Estética e Poética Da Velhice - Versão Final
Estética e Poética Da Velhice - Versão Final
Estética e Poética Da Velhice - Versão Final
on
autobiographical
RESUMO
O presente trabalho objetiva investigar, sob a lente da psicanlise, a
(re)construo do eu na velhice. A escrita autobiogrfica aponta a uma
potica e a uma esttica do eu enquanto (re)construo de si, e possibilita
que o sujeito busque em sua histria ferramentas para reinscrever-se no
presente. Destaca-se ainda a relao do idoso com o tempo. A percepo da
finitude da vida ressalta a sensao de desamparo e angstia. A
rememorao pode surgir como forma de lidar com essa angstia. Concluise que a poiesis do sujeito possibilitada pela escrita de si pode auxili-lo a
lidar com o presente e projetar-se no futuro. Isso pode (re)abrir caminhos
para uma reconstruo do lugar social e simblico do velho.
Palavras-chave:
velhice,
psicanlise,
poiesis,
esttica,
memria
autobiogrfica.
ABSTRACT
This study aims to investigate, under the lens of psychoanalysis, the (re)
construction of the self in old age. The autobiographical writing points to a
poetic and esthetic of the self while building itself, and allows the subject
seeks in its history tools to re-enroll in the present. Another highlight is the
relation of the elderly with time. The perception of the finitude of life
emphasizes the feeling of helplessness and distress. The remembrance may
arise as a way to deal with such distress. We conclude that the subject
poiesis enabled by the writing of itself might help him to deal with the
present and projecting himself into the future. This can (re) open ways for a
reconstruction of the social and symbolic place of the elder.
Keywords: old age, psychoanalysis, poiesis, aesthetics, autobiographical
memory.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicologia Rio de Janeiro
v. 15
n. 1
p. 58-78
2015
RESUMEN
Este estudio tiene como objetivo investigar, con la lente del psicoanlisis, la
(re) construccin del yo en la tercera edad. Los autobiogrficos escritos
indican a una potica y una esttica del yo como (re) construccin del yo, y
permite que el sujeto busca en sus herramientas de su historia para volver a
inscribirse en este. Otro punto a destacar es la relacin de las personas
mayores con el tiempo. La percepcin de la finitud de la vida destaca la
sensacin de impotencia y angustia. Los recuerdos pueden surgir como una
forma de lidiar con esta ansiedad. Llegamos a la conclusin de que la poiesis
del sujeto posiblitada por la propia escritura puede ayudarle a lidiar con el
presente y proyectar hacia el futuro. Esto puede (re) abrir vas para una
reconstruccin del lugar social y simblico de la vejez.
Palabras clave: vejez, psicoanlisis, poiesis, esttica, memoria
autobiogrfica.
1 Introduo
A esttica, segundo Baumgarten (1735/1954), emergiu como um
discurso voltado para o desvelamento da estrutura interna sensvel
de fenmenos racionais. Mais tarde, a partir de Descartes, incorporou
tambm a admirao como um de seus elementos bsicos. pela
admirao que o sujeito levado a se aproximar dos objetos que lhe
parecem raros e extraordinrios e consider-los cuidadosamente.
Entretanto, o conhecimento obtido pela aproximao contemplativa
no , seno, um conhecimento marcado pela confuso, isto , os
elementos da representao esttica (...) resistem quela
discriminao em unidades discretas caracterstica do pensamento
conceitual (Eagleton, 1990/2010) x1. Pode-se dizer que essa
confuso se constri a partir da juno de vrios aspectos que se
interpenetram e fogem categorizao racional, apesar de aberta a
ela.
Poderamos afirmar, concordando com Eagleton (1990/2010), que a
esttica atravessa a totalidade de nossa vida sensvel e envolve o
movimento de nossos afetos e averses, de como o mundo atinge o
corpo em suas superfcies sensoriais, tudo aquilo enfim que se
enraza no olhar e nas vsceras. A esttica, enquanto discurso sobre
o corpo em Baumgarten, envolve a dimenso mais palpvel da
dimenso do humano implicando, dessa forma, uma existncia
sensual. Esse aspecto sensual emerge da interioridade do objeto
externo e encontra consenso espontneo no corpo do admirador.
A velhice constitui um objeto aberto admirao, mesmo ante a
perturbao imposta pelas perdas. Tanto o prprio velho quanto o
sujeito no velho, uma vez abertos a novas percepes, podem
construir novas experimentaes para a velhice, tomando-a como
objeto de contemplao. Rubem Alves, escritor mineiro, afirma que a
experincia de se ver refletido nos olhos de uma moa no metr o
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10-14.
Endereo para correspondncia
Priscilla Melo Ribeiro de Lima
Universidade Federal de Gois
Faculdade de Educao
Rua 235, Setor Universitrio, CEP 74605-050, Goinia, GO, Brasil
Endereo eletrnico: primlima@gmail.com
Terezinha de Camargo Viana
Universidade de Braslia
Instituto de Psicologia, Programa de Ps-graduao em Psicologia Clnica e Cultura
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Braslia, DF, Brasil
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Sostenes Cezar de Lima
Universidade Estadual de Gois
Mestrado Interdisciplinar em Educao, Letras e Tecnologia
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Endereo eletrnico: limasostenes@gmail.com
Recebido em: 12/08/2014
Aceito em: 01/12/2014
Notas
* Doutora em Psicologia Clnica e Cultura pela Universidade de Braslia.
** Ps-doutorado em Psicologia, Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa,
Portugal.
*** Doutorado em Lingustica pela Universidade de Braslia. Ps-doutorando em
Cincias da Religio pela Pontifcia Universidade Catlica de Gois.
1
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pginas.
2
Lao de parentesco entre avs e netos que envolve a assuno, por parte dos
avs, de uma funo derivada das funes parentais de cuidado (Lima, Coelho, &
Gnther 2011; Oliveira, Vianna, & Crdenas, 2010).
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