O documento discute a globalização do capital e como esse processo afeta países e sociedades. A globalização financeira levou a uma maior mobilidade do capital e concentração de poder nas mãos de grandes fundos de investimento. Isso forçou muitos países a se "adaptarem" às demandas dos mercados financeiros globais, como o México, que sofreu uma crise econômica devastadora após liberalizar seus mercados. A globalização também beneficiou grandes corporações multinacionais ao facilitar a terceirização e deslocalização de produção.
O documento discute a globalização do capital e como esse processo afeta países e sociedades. A globalização financeira levou a uma maior mobilidade do capital e concentração de poder nas mãos de grandes fundos de investimento. Isso forçou muitos países a se "adaptarem" às demandas dos mercados financeiros globais, como o México, que sofreu uma crise econômica devastadora após liberalizar seus mercados. A globalização também beneficiou grandes corporações multinacionais ao facilitar a terceirização e deslocalização de produção.
O documento discute a globalização do capital e como esse processo afeta países e sociedades. A globalização financeira levou a uma maior mobilidade do capital e concentração de poder nas mãos de grandes fundos de investimento. Isso forçou muitos países a se "adaptarem" às demandas dos mercados financeiros globais, como o México, que sofreu uma crise econômica devastadora após liberalizar seus mercados. A globalização também beneficiou grandes corporações multinacionais ao facilitar a terceirização e deslocalização de produção.
O documento discute a globalização do capital e como esse processo afeta países e sociedades. A globalização financeira levou a uma maior mobilidade do capital e concentração de poder nas mãos de grandes fundos de investimento. Isso forçou muitos países a se "adaptarem" às demandas dos mercados financeiros globais, como o México, que sofreu uma crise econômica devastadora após liberalizar seus mercados. A globalização também beneficiou grandes corporações multinacionais ao facilitar a terceirização e deslocalização de produção.
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A mundializao do capital
Decifrar palavras carregadas de ideologia
Captulo 1 Chesnais, Franois; Traduo Silvana Finzi Fo So Paulo: Xam, 1996. Ttulo original: La mondialisation du capital. O adjetivo global surgiu no comeo dos anos 80, nas grandes escolas americanas de administrao de empresas, as clebres business management schools de Harvard, Columbia, Stanford, etc. Foi popularizado nas obras e artigos dos mais hbeis consultores de estratgia e marketing, formados nessas escolas o japons K. Ohmae (1985 e 1990), o americano M. E. Porter ou em estreito contato com eles. Os grandes industriais japoneses, cuja economia continua sendo uma das mais fechadas, mas cujos esto entre os mais internacionalizados do mundo, apoderaram-se dessa expresso para definir sua viso de novo mundo tridico que estaria nascendo. Estimular o globalismo significa, para eles, fazer o seguinte chamado aos dirigentes industriais e polticos americanos e europeus: vamos parar e brigar por questes menores e bobas, como cotas de importao e e que modo ns manejamos a poltica industrial, vamos tomar conscincia de nossos interesses comuns e cooperar! Termos vagos e ambguos O termo de origem francesa mundializao (mondialisation) encontrou dificuldades para se impor, no apenas em organizaes internacionais, mesmo que supostamente bilngues, como a OCDE (Organizao de Cooperao e Desenvolvimento Econmico), mas no discurso econmico e politico francs. Isso deve-se, claro, ao fato de que o ingls o veculo lingustico porexcelncia do capitalismo e que os altos executivos dos grupos franceses esto entupidos dos conceitos e do vocabulrio em voga nas business schools. Mas tambm, com certeza, ao fato de que o termo mundializao tem o defeito de diminuir, pelo menos um pouco, a falta de nitidez conceitual dos termos global e globalizao. Entre os pases do Grupo dos Sete EUA, Canad, Japo, Frana, Alemanha, Reino Unido e Itlia - , os mais fortes julgam ainda poder cavalgar vantajosamente as foras econmicas e financeiras que a liberalizao desencadeou, enquanto os demais esto paralisados ao tomares conscincia, por um lado, de sua perda de importncia e, por outro, do caminho que vo ter de percorrer para adaptar-se. Adaptar-se, mas ao qu? A globalizao quase invariavelmente apresentada como um processo benfico e necessrio. Os relatrios oficiais admitem que a globalizao decerto tem alguns inconvenientes, acompanhados de vantagens que tm dificuldade de definir. Mesmo assim, preciso que a sociedade se adapte (esta a palavra-chave, que hoje vale como palavra-de-ordem), s novas exigncias e obrigaes, e sobretudo que descarte qualquer ideia de procurar orientar, dominar, controlar, canalizar esses novo processo. Com efeito, a globalizao a expresso das foras de mercado, por fim liberadas (pelo menos parcialmente, pois a grande tarefa da liberalizao
