Ministério Da Saúde
Ministério Da Saúde
Ministério Da Saúde
30
na Campanha de Erradicação da Varíola
PNI: UMA VITÓRIA DO BRASIL
(CEV), lançada pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) e à qual o Brasil aderira. A P r o g rama N ac i o na l MOACYR SCLIAR
anos
OMS partira de um princípio acertado: dado
que o único reservatório do vírus da varíola
é o ser humano, se uma parcela suficiente da
população mundial fosse imunizada, o agen- de I mun i za ç õ e s E m 2004 completará um século a pri-
meira campanha de vacinação em
massa feita no Brasil. Idealizada por nin-
te causador da doença seria eliminado. Para guém menos do que Oswaldo Cruz, o fun-
isso, a participação do nosso País onde ainda dador da saúde pública no País tinha por
existiam muitos casos da doença era essen- objetivo controlar a varíola, que então
cial. A massiva campanha mundial deu dizimava boa parte da população do Rio de
resultado: pela primeira vez na história da
humanidade uma doença foi erradicada, isto
30 anos Janeiro. Cem anos após a introdução da
vacina, esse nos parece um objetivo exe-
é, deixou de existir. A erradicação de outras qüível. No entanto, a iniciativa de
doenças infecciosas não seria tão fácil, mas Oswaldo Cruz resultou em fracasso e em
uma redução muito significativa do número grave conflito: os protestos contra a vaci-
de casos era possível. nação obrigatória foram num crescendo
P r o g rama N ac i o na l d e I m u n i z a ç õ e s
até eclodirem na chamada Revolta da
Em 1973, a partir de uma proposta elabora- Vacina, que transformou as ruas da então
da por técnicos do Ministério assessorados capital federal em verdadeiro campo de
por respeitados sanitaristas e infectologistas, batalha, com barricadas que lembravam a
foi formulado o Programa Nacional de Comuna de Paris, ocorrida alguns anos
Imunizações (PNI). Uma das grandes inova- antes. O conflito deixou mortos e feridos;
ções do Programa foi o Dia Nacional de a obrigatoriedade da vacinação foi revoga-
Vacinação contra a Poliomielite, estratégia da. Seguiu-se uma epidemia da doença,
apoiada pelo descobridor da vacina oral que resultou em milhares de vítimas.
contra a pólio, Albert Sabin, e que se revelou
extraordinário sucesso. O Brasil não registra Esse episódio ilustra um dos problemas
casos da doença desde 1989, e recebeu da enfrentados por aqueles que se preocupam
OMS, em 1994, o Certificado de Erradicação em levar a vacina, clássico instrumento da
da Poliomielite. O PNI tem várias doenças saúde pública, à população. Outros existem:
como alvo: sarampo, difteria, tétano, coque- a falta de recursos, a dificuldade logística.
luche, tuberculose, influenza (gripe) e Obstáculos que no Brasil, traumatizado pela
outras, com vacinas aplicadas não só em lembrança da Revolta da Vacina, pareciam
crianças como em adultos, principalmente insuperáveis. Por tudo isso, é gratificante
mulheres e idosos. É apoiado pela OMS, lembrar que em 2003 completa três décadas
pelo Unicef, recebe contribuições do Rotary um dos programas de vacinação mais bem-
Internacional e do Programa das Nações sucedidos do mundo, o PNI, ou Programa
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Nacional de Imunizações, de cuja implanta-
Aliás, o Brasil tem levado sua experiência ção posso, inclusive, dar testemunho pessoal.
em vacinações a vários países. Médico de saúde pública, à época trabalha-
va na Secretaria Estadual da Saúde no Rio
O PNI é um êxito. Programa dirigido a toda Grande do Sul, onde acabara de ser criada
a população, tem recebido entusiástica ade- uma Unidade de Vigilância Epidemiológica
são, como se comprova a cada Dia Nacional que, mercê da alta qualidade de seu traba-
de Vacinação. É uma prova da capacidade lho, tornara-se um modelo não só para o
do País de se organizar para enfrentar seus Brasil como para muitos outros países, ser-
não poucos problemas. E é uma mensagem vindo inclusive de campo de estágio para
de confiança no futuro. Ministério técnicos. Essa Unidade teve papel destacado
da Saúde Brasília – DF
2003
na Campanha de Erradicação da Varíola
PNI: UMA VITÓRIA DO BRASIL
(CEV), lançada pela Organização Mundial
MOACYR SCLIAR da Saúde (OMS) e à qual o Brasil aderira. A
OMS partira de um princípio acertado: dado
P r o g rama N ac i o na l
de I mun i za ç õ e s
30 anos
Brasília – DF
2003
SUMÁRIO
| SUMÁRIO
SUMÁRIO
A P R E S E N TA Ç Ã O
Uma saúde sem excluídos 4
CAPÍTULO 1
PNI — Referência mundial 6
CAPÍTULO 2
Pela eficácia das vacinas 56
CAPÍTULO 3
Cenas da vida real 134
CAPÍTULO 4
Vacinas para todos 190
C RÉDITOS
Agradecimentos 206
30 ANOS DO PNI |3
A P R E S E N TA Ç Ã O
Uma saúde sem excluídos
| A P R E S E N TA Ç Ã O
Desde que foi criado, em 18 de setembro de 1973, o PNI procura não apenas
cumprir sua missão. Nessas três décadas, tornou-se ação de governo caracteri-
zada pela inclusão social, na medida em que assiste todas as pessoas, em todos
os recantos do País, sem distinção de qualquer natureza. Seja rico ou pobre,
more no litoral ou nos sertões, seja velho ou jovem, o brasileiro sabe que pode
contar com vacina de boa qualidade em todos os momentos de sua vida.
30 ANOS DO PNI |5
CAPÍTULO 1
PNI – Referência mundial
PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
CAPÍTULO 1
PNI – R EFERÊNCIA MUNDIAL
30 A N O S D O PNI |7
C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
POLIOMIELITE
INCIDÊNCIA X COBERTURA VACINAL DE MENORES DE 5 ANOS EM
DUAS ETAPAS ANUAIS DE CAMPANHA NACIONAL COM USO DA VACINA ORAL
Brasil, 1968-2002
80
3
60
2
Taxa de incidência
1ª Campanha
2ª Campanha 40
1
20
0 0
68 70 72 74 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02
8| 30 A N O S D O PNI
PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
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C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
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PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
SARAMPO
INCIDÊNCIA X COBERTURA VACINAL DE MENORES DE 1 ANO EM AÇÕES DE ROTINA
Brasil, 1990-2002
Cob.Vac. (%) Coef.Inc./100.000 hab.
100
80
60
40
20
0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Cob.Vac. 78 85 91 85 78 89 80 100 96 99 100 100 94,52
Coef.Inc. 42,83 28,95 5,3 1,58 0,82 0,62 0,41 33,6 1,72 0,55 0,02 0 0
30 A N O S D O PNI | 11
C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
TÉTANO NEONATAL
NÚMERO DE CASOS CONFIRMADOS
Brasil, 1982-2003*
Nº de casos
600
500
Implantação do Plano
de Eliminação
400
300
200
100
0
82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 2000 2001 2002 2003
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PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
Se é difícil vacinar nos extremos do País, mais difícil ainda talvez seja garantir
a imunização nas grandes metrópoles, a começar pela tendência natural de se
acreditar que, ali, existem todos os recursos e meios. Sim, existem. Mas a popu-
lação é imensa em metrópoles como São Paulo (mais de 20 milhões de habitan-
tes na região metropolitana) e Rio de Janeiro (mais de 10 milhões de habitantes
na região metropolitana).
Por mais abundantes que sejam os recursos, por mais competentes e nume-
rosas que sejam as equipes, por mais facilidades que ofereçam o asfalto, os
veículos, a energia elétrica instalada, o desafio é absurdamente grande.
Ninguém imagina, por exemplo, que no território da capital paulista existem
locais aonde só se chega de barco — e onde vivem milhares de brasileiros.
As favelas, com seus becos, vielas, labirintos, barram a passagem das vaci-
nadoras, dificultam o acesso dos moradores aos postos de vacinação. As
coordenações regionais têm de montar estruturas complexas, as diretorias
regionais têm de manter uma organização permanente, para que o trabalho
seja em série, para alcançar todos os lugares.
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C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
90
10
80
70
8
60
50 6
40
4
30
20
2
10
0 0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Cob.Vac. 66 78 71 75 74 84 75 79 94 94 95 97 96
Dif.Coef.Inc. 0,45 0,34 0,18 0,17 0,16 0,11 0,11 0,08 0,05 0,03 0,03 0,02 0,03
Coq.Coef.Inc. 10,69 4,94 3,45 3,56 2,67 2,44 0,79 1,3 1,08 0,85 0,75 0,49 0,38
T.A.Coef.Inc. 1,05 0,99 0,88 0,84 0,68 0,62 0,65 0,57 0,42 0,36 0,31 0,31 0,2
A morbidade por ainda de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo. Entre essas mulheres,
difteria, coqueluche e
tétano acidental vem
como se sabe, registra-se índice elevado de casos de hepatites virais, além de
decaindo. A vacinação aids e outras doenças sexualmente transmissíveis. O normal, quando se lida
contra essas doenças
deve ser realizada com usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo, é levar a vacinação
logo na infância.
para eles à noite, nos locais onde trabalham, freqüentam. Nesse fórum,
Recomenda-se que
a vacinação seja porém, as mulheres pediram que a vacina não seja levada à noite. Elas que-
administrada em bebês
aos 2, 4 e 6 meses, com
rem construir a cidadania delas, entrar no posto de saúde e ter o direito a
reforço aos 15 meses. receber a vacina, como todo cidadão.
Na troca de idéias com elas, o pessoal do PNI sabe que é importante falar
sobre vacinação de maneira abrangente, sem restringir a dissertação à vacina
de hepatite B. Elas devem tomar conhecimento de todo o Programa, quais as
vacinas existentes, qual a sua importância e as que devem ser aplicadas.
Entre as vacinas, a de hepatite B, disponível hoje para crianças e adolescen-
tes até 19 anos e para os grupos mais vulneráveis, interessa de perto às pro-
fissionais do sexo. Mas quando elas têm uma visão geral das imunizações,
entendem melhor o seu caso particular. É preciso aprender como chegar,
14 | 30 A N O S D O PNI
PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
como tocar as pessoas, para ganhar sua cumplicidade, e o pessoal do PNI age
com essa orientação.
Há, no entanto, aquelas situações em que a doença escapa, foge, por mais
atenção que se tenha e cuidado que se tome. É bem o que ocorre com a febre
amarela, que tem como reservatório o macaco, o mosquito hemagogo e
outros que sempre surgem e ressurgem, como o Aedes aegypti. Em se tratando
de moléstia tão fugaz, o PNI assumiu a responsabilidade de vacinar apenas
quem precisa, quem mora em área de risco, onde haja circulação demons-
trada do vírus da febre amarela. Até porque vacinas não são completamente
inócuas. Por que colocar em risco a população de um local onde não há cir-
culação do vírus? A não ser alguém que vá para lá infectado e seja picado
pelo Aedes aegypti. É preciso ser competente e vacinar os viajantes que vão
para as áreas de risco e os que residem ali.
