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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL


ESCOLA DE ENGENHARIA
ENGENHARIA DE MATERIAIS

ENG 02298 TRABALHO DE DIPLOMAO

INFLUNCIA DO TRATAMENTO DE ESFEROIDIZAO SOBRE AS


PROPRIEDADES MECNICAS DO AO AISI 5140

Jader Andr Dal Sochio


171369

Orientadora: Prof. Dr. Liane Roldo

Julho de 2014

JADER ANDR DAL SOCHIO

INFLUNCIA DO TRATAMENTO DE ESFEROIDIZAO SOBRE AS


PROPRIEDADES MECNICAS DO AO AISI 5140

Trabalho de Concluso de curso,


apresentado como requisito parcial
obteno do Grau em Engenharia de
Matrias, pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul.
Orientadora: Prof. Dr. Liane Roldo

Porto Alegre

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer aos professores da UFRGS, em especial os do


Departamento de Engenharia de Materiais, pelos ensinamentos. Em especial,
aos professores lvaro Meneguzzi, Vnia Caldas de Sousa, Luis Alberto dos
Santos

minha

orientadora

Liane

Roldo

pelas

oportunidades

aconselhamentos dados.
Agradeo o apoio e amizade de colegas de aula e de LABIOMAT nesta
jornada acadmica.
Quero agradecer empresa Irwin Ferramentas do Brasil pela
oportunidade de estgio dada. L conheci grandes profissionais e excelentes
pessoas, que sempre estiveram dispostas a me ajudar e me orientar
profissionalmente.
Ao meu tio e padrinho Carlos Alberto Machado, pioneiro na famlia a
estudar na UFRGS, que sempre incentivou e apoiou meus estudos na
universidade, meu muito obrigado.
Agradeo ao Grupo de Ensaios Mecnicos (GEM) pelos ensaios de
trao e ao Wilbur, do Laboratrio de Caracterizao (LACAR), por entender
minha falta de tempo e me ajudar nos tratamentos trmicos realizados para
este trabalho.
Aos amigos de Farroupilha pelo apoio e momentos singulares que
passamos juntos.
minha namorada Franciele, que nos momentos bons e ruins esteve
sempre comigo.
Por ltimo, a base de tudo, meus pais Alencar e Andra, por sempre
incentivarem a minha liberdade de escolha, por apoiarem minhas decises,
pela educao dada, pelos sacrifcios feitos em prol dos filhos, meu MUITO
OBRIGADO.

RESUMO

Devido constante otimizao de processos de fabricao, que envolve a


reduo de custos de produo e aumento de produtividade, mantendo a
qualidade necessria do produto, desenvolvem-se vrias tcnicas no que se
diz respeito ao material para que este seja transformado em produto. Atravs
do tratamento trmico de esferoidizao do ao AISI 5140, buscou-se a
microestrutura e as propriedades mecnicas que melhor se ajustassem ao
processo de conformao a frio. Para obter estes resultados, amostras foram
submetidas a 4 e 8 horas de tratamento trmico de esferoidizao a 690C e
comparados com o tratamento trmico de recozimento pleno. Aps foram
realizados ensaios de microdureza Vickers, ensaio de trao, anlise de
microestrutura em microscpio ptico, bem como anlise em microscpio
eletrnico de varredura. Tambm foram realizados testes em mquina de
conformao de perfis a frio, a fim de se analisar e comparar o aspecto visual.
Os resultados da micrografia mostraram, no tratamento trmico de
esferoidizao, a evoluo com o tempo da decomposio das lamelas de
cementita presentes na perlita para, carbetos de ferro coalescidos. Como
esperado, o ensaio de dureza mostrou a diminuio da dureza do ao, de
acordo com o tempo de tratamento trmico. Assim como os dados fornecidos
pelo ensaio de trao mostram que, tanto o limite de escoamento, quanto o
limite de resistncia trao aumentaram nas amostras com recozimento
pleno enquanto que o alongamento aumentou consideravelmente com o
tratamento de esferoidizao de 8 horas. J o acabamento superficial mantevese constante nos perfis conformados, havendo maior grau de descamamento
nas amostras esferoidizadas quando a carga nas amostras era aumentada.
Palavras-chave: AISI 5140, esferoidizao, recozimento pleno, conformao a
frio, propriedades mecnicas.

NDICE DE FIGURAS
Figura 1:Diagrama TTT do ao AISI 5140, mostrando as linhas de
transformao de fase e principais temperaturas de tratamentos trmicos. .... 11
Figura 2: Ilustrao do ciclo trmico de recozimento pleno traado em diagrama
TTT do ao AISI 5140. ..................................................................................... 13
Figura 3: Diagrama Ferro-Carbono evidenciando as faixas de temperatura
utilizadas para o tratamento trmico de esferoidizao. .................................. 14
Figura 4: Ciclos Possveis de Tratamento Trmico de Esferoidizao............. 14
Figura 5: Ao hipoeutetide AISI/SAE 1040 constitudo de ferrita (colorao
branca) e perlita (colorao escura). Ataque qumico de 4% picral, 2% nital.
Aumento de 800x. ............................................................................................ 16
Figura 6: Representao esquemtica do estgio em que as lamelas de
cementita se fragmentam, no incio do processo de esferoidizao. ............... 16
Figura 7: Ao hipoeutetide AISI/SAE 1040, de composio inicial ferrticaperltica, aps 21 horas de tratamento trmico de esferoidizao, a 700 C.
Ataque qumico: 4% Picral e 2% Nital. ............................................................. 17
Figura 8: Imagem ilustrativa do processo de conformao de perfil. O ao
comprimido entre dois rolos com recartilhado igual ao perfil da broca. ............ 24
Figura 9: Micrografia do ao AISI 5140 com recozimento pleno. Nota-se que a
microestrutura composta de ferrita e perlita. Aumento de 500x. ................... 25
Figura 10: Micrografia da amostra original, onde se observa microestrutura
composta por ferrita pr-eutetide (fase clara) e perlita (fase escura). Aumento
de 1000x........................................................................................................... 25
Figura 11: Imagem com 1000x de aumento, evidenciando diferente
microestrutura em relao amostra original, onde as lamelas de cementita da
perlita transformaram-se em partculas menores. ............................................ 26
Figura 12: Microestrutura do ao AISI 5140 com carbonetos coalescidos por 8
horas a 690 C (aumento de 1000x, ataque Nital 2%). .................................... 26
Figura 13: Micrografia de MEV revelando a estrutura perltica da amostra
original. Parmetro de anlise: 3000 vezes. .................................................... 27
Figura 14: A imagem mostra a distribuio da cementita aps 4 horas de
tratamento trmico de esferoidizao, mostrando que o tempo ao qual foi
submetida a amostra no foi suficiente para a esferoidizao. ........................ 28
Figura 15: A microscopia eletrnica evidenciou que o tempo de 8 horas de
esferoidizao foi eficaz quanto formao das esferas de cementita. .......... 28
Figura 16: Carbonetos claramente esferoidizados em matriz ferrtica, com
aumento de 5000 vezes em MEV, com tempo de esferoidizao de 8 horas. . 29
Figura 17: Grfico representativo da mdia de valores de limite de escoamento
(1), limite de resistncia trao (2) e alongamento mximo (3). .................... 30
Figura 18: Macrografia do incio do canal do perfil conformado da ferramenta,
com recozimento pleno, evidenciando o bom acabamento superficial. ............ 31