est longe de concluda) dos entraves nefastos erguidos durante meio
sculo. Adaptar-se s estratgias privadas das multinacionais? Se o comeo do estudo da OCDE d poucas indicaes sobreas caractersticas dessa globalizao a qual seria preciso adaptar-se, certas, certas passagens seguintes, bem como outros trabalhos dessa organizao internacional, tm o mrito de serem absolutamente claros, pelo menos sobre parte dos traos caractersticos da mundializao. Os fluxos de intercmbio extracorporativo adquiriram importncia ada vez maior. O investimento internacional evidentemente acomodado pela globalizao das instituies bancrias e financeiras, que tm o efeito de facilitar as fuses aquisies transnacionais (OCDE, 1992, p. 21). Um trabalho mais recente da OCDE (1994) adota um enfoque histrico a fim de caracterizar a nova fase da mundializao: Historicamente, a expanso internacional deu-se sobretudo atravs atravs do comrcio exterior e sucessivamente, nos anos 80, por um desenvolvimento considervel do investimento direto internacional e da colaborao interempresas. No plano industrial, ento aos novos modos de organizao da produo, adotados pelas empresas multinacionais, que deveria se fazer a inevitvel adaptao. O problema, j a esse nvel, que a liberalizao e a desregulamentao, combinadas com as possibilidades proporcionadas pelas novas tecnologias de comunicao decuplicaram a capacidade intrnseca do capital produtivo de se comprometer e descomprometer, de investir e desinvestir, numa palavra, sua propenso mobilidade. Agora o capital est vontade para pr em concorrncia as diferenas no preo da fora de trabalho entre um pas e, se for o caso, uma parte do mundo e outro. Para isso, ocapital concentrado pode atuar, seja pela via do investimento seja pela terceirizao. Vantagens da teleinformtica para os grupos A teleinformtica (s vezes chamada telemtica) surgiu da convergncia entre novos sistemas de telecomunicaes por satlite e a cabo, as tecnologias de informatizao e a microeletrnica. Ela abriu, s grandes empresas e aos bancos, maiores possibilidades de controlar a expanso de seus ativos em escala internacional e de reforar o mbito mundial de suas operaes. A teleinformtica permite a extenso das relaes de terceirizao, particularmente entre empresas situadas a centenas de milhares de quilmetros umas das outras, bem como a deslocalizao de tarefas rotineiras nas indstrias que se valem grandemente da informtica. Ela abre caminho para a fragmentao de processos de trabalho e para novas formas de trabalho a domiclio. Adaptar-se s imposies dos mercados financeiros? A mundializao no diz respeito apenas s atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que elas provocam. Inclui tambm a globalizao financeira, que no pode ser abstrada da lista das foras as quais deve ser imposta a adaptao (irm gmea do ajuste estrutural) dos
mais fracos e desguarnecidos.
Em 1993, s a liquidez concentrada nas mos dos fundos mtuos de investimento (mutual funds), companhias de seguro e fundos de penso atingia 126% do PIB dos EUA e 165% do PIB do Reino Unido. No mesmo ano, as administradoras americanas e europias desses fundos (menos de 500, as que realmente interessam) concentravam em suasmos, sem contar os bancos e fundos japoneses, 8 trilhes de dlares. O ano de 1994 foi marcado por dois acontecimentos da maior importncia no plano financeiro. O primeiro foi a alta das taxas de juros americanas. O segundo fato a queda da taxa de cmbio do dlar. A nova sabedoria dos especialistas, infelizmente acompanhada pela maioria dos jornalistas econmicos, com poucas e honrosas excees, diz que os mercados (leia-se os operadores concentrados) sinalizam aos governos. Ora, qual seria o sinal da crise do SME (Sistema Monetrio Europeu) em julho de 1993, to prxima anterior? No seria o anncio de que os mercados se acostumaram a obter lucros financeiros vultuosos, explorando todas as possibilidades proporcionadas por taxas de cmbio absolutamente flexveis, e que portanto lhes intolervel que se mantenha uma faixa de cmbio mesmo que parcialmente regulada , suscetvel, eventualmente, de servir de modelo mais geral? E como interpretar o sinal da crise de 1994? Mxico como caso exemplar Fortes presses poltica externas e internas (abrangendo inclusive as mais do que dbias condies