Ciclos Limite e Sistemas de Duas Especies
Ciclos Limite e Sistemas de Duas Especies
Ciclos Limite e Sistemas de Duas Especies
A aranha caranguejo um predador que consegue mudar a sua cor para camuflar-se das
suas presas. Na fotografia, uma aranha caranguejo, pousada numa flor, apanha duas moscas
que estavam a acasalar. Os sistemas predador presa so um exemplo de sistema de duas
espcies; a evoluo da populao das duas espcies pode ser estudada com a teoria de
sistemas dinmicos.
206
207
e os valores prprios so = 2 1
4
4
x
y
2
2
0
0
-2
-2
-4
-4
-2.5
2.5
10
20
30
Figura 11.1.: Soluo da equao de van der Pol para um valor pequeno do parmetro,
= 0.17, com estado inicial prximo da origem.
A origem ponto repulsivo, que poder ser foco ( < 1), n ( > 1) ou n imprprio
( = 1). A figura 11.1 mostra o retrato de fase e o estado em funo do tempo, no caso
= 0.17, com condies iniciais: x = y = 0.1. Os grficos foram produzidos com:
(%i1) plotdf([y,-x-2*e*(x^2-1)*y], [x,y], [direction,forward],
[parameters,"e=0.17"], [x,-4,4], [y,-5,5], [nsteps,900],
[trajectory_at,0.1,0.1], [versus_t,1])$
x
y
4
2.5
2
0
0
-2
-2.5
-4
-2.5
2.5
-5
0
10
15
Figura 11.2.: Soluo da equao de van der Pol para um valor pequeno do parmetro,
= 0.17, com estado inicial afastado da origem.
208
O sistema oscila, com amplitude inicialmente crescente, mas aps algumas oscilaes
estas so cada vez mais uniformes. No retrato de fase, a rbita cresce aproximando-se de
um ciclo limite com forma de retngulo de vrtices arredondados.
Com o mesmo valor do parmetro, = 0.17, mas com um estado inicial que est fora do
ciclo limite, a amplitude das oscilaes decresce at ficar uniforme e igual soluo obtida
no caso anterior, como mostra a figura 11.2, que foi obtida com o seguinte comando:
(%i2) plotdf([y,-x-2*e*(x^2-1)*y], [x,y], [direction,forward],
[parameters,"e=0.17"], [x,-4,4], [y,-5,5], [nsteps,900],
[trajectory_at,-3,3], [versus_t,1])$
Nos dois casos das figuras 11.1 e 11.2 o sistema aproxima-se do mesmo ciclo; no primeiro
caso a aproximao feita desde dentro do ciclo e no segundo caso desde fora. Esse tipo
de ciclo um ciclo limite atrativo. Existem tambm ciclos limite repulsivos, no caso em
que as rbitas perto desse ciclo afastam-se dele.
Se o parmetro for maior que 1 e o estado inicial estiver prximo da origem, o sistema
aproxima-se muito mais rapidamente do ciclo limite, j que a origem passa a ser um n
repulsivo. Por exemplo, para = 1.7 e estado inicial x = y = 0.1:
(%i3) plotdf([y,-x-2*e*(x^2-1)*y], [x,y], [direction,forward],
[parameters,"e=1.7"], [x,-4,4], [y,-6,6], [nsteps,1500],
[trajectory_at,0.1,0.1], [versus_t,1])$
x
y
4
4
2
2
0
0
-2
-2
-4
-4
-2.5
2.5
-6
0
10
20
30
Figura 11.3.: Soluo da equao de van der Pol para um valor elevado do parmetro
= 1.7 e com estado inicial prximo da origem.
No caso = 1.7, o ciclo limite tem uma forma mais complicada no espao de fase
(figura 11.3), em comparao com o retngulo de vrtices arredondados obtido no caso
= 0.17 (figura 11.1).
209
Em funo do tempo, quanto menor for o parmetro , mais parecidas sero as oscilaes
a uma funo peridica de frequncia nica (funo seno ou cosseno). Quanto maior
for o parmetro , mais complicadas sero as oscilaes, como no caso da figura 11.3,
correspondendo sobreposio de funes sinusoidais com vrias frequncias diferentes.