Figura 19: Macrografia do final do canal do perfil conformado da ferramenta,


com recozimento pleno, mostrando a rugosidade superficial. .......................... 32
Figura 20: Macrografia do canal da amostra esferoidizada por 4 horas e
conformada a frio, mostrando o bom acabamento superficial. ......................... 32
Figura 21: Macrografia do final do canal do perfil conformado, com
esferoidizao de 4 horas. Nota-se o aumento da rugosidade e o princpio de
descamamento de material. ............................................................................. 33
Figura 22: Macrografia do incio do canal da amostra esferoidizada por 8 horas.
Bom acabamento superficial. ........................................................................... 33
Figura 23: Macrografia do fim do canal da amostra esferoidizada por 8 horas.
Alm da elevada rugosidade, ocorre descamamento de metal no canto direito
superior. ........................................................................................................... 34
Figura 24: Comparao do fechamento do perfil da raia das amostras recozida
(a) e esferoidizada por 8 horas (b). .................................................................. 34

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Composio qumica do ao AISI 5140............................................ 10


Tabela 2: Valores encontrados em ensaio de dureza Vickers H1, com 4
medies a meio raio e 1 medio no centro de cada amostra. ...................... 29

SUMRIO
1. INTRODUO ......................................................................................................... 8
1.1 Problema de Pesquisa .......................................................................................... 9
1.2 Objetivo Geral ....................................................................................................... 9
1.2.1 Objetivos Especficos ........................................................................................ 9
2. FUNDAMENTAO TERICA .............................................................................. 10
2.1 Ao AISI 5140 ...................................................................................................... 10
2.2 Tratamentos Trmicos........................................................................................ 12
2.2.1 Tratamento Trmico de Recozimento Pleno .................................................. 12
2.2.2 Tratamento Trmico de Esferoidizao.......................................................... 13
2.3 Etapas de Coalescimento da Cementita............................................................ 15
2.4 Mtodos de Caracterizao e Ensaios Mecnicos ........................................... 17
2.4.1 Anlise Microgrfica ........................................................................................ 17
2.4.2 Ensaio de Dureza ............................................................................................. 18
2.4.3 Ensaio de Trao ............................................................................................. 19
2.5. Conformao Mecnica ..................................................................................... 19
3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ...................................................................... 22
3.1 Amostragem ........................................................................................................ 22
3.2 O Tratamento Trmico ........................................................................................ 22
3.3 Caracterizao e Ensaios mecnicos................................................................ 22
3.3.1 Anlise Microgrfica ........................................................................................ 22
3.3.2 Ensaio de Dureza Vickers................................................................................ 23
3.3.3 Ensaio de Trao Uniaxial ............................................................................... 23
3.4 Anlise do Material Conformado a Frio ............................................................. 23
4. RESULTADOS E DISCUSSES ............................................................................ 25
4.1 Anlise de Microestrutura .................................................................................. 25
4.2 Ensaios Mecnicos ............................................................................................. 29
4.2.1 Ensaio de Dureza ............................................................................................. 29
4.2.2 Ensaio de Trao ............................................................................................. 30
4.2.3 Inspeo Visual ................................................................................................ 31
5. CONCLUSO......................................................................................................... 36
5.1 Proposies para trabalhos futuros .................................................................. 37
6. REFERNCIAS ...................................................................................................... 38

1. INTRODUO

As empresas tm como prtica a reduo de custos e aumento da


produtividade. Produzir mais, utilizando menos, est fortemente ligado
competitividade de preos no mercado. Para isto, tem-se investido fortemente
em estudos de novos processos e tambm na seleo de materiais nos quais
sero aplicados estes processos. A definio da matria-prima adequada para
o processo, alm das mquinas e equipamentos, tem sido determinante para
gerar eficincia no processo produtivo. Alm disso, a escolha da matria prima
deve manter as qualidades do produto as quais os clientes j esto
acostumados, sejam elas suas caractersticas visuais (acabamento), ou
mecnicas (resistncia mecnica).
Alm de manter as caractersticas e propriedades finais do produto, a
matria prima selecionada deve apresentar fcil processamento. Caso
contrrio, haver aumento do custo de processo, inviabilizando a nova
tecnologia. Um exemplo caracterstico disto a usinabilidade de aos com alto
teor de carbono, onde h desgaste excessivo da ferramenta de corte, quando
comparado a aos com menor teor de carbono (SANTARRIAGA, Pablo A.C,
2008). Por outro lado, aos de elevada ductilidade reduzem a vida til da
ferramenta devido formao de aresta postia.
No processo de laminao a frio, onde as temperaturas de trabalho so
abaixo da temperatura de recristalizao (Schaeffer, 1995)o metal submetido
a cilindros que comprimem no formato desejado, deixando um acabamento
superficial de qualidade e conferindo-lhe propriedades mecnicas e tolerncia
dimensional. Devido ao fato do processo em questo ser em temperatura
ambiente,

determinados

tipos de

ao

podem

oferecer

resistncia

conformao, criando defeitos superficiais e internos no produto.