O que o PNI não aceita é a ocorrência de casos de febre amarela nas áreas de
risco, onde obrigatoriamente se faz a vacinação sistemática, como aconteceu
recentemente em Itacoatiara (AM), na Lagoa do Macedo. A coordenação
nacional logo se fez presente ao local e, em reunião com o prefeito e a secre-
tária municipal de Saúde, veio a constatação de que a pessoa afetada deixou
sua casa por causa da cheia do rio, foi morar em outra localidade, esperan-
do as águas baixarem. Deu-se então a contaminação — sobretudo porque
essa pessoa deixou de ser vacinada.
30 A N O S D O PNI | 15
C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
Hoje, o PNI tem objetivo mais abrangente. Para os próximos cinco anos,
estão fixadas as seguintes metas:
• ampliação da auto-suficiência nacional dos produtos adquiridos e
utilizados pela população brasileira;
• produção da vacina contra Haemophilus influenzae b, da vacina
A meningite combinada tetravalente (DTP + Hib), da dupla viral (contra sarampo
tuberculosa apresenta
e rubéola) e tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba), da
maior incidência nos
primeiros 5 anos de vacina contra pneumococos e da vacina contra influenza e da vaci-
vida. Por isso,
o PNI preconiza a
na anti-rábica em cultivo celular.
vacinação com o BCG
para as crianças de
zero a 4 anos, com Em 2003, o Programa organizou e implementou um conjunto de medidas
uma dose ao nascer
voltadas aos estados e municípios, em meio a outras preocupações, tais como
e uma revacinação
na idade escolar. os processos de aperfeiçoamento do modelo e dos instrumentos de gestão,
MENINGITE TUBERCULOSA
INCIDÊNCIA X COBERTURA VACINAL DE MENORES DE 1 ANO COM BCG
Brasil, 1990-2002*
Cob.Vac. (%) Coef. Inc./100.000 hab.
100 0,4
90
0,35
80
0,3
70
0,25
60
50 0,2
40
0,15
30
0,1
20
0,05
10
0 0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Cob.Vac. 79 87 90 98 94 100 100 100 100 100 100 100 100
Coef.Inc. 0,36 0,32 0,33 0,28 0,32 0,33 0,33 0,29 0,3 0,23 0,21 0,21 0,2
16 | 30 A N O S D O PNI
PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
100
95
90
85
80
75
1999 2000 2001 2002
Fonte: CGPNI/DEVEP/SVS/MS
especialmente no que se refere à redução de perdas de vacinas e à otimi- Desde 1999, o Brasil
implementa medidas
zação das operações de distribuição e armazenagem de vacinas e demais de controle contra a
insumos. Durante a primeira etapa da campanha nacional de vacinação febre amarela silvestre,
pois registrou-se
contra a poliomielite, em junho, o PNI realizou um monitoramento das aumento de sua
incidência e existia o
coberturas vacinais para menores de 5 anos de idade nos municípios com
risco de reurbanização,
menos de 2 mil habitantes nessa faixa etária. A consolidação e análise dos pela ampla ocorrência
do mosquito Aedes
dados fornecerão subsídios para definição de estratégias específicas de aegypti. A vacinação
atuação e resolução das baixas coberturas, que têm sido observadas através é de rotina nas
áreas endêmicas
do SI-API em maior concentração nesses municípios. e de transição.
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C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
dência de 1,8 por 100 mil hab. (1982) para 0,02 por 100 mil hab. (1997).
Esses índices não refletem as variações regionais, com altas taxas nas regiões
Norte e Nordeste, onde são patentes as dificuldades de acesso. A observação
sistemática do PNI constatou que o tétano acidental vem se deslocando para
mães de faixas etárias mais avançadas, havendo necessidade de incentivar a
vacinação nesses grupos.
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PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
HEPATITE B
NÚMERO DE CASOS CONFIRMADOS X COBERTURA VACINAL DE MENORES
DE 1 ANO DE IDADE EM ROTINA COM A TERCEIRA DOSE
Brasil, 1993-2002*
8.000 90
80
7.000
70
6.000
60
5.000
50
4.000
40
3.000
30
2.000
20
1.000 10
0 0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Casos conf. 1.900 4.760 5.761 8.512 6.165 5.277 6.936 7.215 5.077 3.160
% Cobert. 13 7 13 83 99 91 89
30 A N O S D O PNI | 19
C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
25
80
20
60
15
40
10
20
5
0 0
1998 1999 2000 2001 2002
< 1a 26,11 19,38 7,38 4,32 2,51
1 - 4a 5,41 4,4 1,85 0,88 0,46
% Cob.Vac. 12 97 92 98
20 | 30 A N O S D O PNI
PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
Não se pode negar, de todo modo, que a adesão expressiva em 2003 contou
com a influência da chamada pneumonia asiática, a síndrome que matou
centenas de pessoas na China e chegou até o Canadá, entre outros países.
Esse episódio aqueceu a grande discussão que se deu na última Assembléia
Mundial de Saúde sobre a possibilidade de uma pandemia de gripe, como a
de 1918, que matou mais de 40 milhões de pessoas. Existem recomendações
para vacinar o idoso, e o Brasil já está cumprindo isso.
30 A N O S D O PNI | 21
C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
RUBÉOLA
CASOS CONFIRMADOS POR SEMANA EPIDEMIOLÓGICA
Brasil, 2000-2003*
600
500
400
300
200
100
1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 4 9 14 19 24 29 34 39 44 49 2 7 12 17 22 27 32 37 42 47 52 5 10 15 20 25
22 | 30 A N O S D O PNI
PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
São desigualdades ainda inevitáveis num universo que dispõe hoje de 22,9
mil postos públicos de vacinação (108 privados) e 36 Centros de Referência
para Imunobiológicos Especiais. Nas campanhas nacionais funcionam 130
mil postos de vacinação, que exigem um elenco de estratégias operacionais e
de logística de distribuição de vacinas e demais insumos, todas definidas
numa estreita relação com os 27 estados e os 5.560 municípios brasileiros.
30 A N O S D O PNI | 23
C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
Nº de casos
700
Suspeito
600 Confirmado
500
400
300
200
100
0
1997 1998 1999 2000 2001 2002
24 | 30 A N O S D O PNI
PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
Torna-se cada vez mais evidente, no Brasil, que a vacina é o único meio para
interromper a cadeia de transmissão de algumas doenças imunopreveníveis. O
controle das doenças só será obtido se as coberturas alcançarem índices homo-
gêneos para todos os subgrupos da população e em níveis considerados sufi-
cientes para reduzir a morbimortalidade por essas doenças. Essa é a síntese do
Programa Nacional de Imunizações, que na realidade não pertence a nenhum
governo — federal, estadual ou municipal. É da sociedade brasileira.
30 A N O S D O PNI | 25
C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
A seu ver, é essencial que o Brasil possa formar novas gerações habilitadas
a continuar tocando projetos complexos como o PNI. Afinal, vacinação
não é uma ação simples, principalmente num país como o Brasil. Manter
um programa que tenha as mesmas normas, o mesmo calendário, num
país de quase 180 milhões de habitantes, mais de 5,5 mil municípios, é
algo muito complexo. É importante destacar algumas mudanças do pro-
grama ao longo dessas três décadas. Há 30 anos, quando surgiu, era um
programa centralizado, verticalizado. Essa era a lógica da saúde pública na
época. Os municípios não tinham praticamente nenhum papel. Tudo era
feito pelo Ministério e pelas secretarias estaduais. Mas, principalmente nos
últimos quatro anos, o PNI passou por um processo de descentralização,
para se adequar a um novo momento que a nação vive. O grande execu-
26 | 30 A N O S D O PNI
PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
Prioridade
Também foi importante o fato de o Programa ter-se mantido na agenda de
prioridades do Ministério da Saúde. De 1997 para cá, multiplicou-se em
quase cinco vezes o orçamento do Ministério para a aquisição de vacinas.
Em 1999, foi introduzida no Brasil a vacinação contra gripe, algo que só
30 A N O S D O PNI | 27
C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
Municipalização
O principal desafio do programa foi, portanto, adaptar-se a uma nova realidade
da saúde e do Brasil. Houve um momento em que existiu uma disputa nos esta-
dos, principalmente entre prefeituras e governos estaduais, sobre a quem cabia a
ação. Isso não foi bom para a população. Hoje os papéis estão bem definidos.
Quem sabe onde estão as crianças a serem vacinadas, quem sabe o dia da feira,
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PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
onde precisa abrir posto, quem sabe da existência de um distrito mais distante,
é a Secretaria Municipal de Saúde. Essa é a grande vantagem da descentralização.
Há ainda o grande mérito de esse trabalho todo ser tocado com um míni-
mo de ingerência política. As campanhas de vacinação de crianças têm
sido muito protegidas, como um compromisso da sociedade. Existe, é
claro, o problema do mau gestor, independentemente de partido político,
do mau secretário municipal de saúde, do mau secretário estadual, daque-
le que não faz seu dever de casa. Mas isso diminuiu muito. A saúde é uma
área que tem se caracterizado por contar com bons gestores, bons secre-
tários, que obtêm resultados positivos quando recebem o apoio devido
dos prefeitos e dos governadores.
Ainda nessa época, o País estava desabastecido, porque tinha comprado mal
— vacina de nível inferior e menos que o necessário. Também havia uma
dificuldade orçamentária. O País estava sem uma vigilância na área. Por
conta disso, apareceram denúncias de vacinas que provocaram mortes. Isso
30 A N O S D O PNI | 29
C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
Todo esse pessoal enfrenta grandes desafios, mas desde 1992 o Brasil tem
conseguido resultados muito bons, com uma cobertura vacinal adequada, até
como efeito do processo de descentralização. O fato de o município ter assu-
mido sua responsabilidade de vacinar fez com que procurasse localizar
melhor as ações, ver em quais distritos e favelas devia fazer vacinações volan-
tes, pela dificuldade de as crianças chegarem até o posto, por exemplo.
Análise de dados
Esses bons resultados, porém, devem ser analisados com rigor. O muni-
cípio tem de analisar seus dados. Às vezes, o fato de vacinar 95% da popu-
lação não significa que foi atingido o objetivo de dar uma proteção coletiva.
Se, num universo de 100, vacina-se 95 de maneira abrangente e aleatória, é
muito pequena a chance de os 5 não vacinados se infectarem e contamina-
rem um outro não vacinado. Ou seja, não há necessidade de vacinar 100%
da população para controlar uma doença — se a distribuição for aleatória e
abrangente. Se, em determinado município, os 5% dos não vacinados estive-
rem concentrados na mesma rua, no mesmo distrito, na mesma favela, con-
sidera-se que ali o registro é de 100% de não vacinados. Se circular um vírus
nesse local, poderá acontecer um surto ou epidemia.
30 | 30 A N O S D O PNI
PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
Não se pode esquecer, porém, que ao longo desses anos houve sérios pro-
blemas, como as dificuldades com licitações de vacinas em 1996. No ano
seguinte, tomou-se a decisão de priorizar as vacinas produzidas no Brasil,
o que está ajudando a desenvolver a indústria nacional de vacinas. As
compras internacionais são feitas, também desde 1997, por intermédio do
Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana da Saúde, que assessora
os ministérios da saúde dos países. O dinheiro é enviado para a OPAS, que
adquire as vacinas, não só para o Brasil, mas para todos os países da
América que querem participar da compra. Essa aquisição de volume
multinacional barateou o preço e garantiu vacinas de qualidade.