de Salinas contra Crdenas, em 1988) foram exercidas durante a presidncia de Salinas, para obter do Mxico a total liberalizao e desregulamentao de seus mercados monetrios e financeiros. Seria fcil sustentar que os operadores financeiros que organizaram os fluxos financeiros para o Mxico e decidiram que tais fluxos assumiriam principalmente (em quase 80%) a forma de compra de ttulos (obrigaes pblicas e privadas e aes), teriam contrado umaobrigao moral de estabilidade e de presena duradoura. O desemprego alcanou 25% da populao ativa, enquanto os salrios sofreram uma perda de poder de compra de 55%,e mais de dois milhes e meio de pessoas caram abaixo do limite de pobreza extrema. Foi esse o preo que os mexicanos pagaram por terem se adaptado ao jogo dos mercados financeiros. Mas os especialistas de Washington respondem, claro, que a culpa s deles, dos mexicanos que no souberam adaprtar-se bem, que no entenderam as regras do jogo e que, junto com os outros pases em situao parecida, devem ser submetidos a uma tutela ainda mais severa pelo FMI (Fundo Monetrio Internacional) (termos do comunicado final do G7 de Halifax, em julho de 1995). Internacionalizao do capital e mundializao Em alta at fins da dcada de 1970, os trabalhos sobre internacionalizao do capital caram de moda na Frana, de forma que os estudos anglosaxnicos sobre produo internacional tendem a fazer com que a pesquisa francesa perca a vantagem comparativa que poderia ter obtido com os minuciosos debates anteriores. A ideia subjacente a esta obra que
a mundializao deve ser pensada como uma fase especfica do processo de
internacionalizao do capital e de sua valorizao, escala do conjunto das regies do mundo onde h recursos ou mercados, e s a elas. Aspectos importantes da mundializao O IED (Investimento Externo Direto) suplantou o comrcio exterior como vetor principal no processo de internacionalizao, seu papel to importante nos servios como no setor demanufaturas. O chamado intercmbio intra-setorial a forma dominante do comrcio exterior. Caracteriza-se pelo intercmbio intragrupo, no quadro dos mercados privados das multinacionais, bem como por suprimentos internacionis organizados pelos grupos em insumos e produtos acabados. Os grupo industriais tendem a se reorganizar como empresas-rede, As novas formas de gerenciamento e controle, valendo-se de complexas modalidades de terceirizao, visam a ajudar os grandes grupos a reconciliar a centralizao do capital e a descentralizao das operaes explorando as possibilidades proporcionadas pela teleinformtica e pela automatizao. O movimento da mundializao excludente. Com exceo de uns poucos novos pases industrializados, que haviam ultrapassado, antes de 1980, um patamar de desenvolvimento industrial que lhes permite introduzir na produtividade do trabalho e se manterem competitivos, est em curso um ntido movimento tendente marginalizao dos pases em desenvolvimento. A mundializao o resultado de dois movimentos conjuntos estreitamente interligados, mas distintos. O primeiro pode ser caracterizado como a mais longa fase de acumulao ininterrupta do capital que o capitalismo conheceu desde 1914. O segundo diz respeito s polticas de liberalizao, de privatizao, de desregulamentao e de desmantelamento de conquistas sociais e democrticas, que foram aplicadas desde o incio da dcada de 1980, sob o impulso dos governos Thatcher e Reagan. Sem a interveno poltica ativa dos governos Thatcher e Reagan, e tambm doconjunto dos governos que aceitaram no resistir a eles, e sem a implementao de polticas de desregulamentao, de privatizao e de liberalizao do comrcio, o capital financeiro internacional e os grandes grupos multinacionais no teriam podido destruir to depressa e to radicalmente os entraves e freios liberdade deles de se expadirem vontade e de explorarem os recursos econmicos, humanos e naturais, onde lhes for conveniente. A tecnologia e as relaes capital-trabalho Beneficiando-se, simultaneamente, do novo quadro neoliberal e da programao por microcomputadores, os grupos poderam reorganizar as modalidades de sua internacionalizao e, tambm, modificar profundamente suas relaes com a classe operria, particularmente no setor industrial. Cada passo dados na introduo da automatizao contempornea, baseada nos microprocessadores, foi uma oportunidade para destruir as
formas anteriores de relaes contratuais, e tambm os meios inventados