Quando se trata de processamento de materiais metlicos, fatores
dependentes do material, como composio qumica, microestrutura e as
propriedades mecnicas no momento em que o este ao ser processado,

alm de suas dimenses, possuem influncia direta nos parmetros de


mquina e caractersticas do produto final (Metals HandBook, 1978).
Para este estudo foi utilizado o ao AISI 5140, onde foram realizados
ensaio de dureza, ensaio de trao uniaxial e anlise de microestrutura das
condies recozida e esferoidizadas por 4 e 8 horas, alm de anlise visual do
material conformado.

1.1 Problema de Pesquisa


Qual a condio microestrutural que possibilita excelente conformao
a frio do ao AISI 5140?

1.2 Objetivo Geral


Analisar as propriedades mecnicas e de microestrutura de um ao AISI
5140 tratado termicamente por recozimento pleno e por esferoidizao, visando
a melhor condio para conformao mecnica a frio.

1.2.1 Objetivos Especficos


- Analisar a microestrutura do ao AISI 5140 com tratamentos trmicos
de recozimento pleno e esferoidizao por 4 e 8 horas.
- Realizar ensaios mecnicos de microdureza Vickers e de trao
uniaxial.
- Realizar inspeo via esteroscpio do acabamento superficial das
amostras conformadas.

10

2. FUNDAMENTAO TERICA

2.1 Ao AISI 5140


O ao AISI 5140 classificado como um ao de construo mecnica
ligado. Em funo da temperatura que estes aos podem ser conformados,
pode-se classific-los como trabalho a frio, a morno ou a quente. Os produtos
dos aos de construo mecnica, portanto do ao AISI 5140, vo desde
barras trefiladas para fabricao de eixos, molas, ferramentas, alm de serem
empregados na agroindstria e no setor metal mecnico (Belgo,2014).
Segundo a NBR NM 87 a composio qumica do AISI 5140 pode ser
vista na Tabela 1.
Tabela 1: Composio qumica do ao AISI 5140.

Ao
5140

%C
0.38-0,43

%Mn
0,70-0,95

%P
0,035

%S
0,040

%Si
0,15-0,35

%Cr
0,70-0,9

Fonte: NBR NM 87 (2000)

Dentre as principais propriedades que podem ser obtidas, percebe-se a


elevada dureza obtida quando temperado em gua ou em leo, alcanando
valores entre 57 e 60 HRc na superfcie. Alm disso, processos alternativos de
beneficiamento como nitretao, carbonitretao, austmpera e martmpera
podem ser utilizados para otimizao de propriedades (Heat Treaters Guide,
1995). A efetividade dos tratamentos de austmpera e martmpera so
possveis devido presena de cromo na composio, que aumenta a
temperabilidade do ao.
A Figura 1 mostra o diagrama TTT caracterstico do ao AISI 5140,
apresentando as principais temperaturas de tratamentos trmicos do ao, como
as linhas A1 e A3, e linhas de incio de transformao martenstica.

11

Figura 1:Diagrama TTT do ao AISI 5140, mostrando as linhas de transformao de


fase e principais temperaturas de tratamentos trmicos.
Fonte: adaptado de Heat Treaters Guide, (1994).

Alm disso, o grfico mostra faixas de dureza que podem ser obtidas
relativas s temperaturas utilizadas para resfriamento.
Por ser um ao para beneficiamento, vrias tcnicas so utilizadas para
se obter as propriedades mecnicas desejadas. A nitretao inica, que tm
grandes utilizaes industriais devido rpida penetrao do nitrognio e
aumento da resistncia fadiga e ao desgaste (Kowacs, 1986), foi utilizada,
variando-se parmetros como temperatura, tempo e composio de gs
utilizado (N2/H2), resultando em aumento de at 45% da resistncia a fadiga e
aumento de at 100% da dureza superficial (Alsaran et al, 2002) do ao AISI
5140.
O ao AISI 5140 tambm pode ser utilizado no processo de fabricao
chamado Hot Ring Rolling, onde o material de partida um anel de paredes
espessas (Zhichao, 2010). No final do processo, as paredes do material esto
com espessura menor e o dimetro e altura do anel nas medidas
especificadas. A estrutura final dos gros circunferencial, melhorando as
propriedades mecnicas. As aplicaes podem ser turbinas, tubulaes e
vasos de presso (Degarmo, 2003)

12

2.2 Tratamentos Trmicos


Tratamentos trmicos so operaes de aquecimento e resfriamento,
com controle de tempo, atmosfera e taxas de resfriamento, utilizados para
obter propriedades especficas para dado material.
As propriedades do material dependem, a princpio, da sua estrutura.
O tratamento trmico que tem como objetivo reduzir a dureza do material
e facilitar o trabalho a frio ou atingir microestrutura e propriedades desejadas
para tal processo, o tratamento trmico de esferoidizao (Silva, 2006).
2.2.1 Tratamento Trmico de Recozimento Pleno
O recozimento o tratamento trmico que consiste no aquecimento do
ao acima da zona crtica, para alcanar objetivos como: remover tenses de
trabalho a frio, diminuir dureza para posteriores processos de fabricao,
alterar propriedades mecnicas e eliminar tratamentos trmicos aos quais os
aos possam ter sido submetidos (Chiaverini, 1979).
No recozimento pleno aquece-se o ao at que haja total transformao
da estrutura em austenita, seguido de um resfriamento muito lento, por controle
de velocidade de resfriamento do forno ou desligando-o e resfriando o metal
dentro dele. Obtm-se ento estrutura de ferrita e perlita grosseira.
Quando metais laminados a frio so tratados termicamente, dois
processos, recuperao e recristalizao, competem pela energia armazenada
no trabalho a frio. A recristalizao definida como a reorientao de cristais
em um corpo slido pela migrao de contornos de alto ngulo. A recuperao
um termo geral aplicado a todas as outras mudanas que reduzem a energia
armazenada de deformao.
O processo de recozimento uma das etapas na fabricao de aos
laminadas a frio e consiste em um tratamento trmico que contribui para a
obteno das propriedades requeridas em suas aplicaes. Basicamente este
tratamento consiste das etapas de recuperao, recristalizao e crescimento
de gro (Fagundes, 2006).
A Figura 2mostra o diagrama TTT do ao AISI 5140, com a curva
destacada do recozimento pleno, indicando a microestrutura resultante.