30 A N O S D O PNI | 31
C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
Produção de vacinas
Tudo é bastante sutil, quando se trata de imunizações. A utopia da auto-sufi-
ciência, por exemplo, é apenas isso, uma utopia. Atualmente, nenhum país
é auto-suficiente em vacinas, nem deverá ser. Porque auto-suficiência signi-
fica produzir todas as vacinas de que a gente necessita — um investimento
gigantesco, para um benefício extremamente duvidoso. Seria jogar dinheiro
público fora, tratar irregularmente o dinheiro público. O que funciona é uma
política de apoio ao produtor nacional, voltado para vacinas estratégicas.
Um bom exemplo é a vacina contra a febre amarela, que não está disponí-
vel no mercado internacional. E também a vacina contra a gripe, para a
qual haverá dificuldade de abastecimento no mercado mundial, em caso de
epidemia. O Brasil tem de produzir vacinas de alto valor tecnológico agrega-
do, como a vacina contra hepatite B. Então, a política vigente é escolher
vacinas importantes de introduzir no País, por razão de mercado, de estra-
tégias de saúde pública, ou pelo valor tecnológico agregado.
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INFLUENZA
DOSES APLICADAS E COBERTURA VACINAL DURANTE AS CAMPANHAS NACIONAIS
DE VACINAÇÃO DA POPULAÇÃO IDOSA
Brasil, 1999-2003
14 000 000
12 000 000
82,13%
10 000 000 82,10% 74,06%
72,53%
8 000 000
87,34%
6 000 000
4 000 000
2 000 000
0
1999 2000 2001 2002 2003
Doses 7 519 114 9 416 979 10 775 724 11 026 124 12 361 685
Fonte: CGPNI/SVS/MS
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Credibilidade
Com esses resultados e essa solidariedade, o Programa conquistou, ao longo des-
ses anos, grande respaldo perante a comunidade médica brasileira. Sociedades
de especialistas, como a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Federação Brasileira
das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia e a Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical, convidam representantes do PNI para participarem de mesas-redondas
e conferências, porque sabem que eles têm o que dizer. Sabem que esses profis-
sionais argumentarão com base em evidências técnicas e científicas.
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PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
Essa preocupação vale até para a área médica. Na década de 1980, alguns
profissionais aderiram à homeopatia e recomendaram aos pais que não vaci-
nassem seus filhos. O resultado foi uma epidemia de sarampo em São Paulo
em 1997. Constatou-se que adolescentes da classe média paulista, na época
com 14 ou 15 anos, não foram vacinados contra sarampo quando crianças
porque os pais seguiram recomendação de pediatras. Não foi só por isso que
aconteceu a epidemia, mas também por isso. Registraram-se, naquela epide-
mia de sarampo, perto de 70.000 casos e 70 mortes. Hoje, já há dois anos
que não se registra nenhum caso de sarampo no Brasil. O resultado é fantás-
tico, mas sempre existe o risco de a doença reaparecer.
Autonomia financeira
Mais uma peculiaridade do PNI: é totalmente custeado com dinheiro
público. O Programa aceita assessoria técnica de parceiros internacionais
e da iniciativa privada, mas tem recusado os empréstimos, por acreditar
que as ações continuadas, como a vacinação, devem ser custeadas com
recursos do Governo. Depender de doação internacional, ou de emprésti-
mo do Banco Mundial, por exemplo, provavelmente vai significar dificul-
dade para reintroduzir o gasto, na hora que acabar aquela doação, aquela
verba. Por isso, hoje em dia, o Ministério da Saúde cobre todos os gastos
com as imunizações.
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C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
tidade muito pequena por ano. Mas os do Brasil não enfrentam esse pro-
blema, pois contam com o Ministério da Saúde como avalista, por assim
dizer, desses acordos de cooperação.
Essa atitude só existe por que o Ministério da Saúde tem a prevenção a epi-
demias entre suas prioridades, como já manifestou e demonstrou várias
vezes o ministro Humberto Costa. Extinguiu o Cenepi e criou uma secreta-
ria exclusivamente para a área de vigilância em saúde. O ministro deu novo
status para a área de prevenção e controle de doenças. Além disso, sinalizou
fortemente seus compromissos com as vacinas. Nessas circunstâncias,
haverá condições de manter a trajetória de avanços e até de ousar mais,
aumentando o orçamento nas compras de vacina de R$ 60 milhões para
quase R$ 400 milhões. Em 2003 já se registrou um acréscimo em relação ao
ano anterior, o que é suficiente para as vacinas. Mas nessa área o avanço
tecnológico é muito grande. Pode ser que em 2004 seja lançada uma vacina
nova, ou que uma vacina tenha sido aperfeiçoada. Assim, o orçamento de
vacina deve ser sempre crescente, para que não se interrompa uma trajetória
que, necessariamente, não admite retrocessos.
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O desafio para os próximos anos do PNI será enorme. Terá de manter o alto
nível de qualidade de serviços, de cobertura vacinal, de aceitação pública e
incorporar novas e importantes vacinas.
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PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
“Em 1986, fui convidado pelo Unicef/Ministério da Saúde para elaborar uma
logomarca que marcaria o compromisso assumido pelo Brasil de erradicar a
pólio até 1990. Fui acompanhar um Dia Nacional de Vacinação, no
Nordeste, e fiquei impressionado com a resistência que a população adulta
tinha contra a vacina e o medo das crianças.
Foi, então, que tive a idéia de criar um símbolo que fosse capaz de estabele-
cer um diálogo com as crianças, informando e motivando-as para serem vaci-
nadas. Transformar o Dia Nacional de Vacinação num dia de festa e não na
operação de guerra que eu tinha visto no Nordeste.
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Conta ainda com pessoal capacitado para sua administração e para a manuten-
ção dos equipamentos, com garantia de controle nas 24 horas do dia, inclusive
aos sábados, domingos e feriados.
A segunda etapa que pude observar foram os estudos e desenhos para a moder-
nização das redes de frio do plano estatal, o que permitiu, ao longo desses oito
anos, o desenho e a construção das mencionadas centrais, para os estados de
Amazonas, Pará, Tocantins, Bahia, Paraíba, Alagoas, Paraná e Rio Grande do Sul.
Todas essas redes de frio foram construídas segundo os mais avançados e atua-
lizados parâmetros para esse tipo de instalação, o que permite ao País ter, no
momento, uma rede de frio que é orgulho para a América Latina e que facilita,
ao pessoal de saúde, a administração e o controle de todos os insumos necessá-
rios para realizar as ações de imunização da população.
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que ano a ano cumpre com a meta e, agora, está perto de dispor dos
melhores elementos que permitem a capacidade econômica do País, até
o último recanto do território nacional.
Para mim, como observador independente que está trabalhando para que
esse resultado seja obtido em toda a América Latina, só me resta felicitar a
todas as pessoas, sob a direção do PNI, que contribuíram para que se
alcançasse esse objetivo para o povo do Brasil. Tanto o governo federal,
como o PNI e as Secretarias Estaduais de Saúde não economizaram esforços,
durante estes oito anos, para que se ofereça uma vacina de ótima qualidade
para toda a população.”
Edimilson Migowski
Professor Adjunto de Infectologia Pediátrica da Universidade Federal do Rio de
Janeiro
Parabéns a toda esta equipe que gerencia com competência, garra e deter-
minação.”
Hermann Schatzmayr
Departamento de Virologia IOC/Fiocruz
“Os anos em que participei do PNI foram para mim, acima de tudo, uma
grande lição, não só de competência técnica de todos seus participantes mas,
principalmente, uma lição de profunda dedicação à causa pública, em meio a
todas as dificuldades próprias de um programa como este, em um país conti-
nental e com carências estruturais de toda ordem.
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Inês Dourado
Professora Adjunta/Instituto de Saúde Coletiva/UFBA
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Sinto-me muito feliz por ter participado desses esforços tão bem-suce-
didos, com tantas outras pessoas, a maioria delas ignoradas pelo grande
público, com salários mais que modestos, mas que, tenho certeza, são
estimadas e admiradas pelas suas famílias e comunidades em que vivem.
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PNI – Referência mundial | C A P Í T U L O 1
Aspecto que deve ainda ser destacado é a melhoria das informações epidemio-
lógicas. Lembro-me de que nossas aulas sobre vacinas consistiam, em geral,
na apresentação de dados e gráficos das publicações norte-americanas. As
publicações técnicas do Ministério da Saúde e o site da Fundação Nacional de
Saúde hoje alimentam nossas aulas, que agora têm outra qualidade.
A vida e a história nos ensinam que o que se levam décadas (ou séculos) para
construir pode ser destruído num dia.
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C A P Í T U L O 1 | PNI – Referência mundial
A aplicação desordenada das novas vacinas, por melhor que sejam, não permi-
tirá obter o melhor rendimento delas e em alguns casos pode até acarretar con-
seqüências indesejáveis.
O PNI teve à sua frente várias pessoas cujas atuações merecem ser relembradas,
pelas contribuições que deram para o seu fortalecimento. Na impossibilidade de
nomeá-las, sem esquecimentos imperdoáveis, homenageio a todas na pessoa da
Dra. Maria de Lourdes de Sousa Maia. A sua energia é aparentemente inesgotá-
vel, digo-lhe sempre que ela tem um fogo sagrado, mas se quiserem, de manei-
ra mais poética, e talvez mais adequada, Lurdinha é uma chama inspiradora.
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“O Brasil pode ser caracterizado como um país ousado e é nesse contexto que
surge o PNI, cuja ousadia pode ser demonstrada pelos desafios enfrentados de
forma criativa e persistente, pelas metas ambiciosas definidas para um país de
dimensões continentais, com grande diversidade geográfica, cultural e socio-
econômica. Assim, em 1973 foi criado o Programa Nacional de Imunizações do
Brasil, o mais antigo programa nacional de imunizações da região das Américas.
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CAPÍTULO 2
Pela eficácia das vacinas
Pela eficácia das vacinas | C A P Í T U L O 2
CAPÍTULO 2
PELA EFICÁCIA DAS VACINAS
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1852. O Censo Geral do Império, programado para este ano, não ocorre.
O levantamento é iniciado, mas a população impede sua conclusão.
Até 1871, o que se realizam são censos com objetivos restritos de contar o
número de habitantes de forma indireta: relatórios sobre fiéis que freqüentam
a igreja, funcionários da colônia, etc. Apenas algumas províncias e localidades
conseguem concretizar, com relativo êxito, um ou outro levantamento
censitário durante o período imperial.
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Uma outra violenta epidemia de varíola faz a população correr aos postos de
vacinação.
1921. Em julho, a primeira criança no mundo é vacinada com o BCG, via oral.
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Franklin Delano Roosevelt, futuro presidente dos EUA, contrai a pólio aos
39 anos. Seis anos depois, inaugura o Centro de Reabilitação para a Polio-
mielite (Warm Springs, Geórgia).
1924. Descrito o toxóide tetânico pela primeira vez, por Descombey. Sua
efetividade é demonstrada na II Guerra Mundial.