O circuito, ou sistema fsico, descrito pela equao de van der Pol um sistema autoregulado. Nomeadamente, independentemente do estado inicial do sistema, o estado final
ser um movimento oscilatrio com amplitudes e frequncias especficas do circuito.
0.5
-0.5
-1
-1
-0.5
0.5
210
Exemplo 11.1
Demonstre que o sistema com equaes de evoluo:
x = y + x(1 2x2 3y2 )
Assim sendo, existe um nico ponto de equilbrio, na origem. O retrato de fase obtido com
as funes f1 e f2 apresentado na figura 11.5, que mostra o ciclo limite.
0.5
-0.5
-1
-1.2
-0.8
-0.4
0.4
0.8
1.2
Figura 11.5.: Retrato de fase do sistema x = y + x(1 2x2 3y2 ), y = x + y(1 2x2
3y2 ).
As coordenadas cartesianas podem ser substitudas por coordenadas polares. Ser preciso
fazer essa substituio tambm nos lados esquerdos das equaes: x e y.
Desse modo,
necessrio escrever as equaes de evoluo completas:
(%i7) depends([x,y],t)$
(%i8) eq1: diff(x,t) = f1;
dx
2
2
(%o8)
-- = x (- 3 y - 2 x + 1) - y
dt
(%i9) eq2: diff(y,t) = f2;
211
dy
2
2
-- = y (- 3 y - 2 x + 1) + x
dt
O comando depends foi usado para indicar que x e y dependem de t; se isso no tivesse
sido indicado, as derivadas teriam sido calculadas como derivadas parciais, dando o
resultado 0.
A substituio para coordenadas polares a seguinte:
x = r cos
y = r sin
O resultado obtido ,
r = r r3 (2 + sin2 )
= 1
A segunda equao mostra que o ngulo aumenta com taxa constante. O estado roda no
espao de fase, com velocidade angular constante. Enquanto roda, o valor de r muda;
para r igual a 1/2, a derivada r igual a (2 sin2 )/8, que positivo; nomeadamente, r
aumentar at um valor maior que 1/2. Se r = 1, a derivada de r ser r = 1 sin2 , que
negativa para qualquer valor de . Consequentemente, r diminuir at um valor menor
que 1. Conclui-se que deve existir um ciclo limite na regio 1/2 < r < 1. Neste caso o
ciclo limite estvel1 . O retrato de fase mostra o ciclo limite (figura 11.5).
212
y = y + x2 + yx3
Resoluo.
(%i14) f: [y^2-x, y+x^2+y*x^3]$
(%i15) solve(f);
produz unicamente uma soluo real, na origem. Assim, o nico ponto de equilbrio a
origem.
(%i16) vars: [x,y]$
(%i17) jacobian(f,vars)$
(%i18) determinant(ev(%,x=0,y=0));
(%o18)
- 1
y
y
(11.4)
y = y g(x, y)
(11.5)
importante observar que no instante em que no existiam elementos de uma das espcies,
a populao dessa espcie no podera aumentar nem diminuir. A funo f a soma da
taxa de natalidade da espcie 1, menos a sua taxa de mortalidade. g a soma da taxa de
natalidade da espcie 2, menos a sua taxa de mortalidade.
213
a>0
f
f
g
f
g
g
f
Presas
214
Exemplo 11.3
Analise o modelo de Lotka-Volterra:
x = x (a cy)
y = y (bx d)
d
a
[[x = 0, y = 0], [x = -, y = -]]
b
c
Na origem:
(%i23) jacobiana, equil[1];
(%o23)
[ a
[
[ 0
]
]
- d ]
215
ciclo, em que as populaes das duas espcies oscilam. Para desenhar o retrato de fase
(fig 11.7), usa-se o comando:
(%i26) plotdf(f, vars, [parameters,"a=6,b=3,c=2,d=15"],
[x,0,10], [y,0,10], [nsteps,1000], [direction,forward],
[trajectory_at,7,1], [versus_t,1])$
10
10
x
y
8
7.5
6
5
2.5
0
0
0
2.5
7.5
10
0.2
0.4
0.6
0.8
1.2
1.4
7
7+7x
y
y = 0.2 y 1
2x
216
A curva que sai do ponto de sela (7, 0), na direo do vetor (1, 1.6), aproxima-se do foco
repulsivo; assim, dever existir um ciclo limite estvel volta do foco instvel.