13

Figura 2: Ilustrao do ciclo trmico de recozimento pleno traado em diagrama TTT


do ao AISI 5140.
Fonte: adaptado de Heat Treaters Guide, (1994).

A estrutura resultante do recozimento pleno ferrita e perlita grosseira para


aos hipoeutetides.
2.2.2 Tratamento Trmico de Esferoidizao
Este tratamento visa obteno de carbonetos esferoidizados em uma
matriz ferrtica. A esferoidizao de cementita na matriz de ferrita tem efeito
determinante nas propriedades dos aos de mdio carbono. Quando a
estrutura perltica substituda por uma estrutura ferrtica com esferides de
carbonetos, nota-se uma maior facilidade para conformao a frio. (Silva,
2006).

14

As temperaturas a serem definidas para cada ciclo de tratamento podem


ser mais bem analisadas na Figura 3, a seguir.

Figura 3: Diagrama Ferro-Carbono evidenciando as faixas de temperatura utilizadas


para o tratamento trmico de esferoidizao.
Fonte: Metals Handbook vol.03, (1994).

Na Figura 4 abaixo, so apresentados os ciclos trmicos possveis para


esferoidizao.

Figura 4: Ciclos Possveis de Tratamento Trmico de Esferoidizao.


Fonte: Rossi, (1983).

15

De acordo com a Figura 4 h vrios ciclos de tratamento de


esferoidizao (Rossi, 1983).
A) Manuteno em temperatura logo abaixo de A1, por tempo prolongado.
B) Aquecimento e resfriamento alternados entre 2 temperaturas, uma logo
acima e uma logo abaixo de A1. A cada vez que se sobe a temperatura,
carbonetos finos se dissolvem, e quando se baixa, eles precipitam em
carbonetos no dissolvidos.
C) Aquecer 10 a 30 C acima da temperatura A1, mantendo nessa temperatura
pelo tempo de encharque, seguido de resfriamento lento controlado (5 a 10
C/h) at temperatura logo abaixo de A1. Isso faz com que no haja uma
dissoluo completa dos carbonetos, que atuaro na nucleao dos carbonetos
esferoidizados.
D) Aquecer o ao entre A1 e A3 ou Acm e resfriar rapidamente abaixo de A1,
mantendo nessa temperatura tempo o suficiente para obter-se coalescimento
da cementita (4 a 8 horas).

2.3 Etapas de Coalescimento da Cementita

De acordo com o tratamento adotado, pode haver variao no tamanho,


forma e distribuio das esferas de carbonetos. O tamanho do gro ferrtico
tambm afetado pelo ciclo trmico. A Figura 5 mostra a microestrutura do ao
hipoeutetide SAE/AISI 1040, onde os gros brancos so constitudos de ferrita
e os gros escuros so constitudos de perlita (Samuels, 1980).

16

Figura 5: Ao hipoeutetide AISI/SAE 1040 constitudo de ferrita (colorao branca) e


perlita (colorao escura). Ataque qumico de 4% picral, 2% nital. Aumento de 800x.
Fonte: Samuels, (1980).

Para aos de mdio carbono ocorre a decomposio da cementita presente


na perlita. Na primeira etapa, as lamelas se fragmentam, atravs de canais
que se formam no seu interior, com razo Comprimento/Largura igual a 8. A
Figura 6 mostra um diagrama esquemtico que ilustra as lamelas de cementita
neste estgio.

Figura 6: Representao esquemtica do estgio em que as lamelas de cementita se


fragmentam, no incio do processo de esferoidizao.
Fonte: Metals Handbook, (1994).

17

Em seguida, na segunda etapa, a razo entre Comprimento e Largura


tende a 1, ou seja, as partculas tornam-se esfricas. Na terceira etapa, ocorre
o crescimento de partculas, dado que se incorporam a outras maiores,
aumentando assim a distncia entre elas.
Quando o intervalo de temperatura alto, pode ocorrer grafitizao.
Na Figura 7, um ao AISI/SAE 1040 esferoidizado a 700 C, durante 21 horas,
partindo de uma estrutura ferrtica-perltica recozida.

Figura 7: Ao hipoeutetide AISI/SAE 1040, de composio inicial ferrtica-perltica,


aps 21 horas de tratamento trmico de esferoidizao, a 700 C. Ataque qumico: 4%
Picral e 2% Nital.
Fonte: Samuels, (1980).