O BCG é trazido para o Brasil por Júlio Élvio Moreau, que o conserva na
Fundação Ataulpho de Paiva, no Rio de Janeiro. A cepa é cultivada por
Arlindo de Assis, recebendo a denominação Moreau-Rio e revelando grande
virulência residual, com respostas intensas e duradouras.
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1939. No Brasil, a vacina contra febre amarela passa por discussões quanto
à melhor dosagem para uma resposta imunológica eficaz.
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Deste ano até 1956, a vacinação contra essa enfermidade é executada pelo
Serviço Nacional de Febre Amarela, do Ministério da Saúde.
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A varíola ganha enfoque especial, com a união de esforços para seu con-
trole em todo o mundo. Com os novos conhecimentos, torna-se possível
programar estratégias, trocar experiências e conquistar resultados, sob a
coordenação da OMS, por intermédio de suas oficinas regionais.
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1962. A vacina oral contra pólio passa a ser vista como um produto capaz
de reduzir o número de casos da doença de forma expressiva, quando usada
amplamente e em curto prazo.
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pólio e 4,5 mil de varíola. Calcula-se que a cada ano ocorriam 100 mil no-
vos casos de tuberculose, inclusive em indígenas. (Div. Nac. Epid. e Estat.).
Finais dos anos 60. Novas estratégias contra a varíola começam a ser
desenvolvidas no Brasil, envolvendo a vigilância epidemiológica intensiva,
confinamento e vacinação de possíveis contatos em determinado raio, com
resultados animadores.
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dos estudos especiais de busca ativa, sem casos corroborados por estudos da
comissão médica da Cruz Vermelha Internacional, que visitou 50 tribos da
Região Amazônica.
Salvador registra 150 óbitos e a mais alta taxa de mortalidade por tétano
neonatal — 14,6 óbitos/100 mil hab.
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Antes de 1974, além da vacina contra varíola, havia o BCG, o toxóide difté-
rico, o toxóide tetânico, contra coqueluche, antipólio inativada e atenuada e
contra sarampo.
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Registrados 98,6 mil casos de sarampo, com 3,2 mil mortes; 173 casos de
raiva humana evoluídos a óbito; e 1,2 mil casos de poliomielite, com 164
óbitos. O controle do sarampo é intensificado, com campanhas focadas em
áreas de baixas coberturas.
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Primeira região a desenvolver e fazer uso dos dias de tranqüilidade, para con-
duzir campanhas de imunização em áreas de conflito na América Central,
um conceito agora usado mundialmente. Durante uma trégua de três dias na
guerra civil em El Salvador, soldados rebeldes vacinam em uma campanha
contra seis doenças infecciosas da infância, entre elas a poliomielite.
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Pela eficácia das vacinas | C A P Í T U L O 2
Registrados 75,9 mil casos de sarampo, com 1,1 mil óbitos; 53 casos de
raiva humana, todos levando ao óbito; 592 casos de tétano neonatal, com
323 óbitos; e 329 casos de poliomielite, 15 óbitos. As coberturas alcançadas
na vacinação de rotina dos menores de 1 ano de idade foram: DTP 66%,
SPO 67%, BCG 66%, VOP 52%.
Elaborado pelos países membros o plano qüinqüenal para a região das Amé-
ricas (1986-1990), com identificação dos recursos necessários e suas fontes.
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1987. Produzidas 86,1 mil doses de DTP no Brasil pelo Instituto Butantan
e importadas mais 37 milhões de doses.
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Registrados 61,4 mil casos de sarampo, 475 óbitos; 73 casos de raiva huma-
na com óbito; 295 de tétano neonatal, com 141 óbitos; e nenhum caso de
poliomielite.
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A vacina contra hepatite B produzida por engenharia genética passa a ser adqui-
rida no Brasil e faz parte do calendário básico da Amazônia Legal, Paraná,
Espírito Santo, Santa Catarina e Distrito Federal para menores de 5 anos.
43% dos produtos adquiridos para uso no País têm origem nacional.
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Cries são implantados no Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro,
Minas Gerais, São Paulo (mais dois) e Paraná (mais um).
A vacina contra hepatite B tem sua oferta ampliada aos profissionais de saúde
do setor privado, bombeiros, policiais, militares, estudantes de medicina,
odontologia, enfermagem e bioquímica.
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São registrados 972 casos de sarampo, com 7 óbitos; 3,7 mil casos de coque-
luche (coef. incid. 2,44/100 mil hab.), 132 casos de tétano neonatal, com
66 óbitos; e 31 casos de raiva humana.
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Estudo sobre eventos adversos associados ao uso da vacina tríplice viral, con-
tendo a cepa Leningrado & Zagreb, no Mato Grosso do Sul e Mato Grosso,
durante a campanha de implantação da vacina.
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Implantada a vacina dupla viral para mulheres em idade fértil (12 a 39 anos)
no Paraná, com recursos do próprio Estado.
Registrados 2,9 mil casos de sarampo; 956 de meningite por Hib em menores
de 5 anos, 141 evoluem para óbito.
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Implantada a vacina dupla viral para as mulheres em idade fértil nos estados
de Rondônia, Acre, Amazonas, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Alagoas,
Sergipe, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás.
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A vacina contra hepatite B tem sua oferta ampliada para menores de 20 anos,
gradativamente até 2003 em todo o País (30% em 2001, 30% em 2002 e
40% em 2003).
Registrados 183 casos de meningite por Hib (coef. Inc. 1,10/100 mil hab.),
21 casos de difteria (coef. Inc. 0,01/100 mil hab.), 506 casos de coqueluche
(coef. Inc. 0,30/100 mil hab.) e 33 de tétano neonatal.
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O PNI adquire 43 tipos de produtos, quer para a rotina das salas de vacina,
para os portos e aeroportos para a vacinação de viajantes internacionais, para
os postos de fronteira, para as missões de saúde em parceria com as Forças
Armadas, para contenção de surtos ocasionais, para os Cries, quer para uni-
dades de maior porte, como os soros e imunoglobulinas.
Implantação da vacina dupla viral para mulheres em idade fértil nos estados
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará,
Roraima, Amapá, Tocantins, Bahia, Ceará e Piauí.
São adquiridos e colocados à disposição, nos Cries, mais três novos produtos:
a vacina conjugada contra meningite meningocócica C, vacina pentavalente
(Hib + HB + DTP) e pneumocócica conjugada heptavalente.
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Neste ano, a OPAS completa 100 anos. Para o Brasil, uma instituição parceira,
com quem compartilha momentos de desafios e glórias.
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Índia (1.600), Nigéria (202), Paquistão (91), Egito (7), Afeganistão (10),
Níger (3), Somália (3), Angola, Bangladesh, República Democrática do
Congo, Etiópia, Nepal e Sudão.
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C A P Í T U L O 2 | Pela eficácia das vacinas
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Salud. Disponível no Site OPAS em 26/10/2001.
24. A Missão da OMS e os Objetivos da Assembléia Mundial de Saúde.
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A Fiocruz não contava com câmaras frias suficientes para o estoque nacional,
e os estados, por sua vez, também não tinham como estocar e garantir a
manutenção da qualidade da vacina recebida. Assim, a SNABS/MS adquiriu
três contêineres (câmaras frias transportáveis) para a Fiocruz, além da câma-
ra fria de que já dispunha, com área -20ºC e +4ºC, e outros 12 contêineres,
caixas térmicas, termômetros e termógrafos para os estados. A Cenade alu-
gou mais uma câmara fria na Cibrazem e, mediante a autorização do PNI, os
produtos eram distribuídos gradativamente aos estados, que a partir de então
foram recebendo informações de monitoramento a respeito das condições de
envio. Ao mesmo tempo, foi-se organizando o fornecimento de isopores,
gelo, termômetros, rótulos e o entrosamento com companhias aéreas.
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e corretiva. A Cenadi conta com 2,3 mil m2 de área frigorífica (uma câma-
ra -20ºC e duas câmaras +2ºC).
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Se a cobra é nossa,
nosso tem de ser
o soro antiofídico
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• Bio-Manguinhos/Fiocruz – RJ;
• Instituto de Tecnologia do Paraná – Tecpar – PR;
• Instituto Vital Brazil – IVB – RJ;
• Instituto Butantan – SP;
• Fundação Ataulpho de Paiva – FAP – RJ;
• Fundação Ezequiel Dias – Funed – MG;
• Instituto de Biologia do Exército – Ibex – RJ;
• Indústrias Químicas do Estado de Goiás – Iquego – GO.
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Soros
Antitetânico, antidiftérico, antibotulínico, anti-rábico, antibotrópico, antibotrópi-
co-crotálico, antibotrópico-laquético, anticrotálico, antilaquético, antielapídico,
antiaracnídico, antiescorpiônico, antilonômia, antilactrodectus e antiloxoscélico.
Imunobiológicos em Transferência de
Tecnologia
Vacina contra Haemophilus influenzae tipo b, vacina tetravalente (Hib + DTP),
vacina contra influenza (gripe), vacina contra raiva em cultivo celular
(célula vero), vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba).
1. Vacina BCG.
2. Antipoliomielítica oral (Sabin).
3. Contra hepatite B.
4. Tríplice bacteriana (DTP).
5. Vacina dupla bacteriana tipo infantil (DT).
6. Vacina tetravalente (DTP+Hib).
7. Vacina contra infecções pelo Haemophilus influenzae b.
8. Contra febre amarela.
9. Tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba).
10. Dupla viral (contra sarampo e rubéola).
11. Dupla bacteriana tipo adulto (dT).
12. Vacina contra influenza*.
13. Vacina antipneumocócica 23 valente*.
14. Vacina contra raiva obtida em cultura de células.
15. Soro antitetânico.
16. Soro anti-rábico humano.
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intervirem no curto e médio prazo pela análise dos dados, bem como no
redirecionamento das estratégias de vacinação.
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CAPÍTULO 3
Cenas da vida real
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CAPÍTULO 3
Cenas da vida real
“No ano de 1999 iniciou-se a vacinação contra a gripe para pessoas de 65 anos
e mais, em todo o País. Como era o ano da implantação, enfrentamos muitas
dificuldades para preparação e divulgação da campanha, na Paraíba — e no
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No município de Santa Luzia, alto sertão da Paraíba, que conta com apenas
um Posto de Vacinação, foram tomadas todas as providências para o dia D. A
argumentação em defesa da vacina havia sido eficiente, pois se formou uma lon-
ga fila à porta do posto, no primeiro dia da campanha. Bem no momento em que
o posto abriu e a fila começou a andar, estacionou ao lado um caminhão com
uma carga de caixões de defunto. O motorista perguntou a um dos idosos da fila:
— Onde fica a prefeitura desta cidade? O prefeito encomendou este carre-
gamento para entregar hoje, sem falta...
Antes que o motorista terminasse a frase, deu-se o alvoroço geral. A fila como
que se evaporou, não ficou viva alma para se vacinar. Até hoje esta história é
contada na cidade e interfere nas coberturas das campanhas de vacinação”.
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A ação de imunização no Vale do Javari é realizada por via fluvial e aérea. A pro-
gramação prevê duas etapas por via fluvial, utilizando barco com motor de popa
e rabetas (frágeis canoas de madeira, feitas de um só tronco); e duas etapas
aéreas, utilizando helicópteros que fazem base em Cruzeiro do Sul, município
do Acre, por questões logísticas de abastecimento e autonomia de vôo.