pelos operrios, com bases em tcnicas de produo estabilizadas, para resistir explorao no local de trabalho. Em cada fbrica e em cada oficina, o princpio de learn production, isto , sem gordura de pessoal (Wornack et al, 1992) tornou-se a interpretao dominante do modelo ohnista japons de organizao do trabalho (Coriat, 1992). O sistema toyotista de terceirizao e o just-in-time foram adotados ainda mais rapida e facilmente. Mesmo no Japo, essas tcnicas de organizao na empresa haviam, desde a origem, servido aos grandes grupos, os que emitem pedidos, para fazer recairsobre as firmas terceiras os imprevistos conjunturais e para impor aos assalariados dessas firmas o peso da precariedade contratual, combinado com nveis salariais bem inferiores. A implementao da produo sem gorduras de pessoal no elimina o interesse das multinacionais por locais de produo de baixos salrios, mas elas no precisam mais deslocar-se milhares de quilmetros para achar esses locais. Evidentemente, os salrios no Mxico so superiores aos da maioria dos pases do Sudeste Asitico, mas, com a produo flexvel e a automatizao, os grandes grupos industriais americanos podem suportar esse sobrecusto, tendo em contrapartida a imensa vantagem de poderem redirecionar suas operaes de terceirizao e produo na Amrica do Norte. Na Europa a situao no diferente.Concentrao transfronteiras e oligoplio mundial H uns quinze anos, a literatura econmica conta com abundncia de estudos sobre as imperfeies e ineficincias dos mercados onde os principais operadores so pblicos. Queiram nos permitir, neste livro, mudar um pouco o enfoque e apontar os refletores para a concentrao escala da Trade, bem sobre o oligoplio mundial. Do ponto de vista geopoltico, o conceito de oligoplio mundial remete ao que K. Ohrnae (1985) chamou de Trade, expresso de muito sucesso. Mas o termo oligoplio mundial refere-se igualmente ao atual modo principal de organizao das relaes entre as maiores firmas mundiais. Preferimos defini-lo, no como uma forma de mercado ou uma estrutura de ofertas, e sim como um espao de rivalidadeindustrial. delimitado por um tipo peculiar de relaes de interdependncia, que ligam o pequeno nmero de grandes grupos que chegam a adquirir e manter uma posio de concorrente efetivo a nvel mundial, em determinada indstria (ou complexos de indstrias de tecnologia genrica comum). Esse espao um lugar de concorrncia encarniada, mas tambm de colaborao entre os grupos. Mundializao e agravamento da polarizao No enfoque das business schools, o termo global se refere capacidade da grande empresa de elaborar, para ela mesma, uma estratgia seletiva em nvel mundial, a partir de seus prprios interesses. Esta estratgia global para ela, mas integradora ou excludente para os demais atores, quer sejam pases, outras empresas ou trabalhadores. A polarizao , em primeiro ligar, interna a cada pas. Em segundo lugar, h uma polarizao
internacional, aprofundando brutalmente a distncia entre os pases
situados no mago do oligoplio mundial e os pases da periferia. Estes no so mais apenas pases subordinados, reservas de matriasprimas, sofrendo os efeitos conjuntos da dominao poltica e do intercmbio desigual, como na poca clssica do imperialismo. So pases que praticamente no mais apresentam interesse, nem econmico nem estratgico (fim da guerra fria), para os pases e companhias que esto no centro do oligoplio. So pesos mortos, pura e simplesmente. No so mais pases destinados ao desenvolvimento, e sim reas de pobreza (palavra que invadiu o linguajar do Banco Mundial), cujos emigrantes ameaam ospases democrticos. parte o pequeno nmero de novos pases industrializados, que haviam ultrapassado, antes de 1980, um patamar de desenvolvimento industrial suficiente para lhes permitir adaptar-se, com grandes dificuldades (D. Ernest e D. OConnor, 1989 e 1992), aos novos ritmos de produo de trabalho e se manterem competitivos, bem como uns poucos pases associados aos trs plos da Trade, observa-se uma ntida tendncia marginalizao dos pases em desenvolvimento. Mas preciso dar mais um passo e consideerar as implicaes das deslocalizaes para os pases de baixos custos salariais e os fluxos comerciais resultantes. Essas implicaes decorrem das relaes cuja iniciativa cabe aos grupos industriais e comerciais dos pases pertencentes ao oligoplio mundial, que podem assim pr em concorrncia a oferta de fora de trabalho em diferentes pases. A liberalizao do comrcio exterior e dos movimentos de capitais permitiram impor, s classes operrias dos pases capitalistas avanados, a flexibilizao do trabalho e o rebaixamento dos salrios. A tendncia para o alinhamento nas condies mais desfavorveis aos assalariados. As deslocalizaes, em funo das condies que as regem, integram-se ao movimento de polarizao e o acentuam, juntando seus efeitos aos da desconexo forada no intercmbio comercial. Elas no levam a novos milagres de tipo coreano. Tais