A estrutura da Figura 7 proveniente da decomposio da cementita


contida nos gros de perlita da Figura 5.
2.4 Mtodos de Caracterizao e Ensaios Mecnicos
2.4.1 Anlise Microgrfica
Existem vrias tcnicas para se analisar a estrutura de aos em escala
microscpica em que a preparao da amostra muito semelhante uma
outra. Entre as principais, esto a microscopia tica, microscopia eletrnica de
varredura (MEV) e microscopia eletrnica de transmisso (MET).
A microscopia tica utiliza a interao da luz visvel com a amostra,
permitindo a observao do relevo, cor e polarizao da amostra. Para se

18

observar a microestrutura atravs de microscopia ptica primeiramente se


localiza a seo a ser analisada. A seguir, lixa-se e faz-se polimento para
obteno de uma superfcie plana e polida. Com um ataque qumico com um
reagente adequado, pode-se fazer o exame no microscpio, para observao
da microestrutura. Por ltimo, faz-se o registro do observado atravs de
fotografia. (COLPAERT, 2008).
2.4.1.1 Microscopia Eletrnica de Varredura
A principal caracterstica do microscpio eletrnico de varredura que
uma rea relativamente grande da amostra pode ser observada, pois o feixe de
eltrons varre a superfcie da amostra. medida que o feixe varre a amostra,
os sinais gerados so coletados por detectores e apresentados em uma tela
com varredura sincronizada com a varredura do feixe sobre a amostra. Alm
disso, a anlise por MEV permite uma visualizao com pouco preparo de
superfcie, sendo muito utilizado para anlise de fraturas (COLPAERT, 2008)
2.4.2 Ensaio de Dureza
Existem vrias definies de dureza, que no caracterizam todas as
situaes, pois ela assume um significado diferente conforme o contexto em
que empregada (SOUZA, 1974). Apesar das diversas definies, um material
com grande resistncia deformao plstica permanente tambm ter alta
resistncia ao desgaste, alta resistncia ao corte e ser difcil de ser riscado,
ou seja, ser duro em qualquer uma dessas situaes. Os ensaios de dureza
so realizados com maior frequncia do que qualquer outro ensaio mecnico,
pois so simples, mais baratos e no comprometem funcionalmente a pea
ensaiada (CHANG et al., 1976).
A dureza Vickers se baseia na resistncia que o material oferece
penetrao de uma pirmide de diamante de base quadrada e ngulo entre
faces de 136, sob uma determinada carga. O valor de dureza Vickers (HV) o
quociente da carga aplicada F pela rea de impresso A deixada no corpo
ensaiado (SOUZA, 1974).

19

O ensaio de microdureza Vickers similar ao Vickers, exceto pelo fato


de que as identaes so microscpicas e os aparelhos so mais sofisticados.
Para fins comparativos, converses podem ser feitas de HV para HB,
por meio de tabelas de converso.
2.4.3 Ensaio de Trao
O ensaio de trao um dos principais ensaios mecnicos relacionados
s propriedades dos materiais. Os resultados so influenciados por fatores
como: temperatura, velocidade de deformao, microestrutura do material,
percentual de impureza e condies ambientais (GARCIA, 2012).
De acordo com o andamento do ensaio, a mquina gerar um grfico de
Tenso x Deformao, que pode ser dividido em duas partes.
- Na primeira parte, a elasticidade a propriedade do material de retornar
forma original, uma vez removida a fora externa atuante. Esse fenmeno
ocorre em todos os materiais slidos, pelo menos no estgio inicial de
deformao. Os tomos so deslocados e, cessada a aplicao da carga, eles
retornam ao seu estado original. No h, portanto, formao de defeitos nos
cristais (GUY, 1980; FERRAZ, 2003).
- Na segunda etapa, ocorre a deformao plstica, onde h um rompimento de
ligaes atmicas e, posteriormente, essas ligaes so reativadas com novos
tomos. Tal fato faz com que o objeto no retorne ao seu formato original
(GUY, 1980).
Quando a deformao plstica atingida, ocorre alterao da estrutura
interna do material, ocorrendo o encruamento e acompanhado da elevao
do valor da resistncia e reduo da ductilidade do metal (FERRAZ, 2003).
2.5. Conformao Mecnica
Os processos de conformao mecnica so processos de fabricao
que utilizam a deformao plstica para dar forma a corpos metlicos,
mantendo sua massa e integridade. Como exemplo, podemos citar forjamento

20

e laminao, trefilao e extruso; estiramento, dobramento e corte por


cisalhamento (Button, 2000).
Tanto os trabalhos primrios, que envolvem a produo de tarugos e
chapas, bem como os trabalhos secundrios, feitos em cima destes produtos,
podem ser feitos a quente ou a frio.
Na conformao a quente, o metal aquecido e trabalhado acima da
temperatura de recristalizao. J na conformao a frio, o trabalho realizado
abaixo da temperatura de recristalizao e o material apresenta-se encruado,
ou parcialmente encruado, ou seja, os gros esto alongados na direo da
deformao (Schaeffer, 1995).
Existe tambm o trabalho a morno, que alia as vantagens de ter menor
grau de endurecimento da conformao a quente e de apresentar bom
acabamento superficial e preciso dimensional devido diminuio da
oxidao e da dilatao trmica da conformao a frio. Alm disso, h
recuperao parcial da ductilidade do material e reduo da deteriorao da
ferramenta (ASM Handbook, 1993).
Para a maioria dos metais o regime elstico permite deformaes de at
0,005. A partir deste ponto a tenso no mais proporcional deformao e
ocorre a deformao permanente. Para os metais, esta deformao ocorre pelo
movimento de discordncias. Como os cristais dos metais apresentam
orientao aleatria, o escorregamento varia de um gro para outro, ocorrendo
ao longo da direo mais favorvel (Callister, 1999).
A integridade dos gros mantida durante o processo de conformao,
ou seja, no ocorre rompimento ou abertura. Assim, cada gro est restrito
forma dos gros vizinhos (Callister, 1999).
Em materiais policristalinos, h interaes com partculas de segunda
fase, tomos de soluo slida e contornos de gro, ento outros mecanismos
esto presentes durante a deformao.

21

2.5.2 Fatores de Influncia na Deformao Plstica a Frio


Alm da presena de elementos de liga em soluo slida, h outra
maneira de se ter uma maior resistncia mecnica dos metais, que pode ser
conseguida atravs da obteno de ligas com duas ou mais fases. Fatores
como tamanho, forma, densidade, distribuio, resistncia, ductilidade,
orientao cristalogrfica e energia tm influncia sobre a deformao plstica.
A situao ideal so partculas finas dispersas uniformemente. Existe uma
maior ductilidade de estruturas de ao que contenham cementita esferoidizada,
quando comparadas com a cementita lamelar (Dieter, 1981).