Em agosto de 1996, uma equipe voou até a aldeia do povo Matis, numa viagem
iniciada pela manhã. Normalmente o helicóptero deixava a equipe no local de
vacinação e retornava à base de imediato, para transportar outra equipe. Nesse
dia, antes mesmo de saltar da aeronave, observei algo estranho na forma como
os índios estavam nos recebendo. Solicitei ao piloto que não desligasse o motor
e aguardasse, enquanto iríamos averiguar o que estava acontecendo.
Ao perguntar pelo capitão (o chefe) da aldeia, fui informada que seu filho
havia falecido. O enterro se dera naquela manhã e o pai estava muito triste.
Todos na aldeia manifestavam tristeza profunda, aliás, pois entre indígenas
qualquer que seja o evento — doença, morte, festa, pesca, caça etc. —, é tudo
vivido, realizado e sentido coletivamente. Dessa forma, a dor era de todos.
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Após uma longa conversa, concordaram, desde que eu levasse o pai, a mãe e um
cacho de bananas. Após falar com o piloto, entramos em acordo e levantamos
vôo rumo ao município de Cruzeiro do Sul, deixando a equipe com a recomen-
dação de que naquele primeiro dia não seria feita a vacinação, só o atendimento
dos que estavam doentes. A vacinação seria realizada no dia seguinte, somente
para os que não apresentassem nenhum sintoma grave de doença.
Ao retornar com a criança e seus pais, fomos recebidos com grande alegria.
Ganhei colares matises de presente, fui solicitada para atender as outras
crianças que ainda estavam doentes. Permanecemos nesta aldeia mais do que
o tempo programado. Em compensação, conquistamos a confiança e o res-
peito do povo Matís”.
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Os três relatos seguintes não têm final feliz. Embora dramáticos, ficam
aqui como exemplos de que a vacina é essencial. Os dois primeiros foram
feitos pelo médico Airton Zuquetto Dutra, integrante do grupo dos pri-
meiros auxiliares de epidemiologia treinados para atuar em investigação
epidemiológica no Rio Grande do Sul, na década de 1970. Atualmente é
diretor da vigilância em saúde do seu município, Alegrete. O terceiro rela-
to é do Dr. Maleta, de Minas Gerais.
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Foi duro, mas hoje já conseguimos ver os frutos desse trabalho, quando
temos equipes motivadas e, especialmente, as doenças imunopreveníveis que
já não incidem mais. Começamos num ano em que, só no município do Rio
de Janeiro, registramos quase 4.000 casos de sarampo. Atualmente, faz três
anos que não registramos nenhum caso de sarampo.
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Nessa hora o sr. Valdir tinha um papel fundamental, corria atrás de cada fujão
e o trazia, colocava-o no colo e aplicava-lhe uma chave de pernas com tal
técnica que dali a criança só saía depois da vacina feita. Esse era um papel
que ele fazia com explícito prazer de quem contribuía para o sucesso do
evento. Talvez nem soubesse o quanto aquele papel de pega moleque era
efetivo para registrarmos, hoje, as coberturas vacinais que temos nas doenças
transmissíveis em nosso País — e para contarmos com a postura colabora-
dora dos pais, muitos deles fujões de ontem”.
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feitas pelos próprios moradores — não dava para entrar ali com a voadeira
(embarcação de alumínio com pequeno motor a gasolina) da Sucam, por-
que esses igarapés são estreitos. Para compensar, a região é farta de peixe,
caça, frutas, principalmente o cupuaçu e o açaí. Além do mais, o acolhi-
mento da comunidade é caloroso. Eles viam em nosso serviço o único aten-
dimento que poderiam receber; e nós procurávamos respeitar o modo de
vida daquelas comunidades, sua cultura, costumes e religiosidade.
Na época em que a vacina era feita com injetor, várias pessoas (adultos e
crianças) ao ver o aparelho saíam correndo para dentro do mato, ou se
jogavam no rio. Pensavam que era uma arma de fogo. Para evitar essa situação,
conversávamos com antecedência com os líderes da comunidade e pedíamos
que a vacina fosse aplicada primeiro neles, para mostrar que o aparelho
servia apenas para vacinar.
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Foi até a pia, preparou a vacina para a outra senhora, voltou até a cadeira
e fez a vacina.
Após descartar a seringa, voltou para se despedir das duas e orientá-las para
que voltassem no próximo ano, quando foi informada de que havia vacinado
somente uma das senhoras — duas vezes. A segunda senhora não havia se
sentado e a vacinadora não percebeu.
Mais alguns minutos e chega uma terceira auxiliar, repete a conduta das
outras e aplica, na mesma senhora, uma terceira dose de dT. A senhora
permanece no mesmo lugar, atarantada.
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não havia ido embora. Não obteve resposta. A cena chamou a atenção das
duas outras auxiliares, que se aproximaram. Na conversa que se seguiu,
chegaram à conclusão de que haviam vacinado três vezes a mesma pessoa.
“Havia casos de mães que traziam os filhos para a primeira vacina, BCG, com
um nome. Quando voltava para a outra vacina, a criança estava com outro
nome. Houve até caso de um terceiro nome para o mesmo filho, porque o pai
não gostava dos outros anteriores e na hora do registro, quase sempre tardio,
ele colocava o que queria. No final, sobrava para a vacinadora a dúvida: são
duas (ou três) crianças, ou é a mesma criança com mais de um nome?”
“Em 2000, o Dr. Bernardus, da OPAS, me pediu para verificar se estava fun-
cionando uma geladeira a energia solar, instalada na aldeia Nova Olinda, no
município de Feijó. Em contato com o Secretário de Saúde, Beto, fui infor-
mada de que a dita cuja estava com defeito. Aí começou a aventura para nós
— eu, a assessora Juscelina Rodrigues e Cátia, técnica do PNI.
Pegamos um avião e voamos uma hora e meia até Feijó, onde pernoitamos.
Na manhã seguinte, às 6h, pegamos um barco tipo voadeira e viajamos
durante umas cinco horas. Mais ou menos pelo meio-dia caiu uma chuva tão
forte que o condutor do barco foi obrigado a parar, porque tinha câimbras, de
tanto frio. Nos abrigamos no barranco do rio, em uma cabana improvisada
pelos índios da tribo Kampa. Ali almoçamos um cardápio bastante variado:
biscoito cream cracker com carne em conserva.
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“Essa história aconteceu em 1998, no Pólo Base Homoxi, área Yanomami, muni-
cípio de Iracema, Roraima, região fronteiriça do País. Naquela área, o acesso era
por aeronave. O helicóptero deixava a equipe, que permanecia no local por cin-
co dias, realizando a vacinação nas aldeias. Guardávamos toda nossa bagagem
numa aldeia de referência, incluindo os isopores com reserva de vacinas e gelo,
termômetros, insumos e medicamentos. A equipe se deslocava com a vacina em
um isopor pequeno, seringas, agulhas e impressos para registros.
De uma maloca para outra, andávamos por uma, duas ou até mais horas.
Naquela ocasião, estava acompanhada de uma auxiliar de enfermagem, a
Terezinha, da Funasa de Roraima, agentes de saúde e alguns índios que
costumeiramente nos auxiliavam na indicação dos caminhos. Eram muitas
aldeias. Andávamos muito... longas caminhadas!
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Aprendi a conhecer e respeitar sua cultura. Vez por outra, estavam eles
nos presenteando, demonstrando sua gratidão com orquídeas do campo
ou colares típicos. Três anos mais tarde, em novembro de 2000, no mu-
nicípio de Tocantínia-TO, surgiu um surto de varicela entre os índios da
etnia Xerente. Dirigimo-nos para a área, eu coordenando uma equipe téc-
nica composta por representantes do DSEI/Funasa, das secretarias esta-
dual e municipal de Saúde e membros de uma ONG. Cabia-nos executar
um bloqueio vacinal, de acordo com as estratégias definidas pelo PNI
para a área.
O cacique mandou nos deixar em Santa Rosa, só que a canoa nunca chegava
a essa localidade e o medo crescia entre nós. Darlan ia com a cabeça baixa,
na frente da canoa. Francisca Filha chorava e rezava. Eu falava para ela: você
é a culpada, se fosse por mim nós não tínhamos saído da aldeia.
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No total, foram três dias de martírio. Mas no final deu tudo certo.”
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ga. Para assegurar o gelo da segunda etapa fazíamos uma compra única, que
desse para as duas etapas. O fornecedor deveria assumir o compromisso
de fazer as duas entregas nos momentos certos.
No outro dia, sem que houvesse retorno da ligação, liguei novamente para o
dito celular. Atende novamente a mulher.
— Aqui é da Secretaria de Saúde, estou aguardando o telefonema do seu
marido.
— Eu já disse para a senhora que meu marido não vende gelo.
— Olha aqui, senhora, bem que eu desconfiei dele, mas quero que a
senhora saiba...
— Eu já disse, meu marido não vende gelo, e nunca ouviu falar da senhora
nem da Secretaria de Saúde.
— Agora ele nem conhece a Secretaria de Saúde! Vou já ao departamento
jurídico, isso não fica assim. Onde já se viu, vender gelo e não querer entregar!
Por causa dele não teremos Campanha, as crianças do Distrito Federal vão
ficar sem vacina.
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Terceiro dia. Eu, desesperada, tornei a ligar e o telefone estava desligado. Nos
dois dias que se seguiram, eu já estava enlouquecida, sem conseguir falar com
o senhor José Carlos ou sua digníssima esposa. Todo o nosso pessoal ligava
e ela, ou estava com o celular desligado, ou desligava logo que sabia se
tratar do assunto. No auge do desespero, olhando para o papel onde havia
anotado o número do celular, me apareceu a dúvida:
— Inês, por favor, este número é um 8 ou um 3?
— Eu acho que é 8...
Levamos um mês tentando pedir desculpas para o outro senhor José Carlos
e sua esposa”.
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Mais uma vez o policial argentino tinha razão, pois encontramos outros nove
casos de uma mesma família de brasileiros. O primeiro desses casos (irmã do
recruta), havia se contagiado em uma festa em Maurício Cardoso, no lado
brasileiro, levando assim a varíola para a Argentina. Os brasileiros (uma
boa parte da população dessa localidade) trabalhavam ali na lavoura de
citronela, uma planta utilizada para perfume. Quando se instalaram, já
havia terminado a campanha de erradicação da varíola na Argentina. Por
isso, não estavam vacinados”.
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Por sua vez, a enfermeira Vera Lúcia de Barros, mestre em Saúde Pública,
da Secretaria Municipal da Saúde e do Centro Universitário São Camilo,
de São Paulo, lembra, como se fosse hoje, de sua primeira participação
em uma campanha nacional de vacinação. Ela ainda era estudante, esta-
va no último ano da Faculdade de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP.
Morava com outras estudantes e uma de suas companheiras de repúbli-
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ca tinha seqüela de paralisia infantil. Por certo, esse foi um dos motivos
para que ela ficasse tão marcada pela experiência na sua primeira Cam-
panha Nacional Contra a Paralisia Infantil, em 1980.
Cada criança tinha uma reação diferente ao que eles chamam de “cutucos”.