O retrato de fase (figura 11.8) obtido com o comando:
(%i33) plotdf(f, vars, [x,-0.1,10], [y,-0.1,8])$
7.5
2.5
0
0
10
x
Figura 11.8.: Retrato de fase do modelo de Holling-Tanner.
Usou-se 0.1, para evitar os denominadores nulos obtidos quando x = 0.
O ciclo limite aparece mais escuro na figura 11.8 e as rbitas que entram e saem do ponto
de sela em x = 7 mais claras. No eixo dos y h uma descontinuidade na derivada de y e,
217
por isso, no existem curvas de evoluo nesse eixo, mas para x > 0 a origem comporta-se
como ponto de sela.
y = y (d e y f x)
Resoluo: As equaes mostram que se trata de um sistema de duas espcies em competio. Para evitar conflitos com valores de variveis usados nos exemplos anteriores,
convm apagar os valores numricos armazenados nas variveis do Maxima.
(%i34)
(%i35)
(%i36)
(%i37)
remvalue(all)$
fg: [x*(a-b*x-c*y),y*(d-e*y-f*x)]$
vars: [x,y]$
equil: solve(fg, vars);
a
(%o37) [[x = 0, y = 0], [x = -, y = 0], [x = 0, y =
b
a e - c d
[x = - ---------,
c f - b e
d
-],
e
a f - b d
y = ---------]]
c f - b e
O nico ponto de equilbrio fora dos eixos o quarto; pode usar-se o comando subst
para simplificar o resultado, definindo 3 novas constantes,
(%i38) ponto:subst([c*f-b*e=c1,a*e-c*d=-c2,a*f-b*d=c3],equil[4]);
c2
c3
(%o38)
[x = --, y = --]
c1
c1
a matriz pode ser simplificada aplicando as funes ratsimp e factor a cada elemento
da matriz (para aplicar uma funo a cada elemento de uma lista ou matriz usa-se o
comando map):
218
(%i41) map(ratsimp, %)$
(%i42) map(factor, %);
[ b (a e - c d)
[ ------------[
c f - b e
(%o42)
[
[
f (a f - b d)
[ - ------------[
c f - b e
c (a e - c d)
------------c f - b e
]
]
]
]
e (a f - b d) ]
- ------------- ]
c f - b e
]
Se no instante inicial a populao de uma das espcies for menor, essa espcie ser
extinta (o sistema aproxima-se do ponto de sela num dos eixos). Se inicialmente as duas
populaes forem iguais, atinge-se o ponto de equilbrio em que as duas populaes so
iguais a 2/3 (x = c2 /c1 , y = c3 /c1 )).
Um exemplo do segundo caso, em que as 3 constantes so negativas, apresentado no lado
direito da figura 11.9, que foi obtido com os valores (-3/4, -1, -1) para as trs constantes:
(%i46) plotdf(fg, vars, [x,0,3.1], [y,0,3.1],
[parameters,"a=2,b=1,d=2,e=1,c=0.5,f=0.5"])$
219
Neste caso, as duas espcies coexistem em forma harmoniosa atingindo sempre o ponto de
equilbrio em que as duas populaes so iguais a 4/3 (x = c2 /c1 , y = c3 /c1 ).
0
0
0
0
Figura 11.9.: Retratos de fase do exemplo 11.5, nos casos de equilbrio instvel (esquerda)
e estvel (direita).
Perguntas
1. Um sistema, no espao de fase (x, y), tem
C. Formam uma curva que passa por P.
um ciclo limite com raio constante, igual
D. Formam uma curva fechada com P
a 2 unidades. Aps uma mudana de vano interior.
riveis para coordenadas polares (r, ),
E. Formam uma curva fechada com P
com origem no centro do ciclo limite, a
no exterior.
equao obtida para o ngulo foi: = 3.
Qual poder ser a equao obtida para o 3. Um sistema, no espao de fase (x, y),
tem um ponto de equilbrio em (2, 3).
raio r?