milagres exigem poderosos apoios externos (como a ajuda macia dos EUA), mesmo quando so passageiros e perfeitamente oportunistas, e sobretudo, intervenes ativas, como foio caso da Coria do Sul. A civilizao da mundializao Em seu livro Global Dreams, R. Barnet e J. Cavannagh (1994) esboam uma anlise da civilizao do capitalismo mundializado. a civilizao do bazar cultural mundializado e do centro comercial mundializado (global shopping mall). Isto certamente importante, para compreender certos aspectos da mundializao; medir o alcance da transformao, ao longo dos anos 80, das chamadas indstrias de mdia em campo importantssimo da valorizao do capital (primeiro para os capitais americanos depois para os grupos japoneses). Ao se organizarem para produzir mercadorias cada vez mais padronizadas, sob formas de telenovelas, filmes da nova gerao hollywoodiana, vdeos, discos e fitas musicais, e para distribu-los em escala planetria, explorando as novas tecnologias de telecomunicaes por
satlite e por cabo, essas indstrias tiveram, ao mesmo tempo, um papel
importante em reforar o nivelamento da cultura e, com isso, a homogeinizao da demanda a ser atendida a nvel mundial. O condicionamento subjetivo dos habitantes do planeta pela persuaso da mdia, bem como o papel especial desempenhado pelos EUA na dominao do imaginrio individual e coletivo, leva A. Vallado (1993) a dizer que o sculo XXI ser americano. Vai ser preciso esperar algumas dcadas para saber se ele est certo ou no. Mas, em termos imediatos, houve, efetivamente, uma notvel reafirmao da posio central dos Estados Unidos na dominao capitalista mundial. As razes do afrouxamento da ordem mundial esto naincapacidade combinada com a recusa do G7 de oferecer a menor resposta, no apenas aos problemas do desemprego, da misria econmica e social e da polarizao, mas tambm s profundas perturbaes financeiras, que atentam sua posio de governo de grandes potncias capitalistas. A Grande Transformao, cinquenta anos depois Em 1994, Karl Polanyi publicou um livro que teve considervel influncia e cuja ressonncia ainda grande. Para Polanyi, o nazismo representava o prolongamento extremado das derivaes do sistema. No entanto, seu livro termina com uma grande esperana. No momento em que chegavam ao fim as grandes convulses da Segunda Guerra Mundial, Polanyi acreditava poder anunciar, com base no keynesianismo e no new deal, e tambm em certos mecanismos da economia de escassez da guerra, o comeo de uma nova poca. Cinquenta anos depois, estamos nos antpodas das esperanas de Polanyi. Por enquanto, o triunfo da mercadorizao, isto , daquilo que Marx considerava fetichismo da mercadoria, total, mais completo do que jamis foi em qualquer momento do passado. O uso da terra, bem como de todos os recursos naturais, renovveis ou no, foi submetido ainda mais estreitamente s leis do mercado e do lucro capitalista. Produtividade a palavra-chave, mesmo se a CEE (Comunidade Econmica Europia) tem de organizar reas sem cultivo e desertificadas para abrir o mercado aos concorrentes no-europeus, enquanto milhes de seres humanos no comem vontade nos pases mais ricos e outros milhes de seres humanos passam fome por toda parte nomundo. verdade que a mercadoria-moeda desapareceu com o desmantelamento de Bretton-Woods (Sistema Bretton Woods de gerenciamento econmico internacional, estabeleceu em julho de 1944 as regras para as relaes comerciais e financeiras entre os pases mais industrializados do mundo) e a desmonetizao do ouro. Mas sua substituio por uma moeda de crdito - que certamente uma moeda de esprito, portanto produo humana no subtraiu a moeda do mercado auto-regulador. Pelo contrrio, permitiu-lhe exercer, no campo financeiro, uma tirania sem igual. Organizao deste livro A noo de internacionalizao tem carter genrico. Inclui o comrcio exterior, o investimento externo direto e os fluxos internacionais do capital que mantm a forma monetria. Hoje pode at ser ampliada, passando a
incluir as entradas e sadas de tecnologias, seja incorporadas aos
equipamentos, seja transmitidas e adquiridas de forma intangvel; os movimentos internacionais de pessoal qualificado e os fluxos de informaes e dados transfronteiras (OCDE, 1992, p. 232). No se trata de contrapor as diferentes formas de internacionalizao, e menos ainda de excluir esta ou aquela, mas simplesmente de pens-las como um todo, estabelecendo entre elas uma hierarquia, fundamentada tanto na anlise, como nos fatos observveis e mensurveis. Aqui, considera-se que o investimento leva a melhor sobre o intercmbio comercial, que s ser examinado em detalhe depois da anlise do IED e das operaes das multinacionais.