A propósito, Vera Lúcia conta: “Na aldeia Kaiapó, encontrei um povo aparen-
temente bravo, mas vi que, ao se estabelecer um vínculo, eles se tornam
extremamente meigos. As crianças Kaiapó, mesmo aquelas com seus 8
meses de idade, ao receberem um ‘cutuco’ não choravam, e sim franziam as
testas e enrijeciam a musculatura, talvez na busca de responder igual a
um adulto do seu povo”.
Desde então, ela se apaixonou por essa gente que se convencionou rotular
como “índios”. Para Vera Lúcia, “todos eles eram um povo só. Hoje, embora
eu ainda tenha muito que aprender, sei da sua diversidade cultural, de suas
peculiaridades étnicas, de suas diferentes línguas e costumes”.
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O relato das experiências vividas pelos estudantes, na sua grande maioria mo-
radores de apartamento da cidade de São Paulo, deixa evidente que, para eles,
em cada comunidade por onde passavam, havia um novo conhecimento ad-
quirido, e cada pessoa que encontravam no caminho era mais uma lição. Tam-
bém ficou evidente, para eles, que o papel do enfermeiro é muito amplo, não
se limita somente às experiências vividas anteriormente nos meios urbanos.
“Lá não existia gelo. Energia, só das 18h à meia-noite. Para conservar a
vacina, levava-se gelo de Rio Branco. Mas o aviãozinho fretado era tão pequeno,
que nele não cabia um isopor de 120 litros com as barras de gelo. Aí era uma
maratona danada, quebrava-se o gelo e colocava-se em isopores menores e
vacinava-se até quando o gelo durasse. Quando acabava, suspendia-se a missão
e desprezava-se o resto das vacinas. Sala de vacina não existia ali até o ano
2000. A vacinação era realizada apenas nas campanhas.
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Mesmo com chuva cruzamos o Rio Andirá, baixo Rio Amazonas, a caminho de
mais uma ação de vacinação entre os Saterê-Mawé. A equipe era composta por
um enfermeiro, duas vacinadoras experientes, eu e o piloto da voadeira. Saímos
do pólo-base na cidade de Parintins e viajamos por quase dois dias subindo o
Andirá. Viajávamos na luz do dia e parávamos ao anoitecer na barranca do rio
para dormir, tomar banho, comer. Foi assim até encontrarmos o barco-apoio
com as caixas de isopor com reserva de gelo, vacina, comida, combustível.
Nesta noite dormimos no barco com mais conforto e segurança, dando condi-
ções para o corpo enfrentar as intempéries que vinham pela frente. Antes dos
primeiros raios de sol, já tínhamos tomado café e providenciado a distri-
buição dos tripulantes e das bagagens nas frágeis canoas de madeira (rabe-
tas), feitas de um só tronco, tentando obedecer à compensação dos pesos. Eram
ao todo cinco rabetas, conduzidas por seus pilotos. Levávamos, numa, a
caixa de isopor de gelo; noutra, a nossa comida; a terceira seguia comigo e o
combustível; a quarta com as duas vacinadoras; a última canoa conduzia a
caixa grande de vacina e os pequenos isopores.
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Por dez dias comemos abacaxi, que conseguimos na base da troca com os
Saterê — roupa por abacaxi. Toda a equipe emagreceu uns bons quilos, mas
em nenhum momento o trabalho da vacinação foi interrompido.
Essa e outras histórias que vivi durante os 12 anos que morei no Amazo-
nas me ensinaram, aos poucos, a ‘ver’ a região de uma forma muito espe-
cial. Não mais com olhos de forasteira, mas sim de forma mais íntima,
mais próxima daqueles povos mais tradicionais — guardando um relativo
distanciamento, é claro.
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Saíamos com uma equipe de mais ou menos quatro pessoas numa cami-
nhonete D-20 cabine dupla (ou similar), com quatro isopores grandes, sen-
do três com gelo em barra e um com as vacinas, mais dois isopores peque-
nos para armazenar a vacina de consumo diário. Naquela época usávamos
termômetro convencional dentro dos isopores.
No percurso da nossa viagem não havia hotéis, pousadas, nem locais para ali-
mentação. Tínhamos de levar suprimento alimentar, água, roupa de cama e ba-
nho para usarmos nas casas daqueles moradores que podiam nos acomodar. No
mês de junho a região é muito fria e às vezes tínhamos de colocar uma fogueira
embaixo do tanque de óleo do carro, para descongelá-lo. Outras vezes tínhamos
de entrar na mata em busca de madeira, a fim de calçar os pneus traseiros e co-
locar peso na carroceria do veículo, porque freqüentemente atolávamos no areial.
Voltávamos para casa depois de dois ou três dias, cansados, empoeirados, fa-
mintos, saudosos, sensibilizados com as condições de vida das pessoas que
havíamos encontrado. Mas felizes e gratificados por termos conseguido vaci-
nar todas as crianças da área percorrida. Ficávamos mais felizes, ainda, quan-
do encerrávamos a campanha naquele município com avaliação bastante po-
sitiva, atingindo 98% e até 100% da população a ser vacinada”.
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Celina Modesto Coelho atua em saúde pública desde 1974. Hoje assessora o
Setor de Informação da Coordenação Nacional do PNI, em Brasília, sendo
também responsável pelo Plano de Eliminação do Tétano Neonatal em 18
estados. Celina participou ativamente de 67 campanhas nacionais de vaci-
nação desenvolvidas pelo governo brasileiro: todas as campanhas nacionais
contra poliomielite (56 incluindo, as oito nordestinas), cinco campanhas
nacionais de vacinação do idoso, quatro campanhas nacionais de vacinação
contra o sarampo e duas campanhas nacionais de vacinação contra rubéola.
O depoimento comovido e comovente de Celina:
“Para alguns, PNI é uma sigla. Pra mim, é uma vida. São 29 anos dedicados
à imunização, em que acompanhei pessoalmente as lutas, os desafios, os erros
e os acertos das equipes que fizeram a cada dia este Programa. Acompanhei o
entusiasmo pela varíola erradicada, arregacei as mangas na primeira campa-
nha nacional contra a poliomielite, mobilizei, sonhei com a erradicação.
Vencemos a pólio! E junto a ela, ano a ano, íamos ampliando coberturas
vacinais contra outros males que abatiam o nosso futuro, as nossas crian-
ças... que com seus olhares pediam inocentemente a ‘graça da vacinação’.
Difteria, coqueluche, tétano, meningite tuberculosa, sarampo... sarampo!
Vencemos também o sarampo!
Quantas são as nações que somam tantos desses êxitos? Foi a vacinação
a maior arma da saúde pública brasileira, uma concreta via de acesso à
qualidade de vida. O meu coração explode. Esse benefício chegou aos
rincões do sertão, chegou ao litoral, chegou à Amazônia. Extrapolou as
capitais, as grandes metrópoles, as megacidades — atendemos a todos
com a mesma eficiência.
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Cenas da vida real | C A P Í T U L O 3
“No ano de 2001 fui para Laranjal do Jari, no interior do Estado do Amapá,
para realizar um pequeno seminário com profissionais que, por dificuldade
de acesso, não conseguiram participar do Seminário Estadual em Macapá.
Laranjal tem uma imensa população vivendo sobre palafitas, talvez a maior
do mundo nessas condições, por isso se faz diferente de tudo o que eu pen-
sava ser uma cidade. Vitória do Jari, município vizinho, também foi convi-
dado a participar.
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Por insistência de suas duas filhas, que na ocasião eram adolescentes, a casa
da enfermeira Elizabeth Azoubel viria a funcionar como posto de vacinação
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por um período de cinco anos. Os dias nacionais eram esperados pela família
com bastante alegria e ansiedade. Desde então, já são 23 anos trabalhando nas
vacinações de rotina e campanhas no Estado de Pernambuco, em todos os
níveis: local (posto de vacina), municipal, regional e estadual. Atualmente,
Elizabeth Azoubel é diretora de Imunizações do município do Recife.”
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C A P Í T U L O 3 | Cenas da vida real
Nessa época, era muito comum usarmos casas de moradores como postos de
vacinação. E se não usássemos era uma grande desfeita.
Na nossa cidade não podemos esquecer da grande ajuda, por todos estes
anos de campanha antipoliomielite, das professoras da Secretaria Municipal
de Educação. Nas escolas públicas, elas foram vacinadoras, escribas, organi-
zadoras de fila, divulgadoras da campanha entre os pais e responsáveis
pelos alunos. Elas mesmas faziam cartazes, folhetos etc.
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Cenas da vida real | C A P Í T U L O 3
“Quase vinte anos atrás, lá pros lados de Cazuza Ferreira, interior de São
Francisco de Paula, a cerca de quatro horas de Porto Alegre em estrada de
terra, estávamos mais uma vez indo a caminho de nossas supervisões. Para
aquela região, tínhamos de levar o kit-viagem, uma providência de minha
iniciativa que se tornou imprescindível em muitas ocasiões em que está-
vamos fora de casa. Na verdade, montei o kit e fui aperfeiçoando confor-
me as necessidades que passávamos. Fazia parte dele:
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C A P Í T U L O 3 | Cenas da vida real
Não recebíamos diárias para fazer vacina nos municípios. A colaboração era
da Prefeitura. Nas escolas mais distantes, para não retornarmos em meio ao
trabalho, levávamos carne e pão, na hora da refeição improvisávamos um
churrasco no mato.
Uma tarde, saímos para vacinar num bairro de nosso município e as pessoas
receberam-nos com pedras nas mãos. Diziam que não queriam vacina,
queriam água e esgoto.
Para completar esta parte, mais um caso de vacinador que começou antes
da criação do PNI. O relato é de Gisele Gutierrez Carvalho Ciciliato, de
São Paulo:
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Cenas da vida real | C A P Í T U L O 3
Fiquei muito feliz. Apesar de o tempo ter passado, ele procurava se integrar
às mudanças com disposição e satisfação, mesmo encontrando muitas vezes
imensas dificuldades. Na seqüência, ele contou uma história de quando
começou a trabalhar como vacinador:
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C A P Í T U L O 3 | Cenas da vida real
Ele contou ainda que em outra ocasião, ‘em 1971, na região de Assis,
durante uma campanha de vacinação múltipla, fomos recebidos a tiros de espin-
garda por um morador. Mesmo assim, não desistimos. Conseguimos conversar
e convencer o morador para que permitisse a realização da Campanha’.
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No retorno, para fechar com chave de ouro, fui eu a responsável por segu-
rar a corda e manter o bote sob controle, na hora de atravessar a cachoeira.
Sr. Antônio, Eva, a corajosa, e Meire entraram no rio para empurrar a em-
barcação. Aí, para nosso desespero, uma cobra se enroscou na perna da
Meire. Como a Meire tem quase 2 m de altura e é fortona, no susto ela
jogou a perna para cima e a cobra caiu exatamente onde eu estava. Eu,
assustada, preocupada em me proteger, soltei o bote e comecei a gritar e a
pular, na expectativa de que a cobra passasse por baixo de minhas pernas.
A cobra, com certeza assustada com minha crise histérica, desapareceu en-
tre as pedras. Para eu parar de gritar foi preciso o sr. Antônio me dar umas
sacudidelas. O bote, que eu deveria ter segurado, desceu cachoeira abaixo.
Tivemos de resgatá-lo depois.