22

3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
3.1 Amostragem
O ao AISI 5140 fornecido empresa Irwin recozido plenamente. As
amostras para anlise metalogrfica e para teste de laminao consistiam em
barras de dimenses 10,1 mm x 160 mm retiradas de um lote, fornecida pela
empresa, no seu estado inicial de recozimento pleno. As barras foram cortadas
em torno GoodWay. Em seguida, foram feitos os tratamentos trmicos de
esferoidizao.
3.2 O Tratamento Trmico
O tratamento trmico de esferoidizao utilizado foi baseado no proposto
no Heat Treaters Guide Practice and Producers for Irons and Steels, que
consiste em aquecer o ao at 750 C, com tempo de permanncia at
homogeneizao da temperatura e em seguida resfriamento rpido at 690 C,
mantendo nessa temperatura por 8 horas.
Esse processo foi feito em forno Sanchis cedido pelo Laboratrio de
Caracterizao de Materiais (LACAR) da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, sem atmosfera controlada e o resfriamento das amostras foi ao ar
calmo.
J o recozimento pleno feito pelo fornecedor do ao empresa. Aps
a conformao, o ao aquecido a 830 C e resfriado a taxas controladas,
para atingir baixos valores de dureza para facilitar o processamento do metal.
3.3 Caracterizao e Ensaios mecnicos
3.3.1 Anlise Microgrfica
Para este ensaio, foi utilizada uma cortadeira (Modelo CSK-80- Marca
SKILL-TEC) para extrair uma pequena poro do material, que foi ento
embutida em baquelite atravs de uma embutidora, lixada em uma sequncia
de lixas (nmero 100, 220, 320, 600 e 1000). Aps, para melhor acabamento
superficial, foi utilizada pano de polimento de feltro e como lubrificante uma
suspenso de gua e alumina 3 m por 5 minutos.

23

As amostras embutidas foram analisadas com ataque qumico para


visualizao da microestrutura em microscpio tico AXIO LAB. A1 ZEISS e as
imagens foram capturadas por software AXIO CAM ERC 55, com aumento de
at 1000 vezes e microscpio eletrnico de varredura HITACHI TM 3000
(MEV), com aumentos de at 5000 vezes. O reagente utilizado foi Nital2% (2ml
de cido ntrico, 98 ml de lcool etlico).
3.3.2 Ensaio de Dureza Vickers
Foi

realizado

ensaio

de

microdureza

Vicker

(HV

1)

em

um

microdurmetro Leco M400 H1, com impresses a distncias de meio raio por
4 vezes e no centro da amostra, somando 5 medies por amostra. As mdias
e desvios padres da amostra foram calculados e computados para fins
comparativos.
3.3.3 Ensaio de Trao Uniaxial
Amostras com dimetro inicial de 10,1 mm e comprimento de 150 mm
foram usinadas e ensaiadas de acordo com a ASTME8. Uma amostragem de
trs corpos de prova foi ensaiada para cada condio proposta neste trabalho.
3.4 Anlise do Material Conformado a Frio
A conformao do perfil foi feita por uma Laminadora de Perfis TL50, da
empresa Cavour. O processo consiste em comprimir o metal entre dois rolos
com recartilhado idntico ao perfil da broca. Estes rolos tm rotao no mesmo
sentido e mesma velocidade angular. Uma velocidade linear imposta a um
dos rolos, que avana em direo ao ao, aproximando-se do outro rolo at
uma distncia pr-determinada, conformando o perfil.
A anlise da superfcie do material conformado foi feita atravs de um
estreo microscpio Olympus SZX16, e as imagens capturadas atravs do
software AnalySIS Started. Foram feitas imagens do canal do material
conformado, tanto no incio quanto no final, e tambm da raia.

24

A Figura 8 ilustra o processo de conformao, bem como as regies


analisadas a inspeo via estereoscpio.
Final do canal

Rolo recartilhado

Final do
canal

Raias

Canal

Ao antes da
conformao
Figura 8: Imagem ilustrativa do processo de conformao de perfil. O ao
comprimido entre dois rolos com recartilhado igual ao perfil da broca.

Alm de ilustrar o recartilhado dos rolos perfiladores, a Figura 8 mostra


as principais regies a serem analisadas aps a conformao, sendo elas o
canal, o final do canal e a raia.

25

4. RESULTADOS E DISCUSSES
4.1 Anlise de Microestrutura
As anlises em microscpio ptico da condio inicial revelaram nas
Figuras 9 e 10 a microestrutura. Podem-se observar as regies mais claras,
que so compostas por ferritapr-eutetide e as regies escuras, que so
compostas por perlita, conforme observado por Samuels (1980).

Figura 9: Micrografia do ao AISI 5140 com recozimento pleno. Nota-se que a


microestrutura composta de ferrita e perlita. Aumento de 500x.

Figura 10: Micrografia da amostra original, onde se observa microestrutura composta


por ferrita pr-eutetide (fase clara) e perlita (fase escura). Aumento de 1000x.

26

A Figura 11 apresenta a microestrutura da amostra que foi submetida ao


tratamento de esferoidizao por 4 horas, a 690C.Nota-se os tamanhos e a
forma de disperso dos carbonetos esferoidizados, formados a partir da
decomposio das lamelas de cementita da perlita (Metals Handbook, 1994).

Figura 11: Imagem com 1000x de aumento, evidenciando diferente microestrutura em


relao amostra original, onde as lamelas de cementita da perlita transformaram-se
em partculas menores.

A Figura 12 revela a microestrutura do ao AISI 5140 coalescido, com


tempo de permanncia em forno de 8 horas. Na Figura 12, nota-se a diferena
do tamanho de carbonetos da amostra esferoidizada por 8 horas quando
comparado com a amostra esferoidizada por 4 horas.

Figura 12: Microestrutura do ao AISI 5140 com carbonetos coalescidos por 8 horas a
690 C (aumento de 1000x, ataque Nital 2%).