Aps uma mudana de variveis para coA. r = 2 r 1
D. r = 2 r 4
ordenadas polares (r, ), com origem no
B. r = 3 r 2
E. r = 3 r
ponto (2, 3), o sistema obtido foi: r = 2 r,
= 3. O que que possvel concluir
C. r = 2 2 r
acerca do sistema?
2. Um sistema com variveis de estado (x,
A. (2,3) um foco repulsivo.
y) tem um ciclo limite e um nico ponto
B. Existe um ciclo limite volta de (2,3).
de equilbrio P. O que que carateriza os
C. (2,3) um centro.
pontos (x, y) do ciclo limite?
D. (2,3) um foco atrativo.
A. Esto todos mesma distncia de P.
B. Em todos eles a velocidade de fase
aponta para P.
E. (2,3) um n repulsivo.
220
A. Predador presa.
x = x(3 y)
y = y(x 5)
C. Conservativo.
D. Linear.
E. No linear.
Problemas
1. Uma populao de drages, y, e uma populao de guias, x, evoluem de acordo com
um modelo de Lotka-Volterra:
y
x = x (2 y)
y = (x 3)
2
Analise a estabilidade e desenhe o retrato de fase do sistema. Qual ser o estado limite?
alguma das duas espcies ser extinta?
2. Considere o modelo de Verhulst para duas populaes:
x = x (1 x 2 y)
y = y (1 + 5 x y)
diga se um sistema com competio ou um sistema predador presa (e nesse caso quais
as presas e quais os predadores). Analise a estabilidade e desenhe o retrato de fase.
3. Para cada um dos modelos de duas espcies com competio, na lista que se segue, diga
se existe coexistncia ou excluso mtua entre as duas espcies. Se existir coexistncia,
diga a natureza do ponto de equilbrio (estvel ou instvel). Se existir excluso mtua,
diga qual das duas espcies sobrevive. Em todos os casos construa o grfico do retrato
de fase.
1
1
1
1
y = y (1 y x)
(a ) x = x (2 x y)
5
6
10
8
1
1
1
1
(b ) x = 2 x (1 x) x y
y = 4 y (1 y) xy
20
25
40
10
1
1
1
1
(c ) x = x (1 x y)
y = y (1 y x)
20
8
12
16
1
1
1
1
(d ) x = 2 x (1
x) x y
y = 10 y (1 y) x y
100
40
50
8
221
y = x + y x2 y y3
y = x
Respostas
Perguntas: 1. D. 2. D. 3. A. 4. E. 5. A.
222
Problemas
1. A origem ponto de sela, e o ponto (3, 2) centro. O estado limite um ciclo. Nenhuma
das duas espcies ser extinta.
2. Sistema predador presa: x so as presas e y os predadores. A origem n prprio,
repulsivo, o ponto (1, 0) ponto de sela e o ponto (0, 1) n imprprio, atrativo.
3. (a ) Excluso, com extino da espcie y e x 10.
(b ) Coexistncia, com x 20/3 e y 100/3. O ponto de equilbrio estvel.
(c ) Coexistncia, no ponto instvel (x = 80/7, y = 24/7). O sistema pode terminar
com uma das espcies extintas e x 20 ou y 12.
(d ) Excluso, com extino da espcie y e x 100.
4. (a) = 1, r = r r3
0.4
0.3
0.2
1
r-r 3
(b)
(c) x2 + y2 = 1
-0.1
-0.2
(d)
0.1
-0.3
-1
-0.4
-0.5
-0.6
0
0.2
0.4
0.6
0.8
-2
-2
1.2
-1
O grfico de r mostra que r aumenta se for menor que 1 e diminui se for maior que 1.
Assim, r aproximar-se- do valor limite 1.
5. O determinante da matriz jacobiana negativo em qualquer ponto e, portanto, no
podem existir ciclos limite.
6. (a) O ltimo elemento na lista obtida com rk :
[200.0,4.393203951154127,-4.475965919862805,0.200584446836176]
2.5
(b)
0
-2.5
-2
-5
-4
-4
-2
160
170
180
190
200