Todos, não. Apenas o chefe da aldeia havia ficado para defender o seu povo.
Foi emocionante, pois ele sozinho, apenas com um terçado na mão, ficou ao
lado da aeronave em posição de defesa. Apesar de ser o único e estar apenas
com um facão, sua atitude causou o maior impacto dentro do helicóptero,
ficamos todos temerosos.
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O chefe saiu correndo para chamar os homens da aldeia. Eles correram para
organizar uma das casas. Limparam e cobriram o chão com folhas de bana-
neira (sem que tivéssemos orientado ou solicitado) para colocar os isopores
de vacina e protegê-los. Foi de apertar o coração aquela cena, pois cada
homem ia buscar a mulher e os filhos escondidos nas moitas e árvores.
Vacinamos toda a população, sem que ninguém rejeitasse as agulhadas.
Eles nos serviram bananas para lanche, as crianças visitaram o helicópte-
ro junto dos pais. Na hora de partir, choramos.
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Como o Rio Purus tem muito mosquitinho (pium, carapanã etc.), numa das
missões aéreas eu me preparei para não ser picada. Coloquei uma calça de lycra
escura, meias por cima da calça, vindo quase no joelho, tênis, camiseta de man-
ga comprida (vermelha), lenço no pescoço, chapéu fechando as orelhas, óculos
escuros. Eu estava literalmente horrível. Saltei do helicóptero e fui descendo o
morro em direção à comunidade. Na mesma direção vinha um menino de uns
11 anos, subindo o morro, de cabeça baixa. Ele viu meus pés e quando levan-
tou a cabeça tomou um susto. Deu um grito de pavor e sumiu no meio da mata.
Fiquei chocada. Nunca pensei que assustaria uma pessoa daquele jeito.
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Para as primeiras missões de helicóptero na região do Rio Juruá, foi feita uma
programação detalhada junto com a OPAN (ONG da região), informando as co-
munidades indígenas da chegada da equipe de vacinação e da necessidade de
um local para pouso, evitando dessa forma a destruição de casas e roças pelo
vento da aeronave. Assim foi feito por todas as comunidades. Nas 18 comuni-
dades, encontramos verdadeiros heliportos e uma alegria imensa em receber a
equipe de vacinação vinda naquelas máquinas tão interessantes. Porém, em
uma das comunidades, o piloto necessitou fazer um reconhecimento da região
e sobrevoou a comunidade por 5 minutos. Um morador, preocupado, foi para
o meio da pista do heliporto fazendo sinal com um pano, para demonstrar que
o pouso deveria ser ali. Infelizmente, ele não saía do local, não permitindo o
pouso do helicóptero. Depois de muito sobrevoar fazendo sinais para o mora-
dor, sem obter sucesso, fomos obrigados a pousar alguns quilômetros de distân-
cia da comunidade. Não houve problemas e a vacinação foi um sucesso.
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“No dia 23 de abril de 2003, vivi mais um desses momentos de aventura tão
conhecidos das pessoas que se dedicam de corpo e alma ao PNI. Foi numa
viagem ao sertão do Pajeú, a 540 km do Recife. Convidada a participar de um
seminário sobre Doenças Exantemáticas no município de Triunfo, promovido
pela assessora do sarampo, Dra. Fabianni Almeida, fui acompanhada da Dra.
Ângela Rocha, professora de Doenças Infectocontagiosas da Universidade de
Pernambuco, da Dra. Maria José Couto, farmacêutica do Laboratório Central
de Pernambuco, e da Dra. Lúcia Salermo, médica que vem fazendo, no Esta-
do, o acompanhamento das crianças portadoras de rubéola congênita.
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C A P Í T U L O 3 | Cenas da vida real
de uma equipe que acredita no que faz. Foi especialmente gratificante, para nós,
a receptividade dos profissionais que participaram do Seminário. Todos acharam
muito importante a atualização de informações. Essa reação anima o dia-a-dia de
quem trabalha com vacina, repleto de momentos bons, mas, às vezes, mancha-
dos por momentos que nos entristecem — como quando fazemos supervisão em
municípios com baixas coberturas e não encontramos respaldo da gestão muni-
cipal para mudar a situação”.
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Numa outra ocasião, na mesma estrada e novamente tendo Dolores Krug como
companheira de viagem, o veículo era um ‘fuca’ (abreviação de Fusca muito
comum no Sul), modelo ‘lá se foram os anos’, parte da frota da Secretaria de
Saúde, querido, mas esquecido pelos serviços de manutenção. Quatro dias de
trabalhos, um dia para cada centro de saúde, fizemos nossas tarefas, reunimos
as equipes, acertamos os ponteiros, ficamos com a boa sensação de missão cum-
prida. Deixávamos recomendações, levávamos pendências e compromissos.
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C A P Í T U L O 3 | Cenas da vida real
Ela ressalta a abnegação do vacinador, que muitas vezes não ganha o su-
ficiente, mas dedica sua vida a levar a vacina, protegida por um isopor, a
locais aonde só se chega a pé ou de barco. Mas se reconhece o valor de
seu vacinador, cobra também uma atuação mais ativa, para garantir a eficiên-
cia do programa: “O vacinador não pode ficar na sala de vacina fazendo
tricô ou lendo jornais. Ele tem de procurar, dentro do posto de saúde, se
existe alguma mãe, alguma criança, algum idoso com vacinas em atraso.
Tem de evitar o que a gente chama de oportunidade perdida: pessoas não
vacinadas saírem de uma unidade de saúde, ou ficarem com vacinas em
atraso, por não chegarem até a sala de vacina”.
Essa é a filosofia posta em prática no PNI, que rejeita com ênfase, por
exemplo, o fato de que em pleno século XXI muitas crianças ainda mor-
ram de tétano neonatal. Só em 2002, foram 31 casos (dados provisórios),
80% nas regiões Norte e Nordeste. Para os responsáveis pelo Programa,
é inconcebível um País com brilhante história de imunizações, que acabou
com a varíola e com a pólio e que já não tem mais sarampo, continuar a
ter crianças morrendo de tétano neonatal. Não importa o número de casos
— mínimo ou máximo; importante é que não haja casos desse tipo de
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C A P Í T U L O 3 | Cenas da vida real
Coordenação nacional
Hoje, a coordenação do Programa recebe a sigla CGPNI, é uma coorde-
nação geral, integrante da nova Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS,
do Ministério da Saúde, criada recentemente. Compete ao PNI traçar as
diretrizes e normas para o setor, além de adquirir e distribuir os produ-
tos imunobiológicos que preconiza. Nos estados, os coordenadores de
imunizações pertencem às secretarias estaduais e a eles compete acompa-
nhar e apoiar os municípios na execução das ações, consolidar e avaliar
essa execução, tudo em atenção às diretrizes e normas do PNI. Ao coor-
denador municipal cabe executar as ações.
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Cenas da vida real | C A P Í T U L O 3
Produção e conservação
No Brasil não há falta de vacinas. Em 1996 houve um desabastecimento
de vacina contra hepatite B, e em 1997 um problema com a tríplice bac-
teriana (DTP), o que levou à determinação de investir na produção na-
cional. Hoje, toda a produção dessas vacinas vem do Instituto Butantan
(São Paulo), que é um laboratório oficial. Há um planejamento para abas-
tecimento constante do País e, nos últimos anos, iniciou-se uma luta con-
tra as perdas, para que não se desperdicem vacinas por má distribuição
ou por vencimento da validade.
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C A P Í T U L O 3 | Cenas da vida real
Capacitação
São especialmente importantes as capacitações dos profissionais, não só
em rede de frio, mas em sala de vacina, vigilância de eventos pós-vaci-
nais, sistema de informação. É essencial, do mesmo modo, garantir a
capacitação dos gestores e sua atualização constante. Como existe gran-
de rotatividade de pessoas nos serviços, há que fazer cursos permanen-
temente — como o de epidemiologia voltado para os coordenadores,
num convênio com a London School (Inglaterra) e a USP (São Paulo),
que conta com a informática à distância. O site do Ministério da Saúde
coloca à disposição textos atualizados sobre assuntos de interesse ao
setor de imunizações e também favorece um processo de atualização
técnica continuada.
Hoje, logo que nasce, toda criança brasileira deve receber a BCG e a
vacina contra hepatite B; com 1 mês a segunda dose da hepatite B; com
2 meses a primeira dose contra a poliomielite e da vacina tetravalente
(DTP e contra Haemophilus influenzae b). Essas duas vacinas se repetem
aos 4 e aos 6 meses. Aos seis meses ela toma mais uma dose contra he-
patite B e, em determinadas localidades, também a vacina contra febre
amarela. A vacina contra o sarampo agora é dada aos 12 meses, numa
mesma ocasião protegendo contra a rubéola e a caxumba, com a tríplice
viral. Com isso, a criança não tem de tomar mais de uma vacina injetável
ao mesmo tempo.
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C A P Í T U L O 3 | Cenas da vida real
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Cenas da vida real | C A P Í T U L O 3
Monitoramento
Nos postos de vacinação, além dos cuidados com a conservação das va-
cinas, é indispensável melhorar o local de trabalho. Que as pessoas se
sintam bem em seu ambiente de trabalho. Toda sala de vacina deve ter
ar-condicionado. O conforto térmico e boas condições de trabalho nas
salas de vacinas são preocupações do PNI.
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C A P Í T U L O 3 | Cenas da vida real
O PNI tem claro que os seus serviços devem garantir a saúde da popula-
ção e devem ser prestados com qualidade. É preciso checar sempre se
isso está realmente acontecendo em cada canto do País. O aprimoramen-
to continuado do trabalho gerencial precisa ser desenvolvido a cada dia.
A comprovação da qualidade dos serviços tem como instrumento essen-
cial a vigilância epidemiológica. Se essa vigilância está atuante e não se
registram doenças, indiretamente se constata que a vacina está chegando
com qualidade. Num raciocínio oposto: se a vacina não chegasse com
qualidade aos estados, aos municípios, a vigilância estaria encontrando
pessoas doentes lá. O Brasil erradicou a pólio e há dois anos está sem casos
autóctones de sarampo. Isso significa o quê? Que a vacina está chegando e
que chega com qualidade. Outra forma para checar essa qualidade, mais
onerosa, é colhendo amostras dos produtos lá na ponta e mandando para
análise, para verificar a sua potência. Neste ano está sendo feito um tra-
balho nesse sentido. Trata-se de um estudo para certificar a qualidade das
vacinas no Brasil.
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Cenas da vida real | C A P Í T U L O 3
Responsabilidade compartilhada
Como numa sociedade todos têm papéis, no PNI o papel de quem está
na coordenação nacional não é maior que o daquele que faz a vacina che-
gar até a sala ou mesmo o do vacinador. Um precisa do outro. Se não
houver alguém na coordenação nacional vendo as questões mais amplas
para que o imunobiológico seja adquirido, distribuído e chegue em tem-
po e com qualidade, não haverá vacina para aplicar.