27

Para fins comparativos, as amostras foram submetidas microscopia


eletrnica com aumentos de 3000 e 5000 vezes. A Figura 13 revela a
microestrutura obtida da amostra original, com aumento de 3000 vezes.

Figura 13: Micrografia de MEV revelando a estrutura perltica da amostra original.


Parmetro de anlise: 3000 vezes.

A Figura 13 ilustra claramente a microestrutura do material recozido


plenamente, onde se pode notar os gros de ferrita pr-eutetide e as lamelas
de cementita da perlita.
Uma anlise minuciosa feita por Microscopia Eletrnica de Varredura
compara os tamanhos e o grau de decomposio das lamelas de cementita da
perlita, em relao ao tempo de esferoidizao aplicado.
As Figuras 14 e 15 comparam o formato e distribuio da cementita na
matriz ferrtica.

28

Figura 14: A imagem mostra a distribuio da cementita aps 4 horas de tratamento


trmico de esferoidizao, mostrando que o tempo ao qual foi submetida a amostra
no foi suficiente para a esferoidizao.

Figura 15: A microscopia eletrnica evidenciou que o tempo de 8 horas de


esferoidizao foi eficaz quanto formao das esferas de cementita.

A partir das Figuras 13, 14 e 15, pode-se comparar a microestrutura


quanto decomposio das lamelas de cementita da perlita e o quanto se
decomps em cada caso. O tratamento de esferoidizao de 4 horas no foi
efetivo quanto formao de esferas de carbonetos, ocorrendo apenas uma
pequena decomposio das lamelas, esperada em estgios iniciais de
esferoidizao dos carbonetos de ferro, conforme ilustrado pela Figura 6, do
Metals Handbook (1994). Quanto amostra submetida a 8 horas de tratamento

29

trmico, este tempo foi efetivo para a formao dos carbonetos esferoidizados,
obtendo-se microestrutura semelhante Figura 7, observada em Samuels
(1980), porm em menor tamanho, dado que o coalescimento do carboneto
funo do tempo de tratamento trmico. A Figura 16, obtida por MEV, mostra
claramente a distribuio e a morfologia dos carbonetos.

Figura 16: Carbonetos claramente esferoidizados em matriz ferrtica, com aumento de


5000 vezes em MEV, com tempo de esferoidizao de 8 horas.

4.2 Ensaios Mecnicos


4.2.1 Ensaio de Dureza
A tabela de durezas Vickers obtidas das amostras original e
esferoidizadas com diferentes tempos de tratamento.
Tabela 2: Valores encontrados em ensaio de dureza Vickers H1, com 4 medies a
meio raio e 1 medio no centro de cada amostra.
1
256,4

2
261,5

3
255,1

4
269,5

5
267,8

Mdia
262,06

Desvio Padro

Esferoidizao 4 horas

208,3

221,8

215,4

214,8

222,0

216,46

5,69

Esferoidizao 8 horas

197,1

205,7

196,2

203,4

208,5

202,18

5,37

Amostra
Recozimento Pleno

6,50

30

Os dados mostram uma grande diminuio da dureza do material da


amostra original para a esferoidizada por 4 horas, mostrando que o tratamento
trmico proposto foi efetivo, obtendo uma dureza intermediria, em caso em
que a estrutura ainda no havia esferoidizado (Figura 13). Para a amostra
esferoidizada por 8 horas, houve maior queda de valores de dureza,
condizendo com a microestrutura de esferas de cementita obtida e visualizada
atravs da Figura 15, evidenciando o aumento da ductilidade do material, efeito
esperado por Dieter (1981).
4.2.2 Ensaio de Trao
A Figura 17 mostra a variao do limite de escoamento, do limite de
resistncia e do alongamento mximo com o tratamento trmico. Verificou-se a
queda dos valores dos limites das amostras recozidas para as amostras
esferoidizadas,

porm,

sem

variao

significante

para

as

amostras

esferoidizadas por 4 e 8 horas. O alongamento, no entanto, teve acentuado


crescimento, de valores prximos a 13% a 22%. Esta diminuio dos valores
de limite de escoamento e limite de ruptura, bem como o aumento do
alongamento na ruptura evidenciam o aumento de ductilidade do material
atravs da esferoidizao da cementita (Dieter, 1981).

Figura 17: Grfico representativo da mdia de valores de limite de escoamento (1),


limite de resistncia trao (2) e alongamento mximo (3).

31

Uma explicao para a queda dos valores dos limites de resistncia e


escoamento a decomposio da cementita lamelar e sua tendncia a formar
carbonetos coalescidos, aliviando as tenses do material (Callister,1999).
O aumento do alongamento mximo mostra o aumento da ductilidade do
material, que aceitar maior deformao na conformao mecnica.
4.2.3 Inspeo Visual
A partir da anlise por estereoscpio do canal do material conformado,
pde-se verificar a influncia que os tratamentos trmicos tiveram sobre o
acabamento e o aspecto superficial dos perfis conformados.
A Figura 18 mostra o incio do canal do perfil conformado. O perfil se
encontra em bom estado, com bom acabamento superficial.

Figura 18: Macrografia do incio do canal do perfil conformado da ferramenta, com


recozimento pleno, evidenciando o bom acabamento superficial.

Ainda, foi feita a anlise do final do canal, regio que apresentou


maiores diferenas entre as amostras. A Figura 18 foi feita a partir da regio do
fim do canal.

32

Rugosidade

Figura 19: Macrografia do final do canal do perfil conformado da ferramenta, com


recozimento pleno, mostrando a rugosidade superficial.

A diferena de rugosidade presente no canal indicada nas Figuras 18 e


19 devido regulagem de mquina, que imprime maior deslocamento de
material na regio do final do canal.
A Figura 20 mostra o aspecto superficial da amostra esferoidizada por 4
horas.

Figura 20: Macrografia do canal da amostra esferoidizada por 4 horas e conformada a


frio, mostrando o bom acabamento superficial.

