iheringii,

que apresenta

uma

populao com hbitos ambientais e morfologia diferente entre


o ponto amostral I e os pontos II e III;
Astyanax saguazu e Oligosarcus brevioris, que
apresentaram tamanhos mximos inferiores no ponto amostral
I, quando comparados com os espcimes dos pontos II e III;

Australoheros

cf.

forquilha,

amostrado

frequentemente no ponto I, foi raro no ponto II e ausente no III,


indicando certo isolamento desta espcie para a regio a
montante da cascata. Fazem-se necessrios maiores estudos da

83

morfologia desta espcie, pois existe a possibilidade de ser uma


espcie nova e endmica.
As anlises de contedo estomacal indicaram a
frugivoria por parte de algumas espcies. Este hbito alimentar
deve ser mais bem estudado e compreendido, tendo em vista
que muitos trechos do rio no possuem mais mata ripria, e
atitudes de recuperao destas reas devem levar em
considerao, alm de vrios outros aspectos, a interao com a
ictiofauna local.

84

CONCLUSES
Foram identificadas 32 espcies de peixes nos trs
pontos amostrais analisados;
O ponto amostral III apresentou a maior riqueza, com
31 espcies, e o ponto I, a montante de um acidente geogrfico,
a menor, com 16 espcies;
Os itens alimentares mais importantes observados no
trato digestivo das espcies analisadas foram larvas e insetos
adultos, crustceos, detritos e pequenos frutos;
A maior parte dos peixes observados foi encontrada
em locais sombreados, com mata ripria preservada. reas com
guas rasas foram ocupadas principalmente por juvenis de
diversas espcies, sendo que os adultos foram observados e
capturados em locais com mais de 50 cm de profundidade.

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