Outro ponto importante é que o poder público tem a sua obrigação, mas
a sociedade também tem. A mãe, o pai, a família tem de abrir a porta de
sua casa, sair com seu filho, levar para vacinar. O Programa não tem con-
dições de fazer vacinação casa a casa no País inteiro. Até faz, para popu-
lações ribeirinhas, em área rural, onde as pessoas não conseguem chegar
ao posto. Existem municípios na região Norte onde só se pode vacinar
chegando por terra, por carroça, em cima de trator, bicicleta. Por isso é
preciso definir estratégias apropriadas para cada situação. Não há condi-
ções de manter um posto de vacinação porque a população é pequena,
dispersa? Então, o prefeito, o secretário de saúde, a autoridade munici-
pal tem de criar a estratégia de se chegar até lá. Conseguem chegar até es-
sas populações nas campanhas eleitorais? Então sabem como chegar lá
nas campanhas de vacinação!
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CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
VACINAS PARA TODOS
Por cerca de 20 anos, a maior parte das vacinas foi desenvolvida pelo
setor público próximo da indústria farmacêutica. As vacinas utilizadas
em 1980 incluíam BCG, DTP, sarampo e vacina oral contra a poliomieli-
te, todas que vinham sendo usadas por mais de uma década e algumas
por até meio século. Os anos 80 e 90 são marcados pelo surgimento das
primeiras vacinas modernas, baseadas no ciclo da tecnologia de DNA e
da genética molecular, surgindo em 1986 a primeira vacina de DNA
recombinante, a hepatite B.
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C A P Í T U L O 4 | Vacinas para todos
Vacinas Atenuadas
São vacinas produzidas por cultivo e purificação de microorganismos adaptados
ou estruturados para eliminar sua patogenicidade, ou seja, a sua capacidade
de causar a doença, mantendo, porém, suas características de imunogenici-
dade. Neste grupo, podem ser citadas as vacinas contra sarampo, caxumba,
rubéola, poliomielite oral (tipo Sabin), febre amarela e BCG.
Vacinas Inativadas
São vacinas produzidas a partir de microorganismos mortos, utilizados de
forma integral ou parcial (frações da superfície do microorganismo), para
induzir a resposta imunológica. Neste grupo, podem ser citadas as vaci-
nas contra a poliomielite inativada (tipo Salk), influenza, difteria, tétano,
coqueluche e raiva.
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Vacinas para todos | C A P Í T U L O 4
Vacinas Conjugadas
São vacinas produzidas a partir de tecnologias de ponta, que utilizam frações
de microorganismos purificadas (polissacarídeos, por exemplo) e conju-
gadas, por meio de ligação química, com proteínas (toxóides, tetânico ou
diftérico), de forma a potencializar a resposta imune, principalmente em
crianças de baixa idade. Neste grupo podem ser citadas as vacinas modernas
como contra Haemophilus influenzae tipo b conjugada (Hib) e a vacina
contra Neisseria meningitidis tipo C conjugada.
Vacinas Recombinantes
São vacinas produzidas a partir de microorganismo geneticamente modi-
ficado, que utilizam um fragmento de DNA derivado de um microorganis-
mo que codifica uma proteína protetora. O DNA é derivado diretamente do
genoma do microorganismo ou pela transcrição do RNA mensageiro. As
proteínas podem ser produzidas pela inserção do DNA numa variedade de
vetores de expressão, tais como Escherichia coli, baculuovírus, poxivírus ou
certas linhagens de células, como as de ovário de hamster chinês ou pela
injeção direta, no músculo, de um plasmídeo carregando o DNA. Com
exceção desta última tecnologia, as proteínas produzidas por DNA recombi-
nante devem ser purificadas após a expressão. Neste grupo pode ser citada a
vacina contra a hepatite B.
Vacinas Combinadas
Resultam da combinação de vacinas na agregação de dois ou mais
microorganismos atenuados, microorganismos inativados ou antígenos
purificados combinados no processo de fabricação ou imediatamente
antes da administração. A combinação de vacinas visa prevenir várias
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C A P Í T U L O 4 | Vacinas para todos
O mercado de vacinas
Com o lançamento no mercado do primeiro produto obtido com tecnologia
moderna e protegido por patente, modifica-se profundamente o mercado
mundial de vacinas.
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Vacinas para todos | C A P Í T U L O 4
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C A P Í T U L O 4 | Vacinas para todos
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Vacinas para todos | C A P Í T U L O 4
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C A P Í T U L O 4 | Vacinas para todos
Bio-Manguinhos/Fiocruz
O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos – Bio-Manguinhos, Unidade
Técnica da Fiocruz, foi criado em 1976, com o desmembramento de setores
do Instituto Oswaldo Cruz que, até então, eram os responsáveis pela pro-
dução de vacinas e soros. A produção de vacinas e soros na Fiocruz foi
atividade de suma importância em seus primórdios e teve relevante papel na
evolução das políticas e das práticas de saúde pública brasileira. A erradicação
da varíola e o controle da febre amarela contaram com vacinas produzidas no
Instituto Oswaldo Cruz – IOC.
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Vacinas para todos | C A P Í T U L O 4
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C A P Í T U L O 4 | Vacinas para todos
PNI, desta vacina de última geração. Nos últimos anos, atendeu à demanda
de mais de 14 milhões de doses/ano.
Instituto Butantan
O Instituto Butantan foi fundado por Vital Brazil, em fevereiro de 1901, para
a produção do soro antipestoso, no combate à epidemia de peste bubônica
que surgia no Porto de Santos. Os soros e vacinas produzidos naquela época
não obedeciam às normas de qualidade, segurança e eficácia que são reque-
ridas hoje para produtos farmacêuticos.
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Vacinas para todos | C A P Í T U L O 4
Vacina BCG
O Instituto Butantan compartilha, com a Fundação Ataulpho de Paiva (FAP),
o fornecimento desta vacina ao PNI, para atender toda a demanda nacional.
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C A P Í T U L O 4 | Vacinas para todos
As outras instituições
O Instituto de Tecnologia do Paraná – Tecpar tem tido, ao longo de sua his-
tória de 60 anos, um compromisso com problemas de saúde pública, visando
atender à população paranaense e brasileira em suas necessidades de produ-
tos biológicos de qualidade. Como exemplo, a produção de antígenos para o
diagnóstico de brucelose — moléstia que atinge bovinos, caprinos e suínos, e
que por eles pode ser transmitida ao homem — vem sendo feita pelo Tecpar
desde 1950. Além disso, desde 1971 produz a vacina anti-rábica canina
(VARC) e, desde 1985, a vacina anti-rábica humana (VARH) tipo fluenzalida
(cérebro de camundongos).
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Vacinas para todos | C A P Í T U L O 4
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C A P Í T U L O 4 | Vacinas para todos
mesmo ano foi qualificado pela Organização Mundial da Saúde como forne-
cedor da vacina contra a febre amarela para as Agências das Nações Unidas
(Unicef, OMS, OPAS etc.).
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Vacinas para todos | C A P Í T U L O 4
BIBLIOGRAFIA
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C RÉDITOS
Agradecimentos
| CRÉDITOS
C RÉDITOS
Agradecimentos
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© 2003 – Ministério da Saúde
É permitida a reprodução parcial ou total dessa obra, desde que citada a fonte.
Ficha Catalográfica
NLM WA 110
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na Campanha de Erradicação da Varíola
PNI: UMA VITÓRIA DO BRASIL
(CEV), lançada pela Organização Mundial
MOACYR SCLIAR da Saúde (OMS) e à qual o Brasil aderira. A
OMS partira de um princípio acertado: dado
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na Campanha de Erradicação da Varíola
PNI: UMA VITÓRIA DO BRASIL
(CEV), lançada pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) e à qual o Brasil aderira. A P r o g rama N ac i o na l MOACYR SCLIAR
anos
OMS partira de um princípio acertado: dado
que o único reservatório do vírus da varíola
é o ser humano, se uma parcela suficiente da
população mundial fosse imunizada, o agen- de I mun i za ç õ e s E m 2004 completará um século a pri-
meira campanha de vacinação em
massa feita no Brasil. Idealizada por nin-
te causador da doença seria eliminado. Para guém menos do que Oswaldo Cruz, o fun-
isso, a participação do nosso País onde ainda dador da saúde pública no País tinha por
existiam muitos casos da doença era essen- objetivo controlar a varíola, que então
cial. A massiva campanha mundial deu dizimava boa parte da população do Rio de
resultado: pela primeira vez na história da
humanidade uma doença foi erradicada, isto
30 anos Janeiro. Cem anos após a introdução da
vacina, esse nos parece um objetivo exe-
é, deixou de existir. A erradicação de outras qüível. No entanto, a iniciativa de
doenças infecciosas não seria tão fácil, mas Oswaldo Cruz resultou em fracasso e em
uma redução muito significativa do número grave conflito: os protestos contra a vaci-
de casos era possível. nação obrigatória foram num crescendo
P r o g rama N ac i o na l d e I m u n i z a ç õ e s
até eclodirem na chamada Revolta da
Em 1973, a partir de uma proposta elabora- Vacina, que transformou as ruas da então
da por técnicos do Ministério assessorados capital federal em verdadeiro campo de
por respeitados sanitaristas e infectologistas, batalha, com barricadas que lembravam a
foi formulado o Programa Nacional de Comuna de Paris, ocorrida alguns anos
Imunizações (PNI). Uma das grandes inova- antes. O conflito deixou mortos e feridos;
ções do Programa foi o Dia Nacional de a obrigatoriedade da vacinação foi revoga-
Vacinação contra a Poliomielite, estratégia da. Seguiu-se uma epidemia da doença,
apoiada pelo descobridor da vacina oral que resultou em milhares de vítimas.
contra a pólio, Albert Sabin, e que se revelou
extraordinário sucesso. O Brasil não registra Esse episódio ilustra um dos problemas
casos da doença desde 1989, e recebeu da enfrentados por aqueles que se preocupam
OMS, em 1994, o Certificado de Erradicação em levar a vacina, clássico instrumento da
da Poliomielite. O PNI tem várias doenças saúde pública, à população. Outros existem:
como alvo: sarampo, difteria, tétano, coque- a falta de recursos, a dificuldade logística.
luche, tuberculose, influenza (gripe) e Obstáculos que no Brasil, traumatizado pela
outras, com vacinas aplicadas não só em lembrança da Revolta da Vacina, pareciam
crianças como em adultos, principalmente insuperáveis. Por tudo isso, é gratificante
mulheres e idosos. É apoiado pela OMS, lembrar que em 2003 completa três décadas
pelo Unicef, recebe contribuições do Rotary um dos programas de vacinação mais bem-
Internacional e do Programa das Nações sucedidos do mundo, o PNI, ou Programa
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Nacional de Imunizações, de cuja implanta-
Aliás, o Brasil tem levado sua experiência ção posso, inclusive, dar testemunho pessoal.
em vacinações a vários países. Médico de saúde pública, à época trabalha-
va na Secretaria Estadual da Saúde no Rio
O PNI é um êxito. Programa dirigido a toda Grande do Sul, onde acabara de ser criada
a população, tem recebido entusiástica ade- uma Unidade de Vigilância Epidemiológica
são, como se comprova a cada Dia Nacional que, mercê da alta qualidade de seu traba-
de Vacinação. É uma prova da capacidade lho, tornara-se um modelo não só para o
do País de se organizar para enfrentar seus Brasil como para muitos outros países, ser-
não poucos problemas. E é uma mensagem vindo inclusive de campo de estágio para
de confiança no futuro. Ministério técnicos. Essa Unidade teve papel destacado
da Saúde Brasília – DF
2003