O aspecto superficial ilustrado na Figura 20 assemelha-se ao


apresentado na Figura 18.
Porm, no final do canal, houve maior grau de rugosidade na superfcie,
prejudicando ainda mais o processo de conformao.

33

Rugosidade

Descamamento

Figura 21: Macrografia do final do canal do perfil conformado, com esferoidizao de 4


horas. Nota-se o aumento da rugosidade e o princpio de descamamento de material.

O descamamento na Figura 21 mais visvel e mais pronunciado que na


Figura 19, indicando que o tratamento trmico tornou o material mais
susceptvel a este problema.
A Figura 22, capturada a partir da anlise do incio do canal da amostra
esferoidizada por 8 horas, mostra igual aspecto superficial s outras amostras.

Figura 22: Macrografia do incio do canal da amostra esferoidizada por 8 horas. Bom
acabamento superficial.

Como ocorreu uma diferena entre o aspecto superficial da amostra


recozida e esferoidizada por 4 horas, ocorreu tambm com a amostra
esferoidizada por 8 horas. A Figura 23 indica elevado grau de rugosidade,
ocorrendo o descamamento do metal da superfcie.

34

Descamamento

Figura 23: Macrografia do fim do canal da amostra esferoidizada por 8 horas. Alm da
elevada rugosidade, ocorre descamamento de metal no canto direito superior.

Atravs

desta

anlise

notou-se

que

tratamento

trmico

de

esferoidizao no teve influncia positiva sobre o acabamento superficial aps


conformao a frio, tendo as amostras conformadas um bom acabamento
superficial do canal, assim como esperado por Schaeffer (1995), apenas
contribuindo para que houvesse problemas de rugosidade e descamamento em
regies onde a amostra sofreu maior solicitao mecnica.
A Figura 24 mostra uma comparao entre o fechamento do perfil
externo conformado da amostra recozida e da amostra esferoidizada por 8
horas.
Sulco na raia

Ausncia de
sulco

Figura 24: Comparao do fechamento do perfil da raia das amostras recozida (a) e
esferoidizada por 8 horas (b).

Como as dimenses iniciais das amostras a serem conformadas e os


parmetros da mquina (presso, velocidade de avano, tempo de ciclo e

35

avano mximo) permaneceram constantes, nota-se que na amostra recozida


Figura 24(a) no houve o deslocamento necessrio de material para o
fechamento do perfil da pea, o que pode ser observado pela presena de
sulco ao longo da raia da broca. J na amostra esferoidizada por 8 horas,
pode-se observar o fechamento do perfil da pea, conforme ilustrado na Figura
24(b). Segundo Callister (1999), este comportamento pode ser explicado
atravs do aumento da capacidade de deformao do material, pelo alvio das
tenses residuais, resultando em pequena quantidade remanescente de
discordncias (defeitos lineares).
O maior alongamento resultante do tratamento de esferoidizao
confirma o aumento da ductilidade do material indicando, assim, uma maior
deformao na conformao mecnica propiciando o preenchimento dos
espaos e o fechamento dos perfis resultantes do recartilhado do rolo da
laminadora.

36

5. CONCLUSO
A partir dos resultados obtidos nos ensaios e estudos realizados neste
trabalho, pode-se concluir que:
- Os tratamentos trmicos de esferoidizao tiveram forte influncia nas
propriedades mecnicas do ao AISI 5140.
- Houve diminuio da dureza dos aos tratados termicamente, mostrando que
a estrutura de esferas de carbonetos em matriz ferrtica tornou-se mais dctil.
- O tratamento trmico de esferoidizao por 8 horas no teve maior influncia
nos limites de resistncia e limite de escoamento do ao, quando comparado
com a esferoidizao por 4 horas.
- O percentual de alongamento teve influncia do tempo de tratamento trmico,
com aumento mdio de 5 pontos percentuais em cada condio de tratamento
trmico de recozido para esferoidizado de 8 horas.
- Devido ao tempo aos quais as amostras foram esferoidizadas, somente as
amostras tratadas por 8 horas tiveram a esferoidizao dos carbonetos.
Enquanto que as amostras tratadas por 4 horas mostraram a decomposio
das lamelas de cementita das colnias de perlita.
- No geral, no houve mudana no acabamento superficial entre os trs
modelos de amostras conformadas, mostrando que o tratamento trmico de
esferoidizao no tem influncia neste parmentro.
- O tratamento trmico de esferoidizao tornou o material pouco resistente,
ocorrendo descamamento na superfcie das amostras, principalmente na
esferoidizada por 8 horas.
- O ao AISI 5140 com tratamentos trmicos de esferoidizao e recozimento
pleno devido a microestrutura resultante, carbetos, principalmente de ferro,
esferoidizado ou ferrita com colnias de perlita grosseira so mais fceis de
conformar devido baixa dureza, e maior ductilidade.

37

- Observa-se que o tratamento trmico de esferoidizao de 8 horas,


apresentou timos resultados quanto ao fechamento do perfil. Assim, os
resultados indicam que o defeito que ocorre no final do canal devido a
conicidade da laminadora, pois todas as amostras mostraram o mesmo
problema na mesma regio.
5.1 Proposies para trabalhos futuros
Atravs das anlises e resultados feitos e obtidos neste trabalho, seguem
sugestes para trabalhos futuros:
- Estudar o efeito de outros ciclos trmicos de esferoidizao nas propriedades
e microestrutura do ao AISI 5140.
- Definir melhor temperatura e tempo de tratamento trmico de recozimento
para alvio de tenses do material conformado.
- Estudar a influncia da esferoidizao de carbonetos nas propriedades e
microestrutura em posterior tratamento trmico de tmpera e revenimento.
- Realizar estudo de vida til de ferramentas utilizadas no processo de
conformao a frio.
- Estudar os efeitos dos tratamentos trmicos de esferoidizao sobre o
dimensional de um produto conformado.
- Realizar uma anlise de impacto da utilizao do tratamento trmico de
esferoidizao nos custos de produo e sua influncia no sistema Lean
Manufacturing.

38

6. REFERNCIAS

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